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Este documento discute a hiponatremia, um distúrbio hidroeletrolítico comum em pacientes hospitalizados. Ele aborda a definição, epidemiologia, fisiopatologia e tratamento desta condição. O texto explica que a hiponatremia é caracterizada por uma concentração de sódio sérico abaixo da normalidade e pode ser causada por um aumento na quantidade de água plasmática. O documento também discute os efeitos da hiponatremia na osmolaridade sérica e na capacidade de excretar água e solutos.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de aula
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Autor Paulo Novis Rocha^1
(^1) Departamento de Medi- cina e Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medici- na da Bahia da Univer- sidade Federal da Bahia (UFBA).
Data de submissão: 02/04/ Data de aprovação: 20/04/
Correspondência para: Faculdade de Medicina da Bahia, Universidade Federal da Bahia. Departamento de Medicina e Apoio Diagnóstico. Avenida Reitor Miguel Calmon, s/n, Vale do Canela. CEP 40110- Salvador, Bahia, Brasil. C-elo: paulonrocha@ufba. br” Os autores declaram a inexistência de conflitos de interesse.
Hiponatremia é o distúrbio hidroeletro- lítico mais comum em pacientes hospita- lizados. A presença de hiponatremia está associada a uma série de desfechos desfa- voráveis, tais como: necessidade de inter- namento em unidade de terapia intensiva, hospitalização prolongada e de maior cus- to, transferência para abrigos e mortalida- de. Ainda não está claro se existe relação de causalidade direta ou se a hiponatremia é apenas um marcador de gravidade da doença de base. No entanto, sabe-se que o manejo inadequado de um paciente hi- ponatrêmico pode causar graves danos neurológicos ou até mesmo a morte. Neste manuscrito, os conceitos básicos sobre a fisiopatologia da hiponatremia serão revi- sados, seguido de uma abordagem prática sobre sua investigação e tratamento. Palavras-chave : hiponatremia, síndrome de secreção inadequada de HAd, recep- tores de vasopressina, Cirrose Hepática, Insuficiência Cardíaca.
Hyponatremia is the most common elec- trolyte imbalance in hospitalized patients. It is associated with several unfavorable endpoints such as: the need for intensive care, longer hospital stay, higher hospi- talization costs, discharge to long-term care facilities, and mortality. It is still not clear if there is a direct causal relationship or if hyponatremia is simply a marker of disease severity. Nevertheless, it is quite clear that improper management of a hy- ponatremic patient may result in severe neurologic damage or death. This paper addresses the basic pathophysiologic con- cepts about hyponatremia followed by a practical approach to its diagnosis and management. Keywords : hyponatremia, inappropriate AdH syndrome, receptors, vasopressin, liver cirrhosis, heart Failure.
Paciente feminina, 60 anos, branca, com diagnóstico recente de glioblastoma mul- tiforme e em tratamento com temozolo- mida se apresentou ao consultório do Oncologista com queixa de sonolência. Os exames laboratoriais de controle esta- vam todos normais, exceto por [Na+] = 115 meq/L (VR: 135 a 145 meq/L). Ela referiu três internações hospitalares nos
últimos dois meses para correção de hipo- natremia. Encaminhada para nova inter- nação e uma solicitação de consulta com a Nefrologia. A paciente estava usando escitalopram há cerca de um mês, pois o quadro de sonolência fora interpretado como manifestação de depressão. Negava uso de diuréticos ou outras medicações. Ao exame: afebril, tensão arterial 120/ mmHg e frequência cardíaca de 80/bpm, sem alterações posturais, pesava 50 kg. O
exame segmentar estava completamente normal, ex- ceto pela presença de sonolência. Ausência de edema. Investigação laboratorial revelou: glicemia, perfil lipí- dico, proteínas totais e frações, função renal, adrenal e tireoidiana normais. A osmolaridade urinária foi de 600 mosm/L e sódio urinário 80 mmol/L.
Hiponatremia pode ser definida como uma concentra- ção de sódio sérico [Na+] abaixo do limite inferior da normalidade; na maioria dos laboratórios, isto significa [Na+] < 135 meq/L,^1 mas o ponto de corte [Na+] < 136 meq/L também é muito utilizado.^2 Recentemente, um estudo canadense envolvendo mais de 53.000 pacientes definiu hiponatremia como [Na+] < 138 meq/L.^3 Neste estudo, os autores modificaram os valores de normali- dade do sódio sérico de de 135 a 145 meq/L para 138 a 142 meq/l, baseados na observação de que pacientes com sódio fora deste intervalo apresentavam um au- mento significativo na mortalidade hospitalar. Embora a maioria dos autores continue definindo hiponatremia como [Na+] < 135 ou 136 meq/L, este estudo chamou atenção para necessidade de uma discussão sobre os valores de referência.
Hiponatremia é o distúrbio hidroeletrolítico mais co- mum em pacientes hospitalizados. Em estudo realiza- do em dois hospitais de Boston, com cerca de 100. pacientes adultos, Waikar, Mount e Curhan identifi- caram hiponatremia no momento da admissão em 14,5%; quando a natremia foi corrigida para a con- centração sérica de glicose, a frequência ficou entre 11,8 e 12,8%, a depender da fórmula utilizada.^4 Em 2010, Funk et al. avaliaram cerca de 150.000 pacien- tes internados em 77 Unidades de Terapia Intensiva (UTI) da Áustria e detectaram hiponatremia no mo- mento da admissão em 17,7% destes pacientes.^5 Tanto Waikar^4 quanto Funk^5 utilizaram o ponto de corte [Na+] < 135 meq/L para definição de hiponatre- mia. No estudo canadense mencionado, que definiu hiponatremia como [Na+] < 138 meq/L, as frequên- cias de hiponatremia à admissão hospitalar e adquiri- da em hospital foram bem mais elevadas, de 37,9% e 38,2%, respectivamente.^3 Em pacientes com cirrose avançada, em lista de espera para transplante hepático, a prevalência de hiponatremia pode superar 30%. Nesses pacientes, demonstrou-se que a utilização do sódio sérico para ajustar o escore de MELD {MELDNa = MELD − Na − [0,025 × MELD × (140 − Na)] + 140} melhora a
capacidade deste em predizer mortalidade e, conse- quentemente, aperfeiçoa os critérios de alocação para o transplante.^6 A presença de hiponatremia está associada a uma série de desfechos desfavoráveis, como aumento no tempo de permanência hospitalar,^3 necessidade de internamento em UTI,^4 custo da hospitalização^7 e mortalidade.3,5^ A associação de hiponatremia com aumento na mortalidade é bastante consistente, seja ela adquirida na comunidade, no hospital ou na UTI. A associação persiste quando analisada em subgrupos específicos de doenças, como neoplasias, insuficiência cardíaca congestiva (ICC) e cirrose. Recentemente, hiponatremia foi associada a aumento na mortalidade em pacientes renais crônicos em hemodiálise.^8 A força dessas associações aumenta com a seve- ridade da hiponatremia, mas ainda não está claro se existe uma relação direta de causalidade, nem se o tra- tamento da hiponatremia pode reverter as associações descritas. No estudo de Waikar, Mount e Curhan, as hiponatremias que eram resolvidas durante a hospi- talização se associavam a menor mortalidade que as hiponatremias persistentes ou desenvolvidas durante a hospitalização.^4 No entanto, o desenho observacio- nal deste estudo não permite responder a questão de forma definitiva. Estudos prospectivos bem conduzi- dos em pacientes com ICC mostraram que a correção da hiponatremia com Tolvaptan, um antagonista do receptor V2, não foi capaz de reduzir internamentos por insuficiência cardíaca, nem mortalidade cardio- vascular ou por todas as causas.^9
do ponto de vista matemático, a concentração sérica de sódio é uma fração, expressa em miliequivalentes de sódio por litro de água, como pode ser visto na Fórmula 1:
[Na +] = miliequivalentes de sódio litro de água
Na verdade, existe uma pequena participação do potássio na determinação da concentração sérica de sódio, de modo que seria mais correto expressar esta concentração da seguinte maneira (Fórmula 2):
[Na +] = Conteúdo trocável de (sódio + potássio) corporal total Água corporal total
Em determinadas situações clínicas, como será ob- servado, a participação do potássio na determinação
diante de uma ingestão adequada de solutos, um adulto necessita excretar entre 600 a 900 mosm de sais de sódio, potássio e ureia. Considerando uma in- gestão de água capaz de inibir completamente a secre- ção de AdH, a osmolaridade urinária pode decrescer para até 50 mosm/L. Um indivíduo que precise excre- tar 800 mosm de soluto numa urina com este grau de diluição, o fará em 16 L de urina (800÷50). Portanto, se mantida a capacidade renal de excretar água, um indivíduo necessitaria ingerir mais de 16 L de água para desenvolver hiponatremia.
secreção não - osmótica de vasopressina
Quando a vasopressina (AdH) se liga aos seus re- ceptores nos túbulos coletores (V2), ocorre síntese e fosforilação de aquaporinas, as quais são proteínas capazes de inserir poros na membrana plasmática da célula tubular, tornando-a permeável à água.11-13^ Nesta situação, ocorre reabsorção de água dos túbulos cole- tores em direção ao interstício medular, concentrando a urina. O AdH é tipicamente secretado em resposta a um déficit de água e hiperosmolaridade (Tabela 2), para promover retenção da água ingerida e correção do déficit. No entanto, existem outros estímulos para sua secreção. O mais comum é a redução do volume in- travascular efetivo (VIVE) por estímulo barorreceptor. Este é o fator operante na hiponatremia hipovolêmica e na hiponatremia “hipervolêmica”, pois nesses estados edematosos também existe redução do VIVE e hipo- perfusão de barorreceptores. Secreção não-osmótica de AdH também pode ocorrer em resposta à dor e náuse- as, fenômenos muito comuns em pacientes no período pós-operatório.14,15^ Finalmente, alguns medicamentos e tumores podem promover uma secreção inapropriada de AdH (SIAdH).^16 O Quadro 1 resume os diversos estímulos envolvidos na secreção de AdH. Na prática clínica diária, o AdH sérico não é me- dido, mas a sua presença é inferida a partir da avalia- ção da urina. A urina concentrada (densidade uriná- ria > 1005 e osmolaridade urinária > 100 mosm/kg) sugere a presença de AdH.
redução na taxa de filtração glomerular
Pacientes com lesão aguda renal ou doença renal crô- nica apresentam uma redução global na capacidade de excretar água e solutos e podem desenvolver hipo- natremia, se forem desafiados com ingestão de gran- des quantidades de líquido hipotônico.
mutações no receptor v 2 Quadro clínico idêntico ao da SIAdH, de hiponatre- mia hipotônica euvolêmica com urina concentrada, mas os níveis séricos de AdH estão indetectáveis. Esses pacientes apresentam receptores V2 mutantes, constitutivamente ativos. É também conhecida como síndrome nefrogênica da antidiurese inapropriada.^17
Por exemplo, um indivíduo que passa o dia inteiro apenas bebendo cerveja. A cerveja contém quantida- des baixíssimas de sal, potássio e proteínas. Por con- ter glicose, a cerveja não apenas reduz a fome, mas também minimiza o catabolismo proteico. Neste ce- nário, é possível que este indivíduo gere uma quan- tidade muito baixa de solutos para serem excreta- dos, por exemplo, 250 mosm. Agora, mesmo com a urina maximamente diluída (osmolaridade urinária = 50 mosm/L), a capacidade de excreção de água livre cai para 5 L (250÷50). Se houver ingestão de
Secreção osmótica de ADH: na vigência de desidratação, ocorre aumento na osmolaridade sérica que é detectado pelos osmorreceptores. Estes deflagram duas respostas que visam corrigir este déficit: sede e secreção de ADH para que a água ingerida seja retida. Secreção não-osmótica de ADH, por estímulo volêmico: na vigência de redução do volume intravascular efetivo, barorreceptores arteriais são ativados e deflagram ativação de diversos sistemas neuro-hormonais, visando à correção da volemia e manutenção da perfusão tecidual. O ADH também faz parte desta resposta. Quando o paciente com redução do VIVE ingere (ou recebe por via endovenosa) líquidos hipotônicos, a volemia não é restaurada, o ADH permanece elevado, a água ingerida não é excretada e o paciente desenvolve hiponatremia. Se a volemia for restaurada, os níveis de ADH caem, o excesso de água que estava causando a hiponatremia é excretado e o sódio sérico normaliza. Secreção não-osmótica de ADH, por dor ou náuseas: estes estímulos para secreção de ADH são comumente encontrados no pós-operatório. A administração de líquidos hipotônicos nesta situação leva à hiponatremia. Secreção inapropriada de ADH (SIADH): é quando existe secreção de ADH sem que haja um estímulo fisiológico (hiperosmolaridade, redução no VIVE, dor, náuseas) que a justifique. A ingestão de líquidos hipotônicos leva à hiponatremia.
Quadro 1 estímulos pArA secreção de Adh
líquidos superior a 5 L, o indivíduo poderá desenvol- ver hiponatremia. Essa situação, conhecida como potomania do be- bedor de cerveja,18,19^ ilustra como uma baixa inges- tão de solutos pode reduzir a capacidade de excreção de água livre e favorecer o aparecimento de hipona- tremia. A situação é particular, pois a urina diluída sugere que a capacidade renal de excretar água está mantida. Embora a potomania do bebedor de cerveja seja relativamente rara, é ilustrativa de outras situa- ções clínicas bem mais comuns, nas quais ocorre fe- nômeno semelhante: idosos que se alimentam à base de chás e torradas ( tea and toast disease ) e pacientes em enfermarias ou UTI, submetidos à dieta zero ou baixa ingesta de solutos, mas recebendo infusões de soluções hipotônicas.20,
Se houver ingestão de água superior à capacidade re- nal de excreção, o indivíduo vai desenvolver hipona- tremia. Nestas situações, a urina estará diluída, indi- cando que os rins estão tentando excretar o excesso de água. Como visto, na presença de ingestão normal de solutos, o indivíduo terá que ingerir mais de 10 L de água para desenvolver hiponatremia. Isto pode ocorrer em pacientes psiquiátricos, com polidipsia psicogênica.22,23^ Às vezes, ingestões muito rápidas de quantidades não tão grandes de água podem causar hiponatremia. Santos-Soares et al. relataram o caso de um homem de 34 anos, previamente hígido, que se apresentou à emergência com crises convulsivas e [Na+] = 123 meq/L, após ingerir cerca de 8 L de água.^24 Ele estava jogando dominó numa roda de amigos e a aposta era que, quem perdesse uma rodada, teria que beber um copo de água (aproximadamente 200 mL). Porém, ele acabou perdendo uma rodada após a outra e acabou ingerindo cerca de 40 copos de água num curto espaço de tempo. Outras situações análogas seriam os afogamentos em água doce^25 e as cirurgias endoscópicas, como a histeroscopia,^26 curetagem uterina^27 e a ressecção transuretral da próstata,28,29^ em que pode haver ab- sorção rápida de grande quantidade da água contida nas soluções de irrigação. Nestes casos, cessando a ingestão excessiva de água, os rins excretam o excesso e o [Na+] sérico normaliza. No entanto, na vigência de hiponatremia severa sintomática, o tratamento com salina hipertô- nica é indicado para reduzir o edema cerebral.
diante de um paciente com hiponatremia, a primeira medida deve ser afastar uma pseudo-hiponatremia. Na hiponatremia verdadeira, a osmolaridade sérica é sem- pre baixa. Se houver hiponatremia com osmolaridade sérica normal ou elevada, está ocorrendo uma pseudo- hiponatremia. Estas situações não representam distúr- bios no metabolismo da água e não necessitam de me- didas direcionadas para correção do sódio sérico.
séricA elevAdA A situação mais clássica é a hiperglicemia, mas pode ocorrer também durante a administração de contras- te iodado hiperosmolar. Neste caso, ocorre saída de água do líquido intracelular (LIC) para o extracelular (LEC) numa tentativa de equilibrar a osmolaridade entre os dois espaços. Esta entrada de água no LEC dilui o sódio sérico. Com a correção da glicemia, o só- dio sérico normaliza sem que nenhuma outra medida seja tomada. A fórmula mais utilizada para estimar o sódio sérico corrigido em um paciente com hiperglice- mia é a de Katz, proposta em 1973 (Fórmula 4).^30
Sódio corrigido=Sódio medido+[1,6 x( glicose- 100
Mais recentemente, Hillier, Abbott e Barrett de- monstraram que o fator de correção 2,4 seria mais adequado para essa estimativa que o de 1,6, descrito por Katz.^31 Adicionalmente, eles demonstraram que a relação entre glicose e sódio séricos não é linear; para valores de glicose abaixo de 400 mg/dL, o fator de correção 2,4 funcionou bem, mas para valores acima de 400 mg/dL, 4,0 foi melhor.^31
séricA normAl É classicamente descrita nas hiperproteinemias (por exemplo, mieloma múltiplo) e dislipidemias severas (por exemplo, hipertrigliceridemias), quando a fração aquosa do plasma está reduzida à custa de excesso de proteínas ou lípidas.^32 Este fenômeno é mais comum quando o sódio sérico é medido pela técnica de foto- metria de chama.33- Como a avaliação da osmolaridade sérica não é feita em diversos hospitais e laboratórios (e, quando é feita, o resultado pode demorar muito), na prática, é muito comum afastar uma pseudo-hiponatremia, com base nos dados clínicos, e dosar glicose, proteí- nas totais e frações e o perfil lipídico.
cerveja. A creatinina deve ser sempre dosada para avaliar a função renal. Nos casos em que o diag- nóstico não está claro ou o quadro clínico sugere endocrinopatia, o cortisol deve ser checado (e, se in- dicado, teste de estimulação com cosintropina), as- sim como TSH e outros hormônios pituitários, como LH e FSH. A lista de medicações do paciente deve ser revi- sada detalhadamente, pois diversos medicamentos comumente utilizados (tais como, anti-inflamatórios, antidepressivos, anticonvulsivantes e diuréticos tiazí- dicos) podem causar hiponatremia.
Na hiponatremia, o LEC se torna hipotônico em relação ao LIC, gerando desvio de água para o inte- rior das células. Por isso, as principais manifestações clínicas da hiponatremia são neurológicas, pois, co- mo a calota craniana impede a expansão do parênqui- ma cerebral, o edema celular resulta em hipertensão intracraniana. A depender da gravidade e velocidade de instala- ção, a hiponatremia pode ser assintomática ou causar sonolência, estupor, coma e crises convulsivas. Por serem inespecíficos, estes sintomas podem ser inter- pretados como manifestações clínicas da doença de base. Por vezes, quadros de sonolência podem ser in- terpretados como secundários à depressão. A velocidade de instalação da hiponatremia é um fator determinante na sintomatologia. Por exemplo, uma hiponatremia moderada aguda pode ser mais sintomática que uma severa crônica. Isto porque, na hiponatremia crônica, mecanismos adaptativos en- tram em ação visando reduzir a osmolaridade intra- celular e, consequentemente, minimizar a entrada de água nas células e o edema cerebral. Para isso, os neu- rônios inicialmente excretam sais de sódio e potássio e, posteriormente, osmólitos orgânicos. Estes mecanismos adaptativos precisam ser respei- tados no momento do tratamento. Correção inadver- tidamente rápida de uma hiponatremia crônica, ao elevar a osmolaridade do LEC, pode causar redução abrupta do volume neuronal com desmielinização de tronco cerebral, principalmente na ponte (mielinólise pontina).^51 Como os danos neurológicos decorrentes da mielinólise pontina são frequentemente irreversí- veis, a melhor alternativa é a prevenção.
O tratamento adequado da hiponatremia requer a consideração de diversos fatores, como a velocidade
de instalação, severidade, sintomatologia e diagnósti- co etiológico.
Salvo nos casos em que a hiponatremia se desen- volve em ambiente hospitalar (por exemplo, pós- operatório), torna-se difícil determinar a duração do distúrbio. Como após 48 horas de hiponatremia os mecanismos adaptativos descritos acima já estão operantes, a prudência sugere tratar todos de forma lenta. A recomendação atual é de elevar o [Na+] em < 10 meq/L nas primeiras 24 horas (ideal 6 a 8 meq) e < 18 meq/L nas primeiras 48 horas.^52
Hiponatremias severas (< 115 meq/L) devem ser ma- nejadas em ambiente hospitalar, preferencialmente em unidades fechadas, onde seja possível controle frequente (por exemplo, de quatro em quatro horas) da natremia, especialmente nas primeiras 24 horas de tratamento.
deve-se basicamente à velocidade de instalação e se- veridade. Hiponatremias agudas e severas costumam ser sintomáticas, podendo levar a crises convulsivas (edema cerebral). Nestes casos, o [Na+] pode ser ele- vado em até 2 meq/L/hr nas primeiras duas horas, até que ocorra melhora nos sintomas. depois, a veloci- dade de correção deve ser reduzida para não ultra- passar a recomendação de < 10 meq/L, nas primeiras 24 horas.
Sempre que possível, deve-se procurar remover a causa: reverter hipovolemia, suspender medicamento suspei- to, interromper ingestão excessiva de água, repor um hormônio que esteja deficitário (hipotireoidismo, in- suficiência suprarrenal, hipopituitarismo) e otimizar a doença de base (ICC, cirrose). O diagnóstico etiológico também é essencial para escolha da solução mais ade- quada do cloreto de sódio.
H iponatremia Hipovolêmica Em geral, estes pacientes são tratados com NaCl 0,9%. Ao rever a hipovolemia, o soro fisiológico remove o estímulo barorreceptor para secreção de AdH. Isto faz com que a osmolaridade urinária caia e o excesso relativo de água seja excretado. As hipona- tremias puramente hipovolêmicas costumam ser leves
e, geralmente, não dominam o quadro clínico do pa- ciente. A preocupação maior deve ser com a correção da volemia. A correção do sódio ocorre “automati- camente”. Na maioria das vezes, não há necessidade do uso de fórmulas para cálculo da velocidade de cor- reção. Se as fórmulas fossem utilizadas, elas subesti- mariam a velocidade de correção por não considerar a excreção de água livre que ocorre após correção da volemia. Exceções: em casos severos de hiponatremia associada ao exercício, a administração de NaCl 3% é indicada.53,54^ Em pacientes com síndrome perdedora de sal cerebral, também pode ser necessário o uso de NaCl 3%;^45 o uso de fludrocortisona nestes pacientes parece benéfico.^55
H iponatremia Hipervolêmica
A administração de cloreto de sódio não está indica- da, logo não há necessidade do uso de fórmulas. A correção do sódio sérico vai depender da otimização do tratamento da doença de base, restrição da inges- tão de água (< 1.000 mL ao dia), e uso de furose- mida para reduzir a osmolaridade urinária e auxiliar a excreção do excesso de água. Recentemente, uma nova classe de medicamentos foi aprovada nos EUA para tratamento de hiponatremia hipervolêmica. Os vaptans são inibidores dos receptores V2 de vasopres- sina, capazes de promover diurese de água livre de eletrólitos (“aquaréticos”). Podem ser administrados por via oral (Tolvaptan) ou endovenosa (Conivaptan, Satavaptan, Lixivaptan).^56 Estas drogas são capazes de elevar o sódio sérico em pacientes com hiponatre- mia hipervolêmica e já estão aprovadas para uso clí- nico nos EUA; no Brasil, ainda não estão disponíveis. Estudos em pacientes com ICC mostram que os vap- tans elevam o sódio sérico e melhoram os sintomas,^57 mas não reduzem a mortalidade.^9
H iponatremia euvolêmica
deve-se focar na identificação e remoção do agente causal: repor hormônio tireoidiano no hipotireoidismo, repor mineralocorticoide (fludrocortisona) no hipopi- tuitarismo ou insuficiência adrenal, suspender diuréti- cos tiazídicos ou drogas que estejam causando SIAdH. diante de um quadro de SIAdH, em que não se pode
remover a causa, o tratamento deve focar em medidas para restringir a ingestão (< 1.000 mL/dia) e aumentar a excreção urinária de água livre. Existem diversas me- didas capazes de aumentar a excreção urinária de água livre na SIAdH. Agudamente, em pacientes hospitali- zados, pode-se utilizar NaCl 3%, pois a excreção da sobrecarga de solutos promoverá excreção obrigatória de grande quantidade de água livre. A furosemida po- de ser utilizada juntamente com NaCl 3%, tanto para prevenir hipervolemia quanto para acelerar a correção da natremia, pois este diurético interfere com a capaci- dade de concentração urinária e, por conseguinte, au- menta o clearance de água livre. Cronicamente, em pacientes ambulatoriais, é pos- sível lançar mão de uma dieta rica em solutos (mesmo racional do NaCl 3%), furosemida oral, vaptans, lítio e demeclociclina. Lítio e demeclociclina são medica- ções que têm como efeito colateral antagonizar a ação do AdH ao nível dos túbulos coletores. Elas causam um diabete insipidus nefrogênico e aumentam a ex- creção urinária de água livre. Com a disponibilidade de antagonistas específicos do AdH (vaptans), a ex- pectativa é de que lítio e demeclociclina sejam cada vez menos utilizados.
Para responder a esta pergunta, consideremos o ca- so clínico da paciente apresentada no início do ar- tigo, que tem um diagnóstico de SIAdH, [Na+] = 115 meq/L e osmolaridade urinária = 600 mosm/L”. O que aconteceria com o [Na+] após a administra- ção de 1 L de NaCl 0,9%, que contém 308 mosm/L (Tabela 3)? de acordo com a fórmula de Adrogue e Madias (Tabela 4), a administração de 1 L de NaCl 0,9% re- sultaria em aumento no sódio sérico de quase 2 meq/L (Fórmula 5):
(154 + 0) < 115 (50x0, 4) + 1
= +1,86 meq/L
No entanto, sabe-se que, na prática, a administra- ção de NaCl 0,9% não costuma aumentar o sódio
Tabela 3 cArActerísticAs dAs soluções pArA trAtAmento dA hiponAtremiA
[Na+] meq/L [Cl-] meq/L Osm mosm/L Soro fisiológico NaCl 0,9% 154 154 308 Salina hipertônica NaCl 3,0% 513 513 1026 A osmolaridade da solução é dada pela soma dos solutos (sódio + cloro) dividida pelo volume de solvente (nestes casos, 1 L).
com hiponatremia sintomática.^54 Esta abordagem foi inicialmente recomendada em 2005 para ence- falopatia associada à hiponatremia do exercício,^59 sendo adotada pelo Second International Exercise- Associated Hyponatremia Consensus Development Conference.^53 Em artigo publicado em 2010, os au- tores sugerem generalizar esta abordagem para os pacientes com encefalopatia associada à hiponatre- mia.^54 Eles defendem que um bolus de 100 mL de NaCl 3% aumenta rapidamente o sódio sérico, mas em apenas 1 a 2 meq/L, o que seria ideal para melho- rar o edema cerebral, sem incorrer nos riscos de uma correção exagerada.^54 No Brasil, não há a disponibilidade de salina hi- pertônica industrializada, sendo necessário preparar a solução (Tabela 5). Seja qual for a abordagem utilizada, o médico deve sempre ficar atento para evitar a correção exa- gerada de uma hiponatremia crônica, para minimi- zar os riscos de mielinólise pontina. Quando a cau- sa da hiponatremia pode ser rapidamente revertida, o perigo de uma correção exageradamente rápida é maior. Tomemos como exemplo os pacientes hipo- volêmicos; nestes casos, a correção da hipovolemia remove o estímulo barorreceptor para secreção de AdH, resultando em uma diurese brusca de água li- vre. Isto leva a uma correção da natremia bem mais rápida do que aquela prevista pelas fórmulas. de for- ma análoga, a suspensão de determinadas drogas ou a reposição de hormônios (tireoidianos ou mineralo- corticoides) também pode reverter rapidamente o me- canismo causador da hiponatremia, e resultar numa elevação da natremia desproporcional à quantidade de sódio administrada. Um artigo recente ilustrou o perigo de correção inadvertidamente rápida do sódio sérico após ad- ministração do cloreto de potássio. Berl e Rastegar descreveram o caso de uma paciente de 59 anos, que se apresentou com [Na+] = 96 meq/L e [K+] = 1,6 meq/L secundários ao uso de hidroclorotiazida
(HCTZ).^10 Pelo receio de correção rápida da hipo- natremia, os autores foram bastante cautelosos na administração de sódio (apenas 300 mL de NaCl 0,9%) e focaram o tratamento inicial na correção do potássio, fornecendo um total de 430 meq de KCl nas primeiras 24 horas; HCTZ foi suspensa e a ingesta de água foi restrita para 800 mL ao dia. Com estas medidas, o sódio sérico aumentou em 17 meq/L, nas primeiras 24 horas. No oitavo dia, a paciente evo- luiu com quadro de tetraparesia e, posteriormente, o diagnóstico de mielinólise pontina foi confirma- do por ressonância magnética. Os autores chamam atenção que a depleção profunda do potássio sérico pode contribuir para hiponatremia, por desvio de sódio do líquido extra para o intracelular. Com a reposição de potássio, ocorre movimento inverso de sódio do líquido intra para o extracelular, podendo, assim, acelerar a correção da natremia. Outros fato- res que devem ter contribuído para correção rápida nesse caso incluem a suspensão da administração de HCTZ, correção de hipovolemia e restrição hídrica. Os autores admitiram que, ao perceber uma rápida subida no sódio sérico, deveriam ter iniciado imedia- tamente a infusão da solução hipotônica para conter esta elevação.^10 de fato, a literatura recomenda que, flagrada uma correção inadvertidamente rápida, deve-se parar ime- diatamente a administração de sódio e procurar con- ter a elevação da natremia por meio da infusão de soluções hipotônicas ou ddAVP. Alternativamente, quando o risco de correção inadvertidamente rápida for muito alto, pode-se iniciar ddAVP (de seis em seis ou oito em oito horas) preventivamente, junto com restrição hídrica e administração de NaCl 3%.^60 Em pacientes com hiponatremia severa induzida por drogas e que estejam hipovolêmicos, por exemplo, a suspensão das drogas e correção da hipovolemia pela administração de NaCl 3% podem causar uma aqua- rese maciça e, consequentemente, uma elevação mui- to mais rápida da natremia do que a prevista pelas
Tabela 5 formAs de prepArAr 1 l de sAlinA hipertônicA
Partindo de 1 L de solução
[Na+] meq/L da solução original
Volume de NaCl 20% a acrescentar
Conteúdo de sódio (em meq) acrescentado
[Na+] meq/L da solução final Água destilada 0 150 mL 510 510 Soro glicosado 5% 0 150 mL 510 510 Soro fisiológico NaCl 0,9% 154 105 mL^357 NaCl 20% contém 3,4 meq de sódio por mL.
Tabela 6 resumo
Principais aspectos clínicos das hiponatremias Hipovolêmicas Euvolêmicas Hipervolêmicas Volume do LEC Reduzido Normal Aumentado VIVE Reduzido Normal Reduzido Sódio urinário < 20 mEq/L > 40 mEq/L < 20 mEq/L ADH sérico Elevado Elevado ou reduzido Elevado Osm. urinária Elevada Elevada ou reduzida Elevada Principais causas Perdas GI Osm. Urinária ↑ ICC Diarreia Hipotireoidismo Cirrose Vômitos Insuficiência adrenal Síndrome nefrótica Perdas cutâneas Tiazídicos IRA Maratonistas Pós-operatório DRC Perdas renais SIADH Diuréticos Osm. Urinária ↓ Diurese osmótica Polidipsia Nefropatia perdedora de sal Potomania Síndrome perdedora de sal cerebral (SPSC)
Chá e torrada
RTU da próstata Histeroscopia Tratamento Minimizar perdas NaCl 3% Restrição H 2 O NaCl 0,9% Restrição H2O Furosemida NaCl 3,0% em maratonistas e na SPSC
Furosemida Vaptans
Fludrocortisona na SPSC Vaptans Tratar doença de base Tratar doença de base Suspender drogas
fórmulas. Nestes casos, a administração preventiva de ddAVP impedirá esta aquarese maciça, tornando a correção da hiponatremia com NaCl 3% mais contro- lada e previsível, como nos pacientes com SIAdH.
Embora não tenha-se a osmolaridade sérica da pa- ciente, é possível excluir uma pseudo-hiponatremia dada à severidade da redução no sódio sérico e por meio dos exames normais de glicemia, perfil lipídico, proteínas totais e frações. Como a paciente não está edemaciada e nem apresenta história ou achados de exame físico que sugiram hipovolemia, acredita-se que ela esteja euvolêmica; o sódio urinário de 80 mmol/L corrobora essa impressão clínica. A osmolaridade uri- nária elevada sugere a presença de AdH. Como não há justificativa osmótica ou volêmica para esta secreção
de AdH, o diagnóstico é de SIAdH. As funções renal, adrenal e tireoidiana precisam estar normais para que este diagnóstico possa ser feito. A causa mais provável de SIAdH nessa paciente é o tumor cerebral. O an- tidepressivo inibidor da receptação de serotonina que ela está usando (escitalopram) também pode causar SIAdH, mas a paciente já apresentava hiponatremia quando esta droga foi introduzida. de qualquer modo, o escitalopram foi suspenso. O tratamento foi iniciado com salina hipertônica, visando elevação de apenas 6 meq/L na concentração sérica de sódio, nas primeiras 24 horas. Após 48 horas, [Na+] = 128 meq/L, a salina hipertônica foi suspensa e a paciente teve alta em uso de restrição hídrica (800 mL/dia), dieta rica em solu- tos e furosemida a 40 mg. Uma semana após a alta, [Na+] = 134 meq/L. Embora houvesse indicação para uso de vaptans, estas medicações ainda não estão dis- poníveis para uso clínico em nosso meio (Tabela 6).
and betamethasone in a patient with multiple myeloma. Eur J Haematol 1996; 56:323-5.