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Para obviar à menor coesão da parede, consequente da falta de argamassa de assentamento, esta técnica requer uma boa execução no travamento das pedras entre si ...
Tipologia: Notas de aula
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Os muros de pedra seca possuem um elevado valor, quer para as comunidades, quer para a conser- vação da biodiversidade. Além de servirem as necessidades das populações, os muros de pedra são um abrigo e refúgio para várias espécies de plantas e animais. São construções de pedra justaposta efectuadas pelo homem, sem recurso a quaisquer elementos de ligação, apenas a pedra local, geral- mente o xisto ou o granito. Para obviar à menor coesão da parede, consequente da falta de argamassa de assentamento, esta técnica requer uma boa execução no travamento das pedras entre si através do encaixe cuidado das pedras e da utilização de “escassilhos”. No caso do Douro Vinhateiro, os muros em pedra seca foram construídos com o objectivo de permitir o cultivo da vinha sobre as encostas íngremes, sendo posteriormente cheios com terra trazida da encosta. Estes terraços murados, também denominados de “socalcos”, são um dos elementos criados pelo homem que mais contribui para a sin- gularidade da paisagem do Alto Douro Vinhateiro, classificada pela UNESCO em 2001 como paisagem cultural, evolutiva e viva. Os muros de pedra seca são um dos sistemas mais sustentáveis do ponto de vista da conservação do solo, já que reduzem o risco de erosão, as perdas por escorrência superficial e deslizamentos, permitin- do uma maior infiltração da água e o reabastecimento dos cursos de água. Considerando o valor imaterial associado à valorização que promovem na paisagem do Alto Douro Vinhateiro, com incremento do turismo cultural e ambiental, os muros de pedra posta devem ser vistos como um instrumento de desenvolvimento económico. Construídos com o objectivo de persistirem ao longo de várias gerações, são o exemplo vivo da história e tradição de uma região. Estas importantes in- fraestruturas fundiárias encontram-se, no entanto, ameaçadas em particular pela escassez de mão-de- -obra especializada na sua manutenção e reconstrução com elevados custos associados, dependendo da disponibilidade de pedra e da localização da parcela. Um muro de pedra devidamente construído, no qual cada pedra assenta perfeitamente sobre as restan- tes posicionadas imediatamente abaixo, e no qual o efeito da gravidade continua a puxar umas contra as outras, permanecerá estável.Faça-o como deve ser, em esquadria, a prumo e bem ajustado em toda a sua extensão, e o muro ainda estará de pé muito depois de todos os nossos feitos e falhanços já há muito terem sido esquecidos. Para além disso, as numerosas estruturas de acesso que lhe estão associadas (escadas para as pessoas e rampas para os animais, geralmente o macho) são autênticas obras de engenharia, contribuindo para a complexidade e beleza da paisagem duriense.
Fig. 1 - Muros da Quinta do Síbio (Real Companhia Velha). (Autor: Cristina Carlos /ADVID)
Figs. 12 e 13 - Muros com sinal de deterioração. (Autor: Cristina Carlos /ADVID)
Figs. 14 a 16 - Sinais de deterioração (pontos de pressão) em muro de pedra. (Autor: Cristina Carlos / ADVID)
Muro de divisão – muro estruturante do terreno muito usado na separação do espaço público/privado, frequentemente localizado no limite do caminho público. Este tipo de muro tem geralmente um coroa- mento especial do tipo “cupulado” ou designado de “meia cana” (ver fotos abaixo).
Figs. 17 e 18 - Muros em granito com a função de delimitação de parcelas. (Autor: Cristina Carlos /ADVID)
Figs. 19 a 21 - Muros em calcário com a função de delimitação de parcelas. (Autor: Claudia Gonçalves /CAP)
Figs. 22 e 23 - Muro Guia. Quinta das Carvalhas (Real Companhia Velha). (Autor: Cristina Carlos /ADVID)
Fig. 24 (esquerda)- “Pilheiros ou boeiros”, tipo de muro de suporte (Quinta do Bom Retiro Pequeno, Symington Family Estates). (Autor: Cristina Carlos /ADVID) / Fig. 25 (direita)- Muros de suporte pré-filoxéricos, Quinta dos Malvedos (Symington Family Estates). (Autor: Symington Family Estates).
Fig. 26- Foto ilustrativa de dois tipos de muro de suporte, pré-filoxérico (no lado esquerdo) e pós-filoxérico (no lado direito). Quinta da Côrte (Valença do Douro). (Autor: Cristina Carlos /ADVID)
Figs. 27 a 30 - Restruturação de parcelas de vinha com reconstrução / preservação de muros de suporte da vinha. (Autor: Cristina Carlos /ADVID)
Fig. 31 - Muros de suporte, Quinta do Tua. (Symington Family Estates). (Autor: Cristina Carlos / ADVID)
Fig. 32 - Ilustração da construção de muros de suporte e de divisão em pedra posta. (adaptado de Tojeiro 2005)
Características de um muro de suporte na região do Douro (TOJEIRO, 2005) Pedra: xisto; Origem: metamórfica. Densidade: 2.5/3. Resistência: Kg/cm2: 800 -1300 Kg Características gerais do muro: Técnica pedra seca, forma rectilínea, espessura variável (40-50 cm), altura variável, capeamento plano, sem argamassa, aparelho Pelásgico, fundação com vala e pedra de lageamento normalmente de maior dimensão ou roço muitas vezes estivado, drenagem natural ou condicionada. Características de materiais: boa durabilidade, boa resistência á compressão, razoável resistência á tracção e razoável estanqui- cidade. Drenagem boa.
Alvenaria de enchimentocom pedra irregular de tamanho variável “lageada” de acabamento finoCapeamento com pedra
com acabamento racheadoAlvenaria limpa ou de face
Terreno compactado
Fundação, pedrasde maior porte
Coroamento redondo
Enchimento
Fundação, pedrasde maior porte
Os muros em técnica de pedra seca têm geralmente uma altura limitada, mas na região do Douro che- gam mesmo a atingir os sete metros!
A altura do muro, a natureza do terreno, a composição das pedras disponíveis no local, a função do muro (sustentação, separação, …), determinam a técnica de construção a aplicar.
A existência de locais na exploração, ou na sua proximidade, de locais onde se possa retirar pedra é muito importante. No entanto, nalguns casos isso não é possível e o fornecimento deste recurso na- tural pode representar um custo significativo no orçamento.
Fig. 35 - Local de armazenamento de pedra resultante de surribas, para forne- cimento de pedra para a construção de muros. (Autor: Cristina Carlos/ADVID)
O tipo de pedra utilizada nesta técnica deve ser resistente aos esforços mecânicos que a estrutural mu- ral obriga. A forma e a dimensão deverão ser bastante variadas. Na grande parte destas obras a pedra é extraída do local de fundação e as pedras maiores, ou “fragas”, são talhadas em pedra de dimensões variadas. Normalmente esta técnica não deixa lugar para desperdícios já que as pedras de menor di- mensão ou “escassilhos” poderão apoiar as pedras maiores, servindo para preencher brechas e fixarem assentamentos mais ou menos regulares. A dimensão das pedras irá colocar constrangi- mentos e oportunidades na utilização de de- terminado método de construção. Os muros equilibrar-se-ão segundo planos verticais ou inclinados e o seu “capeamento”, qualquer que seja, irá protegê-los (HERCULES, 2005).
Fig. 36 - Esquema geral de um muro de pedra seca com a função de suporte. (adaptado deChantier participatif Murs en pierres sèches)
Um muro de pedra seca inclui geralmente 5 tipos de pedras:
A construção de muros em pedra seca tem quatro regras básicas: a. Colocar as pedras maiores na base, excepto as pedras de travação e as pedras de capeamento. b. Desencontrar (quebrar) as juntas. c. Manter o interior preenchido. d. Compactar o muro, empregando o material mais apropriado para cada tipo de pedra.
Um muro é tão bom quanto o for a sua fundação. Bases fracas são a origem dos colapsos mais graves, e nenhum cuidado na construção para cima, por maior que seja, conseguirá corrigir os problemas da base. Uma fundação adequada:
a) Proporciona uma base estável para o resto do muro. Com uma ou duas toneladas de pedra por cada metro de comprimento de muro, a fundação deve ser adequadamente larga, sólida e firme para resistir aos assentamentos diferenciais
b) Mantém o preenchimento firme no centro do muro. De outra forma ele tende a ser deslavado, a assentar e a ruir
c) Permite que a água drene para fora da base do muro, minimizando as perturbações conse- quentes do congelamento
d) Evita a erosão do terreno por baixo do muro em consequência do escorrimento da água pro- veniente das chuvas ou do degelo da neve
Figs. 38 a 41 - Construção de um muro de suporte em pedra posta na Quinta do Síbio, Real Companhia Velha. (Autor: Cristina Carlos/ ADVID
Figs. 42 e 43 - Construção de um muro de suporte em pedra posta na Quinta dos Malvedos. (Autor: Symington Family Estates)
Efectuar uma vistoria e manutenção anual
No caso de terem ocorrido danos na estrutura do muro, o reparo deve ser realizado o mais rapidamente possível, para evitar que a parte deteriorada se alastre à restante estrutura
Apesar do muro ser uma infraestrutura ecológica de importância relevante do ponto de vista da biodiversidade, não é boa ideia deixar que as trepadeiras e arbustos (ex. hera, silva) se enraízem no muro. As suas raízes irão crescer lentamente, fazendo pressão sobre as pedras, empurrando-as. Mal se detectem, devem remover-se trepadeiras e arbustos, de preferência, manualmente enquanto ainda são pequenos
Pelo contrário, não devem remover-se os musgos, líquenes e plantas herbáceas que se devolvam no muro, pelo seu importante valor funcional
Não aplicar herbicidas nos muros
Não tapar os orifícios do muro com cimento, na esperança que o mesmo se mantenha mais seguro. O cimento evitará que a água da chuva flua pelo muro, o que provocará maior pressão sobre o muro e potenciará posteriormente a sua queda
Não colocar lixo nos buracos dos muros
Figs. 50 e 51 - Exemplos de más práticas na manutenção de muros de pedra: à esquerda) muros revestidos com cimento; à direita) lixo colocado num orifício de um muro. (Autor: Cristina Carlos/ADVID)
Fig. 52 e 53 - Exemplos de más práticas na manutenção de muros de pedra, neste caso, lixo (pacotes de fitofármacos e latas) deixado nos orifícios de muros de pedra. (Autor: Cristina Carlos/ADVID)
Figs. 54 e 56 - Exemplos de más práticas na manutenção de muros de pedra, neste caso, heras (Hedera helix) a invadir e a des- truir os muros com as suas raízes. (Autor: Cristina Carlos/ADVID)
Fig. 57 e 58 - Exemplos de más práticas na manutenção de muros de pedra, na esquerda, muro rebocado com cimento (Autor: Cristina Carlos/ADVID) , na direita, muro abandonado e ocupado por silvas. (Autor: Claudia Gonçalves / CAP)
Fig. 59 - Biodiversidade florística e faunística que podemos encontrar num muro de pedra seca. (Ilustração retirada de Tufnellet al. 1996) Os muros de pedra seca desempe- nham um importante papel na preser- vação da biodiversidade da exploração agrícola, por albergarem numerosas espécies florísticas (rupícolas) e fau- nísticas importantes do ponto de vista da conservação, o que faz com que estas estruturas sejam consideradas verdadeiras infraestruturas ecológicas. Apresentam-se abaixo alguns exem- plos de espécies de flora rupícola que podem encontrar-se frequentemente em muros de pedra solta:
Orelhas de monge, umbigo-de-vénus ou conchelos (Umbilicus rupestres)
Arroz-das-paredes (Sedum sp.) Papoila (Papaver rhoeas)
Alecrim das paredes (Phagnalon saxatile) Azedas (Rumex acetosella) Figs. 60 a 65 - Exemplos de plantas (flora rupícola) que se encontram frequentemente sobre muros de pedra. (Autor: Cristina Carlos / ADVID) Os muros de pedra solta são ainda um dos habitats de grande importância para musgos (briófitos) (in- dicadores de biodiversidade) e líquenes.
Figs. 66 e 67 - Exemplos de musgos e líquenes que se encontram frequentemente sobre muros de pedra. (Autor: Cristina Carlos / ADVID)
Pela sua importância na componente hídrica e na prevenção da erosão, os musgos são fundamentais na reciclagem de diversos nutrientes, na produção de biomassa, assim como na regulação dos fluxos de energia e de nutrientes e nas cadeias tróficas. Desempenham um papel fundamental na maioria dos ecossistemas, contribuindo expressivamente para a sua estrutura e funcionamento, intervindo nos ciclos de nutrientes e da água e na sucessão ecológica dos diferentes ecossistemas terrestres. Os líque- nes, por sua vez, para se estabelecerem precisam de ar limpo, pois são sensíveis à radiação e ao dióxido de enxofre, sendo excelentes bioindicadores de qualidade ambiental. Para além disso, só crescem em partes de árvores ou de pedras orientadas para a nascente, sendo por isso indicadores cardinais, leste- -oeste.
Diferentes programas de incentivos têm estado à disposição dos viticultores, para que estes mante- nham e/ou reconstruam os muros de pedra seca, evitando o abandono destes sistemas tradicionais de cultivo e preservando a paisagem do Alto Douro Vinhateiro. Estas medidas têm sido operacionalizadas através dos programas PRODER e PDR2020, sendo parcialmente financiadas pela Comissão Europeia e pelo governo Português.
O Plano Intermunicipal do Alto Douro Vinhateiro (PIOT-ADV) proíbe a destruição dos muros de pedra seca em bom estado de conservação que existam numa parcela de vinha, no momento da sua restru- turação (RCM 150/2003 de 22 de Setembro). Deverá ainda ser observada a legislação do património cultural (Lei nº 107/2001, Decreto-Lei nº 309/2009 e Aviso nº 4498/2021) e o Regime Jurídico da Reserva Ecológica Nacional (Decreto-Lei nº 166/2008, alterado pelo Decreto-Lei nº 239/2012, Decreto-Lei nº 96/2013, Decreto-Lei nº 80/2015 e Decreto-Lei nº 124/2019).
Fig. 77 - Os orifícios no muro são indicadores da presença da biodiversidade que nele reside. (Autor: Cristina Carlos/ADVID)
Edição: ADVID - Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense Financiamento: Trabalho desenvolvido no âmbito do projecto "Boas práticas para a Biodiversidade no contexto das alterações climáticas" -PDR2020-2023-045926, financiado pelo Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural (FEADER) e pelo Governo Português através da ação nº 20.2.3 - Rede Rural Nacional, área de intervenção 3, do PDR 2020- Programa de Desenvolvimento Rural.
AUTORES: Carlos C, Gonçalves C, Costa J, Costa H, Alcazar R, Sousa J, Marques JP, Gomes E. (Equipa do projecto “Boas práticas para a Biodiversidade no contexto das alterações climáticas”)
Coordenação editorial: Fernanda Almeida / ADVID Foto da Capa: Fernanda Almeida /ADVID Setembro de 2021
Tiragem: 200 exemplares / ISBN: 978-989-98368-7- Design Gráfico:Helena Lobo Design © 2021ig. 75 - Os orifícios no muro são indicadores da presença da biodiversidade
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