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Uma análise aprofundada sobre o conceito de gênero e sua relação com as estruturas de poder na sociedade. Ele discute a evolução do uso do termo 'gênero' pelas feministas, as diferentes abordagens teóricas, como a teoria das relações de objeto e o pós-estruturalismo, e a forma como o gênero se articula com outros sistemas de dominação, como a classe e a raça. O texto também explora como as relações de gênero são construídas e reproduzidas, tanto na esfera pública quanto na privada, e como elas se manifestam na teoria política e nas representações culturais. Ao longo da análise, o documento levanta questões fundamentais sobre a natureza do poder, a subordinação das mulheres e as possibilidades de transformação social. Com uma abordagem interdisciplinar e uma revisão ampla da literatura relevante, este texto se configura como uma referência importante para compreender a complexidade das relações de gênero e seu papel na organização da vida social.
Tipologia: Resumos
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A jul./dez. 1995
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"Gênero (gender), s., apenas um termo gramatical. Seu uso para falar de pessoas ou criaturas do gênero masculino ou feminino, com o significado de sexo masculino ou feminino, constitui uma brincadeira (permissível ou não, dependendo do contexto) ou um equívoco " (Fowler, Dictionnary of Modem English Usage, Oxford 1940).
Aquelas pessoas que se propõem a codificar os sentidos das palavras lutam por uma causa perdida, porque as palavras, como as idéias e as coisas que elas pretendem significar, têm uma história. Nem os professores de Oxford nem a Academia francesa têm sido plenamente capazes de represar, de aprisionar e fixar o significado, de uma forma que seja independente do jogo da invenção e da imaginação humanas. Mary Wortley Montagu juntou mordacidade à sua irônica denúncia do "belo sexo" ("meu único consolo de pertencer a este gênero
tem sido a certeza de nunca ter sido casada com uma delas"), ao fazer um uso deliberadamente errôneo da referência gramatical.' Através dos séculos, as pessoas utilizaram de modo figurado os termos gramaticais para evocar os traços de caráter ou os traços sexuais. Por exemplo, a utilização proposta pelo Dicti onnaire de la langue française de 1876, é: "On ne sait de quel genre il est, s'il est mâle ou femelle, se dit d'un homme tres caché, dont on ne connait pas les sentiments." (Não se sabe de que gênero ele é, se ele é macho ou fêmea, diz-se de um homem muito dissimulado, do qual não se conhecem os sentimentos)2 E Gladstone fazia esta distinção em 1878: "Atenas não tinha nada do sexo além do gênero, nada da mulher além da forma".3 Mais recentemente - demasiado recente para que pudesse entrar nos dicionários ou na Encyclopedia of Social Sciences - as feministas começaram a utilizar a palavra "gênero" mais seria mente, num sentido mais literal, como uma maneira de se referir à organização social da relação entre os sexos. A referência à gramática é ao mesmo tempo explícita e plena de possibilidades não-examinadas. Explícita, porque o uso gramatical envolve regras formais que resultam da atribuição do masculino ou do feminino; plena de possibilidades não-examinadas, porque em muitas línguas indo-européias há uma terceira categoria - o sem sexo ou o neutro. Na gramática, o gênero é compreendido como uma forma de classificar fenômenos, um sistema socialmente consensual de distinções e não uma descrição objetiva de traços inerentes. Além disso, as classificações sugerem uma relação entre categorias que torna possíveis distinções ou agrupamentos separados. Na sua utilização mais recente, o termo "gênero" parece ter feito sua aparição inicial entre as feministas americanas, que queriam enfatizar o caráter fundamentalmente social das distinções baseadas no sexo. A palavra indicava uma rejeição do determinismo biológico implícito no uso de termos como "sexo" ou "diferença sexual". O termo "gênero" enfatizava igualmente o aspecto rela cional das definições normativas da feminilidade. Aquelas que estavam preocu padas pelo fato de que a produção de estudos sobre mulheres se centrava nas mulheres de maneira demasiado estreita e separada utilizaram o termo "gênero" para introduzir uma noção relacional em nosso vocabulário analítico. Segundo esta visão, as mulheres e os homens eram definidos em termos recíprocos e não se poderia compreender qualqur um dos sexos por meio de um estudo inteira mente separado. Assim, Natalie Davis afirmava, em 1975: "Penso que devería mos nos interessar pela história tanto dos homens como das mulheres, e que não deveríamos tratar somente do sexo sujeitado, assim como um historiador de classe não pode fixar seu olhar apenas sobre os camponeses. Nosso objetivo é compreender a importância dos sexos, isto é, dos grupos de gênero no passado histórico. Nosso objetivo é descobrir o leque de papéis e de simbolismos sexuais nas diferentes sociedades e períodos, é encontrar qual era o seu sentido e como eles funcionavam para manter a ordem social ou para mudá-la".
uma perspectiva sintética que possa explicar as continuidades e descontinuidades e dar conta das persistentes desigualdades, assim como de experiências sociais radicalmente diferentes. Em segundo lugar, porque a discrepância entre a alta qualidade dos trabalhos recentes de história das mulheres e seu status marginal em relação ao conjunto da disciplina (que pode ser avaliado pelos manuais, programas universitários e monografias) mostram os limites de abordagens descritivas que não questionam os conceitos disciplinares dominantes ou, ao menos, que não problematizam esses conceitos de modo a abalar seu poder e, talvez, a transformá-los. Para os/as historiadores/as das mulheres, não tem sido suficiente provar que as mulheres tiveram uma história, ou que as mulheres participaram das principais revoltaS políticas da civilização ocidental. A reação da maioria dos/as historiadores/as não feministas foi o reconhecimento da história das mulheres e, em seguida, seu confinamento ou relegação a um domínio sepa rado ("as mulheres tiveram uma história separada da dos homens, em conse qüência deixemos as feministas fazer a história das mulheres que não nos diz respeito"; ou "a história das mulheres diz respeito ao sexo e à família e deve ser feita separadamente da história política e econômica"). No que se refere à par ticipação das mulheres na história, a reação foi, na melhor das hipóteses, um interesse mínimo ("minha compreensão da Revolução Francesa não muda por saber que as mulheres dela participaram"). O desafio colocado por essas reações é, em última análise, um desafio teórico. Isso exige uma análise não apenas da relação entre a experiência masculina e a experiência feminina no passado, mas também da conexão entre a história passada e a prática histórica presentes. Como o gênero funciona nas relações sociais humanas? Como o gênero dá sentido à organização e à percepção do conhecimento histórico? As respostas a essas questões dependem de uma discussão do gênero como categoria analítica.
Na sua maioria, as tentativas dos/as historiadores/as para teorizar o gênero permaneceram presas aos quadros de referência tradicionais das ciências sociais, utilizando formulações há muito estabelecidas e baseadas em explicações causais universais. Estas teorias tiveram, no melhor dos casos ... um caráter limitado, porque elas têm tendência a incluir generalizações redutivas ou demasiadamente simples, que se opõem não apenas à compreensão que a história como disciplina tem sobre a complexidade do processo de causação social, mas também aos compromissos feministas com análises que levem à mudança. Um exame crítico destas teorias exporá seus limites e permitirá propor uma abordagem alternativa. As abordagens utilizadas pela maioria dos/as historiadores/as se dividem em duas categorias distintas. A primeira é essencialmente descritiva; quer dizer, ela se refere à existência de fenômenos ou de realidades, sem interpretar, explicar
ou atribuir uma causalidade. O segundo uso é de ordem causal e teoriza sobre a natureza dos fenômenos e das realidades, buscando compreender como e porque eles tomam as formas que têm. Na sua utilização recente mais simples, "gênero" é sinônimo de "mulheres". Os livros e artigos de todos os tipos que tinham como tema a história das mulheres substituíram, nos últimos anos, nos seus títulos o termo "mulheres" por "gênero". Em alguns casos, mesmo que essa utilização se refira vagamente a certos conceitos analíticos, ela visa, de fato, obter o reconhecimento político deste campo de pesquisas. Nessas circunstâncias, o uso do termo "gênero" visa sugerir a erudição e a seriedade de um trabalho , pois "genêro" tem uma conotação mais objetiva e neutra do que "mulheres". "Gênero" parece se ajustar à termi nologia científica das ciências sociais, dissociando-se, assim, da política (su postamente ruidosa) do feminismo. Nessa utilização, o termo "gênero" não implica necessariamente uma tomada de posição sobre a desigualdade ou o poder, nem tampouco designa a parte lesada (e até hoje invisível). Enquanto o termo "história das mulheres" proclama sua posição política ao afirmar (contrariamente às práticas habituais) que as mulheres são sujeitos históricos válidos, o termo "gênero" inclui as mulheres, sem lhes nomear, e parece, assim, não constituir uma forte ameaça. Esse uso do termo "gênero" constitui um dos aspectos daquilo que se poderia chamar de busca de legitimidade acadêmica para os estudos feministas, nos anos 80. Mas esse é apenas um aspecto. O termo "gênero", além de um substituto para o termo mulheres, é também utilizado para sugerir que qualquer informação sobre as mulheres é necessariamente informação sobre os homens, que um implica o estudo do outro. Essa utilização enfatiza o fato de que o mundo das mulheres faz parte do mundo dos homens, que ele é criado nesse e por esse mundo masculino. Esse uso rejeita a validade interpretativa da idéia de esferas separadas e sustenta que estudar as mulheres de maneira isolada perpetua o mito de que uma esfera, a experiência de um sexo, tenha muito pouco ou nada a ver com o outro sexo. Além disso, o termo "gênero" também é utilizado para designar as relações sociais entre os sexos. Seu uso rejeita explicitamente explicações biológicas, como aquelas que encontram um denominador comum, para divessas formas de subordinação feminina, nos fatos de que as mulheres têm a capacidade para dar à luz e de que os homens têm uma força muscular superior. Em vez disso, o termo "gênero" torna-se uma forma de indicar "construções culturais" - a criação inteiramente social de idéias sobre os papéis adequados aos homens e às mulheres. Trata-se de uma forma de se referir às origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas de homens e de mu lheres. "Gênero" é, segundo esta definição, uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado.7 Com a proliferação dos estudos sobre sexo e sexualidade, "gênero" tornou-se uma palavra particularmente útil, pois oferece um meio de distinguir a prática sexual dos papéis sexuais atribuídos às mulheres e aos homens.
Os/as historiadores/as feministas têm empregado uma variedade de abor dagens na análise do gênero, mas essas podem ser resumidas a três posições teóricas.R A primeira, uma tentativa inteiramente feminista, empenha-se em explicar as origens do patriarcado. A segunda se situa no interior de uma tradição marxista e busca um compromisso com as críticas feministas. A terceira, funda mentalmente dividida entre o pós-estruturalismo francês e as teorias anglo americanas de relação do objeto (object-relation theories), se inspira nessas diferentes escolas de psicanálise para explicar a produção e a reprodução da identidade de gênero do sujeito. As teóricas do patriarcado têm dirigido sua atenção à subordinação das mulheres e encontrado a explicação dessa subordinação na "necessidade" mas culina de dominar as mulheres. Na engenhosa adaptação que Mary O'Brien fez de Hegel, ela definiu a dominação masculina como o efeito do desejo dos homens de transcender sua alienação dos meios de reprodução da espécie. O princípio da continuidade geracional restaura a primazia da paternidade e obscurece o trabalho real e a realidade social do esforço das mulheres no ato de dar à luz. A fonte da libertação das mulheres reside numa "compreensão adequada do pro cesso de reprodução", numa avaliação das contradições entre a natureza do trabalho reprodutivo das mulheres e a mistificação ideológica (masculina) desteY Para Sulamith Firestone, a reprodução também era uma "amarga armadilha" para as mulheres. No entanto, na sua análise mais materialista, a libertação viria das transformações na tecnologia da reprodução que poderiam, num futuro não demasiadamente longínquo, eliminar a necessidade dos corpos femininos como agentes da reprodução da espécie. 10 Se a reprodução era a chave do patriarcado para algumas, para outras a resposta se encontrava na própria sexualidade. As fortes formulações de Cathe rine MacKinnon são-lhe não apenas caracteristicamente próprias, mas também representativas de uma certa abordagem: "A sexualidade está para o feminismo assim como o trabalho está para o marxismo: é aquilo que mais nos pertence e o que todavia nos é mais subtraído". "A objetificação sexual é o processo primário de sujeição das mulheres. Ela liga o ato com a palavra, a construção com a expressão, a percepção com a efetivação, o mito com a realidade. O homem fode a mulher; sujeito verbo objeto".ll Continuando sua analogia com Marx, MacKinnon propõe como método de análise feminista não o materialismo dialético mas os grupos de consciência. Ao expressar a experiência partilhada de objetificação, sustentava ela, as mulheres são levadas a compreender sua identidade comum e são conduzidas à ação política. Na análise de MacKinnon, ainda que as relações sexuais sej am definidas como sociais, não há nada - salvo a desigualdade inerente à relação em si mesma - que possa explicar porque o sistema de poder funciona assim. A fonte das relações desiguais entre os sexos está, no fim das contas, nas relações desiguais entre os sexos. Apesar de afirmar que a desigualdade, tendo suas origens na sexualidade, está corpori-
fiC;aPíI em.,"todqum s�stem.a. de relações sociais:', ela nãoexplica,çomo este siste1,llq t\lnciona. �2 '. " (^) .' (^). i '
. ,As te9ricqSi qopíltrü,lrcado questionara,m a desigualdade eptre os homens.e aS,mulheres, de imp()rtantes maneiras mas,para os/as historiadore�{as,suas teoriíls. aprese;ntarp..problemas.. Em primeiro lugar, embora proponpal1) uma ,análise. ' - , intern.a ao ,prQprio s,istema deg�nero, elas também afirmam a primazia deste. sistj::ma na, organização social consici.erada em s,eu conjunto, M<;ts as teorias do patriarcado :não mostram.o ql/.e a desigualdade de gênero: tem a verGom as outras desigualdades. Em segundo lugar,a análise continua baseada na difer,ença
dal1)ulh�rp�lo hç)Jnel,ll quer tome a forma ,dq objetificação sexual das mulheres peloshOIl1enS.. Qualquer difer�nça física aSSUme. umçaráter univer.sal e imutável,
de mutações}nas f�nnas e lIos sistemas de desigualdades de gênero.13 Uma teoria quese,baseia na':élriável única da diferença física é problemátiça para os/a� historiadores/as: �la pressupõe, um significado permanente ou inerente para o corpo huma)1o �. fora de uma construção social ou cultural,� e, em conSe qüência,a a-;historic.idage do próprio gênero, N,um certo sentido, li história torna; se umepiferômeno, fOrnecendo variaçõt:;s intermináveis'para o' mesmo,teIl1a imut;ív.el de uma d,esigualdade de gênero vista corno fixa .. As/os, femülistas I1\arxistas t�m up1a abordagem mais histórica,jáque .elasl. eles sãog\l'<L�\l,s/os por uma, teoriil da história. ,Mas, sejam q\lais forem as, variações:e ,ad,aptaç9,"s, a exigênçia auto-impostá degue haja uma explicação. "material" para o gênero tem limitado ou,ao menos,retardado o desenvolvimento. de n�vas linhas de análise, Tallto; no caso em que se propõe uma solução baseada no conceHo de. sistt;mas, duais (que afi1�ma a existência dos. domínios separados, mas em. il)teraçii</, do. capitalismo. e (.lo patriarcado), quanto nq,çaso de uma aná,Vse, l?asea�a m,,:is flnnel11ente. em discussões ,marxistas ortoóoxas sobre os , modos de prodl,lção', a.explicação das origens e das transformaçÕes dOs s�steW\ls .. d�. gêneroenCQ�tra-se fora da divisão sexual do tJ:abalh,(). Famíli\is" jarese, sexualidad�� �ão,no fim dascontas,todos, prqdutos de mOGos ç,ambia�es de
Farnília, l� é aí, que rep()usam, .em última instância, asanálisys da economista. ' Heidi fIartm<,lnl). Hartmal1n enfatiza a necessid\lde de considerar o patriFlIcad0 e oc�pital;sm,ocomo�ois sistemas separados,m.<,lSi em,interação. Mas. à m�dida. ew qUe çlá <lr.�enyolve:�ua argumentaç�o! a. caysalicl(,lde econôll1ica t'Qrna-se pri.or�tá�ia.eQpatrü).(cado está sempre ,se desenvolvendo t} mudando em fU)1ç�q, das relaçpes d�produção.15 ,'.. (^). " .. •..'. , ' (^) .' ... ... (^) '. .... Os prime�rosçlebates en.tre as/osfeministas marxist(isgiramm em torno,dos meSmOs problemas: a rejeição do essencialisl,llo daquelas/es.que sust.entayam que "as exigências da. reprodução biológica" determinam a divisão sexualdo traqalho sob o capitalismo; a futi lidade de se inserir "modos de reprodução" nas
mo pode ser ampliado para incluir discussões sobre ideologia, cultura e psicolo gia, e que esta ampliação será efetuada através do mesmo tipo de exame concreto dos dados efetuados na maioria dos artigos. A vantagem de uma tal abordagem é que ela evita divergências agudas de posição; sua desvantagem é que ela deixa intacta uma teoria já plenamente articulada, que remete as relações entre os sexos às relações de produção. Uma comparação entre as tentativas exploratórias e relativamente amplas das/os feministas marxistas americanas/os e as de suas/seus homólogas/os inglesas/es, mais estreitamente ligadas/os à política de uma tradição marxista forte e viável, revela que as/os inglesas/es tiveram maior dificuldade em contestar os fatores limitantes das explicações estritamente deterministas. Essa dificuldade pode ser vista de maneira mais espetacular nos debates recentes, surgidos na New Lefi Review, entre Michele Barret e seus/suas críticos/as, os/as quais a acusavam de abandonar uma análise materialista da divisão sexual do trabalho sob o capitalismo.21 Ela pode ser vista também no fato de que os/as pesquisadores/ as que tinham inicialmente empreendido uma tentativa feminista de reconciliação entre a psicanálise e o marxismo, e que tinham insistido na possibilidade de uma certa fusão entre os dois, escolheram hoje uma ou outra dessas posições teóricas.22 A dificuldade tanto para as/os feministas inglesas/es quanto para as/ os americanas/os que trabalham dentro do quadro do marxismo é evidente nos trabalhos que mencionei aqui. O problema que elas/eles enfrentam é o inverso daquele colocado pela teoria do patriarcado, pois, no interior do marxismo, o conceito de gênero foi, por muito tempo, tratado como um sub-produto de estruturas econômicas cambiantes; o gênero não tinha aí um status analítico independente e próprio. Um exame da teoria psicanalítica exige uma distinção entre escolas, já que se teve a tendência de classificar as diferentes abordagens segundo as origens nacionais de seus fundadores ou da maioria daqueles/as que as aplicam. Há a Escola Anglo-americana, que trabalha nos termos das teorias de relação de objeto (object-relation theories). Nos Estados Unidos, Nancy Chodorow é o nome mais prontamente associado com esta abordagem. Além disso, o trabalho de Carol Gilligan teve um impacto muito vasto sobre a produção científica americana,incluindo a história. O trabalho de Gilligan se inspira no de Chodorow, embora ela esteja menos preocupada com a construção do sujeito do que com o desenvolvimento moral e o comportamento. Em contraste com a escola anglo americana, a escola francesa está baseada em leituras estruturalistas e pós estruturalistas deFreud no contexto das teorias da linguagem (para as feministas a figura central é Jacques Lacan). Ambas as escolas estão preocupadas com os processos pelos quais a identidade do sujeito é criada, ambas se centram nas primeiras etapas do desenvolvimento da criança a fim de encontrar pistas sobre a formação da identidade de gênero. As teóricas das relações de objeto enfatizam a influência
da experiência concreta (a criança vê, ouve, tem relações com aqueles que se ocupam dela, em particular, obviamente, com seus pais), enquanto os/as pós estruturalistas enfatizam o papel central da linguagem na comunicação, na interpretação e na representação do gênero. (Para os/as pós-estruturalistas, "lin guagem" não designa palavras, mas sistemas de significação - ordens simbólicas
traI do gênero, o antagonismo subjetivamente produzido entre homens e mulheres. Além do mais, mesmo que a maneira pela qual "o sujeito" é construído permaneça aberta, a teoria tende a universalisar as categorias e as relações entre masculino e feminino. A conseqüência para os/as historiadores/as é uma leitura redutiva dos dados do passado. Mesmo que essa teoria tome em consideração as relações sociais, ao ligar a castração à proibição e à lei, ela não permite introduzir uma noção de especificidade e de variabilidade histórica. O falo é o único significante, o processo de construção do sujeito generificado é, em última instância, previsível já que é sempre o mesmo. Se, como sugere a teórica do cinema Teresa de Lauretis, temos necessidade de pensar a construção da subjetividade dentro dos contextos sociais e históricos, não há nenhum meio de precisar estes contextos nos termos que propõe Lacan. De fato, mesmo na tentativa de Lauretis, a realidade social (quer dizer, as relações "materiais, econômicas e interpessoais que são, de fato, sociais e, numa perspectiva mais ampla, históricas") parece se situar fora do sujeito.26 O que está faltando é uma forma de conceber a "realidade social" em termos de gênero. O problema do antagonismo sexual nessa teoria tem dois aspectos. Em primeiro lugar, ele projeta um certo caráter intemporal, mesmo quando está bem historicizado, como no caso de Sally Alexander. Sua leitura de Lacan a conduziu à conclusão de que "o antagonismo entre os sexos é um aspecto inevi tável da aquisição da identidade sexual...Se o antagonismo está sempre latente, é possível que a história não possa oferecer nenhuma solução final, mas apenas a remoldagem e reorganização permanente da simbolização da diferença e da
com que eu duvide dessa formulação, ou então o fato de que eu não soube ainda me desfazer da episteme do que Foucault chamava de Idade Clássica. Seja o que for, a forrn:ulação de Alexander contribui para fixar a oposição binária entre masculino-feminino como a única relação possível e como um aspecto perma nente da condição humana. Ela perpetua, mais do que põe em questão, aquilo que Denise Riley designa como o "terrível ar de constância da polaridade sexual". Ela escreve: "o caráter historicamente construído da oposição (entre masculino e feminino) produz como um de seus efeitos precisamente este ar de uma oposição invariante e monótona entre homens/mulheres".
voltar ao lado anglo-saxão) é posta em evidência no trabalho de Carol Gilligan. Gilligan explica as trajetórias divergentes de desenvolvimento moral seguidas por meninos e meninas, em termos de diferenças de "experiência" (de realidade vivida). Não é surpreendente que os/as historiadores/as das mulheres tenham recuperado suas idéias e as tenham utilizado para explicar as "vozes diferentes" que os trabalhos desses/as historiadores/as lhes haviam possibilitado ouvir. Os problemas com esses empréstimos são múltiplos e eles estão logicamente conectados.2Y O primeiro problema é um deslizamento que freqüentemente ocorre
na atribuição da causalidade: a argumentação começa por uma afirmação do tipo "a experiência das mulheres leva-as a fazer escolhas morais que dependem de contextos e de relações" para se transformar em "as mulheres pensam e escolhem este caminho porque elas são mulheres". Está implícita nessa linha de raciocínio uma idéia a-histórica, senão essencialista, de mulher. Gilligan e outros! as extrapolaram sua descrição, baseada numa pequena amostra de alunas americanas do fim do século XX, a todas as mulheres. Essa extrapolação é evidente, principalmente, mas não exclusivamente, nas discussões de alguns! mas historiadores/as da "cultura feminina" que reúnem dados desde as santas da Idade Média às militantes sindicalistas modernas e os reduzem para provar a hipótese de Gilligan sobre a suposta preferência feminina universal por estabelecer e cultivar relações pessoais.30 Esse uso das idéias de Gilligan se coloca em oposição flagrante com as concepções mais complexas e historicizadas da "cultura feminina" que podem ser encontradas no simpósio de Feminist Studies de 1980.31 De fato, uma comparação desta série de artigos com as teorias de Gilligan revela a que ponto sua noção é a-histórica, definindo a categoria homem! mulher como uma oposição binária universal que se auto-reproduz - fixada sempre da mesma maneira. Ao insistir sempre nas diferenças fixadas (no caso de Gilligan, ao simplificar os dados através da utilização das mais heterogêneas informações sobre o sexo e o raciocínio moral, para sublinhar a diferença sexual), as/os feministas reforçam o tipo de pensamento que desejam combater. Ainda que insistam na reavaliação da categoria do "feminino" (Gilligan sugere que as escolhas morais das mulheres poderiam ser mais humanas do que as dos homens), elas não examinam a oposição binária em si. Temos necessidade de uma rejeição do caráter fixo e permanente da oposição binária, de uma historicização e de uma desconstrução genuínas dos termos da diferença sexual. Devemos nos tornar mais auto-conscientes da distinção entre nosso vocabulário analítico e o material que queremos analisar. Devemos encontrar formas (mesmo que imperfeitas) de submeter sem cessar nossas cate gorias à crítica e nossas análises à auto-crítica. Se utilizamos a definição de desconstrução de Jacques Derrida, essa crítica significa analisar , levando em conta o contexto, a forma pela qual opera qualquer oposição binária, revertendo e deslocando sua construção hierárquica, em vez de aceitá-la como real ou auto
certo sentido, as/os feministas vêm fazendo isso por muitos anos. A história do pensamento feminista é uma história da recusa da construção hierárquica da relação entre masculino e feminino, em seus contextos específicos, e uma tentativa para reverter ou deslocar suas operações. Os/as historiadores/as feministas estão agora bem posicionados/as para teorizar suas práticas e para desenvolver o gênero como uma categoria analítica.
complexos. Mas são os processos que devemos ter sempre em mente. Devemos nos perguntar mais seguidamente como as coisas se passaram para descobrir por que elas se passaram; segundo a formulação de MichelIe Rosaldo, devemos buscar não uma causalidade geral e universal, mas uma explicação baseada no significado:"Vejo agora que o lugar da mulher na vida social humana não é, de qualquer forma direta, um produto das coisas que ela faz, mas do significado que suas atividades adquirem através da interação social concreta". 34 Para buscar o significado, precisamos lidar com o sujeito individual, bem como com a organização social, e articular a natureza de suas interrelações, pois ambos são cruciais para compreender como funciona o gênero, como ocorre a mudança. Finalmente, é preciso substituir a noção de que o poder social é unificado, coerente e centralizado por algo como o conceito de poder de MichelFoucault, entendido como constelações dispersas de relações desiguais, discursivamente constituídas em "campos de força" sociais.35 No interior desses processos e estruturas, há espaço para um conceito de agência humana, concebida como a tentativa (pelo menos parcialmente racional) para construir uma identidade, uma vida, um conjunto de relações, uma sociedade estabelecida dentro de certos limites e dotada de uma linguagem - uma linguagem conceitual que estabeleça fronteiras e contenha, ao mesmo tempo, a possibilidade da negação, da resistên cia, da reinterpretação e permita o jogo da invenção metafórica e da imaginação. Minha definição de gênero tem duas partes e diversas subconjuntos, que estão interrelacionados, mas devem ser analiticamente diferenciados. O núcleo da definição repousa numa conexão integral entre duas proposições: (1) o gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos e (2) o gênero é uma forma primária de dar significado às relações de poder. As mudanças na organização das relações sociais correspondem sempre a mudanças nas representações do poder, mas a mudança não é unidirecional. Como um elemento constitutivo das relações sociais baseadas nas diferenças percebidas,o gênero implica quatro elementos interrelacionados: em primeiro lugar, os símbolos culturalmente disponíveis que evocam representações sim bólicas (e com freqüência contraditórias) - Eva e Maria como símbolos da mulher, por exemplo, na tradição cristã ocidental - mas também mitos de luz e escuridão, purificação e poluição, inocência e corrupção. Para os/as historiadores/ as, a questão importante é: que representações simbólicas são invocadas, como, e em quais contextos? Em segundo lugar, conceitos normativos que expressam interpretações dos significados dos símbolos, que tentam limitar e conter suas possibilidades metafóricas. Esses conceitos estão expressos nas doutrinas religiosas, educativas, científicas, políticas ou jurídicas e tomam a forma típica de uma oposição binária fixa, que afirma de maneira categórica e inequívoca o significado do homem e da mulher, do masculino e do feminino. De fato, essas afirmações normativas dependem da rejeição ou da repressão de possibilidades alternativas e, algumas vezes, elas são abertamente contestadas ("quando e em
quais circunstâncias" é a questão que deveria preocupar os/as historiadores/as). A posição que emerge como posição dominante é, contudo, declarada a única possível. A história posterior é escrita como se essas posições normativas fossem o produto do consenso social e não do conflito. Um exemplo desse tipo de história é dado por aqueles que tratam a ideologia vitoriana da dpmesticidade como se ela tivesse sido criada em bloco, e tivesse sido contestada apenas depois disso, invés de ser o objeto constante de grandes diferenças de opinião. Um outro exemplo vem dos grupos religiosos fundamentalistas atuais, que querem ligar necessariamente suas práticas à restauração do papel "tradicional" das mulheres, supostamente mais autêntico, embora, na realidade, haja poucos antecedentes históricos que testemunhem a existência inconteste de um tal papel. O desafio da nova pesquisa histórica consiste em fazer explodir essa noção de fixidez, em descobrir a natureza do debate ou da repressão que leva à aparência de uma permanência intemporal na representação binária do gênero. Esse tipo de análise deve incluir uma concepção de política bem como uma referência às instituições e à organização social - este é o terceiro aspecto das relações de gênero. Certos/as pesquisadores/as, principalmente os/as antropólogos/as, têm restringido o uso do gênero ao sistema de parentesco (centrandq�.se no lar:ê .�� família como a base da organização social). Temos necessidade de uma .visão mais ampla que inclua não somente o parentesco mas também (especialmente para as complexas sociedades modernas) o mercado de trabalho ( um mercado de trabalho sexualmente segregado faz parte do processo de construção de gênero), a educação ( as instituições de educação somente masculinas, não mistas, ou de co-educação fazem parte do mesmo processo), o sistema político (o sufrágio universal masculino faz parte do processo de construção do gênero). Não tem muito sentido reconduzir à força estas instituições à sua utilidade funcional para o sistema de parentesco, ou sustentar que as relações contemporâneas entre os homens e as mulheres são artefatos de sistemas anteriores de parentesco baseados na troca de mulheres.36 O gênero é construído através do parentesco, mas não exclusivamente; ele é construído igualmente na economia e na organização política, que, pelo menos em nossa sociedade, operam atualmente de maneira amplamente independente do parentesco. O quarto aspecto do gênero é a identidade subjetiva. Concordo com a idéia da antropóloga Gayle Rubin de que a psicanálise fornece uma teoria importante sobre a reprodução do gênero, uma descrição da "transformação da sexualidade biológica dos indivíduos enquanto passam por um processo de enculturação". Mas a pretensão universal da psicanálise constitui, para mim, um problema. Embora a teoria lacaniana possa ser útil para a reflexão sobre a construção da identidade generificada, os/as historiadores/as precisam trabalhar de uma forma mais histórica. Se a identidade de gênero está baseada única e universalmente no medo da castração, nega-se a relevância da investigação histórica. Além
o formulou: "(.. .) não é a sexualidade que assombra a sociedade, mas antes a sociedade que assombra a sexualidade do corpo. As diferenças entre os corpos, relacionadas ao sexo, são constantemente solicitadas a testemunhar as relações sociais e as realidades que não têm nada a ver com a sexualidade. Não somente testemunhar, mas testemunhar para, ou seja, legitimar". A função de legitimação do gênero age de várias maneiras. Bourdieu, por exemplo, mostrou como, em certas culturas, a exploração agrícola era organizada segundo conceitos de tempo e de estação que se baseavam em definições específicas da oposição entre masculino e feminino. Gayatri Spivak fez uma análise perspicaz dos usos do gênero e do colonialismo em certos textos de escritoras britânicas e americanas.42 Natalie Davis mostrou como os conceitos de masculino e feminino estavam relacionados à aceitação e ao questionamento das regras da ordem social no primeiro período da França moderna.43 A historiadora Caroline Bynum deu nova luz à espiritualidade medieval pela importância atribuída às relações entre os conceitos do masculino e do feminino e o comportamento religioso. Seu trabalho nos permite melhor compreender as formas pelas quais esses conceitos orientaram a política das instituições monásticas e as crenças individuais.44 Os/as historiadores/as da arte abriram um novo território ao extrair implicações sociais das representações literais dos homens e das mulheres.45 Essas interpretações estão baseadas na idéia de que as linguagens conceituais empregam a diferenciação para estabelecer o significado e que a diferença sexual é uma forma primária de dar significado à diferenciação. O gênero, então, fornece um meio de decodificar o significado e de compreender as complexas conexões entre várias formas de interação humana. Quando os/as historiadores/as buscam encontrar as maneiras pelas quais o conceito de gênero legitima e constrói as relações sociais, eles/elas começam a compreender a natureza recíproca do gênero e da sociedade e as formas particulares e contextualmente específicas pelas quais a política constrói o gênero e o gênero constrói a política. A política é apenas uma das áreas na qual o gênero pode ser utilizado para análise histórica. Escolhi os exemplos seguintes, ligados à política e ao poder, no sentido mais tradicional, quer dizer, naquilo que enfatizam o governo e o Estado-nação, por duas razões. Em primeiro lugar, porque se trata de um território praticamente inexplorado, já que o gênero tem sido percebido como uma cate goria antitética às tarefas sérias da verdadeira política. Em segundo lugar, porque a história política - ainda o modo dominante de pesquisa histórica - tem sido o bastião de resistência à inclusão de materiais ou questões sobre as mulheres e o gênero. O gênero tem sido utilizado literal ou analogicamente na teoria política para justificar ou criticar reinado de monarcas e para expressar as relações entre governantes e governados. Obviamente era de se esperar que os debates dos contemporâneos sobre os reinados de Elizabeth I da Inglaterra e de Catarina de
Medici na França tivessem tratado da questão da capacidade das mulheres para a direção política; mas em um período onde parentesco e realeza estavam intrin secamente ligados, as discussões sobre os reis homens também estavam preocupadas com a masculinidade e a feminilidade.47 As analogias com a relação marital dão uma estrutura para os argumentos de Jean B odin, Robert Filmer e John Locke. O ataque de Edmund Burke contra a Revolução Francesa se desen volve ao redor de um contraste entre as harpias feias e assassinas dos sans culottes (as megeras do inferno, sob a forma desnaturada da mais vil das mulhe res) e a doce feminilidade de Maria Antonieta, que escapa à multidão "para procurar refúgio aos pés de um rei e de um marido" e cuja beleza tinhajá inspirado
ordem política que Burke escreveu: "para que possamos amar nossa pátria, nossa pátria deve ser amável").48 Mas a analogia não concerne sempre ao casamento nem mesmo à heterossexualidade. Na teoria política da Idade Média islâmica, os símbolos do poder político fizeram mais freqüentemente alusão às relações sexuais entre um homem e um rapaz, sugerindo não somente a existência aceitável de formas de sexualidade comparáveis às que descreve Foucault em seu último livro a respeito da Grécia clássica, mas também a irrelevância das mulheres para qualquer noção de política e de vida pública. Para que este último comentário não seja interpretado como uma afirmação de que a teoria política reflete simplesmente a organização social, parece im portante observar que as mudanças nas relações de gênero podem se produzir a partir de considerações sobre as necessidades de Estado. Um exemplo surpre endente é fornecido pela argumentação de Louis de B onald, em 1816, sobre as razões pelas quais a legislação da Revolução francesa sobre o divórcio tinha que ser rejeitada:
"Do mesmo modo que a democracia política permite ao povo, parte fraca da sociedade política, se voltar contra o poder estabelecido, também o divórcio, verdadeira democracia doméstica, permite à esposa, parte fraca, rebelar-se contra a autoridade marital... A fim de manter o Estado fora das mãos do povo, é necessário manter afamíliafora das mãos das esposas e dos filhos. "
B onald começa com uma analogia para estabelecer, em seguida, uma cor respondência direta entre o divórcio e a democracia. Retomando argumentos bem mais antigos, à propósito da boa ordem familiar como fundamento da boa ordem de Estado, a legislação que implementou esta visão redefiniu os limites da relação marital. Da mesma maneira, em nossa época, as ideologias políticas conservadoras desejariam fazer passar toda uma série de leis sobre a organização e o comportamento da família, que mudariam as práticas atuais. A conexão entre os regimes autoritários e o controle das mulheres tem sido observada, mas não tem sido estudada a fundo. No momento crítico para a hegemonia jacobina, durante a Revolução francesa, no momento em que Stalin se apoderou do controle