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A importância histórica da guerra dos trinta anos (1618-1648), enfatizando o contexto histórico do império romano, a igreja católica e os motivos que os levaram a ser influentes naquela época. O texto aborda a influência da igreja católica no sacro império romano-germânico, a consolidação da igreja romana no cenário europeu, a reforma protestante e a divisão entre católicos e protestantes. Além disso, o documento discute a aliança entre a igreja católica e o fortalecimento do poder real, as críticas à igreja católica e a origem do conflito entre o sacro império romano-germânico e os protestantes.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de aula
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Tubarão 2020
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Unidade de Aprendizagem Trabalho de Conclusão de Curso em Relações Internacionais, do Curso de Relações Internacionais, como requisito à elaboração do trabalho monográfico.
Linha de pesquisa: Europa no século XVII, Cardeal de Richelieu e Diplomacia.
Orientador: Prof. Dr. Ricardo Neumann.
Tubarão 2020
O tralhado tem por objetivo analisar a influência do Cardeal de Richelieu nos desdobramentos da Guerra dos Trinta Anos. Para que se alcance o proposto, foi preciso contextualizar o conflito entre os Habsburgo e os Príncipes protestantes; entender em seguida o papel do Cardeal de Richelieu e relacioná-lo a sua atuação nos Tratados de Vestfália; e por último, analisar a ideia de “Razão de Estado”. Para tanto, utilizou-se o método de procedimento histórico; para a abordagem aplicou-se a qualitativa e quanto à parte técnica de pesquisa o bibliográfico e documental. Ao final do trabalho, verificou-se que as ações de Richelieu tiveram um significado importante para o cenário Europeu à época, influenciando uma nova era no continente com o surgimento de novos Estados pautados nas novas regras Internacionais criadas no contexto estudado. Não somente isso, mas entendeu-se que os eventos que ocorreram no decorrer dos séculos até a deflagração da Guerra permitem que seja traçado uma linha de ligação, mesmo que diretamente e indiretamente, com o resultado final do conflito.
Palavras-chave: Cardeal de Richelieu, Guerra dos Trinta Anos, Razão de Estado.
The purpose of the work is to analyze the influence of Cardinal de Richelieu in the outcome of the Thirty Years War. In order to achieve the proposal, it was necessary to contextualize the conflict between the Habsburgs and the Protestant Princes; then, understand the role of Cardinal de Richelieu and relate it to his role in the Westphalian Treaties; and finally, to analyze the idea of “State Reason”. For that, the historical method was used as for the procedure, for the qualitative approach was applied and for the technical procedures of research the bibliographic and documentary. At the end of the work, it was found that Richelieu's actions had an important meaning for the European scenario at the time, influencing a new era on the continent with the emergence of new States based on a new International rule created in the outcome. Not only that, but it was understood that the events that took place over the centuries until the outbreak of the War allow a line to be drawn, even if directly and indirectly, to the result of the conflict.
Keywords: Cardinal Richelieu, Thirty Years' War, Reason of State.
A Guerra dos Trinta Anos foi com um conflito que deixou marcas na História das relações entre os Estados europeus. O fato da Guerra evoluir de um conflito religioso para uma guerra de interesses nacionais sendo protagonizada pelos Estados germânicos, Espanha e pelos países do Norte Europeu fez com que a Guerra se tornasse atrativa para os historiadores.
Mas a história da Guerra dos Trinta Anos é repleta de grandes motivações e é resultado do que fora sendo construído com o passar dos séculos. Com isso em mente, tem-se a figura da Igreja, que detinha força e importância frente aos demais Estados, mas neste conflito em específico, estava sendo posta de lado. O emprego da raison d’etát – Razão de Estado – demonstrou o começo de uma mudança na mentalidade dos líderes, os quais passaram séculos sendo representantes e influenciados pela Igreja Romana neste período enfático.
Porém, por mais que aspecto político do conflito seja importante – a própria guerra e como os Estados lidaram com ela – é impossível discorrer sobre o tema sem realizar as devidas menções acerca do papel da Igreja e a forma como ela era percebida por outros reinados. Por anos a autoridade da Igreja era indiscutível, pois era vista como a representação da vontade de Deus no plano terreno. De certa forma, era a estrela-guia para diversos reinos no continente Europeu. Essa representação deu a ela notoriedade e assim a importância necessária para se tornar não só uma entidade focada no plano religioso, mas sim um ponto com poder suficiente para alterar rumos de reinados.
Em algum ponto da história, a Igreja Romana perdeu esse brilho. Não somente isso, houve também uma mudança na postura de como ela era encarada e vista pelos líderes. Seria ela um peso? A figura da Igreja continua a possuir a mesma importância que tivera séculos atrás? Meados do século VIII indo ao século IX, a Igreja e o Estado possuíam os mesmos objetivos, alcançar a universalidade, o que resultou em alianças caracterizadas por uma relação simbiótica que eventualmente e momentaneamente, permitiu que ambos alcançassem seus anseios. Mas agora, em torno do século XVI-XVII esta relação muda. Com isso, a Igreja Romana começa a ser questionada e levantam-se pensadores que, de maneira simples, buscavam uma Reforma na entidade, isso deu origem à Reforma Protestante.
A reforma estava fadada a acontecer pois as insatisfações e diversas críticas à Igreja quanto à sua autoridade e poder eram grandes. Não apenas críticas de cunho religioso, mas também fortemente de cunho econômico e político. No século XVI ocorreu a Reforma
protestante, quando diversas comunidades da Igreja se levantaram em protesto contra certos aspectos da doutrina e da prática da Igreja católica. Foram elas a Igreja anglicana, a reformada e a luterana. (HELLERN, NOTAKER, GAARDER; 1952). Esse evento foi possível pois Martinho Lutero, monge germânico que era um dos insatisfeitos com a forma que a Igreja levava seus assuntos, proferiu publicamente suas insatisfações contra a entidade religiosa. A reforma do século XVI, sem dúvidas, contribuiu para moldar a primeira base de uma Europa Moderna, e inevitavelmente, se espalhou rapidamente a partir dos meios de comunicação da época aos outros Estados.
Brandão afirma em seu artigo que “É lugar-comum afirmar que os conflitos humanos, mormente as guerras, têm sua origem em fatos anteriores a sua eclosão. ” (BRANDÃO, 2012). Ao seguir essa ideia, a reforma que ocorrera em poucos anos, a insatisfação econômica dos principados germânicos voltada aos altos impostos, e o enfraquecimento religioso da instituição religiosa foram pontos necessários para despertar uma série de conflitos e guerras que envolveram católicos e protestantes. Porém, será tratada e discutida neste trabalho a Guerra dos Trinta Anos.
O conflito dos Trinta Anos se destaca entre os demais por conta de sua evolução. A guerra se prolongou de tal forma que ao longo do percurso as motivações e objetivos também foram se alterando. Mas qual seria a evolução que marca este conflito no cenário internacional? Seria a evolução de uma simples guerra civil germânica e da região da Boêmia, de caráter religioso , para englobar outros Estados maiores e pender a balança para o lado internacional.
Não somente isso, como temos o que seria o principal ponto do trabalho, a visão moderna inédita se tratando em alianças entre os Estados. Por exemplo, tem-se uma França que, por mais que fosse católica, ao analisar o campo geopolítico e o que representaria o crescimento do Sacro Império Romano Germânico em seu entorno, entendeu que seria vantajoso uma aliança com os protestantes. Nesta manobra, voltou-se contra a máxima autoridade tanto religiosa e política da época. Esta aproximação foi explorada e motivada pelo primeiro ministro- chefe francês Cardeal de Richelieu , cujos motivos de tal alinhamento serão expostos no decorrer do trabalho.
Portanto, este conflito foi resultado da mudança da ideia de unidade religiosa que era vigente durante séculos em 1517, a qual fez parte no surgimento e da história de inúmeros países. E essa mudança interessa para o interesse nacional, conceito que foi protagonizado pelo Ministro-chefe francês Cardeal de Richelieu.
caminho ideal a percorrer a fim de que se chegue no resultado está na forma de objetivos específicos dispostos em 3 itens: Contextualizar o conflito entre os Habsburgo e os Príncipes protestantes; entender o papel do Cardeal Richelieu relacionando sua atuação nos Tratados de Vestfália; e, por último, analisar a ideia de “Razão de Estado”
Quanto aos Métodos de ensino podem ser divididos em dois tipos, os de Abordagem e os de Procedimento.
De acordo com Panasiewicz e Baptista (2013), os métodos de abordagem dizem respeito aos fundamentos lógicos e aos processos de raciocínio adotados. É ou deve ser a primeira classificação dos métodos, pois estão na origem do processo científico. Sobre eles há muita literatura e muita discussão.
Já os métodos de procedimento estão relacionados com a fase da pesquisa em si, não com o plano geral.
Dito isso, o método de abordagem utilizado neste trabalho será o dedutivo. Gil (2008) afirma em seu livro que o método dedutivo parte de princípios reconhecidos como verdadeiros e indiscutíveis e permite chegar a conclusões de maneira formal. Panasiewicz e Baptista (2013) diz que partem de uma generalização para uma questão particularizada. Esse tipo de método fundamenta-se no silogismo: partindo de uma premissa maior, passando por outra menor e chegando a uma conclusão particular.
Justamente o que se pode observar no presente trabalho. Primeiro apresenta-se as ideias gerais de diversos momentos históricos, exatamente como ocorreram; feito isso, afunila-se aos poucos para se chegar no objetivo do trabalho.
O método de procedimento utilizado será o método histórico , que por definição busca comparar o conjunto dos elementos atuais com suas origens históricas; acompanhar a evolução do objeto pesquisado pela história; e, comparar as formações anteriores que eram precursoras do que há na atualidade. (PANASIEWICZ; BAPTISTA. 2013).
No caso do presente trabalho, este procedimento foi escolhido, pois reflete a intenção do trabalho como um todo. Analisar os fatos do passado afim de se chegar a uma conclusão desejada.
Primeiramente, quanto à forma de abordagem da pesquisa, será realizada sob a forma qualitativa. Pois, de acordo com Panasiewicz e Baptista (2013), a pesquisa qualitativa tende a se preocupar mais com a interpretação e a compreensão dos fenômenos e objetos. Ela analise
de forma mais articulada os diversos elementos da pesquisa, envolve mais o pesquisador no processo (participação) e permite construir a própria teoria da pesquisa durante sua realização. Assim, dedica-se mais a qualidade do que à quantidade, busca as singularidades e não necessariamente as generalizações, é mais subjetiva.
Sobre os procedimentos técnicos de pesquisa, este trabalho utilizará da pesquisa bibliográfica e documental. A respeito da pesquisa bibliográfica, Gil (2008, p. 50) afirma que “A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado constituído principalmente de livros e artigos científicos. [...]”. Já quanto à pesquisa documental Gil (2008, p. 51) afirma “[...]. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico [...]”.
Quantos aos objetivos, a pesquisa se define como exploratória. Conforme diz Gil (2008), as pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. Ele ainda afirma que quando o tema escolhido é bastante genérico, tornam- se necessários seu esclarecimento e delimitação, o que exige revisão da literatura, discussão com especialistas e outros procedimentos.
Para a coleta de dados, a técnica que será usada pelo trabalho será a análise documental. De acordo com Gil (2008, p.147) sobre a análise documental ele afirma que qualquer objeto que possa contribuir para a investigação de determinado fato ou fenômeno são considerados documentos.
O procedimento utilizado para a coleta de dados do presente trabalho serão os procedimentos bibliográficos e documentais. Assim como também os instrumentos utilizados serão o levantamento bibliográfico e documental.
A partir das leituras realizadas pelas fontes adquiridas, será feita uma separação e organização em forma de citações que explicam no decorrer do trabalho o processo por trás da Guerra dos Trinta Anos, o seu desenvolvimento, e as mudanças ocorridas no continente europeu a partir das ações de diversos atores importantes. Nessas citações serão inclusas o argumento do autor e, por trás da afirmação feita, haverá uma segunda afirmação sobre o mesmo assunto, porém de outro autor.
Para que se possa compreender a Guerra dos Trinta Anos, que ocorreu de 1618 a 1648, é necessário que seja feita uma reconstituição acerca do que representava o Império e a Igreja e os motivos que os levaram a serem influentes da forma que foram até o conflito em questão. Mais precisamente, o ponto de partida para a criação do raciocínio remonta o período do Império Romano sob o domínio de Constantino, precursor de um governo que se entrelaça com as ideias da Igreja Romana; mais à frente a sua consolidação com Carlos Magno; e ao final, a Reforma Protestante. De acordo com Barros (2006), a palavra Império remete a uma ideia de “Poder”, uma expansão do seu domínio absoluto sobre um conjunto determinado de territórios; ou uma espécie de poder que seja reconhecido pelos demais. Inevitavelmente, ao se pensar em Império e expansão, a difusão da sua religião para os demais países torna-se necessária. Com base nisso, o Império Romano, a partir de Constantino aderiu como religião oficial o cristianismo, que juntamente com os objetivos do próprio Império, compartilhavam do mesmo sentimento de expansão para os demais povos. A expansão de que compartilhavam, tanto a religião como o projeto imperial, era o da difusão e aumento da sua influência. Com base nisso, o mais lógico a se realizar seria uma aliança com o Cristianismo, o que contribuiria para reforçar a ideia de Império Universal. Assim, ao juntar o conceito de Império com os objetivos religiosos, chega-se a um novo matiz, o da Universalidade. Conceito este que fora bastante explorado pelos imperadores e pela própria igreja romana. (BARROS, 2006). Mas como falar de universalidade religiosa e política com um Império dividido? Para fins de contextualização, no século V, a situação do Império Romano não encontrava em bons lençóis. Houveram diversos motivos que culminaram na sua separação que variaram de má gestão – visto que, por serem vários Estados em um vasto território, dificultava o trabalho de um único líder – até as constantes invasões bárbaras, em que uma delas resultou na queda da parte ocidental, em 476 d.C. Na tentativa de reverter a situação, optou-se por dividi-lo em Império Romano do Ocidente e Império Romano do Oriente. Com essa divisão a entidade religiosa dividiu-se também respectivamente em uma com sede em Roma e outra com sede em Bizâncio, ou conhecido também como Constantinopla, atual Istambul. Bizâncio tornou-se um polo
econômico na região, situação que a diferenciava notoriamente do Ocidente, que aos poucos ia definhando-se. Ao voltar os olhos para o caído Império Romano do Ocidente, a Igreja Romana procurava ainda se manter como entidade. Enquanto a figura representante do reino divino em Bizâncio era o Imperador, no antigo Império Romano do Ocidente o líder permaneceu sendo o Papa. Assim, a fim de que fosse garantida a sua sobrevivência, visto que em um lado existia os povos lombardos e o Império Bizantino no outro, era necessária uma aliança cuja força fosse o suficiente para que fosse restaurado o seu antigo prestígio e força que outrora tivera. Essa força passou a ser ancorada no Reino Franco, mais precisamente a partir do momento em que o rei Clóvis se converteu ao cristianismo, tornando-o assim o primeiro rei franco a se converter ao cristianismo (HISTOBLOG, 2009). Como foi exposto anteriormente, a queda do então Império Romano do Ocidente ocorreu devido às invasões dos povos germânicos na Região. Então, uma vez que Clóvis unificou certas tribos francas, em meio aos povos bárbaros que estavam na região, surgiu o Reino Franco. Segundo Recco (2020), a aliança com a Igreja Católica teve grande importância para o fortalecimento do poder real e para sua política de conquistas territoriais. Clóvis pertencia à Dinastia Merovíngia, cujo reconhecimento e força do Reino perpetuaram até a sua infortuna morte em 511. Mas, após sua morte, o seu reino foi dividido entre seus filhos que, devido à má gestão, viu-se ameaçado em diversas ocasiões pelos mulçumanos que já tinham interesse na região desde tempos passados.
A sobrevivência da Igreja Romana era ameaçada neste contexto de muitas maneiras – tanto territorialmente como doutrinariamente – e por isto o projeto do Papado de se projetar como força cristã universal no âmbito do ocidente poderia se combinar perfeitamente com o projeto de expansão do povo franco, já cristianizado. (BARROS,
Mas a fim de que se tornasse possível a expansão cristã, era mister resolver o problema de um reino dividido. Durante o reinado de seus filhos, o termo “reis indolentes” foi usado para a designação aos governadores deste período pois, além de constantes disputas internas e crises (RECCO, 2020) ocuparam-se principalmente de festas, caçadas e torneios de esgrima (HISTOBLOG, 2009). Em meio à situação caótica elevada a invasão dos mulçumanos na Península Ibérica, o Major Domus Carlos Martel, em 732, obteve sucesso na Batalha de Poitiers que se caracterizou pelo refreamento do avanço islâmico sobre a Europa. (FERNANDES, 2020)
Asseguradas proteção e força, a Igreja Romana começava a se consolidar no cenário. A Igreja Católica será conhecida futuramente como uma entidade forte no campo político e no campo econômico, e isso é possível e reforçado pelo fato da Igreja possuir territórios. As terras foram apossadas pela Igreja Católica quando Pepino marchou em direção à Itália e derrotou os Lombardos que ameaçavam Roma. Este evento foi determinante para que, por exemplo, Vaticano se tornasse uma das terras doadas ao então Papa. Tem-se então, finalmente, uma Igreja com uma importante participação na História do reinado de Pepino e em alguns eventos importantes no reinado de governantes passados, isso tudo foi possível por meio de sua Aliança. Esta mesma aliança se firmaria também com a ascensão de Carlos Magno ao trono e, futuramente, a Imperador no ano de 800.
A coroação de Carlos Magno em 800 d.c, diga-se de passagem, representa apenas o momento de concretização maior de uma política carolíngia que já mostra a partir de 789, com a capitular Admonitio Generalis , uma clara mudança de rumos em direção à ideia de Carlos Magno assumir uma função imperial. Entre outros aspectos sinalizadores, já se vê claramente a ideia de que a autoridade do rei franco se estende “os fiéis de Deus e do rei”, colocando no mesmo plano as duas fidelidades (FAVIER, 2004, p.471) (BARROS, 2006).
Visto que Carlos Magno foi coroado pelo papa, o título representava dois pesos: O primeiro era a sua denotação Política e a outra, como o Imperador dos Cristãos, o que significava que era também o imperador daqueles que seguiam a religião de Roma. Porém, acabou assumindo um significado muito maior, o da ressurreição do Império Romano do Ocidente. Claro que essa ressurreição estava alicerçada em direta aliança com a Igreja Católica, a qual passaria a gozar de uma estrutura política forte para amparar seu crescente poder. Criava- se ali a dicotomia e a complementaridade entre o poder espiritual - representado pela Igreja e centrado na figura do papa - e o poder temporal, terreno, que tinha no imperador sua expressão máxima. (SALOMÃO, 2014) Então até o momento, como fora visto, a história da igreja, mais precisamente do papado e sua relação com o Império e reinos, durante muitos anos foi composta por alianças que beneficiavam ambas as partes. Porém, não seria possível haver mudanças e evoluções se não fossem pelos conflitos que essas entidades tiveram entre si. Existiram diversas doutrinas, Cartas, Tratados e até imperadores e reis que tinham como o objetivo definir tanto os papéis dos imperadores e reis como os do Papado e da Igreja. E por muito tempo esse debate pendia ou para o lado dos imperadores, o qual o papado deveria ser submisso, ou para o lado da Igreja, onde os imperadores lhe deviam submissão.
Para explicar esse embate, é preciso analisar como estava a situação interna da Igreja. A figura do Imperador decidia quem seria o próximo na linha sucessória da Igreja Católica. Em outras palavras, era um ritual onde não havia questionamentos sobre o fato da figura do Imperador selecionar a figura do líder religioso. Mas com o tempo, este comportamento permitiu que gerasse um terreno propício para que houvesse várias desavenças entre o papado e o Imperador. Incomodava a Igreja Católica o fato de uma entidade do Poder Espiritual se submeter às ordens do Imperador. Mais ainda o fato de as escolhas estarem sendo feitas violando regras, procedimentos, imbuídos de vício quanto à escolha unilateral de Bispos ou clérigos que apenas agradavam ao próprio gosto do governador. Ou seja, era clara a intervenção do poder temporal sobre o espiritual, e se torna nítida a tentativa da Igreja Católica de inverter a situação. Com esse ambiente instável e clima hostil entre os dois poderes, o poder temporal e o poder espiritual permitiram o surgimento de uma reforma, motivada pelo papa Gregório VII no ano de 1073, ano de sua ascensão como papa, que ficou conhecida como Reforma Gregoriana. É relevante salientar que neste período a indignação e descontentamento por parte dos senhores religiosos era grande. A perversidade e inúmeras profanações nas igrejas atingiram níveis em que os clérigos achavam inadmissíveis a existência desses atos. A separação entre temporal e espiritual era necessária pois, dentre as diversas insatisfações, a corrupção interna entre padres e reis assolavam a moralidade da igreja. Com essa rivalidade instaurada, a discussão acerca da autoridade das entidades repercutiu aos longos dos anos, onde ambas possuíam seus motivos e objetivos devidamente fundamentados. Fernandes (2006) afirma que Egídio Romano, teólogo pela Universidade de Paris, no ano de 1302, escreve o tratado De Eclesiastica Potestade defendia que os agentes do poder temporal (reis e imperadores) deveriam submeter-se aos Papas, agentes de um poder intrinsecamente superior, o poder espiritual, detentor, portanto da Plenitudo Potestatis. Onde essa visão é corroborada com o que Barros (2010) cita em seu artigo:
O Papa não pode ser julgado por ninguém; a Igreja Romana nunca errou e nunca errará até o final dos tempos; A Igreja Romana foi fundada apenas por Cristo; só o Papa pode depor e empossar bispos; só ele pode convocar assembléias eclesiásticas e autorizar a Lei Canônica; só ele pode revisar seus julgamentos; só ele pode usar a insígnia imperial; pode depor imperadores, pode absolver vassalos de seus deveres de obediência; todos os príncipes devem beijar seus pés. (SOUTHERN, 1970, p.102)
Assim, de acordo com o que fora exposto, é possível afirmar que a Igreja, continua sendo uma figura importante e relevante no decorrer dos séculos. Isso se corrobora pois, por
A insatisfação nessas questões contribuiu para que o terreno propício para a Reforma ganhasse forma. Mas ainda era cru a sua motivação. Faltava mais um elemento que, uma vez perturbado, ocasionaria um abalo significativo nas estruturas. Faltava entrar no mérito religioso da questão para que só assim a Reforma tivesse o peso e proporções que tivera. Sendo assim, em se tratando das críticas genuínas quanto à doutrinação e condutas religiosas, antes de entrar no reformador principal, Martinho Lutero, é importante salientar os seus pré reformadores, John Wycliff e Jan Huss, que já proferiam críticas à Igreja Católica anos antes. Duas figuras importantes no cenário das reformas que, se não fosse pelas suas lutas e ensinamentos, os quais influenciaram Martinho Lutero, não haveria esta convulsão religiosa. Segundo Silva (2020), o primeiro criticava o acúmulo de poder político e os desvios da Igreja dos verdadeiros ensinamentos de Jesus. O segundo tecia críticas parecidas contra o enriquecimento da Igreja e a venda de indulgências. Com essas duras críticas, inevitavelmente fizeram com que isso se tornasse a causa de suas mortes pela própria Igreja, uma vez que ela não tolerava tamanha heresia ser profanada de maneira alguma.
Consideram-se como precursores da Reforma Luterana os movimentos de Wycliffe (1324-1384), monge inglês que, após inúmeras restrições tanto às atitudes do clero como à doutrina da Igreja, rebelou-se contra sua autoridade, e o de Huss (1369-1415), religioso tcheco que, tentando dar continuidade às ideias de Wycliffe, foi executado como herege. (GOMES; LAGES, 2017)
Sendo assim, segundo Gomes e Lages (2017), a causa principal da Reforma Protestante foi a crise que abalava a Igreja Católica no início dos tempos modernos. A crise atingia também a doutrina, que era apresentada de modo complexo, obscuro, e de certa forma inacessível aos fiéis. Ou seja, existe um poder que está demasiadamente sendo exercido pela Igreja e isso revolta diversas peças importantes como a própria nobreza; além dos casos de corrupção como as vendas de indulgências que será melhor abordada mais à frente. Com isso em mente, o objetivo primordial de Martinho Lutero era reformar a igreja a partir de uma nova interpretação da Bíblia, uma interpretação mais humanista. Levava este nome humanista pois, a responsabilidade da salvação cabia unicamente ao homem, o que significou uma crítica direta às indulgências, a qual Lutero era veemente contra. (GOMES; LAGES, 2007) Primeiramente, Veloso (2008) discorre sobre o significado de Indulgência em seu sentido estrito:
De acordo com o Manual das Indulgências aprovado pela Santa Sé e publicado em 1990 pela CNBB (cf. Edições Paulinas, SP, 1990, pág. 15-19), “indulgência é a
remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, que o fiel, devidamente disposto e em certas e determinadas condições, alcança por meio da Igreja, a qual, como dispensadora da redenção, distribui e aplica, com autoridade, o tesouro das satisfações de Cristo e dos Santos. (cf. Indulgentiarum Doctrina, Norma 1)
Santos (2009) aponta o que consistia a venda de indulgências pela Igreja Romana na Alta Idade Média:
A venda de indulgências era prática corrente na Igreja Católica Romana e aceita como válida desde a Alta Idade Média. Consistia em o fiel dar à Igreja, por intermédio de um representante do clero, uma importância em dinheiro ou em bens, cumprir algum tipo de penitência ou de ritual, adquirindo através disso um documento que certificava que o fiel mereceria a redução do tempo que passaria no purgatório, podendo, ainda, adquirir tais indulgências para um parente ou amigo morto. (SANTOS, 2009, p. 54)
Dessa forma, representava o perdão no plano secular aos pecados cometidos pelos fiéis. Assim, a venda do perdão, naquele período, consequentemente significava a salvação dos homens. Ou seja, criticar este método de salvação possuía o mesmo peso que questionar a Instituição, praticando assim uma heresia. (MEDEIROS, 2017) Não somente isso, mas além da crítica às indulgências, outro evento que marcou a Reforma de Martinho foi a fixação das suas 95 teses na catedral de Wittenberg. As propostas de Lutero representavam um anseio, uma necessidade por um debate que almejasse reformular a doutrina que, na visão de Lutero, estava corrompida. Assim, esperava-se que ocorressem de fato essas reformas dentro da Igreja, pois, as indulgências e a crítica aos demais absurdos eram problemas que, na visão de Lutero, podiam ser consertadas caso fossem expostas à luz. Então é possível perceber que a própria instituição estava maculada e corrompida. Interessava a muitos a manutenção dessa força. Mas a recíproca também é verdadeira, visto que interessava a muitos a extinção dessa força que a Igreja exercia. Além das 95 teses apresentadas por Lutero o tornarem conhecido e controverso, houve eventos que contribuíram mais ainda para esse título. Isso está fundamentado pelo fato do monge escrever seus escritos e publicar as suas obras – ou tratados como podiam ser chamados. Santos (2009) afirma que o historiador Geoffrey Rudolph Elton assinala que em 1520, Lutero havia queimado os seus barcos com a publicação de três grandes tratados , todos com sua importância histórica: a Carta à Nobreza Cristã da Nação Alemã , Sobre o cativeiro babilônico da Igreja e por último Sobre a Liberdade Cristã. Nesses tratados, Lutero, respectivamente, destruiu os muros de papel erigidos pelos Romanistas em defesa de seus poderes usurpados, e no qual instou os alemães a reformar a Igreja através da convocação de um Concílio; ataca o papado por privar a cristandade da