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Neste artigo, o autor aborda a importância da psicologia da personalidade na formação de presbíteros. Ele discute o equilíbrio geral da personalidade, as diferenças entre formando e formador, e como reconhecer as competências e dificuldades únicas de cada formando. O autor utiliza a abordagem gestalt-terapêutica para compreender a personalidade humana.
Tipologia: Notas de aula
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Ênio Brito Pinto i Recentemente, o Vaticano, através da Congregação para a Educação Católica, editou um documento com orientações “para a utilização das competências psicológicas na admissão e na formação dos candidatos ao sacerdócio”, um texto que pretende orientar os psicólogos e os formadores sobre como, na visão de Roma, podem estabelecer cooperações entre eles no processo formativo para a vida religiosa católica. Nesse documento é citada a Exortação apostólica pós-sinodal Pastores dabo vobis , a qual traz recomendações no sentido de se notar que “a dimensão humana é o fundamento de toda a formação”; traz também a recomendação de que a formação do presbítero deve levar em conta “desde o equilíbrio geral da personalidade até a capacidade de carregar o peso das responsabilidades pastorais, desde o conhecimento profundo da alma humana até ao sentido da justiça e da lealdade.” Dentre muitas, penso que há, especialmente, duas maneiras através das quais o psicólogo pode colaborar com o formador: uma, com a presença constante do psicólogo junto aos formandos e ao formador, atuando, dentre outras possibilidades, como um elemento facilitador desse contato; outra, através do fornecimento para o formador de conhecimentos psicológicos que possam ajudá-lo em seu trabalho. Neste artigo vou me ater a essa segunda via, percorrendo especialmente uma das mais importantes áreas do saber psicológico, a psicologia da personalidade. Vou também, por praticidade e conservadorismo, me referir sempre ao formador, mas confiando em que o leitor ou a leitora saberá que escrevo pensando também nas formadoras e nas suas formandas. Todo o raciocínio que utilizo neste artigo vale tanto para homens quanto para mulheres. Vimos acima que o texto do vaticano fala do “equilíbrio geral da personalidade”, e isso imediatamente deve nos levar a algumas perguntas: o que é personalidade? Como a psicologia entende esse conceito? Como um formador pode se utilizar desse entendimento da (^1) Publicado em Espaços (São Paulo) , v. 1, p. 61-76, 2009
psicologia para exercer melhor sua função diante de seus formandos? Como o estudo da psicologia sobre a personalidade pode ajudar a convivência entre as pessoas nas casas religiosas? Essas são, basicamente, as questões às quais me dedicarei neste trabalho. Acredito que conhecimentos básicos sobre a personalidade humana, a personalidade do formando e a personalidade do formador, facilitam a aprendizagem, a formação e o crescimento na relação formativa e nas relações que se estabelecem entre o formador e seus formandos e entre os próprios formandos. Através do estudo da psicologia da personalidade veremos que um bom processo de formação precisa levar em conta algumas questões básicas: cada pessoa tem seu jeito próprio de ser e de aprender; cada época traz novas exigências educacionais; cada situação didática apresenta desafios renovados. Essas questões nos levarão àquilo que é o ponto mais importante desse artigo, a idéia de que não se deve tratar de modo igual os desiguais. Essa idéia, aprendi com um advogado, que me contou, numa conversa informal, que ela é a premissa norteadora de todos os processos jurídicos, pois se toda lei pudesse ser aplicada a todas as pessoas em todas as circunstâncias, não haveria a necessidade da existência do poder judiciário. Em outros termos, o poder judiciário é aquele que leva em conta as circunstâncias e outras características únicas de cada situação para verificar como a lei geral pode ser aplicada a cada caso. Essa premissa vale para cada relação humana e, é óbvio, vale também para o formador na relação pessoal com cada um de seus formandos: é papel do formador reconhecer em cada formando quais são os pontos de competência e os pontos de dificuldade, sempre pessoais e únicos, a fim de facilitar que o formando coloque à disposição da comunidade aquilo que tem de melhor e, ao mesmo tempo, para que o formando possa desenvolver, da melhor maneira possível, aquelas que são as suas melhores habilidades. Some-se a isso a facilitação, por parte do formador, do reconhecimento no formando, pelo formando, de suas dificuldades e dos pontos nos quais precisa se aprimorar ou aceitar como limites pessoais momentaneamente intransponíveis. É por isso que uma das primeiras lições que a psicologia da personalidade nos traz é a mesma que o direito já assimilou: não se deve tratar de modo igual os desiguais. Essa lição implica, primeiramente, na necessidade de reconhecer que diferentes pessoas reagem de maneira diferente ao mesmo estímulo, e até que a mesma pessoa pode reagir de maneira diferente ao mesmo estímulo, dependendo das circunstâncias, ou seja, aquilo que em um determinado momento é pedagogicamente estimulador para um formando, pode ser bloqueador para outro ou para o mesmo formando em um momento
humana, a ênfase que se dará a um ou outro aspecto dessa personalidade, vai depender da área de afiliação do teórico em psicologia. Nos dias de hoje, há, na psicologia, basicamente três grandes olhares sobre o ser humano, três grandes maneiras de se compreender a personalidade humana e, consequentemente, três grandes maneiras de se compreender o sofrimento e as potencialidades humanas: a psicanálise, o movimento comportamentalista e a psicologia fenomenológico-existencial-humanista, cada uma com suas diversas subdivisões. Essas subdivisões são amplamente conhecidas, mas não custa, aqui, explicitá-las para cada uma das grandes áreas do saber psicológico, a psicanálise, o comportamentalismo e a psicologia fenomenológico-existencial-humanista. Na psicanálise, hoje em dia há, grosso modo , três grandes correntes: a psicanálise clássica; a psicanálise lacaniana; a psicanálise winnicottiana; na psicologia comportamentalista, destacam-se a psicologia cognitivo- comportamental, a psicologia científica (bastante fundamentada na biologia), a PNL (Programação Neurolinguística), e o behaviorismo propriamente dito; na psicologia fenomenológico-existencial-humanista, destacam-se, dentre outras, como sub-áreas, a ACP (Abordagem Centrada na Pessoa, de Carl Rogers), a Psicologia Transpessoal (apoiada primariamente nas teorizações de Victor Frankl), o psicodrama, grande parte da análise junguiana, a análise existencial, e a Gestalt-terapia, esta última, a teoria a partir da qual desenvolvo as idéias deste artigo. Basicamente, o que fundamenta as diferenças entre as três grandes áreas na psicologia é a maneira como se compreende o ser humano. Assim, por exemplo, se para Freud o ser humano pode ser compreendido cartesianamente como funcionando de maneira semelhante a uma máquina e se para Skinner o ser humano é determinado pelo ambiente, para a psicologia fenomenológico-existencial-humanista o ser humano é compreendido como um ser relacional, livre e responsável. Se Freud e Skinner concebem o ser humano como hedonista e pouco confiável, a psicologia fenomenológico-existencial-humanista o concebe como potencialmente confiável e buscador de autorrealização. Ou seja, se nas duas primeiras grandes áreas da psicologia o ser humano é visto, primariamente, como necessitado de controle externo/social, na terceira força ele é compreendido como capaz de se desenvolver no seu melhor sentido, desde que lhe sejam asseguradas as condições ambientais para tanto. Como gestalt-terapeuta, ou seja, como um psicólogo apoiado na grande área da abordagem fenomenológico-existencial-humanista na compreensão do fenômeno personalidade humana, utilizo-me de algumas premissas que orientam essa qualidade de olhar para o ser humano em psicologia, ou seja, concebo o ser humano como, essencialmente,
compreensível a partir de algumas de suas características: a) é um todo, complexo e integrado em seu organismo, só podendo ser compreendido a partir da perspectiva que o considera de maneira total; b) é coexistente, pois a existência se constrói na coexistência; c) é um ser que busca sempre a auto-atualização, quer dizer, busca constante e inevitavelmente a atualização de seu potencial; d) é um ser intencional, quer dizer, atribui sentido a si e ao que vive, compondo uma unidade de mútua implicação entre subjetividade e mundo, de modo que não podemos compreender o ser humano a não ser em seu mundo; e) é um ser livre e responsável, no sentido existencial do termo responsabilidade, não necessariamente no sentido moral desse termo; f) é implicado e configurado pelo ambiente, mas não é determinado por esse ambiente; g) tem sua liberdade limitada, mas não impedida, por esse mesmo ambiente; h) é um ser em constante vir-a-ser, é sempre gerúndio; i) é um ser-para-a-morte. Ainda em consonância com a psicologia fenomenológico-existencial-humanista, entendo que o ser humano deve ser compreendido como se expressando de três modos: umwelt, o mundo biológico; mitwelt , o mundo dos relacionamentos com os outros; e eigenwelt , a maneira de se relacionar consigo mesmo. Esses três modos de expressão são interligados e concomitantes, inseparáveis e simultâneos. ( cf Pervin, 1978, p. 04) Embora as três grandes áreas da psicologia tenham diferenças, algumas delas profundas, há também semelhanças e aproximações. Assim é que, no estudo da personalidade humana, há algumas consonâncias que permitem delinear com maior precisão o terreno da psicologia da personalidade. Dizendo de outro modo: há fatores imprescindíveis para se estudar a personalidade humana, e eles independem da abordagem que se use em psicologia. É importante notar, no entanto, que, se esses fatores são comuns, a maneira de se os compreender é, muitas vezes, divergente, às vezes é complementar, às vezes é coincidente, às vezes é conflitante. De todo modo, qualquer que seja a abordagem em psicologia, a personalidade é compreendida como fundamentada principalmente em cinco critérios: 1) genética, ou seja, corpo; 2) crescimento e desenvolvimento, ou seja, mudanças no decorrer do tempo; 3) relações familiares, ou seja, hereditariedade e modo de apresentação do mundo; 4) cultura, geografia e época, ou seja, campo; e 5) classe social, ou seja, oportunidades. Isso quer dizer que, ao estudarmos a personalidade humana ou a personalidade de uma pessoa, devemos levar em conta os fatores genéticos, aquilo que lhe é dado corporalmente e que lhe é inescapável nesse sentido: somos seres corporais e sequer podemos conceber o ser humano a não ser em um corpo. Devemos levar em conta que a passagem pelo tempo traz mudanças, às vezes amadurecimentos, quer dizer, a personalidade é plástica e fluida e muda
uma pessoa atribui aos eventos (de comportamento) e os sentimentos (emocional) que acompanham esses eventos permanecem relativamente estáveis ao longo do tempo e proporcionam um senso individual de identidade. Personalidade é esse senso de identidade e o impacto que ele provoca nas outras pessoas. Para a APA (DSM-IV-TR, 2002, p. 771), a personalidade é constituída por “padrões persistentes de perceber, relacionar-se e pensar sobre o ambiente e sobre si mesmo.” Olhando atentamente para as quatro definições acima, logo ficam presentes aproximações entre elas, ainda que nem sempre explícitas: a idéia de que há na personalidade estabilidade, persistência, repetição. Há também mudança, plasticidade, alterações ao longo do tempo e a partir das experiências. Também se pode depreender que a personalidade é um sistema, ou seja, é um todo complexo e dinâmico. Um sistema que pode ser percebido e estudado principalmente através do comportamento. Esse sistema/personalidade tem, essencialmente, duas partes: estrutura e processo. Dizendo melhor ainda: esse sistema/personalidade se caracteriza por ser um complexo relacionamento entre estrutura e processo. A estrutura da personalidade é o que se repete. São os padrões reincidentes, ou, no dizer de Messick ( apud Pervin, 1978, p. 555), “são componentes da organização da personalidade relativamente estáveis, usados para explicar as semelhanças reincidentes e consistências do comportamento ao longo do tempo e através das situações.” É a estrutura que possibilita uma certa previsibilidade na vida de cada pessoa e que possibilita também o autoconhecimento. Em constante diálogo com a estrutura está o processo, o outro componente do sistema/personalidade. Processo é o que se inova e se renova, é o criativo, espontâneo, momentâneo e circunstancial. É o inesperado, o surpreendente. O processo traz a possibilidade da surpresa, da inovação, da aventura e pode provocar mudanças em aspectos da estrutura. Dando um exemplo bem simples: suponha que alguém diga que se conhece e que, por isso, não vai em determinada festa porque sabe que não gosta de estar em lugares onde há muita gente. Essa pessoa está falando de sua estrutura. Suponha, então, que um amigo convença essa pessoa a ir em uma festa na qual há muita gente. Uma vez na festa, a pessoa de quem falamos descobre-se gostando do ambiente e de tudo o que está acontecendo e, ao se dar conta de seu prazer, surpreende-se consigo mesma por isso. Agora ela está sob efeito do
processo, quer dizer, ela está diante de algo novo e inesperado, seu prazer com aquela situação. A partir de então, sua estrutura estará modificada, uma vez que ela nunca mais poderá dizer que não gosta de estar em lugares onde há muita gente, pois uma vez já gostou e teve consciência disso. Do diálogo entre estrutura e processo, a identidades dessa pessoa restou modificada. Estrutura e processo são igualmente importantes no sistema/personalidade e uma pessoa será, do ponto de vista psicológico, tão mais saudável quanto melhor for o diálogo entre esses dois fundamentos de sua personalidade. Esse diálogo permitirá que essa pessoa possa se modificar constantemente ao longo da existência, permanecendo sempre a mesma pessoa. Se pensarmos no famoso aforismo de Sócrates, o “conhece-te a ti mesmo”, veremos que, para ele, a estrutura é o ponto mais importante; se pensarmos na resposta do Zen a Sócrates, “não tu mesmo”, veremos que aí a ênfase está colocada no processo. Do ponto de vista da psicologia, somos estrutura e processo, sempre novos e potencialmente modificáveis, sempre os mesmos, embora sempre diferentes, ou seja, se o ideal é um bom padrão de autoconhecimento, igualmente ideal é que a pessoa não perca nunca a possibilidade de se surpreender consigo mesma. É importante salientar que esse surpreender-se consigo mesmo não diz respeito somente às boas surpresas, mas cabe também no que diz respeito a qualidades descobertas em si pela própria pessoa que podem ser consideradas desagradáveis ou mesmo desonrosas. Se o diálogo entre estrutura e processo não é fluido, isso pode se apresentar de diversas maneiras no jeito de ser da pessoa. Por exemplo, se a estrutura se impõe muito, se a estrutura se torna excessiva, a tendência é termos uma pessoa muito conservadora, com mais apegos, podendo mesmo chegar ao fanatismo, o extremo da falta de processo. Se a estrutura se cala nesse diálogo, se há estrutura de menos, o risco, dentre outros, é a pessoa não ter sonhos ou, se os tiver, não lutar por eles. Da mesma maneira, processo demais impede a confiabilidade, ao passo que processo de menos enrijece, cristaliza, não deixa espaço para a espontaneidade e para o saborear do novo. Nos momentos de aprendizagem, estrutura demais faz repetir sempre as mesmas velhas lições; processo demais impede o aprofundamento em qualquer tema. Quando o ser humano nasce, provavelmente ele é só processo, sua estrutura é apenas potencial; aos poucos, se constrói uma estrutura, a qual muda pouco ao longo de toda a vida, uma mudança que se dá de acordo com uma série de variáveis, especialmente a idade. Essa estrutura, criada ainda na mais tenra infância, servirá de fundamento para as posturas
Na história da humanidade são diversas as tentativas de se formar tipologias de personalidade, sendo que uma das mais antigas foi a desenvolvida por Cláudio Galeno, médico grego do século II a.C., o qual se baseou na classificação de Hipócrates sobre os quatro componentes do corpo humano, ar, água, terra e fogo. Para Galeno, a predominância de cada uma dessas substâncias no ser humano determinaria um tipo de personalidade. Tais tentativas de criação de uma tipologia de personalidade se justificam pelo fato de que uma tipologia eficaz pode se tornar num valioso instrumento relacional e pedagógico, na medida em que possibilita que, por exemplo, uma pessoa se torne mais tolerante com relação a outra por compreendê-la melhor. Conhecer como o outro é e como o outro tende a se comportar possibilita que se criem expectativas mais realistas com relação ao outro, muito mais fincadas na realidade que no desejo de que o outro seja como se gostaria que ele fosse. Em muitas palestras que já fiz com esse tema, especialmente para educadores e pais, percebi claramente olhos surpresos e alegres de pessoas que, de repente, elaboravam compreensões mais claras e profundas de filhos ou de educandos e, por isso, podiam dimensionar melhor as expectativas que tinham com relação a esse filho ou educando. Quando uma pessoa pode perceber com clareza que há maneiras diferentes de se reagir a estímulos semelhantes, é muito menos provável que ela julgue o outro, é muito mais provável que ela possa aceitar o outro e passar a viver a diferença apenas como diferença, não como desigualdade. Nesses casos, o respeito às diferentes capacidades e habilidades tende a crescer. Por exemplo, a partir de um melhor conhecimento acerca dos estilos (ou tipos) de personalidade, o formador pode lidar de maneira mais compreensiva com cada formando e com o grupo de formandos, possibilitando, inclusive, que entre os membros do grupo essa atitude de apreciação das diferenças renda bons frutos em termos de convivência, de tolerância, de admiração, em vez de inveja, desigualdade, disputas desgastantes por poder. O uso de uma tipologia eficaz ajuda o formador a se tornar mais humano em sua labuta e até consigo mesmo. O bom uso de uma tipologia aumenta as chances de que se ajude o outro como ele precisa ser ajudado, e não segundo padrões estereotipados e impessoais. Uma tipologia eficaz facilita compreender o formando, seu jeito de ser e sua experiência; facilita compreender como o formando se relaciona consigo mesmo, com os outros e com o meio; permite apressar a compreensão de suas virtudes, de suas faltas e de suas necessidades. Uma tipologia eficaz ilumina para o formador o caminho entre a percepção e compreensão da originalidade do formando e a percepção e compreensão do que ele tem de comum com outros seres humanos.
Uma tipologia, ao auxiliar um processo psicopedagógico, é uma redução, mas não pode ser um reducionismo, ou seja, deve-se ter o cuidado de não se imaginar que se pode compreender toda a pessoa apenas a partir dos critérios de uma tipologia. Todo instrumento, para ser útil, tem que ser usado criteriosamente. A tipologia visa principalmente orientar o formador sobre como se postar e como lidar com o formando, e não tem a finalidade de enquadrar o formando para lhe propor mudanças a partir de um esquema anterior e estreitamente delimitado. A tipologia ajuda a encontrar melhor a singularidade em meio ao genérico. Destaca melhor o que é único e destaca melhor o que há de ‘positivo’, de potencial a ser desenvolvido. Não pode se tornar uma massificação, antes pelo contrário. Qualquer que seja a tipologia, é importante lembrar que não existem tipos puros – uma tipologia consiste de elementos referenciais para uma compreensão do jeito de ser do outro. Como todo instrumento psicológico, também a tipologia não permite esgotar a compreensão do formando, o que obriga o formador a constantemente rever a percepção que tem do formando. Mais do que isso: a experiência do formando é sempre maior que qualquer avaliação que se possa fazer dele, quer dizer, ninguém tem como saber mais do que o outro está vivendo que o próprio vivente. Numa tipologia, o que se faz é uma teoria sobre o educando, ou seja, lança-se uma hipótese, um mapa, um “como se”. Esta condição ‘como se’ não deve nunca ser perdida de vista. É preciso que não se reduza a singularidade existencial e a história do formando a um rótulo. É preciso que o formador valorize em seu educando a pessoa singular que ele é, de modo a que possa alcançar a descrição e a compreensão de cada pessoa em sua singularidade. Com uma tipologia, no entanto, o formador chega a uma compreensão melhor da singularidade de seu educando por se não se prender apenas ao singular que ele é. Por fim, fica uma questão: se o uso de uma tipologia de personalidade é assim tão útil e importante, que tipologia usar? Essa é uma questão que deixo para o leitor, quem sabe para que ele possa conversar mais demoradamente com seu assessor em psicologia, quem sabe para que possamos voltar ao assunto em um outro artigo. Por ora, apenas lembro que, ao longo da história da medicina, da psiquiatria e da psicologia, tentaram-se desenvolver inúmeras tipologias, desde aquela de Cláudio Galeno até algumas que levam em conta traços tão díspares quanto o formato do crânio e a maneira de a pessoa se relacionar com o crime. Hoje já temos condições de estudar e de desenvolver critérios mais confiáveis e mais úteis na elaboração de tipologias.
HYCNER, Richard e JACOBS, Lynne. Relação e Cura em Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 1997 JOÃO PAULO II, Exortação apostólica pós-sinodal Pastores dabo vobis (25 de Março de
MÉZERVILLE, Gaston. Maturidade Sacerdotal e religiosa: Um enfoque integrado entre Psicologia e Magistério. Vol. I: A Formação para a Maturidade. São Paulo: Paulus, 2000 _________________ Maturidade Sacerdotal e religiosa: Um enfoque integrado entre Psicologia e Magistério. Vol. II: A Vivência da Maturidade. São Paulo: Paulus, 2000 MILLON, Theodore. Teorias da Psicopatologia e Personalidade. Rio de Janeiro: Interamericana, 1979 PERLS, Frederick S., HEFFERLINE, Ralph e GOODMAN, Paul. Gestalt-terapi a. São Paulo: Summus, 1997 PERVIN, Lawrence A. Personalidade: Teoria, avaliação e pesquisa. São Paulo: EPU, 1978 PINTO, Ênio Brito. Gestalt-terapia de Curta Duração para Clérigos Católicos: Elementos para a prática clínica. Tese de doutoramento, PUC/SP, Núcleo de Ciências da Religião: 2007 _________ Psicoterapia de Curta Duração na Abordagem Gestáltica: Elementos para a prática clínica. São Paulo: Summus, 2009 i (^) O Prof. Dr. Ênio Brito Pinto é psicólogo (CRP 06/14675) pela PUC/RJ (1979), psicopedagogo pela UNIP (1994), mestre (2002) e doutor (2007) em Ciências da Religião pela PUC/SP. Atualmente, além de ser psicoterapeuta (gestalt-terapeuta), é professor do Instituto de Gestalt de São Paulo e professor convidado do Instituto Sedes Sapientae e dos Cursos de Pós-graduação em Terapia e Educação Sexual do ISEXP e da Faculdade de Medicina do ABC; é também professor da FMU, no curso de Musicoterapia. Atua principalmente com os seguintes temas: psicoterapia, sexualidade, educação sexual e religião. Possui diversos artigos publicados nessas áreas, além dos seguintes livros: “Orientação Sexual na Escola: A importância da Psicopedagogia nessa nova realidade” (Editora Gente, 1999), “Sexualidade: Um bate-papo com o psicólogo” (Editora Paulinas, 2001, terceira edição em 2008), “Sexualidad: Una charla com el psicólogo” (Paulinas México, 2006), “Psicoterapia de Curta Duração na Abordagem Gestáltica: Elementos para a prática clínica” (Summus, 2009), “Os Padres em Psicoterapia: Uma abordagem gestáltica” (no prelo) e “Orientação Sexual na Escola e Religião – Reflexões” (no prelo); é co-autor de “As Bases Anatômicas e Funcionais do Exercício da Sexualidade” (Editora Iglu, 1997) e “Psicologia, Religiosidade e Fenomenologia” (Editora Átomo, 2004). Participa de grupo de pesquisa no Núcleo de Ciências da Religião da PUC/SP. E-mail: eniobrito@uol.com.br