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Eixo bimestral: POESIA NO BARROCO / TIRINHA E CHARGE ... Barroca, o poeta utiliza, principalmente, as figuras de linguagem antítese e paradoxo.
Tipologia: Provas
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1º ciclo do 2º bimestre da 1ª série Eixo bimestral: POESIA NO BARROCO / TIRINHA E CHARGE
Gerência de Produção Luiz Barboza Coordenação Acadêmica Gerson Rodrigues Coordenação de Equipe Andréia Castro
Conteudistas Gisele Heffner Maria de Fátima Costa
Edição On-Line Revista e Atualizada Rio de Janeiro
O texto gerador I é exemplar da produção lírica de um dos mais expressivos poetas barrocos, Gregório de Matos Guerra. Este poema representa sua vertente religiosa, apresentando traços herdados da fé medieval. A partir dele, serão trabalhadas uma questão de Uso da Língua e uma de Leitura.
A Jesus Cristo Nosso Senhor estando o poeta para morrer
Meu Deus, que estais pendente em um madeiro,
Em cuja fé protesto de viver;
Em cuja santa lei hei de morrer,
Amoroso, constante, firme e inteiro:
Neste transe, por ser o derradeiro,
Pois vejo a minha vida anoitecer,
É, meu Jesus, a hora de se ver
A brandura de um pai, manso, cordeiro
Mui grande é vosso amor, e o meu delito:
Porém, por ter fim todo o pecar;
Mas não o vosso amor, que é infinito.
Esta razão me obriga a confiar
Que por mais que pequei, neste conflito
Espero em vosso amor de me salvar.
Gregório de Matos
( C ) “Porém, por ter fim todo o pecar;
Mas não o vosso amor, que é infinito.”
( D ) “Esta razão me obriga a confiar
Que por mais que pequei, neste conflito”
Habilidade trabalhada: Identificar figuras de linguagem como antítese e paradoxo nos poemas barrocos.
Resposta Comentada:
O texto gerador I é um exemplo da poesia barroca de vertente religiosa. Essa vertente, por ser marcada pelas reflexões espirituais da fé cristã, apresenta uma oposição entre as questões que envolvem a Teologia, ou seja, morte/vida; pecado/salvação; céu/inferno; carne/espírito. Para que o aluno seja capaz de relacionar essa temática à estrutura textual típica do Barroco, pode-se, inicialmente, estimular o desenvolvimento das habilidades de Uso da Língua: (a) identificar antônimos e (b) identificar as figuras de linguagem antítese e paradoxo, de forma conjunta. Essa é a proposta da questão 1.
A. Levando em consideração somente a explicação contida no enunciado, o aluno pode identificar a alternativa correta, viver e morrer , letra B, pois essa é a única que apresenta dois vocábulos com significados opostos. Todavia, caso os alunos demonstrem dificuldade em reconhcê-la, pode-se destacar que, na letra A, há dois vocábulos que podem ser considerados sinônimos, manso/cordeiro. Já nas alternativas C e D, os pares apresentados não possuem nem uma relação de oposição nem uma relação de semelhança. Na letra C, a palavra firme teria como antônimo frouxo, e não inteiro. Na letra D, amor teria como antônimo a palavra ódio, e não delito.
A partir da análise dos pares, vale a pena debater com os alunos as diferentes re- lações semânticas entre as palavras. Nesse debate, pode-se ressaltar os diferentes matizes de significado das palavras, especialmente no que tange aos sinônimos.
Por fim, vale relembrar que esses matizes – que geram aproximações e afastamentos de sentido – são demasiadamente explorados nos textos literários, conforme se mostra na letra b desta questão.
B. Inicialmente, é interessante que se defina, para os alunos, antítese como uma figura de pensamento que contrapõe uma palavra ou frase à outra, de significação oposta1. Vale destacar que essa relação de oposição entre ideias pode ser estabelecida de forma assimétrica do ponto de vista sintático – entre uma expressão e uma palavra ou entre palavras de classes diferentes –, pois esse é o caso da antítese a ser identificada na questão.
A partir daí, pode-se analisar as alternativas A, B e D, que não apresentam contraposição de ideias. Pelo contrário, na letra A, observa-se a utilização de palavras que remetem ao mesmo âmbito de ideias, como “Deus” e “fé”, assinalando a religiosidade do eu lírico. Na letra B, pode-se, primeiramente, destacar a presença da metáfora “minha vida anoitecer ”, para, depois, ressaltar a congruência de palavras que sinalizam a ideia de aproximação da morte. Na letra D, pode-se demonstrar a utilização, ao fim dos versos, de “ conf iar” e “ conf lito”, palavras com sons parecidos, mas significados diferentes – nem opostos, nem semelhantes –, criando uma paranomásia.
Finalmente, pode-se apresentar a antítese presente na alternativa C, formada a partir da oposição de ideias entre a expressão ter fim , e a palavra infinito. O adjetivo infinito refere-se à característica de “não ter fim”; em oposição à ideia de “ter fim”. Neste ponto, é interessante discutir com a turma a relação entre as palavras antônimas e a antítese, demonstrada pela questão 1.
Também é essencial debater com a turma o contraste de ideias exposto por essa antítese: a infinitude do amor divino em relação à finitude do pecar humano. Depois, pode-se análisá-la dentro do contexto do poema, de modo a ilustrar a crise espiritual barroca, entre religião e razão; afinal, essa é a função da antítese – que ultrapassa a
Questão 2
O Cultismo é um traço do estilo Barroco caracterizado pelo extremo cuidado na elaboração da forma do texto. Os poemas cultistas apresentam muitas figuras de linguagem, como metáforas, antíteses e paradoxos, e ainda revelam uma escolha criteriosa de palavras para atingir uma expressão literária mais culta.
No texto gerador II, identifique o jogo de palavras utilizado para:
a) descrever o rosto da Maria.
b) descrever o balanço dos cabelos de Maria ao vento.
c) descrever os efeitos do tempo para a beleza juvenil.
Habilidade Trabalhada: Identificar o jogo de palavras do Cultismo por meio da utilização das figuras de linguagem.
Resposta comentada:
A questão solicita do aluno a observação de um traço marcante da literatura barroca: o Cultismo. Essa opção estilística, mais comum na poesia, reflete o excesso, a teatralização e os contrastes da estética barroca. É possível observar, nas artes plásticas, grande riqueza de detalhes, abundância das formas e oposição entre claro e escuro, assim como é notável na literatura uma rigorosa seleção vocabular e expressivo emprego de figuras de linguagem. Portanto, o Cultismo seria uma construção que busca atingir uma expressão literária mais rebuscada.
No poema em análise, observa-se uma descrição idealizada de Maria, cuja beleza é motivo para metáforas, antíteses e paradoxos. Cada estrofe se concentra em um tema.
aluno a relacionar a cor rosa com o período que antecede o nascer do sol. Embora seja uma observação correta, é importante destacar que o substantivo está grafado com inicial maiúscula, por referir-se à deusa do amanhecer, Aurora, da mitologia romana. Ainda no primeiro quarteto, o último verso focaliza os detalhes do olho e da boca, comparando-os, por meio de novas metáforas , ao Sol e ao dia, respectivamente. Novamente, a inicial maiúscula em Sol tem sugestão mitológica. Para os gregos, Hélios representava o deus do Sol, que avançava, diariamente, de leste a oeste com sua intensa luz.
Nos dois versos, as metáforas empregadas são sofisticadas e têm um forte apelo visual. Essa referência à antiguidade greco-latina consiste em mais uma característica barroca. Neste poema de Gregório de Matos, ela reforça o traço cultista ao contribuir para o rebuscamento pretendido. Vale ainda destacar que a própria seleção de duas divindades para enaltecer a beleza do rosto de Maria configuraria uma nova figura de linguagem, a hipérbole , explícita no superlativo do primeiro verso “Discreta, e formosíssima Maria”.
Outra construção que salta aos olhos é “gentil descortesia”, logo no primeiro verso desta estrofe. Trata-se de um contraste inconciliável, impossível e, por isso, classificado como paradoxo. Esses termos justapostos referem-se ao
O poema se encerra com a metáfora beleza/flor sofrendo os efeitos danosos e implacáveis do tempo. No último verso, o poeta se utiliza de novas metáforas para a morte e as dispõe numa ordem que potencializa a ideia de fim, através da figura de linguagem da gradação (“Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada”).
Como estratégia para a leitura do poema, você pode mostrar aos alunos algumas telas relativas aos deuses e aos mitos, além de uma imagem da flor anêmona. O recurso visual auxilia no esclarecimento das muitas referências presentes no texto e, ainda, enriquece a interpretação.
Questão 3
Leia os fragmentos a seguir:
“Período histórico entre a Antiguidade e a Época Moderna, a Idade Média (...) carac- terizou-se por um fracionamento da autoridade política e um enfraquecimento da noção de Estado, tendo em conta a organização e centralidade romanas. (...) Socialmente, existia uma divisão em três grupos distintos: dois poderosos, a nobreza, guerreira e proprietária, e o clero, dominador mental e culturalmente, e um pobre, servil e majoritariamente camponês, o povo. A Igreja (...) se assume como o “farol” da Idade Média, moldando mentalidades, difundindo cultura e impondo uma influência política determinante”.
[ Idade Média. In Infopédia (on line). Porto: Porto Editora, 2003-2012 (fragmento adaptado).[Quebra Suave]Disponível em http://www.infopedia.pt/$idade-media>. Acesso em: 02/04/2012.]
“À medida que a sociedade vai se liberando do amplo domínio da Igreja, a arte vai se voltando mais para a realidade, valorizando o homem e colocando-o como o centro ao redor do qual gira o mundo. Esse antropocentrismo, oposto ao teocentrismo medieval, caracteriza o Renascimento, identificado pela valorização da razão, pelo culto aos valores da Antiguidade Clássica e pelo humanismo”.
[CADERMATORI, Lígia. Períodos Literários. São Paulo: Ática, 1995, p.17.]
O período barroco representou artisticamente a tentativa de conciliar os valores religiosos herdados da Idade Média e os valores humanistas ligados ao Renascimento. A partir dos poemas de Gregório de Matos, destaque:
A. do texto gerador I, elementos característicos da religiosidade medieval, ou seja, ligados ao teocentrismo (Deus como centro do universo). B. do texto gerador II, elementos ligados ao Humanismo, ou seja, representantes do antropocentrismo (o homem como centro do universo).
Habilidade Trabalhada: Reconhecer a intertextualidade na referência à tradição medieval e humanista no Barroco.
Resposta comentada
As referências medievais e humanistas apresentam-se tencionadas na estética barroca. Vale destacar aos alunos que não se trata de mera exposição do quadro estático de diferenças entre os elementos espiritualizados de um lado e os valores terrenos de outro, mas da composição de uma cena de conciliação dramática e impossível. A questão, porém, solicita o reconhecimento dessas referências separadamente. Com efeito, observa-se a predominância de traços medievais no primeiro poema e de traços humanistas no segundo texto.
A. O aluno, possivelmente, destacará do primeiro poema as menções a Deus ou a Jesus Cristo, além das referências à fé, à santa lei, ao pecado e ao madeiro que, por metonímia, lembram o sacrifício de Jesus na cruz. A fim de complementar a análise, é válido comentar com os alunos o emprego dessas alusões por parte do poeta. Na primeira estrofe do soneto, observa-se um apelo ao amor divino por meio do reconhecimento do sacrifício da cruz. O eu-lírico ainda afirma a sua fé (“Em cuja fé protesto de viver;/Em cuja santa lei hei de morrer”). Na segunda estrofe, o eu-lírico admite ser aquela a sua última oração (“transe derradeiro”) e apela à misericórdia de um pai (“A brandura de um pai, manso, cordeiro”). Nos tercetos, o amor e o pecado são reconhecidos como grandes; porém, sendo eterno o amor divino e finito o pecado humano, o eu-lírico pode confiar que terá o seu perdão. Este poema admite a existência de uma vida espiritual, explicita a importância de Deus na vida do homem e lembra a submissão à vontade divina – tipicamente medieval. B. Certamente as referências ao Humanismo não parecerão tão claras aos alunos, em função da presença de elementos da cultura greco-romana. No entanto, é visível a ausência de citações religiosas. É importante destacar para os alunos
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar a cabana, e vinha,
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um frequentado olheiro,
Que a vida do vizinho, e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,
Para a levar à Praça, e ao Terreiro.
Muitos Mulatos desavergonhados,
Trazidos pelos pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia.
Estupendas usuras nos mercados,
Todos, os que não furtam, muito pobres,
E eis aqui a cidade da Bahia.
Questão 4
A fim de apresentar sua visão global da cidade da Bahia, Gregório descreve, em cada estrofe, determinado segmento da sociedade. Sintetize, a partir da leitura do texto, a crítica direcionada a cada um desses segmentos da sociedade baiana da época.
Habilidade Trabalhada: Relacionar os modos de organização da linguagem às escolhas do autor, à tradição literária e ao contexto.
Resposta comentada
A questão solicita que, a partir de um exemplar satírico, o aluno relacione o modo de organização da linguagem, neste caso o descritivo, com as denúncias e caricaturas desenvolvidas por Gregório de Matos. Neste soneto, a Bahia é descrita subjetivamente. Em cada estrofe do poema, é tecida uma crítica a determinado segmento da sociedade baiana.
Na primeira estrofe, Gregório critica o segmento dos governantes, classificando- o como pretensioso e incompetente, já que eles “não sabem governar sua cozinha, / E [acham que] podem governar o mundo inteiro”. Levando em consideração o contexto histórico da época, o poeta se refere, provavelmente, às autoridades coloniais.
Na segunda estrofe, o segmento alvo da crítica é o povo (ou a vizinhança), caracterizado como fofoqueiro, olheiro ou fútil, pois se ocupa demasiadamente com a vida dos vizinhos – “Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha”.
Na terceira estrofe, o segmento criticado é a sociedade como um todo, que, constituída pela nobreza e pelos mulatos (mestiços de branco e negro), é classificada como desavergonhada ou pícara. Com relação a este aspecto, vale ressaltar para os alunos que Gregório de Matos era extremamente crítico em relação à miscigenação, compreendendo a sociedade brasileira como confusa.
Na quarta estrofe, a crítica é direcionada à economia e à corrupção. Isso porque, além de caracterizar o preço das mercadorias ou os juros (usuras) como estupendos, exagerados, o poeta destaca a pobreza daqueles que não roubam, consolidando a existência de corrupção e desigualdades sociais na época descrita.
É interessante os alunos perceberem que o poeta não concordava com os costumes dos segmentos comentados por ele e que, do conjunto das descrições feitas em cada estrofe, pode-se recuperar o ponto de vista pessimista do poeta em relação ao contexto social da Bahia naquela época.
Habilidade trabalhada: Identificar na charge a relação entre o texto e o contexto político, histórico e social, analisando a ideologia subjacente no gênero.
Resposta comentada
É interessante discutir com o aluno a estreita relação temática e ideológica que a charge possui com a poesia satírica, uma vez que denuncia ao mesmo tempo em que faz rir. Porém, diferentemente da poesia, para satirizar, o chargista explora, além da linguagem verbal, a linguagem não verbal.
Sendo assim, pode-se solicitar aos alunos que, a partir de uma análise da linguagem não verbal, identifiquem o cenário ilustrado na charge. Os degraus irregulares e o casebre de madeira sugerem que o ambiente retratado é uma comunidade carente. Depois, seria interessante pedir que a turma compare o nível social de cada personagem. Para auxiliar os alunos a caracterizarem o nível social da personagem à esquerda, pode-se destacar a aparência mais magra, com roupas casuais, e o fato de a personagem estar sentada em frente ao “barraco”, como um morador, integrado ao espaço. Com relação à outra personagem, pode-se ressaltar a aparência mais opulenta, o uso de blusão e gravata e o fato de ele estar suando após subir as ladeiras da comunidade às quais não está acostumado – características de uma pessoa pertencente a uma classe econômica e social superior. Para finalizar a análise da charge, pode-se focalizar a linguagem verbal. O questionamento do morador permite que o aluno identifique o momento sociopolítico de que trata a charge: o período eleitoral.
Por fim, pode-se desafiar os alunos a identificarem a ideologia subjacente à charge. É importante levar o aluno a relacionar a situação ilustrada (a) à intenção do artista de levar o leitor a refletir sobre a escolha dos seus representantes políticos e (b) ao ceticismo do autor quanto a possíveis mudanças sociais ocasionadas por ações políticas. Dessa forma, o aluno poderá reconhecer não só a estrita relação que a charge tem com os acontecimentos político-sociais como também sua função de satirizar esses acontecimentos, transmitindo, assim, a ideologia do artista como cidadão.
O texto gerador V é o fragmento de um dos mais importantes sermões do padre António Vieira. Devido à qualidade de suas obras, esse padre é figura essencial da vertente conceptista na prosa barroca. O trecho do célebre Sermão da Sexagésima permitirá a abordagem de questões de Leitura e Uso da Língua.
[II] Nunca na Igreja de Deus houve tantas pregações, nem tantos pregadores como hoje. Pois se tanto se semeia a palavra de Deus, como é tão pouco o fruto? [...]
[IX] Sabeis, Cristãos, a causa por que se faz hoje tão pouco fruto com tantas pregações? – é porque as palavras dos pregadores são palavras, mas não são palavras de Deus. Falo do que ordinariamente se ouve. A palavra de Deus (como dizia) é tão poderosa e tão eficaz, que não só na boa terra faz fruto, mas até nas pedras e nos espinhos nasce. [...]
[X] A pregação que frutifica, a pregação que aproveita, não é aquela que dá gosto ao ouvinte, é aquela que lhe dá pena. [...] quando o ouvinte vai do sermão para casa confuso e atônito, então é a pregação qual convém, então se pode esperar que faça fruto. [...]
Semeadores do Evangelho, eis aqui o que devemos pretender nos nossos sermões: não que os homens saiam contentes de nós, senão que saiam muito descontentes de si; não que lhes pareçam bem os nossos conceitos, mas que lhes pareçam mal os seus costumes, as suas vidas, os seus passatempos, as suas ambições e, enfim, todos os seus pecados. Contanto que se descontentem de si, descontentem-se embora de nós. Si hominibus placerem, Christus servus non essem – dizia o maior de todos os pregadores, S. Paulo: ´Se eu contentara aos homens, não seria servo de Deus’. Oh, contentemos a Deus, e acabemos de não fazer caso dos homens!
VIEIRA, padre Antônio Vieira. Sermões. Rio de Janeiro: Agir, 1968. (Fragmento adaptado).
para o Padre Vieira, as palavras de Deus pregadas no sentido que Deus as disse, essas sim são palavras de Deus; mas pregadas no sentido que os pregadores querem ou utilizam, “não são palavras de Deus”. Em outras palavras, os pregadores devem tomar as palavras da Escritura em seu verdadeiro sentido, como Cristo as pregou, semeou. Pode-se ainda comentar que, de acordo com a tese do Padre Vieira, os pregadores andavam tomando as palavras da Escritura em sentido alheio e torcido, de acordo com as conveniências humanas. Porém, se as palavras de Deus fossem semeadas em seu verdadeiro sentido, elas frutificariam.
B. No sermão, o aluno deve reconhecer que, para defender a tese de que os pregadores apenas usam as palavras, mas não as palavras de Deus, Vieira utiliza como argumento a força e a eficácia da própria palavra de Deus: “A palavra de Deus (como dizia) é tão poderosa e tão e f icaz, que não só na boa terra faz fruto, mas até nas pedras e nos espinhos nasce”. Assim, ele justifica o fato de a palavra de Deus – e somente ela – frutificar até em lugares impossíveis, diferentemente das palavras dos homens, que, por mais que sejam semeadas, não frutificam. Por fim, vale destacar para os alunos que, nos sermões, os argumentos são fundamentais para convencer e persuadir os fiéis. No Sermão da Sexagésima, o argumento em questão corrobora a tese de que a perda de fiéis da Igreja se deve à incompetência de alguns pregadores, mas não de Deus. Assim, exalta-se a força de Deus e de suas palavras.
C. O Sermão da Sexagésima , proferido na Capela Real a um público composto por católicos da nobreza portuguesa em 1655, propõe-se a discutir “por que não frutifica a palavra de Deus na terra”. Nessa discussão, o Padre António Vieira examina e refuta diversas hipóteses antes de defender sua tese. Predomina, portanto, o modo de organização argumentativo.
Para que os alunos sejam capazes de reconhecer as razões para o padre ter escolhido utilizar-se desse tipo de organização do discurso, é importante levá-los a identificar o objetivo de um sermão. Para tanto, vale destacar que o sermão é um
discurso religioso, pregado no púlpito (tribuna), para um auditório repleto de fiéis dispostos a ouvir as ideias do sacerdote. Seu objetivo é convencer – levar à aceitação de uma ideia – e persuadir – induzir a uma ação ou decisão – seu público ouvinte acerca de determinado tema. É interessante esclarecer que, à convicção, basta o entendimento; mas, à persuasão, é necessária a emoção.
Para que reconheçam, no Sermão da Sexagésima , do que o padre pretendia convencer e persuadir seu público, é interessante relembrar o contexto religioso turbulento vivido, tanto no Brasil quanto na Europa, no período do Barroco. A Igreja Católica sofreu uma grande perda de fiéis devido à Reforma de Lutero. Daí, pode-se constatar o objetivo do Sermão da Sexagésima3 , com função metalinguística, de (i) justificar o fato de a palavra de Deus dar tão pouco fruto, que se relaciona à decadência da Igreja Católica, e (ii) persuadir os ouvintes a se aterem à palavra de Deus, às escrituras sagradas, em suas pregações, na tentativa de restaurar a posição da Igreja Católica.
A partir dessa análise, pode-se demonstrar que, Vieira precisava, primeiro, convencer o leitor da verdade da proposição em análise. Assim, tornava-se possível levar o ouvinte a implicar-se no texto, através da criação de uma cumplicidade entre orador e ouvinte, de modo que este se torne predisposto a aceitar os pontos de vista apresentados. Para isso, ele se utilizou de toda a sua técnica argumentativa, ao longo de dez capítulos.
Questão 7
O Conceptismo é um traço do estilo Barroco caracterizado pelo privilégio da expressão do raciocínio, por meio do jogo de ideias e de recursos argumentativos. Ao fim da pregação do texto gerador V, o padre Vieira fez uso de um recurso