

















Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Prepare-se para as provas
Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Prepare-se para as provas com trabalhos de outros alunos como você, aqui na Docsity
Os melhores documentos à venda: Trabalhos de alunos formados
Prepare-se com as videoaulas e exercícios resolvidos criados a partir da grade da sua Universidade
Responda perguntas de provas passadas e avalie sua preparação.
Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Comunidade
Peça ajuda à comunidade e tire suas dúvidas relacionadas ao estudo
Descubra as melhores universidades em seu país de acordo com os usuários da Docsity
Guias grátis
Baixe gratuitamente nossos guias de estudo, métodos para diminuir a ansiedade, dicas de TCC preparadas pelos professores da Docsity
Neste texto, guimarães rosa descreve o sertão mineiro como um lugar amplo, isolado e injusto, utilizando neologismos e expressões regionais. O autor, através da personagem riobaldo, fala sobre a vida dos jagunços, coronéis e gado do sertão. A linguagem regional é recriada, com termos próprios de uma determinada região, como 'lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador'. A linguagem expressa a simplicidade sertaneja, com palavras e expressões como 'machozinho' e 'biquinquim'.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de aula
1 / 25
Esta página não é visível na pré-visualização
Não perca as partes importantes!
1º ciclo do 2º bimestre da 3ª série
Gerência de Produção Luiz Barboza
Coordenação Acadêmica Gerson Rodrigues
Coordenação de Equipe Bárbara Fadul
Conteudistas Marli Pereira
Edição On-Line Revista e Atualizada Rio de Janeiro
A produção literária das décadas de 40 e 50 não chegou a constituir um movimento uniforme e bem delimitado. No entanto, apesar dessa ausência de um projeto coeso, duas características se ressaltam nessa literatura, também chamada pós-moderna: o gosto pela investigação do mundo e da alma humana e a reflexão a respeito da linguagem.
O texto a seguir é um fragmento de Grande sertão: veredas , do escritor mineiro João Guimarães Rosa. A obra, com mais de 600 páginas sem divisão em capítulos,funde o experimentalismo linguístico da primeira fase modernista à temática regionalista da segunda fase do movimento. No romance, o ex-jagunço Riobaldo narra sua vida a um homem da cidade (que não se manifesta diretamente), rememorando suas aventuras dos tempos de cangaço, expondo dúvidas existenciais e buscando um sentido para o que viveu.Por amor a um companheiro de armas, Reinaldo, apelidado de Diadorim, Riobaldo se tornou jagunço e pactário do demônio, empenhando-se na vingança do grande chefe Joca Ramiro (pai de Diadorim), morto à traição por Hermógenes e seu bando. Grande sertão: veredas é uma das mais importantes obras da literatura brasileira.
Grande sertão: veredas
O senhor tolere, isto é o sertão. [...] Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade. O Urucúia vem dos montões oestes. Mas, hoje, na beira dele, tudo há – fazendões de fazendas, almargem de vargens de bom render, as vazantes; culturas que vão de mata em mata, madeiras de grossura, até ainda virgens dessas lá há. O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda parte.
Do demo? Não gloso. Senhor pergunte aos moradores. Em falso receio, desfalam no nome dele – dizem só: o Que-Diga. Vote! Não... Quem muito se evita, se convive. [...]
Por meio de sua personagem Riobaldo, Guimarães Rosa fala do sertão mineiro, território de jagunços, coronéis, de gado. “O sertão é o mundo” que pode ser registrado, manipulado e transformado: é um mundo mítico, ativo e interativo. Assim, conhecer o sertão é também conhecer o próprio ser humano que ali vive. Ao descrever o sertão para seu ouvinte, o narrador Riobaldo revela que concebe o lugar como...
(A) seco, habitado e justo.
(B) amplo, isolado e injusto.
(C) abastado, inóspito e anárquico.
(D) desértico, despovoado e justo.
(E) frondoso, desabitado e anárquico.
Habilidade trabalhada: Analisar os recursos expressivos usados pelos autores para veiculação de ideologias/estereótipos.
Resposta comentada:
No primeiro parágrafo, podemos depreender as características que qualificam o sertão rosiano. O sertão é um lugar amplo , vasto “onde os pastos carecem de fechos” (os pastos são tão grandes que não têm cerca); é ainda um lugar isolado “onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador” (há poucas residências, poucos moradores) e um lugar sem lei , injusto “ e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade” (o criminoso vive em paz, porque não há a presença de autoridade que possa aplicar-lhe a lei). Assim, a alternativa que melhor qualifica o sertão
é a letra (b). A alternativa (a) não é adequada, porque apresenta adjetivos opostos “habitado e justo” ao que está colocado no texto. Também a letra (d) é invalidada por apresentar os adjetivos “justo” e “despovoado”, embora o lugar seja pouco habitado, não se pode afirmar que seja “despovoado”, sem pessoas. A letra (c) não está correta por causa do adjetivo “abastado”, que está ligado a uma noção de fartura não mencionada no texto e “inóspito”, que significa lugar inabitável, que não oferece condições de vida favoráveis. O texto mostra que o local apresenta elementos favoráveis à habitação, tem água em abundância, porque o rio Gerais “corre em volta. Esses gerais são sem tamanho.”, há fazendas, muitas madeiras etc. Por fim, a letra (e) é invalidada devido ao adjetivo “desabitado”, como se pode constatar, o lugar é pouco habitado e não desabitado.
A imensa capacidade de criação linguística constitui a face mais aparente de toda a obra de Guimarães Rosa. Um dos recursos bastante utilizado por Rosa é o neologismo, ou seja, a arte de inventar palavras. No 2º parágrafo, foi criado o termo desfalam para apresentar a forma como os moradores se referiam ao demônio.
a) O que esse neologismo revela sobre o sentimento dos moradores diante do ser diabólico?
b) O narrador demonstra certeza ou incerteza diante da existência do diabo? Justifique com fragmentos do parágrafo.
Habilidades trabalhadas: Reconhecer os neologismos como recurso expressivo presente nos textos propostos e Analisar os recursos expressivos usados pelos autores para veiculação de ideologias/estereótipos.
O texto de Guimarães Rosa mostra uma forma peculiar de escrita, ao recriar a fala regional no vocabulário, na sintaxe e na melodia da frase. Um exemplo de palavra ou expressão regional pode ser encontrado em:
(A) “Esses gerais são sem tamanho”
(B) “Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador;".
(C) “Mas, hoje, na beira dele, tudo há.”.
(D) “o diabo regula seu estado preto, nas criaturas, nas mulheres, nos homens.”.
(E) “Se tem alma, e tem, ela é de Deus estabelecida, nem que a pessoa queira ou não queira.”.
Habilidade trabalhada: Analisar os recursos expressivos usados pelos autores para veiculação de ideologias/estereótipos.
Resposta comentada:
Guimarães Rosa, além de subverter o léxico, com a criação de palavras, como “opiniães”, “afoitez”, procura expressar a fala do sertão mineiro, ou seja, usa termos próprios de uma determinada região, a chamada variação lexical. Não se pode apontar um termo característico de uma região nas alternativas (a), (c), (d) e (e). No entanto, na alternativa (b), observa-se a ocorrência de uma expressão mais regional, a locução verbal "pode torar" cujo significado, depreendido a partir do contexto, é "pode percorrer". Essa acepção do verbo "torar" é mais usual nas áreas rurais, como é o caso do sertão, não
sendo muito típica dos grandes centros urbanos e de sua periferia, portanto, a alternativa (b) é a mais adequada para responder à questão proposta.
O ouvinte com quem Riobaldo dialoga não se manifesta diretamente na história. Contudo, apesar de não ter nenhuma fala, é possível caracterizá-lo por intermédio dos comentários feitos pelo narrador.
a) Que características do interlocutor de Riobaldo são possíveis recuperar? Destaque os fragmentos nos textos.
b) No último parágrafo, que opinião de Riobaldo sobre os moradores do sertão é possível recuperar? Comprove com trechos do parágrafo.
Habilidades trabalhadas: Analisar os recursos expressivos usados pelos autores para veiculação de ideologias/estereótipos e Reconhecer marcas linguísticas que remetem a informações implícitas, pressupostos e subentendidos.
Resposta comentada:
Em (a), espera-se que os alunos percebam que, por meio do emprego de adjetivos atribuídos ao interlocutor, pode-se recuperar a figura de um interlocutor idôneo, instruído, cuja opinião deve ser sempre levada em consideração. Passagens como estas podem comprovar tal afirmativa:
Grande sertão: veredas
Até aquela ocasião, eu nunca tinha ouvido dizer de se parar apreciando, por prazer de enfeite, a vida mera deles pássaros, em seu começar e descomeçar dos voos e pousação. Aquilo era para se pegar a espingarda e caçar. Mas o Reinaldo gostava: “É formoso próprio...” – ele me ensinou. Do outro lado, tinha vargem e lagoas. P’ra e p’ra, os bandos de patos se cruzavam. –“Vigia como são esses...” Eu olhava e me sossegava mais. O sol dava dentro do rio, as ilhas estando claras. – “É aquele lá: lindo!” Era o manuelzinho-da-croa, sempre em casal, indo por cima da areia lisa, eles altas perninhas vermelhas, esteiadas muito atrás traseiras, desempinadinhos, peitudos, escrupulosos catando suas coisinhas para comer alimentação. Machozinho e fêmea – às vezes davam beijos de biquinquim – a galinholagem deles. – “É preciso olhar para esses com um todo carinho...” – o Reinaldo disse. Era. Mas o dito, assim, botava surpresa. E a macieza da voz, o bem-querer sem propósito, o caprichado ser – e tudo num homem-d’armas, brabo bem jagunço – eu não entendia! Dum outro, que eu ouvisse, eu pensava: frouxo, está aqui um que empulha e não culha. Mas, do Reinaldo, não. O que houve, foi um contente meu maior, de escutar aquelas palavras. Achando que eu podia gostar mais dele. Sempre me lembro. De todos, o pássaro mais bonito gentil que existe é mesmo o manuelzinho-da- croa. [...]
Estou contando ao senhor, que carece de um explicado. Pensar mal é fácil, porque esta vida é embrejada. A gente vive, eu acho, é mesmo para se desiludir e desmisturar. A senvergonhicereina, tão leve e leve pertencidamente, que por primeiro não se crê no sincero sem maldade. Está certo, sei. Mas ponho minha fiança: homem muito homem que fui, e homem por mulheres! – nunca tive inclinação pra aos vícios desencontrados. Repilo o que, o sem preceito. Então – o senhor me perguntará – o que era aquilo? Ah, lei ladra, o poder da vida. Direitinho declaro o que, durante todo o tempo, sempre mais, às vezes menos, comigo se passou. Aquela mandante amizade. Eu não pensava em adiação nenhuma, de pior propósito. Mas eu gostava dele, dia mais dia, mais gostava. Diga o senhor: como um feitiço! Isso. Feito coisa feita. Era ele estar perto de mim, e nada me faltava. Era ele fechar a cara e estar tristonho, e eu perdia meu sossego. Era ele estar por longe, e eu só nele pensava. E eu mesmo não o entendia então o que aquilo era? Sei que sim. Mas não. E eu mesmo entender não queria. Acho que. Aquela meiguice, desigual que ele sabia esconder o mais de sempre. E em mim a vontade de chegar todo próximo, quase uma ânsia de sentir o cheiro do corpo dele, dos braços, que às vezes adivinhei insensatamente – tentação dessa eu espairecia, aí rijo comigo renegava. Muitos momentos.
(ROSA, João Guimarães. Grande sertão : veredas. 19 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, pp. 159-163.)
O trecho acima faz parte do episódio da Guararavacã, lugar em que Riobaldo toma consciência da natureza de seus sentimentos em relação a Diadorim. Percebe-se que a narrativa explode em imagens poéticas, repletas de doçura e ligadas à natureza, adormecidas até então, como haviam permanecido as emoções do ex-jagunço. A linguagem acompanha esse movimento, capta-se a magia da simplicidade sertaneja, como por exemplo, no uso do sufixo de diminutivo com valor expressivo.
Observe a frase abaixo para responder às questões:
“ Machozinho e fêmea – às vezes davam beijos de biquinquim – galinholagem deles”.
No trecho acima, temos a palavra macho , acrescida do sufixo de diminutivo – (z)inho , e o neologismo biquinquim , que apresenta uma forma mais popular de diminutivo terminada em –im , própria da oralidade. Considerando o contexto em que as palavras machozinho e biquinquim , respectivamente, se inserem, identifique a alternativa que apresenta, de forma mais adequada, os valores semânticos expressos pela forma diminutiva.
(A) ironia e onomatopeia.
(B) agressividade e redução de tamanho.
(C) afetividade e reciprocidade.
(D) redução de tamanho e repetição.
(E) afetividade e redução de tamanho.
“machozinho” não está se referindo diretamente ao tamanho do pássaro e, na palavra, “biquinquim”, o uso duplicado da forma de diminutivo não está indicando a mera repetição da palavra “bico”, mas, sim, um ato recíproco. E, finalmente, a letra (e) não é verdadeira apenas pelo segundo elemento “grau de tamanho” que, como já foi visto, não é o valor mais saliente para o sufixo diminutivo, usado na palavra “biquinquim”.
Observe o fragmento abaixo:
De todos, o pássaro mais bonito gentil que existe é mesmo o manuelzinho-da-croa. [...]
O termo em destaque permite recuperar uma informação. Assinale a alternativa que apresente, adequadamente, essa informação.
(A) Riobaldo não entendia tanta bravura e, ao mesmo tempo, sensibilidade de Reinaldo.
(B) Riobaldo discordava da admiração de Reinaldo por determinado pássaro.
(C) Reinaldo considerava um determinado pássaro o mais belo de todos.
(D)Reinaldo despertava sentimentos contraditórios em Riobaldo.
(E) Riobaldo gostava cada vez mais de Reinaldo.
Habilidade trabalhada: Reconhecer marcas linguísticas que remetem a informações implícitas, pressupostos e subentendidos.
Resposta comentada:
A palavra em destaque não só revela a concepção de Reinaldo sobre o “manuelzinho-da-croa” ser o mais belo dos pássaros como também possibilita recuperar que o narrador Riobaldo concorda com tal concepção, o que invalida a opção (b) e torna verdadeira a alternativa (c). As opções (a), (d) e (e) fazem menção ao sentimento que Riobaldo descobre manter por Reinaldo, o que está presente no texto, mas não no fragmento em destaque.
Riobaldo é um narrador-personagem que conta a própria vida. As dificuldades do viver e do narrar tornam o texto ambíguo e complexo, alternando o foco narrativo na apresentação das informações. Para isso, o narrador pode optar por transcrever, literalmente, a fala do personagem, configurando o chamado discurso direto , ou, o narrador se utiliza de palavras suas para reproduzir aquilo que foi dito pela personagem, utilizando, assim, o discurso indireto. Retire um trecho em que foi utilizado o discurso direto. Em seguida, reescreva o fragmento, utilizando o discurso indireto.
Habilidade trabalhada: Distinguir os tipos de discurso (direto, indireto e indireto livre) presentes nos gêneros estudados.
Resposta comentada :
Esta atividade visa a chamar a atenção dos alunos para os diferentes tipos de discurso utilizados na narrativa e, ainda, para as motivações que levam à escolha de um em detrimento do outro. No texto, as falas de Reinaldo aparecem em discurso direto, pois se concede a ele (a) o direito de fala. Os alunos podem selecionar trechos como “É
O tênis na parede^1
Nonada, mermão. Tá faltando um Guimarães Rosa, sei lá, um cara que entenda as palavras pelo avesso, que olhe na bolinha dos olhos dessa fulerage traficante e chape o coco dos livros. Dê arte à falta de sentido do que anda sendo dito, tá ligado? Vou repetir. Depois das balas perdidas, eis que nos atacam o tiroteio das palavras perdidas. Os bandidos não só estão soltos como soltaram o verbo, uma espécie de cão de guarda de seus maléficos propósitos. Não falam. Desfalam.
Ouço essas gravações clandestinas que a polícia fez do traficante Vado com o simpatizante Belo e, apesar do áudio zerinho, me matusquelo. Não se entende nonada. Tá todo mundo querendo malocar, esconder alguma coisa, e como a polícia já descobriu todos os esconderijos, estão escondendo o bagulho embaixo das palavras. Não quer dizer nada, e tudo quer dizer que o vagabundo tá guardando o sentimento embaixo da sola do pé, como diz o pessoal dos Racionais – e semântica embaixo da língua, como completo eu daqui. Olha na bolinha dos meus óculos e vê se tu vê algum otário?
[...]
“Quero tênis pra deixar estampado na parede”, umas das encomendas do pagodeiro Belo ao trafica Vado, quer dizer que ele precisa de um AR-15 para zoar brabo, sacou? Se minha pátria é minha língua, como diz o outro, tá lá o corpo estendido no chão. Mas sem moralismo vacilão, sem essa de dedo de seta, dedo nervoso. Não entrego ninguém. [...] “O bagulho tá brabo, neguinho, já sangrou”, disse um tal de Jota, traficante, numa dessas gravações da polícia, e isso evidentemente não faz nenhum sentido hoje – mas vai fazer. Fica frio. Fica na fé.
A língua é assim.Vai na frente, vai primeiro. Abre alas e depois mete bala. [...] As palavras vão sendo comidas pela preguiça moderna da fala – ninguém é mais 171, mas apenas 71, notou?,o que vem dar numa nova palavra. Morre-se de fome nas bocadas do Rio, mas desde Sardinha há muito português a se comer.
A promiscuidade carioca, de bandidos falando o malandrês com legenda, para melhor ser entendido no jornal das oito, está dando um banho de língua no papo da
(^1) A crônica foi publicada parcialmente. Acesse, na íntegra, em https://docs.google.com/presentation/d/1ykWe9vLkJoeZNyb93JgZD3- Uznvo99OhoYZo7aWgsT8/pub?start=false&loop=false&delayms=3000.
cidade. [...] De tanto ouvir o DJ parece que esses jovens, do viés do bem ou da sianinha do mal, andam remixando o discurso, e como o chefe no toca-disco, misturam uma palavra com a outra às vezes apenas pela beleza do reencontro. Estão trezoitando a gramática, mas isso não mata. Lula, de Armani, e Serra, de João Valentão, confundem mais.
O tiroteio do palavrório ricocheteando doidaço, sem sentido de prima, até que é rico e divertido. O câmbio dos economistas pode ser frágil, a língua não. É dura. É dura e mole. É mole e dura. Adapta-se, camaleão, cachorra gostosa que é. Morou?
(SANTOS. Joaquim Ferreira dos. O que as mulheres procuram na bolsa : crônicas. Rio de Janeiro: Record, 2003.)
Como falantes do português, percebemos que há situações em que a língua se apresenta sob formas diversas daquela que nos habituamos a ouvir nos principais meios de comunicação. A crônica de Joaquim Ferreira dos Santos nos permite refletir sobre esse uso diversificado da linguagem. Pela leitura da crônica, analise as afirmações abaixo acerca do processo de criação do texto: I. O narrador constrói seu texto usando a variabilidade que ele mesmo critica, estabelecendo uma relação com o próprio objeto de discussão, a linguagem. II. Para exemplificar a “preguiça moderna da fala”, o narrador usa, no próprio fio do seu discurso, as expressões “tá ligado?”e “vacilão”. III. A afirmação do cronista de que não se entende nada do que é falado na “fita” não faz sentido, afinal a linguagem empregada apresenta uma variabilidade próxima daquela usada pelo narrador.
alguns segmentos da sociedade carioca (“tá ligado?”, “vacilão”) o que invalida essa afirmativa. Assim, a alternativa adequada é a letra (d).
ATIVIDADE DE LEITURA
QUESTÃO 9
O texto, embora escrito, apresenta traços de oralidade e gírias criadas por um determinado grupo social. Ao mesmo tempo em que contribui para definir essa identidade, a gíria funciona como um meio de exclusão dos indivíduos externos a esses grupos, pois costuma resultar em uma linguagem incompreensível. Esse fato leva o cronista a comentar a dificuldade de entendimento da linguagem empregada nas fitas. Com isso, ele recorre a escritores como Guimarães Rosa, em referências claras a “nonada” e “desfalam”, usando sua forma de escritura e/ou seu vocabulário peculiar. Esse tipo de estratégia foi utilizado com o seguinte objetivo:
(A) criticar o emprego inadequado da linguagem usada na fita. (B) ironizar o nível do uso do português entre a classe artística. (C) evidenciar a importância da língua portuguesa para a comunicação de massa. (D) apontar a deficiência do ensino público ao tratar de questões acerca do idioma. (E) valorizar um autor que tinha como uma de suas marcas o esmero do trabalho com a palavra.
Habilidade trabalhada : Relacionar as características dos editoriais e crônicas jornalísticas às produções literárias contemporâneas.
Resposta comentada:
O emprego daquela modalidade linguística entre os interlocutores não seria inadequado, uma vez que fazem parte de um mesmo grupo social, logo a opção (a) não estaria correta. Em momento algum, faz-se alusão à classe artística na figura de Belo, logo (b) não está correta. A imagem de comunicação bem como a questão do ensino público não estão em jogo na crônica, o que faz incorretas as opções (c) e (d). A opção (e) está correta, porque se valoriza um integrante da Geração de 45, marcada por seu trabalho com a palavra, revalorizando a forma que fora alvo de crítica e subversão na primeira fase modernista.
No texto, observamos que o cronista tenta manipular um código. Para a construção de sentido de sua mensagem, ele mistura expressões utilizadas no universo marginal com traços de literariedade. O jogo literário no texto se faz presente, também, com a presença constante da ironia. O emprego de tal recurso pode ser verificado em:
(A) “Tá faltando um Guimarães Rosa, sei lá, um cara que entenda as palavras pelo avesso”. (B) “É preciso corujar a cachanga, garante Paulo Lins, no Cidade de Deus”. (C) “Os costumes andam corroídos, como diz o doutor juiz”. (D) “mas desde Sardinha há muito português a se comer.” (E) “O tiroteio do palavrório ricocheteando doidaço, sem sentido de prima, até que é rico e divertido”.