Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Desenvolvimento e Evolução dos Guias Alimentares para Crianças: De 1916 aos Dias Atuais, Notas de aula de Nutrição

A partir de 1916, os guias alimentares foram desenvolvidos para traduzir recomendações de uma dieta saudável para a população. No entanto, somente em 1999, o departamento de agricultura dos eua criou um guia alimentar específico para crianças. Este documento explora a história dos guias alimentares para crianças, desde a primeira publicação até a atualidade, incluindo as adaptações feitas em diferentes países e as mudanças nos recomendações dietéticas.

O que você vai aprender

  • Quando foi publicado o primeiro guia alimentar para crianças?
  • Qual país desenvolveu o primeiro guia alimentar específico para crianças?
  • Quais foram as mudanças mais significativas nos guias alimentares para crianças ao longo da história?

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Michelle87
Michelle87 🇧🇷

4.7

(23)

224 documentos

1 / 9

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
GUIA ALIMENTAR PARA CRIANÇAS | 255
Rev. Nutr., Campinas, 19(2):255-263, mar./abr., 2006 Revista de Nutrição
1Mestranda em Nutrição, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2Fundação Ataulpho de Paiva. Rio de Janeiro. RJ, Brasil.
3Instituto de Nutrição Josué de Castro, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro,
RJ, Brasil.
4Departamento de Nutrição Básica e Experimental, Instituto de Nutrição, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. R. São
Francisco Xavier, 524, 12º andar, Bloco D, Maracanã, 20550-900, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Correspondência para/Correspondence
to: E.A. SOARES.
COMUNICAÇÃO | COMMUNICATION
Guias alimentares para crianças: aspectos
históricos e evolução
Food guides for children: historical aspects
and evolution
Roseane Moreira Sampaio BARBOSA1,2
Rosana SALLES-COSTA3
Eliane de Abreu SOARES3,4
R E S U M O
Os guias alimentares possuem duas propostas: a primeira, ser um guia de saúde pública, e a segunda, uma
ferramenta de educação nutricional. Este trabalho objetiva apresentar um histórico dos guias alimentares e
suas características, bem como abordar os guias dietéticos desenvolvidos especificamente para crianças. Foi
realizado um levantamento bibliográfico dos últimos dez anos, em base de dados Medline utilizando as
palavras-chave guia alimentar, guia dietético infantil e pirâmide alimentar infantil. Desde 1916, os guias
alimentares vêm sendo desenvolvidos a fim de traduzir as recomendações de uma dieta saudável para população,
porém somente a partir de 1999 foi desenvolvido pelo United States Departament of Agriculture um guia
alimentar para crianças. Observou-se que os guias alimentares infantis, de modo geral, foram elaborados
recentemente. Poucos países os desenvolveram de acordo com o hábito alimentar das crianças, utilizando
alimentos típicos da idade e tamanho das porções específicas para essa faixa etária, considerando a limitada
capacidade gástrica das crianças. Conclui-se que é muito importante desenvolver, implementar e validar os
guias alimentares infantis, pois são uma ferramenta de educação nutricional para a formação de hábitos
saudáveis e para a prevenção de doenças crônicas.
Termos de indexação: criança; educação nutricional; guias alimentares; pirâmide alimentar.
A B S T R A C T
Food guide have two proposals: the first, as a public health guide and the second, as a nutritional educational
tool. This study aimed at presenting a history of food guides and their characteristics, as well as approaching
the dietary guides specifically developed for children. A bibliographical research of the last ten years was
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Desenvolvimento e Evolução dos Guias Alimentares para Crianças: De 1916 aos Dias Atuais e outras Notas de aula em PDF para Nutrição, somente na Docsity!

GUIA ALIMENTAR PARA CRIANÇAS | 255

Rev. Nutr., Campinas, 19(2):255-263, mar./abr., 2006 Revista de Nutrição

(^1) Mestranda em Nutrição, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. (^2) Fundação Ataulpho de Paiva. Rio de Janeiro. RJ, Brasil. (^3) Instituto de Nutrição Josué de Castro, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. (^4) Departamento de Nutrição Básica e Experimental, Instituto de Nutrição, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. R. São Francisco Xavier, 524, 12º andar, Bloco D, Maracanã, 20550-900, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Correspondência para/ Correspondence to : E.A. SOARES.

COMUNICAÇÃO | COMMUNICATION

Guias alimentares para crianças: aspectos

históricos e evolução

Food guides for children: historical aspects

and evolution

Roseane Moreira Sampaio BARBOSA 1, Rosana SALLES-COSTA 3 Eliane de Abreu SOARES 3,

R E S U M O

Os guias alimentares possuem duas propostas: a primeira, ser um guia de saúde pública, e a segunda, uma ferramenta de educação nutricional. Este trabalho objetiva apresentar um histórico dos guias alimentares e suas características, bem como abordar os guias dietéticos desenvolvidos especificamente para crianças. Foi realizado um levantamento bibliográfico dos últimos dez anos, em base de dados Medline utilizando as palavras-chave guia alimentar, guia dietético infantil e pirâmide alimentar infantil. Desde 1916, os guias alimentares vêm sendo desenvolvidos a fim de traduzir as recomendações de uma dieta saudável para população, porém somente a partir de 1999 foi desenvolvido pelo United States Departament of Agriculture um guia alimentar para crianças. Observou-se que os guias alimentares infantis, de modo geral, foram elaborados recentemente. Poucos países os desenvolveram de acordo com o hábito alimentar das crianças, utilizando alimentos típicos da idade e tamanho das porções específicas para essa faixa etária, considerando a limitada capacidade gástrica das crianças. Conclui-se que é muito importante desenvolver, implementar e validar os guias alimentares infantis, pois são uma ferramenta de educação nutricional para a formação de hábitos saudáveis e para a prevenção de doenças crônicas. Termos de indexação : criança; educação nutricional; guias alimentares; pirâmide alimentar.

A B S T R A C T

Food guide have two proposals: the first, as a public health guide and the second, as a nutritional educational tool. This study aimed at presenting a history of food guides and their characteristics, as well as approaching the dietary guides specifically developed for children. A bibliographical research of the last ten years was

256 | R.M.S. BARBOSA et al.

Revista de Nutrição Rev. Nutr., Campinas, 19(2):255-263, mar./abr., 2006

carried out in the Medline database, using the key words: food guide, dietary guidelines for children and food guide pyramid for young children. Food guides have been developed since 1916, translating the recommendations for a healthy diet to the population, but only in 1999 did the United States Department of Agriculture develop a food guide for children. It was observed that, in general, the food guides for young children were elaborated recently. Few countries have developed them according to the food habits of children, using foods typical of their age range and appropriate portion sizes, considering the limited gastric capacity of children. It was concluded that it was very important to develop, implement and validate food guides for young children, since they are a nutritional educational tool for the formation of healthy habits and the prevention of chronic diseases. Indexing terms : child; nutrition education; food guides; food guide pyramid.

I N T R O D U Ç Ã O

Passadas três décadas, observa-se que o estado nutricional das crianças americanas vem melhorando. Esse fato é verificado pela diminuição das taxas de mortalidade infantil e pelo declínio das deficiências nutricionais. Entretanto, o número de crianças com sobrepeso vem aumentando, desde 1970, incluindo a população de baixa renda. Aproximadamente, 10,4% das crianças entre dois e cinco anos de idade e 15,3% daquelas de seis a onze anos estão com sobrepeso 1. No Brasil, igualmente, tal transição nutri- cional vem ocorrendo em conseqüência de mudan- ças seculares nos padrões nutricionais, associadas à modificação da estrutura alimentar, demográ- fica, socioeconômica, epidemiológica e de estilo de vida das populações 2. Segundo Monteiro et al.^3 , essa transição é comumente caracterizada pela diminuição da desnutrição e pelo aumento da obesidade. Mudanças no padrão do consumo alimentar foram avaliadas em estudo realizado com a população da América Latina, tendo sido verificado aumento na ingestão total de gorduras, carnes e açúcares e diminuição de cereais, frutas e vegetais^4. Como conseqüência, os guias dietéticos para crianças têm se desenvolvido tendo como foco tanto a desnutrição e deficiências nutricionais, quanto o sobrepeso em crianças^1. Esses guias têm sido utilizados para descrever as recomendações quantitativas e qualitativas dos padrões dietéticos, baseados em evidências científicas^5. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (1996) 6 , “os guias alimentares oferecem recomendações

dietéticas, através de comunicados à população, para promover o bem-estar nutricional”^6 ; podendo ser expressos sob a forma de orientações nutricionais, ou através de grupos alimentares^5. A principal chave para desenvolver um guia alimentar é a identificação dos problemas de saúde pública mais relevantes na população estudada, e a determinação de quais deles estão relacionados com a dieta. Em 1995, a Food and Agriculture Organization (FAO) e a World Health Organization (WHO) realizaram uma conferência articulada, traçando diretrizes para o desenvol- vimento dos guias alimentares. Esse boletim técnico foi divulgado nos congressos, permitindo que qualquer país ou região pudesse iniciar o desenvolvimento de seu guia alimentar específico. O conteúdo desse boletim reforça que o principal fator para desenvolver um guia alimentar é a identificação de problemas relacionados com a dieta 7. Os guias alimentares podem ser repre- sentados por expressão gráfica. Alguns países, como, por exemplo, os Estados Unidos, México, Panamá e Chile, optaram pelo formato da pirâmide, o Canadá escolheu a forma de um arco-íris, a Costa-Rica o formato de uma pizza e a Guatemala optou pela representação gráfica de um pote de cerâmica. Outros países, como Cuba e Venezuela, não utilizam representação gráfica. O número de mensagens nos guias oscila entre seis e oito, evitando um grande número de informações a fim de que a população possa assimilar com facilidade as orientações alimentares 8. Portanto, este trabalho foi realizado com o objetivo de apresentar um histórico dos guias

258 | R.M.S. BARBOSA et al.

Revista de Nutrição Rev. Nutr., Campinas, 19(2):255-263, mar./abr., 2006

No guia alimentar de 1980 as sete reco- mendações eram: (1) consumir uma variedade de alimentos, (2) manter o peso saudável, (3) evitar gordura, gordura saturada e colesterol, (4) ingerir alimentos ricos em carboidratos e fibras, (5) evitar o alto consumo de açúcar, (6) evitar alto consumo de sódio e (7) utilizar bebidas alcoólicas com moderação. Atualmente, no guia de 2000, as dez recomendações são: (1) manter o peso saudável, (2) manter-se fisicamente ativo diariamente, (3) deixar a pirâmide alimentar escolher os alimentos, (4) escolher uma variedade de cereais diariamente, principalmente cereais integrais, (5) escolher uma variedade de frutas e verduras diariamente, (6) guardar os alimentos de forma segura, (7) escolher uma dieta com baixo teor de gordura saturada e colesterol e moderado em gordura total, (8) escolher bebidas e alimentos com moderada quantidade de açúcar, (9) escolher e preparar alimentos com pouca quantidade de sal e (10) consumir álcool moderadamente^10. Com relação aos nutrientes, observou-se, igualmente, uma evolução. Em 1980 e 1985, esses guias enfocaram o consumo de carboidratos complexos e fibras. Já em 1990 e 1995, o comitê direcionou o seu enfoque para o consumo de alimentos ricos em fibras e carboidratos. Já em 2000, foi desenvolvido um guia alimentar com diferentes grupos para frutas, vegetais e grãos, pois esses alimentos contêm diferentes nutrientes importantes para a manutenção da saúde 15,16. Outro exemplo pode ser visto na recomen- dação das gorduras. As versões de 1980 e 1985 não especificavam a quantidade de gordura, porém, em 1990, o comitê recomendou que 30% ou menos do valor energético total (VET) poderia ser oriundo das gorduras totais na dieta e 10% de gordura saturada. Nas versões mais recentes ( e 2000), apresenta-se uma “dieta com baixo teor de gordura, principalmente gordura saturada e colesterol”^16. Desde 1995, a expressão “consumir uma variedade de alimentos” foi incluída na pirâmide alimentar para ilustrar a necessidade dessa variedade, sendo recomendada, pela primeira vez,

a prática de atividade física para a manutenção do peso corporal. Em 2000, foi dada mais ênfase na expressão “deixe a pirâmide guiar suas escolhas alimentares” do que na expressão “variedade de alimentos” e uma maior preocupa- ção para a prática de atividade física e manutenção do peso saudável, devido ao crescimento da obesidade^10. A mais atual edição dos Guias Alimentares para Americanos foi desenvolvida em 2000. Esse guia fornece um aconselhamento mais específico com relação às escolhas alimentares do que os anteriores. As dez orientações dos guias foram agrupadas em três seções: a primeira é a condição física, que enfatiza os benefícios da prática regular de atividade física; a segunda, a construção de uma base saudável, enfatizando a pirâmide alimentar como base para um padrão alimentar adequado e a escolha de uma variedade de cereais, frutas, vegetais; e a última, as escolhas sensíveis, mostrando os alimentos que devem ser consumidos com moderação, incluindo açúcar, gordura, sal e bebidas alcoólicas 9. Com o desenvolvimento das novas recomendações dietéticas do Dietary Reference Intake (DRI) para 26 nutrientes, que foram publi- cadas a partir de 1997, há necessidade de rever os guias alimentares para garantir o bem-estar e promover a saúde dos indivíduos. Para 2005 está prevista a divulgação do novo guia alimentar para a população americana 17.

América Latina

É recente a discussão sobre a presença de guias alimentares nos países da América Latina e a necessidade de desenvolvê-los e implementá- -los. Os estudos tiveram início em 1992, com a Conferência Mundial de Nutrição, em Roma, que recomendou a elaboração de guias alimentares de acordo com a realidade e costumes de cada país, no intuito de melhorar os padrões de consumo e o estado nutricional da população^8. De acordo com Calderón^18 , a situação da elaboração dos guias alimentares, em países da América Latina,

GUIA ALIMENTAR PARA CRIANÇAS | 259

Rev. Nutr., Campinas, 19(2):255-263, mar./abr., 2006 Revista de Nutrição

divide-se em três estágios: guias já elaborados e publicados, guias em fase de elaboração e guias que ainda serão desenvolvidos.

A Venezuela e o Chile já elaboraram e publicaram alguns de seus guias alimentares. No Chile, Yañez et al.^19 validaram esses instrumentos para crianças em idade escolar, com a finalidade de facilitar o uso da Pirâmide Alimentar. Na Venezuela, foram publicados um guia escolar e outro específico para a população rural 18.

No Brasil, Plilippi et al.^20 realizaram uma adaptação da pirâmide alimentar americana para adultos e em 2003 elaboraram, também, para crianças^21. Em 2002, a Organização Pan-Ame- ricana de Saúde e o Ministério da Saúde (OPAS/MS)^22 desenvolveram o Guia Alimentar para Crianças de 6 a 23 meses. De acordo com a Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição (CGPNA) do Ministério da Saúde, a elaboração de um Guia Alimentar para População Brasileira está em fase final, e estabelece diretrizes alimentares para o Brasil. O guia divulgará orienta- ções e recomendações para a promoção de estilos de vida saudável, destacando a alimentação, a atividade física e o aleitamento materno. Será direcionado não só ao governo como também à indústria de alimentos e aos profissionais de saúde, com vistas à unificação dos procedimentos.

Os países que se encontram em fase de elaboração dos guias dietéticos para a população são a Venezuela, Argentina, Colômbia e o Equa- dor. Na Venezuela, os guias alimentares estão sendo desenvolvidos para pré-escolares e para alunos da educação básica - de 7ª a 9ª séries -, embora já tenham sido publicados os guias dietéticos para crianças de 1ª a 7ª séries^18. Na Argentina, no ano de 2000, foram desenvolvidos guias alimentares para a população adulta saudável e recomendou-se a elaboração de guias específicos para menores de dois anos 18. Na Colômbia, estão sendo elaborados os guias para pré-escolares a partir de dois anos, escolares, adolescentes, adultos e idosos 18. Alguns países, como a Bolívia, Paraguai, Peru e Uruguai, estão iniciando a elaboração desses guias alimentares^18.

A maioria dos países mencionados desen- volveu guias alimentares para a população adulta e saudável^8. A inexistência de guias específicos para a população infantil se deve à dificuldade nas adaptações dos conteúdos das mensagens e das porções expressas de alimentos, com o propósito de torná-los compreensíveis e motivadores.

Guias dietéticos para crianças

Em 1995, a Venezuela publicou “Os guias da alimentação na escola”, sendo o volume 1 dirigido para crianças de 1ª a 3ª série e o volume 2 destinado àquelas de 4ª a 7ª série. Em ambos, consideraram-se as mesmas mensagens já publicadas, variando conforme a idade e os objetivos específicos de cada programa^23. Em 1999, a USDA realizou uma adaptação da pirâmide alimentar para crianças de dois a seis anos de idade, com o objetivo de focar as preferên- cias alimentares e as recomendações nutricionais para essa faixa etária^13. Essa pirâmide divide os alimentos em cinco grupos: cereais (seis porções), vegetais (três porções), frutas (duas porções), leite (duas porções) e carne (duas porções) e, no topo da pirâmide, estão os grupos das gorduras e dos açúcares, os quais devem ser utilizados com mode- ração, pois possuem muitas calorias e baixa quantidade de vitaminas e minerais. Os autores ressaltam que, apesar de as gorduras serem necessárias para o crescimento e desenvolvimento de pré-escolares, elas não devem ultrapassar 30% das calorias totais diárias. Para as crianças na faixa etária de dois a três anos, o número de porções sugeridas para cada grupo alimentar é o mesmo daquele recomendado para as crianças de dois a seis anos, porém deve equivaler a dois terços do tamanho da porção de cada alimento, exceto para o grupo do leite, cujo porcionamento deve ser o mesmo. Pela primeira vez, na representação gráfica da pirâmide alimentar, foram incluídas crianças realizando algumas atividades físicas (jogando bola, pulando corda, correndo, brincando),

GUIA ALIMENTAR PARA CRIANÇAS | 261

Rev. Nutr., Campinas, 19(2):255-263, mar./abr., 2006 Revista de Nutrição

incluir em seus hábitos alimentares; açúcares, doces, sal e alimentos ricos em sódio devem ser utilizados com moderação; devem-se consumir alimentos com baixo teor de gordura total, dando preferência às carnes magras; devem-se usar gorduras poliinsaturadas encontradas em óleos vegetais (girassol, milho, canola e soja) 21 (Figura 2).

Diferenças e limitações dos guias

alimentares infantis

Uma grande limitação dos guias alimen- tares se refere ao grupo das gorduras e dos açúcares, uma vez que a recomendação se dá por meio de expressões como: “uso moderado”, “pequena quantidade”, “quantidade razoável”, dificultando sua interpretação. Nos guias alimentares infantis desenvolvidos no Brasil, recomenda-se a quantidade que deve ser ingerida para esses dois grupos. A Organização Pan-Ame- ricana de Saúde 22 e Philippi et al.^21 recomendam uma porção do grupo das gorduras e uma porção do grupo dos açúcares para crianças. Outra dificuldade é que muitos alimentos que são ingeridos como preparação devem ser

Figura 1. Pirâmide alimentar infantil de crianças de 6 a 23 meses. Fonte: OPAS^22.

O outro guia brasileiro foi desenvolvido por Philippi et al.^21 e é um instrumento para orientação nutricional baseado na proposta da pirâmide alimentar norte-americana, adaptada às crianças brasileiras de dois e três anos de idade. Essa pirâmide foi baseada em uma dieta padrão, planejada para essa faixa etária, contendo os alimentos mais comumente consumidos. Também é dividida em oito grupos: arroz, pão, massa, batata, mandioca (cinco porções), verduras e legumes (três porções), frutas (três porções), carnes e ovos (duas porções), leite, queijo e iogurte (três porções), leguminosas (uma porção), óleos e gorduras (uma porção) e açúcares e doces (uma porção). Além disso, é recomendado escolher uma dieta variada com alimentos de todos os grupos da pirâmide, dar preferência aos vegetais, como frutas, verduras e legumes, ficar atento ao modo de preparo dos alimentos, procurando facilitar a mastigação e deglutição pelas crianças e dando prioridade aos alimentos em sua forma natural e às preparações assadas, cozidas em água ou vapor e grelhadas. Os autores ressaltam, também, as preparações culinárias, que devem ser elaboradas de modo a atrair a atenção das crianças, orientam a leitura dos rótulos dos alimentos infantis industrializados para conhecer o valor nutritivo do alimento e seu modo de preparo. Os autores afirmam que: a introdução de novos alimentos e preparações deve ser feita de forma gradual e freqüente para que a criança possa aprovar e

Figura 2. Pirâmide alimentar brasileira infantil - 2 a 3 anos de idade. Fonte: Philippi et al.^21.

262 | R.M.S. BARBOSA et al.

Revista de Nutrição Rev. Nutr., Campinas, 19(2):255-263, mar./abr., 2006

classificados em mais de um grupo de alimentos, necessitando que os ingredientes sejam desmembrados e, por conseguinte, que se tenha conhecimento dos ingredientes que compõem a preparação. Tanto nos guias desenvolvidos nos Estados Unidos como no Canadá, foram utilizados os mesmos alimentos recomendados para adultos, nos diversos grupos alimentares, alterando somen- te o tamanho da porção do alimento oferecido às crianças. No Brasil, os guias infantis foram elabo- rados com alimentos e quantidades característicos dessa faixa etária, considerando a limitada capacidade gástrica das crianças e os alimentos comumente consumidos. Nota-se uma diferença em relação à divisão dos grupos alimentares dos países citados. A USDA e a Austrália recomendam, na pirâmide alimentar, cinco grupos, no Canadá recomendam- -se quatro grupos e no Brasil, oito grupos. Nota-se que a pirâmide desenvolvida no Brasil é a única que separa o grupo das carnes e das leguminosas, além de incluir os alimentos ricos em amido (batata, aipim, inhame) no grupo dos cereais. O grande problema de incluir os tubérculos e raízes no grupo dos vegetais é que se pode superestimar o consumo de vegetais, devido ao alto consumo desses alimentos pelas crianças. Ressalta-se a importância dada à pirâmide alimentar infantil da USDA com relação à prática da atividade física, sendo representada junto com os grupos alimentares. Já no Brasil, essa orientação não foi ressaltada.

C O N C L U S Ã O

Os guias alimentares representam um importante instrumento para atender os objetivos dos programas de educação nutricional, pois facilitam a aprendizagem e adaptação de uma conduta alimentar saudável. Esses guias devem se ajustar às recomendações de energia e nutrientes de cada país. Países e regiões que se comprometeram com o processo de elaboração de guias alimen- tares reconhecem os vários problemas e questões a serem abordados em sua implementação.

Alguns desses desafios incluem a tradução dos guias para várias línguas e dialetos, motivação da mudança do comportamento alimentar dos indivíduos, bem como a sua conscientização e a garantia de que os guias alimentares sejam direcionados a todos os níveis socioeconômicos e de escolaridade da população, mantendo o entendimento das mensagens envolvidas. Os guias alimentares infantis foram ela- borados recentemente, e poucos países os desenvolveram de acordo com o hábito alimentar dessa fase e com características alimentares do país. O grupo de crianças menores de dois anos deve ser objeto de recomendações especiais, devendo considerar fatores econômicos, psicosso- ciais, culturais e de escolaridade da população. O número de recomendações não deve ultrapassar dez, sendo mencionados aspectos relacionados à promoção do estilo de vida saudável, como atividade física e higiene alimentar. As represen- tações gráficas são específicas para cada país e devem expressar os conceitos de variedade, freqüência e proporção dos alimentos. No Brasil, tanto o guia alimentar para crianças menores de dois anos da Organização Pan-Americano de Saúde 22 quanto o desenvolvido por Philippi et al. 21 para crianças de dois e três anos tiveram o tamanho das porções adaptado à faixa etária, considerando a limitada capacidade gástrica das crianças nessa idade e o uso de alimentos típicos dessa faixa etária. Ressalta-se a importância de desenvolver, implementar e validar os guias alimentares infantis, pois eles são um guia de saúde pública e uma ferramenta de educação nutricional. Além disso, devido a mudanças nos padrões nutricionais ocorridas nos últimos anos, eles têm objetivo de promover hábitos saudáveis e prevenir doenças crônicas não transmissíveis.

R E F E R Ê N C I A S

  1. American Dietetic Association. Position of the American Dietetic Association: dietary guidance for healthy children ages 2 to 11 years. J Am Diet Assoc. 2004; 104(4):660-77.