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Este documento discute a importância de abordar a flutuação categorial de adjetivos em sala de aula, especialmente na ensino de língua portuguesa no ensino médio. O autor aponta que os adjetivos e substantivos são palavras correlacionadas que podem sofrer flutuação categorial, e que a diferença entre eles é relacionada à função de nome de coisas que podem assumir (referencial) ou não (qualificativa). O documento também discute a importância de entender a flutuação de adjetivos para advérbios e vice-versa, e sugestiona que um novo direcionamento no estudo de adjetivos nos livros didáticos seria benéfico. Além disso, o autor destaca a importância de analisar a formação dos professores, a concepção do livro didático e a tendência ao fornecimento do conhecimento pronto para melhorar o ensino de língua portuguesa.
Tipologia: Notas de aula
Compartilhado em 07/11/2022
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Carolina Sartori de OLIVEIRA, Daiane RASSANO, Drielli Naiara Camilo TONZAR, Mariana Beolchi Jódas ROVERSI &Vivian de Assis LEMOS
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Carolina Sartori de OLIVEIRA Daiane RASSANO Drielli Naiara Camilo TONZAR Mariana Beolchi Jódas ROVERSI Vivian de Assis LEMOS^1 Orientadoras: Profas. Dras. Marize Mattos Dall-Aglio Hattnher e Maria Antonia Granville
RESUMO: Neste trabalho nos propomos a analisar a proposta de ensino do tópico adjetivos contida nos livros didáticos de Ensino Médio que as escolas da Rede Pública de Ensino costumam adotar. Busca-se confrontar as referidas propostas com os modelos citados nos documentos oficiais e com perspectivas de abordagem distintas, que são a Gramática Tradicional e a Gramática Funcional. Partindo da análise do material selecionado, é possível observar uma tendência estritamente tradicional de ensino das classes gramaticais. Acreditando que o aluno, agente do conhecimento, deve ser conduzido ao “pensar a Língua”, almeja-se traçar um novo caminho para o ensino dos tópicos gramaticais, neste caso, com relação à flutuação categorial dos adjetivos. O professor, mediador do conhecimento, não deve escravizar suas práticas docentes com base nos conteúdos elencados nos materiais didáticos. São essas as problemáticas que se busca analisar.
PALAVRAS-CHAVE: Adjetivos; flutuação categorial; ensino.
ABSTRACT: The purpose of this work is analyzing the proposal of teaching adjectives in schoolbooks used in the High School level of Public Schools. It intends to confront the proposal of teaching adjectives with official documents and different kinds of approaches, which are the Traditional Grammar and the Functional Grammar. After some analyses of some selected material, it is possible to observe a traditional tendency of teaching grammatical categories. Believing that the student is a kind of knowledge agent who will be conducted to “think of Language”, this study intends to trace a new way of teaching grammatical categories, especially that one related to the fluctuation of adjectives. Professors, in this case, like mediators of knowledge, shouldn’t be totally based on schoolbooks. These topics constitute the issues which this study searches to observe and discuss.
(^1) Alunas do 4º ano de Licenciatura em Letras, período Diurno.
Carolina Sartori de OLIVEIRA, Daiane RASSANO, Drielli Naiara Camilo TONZAR, Mariana Beolchi Jódas ROVERSI &Vivian de Assis LEMOS
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KEYWORDS: adjectives; fluctuation of adjectives; teaching.
1. Introdução
Este trabalho é fruto de reflexões surgidas no decorrer dos estudos realizados nas disciplinas Estágios Curriculares Supervisionados II: Língua Materna e Semântica da Língua Portuguesa^2 , do Curso de Licenciatura em Letras, do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP. Tal pesquisa, intitulada Flutuação de Adjetivos: Traçando os caminhos da problemática escolar, realizou-se no primeiro semestre de 2011, como forma de avaliação das referidas disciplinas. Por meio de leitura e análise de material teórico (Gramáticas Tradicionais e Funcionais, textos científicos), de documentos oficiais ( Parâmetros Curriculares Nacionais – PNCs – e Proposta Curricular do Estado de São Paulo) e de livros didáticos diversos, adotados pelas escolas da Rede Pública de Ensino, constatou-se que a abordagem do tópico adjetivo em sala de aula é bastante limitada em relação à dimensão que poderia e deveria assumir no que tange ao ensino de Língua Materna em nível de Ensino Médio. O “pensar a Língua” não é considerado em sala de aula, haja vista que os professores acabam delimitando o ensino de Língua Portuguesa aos tópicos sugeridos pelos livros didáticos e apenas trabalham com conceitos definidos e relações concretas quando abordam o tópico objeto de nossa reflexão. Diversos são os fatores que devem ser considerados na análise da problemática: a formação ultrapassada, não atualizada, de grande parte dos professores; a concepção de livro didático como delimitador e plano pronto de aula, não como material de apoio às práticas docentes; a tendência ao fornecimento do conhecimento pronto e o distanciamento da prática do “pensar a Língua”; enfim, uma série de elementos deve ser analisada com relação à realidade que se observa nos livros didáticos e que se reflete em sala de aula. Tendo em mente uma visão didática e funcional sobre o ensino da gramática, percebe-se que não se pode delimitar determinada palavra como mera integrante de dada classe, haja vista que existem certos vocábulos que passam pelo processo de adjetivação ou mesmo de adverbialização (casos de adjetivos sendo usados como advérbios). Com essa problemática em mãos, qual seria a melhor forma de nós professores ensinarmos? A classificação em classes de palavras é realmente eficaz? São esses alguns dos questionamentos que objetivamos refletir e responder com a realização desta pesquisa. A fim de propiciar ao ensino vertentes funcionais da língua inseridas no contexto de sala de aula, pretende-se refletir sobre o tópico “adjetivos” e o modo como é e como deveria ser ensinado em sala de aula. Tal projeto visa contribuir com a prática docente funcional e não mais ditadora de conhecimentos que almejamos na rotina escolar de nossas escolas. Não apenas falando do ideal, mas propondo uma aula nestes critérios, buscamos contribuir com a formação e a reflexão do professor, mediador do conhecimento, e com o desenvolvimento de alunos verdadeiramente agentes do conhecimento, como propõem os documentos oficiais.
(^2) Disciplinas sob a responsabilidade da Profª Drª Maria Antônia Granville e da Profª Drª Marize Mattos
Dall-Aglio Hattnher, respectivamente.
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porque a noção de classe é paradigmática e livre de contexto por definição”. A partir dessa afirmação, o autor questiona-se “O que é um adjetivo afinal de contas?”. Observando as diversas definições, pode-se constatar uma grande dificuldade e limitação com relação ao estabelecimento conceitual da categoria adjetivos. Partindo do pressuposto de que existe uma flutuação entre substantivo, adjetivo e advérbio, procuramos investigar o funcionamento e a referida conversão entre estas categorias, a fim de que seja possível propormos um novo direcionamento com relação ao estudo dos adjetivos nos livros didáticos.
2.2. Classificação/ Função dos adjetivos, substantivos e advérbios
Segundo Perini et al (1998)
“As classes são associações paradigmáticas de elementos, e nisso se distinguem das funções morfossintáticas ou semânticas. Esse princípio, bastante bem estabelecido, é freqüentemente esquecido na prática da análise, de forma que tanto na gramática tradicional quanto em trabalhos modernos se encontra a cada passo confusões implícitas entre classe e função.” (PERINI et al , 1998, s.p.)
A partir dessa observação, é possível definir que a classificação de palavras se refere às palavras dicionarizadas, o que difere de sua funcionalidade , uma vez que esta determina o papel assumido por uma palavra em determinado contexto. Dessa forma, podemos afirmar que as funções morfossintáticas são determinadas pelo contexto de utilização de uma palavra, haja vista que é por meio deste que uma palavra pode assumir traços distintos. No caso, podemos afirmar que esses traços apresentam um comportamento gramatical que deve ser considerado, uma vez que gera a flexibilidade categorial das palavras, contribuindo para que mudem de classe (semântica ou sintática) de acordo com as necessidades de cada falante. No caso, a flexibilidade dos traços perante os contextos de uso da língua, utilizada pelos falantes, levanta certos problemas para a análise semântica, uma vez que dizer que uma palavra pode ser classificada como adjetivo, substantivo ou até mesmo advérbio torna-se uma afirmação não condizente com a flexibilidade da língua portuguesa, pois se deixa de avaliar a função dessas palavras nos seus contextos de utilização, e, dessa forma, acaba-se por não avaliar a língua e suas variações.
2.3. Adjetivos e substantivos: um caso de flutuação categorial
Segundo Perini et al (1998), de acordo com as teorias apresentadas nas Gramáticas Tradicionais, o substantivo é classificado como a palavra que nomeia as coisas. O autor afirma que a análise realizada em sua pesquisa diferencia-se da análise tradicional, pois considera que adjetivos e substantivos não existem em classes de palavras autônomas. Nesse sentido, a diferença existente entre adjetivos e substantivos ocorre por meio de uma distinção entre palavras que podem apresentar a função de nomes de coisas, assumindo uma acepção referencial, e as palavras que não podem assumir essa
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posição. Ainda com relação à questão da acepção referencial existente entre a função de adjetivo e substantivo, pode-se visualizar que é possível “[...] capturar um fato extremamente importante, mas que não se encaixa na análise tradicional: a existência de grande número de itens que podem ocorrer em acepção referencial ou qualificativa, como amigo .” (PERINI et al , 1998, s.p.), como se pode observar nos seguintes exemplos: “Meu melhor amigo [acepção referencial]/ Um gesto amigo [acepção qualificativa]. ” (PERINI et al , 1998, s.p.). Deste modo, considerando-se que a palavra “amigo”, por ser um nome, pode apenas ser classificada como um substantivo, culminaremos em mais uma das constatações estanques propostas pelas Gramáticas Tradicionais, que passaremos a discutir mais adiante. Por outro lado, pode-se observar uma nova tendência que, de cunho funcionalista, consegue aproximar o vocábulo de uma classificação não pautada em mero encaixamento de classes, mas na funcionalidade dos vocábulos. É o que se observa nas Gramáticas Descritivas, Funcionais. Neves (2000) alude a uma ocorrência na língua em que,
“um substantivo pode deixar de ser referencial e funcionar como se fosse um adjetivo. Ele pode atribuir o conjunto de propriedades que indica, como se fosse uma única propriedade, a um outro substantivo , isto é, atuar como qualificador ou como classificador. Isso ocorre especialmente em função predicativa. (NEVES, p. 175)
Com isso, por meio da teoria de Perini et al (1998) e Neves (2000) é possível considerar que adjetivos e substantivos constituem palavras correlacionadas que podem sofrer um processo de flutuação categorial , havendo a possibilidade de alternância de funções (acepção qualificativa ou referencial) dependendo do contexto de utilização. Baseando-se nas palavras de Basílio (2004), observa-se que a flutuação (conversão) é um processo que tem por resultado a expansão das propriedades de um determinado vocábulo, pois este passa a ser utilizado, em determinadas ocorrências, com características de outra classe de palavras. Contudo, temos itens lexicais que assumem todas as propriedades da outra classe lexical e aqueles que assumem parcialmente estas propriedades. Com relação ao processo de flutuação, Pires & Dutra (s.d, p.9) afirmam que a mesma pode ser definida como “[...] um fenômeno muito produtivo no português falado”. O processo de conversão é mais típico na fala coloquial, e apresenta maior expressividade entre os falantes de menor grau de escolaridade, por não sofrerem tanto as pressões da norma lingüística. Os autores também constataram que esse fenômeno ocorre desde a época do latim vulgar, sendo assim, pode-se verificar que não se trata de um fenômeno “moderno”, assim como muitas gramáticas tradicionais insistem em apontar. A flutuação existente entre adjetivos e substantivos deveria ser um assunto tratado durante o ensino de uma língua, haja vista que é necessário acompanhar a funcionalidade das palavras, já que são suscetíveis a adequações feitas pelos próprios falantes, dependendo do contexto de interação lingüística.
2.4. Adjetivos e advérbios: um caso de flutuação categorial
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Com relação às Gramáticas Tradicionais, interessa-nos observar o tratamento dado ao tópico “adjetivos” bem como se essas abordam o objeto deste trabalho, a flutuação categorial. Os gramáticos tradicionais, de um modo geral, não falam sobre a questão da flutuação categorial e, quando se referem ao “problema”, não aprofundam a análise. Poucos são os gramáticos tradicionais que mencionam a questão dos adjetivos adverbializados, por exemplo. Rocha Lima (1983) apenas alude, em capítulos referentes a adjetivos ou a advérbios, a possibilidade de ocorrência dos adjetivos adverbializados, sem tecer maiores comentários. Bechara (2003, apud BARBOSA, 2006) também trata da “adverbialização dos adjetivos”, admitindo que muitos adjetivos, permanecendo invariáveis, podem passar a funcionar como advérbios. Segundo o autor, o critério que diferencia as duas classes está relacionado à variabilidade do adjetivo em oposição à invariabilidade do advérbio. Já Cunha (1990, apud BARBOSA, 2006), se detém um pouco mais no assunto.
“Ao comentar o uso adverbial do adjetivo, o autor relaciona esse caso com o emprego do adjetivo em função predicativa, em que há a concordância com o sujeito, argumentando que, embora o adjetivo sirva de predicativo do sujeito, ele ‘modifica a ação expressa pelo verbo e assume, de alguma forma, um valor também adverbial”. (BARBOSA, 2006, s.p.)
Diante destas breves considerações, pode-se retomar a questão categorial defendida por Perini (1990, apud BARBOSA, 2006) que, ao tratar das “concepções de ‘classe’”, critica a categorização feita pelas gramáticas tradicionais, alegando que essa classificação não permite casos intermediários. A solução apresentada por Perini (1989) é “um sistema de traços capaz de descrever de maneira discreta e precisa o comportamento gramatical das palavras”. A sugestão é fazer o sistema de descrição por traços distintivos, como se usa em fonologia. Assim, um dos traços propostos pelo autor, que definiria o fenômeno aqui analisado é “a propriedade do adjetivo de ocorrer após verbo e sintagma nominal opcional, sem concordar, formando a seqüência um sintagma verbal”. (PERINI, 1990, apud BARBOSA, 2006, s.p.)
3. Descrição e Análise
3.1. Os Documentos Oficiais
Analisando os documentos oficiais, que direcionam o ensino nas escolas públicas e focando, mais precisamente, na Língua Portuguesa temos que, nos PCNs, o ensino é proposto da seguinte maneira: a Língua Portuguesa deveria ser posta em um eixo interdisciplinar no qual o estudo da mesma apontasse para uma reflexão do uso da própria língua na vida e na sociedade. Além disso, esse documento levanta um questionamento sobre o uso da língua de forma dicotômica (separação entre gramática, estudos literários e redação). No Ensino Médio, mais precisamente, os PCNs indicam que o processo de ensino/aprendizagem deve partir da idéia de linguagem verbal, pois se implicam nesta a presença do homem, seus sistemas simbólicos e comunicativos, fazendo parte
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de um mundo sociocultural. Desse modo, tal processo de ensino/aprendizagem da Língua Portuguesa “deve basear-se em propostas interativas língua/linguagem, consideradas em um processo discursivo de construção do pensamento simbólico, constitutivo de cada aluno em particular e da sociedade em geral.”. (PCNEM, p.18) Essa mesma idéia de ensino está presente na Proposta Curricular do Estado de São Paulo – proposta que organiza o ensino em todo o Estado – na medida em que, assim como os PCNs, também defende uma concepção de ensino de Língua Portuguesa de maneira a não separá-la em três vertentes distintas, mas as visualiza como partes de um todo: “nossa proposta de disciplina de Língua Portuguesa não separa o estudo da linguagem e da literatura do estudo do homem em sociedade.” (p.42) Voltando-se para a temática discutida, os PCNs deixam claro que o ensino da gramática que aparece desde as séries iniciais até as séries finais do Ensino Médio é focado nas classificações, o que faz com que descrição e normas se confundam, uma vez que o professor trata da análise da frase fora de contexto, ou seja, o aluno chega ao final do Ensino Médio sem dominar a nomenclatura. Sobre isso, este documento chama a atenção para a possibilidade de que, talvez, a gramática que se ensina não faça sentido para aqueles que sabem gramática por serem falantes nativos. Após levantar essa problemática, os próprios PCNs questionam se esse tipo de falha no ensino seria responsabilidade dos alunos e, em seguida, afirma que o grande problema da gramática ensinada pela escola se dá pela confusão entre norma e gramaticalidade, pois o “que deveria ser um exercício para falar/escrever/ler melhor se transforma em uma camisa de força incompreensível.”. (PCNEM, p. 16) Focando no tema “adjetivo” os PCNs reconhecem a importância de uma mudança na maneira de se ensinar gramática quando apresenta o seguinte exemplo: “A professora ensinou que ‘azul, verde, branco, as cores em geral’ eram adjetivos e solicitou que os alunos construíssem frases com as palavras. Um dos alunos escreveu: ‘o azul do céu é bonito. O branco significa a paz etc’. Logicamente um X foi colocado sobre as frases. O por quê, o aluno nunca soube.” (PCNEM, p.16). Essa situação ilustra bem a problemática levantada neste trabalho. Na Proposta Curricular do Estado de São Paulo, o tema “adjetivo” é proposto para ser discutido no 1º bimestre da 1ª série do Ensino Médio, dentro do campo de estudo denominado “funcionamento da língua”. Estabelecendo uma relação com o que foi analisado nos livros didáticos a respeito do tema – os livros analisados serão descritos mais adiante -, é possível concluir que os mesmos não estão de acordo com o que se propõe nos documentos oficiais, pois o tema aparece totalmente dicotomizado, sendo apresentado com base em nomenclaturas e com análises feitas em situações descontextualizadas; além disso, não existe um padrão nas séries em que esse tema aparece, como propõe a proposta curricular do Estado de São Paulo. Com isso, percebe-se que o ensino se mantém engessado ao invés de dar suporte para o aprimoramento e o desenvolvimento do aluno, enquanto cidadão crítico e ativo.
3.2. A escolha e o uso do Livro Didático em sala de aula
A escola é um lugar especial, onde os materiais escolares tornam-se também especiais. Entre os materiais mais importantes, destacam-se os livros didáticos.
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Selecionando um corpus de cinco livros didáticos, todos voltados ao Ensino Médio, foi possível verificar a manutenção de um padrão com relação ao tópico “adjetivos”. Em todos eles, a abordagem é sempre a mesma: a definição da classe gramatical, a flexão dos adjetivos e propostas de exercícios. Em nenhum dos livros analisados, observou-se um tratamento específico do tema “flutuação categorial”, com exceção do livro “ Gramática: texto: análise e construção de sentido”, que aborda o tópico no capítulo destinado ao estudo dos “advérbios”. A seguir, é possível conhecer-se alguns livros, objetos de análise em nossa pesquisa, e o modo como eles abordam o tópico “adjetivos” e a questão da flutuação categorial, no campo teórico e nos exercícios:
M. Gramática: texto: análise e construção de sentido. Ensino Médio. Volume único.
O tema é abordado neste livro, porém não no capítulo adjetivo , mas sim no capítulo advérbio , em um subtópico intitulado “palavras que funcionam como adjetivos ou advérbios”.
No geral as atividades são apresentadas de acordo com os tópicos abordados. No entanto, o livro traz uma atividade, no capítulo adjetivo, que foca a flutuação categorial entre adjetivo e substantivo. Por outro lado, no capítulo advérbios , no qual a flutuação é tratada em teoria, não há atividades que enfoquem esse tópico.
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superlativo absoluto, formas aumentativas e diminutivas, e atividades).
AMARAL, E. et al. Novas Palavras: língua portuguesa. Ensino Médio. 1ª série.
1. Conceito; 2. Locução adjetiva; 3. Relações morfossintáticas do adjetivo; 4. Atividades; 5. Gênero e número do adjetivo: concordância do adjetivo com mais de um substantivo, plural dos adjetivos compostos; 6. Grau do adjetivo: grau comparativo, grau superlativo; 7. Atividades.
Não aborda, na teoria, a questão da flutuação.
Nas atividades propostas, além de haver uma relação com a teoria apresentada, também há atividades que englobam o tópico da flutuação categorial, mesmo este não tendo sido abordado em teoria.
J. B. Português: Literatura, Produção de Textos e Gramática. Ensino Médio. Volume Único.
1. Conceito; 2. Classificação dos adjetivos; 3. Flexão dos adjetivos: flexão de gênero, flexão de número, flexão de grau (grau comparativo e grau superlativo), locução adjetiva e adjetivos pátrios; 4. Atividades.
Não aborda, na teoria, a questão da flutuação.
As atividades propostas se relacionam com a teoria apresentada, mas traz também uma atividade que aborda o tópico da flutuação categorial.
T. C. Português: Linguagens. Ensino Médio. Volume Único.
1. Plural dos adjetivos compostos; 2. Atividades.
Não aborda, na teoria, a questão da flutuação.
As atividades são elaboradas de acordo somente com o que a teoria traz, sem dar margem para o tópico flutuação categorial.
NICOLA, J. de & TERRA, E. Curso prático de língua,
Não aborda, na teoria, a questão da flutuação.
Nas atividades propostas nota-se o enfoque no que foi trabalhado na teoria a partir de exercícios retirados
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que partem da prática e traçam a problemática em sala de aula, aproveitando para refletir sobre a funcionalidade das palavras e da questão dos agrupamentos categoriais?
4. Encaminhamentos
4.1 Traçando os caminhos da problemática escolar: como encontrar um “novo” caminho para o ensino de adjetivos?
De acordo com Silva & Teixeira (2006), devido aos inúmeros problemas educacionais existentes, podemos fazer as seguintes perguntas “[...]
“[...] por que, apesar de tanto se falar em educação, de existirem tantas propostas pedagógicas, estudos, pesquisas, projetos, a situação da educação parece que não muda nunca? Que problemas são esses que ninguém consegue resolver? Será que a deficiência é dos professores, dos formadores, das instituições governamentais ou são os alunos que não estão interessados em aprender a entender e conhecer o mundo no qual vivem? Qual seria o motivo desse desinteresse?” (SILVA & TEIXEIRA, 2006, p. 2)
Segundo essas autoras, Matthes (2004 apud SILVA & TEIXEIRA, 2006) afirma que no trabalho realizado em sala de aula com a língua portuguesa em sua forma padrão, é muito comum que os professores acabem lidando com o descaso dos alunos, ou até mesmo com questionamentos estigmatizados na própria sociedade, como: “ ‘Para que eu preciso saber isso se ninguém usa?’– ‘Eu não gosto de português’; é a língua mais difícil do mundo!’ – ‘Eu não sei português!’” (MATTHES, 2004, p. 37 apud SILVA & TEIXEIRA, 2006, p. 2). Ainda de acordo com as concepções mencionadas acima, muitas vezes o professor apresenta um grande esforço em tentar ensinar regras de memorização que acabam fragmentando somente a sintetização de alguns tópicos gramaticais, que apenas são armazenados na mente do aluno para a realização de uma prova, e que, posteriormente, todo o conteúdo estudado será esquecido e não mais usado pelos mesmos. No caso, Arnay (1998, apud SILVA & TEIXEIRA, 2006) afirma que o tipo de conhecimento atualmente adotado pelas escolas brasileiras é um “conhecimento descontextualizado”, ou seja, os alunos não conseguem entender a utilidade dos elementos que são ensinados na escola. Por meio dessas constatações acerca do assunto, Silva e Teixeira (2006) afirmam que seria interessante fugirmos do gramaticalismo, pois este torna o sistema educacional muito rígido, anula os talentos e inibe a expressão. No entanto, as autoras deixam claro que o ideal é não abolir a gramática da sala de aula. Dessa forma, ressaltam que os professores precisam sentir em que momento do contexto de sala de aula os alunos estão necessitando que se mude o foco, ou seja, em que momento é necessário trilhar um novo caminho de ensino. As pesquisas realizadas por Silva e Teixeira (2006) demonstraram que de 12 alunos entrevistados, 6 do Ensino Médio e 6 do Ensino Fundamental, apenas 2 alunos
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do Ensino Médio sabem justificar corretamente a classificação dos substantivos, e que os alunos do Ensino Fundamental apresentam ainda mais resistência e dificuldade com relação à classificação de substantivos, uma vez que muitos alegaram ter esquecido o conceito da referida classe gramatical. Ainda por meio dessa pesquisa, é possível visualizar que entre os alunos do Ensino Médio e Fundamental, os alunos do Fundamental não conseguem justificar a classificação dos substantivos, uma vez que confundem essa categoria com a noção de verbo e sujeito. Já alguns alunos do Ensino Médio não apresentam tantas dificuldades de classificação. Com relação aos adjetivos, Silva e Teixeira (2006) detectaram que apenas os alunos do Ensino Médio conseguem selecionar de um texto as palavras que funcionam como adjetivos, e que a maioria desses alunos também consegue justificar porque classificaram essas palavras como pertencente à referida categoria. Os alunos do Ensino Fundamental alegaram não apresentar o conceito de adjetivo na sua estrutura cognitiva. Por meio dos resultados da pesquisa de Silva e Teixeira (2006), é possível afirmar que um novo caminho para o ensino de adjetivos seria não ensiná-los de forma muito estrutural, mas ensinar por meio de exemplos e contextos lingüísticos que possam facilitar a assimilação dessa categoria pelos alunos. No caso dos alunos do Ensino Médio, percebemos que estes conseguem justificar a escolha de sua classificação de adjetivo, ou seja, é visível que já apresentam um bom entendimento com relação a essa categoria, contribuindo para que fique ainda mais fácil trilhar um caminho que conduza um ensino mais funcionalista com relação ao ensino dos adjetivos. Como o objetivo deste trabalho é traçar um novo caminho para ensinar a categoria de adjetivos para os alunos do Ensino Médio, podemos afirmar que, se desde o Ensino Fundamental, o ensino de adjetivos ocorresse por meio de uma fusão entre gramática tradicional e gramática funcional, os alunos conseguiriam identificar por um dos caminhos de estudo uma forma de entender essa categoria gramatical. Após o estágio de Ensino Fundamental e a solidificação dessas categorias, o aluno estaria ainda mais apto, no Ensino Médio, para entender os conceitos de flutuação categorial entre adjetivos, substantivos e advérbios. Para trabalhar com os alunos do Ensino Médio de forma a concretizar essas teorias sem gerar confusões, os professores deveriam trabalhar com textos, ou seja, produções escritas, que apresentassem casos de adjetivos que sofrem o processo de flutuação categorial, uma vez que fica claro que trabalhar exercícios esquemáticos de classificação categorial com os alunos, apenas “aliena” o ensino do aluno. O aluno precisa aprender por meio de textos que indiquem contextos de uso da Língua Portuguesa para que possa entender as flutuações existentes na própria Língua Materna. Dessa forma, é possível afirmar que, principalmente os alunos do Ensino Médio, por estarem no último nível de ensino regular, precisam aprender a assimilar as flutuações da Língua Portuguesa, para que no futuro, tenhamos cidadãos mais aptos a entender que a língua não é estanque, mas dotada de processos de variação, como no caso dos adjetivos que podem flutuar entre duas categorias, a de advérbio e substantivo. Com isso, podemos ressaltar que o importante é ensinar a categoria de adjetivos aos alunos, de forma que estes entendam o funcionamento estrutural da língua, e não encarem a língua como um sistema lingüístico mecânico e não suscetível a variações. Ou seja, é interessante que o aluno se enxergue como falante da língua e entenda que ele também é um mediador do conhecimento lingüístico, e por meio disso, saiba avaliar que sua aprendizagem até o Ensino Médio foi tão relevante para que ele conseguisse falar e se comunicar.
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prescritiva, mas sim um instrumento de análise, que proporcionará aos alunos o “pensar a língua”. A partir de conceitos já explicitados , os alunos devem ter contato com as diferentes formas que a linguagem funciona em seu dia-a-dia, e é esperado do material didático e do professor, o fornecimento de todos os subsídios aos alunos para que estes possam criar conceitos críticos da sua língua. Com a realização deste trabalho, portanto, percebemos que a flutuação categorial não recebe o enfoque necessário dentro do ensino nas escolas, e quando esta é ensinada, por vezes, é apresentada como sendo uma “derivação imprópria”, generalizando o assunto, fazendo com que os alunos não depreendam e principalmente, compreendam o que foi estudado, uma vez que, o professor apresenta aos indivíduos exemplos fora de contextos da língua, o que causará uma mecanização do estudo e não uma análise do funcionamento da linguagem. Assim, deve-se ensinar a flutuação contextualizada dentro das ocorrências linguísticas vivenciadas pelos alunos, que compreenderão que determinados vocábulos ora funcionam referindo, ora funcionam qualificando. Desta forma, conseguiremos formar indivíduos conscientes do uso da língua, que percebam que esta está em constante movimento e que sua utilização dependerá das situações e das perceptividades de cada sujeito.
6. Referências Bibliográficas
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_________. O fator semântico na flutuação substantivo / adjetivo em Português. Disponível em: http://acd.ufrj.br/~pead/tema12/ponto26.html Acesso em: 13 abr.
CÂMARA Jr., Joaquim Mattoso. Estrutura da Língua Portuguesa. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1972.
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NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. São Paulo: Editora UNESP, 2000.
PERINI, M.A. et al. Sobre a classificação das palavras. DELTA: Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada ; São Paulo, v. 14, 1998. Disponível em:
Carolina Sartori de OLIVEIRA, Daiane RASSANO, Drielli Naiara Camilo TONZAR, Mariana Beolchi Jódas ROVERSI &Vivian de Assis LEMOS
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