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O ceier-ab, centro estadual integrado de educação rural, foi fundado em 1980 para atender às necessidades educacionais de filhos de agricultores em comunidades rurais. A escola ofereceu ensino fundamental até 2007, com ênfase em disciplinas relacionadas à agricultura e zootecnia. A história do ceier-ab foi estudada através de documentos escolares, publicações e estudos acadêmicos. A escola foi criada em parceria com o governo do estado do espírito santo e o ministério da educação, com o objetivo de melhorar a condição de vida e produção agropecuária das comunidades rurais. O direito ao transporte escolar foi reconhecido pela constituição federal em 1988.
Tipologia: Notas de estudo
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Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ciências , no Programa de Pós-Graduação em Educação Agrícola, Área de Concentração em Educação Agrícola.
Lia Maria Teixeira de Oliveira, Dra. UFRRJ
Ramofly Bicalho dos Santos, Dr. UFRRJ
Maria da Conceição Calmon Arruda, Dra. FIOCRUZ
Viviane Lima, Dra. PM-Campos dos Goytacazes
Agradeço ao Deus de meus pais ao qual herdei o sentido último da vida. A minha esposa Natália e meu filho Miguel que me inspiram a buscar o conhecimento amorosamente. A professora Lia minha orientadora que ao acolher meu projeto de pesquisa tornou possível a realização desta dissertação. Agradeço ao PPGEA por ter me proporcionado um ambiente propício a aprendizagem com uma boa estrutura e excelentes professores. Aos meus colegas de turma que partilharam seus conhecimentos e experiências de vida. Agradeço ao Centro Estadual Integrado de Educação Rural que esteve sempre de portas abertas para ser objeto/sujeito de minha pesquisa. Aos meus colaboradores na pesquisa que me concederam entrevistas e acreditaram na idoneidade desta dissertação.
REIS, Fernando Alexandre Furtado. Historicidade do Centro Estadual Integrado de Educação Rural de Águia Branca – ES: Uma Leitura a Partir da obra Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire. 2017. 82f. Dissertação (Mestrado em Educação Agrícola). Instituto de Agronomia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ. 2017.
Esta dissertação por meio das categorias da pedagogia de Paulo Freire construiu a historicidade do Centro Estadual Integrado de Educação Rural de Águia Branca, situado à Noroeste do Estado do Espírito Santo. Para este fim, a obra Pedagogia do Oprimido serviu de fundamentação teórica do trabalho. O procedimento de coleta de dados para a construção da historicidade do Centro desenvolveu-se pelo método da Filosofia Clínica criado por Lúcio Packter para o levantamento de informações contidas nas entrevistas dos sujeitos protagonistas do CEIER enos documentos utilizados na investigação. Os dadosmostraram que o CEIER-AB desde sua criação até os dias atuais esteve comprometido com a luta do povo do campo pela terra e uma agricultura ecologicamente sustentável. Ao construira historicidade da escola pela pedagogia freireana pode-se perceber a identificação de práticas pedagógicas do Centro as categorias freireanas de uma educação libertadora comprometida como a vida. As temáticas discutidas em comum àhistoricidade do CEIER-AB e a pedagogia de Freire foram a dialogicidade, a relação teoria e prática, a interdisciplinaridade e os temas geradores.
Palavras-chaves: Pedagogia freireana; historicidade; interdisciplinaridade.
REIS, Fernando Alexandre Furtado. Historicity of the Integrated State Center for Rural Education of Águia Branca - ES: A Reading from the work Pedagogy of the Oppressed by Paulo Freire. 2017. 82p. Dissertation (Master in Agricultural Education).Institute of Agronomy, Federal Rural University of Rio de Janeiro, Seropédica, RJ. 2017.
This dissertation through Paulo Freire's pedagogy categories built the historicity of the Integrated State Center for Rural Education in Águia Branca, located northwest of the State of Espírito Santo. To this end, the work Pedagogy of the Oppressed served as the theoretical basis of the work. The data collection procedure for the construction of the Center's historicity was developed by the method of Clinical Philosophy created by Lúcio Packter for the collection of information contained in the interviews of the protagonists of CEIER and in the documents used in the research. The data showed that CEIER-AB from its creation to the present day was committed to the rural people's struggle for land and ecologically sustainable agriculture. By constructing the historicity of the school by Freirean pedagogy one can perceive the identification of pedagogical practices of the Center the Freirean categories of a liberating education committed as life. The themes discussed in common with the historicity of CEIER-AB and Freire's pedagogy were dialogic, the relation theory and practice, interdisciplinarity and generating themes.
Keywords: Freirean pedagogy; historicity; interdisciplinarity.
2008, p. 44). A urgência do presente obscurece a lembrança do passado e reduz toda percepção ao imediato, perdendo a dimensão da temporalidade intrínseca a tudo que existe sem a qual nada no mundo pode ser verdadeiramente estabelecido. Os valores construídos no passado marcam a vida dos grupos e estão na base da cultura, daí a importância de ir ao encontro do já vivido e saber do caminho que trouxe a todos até o presente momento. Buscar os valores que fundaram o CEIER-AB através de sua historicidade só tem sentido se for feito por meio de depoimentos de pessoas que vivenciaram intensamente os eventos que identificam a escola ao longo dos anos. Carvalho apud Gasset (2008) explica que cada homem há de construir o seu próprio mundo. Eu sou eu e a minha circunstância. Uma instituição escolar não é um eu, mas ela fala de si através da interpretação daqueles que ao longo do tempo desenvolveram práticas pedagógicas situadas nos diferentes contextos históricos ao qual a instituição experimentou. O CEIER-AB é único e essa singularidade é revelada em seus valores, construídos e transmitidos para seus estudantes por meio dos profissionais que ali passaram. Revelar na historicidade do CEIER-AB a sua vinculação ao campo não se justifica por estar geograficamente na zona rural, visto ser comum escolas situadas no campo ter em seus currículos disciplinas e conteúdos que nada tem a ver com as práticas agropecuárias e os valores que dão sentido a vida no ambiente rural. A escola desde sua fundação tem como principal preocupação atender as demandas de educacionais de sua região, como pode ser visto em seu Projeto Político Pedagógico:
O CEIER é uma escola Estadual de tempo integral, que funciona em regime de semi-internato de orientação rural, criada para filhos de agricultores, promovendo o ensino de 5ª a 8ª série do Ensino Fundamental até o ano de 2007, oferecendo Formação Geral (Língua Portuguesa, Matemática, Geografia, Ciências, Educação Física, Educação Religiosa, Inglês) e a Formação Especial (Agricultura I (Horticultura), Agricultura II (Fruticultura), Agricultura III (Culturas Anuais e Perenes), Zootecnia e Economia Doméstica. Funciona também como um centro de integração das comunidades rurais. Os alunos recebem os ensinamentos adequados à sua Realidade. No ano de 2008, foi implantado o Curso Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio que é de extrema importância para a prática de uma agricultura eficiente, pois o profissional formado por esta escola vai realizar uma função produtiva no campo. (PPP. 2015 p 2).
O estudo da historicidade do CEIER-AB neste trabalho será visto a luz da obra Pedagogia do Oprimido. A proposta é compreender no percurso da escola ao longo do tempo sua correspondência aos princípios da educação popular voltada para a emancipação de seus educandos como defende a pedagogia freireana. Historicamente o Brasil sofre com o analfabetismo e uma educação elitista que mantém as desigualdades entre uma minoria privilegiada dona dos meios de produção e uma maioria pobre privada do acesso aos recursos inerentes a uma vida digna. Os sujeitos do campo têm uma luta secular contra o abandono do poder público na oferta de educação de qualidade. Mesmo em tempos de universalização da educação básica, ela é feita na maioria das vezes descontextualizada da realidade campesina, servindo a interesses governamentais em detrimento de atender as reais necessidades da população rural.
O CEIER-AB foi ao longo de sua História uma instituição que se destinou às práticas educativas criticas problematizadoras ou reproduziam conservadorismos e opressão? Seus discursos de melhoria da vida da população do campo encontrado com abundância em seus documentos, e na fala dos profissionais que atuaram e atuam na escola de fato se concretizaram? A resposta a estas questões serão aprofundas ao longo deste trabalho. Interessa aqui entender se a união entre teoria e prática, a práxis transformadora da pedagogia freireana, se aplica aos valores que nortearam a historicidade do Centro. O trabalho está dividido em quatro partes: no primeiro momento ocorrerá o desenvolvimento do referencial teórico com base na obra Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire; o segundo refere-se à metodologia utilizada para a execução do estudo; no terceiro momento será construída a historicidade do CEIER-AB, objeto central do estudo; e por fim, haverá a aproximação entre a historicidade do CEIER-AB e a obra Pedagogia do Oprimido. Vale lembrar que o estudo da historicidade do CEIER-AB e sua relação com a pedagogia freireana não pretendem esgotar a questão, mas, utilizar a pesquisa para apresentar uma nova perspectiva sobre a escola e capturar elementos muitas vezes esquecidos com o passar do tempo.
1.1 Procedimentos Metodológicos da Pesquisa
O lócus desta pesquisa é o Centro Estadual Integrado de Educação Rural de Águia Branca – ES (CEIER-AB), pelos motivos explicitados no início da introdução. O tipo de pesquisa utilizada neste trabalho foi à abordagem qualitativa que visa entender o mundo objetivo por meio da subjetividade dos sujeitos envolvidos na pesquisa. No entender de Minayo (2008):
O método qualitativo é adequado aos estudos da história, das representações e crenças, das relações, das percepções e opiniões, ou seja, dos produtos das interpretações que os humanos fazem durante suas vidas, da forma como constroem seus artefatos materiais e a si mesmos, sentem e pensam (MINAYO, 2008, p.57).
Os instrumentos que desenvolveram o trabalho foram através da pesquisa exploratória que envolve segundo Gil (1991) o levantamento bibliográfico; estudo de documental; entrevistas com pessoas que tiveram ou têm experiências práticas com o problema pesquisado; análise de exemplos que estimulem a compreensão do tema estudado. A população investigada foi dividida da seguinte maneira: ex-professores que contribuíram de forma significativa com a história do CEIER- AB; professores em atividade que tiveram trabalhos reconhecidamente significativos para a comunidade escolar. O trabalho está dividido em três momentos nos quais as questões estudadas são complementares, desde a leitura da obra Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire a produção e análise da historicidade do Centro Integrado de Educação Rural de Águia Branca. O referencial de análise da escola foi os conceitos freireanos da obra em destaque. No primeiro momento foi feito uma leitura da obra Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire analisando os conceitos centrais do autor. A vida e a pedagogia de Paulo Freire são desenvolvidas dentro da perspectiva de como a educação era representada pelo educador em
As entrevistas sobre o CEIER-AB estão relacionadas à história da escola contada por diversas pessoas que participaram de maneira determinante nos rumos da instituição escolar. O método da Filosofia Clínica estabelece que o entrevistado não deva ser interrogado com perguntas que direcionem o assunto, mas, deixam o discurso do partilhante em aberto para que este se torne livre para dizer a partir de si mesmo suas experiências vivenciadas. Packter no Caderno J explica: O filósofo colhe a história da pessoa através da historicidade (método que engloba a fenomenologia, a lógica formal, a epistemologia e a analítica de linguagem). Ou seja, ele procurará ordenar as páginas da vida de tudo quanto à pessoa viveu. Cuidará os saltos lógicos e temporais, além de seguir nos mínimo agendamentos. (PACKTER, Caderno J, p. 10)
No estudo sobre a história do CEIER-AB tomo cada entrevista como tópicos que formam a historicidade da escola. Os relatos foram divididos de maneira horizontal tomando os pontos mais importantes segundo os próprios entrevistados.
Os dados divisórios servem para maior entendimento das questões esparsas, quebradas do contexto, espalhadas e fragmentadas sem um canto de pouso e de referência. Eles dão consistência às informações anteriores, dirimem dúvidas, explicam minúcias das experiências vividas. (PACKTER, Caderno J, p. 12)
A partir dos dados divisórios o momento de enraizamento, ou seja, um aprofundamento epistemológico na busca dos elementos que fundamentam cada discurso. Análise documental serve como auxílio para aprofundar os relatos das entrevistas.
Os enraizamentos (o termo enraizamento surgiu durante as aulas, em substituição ao termo “epistemologia”) são caminhos epistemológicos que levarão a descrições verticais, não mais horizontais como nas Divisões. Freqüentemente, os enraizamentos são efetivados após os dados divisórios, mas podem ser realizados paralelamente. (PACKTER, Caderno J, p. 12).
Os exames das categorias serão feitos ao longo de todo o processo de construção da historicidade do CEIER-AB. Por fim poderemos saber se as categorias freireanas que fundamentam a educação popular se encontram na história do Centro e os desafios para a promoção de uma educação libertadora.
2.1 À Sombra das Mangueiras também se Aprende: A História de Paulo Freire como Matriz da Pedagogia do Oprimido
2.1.1 A infância e juventude
O início da história da vida de Paulo Freire é semelhante à de vários brasileiros. Nasceu numa das regiões mais pobres do país e desde cedo pode experimentar as dificuldades de sobrevivência das classes populares. Sua realidade de pobreza causada pela ganância de uma minoria rica detentora dos meios de produção do país, que produzem fome e desigualdades para manter seus privilégios, influenciou diretamente no que viria a ser uma de suas principais obras, a “Pedagogia do Oprimido”. Filho de Joaquim Temístocles Freire, rio-grandense-do norte e sargento do exército, e de Edeltrudes Neves Freire dona de casa, bordadeira e pernambucana, Paulo Reglus Neves Freire nasceu no dia 19 de setembro de 1921, em Recife, no bairro Casa Amarela, n° 724 da Estrada do Encanamento.
A educação inicial de Paulo Freire deu-se num clima de certa disciplina: “Meu pai”, diria ele mais tarde, viveu sempre a harmonia entre os pólos contraditórios da liberdade e da autoridade. Era um militar, mas não um autoritário. Isso batia muito com a forma de ser de minha mãe, que era, inclusive, muito meiga e muito mansa, nesse sentido, mais do que ele. Ele era também muito afetivo, extrovertido na sua afetividade, mas era menos meigo do que a velha. (GADOTTI, 2001 p20).
Paulo Freire aprendeu a ler com os pais, a sobra das arvores do quintal da casa em que nasceu. Sua alfabetização partiu de suas próprias palavras, das palavras de sua infância, de suas práticas de criança, de sua experiência, fato que influenciaria seu trabalho como educador, anos depois.
Seu giz, nessa época, eram os gravetos da mangueira e cuja sombra aprendia a ler, e seu quadro-negro era o chão. A informação e a formação se davam em um espaço informal, antecedendo e preparando-o para o período escolar. Era a pré-escola vivida, livre, despretensiosa. (GADOTTI, 2001 p20).
Freire, aos seis anos, já estava alfabetizado e entra para a escola particular onde terá sua primeira professora, Eunice Vasconcelos, chamada por ele de “professorinha”. Ela o ensinou a colocar no papel quantas palavras pudesse, para depois formar sentenças e discutir com ele o significado de cada uma delas. Freire foi criando naturalmente uma intimidade e um gosto com as ocorrências da língua – os verbos, seus modos, seus tempos. Em uma publicação da Revista Nova Escola (dezembro de 1995) Freire se expressa nestes temos: “A “Professorinha” só intervinha quando eu me via em dificuldades, mas nunca teve a preocupação de me fazer decorar regras gramaticais.” (GADOTTI, 2001, p.20). Dessa convivência, nasceu uma grande amizade que se prolongou por muitos anos, inclusive durante o exílio, quando os dois trocaram correspondências. A crise econômica de 1929 produziu reflexos muito acentuados no Nordeste. Em busca de melhores condições de vida, seu pai levou a família para a cidadezinha de Jaboatão
consolidando seus trabalhos em educação popular. (ZITKOSKI, 2006, p. 90).
O trabalho de Freire o leva a perceber a importância de partir da realidade do educando para promover uma ação educativa significativa para as pessoas. Em um destes encontros educativos com camponeses, no qual tratava de uma pesquisa que denunciava a relação de castigo e de premio na educação das crianças, fundamentada na teoria de Piaget, Freire terá uma experiência que guardará por toda a vida. Após uma de suas palestras um camponês se expressa nos seguintes termos, comenta Freire (2006):
Acabamos de escutar", começou ele, "umas palavras bonitas do dr. Paulo Freire. Palavras bonitas mesmo. Bem ditas. Umas até simples, que a gente entende fácil. Outras, mais complicadas, mas deu pra entender as coisas mais importantes que elas todas juntas dizem”. "Agora, eu queria dizer umas coisas ao doutor que acho que os meus companheiros concordam.” Me fitou manso mas penetrantemente e perguntou: “dr. Paulo, o senhor sabe onde a gente mora? O senhor já esteve na casa de um de nós?". Começou então a descrever a geografia precária de suas casas. A escassez de cômodos, os limites ínfimos dos espaços em que os corpos se acotovelam. Falou da falta de recursos para as mais mínimas necessidades. Falou do cansaço do corpo, da impossibilidade dos sonhos com um amanhã melhor. Da proibição que lhes era imposta de ser felizes. De ter esperança. Acompanhando seu discurso eu adivinhava os passos seguintes, sentado como se estivesse, na verdade, me afundando na cadeira, que ia virando, na necessidade de minha imaginação e do desejo de meu corpo em fuga, um buraco para me esconder. Depois, silencioso por uns segundos, passeou os olhos pelo auditório inteiro, me fitou de novo e disse: – Doutor, nunca fui à sua casa, mas vou dizer ao senhor como ela é. Quantos filhos tem? É tudo menino?
e até sai dos limites não é porque a gente não ame eles não. É porque a dureza da vida não deixa muito pra escolher (FREIRE, 2006, p. 26-27).
Freire comenta que no primeiro momento não compreende a importância do comentário do camponês para o seu futuro como educador. No entanto, a fala o deixa sensibilizado, pela forma que foi expressa e principalmente por ser algo tão próximo de sua infância pobre em Jaboatão dos Guararapes. Mas, com passar do tempo a fala do camponês foi ganhando significado a se relacionar não apenas com sua infância pobre como com todos os eventos educativos que viria em sua prática pedagógica. Freire explica que cada vez era mais claro a importância de uma educação comprometida com a realidade dos educandos, todo este processo serviu como fundamento para a sua pedagogia. Saindo do SESI Freire se torna professor Universitário. Em 1959 sua filosofia educacional se expressa através de uma tese de concurso para a Universidade do Recife, e mais tarde, como professor de história e filosofia da educação na mesma instituição.A tese defendida por Freire, "Educação e atualidade brasileira” foi um aprofundamento de sua defesa da alfabetização de adultos feita no II Congresso Nacional de Educação de Adultos em julho de 1958, no Rio de Janeiro. Brasileiro (2005) Explica que:
Foi como Relator da Comissão Regional de Pernambuco e autor do relatório intitulado "A Educação de Adultos e as Populações Marginais: O Problema dos Mocambos", apresentado no II Congresso Nacional de Educação de Adultos em julho de 1958, no Rio de Janeiro, que Paulo Freire firmou-se como educador progressista. Este relatório tornou-se um marco na compreensão pedagógica da época, um divisor de águas entre uma educação neutra, alienante e universalizante e uma radicalizada no cotidiano político- existencial dos alfabetizandos e as alfabetizandas não se reduzindo a ele, obviamente. (BRASILEIRO, 2005, p. 129).
A prática pedagógica de Freire extrapola os limites acadêmicos e passa a interferir na vida política ao defender uma educação transformadora da realidade social. Alfabetizar os adultos equivaleria a possibilitar a este à oportunidade de se perceber como construtores de sua própria realidade se libertar do aparente fatalismo de sua condição de analfabeto que o incapacita de agir politicamente.
2.1.2 O Golpe Militar e o Exílio: a elaboração da Pedagogia do Oprimido
No Nordeste brasileiro da década de 50 e início da década de 60, foi um ambiente histórico-político no qual as ideias de Paulo Freire se formaram e se desenvolveram: o período de crise política iniciado com a Revolução de 30 e encerrado com o golpe militar de 64. (GADOTTI, 2001, p.51).
É nesse período que as camadas populares entram no cenário político: são grupos militantes de diversas orientações, consequência do contexto opressor da época, provocado pela política populista e nacionalista. No país cresciam as campanhas de alfabetização que se inseriam nos movimentos sociais em que tinham lugar as Reformas de Base e cresciam as Ligas Camponesas. Estes grupos buscavam transformações estruturais principalmente na área econômica. Entre as suas exigências, a principal era a Reforma Agrária, bandeira de luta dos