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FAZENDO RENDA E TECENDO ORGANIZAÇÃO
Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas
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Dissertação apresentada como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal de Sergipe Linha de Pesquisa: Empreendedorismo Orientadora: Profa. Drª. Manuela Ramos
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE S237f Santos, Flávia Oliveira Fazendo renda e tecendo a organização : um estudo sobre as práticas organizacionais da associação de renda irlandesa de Divina Pastora / Flávia Oliveira Santos ; orientadora Manuela Ramos. – São Cristóvão, SE, 2022. 87 f. Dissertação (mestrado em Administração) – Universidade Federal de Sergipe, 2022.
Ao PROPADM, sou grata pelo acolhimento e por ter contribuído tanto para o meu crescimento pessoal e acadêmico. Aos professores sempre tão disponíveis e solícitos que, com maestria, partilharam seu conhecimento e abraçaram a missão de ensinar e incentivar sempre a busca constante pelo conhecimento. À professora Ludmilla, minha primeira orientadora que, por motivos pessoais, precisou afastar-se temporariamente do programa e, por consequência, da minha orientação. Ainda assim, aceitou participar da minha banca. Obrigada por todo conhecimento partilhado, pelo incentivo à pesquisa e por se mostrar tão disponível para me auxiliar. E também à querida professora Natália que aceitou tão prontamente participar da minha banca, contribuindo tanto para o desenvolvimento e melhoria do trabalho com seus apontamentos e sugestões. Não posso deixar de agradecer à querida orientadora Manuela. Professora, obrigada por toda a paciência, compreensão e parceria durante todo esse tempo. Obrigada por sempre buscar me tranquilizar e por não desistir de mim mesmo quando eu já tinha desistido. Certamente, sem seu apoio e incentivo, eu não teria conseguido. Obrigada por escolher viver sua profissão de forma tão encantadora e inspiradora e obrigada por ter aceitado assumir minha orientação e ter lutado comigo até o fim. Aos colegas do PROPADM, apenas agradeço pela amizade e companheirismo. Obrigada pelos momentos compartilhados, pelos encontros, pelas alegrias e também pelas angústias que partilhamos. Obrigada por viabilizarem um ambiente com tanta união e cumplicidade. Dentro todos, alguns ficaram mais próximos e tornaram-se verdadeiros irmãos: Eúde, Darlane, Felipe, Lucas, Júnior e Jeovana. Obrigada por sempre me ouvirem, me auxiliarem e por toda a parceria sempre que precisei. Aos colegas de trabalho agradeço por todo apoio e auxílio nos momentos em que precisei me ausentar para priorizar a pesquisa. Em especial, agradeço ao Weslan e ao Paulo Henrique por me ouvirem e me ajudarem durante as fases de ansiedade, por todo companheirismo, lealdade e amizade! Por fim, não poderia deixar de agradecer às mulheres que tornaram este trabalho possível: as rendeiras de Divina Pastora. Obrigada por terem aberto a porta da associação para me receber e por compartilharem comigo suas histórias tão inspiradoras e marcantes. Obrigada pela contribuição ao meu trabalho! Muito obrigada!
“ O Senhor os abençoe e os guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre vocês e tenha misericórdia de vocês; o Senhor sobre vocês levante o seu rosto e lhes dê a paz. ” Números 6:24-26 NAA
The main attempts to transform handicrafts as a production system were found among primitive peoples, followed by groups that perform specific activities and even in contemporary times handicrafts play an important social role. Craft production is present throughout the national territory and is recognized as an important expression of local identity and Brazilian cultural diversity, enriching the national symbolic and artistic heritage. Within this context, we come across Irish lace, which is one of the most prominent handcrafted products in the state of Sergipe. Although it is produced in other locations, it is in Divina Pastora that there is the highest concentration of lacemakers and where the activity has greater socio-economic and symbolic importance and that we even find the largest Irish Lace Association in the state: ASDEREN. This research adopted the assumption that organizations are the result of practices and processes. And, in an attempt to cast this look at organizations, in this work, we seek to understand how ASDEREN organizes itself as a result of its practices and processes. As for the methodological procedures of this work, the approach was qualitative, descriptive and exploratory. The research strategy used was the biographical method, by analyzing the oral history of three ASDEREN lacemakers, whose data were collected through in-depth interviews, observation and field diary notes. Although we have proposed to overcome the dichotomous view of organizations, as main results some dichotomies emerged from the lacemakers' narratives: informality/formality; fragmentation/centralization and horizontality/verticality. It was identified that the studied organization oscillates between these dichotomies, but does all this together and at the same time. Here we understand a diverse, dynamic and multifaceted context. Keywords: organizing, Irish Income, organizational practices, ASDEREN.
ASDEREN Associação de Desenvolvimento de Renda Irlandesa de Divina Pastora IG Indicação Geográfica INPI Instituto Nacional de Propriedade Industrial IP Indicação de Procedência IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional PETROBRÁS Petróleo Brasileiro S.A. SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
As principais tentativas de transformação do artesanato como sistema de produção foram encontradas entre os povos primitivos, seguidos por grupos que desempenham atividades específicas (SOUSA, 2015). A autora complementa que ainda nos tempos contemporâneos o artesanato ocupa um papel social importante. No artesanato existe uma pluralidade artística manual que é desenvolvida por pessoas simples, utilizando-se de um saber-fazer transmitido hereditariamente; essa atividade é fonte de renda de diversas famílias e também se constitui como um elemento de identidade sociocultural do estado de Sergipe (PADRÃO, 2013). Ao observarmos o papel social do artesanato e compararmos com a trajetória das rendeiras estudadas neste estudo, notamos que as mulheres rendeiras, pela sua produção de rendas, adquirem autonomia financeira e entre outros aspectos culturais, passam a ter o status de artesãs e trabalhadoras, em virtude da valorização da atividade produtiva na contemporaneidade. Enfim, essa transformação permite a esse conjunto de mulheres migrar do status de domésticas (do lar) para o status de artesãs (trabalhadoras) (SILVEIRA, CAMPOS. MIGUEL, 2019). Por meio do artesanato muitas dessas mulheres puderam conquistar autonomia e emancipação. Não é incomum se deparar com os relatos de mulheres que puderam custear seus estudos e os de seus filhos, outras que adquiriram independência financeira. Independente de qual tenha sido a conquista, é inegável a ascensão da representatividade que essas mulheres adquiriram a partir da prática artesanal. A produção artesanal está presente em todo o território nacional e é reconhecida como uma expressão importante da identidade local e da diversidade cultural brasileira, enriquecendo o patrimônio simbólico e artístico nacional. Além disso, o artesanato representa também uma atividade econômica relevante, que gera inúmeras ocupações, seja na produção, seja na comercialização dos produtos (SEBRAE, 2021). Diante desse contexto, podemos mencionar a Renda Irlandesa, que se desenvolveu a partir do final do século XIX no nordeste brasileiro e de forma predominante a partir do século XX em Divina Pastora e em outros municípios do estado de Sergipe, como Laranjeiras, Rosário do Catete, Riachuelo, Santa Rosa de Lima, São Cristóvão, Maruim e Aracaju (AMARAL, 2011; SILVA, 2016; OLIVEIRA, 2018). É válido ressaltar que a Renda Irlandesa
é um dos produtos artesanais de maior destaque no estado de Sergipe (SILVEIRA; CAMPOS; MIGUEL; 2019). Embora seja produzida em outras localidades de Sergipe, é em Divina Pastora que há a maior concentração de rendeiras e onde a atividade tem maior importância socioeconômica e simbólica (IPHAN, 2018). Diante de sua importância para o estado – e país – a Renda Irlandesa confeccionada em Divina Pastora passou a ser interesse de estudo de pesquisadores, principalmente dos campos da História e Museologia. No entanto, acredita-se que o estudo desse objeto pode, e deve, ser mais explorado no campo dos Estudos Organizacionais. Dito isto, é válido chamar atenção para o fato de que este campo de estudos paulatinamente distanciou-se daquilo que as pessoas fazem em seu cotidiano organizacional e consequentemente passou a teorizar e modelar as organizações de forma muito abstrata (BARLEY, KUNDA, 2001; GHERARDI, 2000; GEIGER, 2009; SANTOS, ALCADIPANI, 2015). Possas (2015) nos leva a refletir que, muitas vezes, não vem à nossa mente a forma pela qual as organizações acontecem e na tentativa de mentalizar esse processo, nos passa despercebido que as organizações precisam de pessoas para que seja mantida. Diante disso, a autora faz alguns questionamentos: se as pessoas não existissem, as organizações seriam possíveis? De certa forma, essa questão contradiz o conhecimento que tem se acumulado nas teorias organizacionais tradicionais, nas quais a organização é entendida como um conjunto de pessoas que compartilham um objetivo em comum e usam a organização como um meio para atingi-lo (CZARNIAWSKA, 2013). Nessa linha de pensamento, muitas vezes a organização é entendida como algo fixo, estável e concreto (PECI, 2003). Diante disso, as organizações são desvinculadas das ações humanas, distanciando, dessa forma, as teorias tradicionais dos estudos que enfocam as pessoas e seus afazeres cotidianos (SANTOS, ALCADIPANI, 2015). Tendo em vista que nas últimas décadas o campo focou extremamente em aspectos formais e estáticos das organizações, Schatzki (2005) ressalta a importância de voltar o olhar para o que é concretamente feito (dito, pensado, sentido) em tempo real no desenrolar das atividades organizacionais. Dessa forma, sem se preocupar em definir as organizações, deve-se entender que estas são formadas por comportamentos repetitivos, recíprocos e contingentes, que se desenvolvem e são mantidos entre dois ou mais atores (WEICK, 1973). Para Weick (1973), a organização não é uma entidade fixa, controlável, estável e reificada, mas, ao contrário, se constitui de práticas e processos. Dessa forma, as organizações
Diante de tudo que foi exposto até então, fica evidente que a Renda Irlandesa e a Associação de Renda Irlandesa de Divina Pastora têm grande importância no cenário socioeconômico e cultural de Sergipe, bem como do Brasil. Isso fica evidente não somente por meio do vislumbre da história de desenvolvimento deste artesanato no estado, mas também por todos os prêmios e realizações alcançadas pela ASDEREN, como por exemplo, o título de Patrimônio Cultural Imaterial (IPHAN, 2018), o selo de Indicação Geográfica e também o prêmio TOP 100 de artesanato do SEBRAE (ASSIS FILHO, 2018; SILVEIRA, CAMPOS, MIGUEL, 2019). Mesmo com o interesse crescente de pesquisadores neste objeto de estudo, identificam-se algumas lacunas que podem auxiliar no avanço da compreensão das associações, das atividades das rendeiras, e também do que pode ser feito para preservar esta atividade no estado, como pode ser observado em Martins e Almeida (2010) e Amaral (2011). Levando-se em consideração o fato de que o município de Divina Pastora se destaca dos demais municípios do estado na produção deste artesanato (DANTAS, 2001; AMARAL, 2011; SILVEIRA, CAMPOS, MIGUEL, 2019), é válido ressaltar que pouco foi produzido buscando compreender os processos e agentes que fizeram (e fazem) com que a Renda Irlandesa passasse a ser um dos principais produtos artesanais de Sergipe, tornando o estado, inclusive, referência nacional na produção dessa renda. Para preencher essa lacuna acredita-se nas contribuições do organizing (WEICK, 1969; CZARNIAWSKA, 2008a, 2008b), que, com seu foco de análise a partir do organizar (ALCADIPANI, TURETA, 2008) representa esforços de pesquisa para entender as organizações “como elas acontecem” (SCHATZKI, 2005), sugerindo uma lente temporal e processual. Por outro lado, acredita-se que a perspectiva das Práticas Organizacionais (SCHATZKI, 2002, 2005) contribui para esta pesquisa com sua noção de práticas, arranjos materiais e agentes (humanos e não humanos). A partir das considerações precedentes, adotam-se duas questões essenciais, no campo dos estudos organizacionais (POSSAS, 2015), como ponto de partida: a) ‘o que é a organização?’; e, b) ‘como compreender as organizações na perspectiva do conceito de organizing ?’. Apesar de esses questionamentos não serem inéditos no campo dos estudos organizacionais, esta pesquisa se diferencia no sentido de que ao adotar uma perspectiva interpretativa, deixando de lado uma abordagem meramente descritiva das organizações, busca-se uma aproximação entre o teórico e o empírico para responder à questão orientadora
deste trabalho: Como se constitui o organizing da ASDEREN por meio de suas práticas e processos? 1.2 OBJETIVOS 1.2.1 Objetivo Geral O presente estudo tem como objetivo compreender como a ASDEREN se organiza como resultado de suas práticas e processos. 1.2.2 Objetivos Específicos Nesse intuito, têm-se os seguintes objetivos específicos: ● Identificar os agentes/atores que se relacionam com as práticas da ASDEREN; ● Entender os papéis dos atores e as relações formadas no cotidiano da ASDEREN; ● Entender as práticas organizacionais realizadas pela ASDEREN. 1.3 JUSTIFICATIVA O intuito de estudar a confecção e desenvolvimento da Renda Irlandesa foi contribuir de alguma maneira para a diminuição da sua desvalorização, ressaltar a falta de reconhecimento desse artesanato e, ainda, propor um espaço de continuidade para essa atividade no estado, garantindo às rendeiras ganhos mais condizentes com a riqueza do trabalho que executam (MARTINS; ALMEIDA, 2010). Concorda-se também com as autoras a respeito da importância de incentivar o fortalecimento do associativismo entre as rendeiras. Diante de tantas conquistas, mencionadas anteriormente, a Renda Irlandesa confeccionada em Sergipe passou a ser interesse de estudo de muitas pesquisas, principalmente dos campos da História e Museologia, como pode ser observado em Amaral (2011); Mello e Silva (2014); Silva (2016) e Oliveira (2018). Esses e outros estudos (MARTINS, ALMEIDA, 2010; SOUSA, 2015; ASSIS FILHO, 2018) visam apresentar, descrever e/ou sugerir formas de preservar e salvaguardar a Renda Irlandesa no estado, devido