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Guias e Dicas
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Estado Moderno e capitalismo, Esquemas de Teoria Geral do Estado

Estado moderno: governa e capitalismo: rege; entrelaçados, moldam o tecido social.

Tipologia: Esquemas

2022

Compartilhado em 18/04/2024

thiago-willen
thiago-willen 🇧🇷

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Baixe Estado Moderno e capitalismo e outras Esquemas em PDF para Teoria Geral do Estado, somente na Docsity!

Será que a questão ambiental das mudanças no clima globai exige novas formas de teorização sociológica? io Capitulo 1, vimos que, como outras disciplinas científicas, os sociólogos precisam fazer interpretações abstratas - teori para explicar uma variedade de fatos e evidências que coletam em suas pesquisas. Também precisam adotar uma abordagem teórica no começo de seus estudos empíricos se quiserem formular perguntas de pesquisa adequadas e restringir a busca por evidências, Todavia, a teorização sociológica não ocorre em um vácuo fora da sociedade mais ampla. Isso fica claro a partir das questões colocadas pelos fundadores da disciplina, que eram intimamente ligadas a algumas das principais questões sociais do momento. Por exemplo, Marx buscou explicar a dinâmica da economia capitalista e as causas da pobreza e da desigualdade social. Os estudos de Durkheim investigaram o caráter da sociedade industrial e o processo de secularização. Weber tentou explicar a emergência do capitalismo e as consequências de formas modernas de organi: O burocrática. E todos os três se preoctpavam em entender o gue era único em relação às sociedades modernas e para onde elas se dirigiam. Algunssociólogos continuam a se interessar atualmente por essas “grandes questões”. Anthony Giddens 1750 Ellósoios da Huminismo europeu (1750-1609) 1800 Augusto Comte (1798-1857) Harriet Martineau (1802-1876) 1850 Kart Marx (1818-1883) Herbert Spencer (1520-1903) 1900 Emite Durkheim (1858-1917) Max Weber (1864-1920) Georg Simmel (1858-1918) Edmund Nusserl (1859-1938) 1939 George H. Mead (1863-1931) Alfred Schutz (1899-1959) Escola de Chicago (19205) Antonio Gramsci (1891-1937) 4940 — Talcott Parsons (1902-1979) Escola de Frankiurt (1930) Simone de Beauvoir (1908-1986) 4950 Robert Merton (1910-2003) 1960 — Erving Gofiman (1922-1982) Betty Friedan (1921-2008) Howard Becker (1928--) Harold Gartinkel (1917-) Norbert Elias (1897-1990) 1970 virgen Habermas (1929-) Michel Foucault (1926-1984) 1980 Pierre Bourdieu (1930-2002) Immanuel Wallerstein (1930- ) Jean Baudriliard (1929-2007) 1990 Anthony Giddens (1938) Ultich Beck (1944--) Judith Butter (1956-) Vandana Shiva (1952- ) Zygmunt Bauman (1925- ) 2000 Manuel Castelis (1942 ) Legenda: Teóricos associados ou inspirados pelas diferentes perspectivas sociológicas são identificados conforme a seguir: Pensadores filosóficos Funcionalismo Marxismo Interacionismo Feminismo Pós-modernismo/pós-estruturalismo B Sínteses teóricas namo Figura 3.1 Cronologia dos principais teóricos e escolas da sociologia, 1750-2000. tado das ideias do Iluminismo europeu da metade do século XVIIL, que desafiaram autoridades religiosas e tradicionais e promoveram noções filosóficas e científicas de razão, racio- nalidade e pensamento crítico como as chaves para O pro- gresso nas questões humanas. “* Os filósofos do Iluminismo consideravam que o avanço do conhecimento seguro nas ciências naturais, particular- mente em astronomia, física e química, indicava o caminho para o estudo da vida social, O físico inglês Sir Isaac Newton (1643-1727) é identificado como um cientista exemplar, cujas noções de Lei Natural e método científico agradaram os estudiosos do uminismo, que argumentavam que essas leis também poderiam ser encontradas (e deviam ser procuradas com métodos semelhantes) na vida social e política. Positivismo e evolução social Augusto Comte considerava a ciência da sociedade (que deno- minou “sociologiz”) essencialmente semelhante à ciência natu- ral. Sua abordagem positivista baseava-se no princípio da ob- servação direta, que podia ser explicado por afirmações teóricas baseadas no estabelecimento de generalizações causais, como leis. A tarefa da sociologia, segundo Comte, era adquirir conhe- cimento seguro sobre o mundo social para fazer previsões so- bre ele e, com base nessas previsões, intervir para moldar a vida social de maneira progressista. A filosofia positivista de Comte foi claramente inspirada pelo, segundo ele, fabuloso poder pre- ditivo das ciências naturais. Qualquer pessoa que já tenha assis- tido (provavelmente na televisão) os ônibus espaciais da NASA. decolarem e passarem dias em órbita ao redor da Terra antes de aterrissarem como um avião testemunhou esse poder preditivo em ação, Pensar sobre os diferentes tipos de conhecimento exa- to que são necessários para realizar esse feito da ciência e da en- genharia mostra por que as ciências naturais são tão veneradas. Porém, será que é possível obter esse conhecimento pre- ditivo confiável em relação aos seres humanos? A maioria dos sociólogos atualmente acredita que não, e poucos usariam o termo “positivista” para descrever o seu próprio trabalho. Pro- vavelmente, a principal razão por que tantos sociólogos rejei- tam o positivismo de Comte é que eles consideram a ideia de moldar e controlar as pessoas impossível, potencialmente pe- rigosa, ou ambas. Críticos dizem que os seres humanos, que têm consciência de si mesmos, não podem ser estudados da mesma maneira que, digamos, os sapos, pois são capazes de agir de maneira que frustram nossas previsões sobre eles. Po- rém, mesmo se Comte estivesse certo e os humanos pudessem ser estudados cientificamente, seu comportamento fosse pre- visto e fossem realizadas intervenções para direcioná-lo em direções positivas, quem decidiria o que constitui uma “dire- ção positiva”? Os próprios cientistas? Políticos? Autoridades religiosas? O século XX assistiu a muitas tentativas de contro- lar populações humanas, incluindo as de regimes comunistas linha-dura baseados no “marxismo cientifico” e em governos fascistas baseados em teorias de “racismo científico” para jus- tificar assassinatos em massa, Os cientistas sociais não podem desconhecer as horrorosas consequências humanas desse uso de teorias científicas, e existe um ceticismo crescente sobre a noção de Comte da sociologia como uma ciência preditiva. Entretanto, embora Comte não seja particularmente es- timado pela maioria dos sociólogos atualmente, é importante lembrar seu papel formativo em estabelecer o argumento em favor de uma ciência da sociedade. E Ver õ Capítulo 1,º0 que é sôniologia?”; pára tina: Ra ; discússão mais âmpla das ideias de Comte; As ideias de Comte foram extremamente influentes, e sua teoria do desenvolvimento das ciências foi uma inspira- ção para outros pensadores que trabalhavam com teorias do desenvolvimento social evolutivo. Comte considerava que a ciência atravessa três estágios: o teológico (ou religioso), o metafísico (ou filosófico) e, finalmente, o positivo (ou cientt- fico), e cada estágio representava uma forma de desenvolvi- mento mental humano. Ele argumentava que a história das ciências demonstrava esse padrão de movimento, com a vida social sendo a última área a adentrar o estágio positivo, e a sociologia coma a disciplina final. O filósofo e sociólogo inglês Herbert Spencer (1820-1903) baseou-se nas ideias de Comte e foi um dos primeiros a dizer que, assim como o mundo da natureza estava sujeito à evolução biológica, as sociedades estavam sujeitas à evolução social. Esta assumia a forma de diferenciação estrutural — pela qual as so- ciedades simples se transformam com o tempo em formas cada vez mais complexas, com uma variedade cada vez maior de ins- tituições sociais separadas; e adaptação funcional - a maneira em que as sociedades se adaptam ao seu ambiente. Spencer ar- gumentava que era por meio da diferenciação estrutural que as sociedades se tornavam mais adaptadas no sentido funcional, Sociologia É e as sociedades industriais do século XIX essencialmente esta- vam demonstrando uma forma de evolução social, emergindo das sociedades mais estáticas e hierárquicas que as precederam. Spencer também acreditava que o princípio da “sobrevivência do mais forte” se aplicava à evolução social tanto quanto à bioló- gica, e não concordava com a intervenção estatal para amparar os vulneráveis ou desprivilegiados (Taylor, 1992), Embora a teoria de Spencer da evolução social seja am- plamente conhecida e seus livros fossem bem recebidos na sua épaca, como muitas outras teorias evolutivas em socio- logia, no final do século XX, sua obra caiu em declínio na disciplina, e poucos cursos de sociologia hoje fazem mais do que uma referência rápida a ele. Seu destino está em ní- tido contraste com outro grande teórico do século XIX, Karl Marx, cuja influência, não apenas na sociologia, mas também na própria história do mundo, é difícil de subestimar. Karl Marx: a revolução capitalista No Capítulo 1, foram introduzidas as ideias básicas de Marx sobre o conflito de classe e a mudança social e, neste ponto, talvez seja bom revigorar seu conhecimento sobre elas. Marx e seu colaborador, Friedrich Engels, nunca se consideraram sociólogos profissionais. Todavia, eles buscaram uma com- preensão científica da sociedade e, a partir dela, uma explica- ção para a mudança social de longo prazo. Marx considerava que a emergência de seu trabalho científico social marcava um rompimento com a filosofia e as formas filosóficas de pensamento, Ele argumentava que “os filósofos apenas inter- pretaram o mundo de várias maneiras, a questão, porém, é mudá-lo”, Seu interesse e comprometimento com a classe ope- Tária europeia estavam intimamente ligados aos seus estudos do capitalismo e de seu funcionamento. A abordagem teórica de Marx: materialismo histórico O trabalho de Marx é importante para a sociologia por várias razões, e encontraremos referências a ele no decorrer deste li- Yro, mas iremos nos concentrar em apenas um aspecto neste capítulo: sua análise do capitalismo, que faz parte da sua teo- ria mais ampla da luta de classe como a força motriz da histó- ria. Essa “grande teoria” formou a base para muitos estudos e avanços teóricos posteriores em sociologia e nas ciências so- ciais. Notavelmente, as ideias “marxistas” também formaram a base para muitos movimentos políticos e governos do século XX, incluindo os regimes comunistas da antiga União Soviéti- ca, do Leste Europeu, de Cuba, do Vietnã e da China. A perspectiva teórica de'Marx às vezes é chamada de ma- terialismo histórico; talvez de um modo mais preciso, ela é uma concepção materialista da história. Isso significa que Marx se opõe ao idealismo, uma doutrina filosófica que diz que o desen- volvimento histórico das sociedades é motivado por ideias ou ideais abstratas, como liberdade e democracia. Ao invés disso, Marx argumenta que as ideias e ideais dominantes de uma era são reflexos do modo de vida dominante, especificamente do modo de produção de uma sociedade. Por exemplo, em uma era em que reinavam monarcas absolutos, não é de surpreen- der que as ideias dominantes sugerissem que os reis e rainhas tinham o “direito divino [de Deus] de governar”; em nossa pró- 65 O aparente "fracasso" das classes irabalhadoras europeias em suas tentativas de derrubar o capitalismo e instalar regimes co- munistas, a ascensão do fascismo e do nazismo na década de 1930 e a “deturpação” do comunismo na URSS e em seus alia- dos trouxeram um dilema para os marxistas. Será que a teoria de Marx ainda é adequada para se entender o desenvolvimento do capitalismo ou não? Se for, uma forma ortodoxa de mandsmo permanece valiosa. Se não for, serão necessárias novas formas de teoria marxista (neomarsismo), que talvez tenham que romper com algumas das ideias originais de Marx. O pensamento marxista, de fato, desenvolveu-se em várias direções no decorrer do século XX, particularmente entre os "mar- xistas ocidentais”, que rejeitavam a versão soviética de comunismo fKolakowski, 2008]. Um grupo de marxistas foi particularmente influente dentro do marxismo — a escola de teoria crítica de Frank- furt. Centrados originalmente no Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, sob direção de Max Horkheimer, muitos teóricos críticos Íoram forçados a sair da Alemanha quando os nacional-socialistas expulsaram por volta de um terço dos funcionários da universida- de, resultando em sua mudança para a Europa e para os Estados Enidos. Os nazistas enfraqueceram as universidades sistematica- menie e removeram ou forçaram muitos intelectuais judeus a sair. Ei Neomarxismo: a teoria crítica da Escola de Frankfurt Com base nas ideias de Marx, em Freud e na filosofia de Im manuel Kant, a Escola de Prankiuzt produziu uma sérié de estudos importantes sobre capitalismo, fascismo, cultura de massa & sobre a. sociedade de consumo emergente nos Estados Unidos. Por exemplo; Theodore Adomo [1976 [1950] e seús colegas analisaram à emer- gência e a popularidade do fascismo como conseguêngia em parte, da ascensão de um tipo de personalidade antoritária: stsceptivel: às atrações de um líder forte. Herbert Marcuse, err O Homer uni dimensional (1964), distinguiu as necessidades humanas; reais 6: as muitas “alsas* necessidades produzidas pela forma conisuinista: de capitalismo industrial e suas propagandas sedutoras, que supri= mam a capacidade das pessoas de pensar criticamente, Produzin- do, em seu lugar, uma forma unidimensional e acrítica de pehsar.: Em estudos como esse, podemos ver os pensadores de Frank furt tentando entender uma forma muito diferente de Capitalisinio, em relação âquela que Marx havia investigado. Ao mesmo tempo a; visão inarxista otimista de uma revolução da classe operária come Gou a se desvanecer, à medida que os obstáculos à revolução paré- ciarm aumentar nas sociedades capitalistas centradas no coniuino O último teórico crítico a exercer alguma influência rá so- ciologia & o filósofo social alemão Júrgen Habermas. Entre outras coisas, Habermas criou uma teoria da "ação comunicativa” pa- A ascensão do fascismo na Europa forçou os marxistas ocidentais a repensarem as ideias de Marx. Sociologia + Anthony Giddens seada na noção enganosamente simples de que, quando as pes- soas dizém coisas umas para as outras (ele chama isso de “atos da fala”), elas esperan ser entendidas. Porém, na maior parte dó tempo, argumenta o autor, as relações de poder assimétricas na sociedade atuam sistematicamente para distórcer essa comuni- cação, dando vazão a mal-entendidós fundamentais e à falta de debate e comunicação genuinos: À solução é não abandonar os modos modernos de pensamento racional, como alguns pensa- dores pós-Mmodemos sugerem, mas aprofundar a nossa moder- nidade: defendendo e ampliando a dernocracia & elimiriando as enormes desigualdades de póder e status que imipedem a comu- uma narrativa ardente do capitalismo. Em seus primeiros cem anos, ele “criou forças produtivas mais massivas e mais colossais do que todas as gerações anteriores juntas” (Marx e Engels, 2001[1848]). O capitalismo é um modo de pro- dução genuinamente revolucionário. Porém, esses avanços baseiam-se na terrível exploração de trabalhadores e, con- sequentemente, na alienação inevitável e endêmica da força de trabalho industrial. Assim como o feudalismo, Marx esperava que o capitalis- mo abrisse espaço para outro modo de produção, o comunis- mo, gerado por trabalhadores descontentes que desenvolveriam uma consciência de classe (uma percepção da sua posição ex- plorada) na quai a propriedade privada é abolida e se estabe- lecem relações sociais comunais. Ao contrário do comunismo primitivo, contudo, o comunismo moderno teria à sua disposi- ção todos os benefícios do sistema capitalista altamente produ- tivo. Essa seria uma forma avançada, humana e sofisticada de comunismo, que seria capaz de cumprir o princípio comunista, que diz “de cada um, conforme sua [sic] capacidade, a cada um, conforme sua necessidade” (Marx, 1978[1875]). Avaliação A teoria do capitalismo de Marx é importante para a socio- logia. Ela desafiou a antiga premissa de que os problemas causados pela industrialização podem ser resolvidos dentro do próprio sistema. Para Marx, uma teoria do industrialismo per se não faz sentido. O desenvolvimento industrial exigiu a participação de industrialistas, que eram empreendedores ca- pitalistas. Entender o sistema industrial, conforme debatido e discutido por Comte e Spencer, também significa entender as novas relações sociais estruturais: relações sociais capita- listas, favorecendo uns poucos e desprivilegiando a maioria. A perspectiva de Marx também é um lembrete valioso de que fábricas, oficinas e escritórios, juntamente com computado- res, robôs e a internet, não se materializam simplesmente a partir do ar. Elas são os produtos de relações sociais, que po- dem estar repletas de conflitos, ao invés de harmonia Marx também mostra que a grande teorização pode ser de proveito. O conceito de modo de produção é valioso, pois nos permite colocar a confusão de evidências históricas em um arcabouço comum, que é mais fácil de entender. Muitos cientistas sociais trabalham dentro desse arcabouço, am- pliando, refinando ou criticando-o desde a morte de Marx. Muitos continuam a fazê-lo mesmo hoje em dia. Embora a teoria de Marx possa ter falhas, a maioria dos sociólogos con- nicação humana adequada. Hahermas continva a trabalhar até hoje na tradição da teoria crífica neomanásta. . Desde o colapso do bloco de paises comunistas do Leste Eu+ Fopeu, após a queda do muro de Berlim, em 1989, e o final do ré- gime comunista da União Soviética, em 1991, as iúsias de Marx, é as teorias marxistas em geral, perderam espaço na sociologia: Al- guns thegaram a falar de uma crise no pensamento marxista como tésultado do fim do socialismo & do comunismo existentes (Garn-. ht, 1999 Todavia, uina análise marxista máis ampla das econo- mias capitalistas continua à desempenhar um papel importante em debates sobre os remos da inudança Social contemporânea. - REFLEXÃO CRÍTICA Qual é sua resposta à questão de por que a revolução co- munista, conforme prevista por Marx, não se materializou? Liste todos os fatores que podem ter impedido que a classe trabalhadora se rebelasse contra o capitatismo. Qual é a seriedade da ausência de uma revolução no estilo marxista para a teoria marxista? Podemos dizer hoje que a teoria foi definitivamente refutada? corda que a descoberta dessas falhas tem sido imensamente frutífera para os sociólogos como um todo. Entretanto, a obra de Marx também ilustra o principal problema com as grandes teorias — ou seja, a dificuldade de submetê-las ao teste empírico. Como pode essa tese ser testada contra as evidências existentes? O que teríamos que descobrir para provar de maneira conclusiva que ela está errada ou para refutá-la? O fato de que não houve — ainda — uma revolução comunista nos países muito industrializados mostra que a previsão central da teoria estava enganada? No caso positivo, isso também significa que outros aspec- tos dela estão no mesmo rumo equivocado? E o que dizer da abordagem materialista histórica em geral — ela também está fatalmente equivocada? Quanto tempo devemos es- perar para que a revolução aconteça, antes de descartar a teoria? Outros marxistas tentaram explicar exatamente por que não houve uma revolução comunista global e, desse modo, foram forçados a modificar as ideias de Marx. A se- ção “Estudos clássicos 3.1” analisa um grupo especialmente influente, cujas teorias influenciaram o desenvolvimento da sociologia do conflito. Fundando a sociclogia. Comte, Spencer, Marx e autros teóricos pioneiros estabelece ram as bases para o desenvolvimento da sociologia. Porém, no período em que viveram, não havia uma disciplina formal de sociologia, e o tema não tinha nenhuma presença insti- tucional dentro das universidades. Para que a sociologia se tornasse parte da “hierarquia das ciências” de Comte, ela pre- cisaria construir seu lugar juntamente com as ciências natu- rais na academia, onde se pudesse oferecer uma formação so- ciológica aos estudantes. Em suma, a sociologia precisaria se tornar respeitável, e o trabalho de Emile Durkheim na França fez muito no sentido de alcançar esse objetivo. Mesmo assim, Anthony Giddens Parsons combinou as ideias de Durkheim, Weber e Vol- fredo Pareto com sua própria forma de funcionalismo es- trutural, que começou a partir do conhecido “problema da ordem social” (Lee e Newby, 1983). Esse problema pergunta como uma sociedade consegue se manter quando todos os individuos que a compõem estão interessados apenas em si mesmos e buscam realizar suas próprias vontades e neces- sidades, muitas vezes à custa dos outros. Filósofos como Thomas Hobbes (1588-1679) responderam dizendo que à emergência do Estado moderno, com todos os seus poderes de polícia e militares, era o fator crucial. O Estado protegia todos os indivíduos uns dos outros e de inimigos externos mas, em retorno, os cidadãos deveriam aceitar o direito legi- timo do Estado de exercer seus poderes. Havia um contrato informal entre o Estado e cada indivíduo. Parsons rejeitava essa solução. Ele acreditava que a con- formidade das pessoas com as regras sociais não era produzi- da apenas pelo medo negativo da punição; pelo contrário, as pessoas se conformavam de maneira positiva, ensinando aos outros regras morais e normas de comportamento da socieda- de, Esse comprometimento positivo com uma sociedade orde- nada mostra, diz Parsons, que as regras sociais não são apenas uma força externa que age sobre os indivíduos, mas são inter- nalizadas no processo contínuo de socialização. A sociedade não está apenas “lá fora”, mas existe também “aqui dentro”. Depois de estabelecer a primazia da compreensão .socio- lógica da ordem social, Parsons voltou sua atenção para o fun- cionamento do próprio sistema social. Para fazer isso, ele criou um modelo baseado em identificar as necessidades do sistema, conhecido como paradigma AGIL (Parsons e Smelser, 1956). Parsons argumentava que, para que um sistema social conti- nue, existem quatro funções básicas que ele deve cumprir. Pri- meiramente, ele deve ser capaz de se adaptar ao seu ambiente e de reunir recursos suficientes para tal. Em segundo lugar, deve estabelecer e implementar objetivos a serem alcançados e os mecanismos para a sua realização. Em terceiro, o sistema deve ser integrado e os vários subsistemas devem ser coordenados efetivamente, Finalmente, o sistema social deve ter maneiras de preservar e transmitir seus valores e cultura para as novas gerações. Em termos menos abstratos, Parsons considerava que 0 subsistema econômico tinha uma função adaptativa, o sub- sistema político tinha a função de estabelecer os objetivos da sociedade e os meios para alcançá-los, o subsistema da co- munidade (“comunidade social”) fazia um trabalho integrati- vo, e o subsistera educacional (juntamente com outras agên- cias socializantes) transmitia a cultura e valores - a função de latência (ver a Figura 3.2). De maneira clara, o funcionalismo estrutural de Parsons era uma forma de teoria de sistemas, que tendia a atribuir prioridade ao sistema em geral e suas “necessidades” Porém, ele sempre era vulnerável à acusação de que enfatizava demais o consenso e a concordância, pres- tando menos atenção em conflitos de interesse fundamentais e processos interacionais de pequena escala, pelos quais a or- dem e desordem social são produzidas e reproduzidas. A ta- refa de resolver esses problemas passou para Robert Merton, que buscou uma versão do funcionalismo de Parsons, mas o fez de um modo muito mais crítico. Conforme já mencionamos antes, Merton acreditava que, embora muitos estudos sociológicos se concentrassem no nível macro da sociedade como um todo ou no nível mi- cro das interações sociais, essa polarização não conseguiu “preencher as lacunas” entre os níveis macro e micro. Para corrigir isso, Merton defendia teorias intermediárias em cer- tas áreas ou sobre temas especificos. Um exemplo excelente do seu próprio trabalho é o estudo da criminalidade e desvios O sistema social FUNÇÃO DE ADAPTAÇÃO Subsistema econômico FUNÇÃO DE CONSECUSSÃO DE OBJETIVOS Subsistema político FUNÇÃO DE LATÊNCIA Subsistema de educação/ocalização [o FUNÇÃO INTEGRATIVA Subsistema da comunidade Figura 3.2 O esquema AGIL de Parsons. Qual é a principal função social de cerimônias e rituais que cumpra funções semelhantes nas soctedailes moer: de conduta na classe trabalhadora. Ele queria explicar por que havia tantos crimes gananciosos entre as classes traba- lhadoras. Sua explicação era que, na sociedade norte-ameri- cana, que promove o objetivo cultural do sucesso material, mas oferece pouquíssimas oportunidades legítimas para gru- pos das classes sociais inferiores, a criminalidade na classe trabalhadora representava uma adaptação às circunstâncias sociais em que muitos jovens se encontram. Porém, o fato de que queriam alcançar o tipo de sucesso material que o siste- ma promovia também significava que essas pessoas não eram más ou incapazes de serem reformadas. Pelo contrário, era a estrutura da vida social que precisava de reforma. Essa tese mostra que Merton não apenas seguiu a versão de Parsons do funcionalismo, mas tentou desenvolvê-lo em novas direções. Desse modo, sua perspectiva se aproximou mais da teoria do conflito. Ele distinguia as funções mani- festas e latentes: as primeiras são consequências observáveis da ação, ao passo que as segundas são aqueles aspectos que permanecem tácitos. Estudando as funções latentes, Merton dizia, podemos aprender muito mais sobre a maneira como as sociedades funcionam. Por exemplo, podemos observar uma dança da chuva entre povos tribais, cuja função mani- festa parece ser fazer chover. Porém, se olharmos mais fundo, podemos ver que a dança da chuva muitas vezes falha, mas da chuva? Você consegue pensar em atguma cerimônia continua a ser praticada mesmo assim, pois sua função Jaten- te é construir e manter a solidariedade grupal, De maneira semelhante, onde Parsons se concentrava nos aspectos funcionais das instituições e em formas legítimas de comportamento na sociedade, Merton argumentava que eles também continham certos elementos disfuncionais. À existên- cia de disfunções permitiu que Merton discutisse o potencial de conflito dentro da sociedade, de maneiras que Parsons não fez. Ver o Capítulo 21, “Crime e desvio”, para uma discussão e crítica mais detalhadas das ideias de Merton. O que foi feito do funcionalismo estrutural? Após a morte de Parsons, em 1979, Jeifrey Alexander (1985) tentou revisitar e revitalizar sua abordagem, visando resolver suas falhas teóricas para torná-la mais proveitosa para a sociologia moderna. Porém, em 1997, mesmo Alexander se viu forçado a aceitar que as contradições internas do neofuncionalismo significavam que ele estava acabado. Ao invés disso, ele de- fendeu uma nova reconstrução da leoria sociológica para além do funcionalismo (Alexander, 1997). O funcionalismo estrutural parsoniano, para todas as pretensões e propósitos, pelo menos por enquanto, está extinto da sociologia vigente. Sociologia Os puritanos querem seguir uma vocação. Somos forçados a fazê-lo. Pois quando o ascetismo saiu das celas monásticas para a vida cotidiana, e começou a domi- nar a moralidade mundana, ele fez a sua parte em construir o tremendo cosmos da ordem econômica moderna.... Desde que o ascetismo começou a remodelar o mundo e a nele se desenvolver, os bens materiais adquiriram um poder cada vez maior e finalmente inexorável sobre a vida dos homens, como em nenhum período anterior da história.... A ideia do dever na vocação ronda nossas vidas como o fantasma de crenças religiosas mortas. (1992, p. 182) Avaliação A teoria de Weber tem sido criticada por muitos ângulos. Alguns argumentam, por exemplo, que a perspectiva que ele chamava de “o espírito do capitalismo” pode ser identifica- da nas primeiras cidades mercantes italianas do século XIE, muito antes de se ouvir falar em calvinismo. Outros afirmam que a noção fundamental de “trabalhar em uma vocação”, que Weber associou ao protestantismo, já existia nas crenças católicas. Ainda assim, os elementos essenciais da visão de Weber ainda são aceitos por muitos, e a tese que ele defen- dia permanece tão audaz e esclarecedora quanto na época em que foi formulada. Se a tese de Weber é válida, o desenvolvi mento econômico e social moderno foi influenciado decidi- damente por algo que, à primeira vista, parece muito distante dele - um conjunto de ideais religiosos. Isso é algo que Marx não enxergou deniro das relações econômicas capitalistas. A teoria de Weber cumpre vários critérios importantes do pensamento teórico em sociologia. Primeiramente, ela é contraintuitiva -sugere uma interpretação que rompe com aquilo que sugeriria o senso comum. Assim, a teoria desen- volve uma perspectiva nova sobre as questões que aborda. A maioria dos autores antes de Weber quase não pensava na possibilidade de que ideias religiosas pudessem ter exercido um papel fundamental na origem do capitalismo. Em segun- do lugar, a teoria dá sentido a algo que, de outra forma, se torna intrigante: por que os indivíduos quereriam viver fru- galmente enquanto fazem grandes esforços para acumular ri- queza? Em terceiro, a teoria é capaz de esclarecer circunstân- cias além daquelas que se propunha a explicar originalmente. Weber enfatizava que estava tentando entender apenas as origens iniciais do capitalismo moderno. Todavia, parece ra- zoável supor que valores paralelos aos instilados pelo purita- nismo podem estar envolvidos em outras situações de desen- volvimento capitalista bem-sucedido. Finalmente, uma boa teoria não é apenas aquela que se mostra válida. Também é aquela que é frutífera em termos do quanto gera novas ideias e estimula novas pesquisas. REFLEXÃO CRÍTICA A teoria de Weber sobre a origem do capitalismo vai além do conceito de Merton de uma “teoria intermediária”. Porém, será que os estudos existentes podem testá-la efetivamente? Liste todos os elementos do capitalismo descritos por Weber. O que a teoria acrescenta à nossa compreensão da natureza, caráter e provável desenvolvimento futuro do capitalismo modemo? A teoria de Weber, como a análise de Marx sobre o ca- pitalismo, certamente é bem-sucedida nesses sentidos, pro- porcionado um trampolim para uma vasta quantidade de pesquisas e análises teóricas subsequentes. A abordagem de Weber à sociologia também forma a base para a tradição co- nhecida como interacionismo. Interacionismo simbólico, fenomenologia e etnometodologia Juntamente com Max Weber, credita-se ao behaviorista so- cial norte-americano George Herbert Mead ter estabelecido as bases para uma abordagem geral da sociologia chamada interacionismo. Esse é um rótulo geral que cobre todas as abordagens que investigam as interações sociais entre indivi- duos, em vez de partir da sociedade ou das estruturas sociais que a constituem. Os interacionistas muitas vezes rejeitam a própria noção de que as estruturas sociais existem objeti- vamente, ou simplesmente não as levam em conta. Herbert Blumer (que cunhou o termo “interacionismo simbólico”) argumentava que toda a conversa sobre estruturas sociais ou sistemas sociais é injustificada, pois somente se pode dizer que existem, realmente, indivíduos e suas interações. O interacionismo simbólico concentra-se na interação no nível micro e na maneira em que os significados são cons- truídos e transformados entre os membros da sociedade. G. H. Mead (1934) argumentava que o self do indivíduo é um self social, produzido no processo de interação, ao invés de ser biologicamente dado. A teoria de Mead traça a emergência e o desenvolvimento do self através de uma série de estágios na infância, e suas ideias sobre o self social fundamentam grande parte da pesquisa interacionista (ver o Capítulo 1 para uma discussão das ideias de Mead). O lar dessa perspectiva, por 30 anos, até 1950, foi o departamento de sociologia da Uni- versidade de Chicago (conhecido como a Escola de Chicago), embora, de maneira alguma, todos os sociólogos de Chicago fossem interacionistas simbólicos. O departamento também era o lar da abordagem “ecológica” de Louis Wirth, Robert E, Park e Ernest Burgess (ver o Capítulo 6, “Cidades e vida urbana”, para uma discussão dessa abordagem). Todavia, a base institucional para os principais interacionistas, incluindo Mead, foi um fator importante para ampliar a abordagem. Possivelmente, o interacionista simbólico de maior êxito seja Erving Goffman. Os estudos de Goffman sobre os “asi los” mentais, processos de estigmatização e as maneiras em que as pessoas apresentam seus selves em encontros sociais se tornaram clássicos sociológicos, tanto por seu estilo meto- dológico e observacional quando por seus resultados. Ao de- senvolver sua “análise dramatúrgica”, que trabalha com a me- táfora do teatro, as ideias de Goffman tiveram uma influência muito ampla sobre estudantes de todo o mundo. Ver 0 Capítulo 7. “Interações sociais é vida cotidiariá”, para: uma discussão mais ampla da perspectiva de Gotan. A fenomenologia é uma segunda perspectiva interacio- nista, que lida com as maneiras em que a vida social é viven- ciada na realidade. Literalmente, é o estudo sistemático de Anthony Giddens . fenômenos; das coisas como aparecem em nossa experiência. Suas raízes estão no trabalho filosófico do filósofo alemão Edmund Husserl, embora, na pesquisa sociológica, o filósofo e sociólogo austríaco Alfred Schutz tenha sido a figura mais importante. Schutz concentrou sua atenção nas experiências das pessoas na vida cotidiana e nas maneiras em que elas pas- sam a ser consideradas como algo dado. Schutz chama isso de adotar uma “atitude natural”. Para Schutz, a tarefa da sociolo- gia fenomenológica é entender melhor coma isso acontece e quais são as consequências. Schutz se interessava particularmente por tipificações — a maneira como os fenômenos são classificados de acordo com experiências anteriores. A tipificação é o lugar comum. Quando conhecemos alguém, é possível que pensemos: “oh, ela é tal tipo de pessoa” ou “ele parece ser um tipo hones- to” A tipificação ajuda a ordenar o nosso mundo e a torná-lo mais previsível. Porém, quando se torna estereotipificação, ela também pode ser perigosa - uma generalização ilegítima sobre pessoas, baseada apenas em sua participação em um certo grupo social. Exemplos são o racismo, o sexismo e pos- turas negativas com qualquer pessoa deficiente. As pessoas também tendem a pressupor que todos pen- sam mais ou menos da mesma maneira que elas e, portanto, podem esquecer possíveis problemas de comunicação inter- pessoal. Uma vez que esses pressupostos são internalizados, eles desaparecem da vista e são sedimentados abaixo da su- perfície da existência consciente para formar a base da atitude natural, Desse modo, as pessoas experimentam aspectos im- portantes do mundo social, como a língua e a cultura, como objetivos e externos a elas. A fenomenologia não teve o mes- mo impacto na sociologia que algumas das outras perspecti- vas, embara tenha aberto espaço para a einometodologia. A etnometodologia — o estudo sistemático dos méto- dos usados por “nativos” (indivíduos de uma determinada sociedade) para construir seus mundos sociais — é a terceira perspectiva interacionista. Ela tem suas raízes na filosofia fe- nomenológica, mas somente adquiriu proeminência na dé- cada de 1960 com os estudos de Harold Garfinkel e Aaron Cicourel. Os emmometodologistas eram bastante críticos à so- ciologia em voga, particularmente o funcionalismo estrutural parsoniano, que Garfinkel dizia que tratava as pessoas como se fossem “tolos culturais” - receptores passivos dos agentes socializantes da sociedade em vez de atores criativos por seus próprios méritos. Garfinkel discordava da famosa declaração de Durkheim de que os sociólogos devem “tratar os fatos so- ciais como objetos”. Para Garfinkel, esse deve ser apenas o ponto de partida para a investigação etnometodológica, e não um pressuposto prévio. Isso significa que a einometodologia busca revelar como os fatos sociais de Durkheim são criados pelos membros da sociedade. A einometodologia é discutida mais amplamente no = * Capítalo-7, “nteráções Sociais e vida cotidiana”. Si Ao contrário de muitos estudos interacionistas simbó- licos, fenomenológicos e etnometodológicos, o trabalho de Max Weber parece estar muito mais próximo da corrente em voga na sociologia. Embora ele certamente se interessasse pe- las interações sociais e pelo nível micro da vida social, o tra- balho de Weber sobre religiões do mundo, sociologia econô- mica e sistemas legais também é historicamente informado, fortemente comparativo em orientação e preocupado com o desenvolvimento e a direção gerais do mundo moderno. Isso contraria a tradição interacionista que se desenvolveu após a morte de Weber, que passou a se concentrar mais exclusiva- mente no nível micro durante o século XX. Dilemas teóricos Às controvérsias motivadas pelo trabalho dos teóricos clássi- cos, bem como pelas ideias e perspectivas teóricas posterio- tes que discutimos, continuam hoje em dia. Contudo, desde a época dos sociólogos clássicos, tornou-se lugar comum ar- gumentar que seu trabalho, e o da sociologia em geral, criou uma série de dilemas teóricos. Existem vários dilemas teóri- cos básicos - questões de controvérsia ou disputa continuada ou recorrente - que esses choques de pontos de vista trazem à nossa atenção, alguns dos quais ligados a questões bastan- te gerais relacionadas com a maneira como interpretamos as atividades humanas e instituições sociais. Em suma, questões sobre como podemos ou devemos “fazer” sociologia. Apresen- taremos aqui quatro desses dilemas. 1. O primeiro dilema diz respeito à ação humana e à estru- tura social. A questão é a seguinte: até onde nós, atores humanos criativos, controlamos as condições das nossas próprias vidas? Ou será que a maior parte do que faze- mos resulta de forças sociais gerais fora do nosso con- trole? Essa questão sempre dividiu, e continua a dividir, os sociólogos. Weber e os interacionistas simbólicos, por exemplo, enfatizam os componentes ativos e criativos do comportamento humano. Outras abordagens, como a de Durkheim e do funcionalismo, enfatizam a natureza res- tritiva das influências sociais sobre nossos atos livres, 2. Uma segunda controvérsia teórica diz respeito ao con- senso e ao conflito na sociedade, Certos pontos de vis- ta em sociologia, como já vimos — incluindo o funcio- nalismo — enfatizam a ordem e harmonia inerentes às sociedades humanas. Aqueles que adotam essa visão consideram a continuidade e o consenso como as carac- terísticas mais evidentes das sociedades, por mais que possam mudar com o tempo. Outros sociólogos, como os marxistas, acentuam a globalidade do conflito social. Eles consideram as sociedades infestadas de divisões, tensões e disputas. Para eles, é ilusório afirmar que as pessoas tendem a viver de forma amigável a maior parte do tempo, mesmo quando não existem confrontos aber- tos, eles dizem que permanecem divisões profundas e interesses, que, em um certo momento, podem explodir em conflitos ativos, 3. Existe um terceiro dilema teórico básico que quase não figura nas tradições ortodoxas da sociologia, mas que não pode ser ignorado. É a problema de como devemos incorporar um entendimento satisfatório da questão de gênero na análise sociológica, Todas as figuras fundado- ras da sociologia são homens, como vimos no Capítulo Anthony Giddens nossas atividades de maneira semelhante, estabelecendo limi- tes áquilo que podemos fazer como indivíduos. Ela é “externa” a nós, assim como as paredes da sala. Durkheim (1982 [1895]) expressa esse ponto de vista em uma declaração famosa: Quando cunpro meus deveres como irmão, marido ou cidadão e cumpro os compromissos que firmei, satisfaço as obrigações que são definidas na lei e nos costumes e que são externas a mim e a mínhas ações... De maneira semelhante, o crente encontra ao nascer, já prontas, as crenças e práticas da sua vida religiosa; se elas existiam antes dele, devem exis- tirfora dele. Os sistemas de signos que uso para expressar meus pensamentos, o sistema monetário que nso para pagar minhas dívidas, os instrumentos de crédito que utilizo em minhas relações comerciais, as práticas que sigo em minha profissão, etc. — tudo funciona independentemente do uso que faço deles. Embora o tipo de visão que Durkheim expressa tenha muitos seguidores, também recebeu críticas pungentes. O que é “sociedade”, perguntam os críticos, senão o conjunto de várias ações individuais? Se estudamos um grupo, não enxergamos uma entidade coletiva, apenas individuos que interagem entre si de várias maneiras. Aquilo que chamamos de “sociedade” é apenas um agregado de muitos indivíduos que agem de determinadas maneiras em relação uns aos ou- tros. Segundo os críticos, incluindo a maioria dos sociólogos influenciados pelo interacionismo simbólico, como seres hu- manos, temos razões para fazer 0 que fazemos, e habitamos um mundo social permeado por significados culturais. Os fenômenos sociais, segundo eles, justamente não são como Os “objetos”, mas dependem dos significados simbólicos que colocamos naquilo que fazemos. Não somos criaturas da so- ciedade, mas seus criadores. É improvável que essa controvérsia jamais se resolva to- talmente, pois ela existe desde que os pensadores modernos começaram a tentar explicar o comportamento humano sis- tematicamente. Além disso, é um debate que não se restrin- ge apenas à sociologia, mas preocupa estudiosos de todos os campos das ciências sociais. Você deve decidir, à luz de sua leitura deste livro, qual posição acredita ser mais correta. Ainda assim, as diferenças entre as duas visões podem ser exageradas. Embora ambas não possam estar totalmente cer- tas, podemos facilmente enxergar conexões entre elas. A visão de Durkheim é claramente válida em certos aspectos. As ins- tituições sociais precedem a existência de qualquer indivíduo; também é evidente que elas exercem limitações sobre nós. As- sim, por exemplo, eu não inventei o sistema monetário que existe na Grã-Bretanha. Também não tenho opção de querer usá-lo ou não se desejar os bens e serviços que o dinheiro pode comprar. O sistema do dinheiro, como todas as outras instit ções estabelecidas, existe independentemente de cada membro individual da sociedade e limita as atividades de cada um. Por outro lado, está claramente errado supor que a socie- dade é “externa” a nós do mesmo modo que o mundo físico, pois o mundo físico continuaria existindo, independente- mente de haver seres humanos vivos ou não, ao passo que seria claramente absurdo falar isso da sociedade, Embora a sociedade seja externa a cada indivíduo se visto isoladamen- te, por definição, ela não pode ser externa a todos os indivi- duos quando vistos em conjunto. Além disso, embora aqueles que Durkheim chama de “fa- tos sociais” possam restringir o que fazemos, eles não detertmui- nam o que fazemos. Eu poderia decidir viver sem usar dinheiro, se resolvesse fazé-lo com firmeza, mesmo que fosse para provar como é dificil viver a vida a cada dia. Como seres humanos, fa- zemos escolhas, e não apenas respondemos passivamente aos acontecimentos ao nosso redor. O caminho para fechar a lacu- na entre as abordagens de “estrutura” e “ação” é reconhecer que fazemos e refazemos a estrutura social ativamente no decorrer de nossas atividades cotidianas. Por exemplo, o fato de usar o sistema monetário contribui de um modo pequeno, ainda que necessário, para a própria existência desse sistema. Se todas, ou mesmo a maioria das pessoas, em algum momento decidissem evitar o uso do dinheiro, o sistema monetário se dissolveria. Conforme mencionado no Capítulo 1, um termo que aju- da a analisar esse processo de criação e recriação da estrutura social é estruturação. Esse é um conceito que eu (Anthony Gi- ddens) introduzi na sociologia há alguns anos. A “estrutura” ea “ação” estão necessariamente relacionadas entre si. As so- ciedades, comunidades ou grupos somente têm “estrutura” até onde as pessoas agem de maneiras regulares e razoavelmente previsíveis. Por outro lado, a “ação” somente é possível porque cada um de nós, como indivíduo, possui uma enorme quanti- dade de conhecimento socialmente estruturado. A melhor maneira de explicar isso é por meio do exem- plo da língua. Para existir, a língua deve ser socialmente es- truturada - existem propriedades do uso da lingua que cada falante deve observar. O que alguém diz em um determinado contexto, por exempla, não faria sentido a menos que segais- se certas regras gramaticais. Ainda assim, as qualidades es- truturais da língua somente existem até onde seus usuários individuais seguirem essas regras na prática. A lingua está constantemente no processo de estruturação. Erving Goffman e outros que escreveram sobre a inte- ração social (discutida no Capítulo 7) estão certos ao sugerir que todos os agentes humanos têm muito conhecimento. So- mos 9 que somos como seres humanos principalmente por- que seguimos um conjunto complexo de convenções — por exemplo, os rituais que estranhos observam ao se cruzarem na rua. Por outro lado, como aplicamos essa capacidade de conhecimento a nossos atos, conferimos força e conteúdo às próprias regras e convenções que seguimos. A estruturação sempre presume o que chamo de “a dualidade da estrutura” Tsso significa que toda ação social presume a existência de es- trutura. Porém, ao mesmo tempo, a estrutura presume ação, pois a “estrutura” depende de regularidades no comporta- mento humano. REFLEXÃO CRÍTICA Você acredita que o conceito de estruturação é satisfatório para resolver o problema da estrutura-ação? Isso significa que os interacionistas estão errados — que existem estrutu- ras sociais, afinal? No caso positivo, a teoria da estruturação pode explicar a sua emergência? é Sociologia Consenso ou conflito? Também é importante começar com Durkheim 20 comparar os pontos de vista do consenso e do conflito. Durkheim en- xerga a sociedade como um conjunto de partes interdepen- dentes. Para a maioria dos pensadores funcionalistas, de fato, a sociedade é tratada como um todo integrado, composto de estruturas que se mesclam intimamente. Isso está de acordo com a ênfase de Durkheim no caráter limitante e “externo” dos “fatos sociais”. Todavia, a analogia aqui não é com as pa- redes de um prédio, mas com a fisiologia do corpo. Um corpo consiste de várias partes especializadas (como o cérebro, o coração, os pulmões, o figado e assim por dian- te), que contribuem para sustentar a vida do organismo. Elas funcionam necessariamente em harmonia; se não fosse as- sim, a vida do organismo estaria ameaçada. Isso também ocorre, segundo Durkheim, com a sociedade. Para que uma sociedade tenha uma existência continuada ao longo do tem- po, suas instituições especializadas (como o sistema político, a religião, a família e o sistema educacional) devem traba- lhar em harmonia entre si. A continuação de uma sociedade, assim, depende da cooperação, que presume um consenso geral, ou concordância, entre seus membros em relação a va- lores básicos. Aqueles que se concentram principalmente no conflito têm uma perspectiva muito diferente. Suas premissas básicas podem ser facilmente apresentadas usando como exemplo a visão de Marx sobre o conflito de classe. Segundo Marx, as sociedades se dividem em classes com recursos desiguais. Como existem de- sigualdades tão acentuadas, existem divisões de interesses, que estão “embutidas” no sistema social. Esses conflitos de interesse, em um certo ponto, se transformam em mudanças ativas. Nem todos aqueles influenciados por esse ponto de vista se concen- tram nas classes tanto quanto Marx; outras divisões são con- sideradas importantes para promover conflitos - por exemplo, divisões entre grupos raciais ou facções políticas. A sociedade é considerada essencialmente repleta de tensões, independen- temente de quais grupos em conflito são mais fortes, mesmo o mais estável sistema social representa um equilíbrio frágil entre grupos antagônicos. Como no caso da estrutura e da ação, não é provável que esse debate teórico seja totalmente concluído. Ainda assim, mais uma vez, a diferença entre os pontos de vista do consen- so e do conflito parece maior do que é. As duas posições não são totalmente incompatíveis. Todas as sociedades provavel- mente envolvam algum tipo de acordo geral sobre valores, e todas certamente envolvem conflitos. Além disso, como regra geral da análise sociológica, sem- pre temos que examinar as conexões entre o consenso e o conflito dentro dos sistemas sociais. Os valores mantidos por diferentes grupos e os objetivos que seus membros perseguem refletem uma mistura de interesses comuns e opostos. Por exemplo, mesmo na visão de Marx sobre a luta de classes, as diferentes classes compartilham certos interesses comuns, além de se lançarem umas contra as outras. Desse modo, os capita- listas dependem de uma força de mão de obra para trabalhar em suas empresas, assim como os trabalhadores dependem dos capitalistas, que pagam seus salários. O conflito aberto não é contínuo nessas circunstâncias, pelo contrário, às vezes, o que ambos os lados têm em comum tende a superar suas diferenças, enquanto, em outras ocasiões, ocorre o inverso. Um conceito que ajuda a analisar as inter-relações entre o conflito e o consenso é o da ideologia — valores e crenças que ajudam a garantir a posição de grupos mais poderosos à custa dos menos poderosos. O poder, a ideologia e o con- flito sempre estão intimamente conectados. Muitos conflitos envolvem poder, por causa das recompensas que ele pode trazer. Aqueles que detêm mais poder podem depender prin- cipalmente da influência da ideologia para manter a domi- nância, mas geralmente também são capazes de usar a força, se necessário. Por exemplo, nos tempos feudais, o regime aristocrático era sustentado pela ideia de que ápenas uma pe- quena proporção das pessoas “nascia para governar”, mas os governantes aristocráticos muitas vezes recorriam ao uso de violência contra aqueles que ousavam se opor ao seu poder, A questão negligenciada do gênero As questões de gênero raramente aparecem nos escritos das principais figuras que estabeleceram o arcabouço da sociolo- gia moderna. Às poucas passagens em que tocam em ques- tões de gênero, contudo, nos permitem pelo menos especifi- car os contornos de um dilema teórico básico - mesmo que haja pouco em suas obras para nos ajudar a tentar resolvê-lo. Podemos descrever esse dilema contrastando um tema que ocorre ocasionalmente nos escritos de Durkheim com um que aparece nos de Marx. Durkheim (1952 [1897]) observa em um determinado ponto da sua discussão sobre o suicídio que o homem é “quase totalmente produto da sociedade”, en- quanto a mulher é, “em um nível muito maior, produto da na- tureza” Continuando essas observações, ele diz, do homem: “seus gostos, aspirações e humor têm, em grande medida, uma origem coletiva, enquanto os de sua companheira são influenciados mais diretamente por seu organismo. Suas ne- cessidades, portanto, são muito diferentes das dela”. Em ou- tras palavras, homens e mulheres têm diferentes identidades, gostos e inclinações porque as mulheres são menos socializa- das e “mais próximas da natureza” do que os homens, Ninguém, hoje em dia, aceitaria uma visão colocada des- sa maneira. A identidade feminina é tão moldada pela so- cialização quanto a dos homens. Ainda assim, se modificada um pouco, a afirmação de Durkheim representa uma visão possível da formação e natureza da questão de gênero, que as diferenças entre os gêneros baseiam-se fundamentalmente em distinções biológicas entre homens e mulheres. Essa visão não significa necessariamente que as diferenças de gênero se- jam principalmente inatas. Pelo contrário, ela presume que a posição social e a identidade das mulheres são moldadas principalmente por seu envolvimento na reprodução e cria- ção dos filhos. Se essa visão estiver correta, as diferenças de gênero estarão profundamente embutidas em todas as socie- dades. As discrepâncias de poder entre homens e mulheres refletem o fato de as mulheres parirem os filhos e serem seus principais cuidadores, ao passo que os homens são ativos nas esferas “públicas” da política, do trabalho e da guerra. A visão de Marx discorda substancialmente disso. Para Marx, as diferenças de gênero em relação ao poder e ao status entre homens e mulheres refletem principalmente outras Sociologia Ideias basicamente marxistas 1. A principal dinâmica do desenvolvimento modermo é a ex- pansão dos mecanismos econômicos capitalistas. 2. As sociedades modernas estão repletas de desigualdades de classe, que são inerentes à sua própria natureza. 3. As grandes divisões ds poder, como aquelas que afetam a posição diferencial de homens e taulheres, derivam em últ- ma análise de desigualdades econômicas. 4. As sociedades modermas [sociedades capitalistas) são de um tipo transicional - podemos esperar que sejam radicalmente Teorganizadas no futuro. O socialismo um dia substituirá o capiialismo. 5. A disseminação da influência Ocidental em todo o mundo é resultado principalmente das tendências expansionistas das empresas capitalistas. Marx ou Weber? Qual forma de interpretação de sociedades modernas, de- rivada de Marx ou a baseada em Weber, está correta? Mais uma vez, os estudiosos se dividem em relação a essa questão. E devemos lembrar que, dentro de cada campo, existem va- riações, de modo que nem todos os teóricos em cada lado concordam entre si. Os contrastes entre os pontos de vista marxistas e weberianos informam muitas áreas da sociolo- gia. Eles influenciam, não apenas a maneira como analisamos a natureza das sociedades industrializadas, mas também as nossas visões sobre sociedades menos desenvolvidas. Além disso, as duas perspectivas estão ligadas a posições políticas diferentes, com os autores à esquerda como um todo adotando visões do primeiro lado, e os liberais e conservadores, as do segundo lado. Ainda assim, os fatores que interessam a esse dilema específico são de uma natureza mais diretamente empírica do que aqueles envolvidos em outros dilemas. Estu- dos factuais dos caminhos da evolução de sociedades moder- nas e países menos desenvolvidos nos ajudam a avaliar como os padrões de mudança seguem um ou o outro lado. O dilema de como o mundo moderno foi construído ainda é importante, mas os teóricos mais recentes tentam ir além de Marx e Weber. Ainda assim, outros sociólogos, incluindo os pés-modernistas (alguns dos quais eram marxistas original- mente), hoje rejeitam Marx totalmente. Eles acreditam que sua tentativa de encontrar padrões gerais na história estava inevitavelmente condenada ao fracasso. Para esses pensado- res pós-modernos, os sociólogos devem simplesmente de- sistir dos tipos de teoria que Marx e Weber tentaram desen- volver — interpretações gerais da mudança social, ou o que chamamos aqui de “grande teoria”. Muitos sociólogos hoje consideram que as sociedades contemporâneas se desenvol- Sli Marx e Weber sobre a formação do mundo moderno Ideias basicamente weberianas - A principal dinâmica do desenvolvimento Modesno é à Tacio- natização da produção. z A classe é um tipo de desigualdade eritre inuitas — comõ as”. desigualdades entre homens e mulheres = nas. sociedades. modemas. 3. O poder no sistema econômico pode ser sepátâdo de outras fontes. Por exemplo, as desigualdades entre homens-g mil theres não podem ser explicadas em termos económicos; A Racionalização deve avançar ainda mais no ftuío; er to” das as esferas da vida social. Todas as sociedades modérrias dependem dos mesmos modos básicos de Oigariização Social: e econômica, . O impacto global do Ocidente vem' de seu domínio: sobre os recursos industriais, juntamente com seu podério militar. superior. i so e o vem de maneira que os teóricos clássicos não previram. É por isso que eles chegaram à conclusão de que talvez esteja na bora de desenvolver modos alternativos de pensar e teori- zar sobre o mundo social globalizado em que todos vivemos cada vez mais, uaidade de gênero e tsoria femir: A ascensão do movimento feminista levou a algumas mu- danças radicais dentro da sociologia e de outras disciplinas. O feminismo levou a um ataque amplo contra o viés masculi- no percebido na teoria e metodologia sociológicas, e no pró- prio tema de estudo da sociologia. Volte à Figura 3.1 (página 85) e conte o número de mulheres na tabela para ver como a sociologia tem sido dominada pelos homens. Não apenas desafiou-se essa dominação masculina da sociologia, como também houve apelos para uma ampla reconstrução da pró- pria disciplina - tanto nas questões que compõem o seu nú- cleo quanto na forma das discussões em torno delas. As perspectivas feministas em sociologia enfatizam a centralidade do gênero na análise do mundo social. Embora a diversidade de pontos de vista feministas torne difícil fa- lar em generalidades, podemos dizer, com segurança, que a maioria das feministas concorda que o conhecimento está in- tegralmente relacionado com as questões do sexo e do gêne- ro. Como os homens e as nfulheres têm experiências diferen- tes e enxergam o mundo a partir de perspectivas diferentes, eles não constroem seus entendimentos de mundo de formas idênticas. As feministas muitas vezes dizem que a teoria so- ciológica tradicional negou ou ignorou o viés “de gênero” do conhecimento e projeta concepções do mundo social que são dominadas pelo masculino. Os homens tradicionalmente ocupam posições de poder e autoridade na sociedade e inves- tem em manter seus papéis privilegiados, segundo a posição feminista. Nessas condições, o conhecimento generificado se torna uma força vital para perpetuar os arranjos sociais esta- belecidos e legitimar a dominação masculina. Anthony Giddens As ideias de Judith Butler sobre o comportamento de gênero joram influentes para enfraquecer as noções essencialistas da identidade de gênero. «Bs abordagens do. feminismo em sociologia são: discutidas no Capitulo ta, “Sexualidade e gênero”. Algumas autoras feministas argumentam que é um erro su- por que os “homens” ou as “mulheres” são grupos com seus próprios interesses ou características. Várias dessas autoras, como Donna Haraway (1989, 1991), Hélêne Cixous (1976) e Judith Butler (1990, 1997, 2004), foram influenciadas pelo pensamento pós-estruturalista e pós-moderno, que discuti- remos a seguir. Segundo Butler, o gênero não é uma categoria fixa, uma essência, mas uma categoria fluida, demonstrada naguilo que as pessoas fazem, e não no que elas são. Se, con- forme argumenta Butler (1990), o gênero é algo que é “feito” ou realizado, também é alga que devemos Intar para “desfa- zer”, quando usado por um grupo para exercer poder sobre outro (ver o Capítulo 7, “Interações sociais e vida cotidiana”). Susan Faludi também aborda o tema da identidade de gê- nero. Em Stifed: The Betraya! of Modern Man (2000), um livro sobre a masculinidade, Faludi mostra que a ideia de que os homens dominam em todas as esferas é um mito. Pelo contrá- rio, atualmente, existe uma crise de masculinidade no mundo que os homens supostamente possuem e dirigem. Alguns gru- pos de homens aínda são confiantes e se sentem no controle; muitos outros se consideram marginalizados e carecem de au- torrespeito. O sucesso que pelo menos algumas mulheres al- cançaram é parte da razão, assim como as mudanças na natu- reza do trabalho. O impacto da tecnologia da informação, por exemplo, tornou muitos homens menos habilidosos redun- dantes para as necessidades da sociedade, enquanto a mudan- sa para o setor de serviços levou a uma “ferninização do local de trabalho”, que muitos homens parecem relutar para entrar. ' Verc o Capífiilo 20, =Trabalho e e vidá, econômica”, para. * uma: discussão do émprégo-no setor de serviços. *. A teoria feminista mudou e se desenvolveu notavelmente desde a década de 1980, e os temas que ela aborda são muito diferentes daqueles que emergiram dos movimentos feminis- tas da década de 1960. Enquanto estes consideram o femi- nismo como um movimento preocupado principalmente em igualar as chances de vida de homens e mulheres, atualmente, a teoria feminista e gay questiona exatamente o que são ho- mens e mulheres. Existe, de fato, um ser essencial que repre- senta o gênero? A principal questão para a teoria feminista contemporânea pode ser se essas questões são capazes de se conectar com as vidas de mulheres nas sociedades desenvol- vidas e em desenvolvimento (ver Shiva, 1993). “Os movimentos feministas são > discháidos nô Capítulo 22; - “Política, Joverno e' Tlowiientos soci REFLEXÃO CRÍTICA Com base em sua experiência, a igualdade de gênero foi alcançada de aigum modo substancial no mundo desenvolvi- do? Ainda existe espaço para movimentos e teorias feminis- tas, em uma era de ampla igualdade de gênero? Pensando de forma mais crítica, que questões as feministas devem enfocar atualmente para abordarem as preocupações de mu- lheres mais jovens? Pós-estruturalismo e pós-modernidade Michel Foucault e a pós-modemidade Michel Foncault (1926-1984), Jacques Derrida (1976, 1978) e Julia Kristeva (1974, 1977) são as figuras mais influentes de um movimento intelectual conhecido como pós-estrutu- ralismo, Todavia, é a obra de Foucault que teve a maior in- fluência na sociologia e nas ciências sociais. Em seu trabalho, ele tentou ilustrar as mudanças de compreensão que separam o pensamento do nosso mundo moderno daquele de eras passadas. Em seus textos sobre o crime, o corpo, a loucura e a sexualidade, Foucault analisou a emergência de instituições modernas, como prisões, hospitais e escolas, que tiveram um papel crescente em controlar e monitorar a população social. Ele queria mostrar que havia “outro lado” nas ideias do Tlu- minismo quanto à hberdade individual - preocupado com a