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Informações sobre a espécie de termita coptotermes gestroi, sua distribuição geográfica, hábitos alimentares e impacto ambiental. O estudo mostra que c. Gestroi se alimenta predominantemente de raiz de mandioca, cana-de-açúcar e caule de mamoeiro, colonizando essas iscas em maior proporção que outras espécies. Além disso, as colônias de c. Gestroi podem chegar a forragear em áreas maiores que 5000 m² e competir entre espécies por fontes de alimento. O documento também discute a importância de estudos sobre termitas em ambientes urbanos e rurais.
Tipologia: Notas de aula
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Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências , no curso de Pós-Graduação em Fitossanidade e Biotecnologia Aplicada, na Área de concentração em Entomologia Aplicada.
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Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ciências , no Programa de Pós-Graduação em Fitossanidade e Biotecnologia Aplicada, Área de Concentração em Entomologia Aplicada. DISSERTAÇÃO APROVADA EM 26/06/ BANCA EXAMINADORA.
Eurípedes Barsanulfo Menezes. Ph.D. UFRRJ (Orientador)
Elen de Lima Aguiar-Menezes. Drª. UFRRJ
Genésio Tâmara Ribeiro. Dr. UFS
iv Dedico à minha família.
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SILVA, Paula Pigozzo. Espécies vegetais de importância agrícola como fonte alimentar para Coptotermes gestroi Wasmann e outros térmitas (Insecta: Blattodea) nas condições edafoclimáticas do município de Seropédica, RJ. 2014. 58p. Dissertação (Mestrado em Fitossanidade e Biotecnologia Aplicada). Instituto de Biologia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2014. A maioria das espécies de térmitas, incluindo Coptotermes gestroi , é xilófaga, ou seja, alimenta-se de madeira viva ou morta, em diferentes estádios de decomposição. Entretanto, algumas espécies exibem hábito alimentar polífago, alimentando-se também de diferentes partes de plantas vivas, como raízes, colmos, toletes, etc. C. gestroi é uma espécie exótica, originária da região Indo-Malaia, e adaptou-se bem às condições ambientais do Brasil, onde é considerada uma das principais pragas de áreas urbanas, e tem colonizado rapidamente as cidades, chegando às zonas limítrofes entre o urbano e o rural, como o campus da UFRRJ localizado na cidade de Seropédica, RJ. Por outro lado, com a destruição das áreas naturais, a tendência é de um número maior de térmitas nativos se tornarem pragas como está acontecendo com os gêneros Heterotermes e Nasutitermes. Neste estudo avaliou-se a atratividade (freqüência) e a preferência alimentar (consumo) de térmitas por algumas espécies de plantas de importância agrícola, em áreas limítrofes entre o urbano e o rural. Nove áreas na cidade de Seropédica foram selecionadas para a verificação da atividade de forrageamento de térmitas, de acordo com ocorrências registradas em estudos anteriores e por relatos pessoais. Em cada área com atividade termítica de forrageamento, iscas de maniva e raiz de mandioca ( Manihot esculenta ), tolete de cana-de-açúcar ( Saccharum officinarum ), raiz de batata-doce ( Ipomea batatas ) e caule de mamoeiro ( Carica papaya ) foram enterradas simultaneamente por 30 dias. Os resultados obtidos no experimento revelaram a ocorrência de três térmitas: Coptotermes gestroi Wasmann (Rhinotermitidae), Heterotermes longiceps Snyder (Rhinotermitidae) e Nasutitermes jaraguae Holmgren (Termitidae). C. gestroi ocorreu em todas as iscas. H. longiceps somente não ocorreu no caule do mamoeiro, e N. jaraguae apresentou atividade de forrageamento na raiz de mandioca, batata-doce e na cana-de-açúcar. O consumo de caule do mamoeiro, cana-de-açúcar e raiz de mandioca por C. gestroi foi maior do que o da raiz de batata-doce e da maniva de mandioca. Palavras-chave: recursos alimentares, rhinotermitidae, termitidae.
vii
SILVA, Paula Pigozzo. Plant species of agricultural importance as a food source for Coptotermes gestroi Wasmann and other termites (Insecta: Blattodea) at conditions in the municipality of Seropédica, RJ. 2014. 58p. Dissertation (Master Science in Phytossanitary and Applied Biotechnology). Instituto de Biologia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2014. Most species of termites, including Coptotermes gestroi , are xylophagous and feed on living or dead wood, in various stages of decay. However, some species exhibit polyphagous feeding habits, also feeding on different parts of living plants such as roots, stems, stalks, etc. C. gestroi is an exotic species from the Indo-Malayan region, and has adapted well to the environmental conditions of Brazil. It is considered a major plague of urban areas, quickly colonizing cities and reaching the border areas between urban and rural places, like the campus of UFRRJ located in Seropédica, RJ. On the other hand, when we see the destruction of natural areas, the trend is for most native termites become relevant plagues as it is happening with Heterotermes and Nasutitermes. In this study we evaluated the attractiveness (frequency) and the feeding preferences (consumption) of termites for plant species of agricultural importance in boundary areas between the urban and the rural places. Nine locations in the city of Seropédica were selected for verification of termite activity, according to records made in previous studies and personal accounts. Around each site of termite activity, baits made of manioc stems and cassava root ( Manihot esculenta ), pieces of sugar cane ( Saccharum officinarum ), roots of sweet potato ( Ipomoea batatas ) and stems of papaya ( Carica papaya ) were simultaneously placed for 30 days. The chosen position on the ground had an average depth of 15-20 cm; the bait were placed inside PVC pipes with 7.5 cm of diameter, and total height of 15 cm, all equally spaced. The results obtained in the experiment revealed the occurrence of three termites: Coptotermes gestroi Wasmann (Rhinotermitidae), Heterotermes longiceps Snyder (Rhinotermitidae), and Nasutitermes jaraguae Holmgren (Termitidae). C. gestroi occurred on all baits. H. longiceps was only absent in the stem of papaya, and N. jaraguae exhibited activity on the cassava root, sweet potatoes and sugar cane. Consumption of papaya stems, sugar cane and cassava root by C. gestroi was higher than consumption of the root of sweet potato and cassava seed. Key words: food resources, rhinotermitidae, termitidae.
ix Figura 11. Porcentagem de ocorrência de térmitas nas iscas de maniva e raiz de mandioca ( Manihot esculenta ), tolete de cana-de-açúcar ( Saccharum officinarum ), raiz de batata-doce ( Ipomea batatas ) e caule de mamoeiro ( Carica papaya ) (n=9). Seropédica, RJ, 2014. (Teste de χ^2 , letras distintas indicam diferença significativa p<0,01)...................................................................................................................................... Figura 12. Porcentagem de ocorrência de Coptotermes gestroi , Heterotermes longiceps e Nasutitermes jaraguae nas iscas de maniva e raiz de mandioca ( Manihot esculenta ), tolete de cana-de-açúcar ( Saccharum officinarum ), raiz de batata-doce ( Ipomea batatas ) e caule de mamoeiro ( Carica papaya ) (n=9). Seropédica, RJ, 2014. (Teste de χ^2 , letras distintas indicam diferença significativa p<0,01)................................................................................................. Figura 13. Superfície externa do tolete de cana-de-açúcar ( Saccharum officinarum ) sem indício de colonização com a gema danificada pelo térmita Heterotermes longiceps e interior do tolete oco consumido pelo cupim na isca instalada no campo. Seropédica, RJ, 2014........................................................................................................................................... Figura 14. Isca de raiz de mandioca ( Manihot esculenta ) colonizado pelo térmita Heterotermes longiceps com interior oco e superfície externa sem indícios da presença do cupim. No detalhe, o operário desta espécie de térmita. Seropédica, RJ, 2014........................................................................................................................................... Figura 15. Túnel construído por Nasutitermes jaraguae identificado no entorno das iscas no Setor de Horticultura da UFRRJ. Seropédica, RJ, 2014........................................................... Figura 16. Três soldados de Nasutitermes jaraguae alinhados em comportamento de defesa dos operários ao longo da entrada do túnel de forrageamento construído no interior da isca de raiz de batata-doce ( Ipomea batatas ). Setor de Horticultura da UFRRJ. Seropédica, RJ, 2014........................................................................................................................................... Figura 17. Maniva de mandioca ( Manihot esculenta ) coberta com material cartonado e galerias de Coptotermes gestroi. Seropédica, RJ, 2014............................................................ Figura 18: Operário de Heterotermes longiceps em túnel construído na medula da maniva de mandioca ( Manihot esculenta ) em corte longitudinal do material vegetal e detalhe da brotação emitida pela maniva. Seropédica, RJ, 2014.............................................................................. Figura 19. Extremidade da maniva de mandioca ( Manihot esculenta ) atacada por Heterotermes longiceps , evidenciando aberturas que podem facilitar a colonização da isca por térmitas. Seropédica, RJ, 2014.................................................................................................. Figura 20. Incidência de Coptotermes gestroi em batata-doce ( Ipomea batatas ). Seropédica, RJ, 2014.................................................................................................................................... Figura 21. Consumo médio (em grama) dos materiais vegetais por Coptotermes gestroi , Heterotermes longiceps e Nasutitermes jaraguae. Seropédica, RJ, 2014. (Teste de Tukey a 5% de probabilidade, letras distintas indicam diferença significativa)..................................... Figura 22. Fibra restante do caule do mamoeiro atacado por Coptotermes gestroi. Seropédica, RJ, 2014....................................................................................................................................
x Figura 23. Tolete de cana-de-açúcar ( Saccharum officinarum ) colonizado por Coptotermes gestroi e no detalhe gema desenvolvida sem danos. Seropédica, RJ, 2014...........................................................................................................................................
Os térmitas são insetos que ocorrem nas regiões tropicais e temperadas do mundo entre os paralelos 52° N e 45° S, com mais de 3300 espécies descritas distribuídas em nove famílias: Mastotermitidae, Archotermopsidae, Hodotermitidae, Stolotermitidae, Kalotermitidae, Stylotermitidae, Rhinotermitidae, Serritermitidae e Termitidae e incluídas na ordem Blattodea (KRISHNA et al., 2013a). Nas Américas ocorrem 546 espécies pertencentes a 99 gêneros e cinco famílias. No Brasil, registram- se cerca de 300 espécies pertencentes a quatro famílias: Kalotermitidae, Rhinotermitidae, Serritermitidae e Termitidae. Este número de espécies é seguramente subestimado uma vez que há ausência de levantamentos em várias regiões brasileiras, principalmente no norte e nordeste (CONSTANTINO, 1998, 1999, 2002; FONTES & ARAÚJO, 1999; COSTA-LEONARDO, 2002). Os cupins são considerados insetos eussociais, ou seja, formam colônias de indivíduos com sobreposição de gerações, cuidado cooperativo com a prole e divisão de trabalho. A estrutura social desses insetos é composta por indivíduos que se desenvolvem por paurometabolia. Morfologicamente distintos (polimórficos) são classificados em castas com funções específicas dentro da colônia (WILSON, 1971; GRASSÉ, 1982; OLIVEIRA et al_._ , 1986). Três castas são encontradas em um ninho de cupim: a) Os operários que formam a casta mais numerosa e se ocupam de todas as funções rotineiras tais como obtenção de alimento, construção e reparação de ninho e túneis, cuidado com a prole e fornecimento de alimento às outras castas; b) Os soldados que são os responsáveis pela guarda do ninho e pela proteção dos operários durante o forrageamento; e c) Os reprodutores que são os responsáveis pela geração de novos indivíduos e pela multiplicação das colônias (KRISHNA, 1969). O alimento básico dos térmitas é a celulose, mas a fonte de celulose utilizada varia de acordo com a espécie (VASCONCELLOS, 1999). A maioria das espécies alimenta-se de madeira nos mais variados estágios de decomposição (dura a macia), outras podem se alimentar a partir de plantas herbáceas, gramíneas vivas, húmus, líquens, fezes de herbívoros, partes vegetais vivas ou fungos cultivados no interior dos ninhos (NOIROT & NOIROT-TIMOTHEÉ, 1969; SANDS & WOOD, 1978; LIMA & COSTA-LEONARDO, 2007). Do ponto de vista ecológico os cupins exercem um importante papel nos ecossistemas naturais. Participam ativamente da decomposição da matéria orgânica e ciclagem dos nutrientes (ADAMSON, 1943; LA FAGE & NUTTING, 1978; SANDS & WOOD, 1978) e aumentam a porosidade e aeração do solo (LEE & WOOD, 1971). Entretanto, algumas espécies se tornam pragas urbanas, agrícolas ou urbanas e agrícolas (CONSTANTINO, 2002). Dentre estas, se destacam os cupins subterrâneos (Rhinotermitidae) e os cupins arborícolas e de montículo (Termitidae). As culturas agrícolas mais atacadas por cupins no Brasil são: cana-de- açúcar, arroz de sequeiro e eucalipto. Além dessas, outras culturas como o algodão, soja, mandioca, café, árvores frutíferas e alguns vegetais (ex. cenouras), também são atacadas por cupins. O efeito dos cupins sobre as pastagens é contraditório. Os danos causados pelos cupins incluem: (1) injúria às raízes; (2) injúria às folhas e caules; (3) injúria ao tecido da madeira (casca e/ou alburno); e (4) consumo do cerne das árvores, deixando-as ocas (CONSTANTINO, 2002).
2.1 Térmitas (Insecta: Blattodea) 2.1.1 Aspectos biológicos e comportamentais Os térmitas, conhecidos vulgarmente como cupins, pertencem à ordem Blattodea, e ocorrem tanto em locais de clima temperado como em áreas tropicais entre os paralelos 52º N e 45º S (LEE E WOOD, 1971; FONTES & MONTEIRO, 1998). Estes insetos apresentam mais de 3300 espécies descritas, distribuídas em nove famílias: Mastotermitidae, Archotermopsidae, Hodotermitidae, Stolotermitidae, Kalotermitidae, Stylotermitidae, Rhinotermitidae, Serritermitidae e Termitidae (CONSTANTINO, 2007; KRISHNA et al., 2013a). No Brasil, registraram-se cerca de 300 espécies pertencentes a quatro famílias: Kalotermitidae, Rhinotermitidae, Serritermitidae e Termitidae. Este número de espécies é seguramente subestimado uma vez que há ausência de levantamentos em várias regiões brasileiras, principalmente no norte e nordeste (CONSTANTINO, 1998, 1999, 2002; MARICONI et al., 1999, COSTA-LEONARDO, 2002). Os térmitas são considerados insetos eussociais, ou seja, formam colônias de indivíduos com sobreposição de gerações, cuidado cooperativo da prole e divisão de trabalho. A estrutura social desses insetos é composta por indivíduos que se desenvolvem por paurometabolia, morfologicamente distintos (polimórficos) e classificados em castas com funções específicas dentro da colônia (WILSON, 1971; GRASSÉ, 1982; OLIVEIRA et al., 1986). Três castas são encontradas em um ninho de cupim: a) Os reprodutores que são os responsáveis pela geração de novos indivíduos e pela multiplicação das colônias; b) Os soldados que são os responsáveis pela guarda do ninho e pela proteção dos operários durante o forrageamento; e c) Os operários que formam a casta mais numerosa e se ocupam de todas as funções rotineiras tais como obtenção de alimento, cuidados com a prole e fornecimento de alimento às outras castas construção e reparação de túneis e do ninho (KRISHNA,1969; MEDEIROS, 2004). Os térmitas são capazes de construir ninhos de diferentes formas: sobre mourões, árvores ou postes, na superfície do solo, inteiramente subterrâneos ou dentro da madeira. Para Bennet et al. (1996), o desenvolvimento de uma colônia de térmita depende de condições ambientais específicas. Ambientes que apresentam o solo úmido podem oferecer condições adequadas para a nidificação dos térmitas de solo e subterrâneos, já que todos os indivíduos necessitam um alto grau de umidade para sua sobrevivência, por possuírem um corpo que desidrata com muita facilidade quando são expostos ao ar livre. O alimento básico dos cupins é a celulose, mas a fonte de celulose utilizada varia de acordo com a espécie (VASCONCELLOS, 1999). Uma grande diversidade de materiais orgânicos (em vários estágios de decomposição) pode servir de alimento aos térmitas, incluindo madeira (viva ou morta), gramíneas, plantas herbáceas, serrapilheira, fungos, ninhos construídos por outras espécies, excrementos e carcaças de animais, líquens e até mesmo materiais orgânicos presentes no solo. Além disso, os operários adotam dois mecanismos para alimentar os outros membros da colônia: 1º) Alimentação estomodeica (alimento regurgitado) ou 2º) Alimentação proctodeica (alimento entregue
via fezes), de acordo a idade e necessidade nutricional do indivíduo (LIMA & COSTA- LEONARDO, 2007). A alimentação polifágica dos térmitas, em relação as fontes celulósicas, demandou uma dependência coevolutiva de simbiontes do trato digestivo para degradação da celulose (MEDEIROS, 2004). De acordo com o grau evolutivo, os cupins podem ser classificados em basais ou derivados (PEARCE & WAITE, 1994). Os cupins basais usam madeira como fonte de alimento principal, possuem castas pouco definidas, e sua fauna intestinal é composta por protozoários flagelados com função simbiótica de degradação da celulose. Os cupins derivados pertencem exclusivamente à família Termitidae, apresentam colônias populosas, castas bem definidas, podem usar outras fontes de alimento além de madeira e a degradação de celulose é processada, exclusivamente, por bactérias e/ou enzimas presentes no intestino da própria operária (COSTA-LEONARDO, 2002). A abundância dos térmitas e a atuação destes na transformação de componentes minerais e orgânicos conferem a esses insetos um papel destacado nos ecossistemas terrestres na faixa tropical do planeta, pois exercem influência benéfica ao solo, canalizando-o e assim contribuindo para a manutenção ou recuperação da porosidade, aeração, umidade e ciclagem de partículas minerais e orgânicas entre horizontes (FONTES, 1998a). Os estudos de La Fage et al. (1976) com Gnathamitermes perplexus Banks (Termitidae) no deserto de Sonora mostraram que esta espécie é capaz de remover mais que 100 kg/ha/ano de solo, de onde se conclui que este térmita é um importante detritívoro benéfico. Nesta área onde minhocas são aparentemente ausentes, G. perplexus demonstrou ser um importante fator na aeração do solo. Além disso, no Zimbawe, os agricultores utilizam os solos dos ninhos de térmitas como adubo, espalhando-o no campo (NYAMAPFENE, 1986). Na China, a extração aquosa das excretas ou do jardim de fungo dos térmitas é utilizada para curar alterações no fígado e certos tipos de tumores das pessoas. Além disso, os cupins, por serem ricos em nutrientes, podem ser preparados como alimento ou usados em vinhos medicinais (GUI- XIANG et al., 1994). No entanto, algumas espécies de térmitas podem ser caracterizadas como pragas, urbanas e/ou rurais. Nas áreas rurais, os térmitas podem provocar danos em madeiras, raízes, folhas e caules de plantas. Nas árvores, podem atacar tanto o alburno (espécies arborícolas como Nasutitermes e Microcerotermes ) quanto o cerne (cupins subterrâneos como Coptotermes ) (CONSTANTINO, 2002). Além disso, algumas espécies danificam culturas de importância econômica como cana-de-açúcar, arroz de sequeiro, abacaxi, oliveira, batata, cafeeiro, milho, hortaliças e eucalipto (HARRIS, 1971; PIVETTA, 2006). Em áreas urbanas, apesar de somente 10% das espécies de térmitas serem consideradas pragas, estas provocam enormes prejuízos (FONTES, 1995, AMARAL, 2002). A condição de praga urbana é determinada em base ao impacto econômico do dano, expresso em custos de prevenção, controle e reparo (ROBINSON, 1996). No Brasil, o número de espécies de cupins que são consideradas pragas é superior a sessenta (EDWARDS & MILL, 1986). Vinte e duas espécies são consideradas pragas urbanas, 34 agrícolas e 12 agrícolas e urbanas (CONSTANTINO, 2002). Os danos provocados por cupins em áreas urbanas são atribuídos principalmente a espécies das famílias: Kalotermitidae, Rhinotermitidae e Termitidae. No entanto, somente os térmitas das famílias Rhinotermitidae e Termitidae são relatados como pragas agrícolas e urbanas (CONSTANTINO, 2002).
pelas raízes e dentro de troncos das árvores (COWIE et al., 1989). Porém, Frenh et al. (1986) relatam que a espécie Coptotermes lacteus preferiu iscas de cortiça ao invés das de madeira de eucalipto ou pinus. As espécies de Coptotermes constroem ninhos cartonados bem definidos abaixo do solo, na base das árvores e dentro de buracos nos troncos das árvores. Entretanto, espécies australianas constroem ninhos todo epígeo ou parte deles (LENZ et al, 1986). Este material cartonado consiste em solo com madeira mastigada cimentado por saliva e fezes (KING & SPINK, 1969). Coptotermes kishori Roonwall & Chhotani transporta minerais do solo de camadas profundas para construir o material cartonado, pois em comparação entre as propriedades pedológicas deste material com o solo verificou-se que a composição do ninho é muito próxima a do horizonte B (REDDY, 1983). À parte do ninho principal, um ou mais ninhos satélites podem ser construídos e conter parte da população, especialmente nos casos em que uma abundante fonte de alimento estiver disponível à colônia (LENZ et al., 1986). Estes ninhos satélites podem ou não conter reprodutores secundários. Espécies como C. formosanus usam esta estratégia regularmente sempre que a colônia encontra uma fonte abundante de alimento. Eles aumentam em número, formam ninhos satélites com reprodutores secundários funcionais mesmo na presença dos reprodutores primários (LENZ et al., 1988). É importante evidenciar que ninhos remanescentes e isolados podem se tornar colônias independentes. Embora as informações sobre a habilidade de várias espécies de Coptotermes de produzirem neotênicos (reprodutores secundários) serem incompletas, o potencial para fazê-lo parece ser uma característica do gênero. A função para que serve, e, o grau no qual é realizado, dependerá da biologia reprodutiva da espécie e do meio ambiente onde está estabelecida (LENZ & BARRET, 1982). C. formosanus e C. gestroi são as espécies de térmitas mais conhecidas que causam sérios danos ao redor do mundo nos locais onde foram introduzidas. Provavelmente foram transportadas por navios, por exemplo, no porto de Keelung em Formosa/China, na época da revoada muitas centenas de alados saem de ninhos na vizinhança e muitos deles têm a oportunidade de voar atraídos pelas luzes até os navios ancorados na enseada e iniciar novas colônias. O interior dos navios é escuro o suficiente para favorecer o estabelecimento da colônia (OSHIMA, 1919) e a madeira, material comum na construção de navios, pallets e cargas, serve de alimento e abrigo (LI et al., 2013). Em Houston, C. formosanus foi encontrado pela primeira vez num estaleiro (WELDON, 1970). As espécies de Coptotermes são facilmente transportadas pelo comércio humano em parte pelo hábito de construir seus ninhos com material cartonado (JENKINS et al, 2007). Scheffrahn & Su (2008) relatam que na Flórida três barcos particulares foram encontrados colonizados por C. gestroi , e afirmam que colônias a bordo de navios caracterizam-se como a principal forma do homem dispersar esta praga como resultado das revoadas que ocorrem a bordo a procura de terra. Duas espécies de Coptotermes são economicamente importantes no Brasil; a espécie nativa C. testaceus e a espécie introduzida C. gestroi. Coptotermes testaceus é encontrado principalmente em florestas densas, de terra firme, mas também comum em ambientes modificados pelo homem, tais como pastagens e roçados, e é praga em plantações florestais e da agricultura. C. gestroi é praga importante em áreas urbanas (BANDEIRA, 1981; MILANO & FONTES, 2002).
2.1.2.1.1.1 Coptotermes gestroi Wasmann, 1896 O cupim subterrâneo C. gestroi , conhecido na língua inglesa como AST – Asian Subterranean Termite, é originário da região Indo-Malaia e sua distribuição nativa incluiu Burna, Tailândia, Malásia, Sumatra, Borneo, Java e outras ilhas do arquipélago da Indonésia, principalmente em regiões tropicais (SU et al., 1997; TAKEMATSU & VONGKALUANG, 2012). Durante o último século, a atividade humana tem dispersado esta espécie de térmita muito além do seu lugar nativo. C. gestroi já foi coletado nas Ilhas Marquesas e nas Ilhas Maurício em 1932 e em Reunião em 1957 (Oceano Índico). Essa espécie foi introduzida acidentalmente no Brasil no início do século XX e descoberta colonizando edificações nas cidades do Rio de Janeiro (RJ) e Santos (SP) nos anos de 1923 e 1934, respectivamente, e tem rapidamente colonizado outros municípios do interior da região sudeste com crescente impacto econômico (ARAB et al., 2005; MARTINS et al., 2010). C. gestroi tem sido relatado na cidade de Seropédica (RJ) nas edificações residenciais, em diversos prédios da UFRRJ, em áreas agricultáveis e ao longo das rodovias que conduzem ao município na arborização urbana (BICALHO, 2000; MIRANDA et al., 2002; PERALTA et al., 2004; BELTRÃO, 2012; MENEZES et al., 2013). Li et al. (2013) sumarizaram os registros de ocorrência do C. gestroi ao redor do mundo e reuniram relatos de ataques em 184 localidades presentes em 24 países; e baseado em geo-referências das localidades de ocorrência e dos dados globais de clima, geografia e áreas de população humana, concluindo que este térmita é mais comumente encontrado em climas quentes, com altas precipitações, baixas altitudes e áreas povoadas pelo homem. No Sudeste do Brasil C. gestroi é a espécie mais freqüente, causando incalculáveis prejuízos econômicos. Esta espécie danifica uma ampla variedade de materiais, tais como madeira das estruturas, papelão, cabos elétricos e telefônicos, plásticos, reboco, couro, tecidos, isopor, metal, borracha, betume, gesso e árvores vivas (COSTA-LEONARDO & BARSOTTI, 1998; COSTA-LEONARDO et al., 1999; FONTES, 1995). Alguns desses materiais não celulósicos, como plástico, borracha, metal, entre outros, não são usados para a alimentação dos cupins e sim são danificados quando o inseto está à procura de madeira ou de produtos celulósicos. Produtos que têm componentes celulósicos podem e são muitas vezes incorporados à dieta desses insetos. As madeiras que são infestadas mais seriamente, por C. gestroi , são as mais moles (menor densidade), como o Pinus , mas esse cupim já foi encontrado até consumindo taco de peroba, que é considerada uma madeira nobre. Além disso, C. gestroi também coloniza muitas árvores vivas localizadas em áreas urbanas. Devido ao fato dessa espécie atacar somente o cerne das árvores, essas apresentam freqüentemente uma aparência saudável, até que tombam após uma tempestade, colocando em perigo a vida das pessoas e bens materiais, como carros e casas (COSTA-LEONARDO, 2002). A identificação de C. gestroi é facilmente realizada pela casta dos soldados, com aproximadamente 5 mm de comprimento, e que apresenta uma cápsula cefálica oval, de cor amarelada. Esses soldados são muito agressivos e aparecem em grande número em áreas ou regiões do ninho onde ocorrem perturbações. Quando tocados pelo dedo humano, rapidamente expelem uma gota de secreção e, freqüentemente prendem a pele da pessoa usando suas mandíbulas. Essa secreção é um fluido branco e leitoso, uma espécie de cola produzida pela glândula frontal desses soldados, usada para defesa do ninho (COSTA-LEONARDO, 2002). Além disso, soldados de C. gestroi são semelhantes aos de C. formosanus , pois ambos tem uma abertura larga no alto da cabeça chamada fontanela., e apresentam cabeça com formato de gota, em vista dorsal. No entanto, soldados de C. gestroi ao serem analisados via microscopia de varredura