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Sugestões para Combater a Cafetinação da Vida: Micropolíticas e Colonialismo-Capitalista, Notas de estudo de Ética

Texto que aborda a importância de libertar a vida em suas formas micropolíticas e macropolíticas, enfatizando a luta contra a opressão colonial-capitalista e a insurreição dos inconscientes contra o abuso da força vital. O texto propõe exercícios de fabulação e reflexão sobre a superfície topológico-relacional do mundo, as duas faces indissociáveis de uma vida implicita em distintas experiências de subjetividade.

O que você vai aprender

  • Que é a cafetinação da vida e como ela afeta as formas de subjetividade?
  • Quais são as formas de relação entre as micropolíticas e as macropolíticas?
  • Quais são as formas de insurreição micropolítica e macropolítica?
  • Como a opressão colonial-capitalista afeta as relações de poder na sociedade?
  • Como podemos reapropriar a força vital e sua potência de criação?

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Andre_85
Andre_85 🇧🇷

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Esferas da insurreição
Sugestões para o combate à cafetinagem da vida
UFBA – Pró-reitoria de extensão – Pontos críticos da extensão
Campus de Olinda, Salvador, 15 de setembro de 2017
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Esferas da insurreição

Sugestões para o combate à cafetinagem da vida

UFBA – Pró-reitoria de extensão – Pontos críticos da extensão

Campus de Olinda, Salvador, 15 de setembro de 2017

O esgotamento dos recursos naturais provavelmente está muito menos avançado
do que o esgotamento dos recursos subjetivos, dos recursos vitais que atinge
nossos contemporâneos. Se nos satisfazemos tanto em detalhar a devastação do
ambiente, é também para cobrir a assustadora ruína das subjetividades. Cada
maré negra, cada planície estéril, cada extinção de espécies é uma imagem das
almas em farrapos, um reflexo de nossa ausência de mundo, de nossa impotência
íntima para habitá-lo.
(Comitê Invisível, 2016)
Trata-se sempre de liberar a vida lá onde ela é prisioneira, ou de tentar fazê-lo
num combate incerto.
(Gilles Deleuze and Félix Guattari, 1991)
Dirigimo-nos aos inconscientes que protestam.
(Gilles Deleuze and Félix Guattari, 1972)

Diante deste trauma ou sucumbimos ou amplia-se nosso horizonte de decifração da

violencia em suas novas e antigas modalidades

É então que vislumbramos um limite intransponível contra o qual esbarram

os projetos das esquerdas: seu horizonte só nos permite alcançar a esfera

macropolítica

Se a luta nesta esfera é, sem dúvida, indispensável e tem um inegável valor, o

problema é que deixa de fora a luta na esfera micropolítica

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A fita de Moebius

Uma superfície topológica na qual o extremo de um dos lados continua

no avesso do outro, o que os torna indiscerníveis e a superfície, uniface.

O Sujeito e as formas:
o Familiar
O Fora-do-sujeito e as forças:
o Estranho
As duas faces indissociáveis de um mundo
implicam distintas experiências da
subjetividade, com distintas funções

Em sua experiência enquanto fora-do-sujeito , a subjetividade apreende as forças de um mundo, cujas emanações geram outros mundos em estado virtual

São germes de mundos que pulsam em todos os corpos, engendrados pelas ressonâncias singulares das forças em cada um deles

Modo de apreensão: extracognitivo (via afeto: intuição, saber-do-corpo, saber-do-vivo, saber eto-ecológico)

Lugar do outro: um corpo vivo cujos efeitos habitam nosso corpo e o compõem Modo de relação com o outro: empatia, ressonância, reverberação

Função: habitar nossa condição de viventes

Em sua experiência enquanto sujeito, a subjetividade apreende as formas de um mundo em seu estado atual: modos de existência, suas funções, seus códigos, suas representações, seus sentidos Modo de apreensão: cognitivo (via percepção, associação, classificação e reconhecimento) Lugar do outro: um corpo externo, separado do sujeito, sobre o qual projeta-se uma representação Modo de relação com outro: comunicação Função: existir socialmente

O incontornável paradoxo entre as duas experiências de um mundo, díspares e indissociáveis,
coloca uma interrogação para a subjetividade

Experiência das Forças / Experiência das Formas

O Estranho-Familiar

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A pulsação deste novo problema convoca o desejo a agir para recobrar um equilíbrio
É aqui que se distinguem as micropolíticas, segundo a perspectiva que orienta as ações
pensantes do desejo

Esferas da insurreição

[pistas para distinguir macro e micropolítica]

I - Insurreição macropolítica: um protesto programático das consciências

Foco (visível e audível) : a assimetria de direitos nas formas de relação social estabelecidas pelo regime colonial-capitalístico. Relações de poder no âmbito das classes sociais, raças, gêneros, sexualidades, religiões, etnicidade, colonialidade...

Agentes (apenas os humanos) : todos aqueles que ocupam posições subalternas nas relações de poder em todos os domínios da vida social.

O que move seus agentes: o impulso de ‘denunciar’ as injustiças do mundo em suas formas vigentes para mobilizar as consciências.

Intenção (empoderar-se) : sair da invisibilidade e da inaudibilidade, para ocupar afirmativamente um lugar de fala e de direito de existência digna. Desmantelar a assimetria nas relações de poder, promovendo uma redistribuição dos lugares que seja mais igualitária – não só no campo político, mas também nos campos social e econômico.

Critério moral de avaliação das situações: sistema de valores estabelecidos – bússola moral que

orienta nossas escolhas e ações na esfera macropolítica.

Modo de operação (por oposição ao opressor para destituí-lo de seu lugar de poder): estratégias de luta contra o opressor e as leis que sustentam seu poder em todas suas manifestações na vida individual e coletiva.

Modo de cooperação (construção de movimentos organizados, via recognição identitária): em torno de uma mesma reivindicação (concreta) e em função de uma mesma posição (subalterna) num determinado segmento da vida social. Nesta posição, que pertence à esfera da ‘pessoa’ na experiência subjetiva, desenha-se um suposto contorno identitário, que facilita a necessária agrupação; o problema é quando a subjetividade confina-se neste contorno e a ele se reduz. Um modo de cooperação que gera força de pressão para viabilizar uma reversão efetiva nas relações de poder no plano institucional.

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impulso de ‘anunciar’ mundos por vir para mobilizar os inconscientes.

Intenção (potencializar-se): reapropriar-se da força vital e sua potência de criação, o que no humano depende de reapropriar-se igualmente da linguagem para que a pulsão encontre seu dizer, de maneira a tornar sensíveis os mundos que se anunciam ao saber-do-corpo. Esta é a condição para que o movimento pulsional se complete em seu destino ético, produzindo um acontecimento. A insurreição micropolítica é, nela mesma, uma ressurreição da força vital. A intenção aqui é produzir ‘potencialização’, o que é distinto de ‘empoderamento’.

Critério pulsional de avaliação das situações: o que a vida pede - bússola ética que orienta nossas escolhas e ações na esfera micropolítica.

Modo de operação (por afirmação da vida em sua essência germinativa, para desertar as relações de poder) : não ceder ao abuso da pulsão, o que depende de fazer a travessia do trauma que tal abuso provoca e que prepara o terreno para o sequestro de sua potência. É este trauma o que nos faz permanecer enredados na cena das relações de poder, seja na posição de subalternidade ou de soberania (mesmo que nos insurjamos contra elas macropoliticamente).

Há que desertar seu papel, transfigurando seu personagem ou simplesmente abandonando a cena que, com isso, não tem mais como se sustentar. Construir para si um outro corpo, abandonando a carapaça de um corpo estruturado na dinâmica do abuso. A resistência micropolítica é também e indissociavelmente uma resistência clínica: curar a vida de sua impotência, sequela de seu cativeiro na trama relacional do abuso.

Modo de cooperação (construção do comum, via empatia): tecer múltiplas redes de conexões a partir de situações, experiências e linguagens distintas, cujo traço de união é uma perspectiva ética: a afirmação da vida em sua essência transfiguradora e transvaloradora. Criam-se territórios relacionais temporários, variados e variáveis, nos quais se produzem sinergias coletivas, provedoras de um acolhimento recíproco que favorece a travessia do trauma do abuso colonial-capitalistico. Tende a compor-se assim um corpo individual e coletivo resistente à cafetinagem da vida, capaz de a repelir. De tais reapropriações coletivas da pulsão depende a possibilidade de constituição de campos de emergência de acontecimentos, nos quais configuram-se outros modos de existência e suas respectivas cartografias.

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  1. Não ceder à vontade de conservação das formas e à pressão que esta exerce contra a vontade de potência da vida em seu impulso de produção de diferença. Sustentar-se no fio tênue deste estado instável até que a imaginação criadora construa um lugar de corpo-e-fala que, por ser portador da pulsação do estranho-familiar, seja capaz de atualizar o mundo virtual que esta experiência anuncia, permitindo assim que as formas agonizantes acabem de morrer;
  2. Não atropelar o tempo próprio da imaginação criadora, para evitar o risco de interromper a germinação de um mundo e, com isso, tornar a imaginação vulnerável a deixar-se desviar pelo regime colonial-cafetinístico. Tal desvio transforma a imaginação criadora em mera ‘criatividade’ a serviço da reprodução do status quo que, mascarado de ‘novidade’, torna-se sedutor e mobiliza o desejo de consumo;
  3. Não abrir mão do desejo em sua ética de afirmação da vida, o que implica em mantê-la fecunda, fluindo em seu processo ilimitado de diferenciação;
  4. Não negociar o inegociável: tudo aquilo que impediria a afirmação da vida, em sua essência de potência de criação. Aprender a distinguí-lo do negociável: tudo aquilo que se poderia reajustar porque não obstaculiza a manifestação da força vital instituinte mas, ao contrário, gera as condições objetivas para que ela se realize em seu destino de produção de acontecimento;
  5. Praticar o pensamento em sua plena função: indissociavelmente ética, estética, política, crítica e clínica. Isto é, reimaginar o mundo em cada gesto, palavra, relação, modo de existir – toda vez que a vida assim o exigir;

Vale lembrar que este trabalho de artesania de si, do qual depende a

descolonização na esfera micropolítica, implica um esforço constante que

jamais atinge sua plena e definitiva realização. Ao longo de nossa existência,

oscilamos entre políticas do desejo que variam entre seus dois extremos.

De um lado, a submissão ao poder dos fantasmas que nos trazem de volta

para nosso personagem habitual na cena colonial-capitalística, com o qual

participamos das relações de abuso (o que inclui o personagem da vítima).

De outro, um trabalho sem fim para desmanchar este personagem, nos

reapropriarmos da pulsão e, por ela guiados, criarmos um outro persoagem,

que esteja à altura da vida, encarnando sua potencia de transfiguração.

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