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Este texto discute a importância de feliz ano velho na representação da cultura jovem brasileira dos anos 80, explorando a relação entre memória, experiência e narrativa. O autor analisa a presença de elementos culturais como a música, a televisão e a relação com as drogas, além da relação entre a cultura jovem e a militância política.
Tipologia: Notas de estudo
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Não perca as partes importantes!
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, em cumprimento às exigências para obtenção do título de Mestre em História, Área de Concentração em História e Cultura Histórica.
João Batista Peixoto da Silva
Dissertação de Mestrado avaliada em //___ com conceito __________________
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Raimundo Barroso Cordeiro Júnior Programa de Pós-Graduação em História – Universidade Federal da Paraíba Orientador
Profa. Dra. Elisa Mariana de Medeiros Nóbrega
Programa de Pós-Graduação em Literatura e Interculturalidade – Universidade Estadual da Paraíba Examinadora Externa
Profa. Dra. Telma Cristina Delgado Dias Fernandes Programa de Pós-Graduação em História – Universidade Federal da Paraíba Examinadora Interna
Prof. Dr. Iranilson Buriti de Oliveira Programa de Pós-Graduação em História – Universidade Federal de Campina Grande Suplente Externo
Profa. Dra. Cláudia Engler Cury Programa de Pós-Graduação em História – Universidade Federal da Paraíba Suplente Interna
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Encontrei diversas pessoas que me ajudaram durante a realização deste trabalho, não tenho como mencionar todas e nem a importância de todas elas na minha vida, portanto, rogo a compreensão das pessoas que não forem mencionadas nos limites destes agradecimentos.
Primeiramente, gostaria de agradecer à Deus por haver me proporcionado saúde física e emocional para chegar até aqui, enfrentando todas as adversidades com a certeza de um Deus sempre a me guiar.
A minha família sempre foi meu porto seguro, sempre esteve ao meu lado quando eu mais precisei, me incentivando quando a tristeza me abatia, expressando sua confiança nas minhas escolhas, enfim, acreditando em mim quando às vezes até eu não tinha certeza. Devo tudo à vocês: meus pais (Antônio Claudino e Maria de Lourdes) e meus irmãos (Aldaíres, Almir, Júnior). Jamais pagarei a minha dívida para com o amor e carinho demonstrado por vocês!
Agradeço aos professores integrantes do PPGH/UFPB, em particular à alguns que sempre estiveram dispostos a me ajudar quando eu mais precisei: Paulo Giovani, Ângelo Pessoa, Cláudia Cury, Damião de Lima, Regina Behar; agradeço também ao professor Jaldes Menezes, ex-integrante do Programa, um grande mestre que eu aprendi a admirar.
Agradeço aos professores componentes da banca examinadora do trabalho: Raimundo Barroso (meu orientador), pela liberdade concedida durante a realização do trabalho; Elisa Nóbrega, figura importante durante a qualificação, fazendo as críticas necessárias ao trabalho e que foram fundamentais no meu “encontro” com o tema, além da gentileza em se dispor a participar da defesa propriamente dita; Telma Fernandes, grande amiga, cativante na sua capacidade de acolher um aluno “verde” na oficina de Clio; minha admiração por ela transcende o universo acadêmico, reconhece a figura humana apaixonante que ela é. Serei eternamente grato a você por tudo, Telma, inclusive pela seriedade em acompanhar e participar das minhas atividades no Programa.
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Aos colegas da turma 2010 do PPGH/UFPB, em particular os seguintes: Rafaela Pereira, Márcio Macêdo, Leonardo Rolim, Germana Guimarães, Fabíola Stella e Carla Karinne. Colegas que compartilharam encontros e desencontros no decorrer da experiência do curso.
Agradeço ao meu amigo Bruno Celso Sabino Leite, ex-aluno do Programa, pela amizade desde os tempos da graduação.
Encontrei duas figuras singulares, nessa minha trajetória, partícipes nessa aventura de Clio: Noadri Késsio e Rômulo Pereira! Figuras destoantes num universo acadêmico marcado por tanto espírito competitivo, sempre dispostos a me ajudar quando eu precisei, verdadeiros amigos para todas as horas, rindo, compartilhando as tristezas, ouvindo minhas lamentações, e rindo novamente, vivenciando experiências insólitas (como a festa na casa do francês!), ao som de muita música boa, algumas doses de álcool, livros emprestados e muitas cenas engraçadas. Serei eternamente grato à amizade de vocês!
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The objective of this study is to investigate the universe of Brazilian youth culture in the „80s, in particular, its projection around a genre of writings focused on the theme of youth living experience in the context of Brazil‟s political openness and democratization. To this end, we selected the book Happy old year , of Marcelo Rubens Paiva, published in the the early 1980s, more precisely in 1982, while projecting portrait of the experience of youth who experienced the dilemmas of the time, giving the individual experience of Marcelo, associated with the event of an accident that left him in a wheelchair, the status of the testimony of a Young inserted in to the effervescent world transformations that marked the historical setting of Brazil at the time, including his experience in political activism and his narrative of memory surrounding the disappearance of his father, a victim of the repression of the years of lead. It is through autobiographical writing that the dilemmas faced by Marcelo gain projection in relation to the historical universe in which it is inserted, linking individual memory and social memory.
Keywords: Literature, Memory, Years 80.
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ditas e etc., perfazendo, dessa maneira, um universo cultural extremamente produtivo e diversificado, materializado na ferramenta conceitual da cultura histórica, objeto de investigação que se expressa a um nível teórico, metodológico e epistemológico. Nesse sentido, nosso trabalho está institucionalmente vinculado ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Paraíba, em particular à Linha de Pesquisa Ensino de História e Saberes Históricos, legitimada pela área de concentração em História e Cultura Histórica, responsável por articular professores, alunos e pesquisadores em torno de investigações referentes ao universo de saber expresso no norteamento teórico associado com tais ferramentas. Enquanto espaço institucional de interlocução acadêmica no qual o presente trabalho se insere, nos pareceu extremamente produtivo a oportunidade de reflexão em torno do circuito responsável por incorporar o conhecimento histórico num universo composto por uma diversidade de saberes, e dessa forma, não somente investigar a configuração de um circuito de enunciados frente às representações do passado, como também, refletir sobre os usos do passado enquanto ferramenta de interlocução dos homens com a experiência da temporalidade. Dessa forma, nos pareceu viável partir da seguinte prerrogativa para desenvolvermos nosso projeto de pesquisa: se o estatuto ocupado pelo conhecimento histórico, no mundo contemporâneo, desfruta de um horizonte teórico não mais associado à imagem da pretensa busca de um conhecimento capaz de dar conta de verdades absolutas, as memórias, enquanto recurso de mediação das experiências dos homens no contexto das temporalidades, poderiam ser problematizadas não apenas enquanto fonte, mas também, enquanto objeto de pesquisa. Partir da perspectiva acima não significa abrir mão do reconhecimento de diferenças entre a história e a memória, apesar da necessidade de se amenizar essa clivagem em se tratando do aspecto propriamente epistemológico, já que o fundamental passa a ser a necessidade de se pensar as fronteiras entre o saber histórico e a memória tomando-se a memória (e as diversas práticas do seu contexto) como objetos de análise e do entendimento do historiador.^1
(^1) MENESES, Ulpiano Bezerra de. “A crise da Memória, História e Documento: reflexões para um tempo de transformações”. In: SILVA, Zélia Lopes da (org.). Arquivos, patrimônio e memória: trajetórias e perspectivas. São Paulo: Editora UNESP: FAPESP, 1999, p. 11.
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Novas cartografias das relações entre cultura e poder no mundo contemporâneo nos levaram a reconhecer a presença de um conjunto extremamente rico no que diz respeito ao grau de alcance associado com a emergência de dispositivos discursivos originais, quando, a exemplo da cultura escrita enquanto prática cultural, as transformações advindas do impacto do mundo virtual no contexto da sociedade contemporânea permitem territorializar novas formas de intervenção no campo da cultura, inclusive, oportunizando novas leituras da memória enquanto linguagem de representação do passado. O reconhecimento da historicidade que marca a presença de uma cultura escrita norteou nossa intenção em delimitar o recorte temporal dos anos 80 enquanto referência para as narrativas escritas de memória focalizadas na nossa proposta de pesquisa, levando em consideração a presença marcante de um gênero de escritos associado com o universo de uma cultura jovem emergente, em particular o livro de Marcelo Rubens Paiva, Feliz Ano Velho , publicado em 1982, entretanto, na nossa perspectiva, nos pareceu mais produtivo enveredar por um percurso capaz de enredar a obra num circuito cultural habilitado a uma leitura específica sua em consonância com um universo cultural, político, social, que marcou profundamente um momento da história do Brasil recente ainda pouco explorado pela historiografia brasileira contemporânea. Assim sendo, num primeiro momento da pesquisa tínhamos o interesse de organizar um roteiro de trabalho capaz de explorar uma análise centrada no universo propriamente teórico da obra, com ênfase na relação entre memória , experiência e narrativa , entretanto, conseguimos reconhecer as fragilidades associadas com tal perspectiva, quando o excesso dedicado ao universo das reflexões teóricas tornava secundária a compreensão do universo cultural dos anos 80, sem falar numa condução improdutiva do trabalho em termos da relação entre o arcabouço teórico utilizado e os dados da pesquisa. No nosso entendimento as possibilidades da pesquisa poderiam ser aproveitadas de maneira mais consistente se tivéssemos definido, de maneira mais clara e coerente, uma problemática central capaz de nos conduzir no interior da pesquisa, com o mérito de, ao mesmo tempo, não nos fazer recair numa perspectiva simplesmente descritiva, repetitiva e tautológica. No decorrer da pesquisa nos convencemos da necessidade de estabelecermos algumas mudanças no interior do roteiro da pesquisa original, destinando um lugar
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cenário promissor, visto que “No conhecimento histórico, a formulação de problemas torna-se uma operação delicada e exigente, pois do problema teórica e metodologicamente bem formulado sairá a pesquisa pertinente.” (REIS, 1994, p. 128) Investigar a história da cultura no Brasil da década de1980 nos levou a enfrentar uma série de preconceitos para demonstrar seu lugar fundamental no sentido da contribuição da cultura jovem brasileira para a cena cultural nacional, inscrevendo as marcas de uma geração aguerrida que vivenciou o processo de abertura política e de redemocratização do final dos anos 70 e início dos anos 80, redefinindo, dessa forma, o estatuto de “década perdida” endereçado à década de 1980, chamando atenção para a importância fundamental da chamada “geração anos 80” na sua contribuição para renovar e modernizar a cultura jovem no Brasil, incorporando novas linguagens artísticas através do recurso a uma atitude despojada e irreverente. A radiografia de uma época exige, por parte do pesquisador, uma árdua tarefa de perceber os deslocamentos de sentido inscritos no cotidiano próprio a cada ator social componente da paisagem histórica em questão, levando ao reconhecimento do caráter heterogêneo inscrito nos variados interesses dos diversos grupos sociais componentes da sociedade em questão, evidenciando, dessa maneira, para os nossos interesses aqui expressos, a condição singular expressa nesse gênero de escritos de teor autobiográfico associados com a cultura jovem brasileira dos anos 80, em face de outras práticas culturais inseridas na mesma paisagem histórica e articuladas a outras demandas de discurso e de poder, ou seja, que são alimentadas e legitimadas por outras lutas simbólicas de poder. Os arquivos da nossa cultura, enredados em cartografias específicas de lutas e poder, equacionam momentos fundamentais para a compreensão do significado estratégico do conhecimento da história da cultura brasileira, no sentido do melhor entendimento das tramas e dos enredos da cultura no mundo contemporâneo:
No contexto pós-colonial e mundializado das sociedades contemporâneas, quando as ideologias se disseminam e propagam em escala transnacional, neste momento de reforço dos valores da cultura de consumo nos países periféricos, é preciso consultar nossos arquivos, estudar a história da cultura brasileira. Só assim poderemos afirmar sua singularidade universalizante a partir do conhecimento de nossas tradições e avaliar as possibilidades de uma inserção ágil e criativa no mundo transnacional. (VELOSO; MADEIRA, 1999, p. 31)
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Compondo o arquivo da história da cultura brasileira, Feliz Ano Velho retrata, a partir da narrativa autobiográfica do autor, o percurso e os percalços de uma juventude que vivenciou a experiência de um país confuso, um país que já não era mais o mesmo daquele dos seus pais, um país que já vivia a ressaca daquele ufanismo de direita que por tanto tempo impregnou o imaginário nacional, assim como, também, demonstrava insatisfação frente o universo das tendências mais esquerdistas de atuar e de pensar, resgatando o frescor e a atitude crítica da cultura jovem comprometida com os grandes desafios de sua época, tudo isso, associado com o universo cultural de então, repleto de elementos como as bandas de rock, a influência de uma cultura televisiva cada vez mais incorporada ao cotidiano das famílias brasileiras, inclusive com a associação de programas televisivos voltados para o grande público que se tornaram quase sinônimo do imaginário dos anos 80, a exemplo de TV Pirata , Armação Ilimitada , Perdidos na Noite e etc., além de uma presença marcante da relação estabelecida com as drogas, com toda uma série de atitudes e valores morais expressos nesse universo de comportamentos. Procuramos desenvolver nossa proposta de trabalho contemplando, na sequência dos capítulos, uma visão de conjunto do universo cultural dos anos 80, com o objetivo de situar de maneira mais clara o leitor no terreno do contexto mais geral da época, isso sem deixar de lado a vinculação da obra com o universo cultural no qual ela se insere e a presença de alguns componentes estilísticos marcantes. Procuramos contemplar, ainda na sequência dos capítulos, a análise do paradoxo que envolve a narrativa de Marcelo Rubens Paiva: dar conta da (des)territorialização do personagem e, em seguida, da sua (re)invenção, da ruptura à nova identidade, percurso presente em todo o desenrolar da narrativa, sem esquecer o universo repleto de alusões a um cotidiano fragmentado e disperso por definição, componente central nas marcas da trajetória de vida narrada. Trazemos ainda na sequência dos capítulos a discussão acerca das novas facetas assumidas pela dimensão das lutas políticas no interior da narrativa, a (res)significação do universo do político na narrativa, com a ênfase no percurso trilhado pelo personagem Marcelo, andarilho de mundos e de universos culturais forjados sob a verdade inscrita na sua experiência de vida. Qual o estatuto ocupado por uma história de vida no interior dos estudos inseridos no campo da historiografia? Esperamos poder contribuir para uma melhor
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No prefácio escrito para a primeira edição de Feliz Ano Velho , Luís Travassos comenta:
Marcelo, cara, peguei teu texto para ler em um dia de tremendo baixo- astral. Como sempre acontece comigo (desde que te conheço), recebi uma porrada de energia na boca do estômago e o moral subiu dos intestinos para a cabeça. O teu livro está um barato, especialmente porque dá pra sentir um gozo aberto tipo pôquer descoberto. No fundo eu acho que a transa da literatura está ligada à transa da verdade (assim como a revolução, o amor e um montão de coisas). E é aí que está todo o pique do que você escreveu. A tua história está transada de um jeito puramente terno, bem-humorado, erótico e sedutor, o que, aliás, é a tua maneira de ser. (TRAVASSOS, 1982, p. 07)
O “barato” a que se refere Luís Travassos, acerca de Feliz Ano Velho, talvez esteja contido na garra e no fôlego que Marcelo Rubens Paiva confere à narrativa, e que é também, aliás, a mesma garra e fôlego com a qual ele transpôs a armadilha do destino que deixou tetraplégico, a poucos dias do Natal de 1979, um jovem paulista de classe média alta, marcado pelo sucesso entre as garotas, estudante de Engenharia Agrícola na Unicamp, que vê sua vida se transformar num verdadeiro pesadelo em questão de segundos, após um passeio com um grupo de amigos, no qual ele resolve dar um mergulho num lago de meio metro de profundidade:
14 DE DEZEMBRO DE 1979 17 HORAS SOL EM CONJUNÇÃO COM NETUNO E EM OPOSIÇÃO A VÊNUS Subi numa pedra e gritei:
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santo e me deu um estado total de lucidez: “Estou morrendo afogado”. Mantive a calma, prendi a respiração, sabendo que ia precisar dela para boiar e agüentar até que alguém percebesse e me tirasse dali. “Calma, cara, tente pensar em alguma coisa”. Lembrei que sempre tivera curiosidade em saber como eram os cincos segundos antes da morte, aqueles em que o bandido com vinte balas no corpo suspira...
O que define a autobiografia para quem a lê é, antes de tudo, um contrato de identidade que é selado pelo nome próprio. E isso é verdadeiro também para quem escreve o texto. Se eu escrever a história de minha vida sem dizer meu nome, como meu leitor saberá que sou eu? É impossível que a vocação autobiográfica e a paixão do anonimato coexistam no mesmo ser. (LEJEUNE, 2008, p. 33) O escritor João Ubaldo Ribeiro em A Casa dos Budas Ditosos: luxúria nos coloca frente a frente com uma personagem extremamente curiosa, multifacetada, uma