

























































































Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Prepare-se para as provas
Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Prepare-se para as provas com trabalhos de outros alunos como você, aqui na Docsity
Os melhores documentos à venda: Trabalhos de alunos formados
Prepare-se com as videoaulas e exercícios resolvidos criados a partir da grade da sua Universidade
Responda perguntas de provas passadas e avalie sua preparação.
Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Comunidade
Peça ajuda à comunidade e tire suas dúvidas relacionadas ao estudo
Descubra as melhores universidades em seu país de acordo com os usuários da Docsity
Guias grátis
Baixe gratuitamente nossos guias de estudo, métodos para diminuir a ansiedade, dicas de TCC preparadas pelos professores da Docsity
da teologia pentecostal assembleiana, os quais seriam relevantes e enriquecedores para a fundamentação da relação entre crente/igreja e sociedade desde o ...
Tipologia: Exercícios
1 / 97
Esta página não é visível na pré-visualização
Não perca as partes importantes!
Dissertação de Mestrado Para obtenção do grau de Mestre em Teologia Escola Superior de Teologia Programa de Pós-Graduação em Teologia Área de Concentração: Teologia e História
Dissertação de Mestrado Para obtenção do grau de Mestre em Teologia Escola Superior de Teologia Programa de Pós-Graduação em Teologia Área de Concentração: Teologia e História
Data: 25 de agosto de 2010
Rudolf von Sinner – Doutor em Teologia – EST (presidente)
Roberto Ervino Zwetsch – Doutor em Teologia - EST
Ricardo Mariano – Doutor em Sociologia – PUC/RS
MAJEWSKI, Rodrigo Gonçalves. Assembleia de Deus e Teologia Pública. O discurso pentecostal no espaço público. São Leopoldo: Escola Superior de Teologia/Programa de Pós- Graduação em Teologia, 2010.
A presente dissertação apresenta alguns temas da teologia pentecostal em interface com o conceito de teologia pública, buscando refletir sobre as possíveis consequências, no espaço público, de um discurso fundamentado no pentecostalismo. O primeiro capítulo apresenta a teologia mais popular das Assembleias de Deus, manifesta nas revistas de escola bíblica dominical publicadas pela editora da denominação, a CPAD. Nela se constata que houve um progressivo interesse da denominação em relação às questões sociais/políticas, ampliando-se gradativamente, ainda que não maciçamente, o espaço dedicado a essa temática, havendo um aprimoramento constante da fundamentação teológica. O segundo capítulo explica de forma resumida alguns temas relevantes da teologia pentecostal assembleiana, os quais seriam relevantes e enriquecedores para a fundamentação da relação entre crente/igreja e sociedade desde o ponto de vista desta corrente teológica. Os temas são os seguintes: o poder do Espírito (poder de Deus) e os milagres; a eclesiologia; a santificação e a ética pentecostal, com sua ênfase na separação do “mundo”; a escatologia e sua crença no retorno iminente de Cristo; e a noção de guerra espiritual e toda a cosmologia pentecostal (a crença em anjos, demônios e sua influência sobre indivíduos, sociedade e realidade em geral). O terceiro capítulo pergunta pelas consequências públicas que se podem extrair destes pontos específicos da teologia pentecostal. Discorre, num primeiro momento, sobre como os mesmos não deveriam ser interpretados, na medida em que poderiam levar a condutas inadequadas para um cristão no espaço público, ao menos inadequadas do ponto de vista de uma teologia pública. Num segundo momento, aponta algumas leituras que parecem mais adequadas para os temas teológicos pentecostais, extraindo então consequências desejáveis e em consonância com o que alguns teólogos públicos propõem, facilitando o diálogo com a sociedade e uma participação mais efetiva no espaço público, em busca do bem comum, por parte do crente pentecostal e das próprias Assembleias de Deus enquanto instituição. Propõe, em resumo, as seguintes interpretações: poder de Deus que implique em serviço comunitário humilde para toda sociedade; uma igreja peregrina, mas consciente e atuante; uma ardente expectativa pela consumação do Reino de Deus que motive a transformação social; uma santificação que se expanda pelo social, no combate às injustiças; e uma postura humilde e sábia quanto aos fenômenos espirituais que possam influenciar as pessoas e a sociedade.
Palavras-chave: Teologia Sistemática, Teologia Pentecostal, Teologia Pública, Assembleia de Deus, espaço público.
A Deus, que me deu capacidade para realizar este empreendimento. Aos meus pais, que sempre me apoiaram na decisão de aprofundar meus conhecimentos teológicos. Aos colegas do mestrado e do grupo de pesquisa, com os quais pude ter discussões interessantes, enriquecedoras e bem humoradas. Ao Professor Dr. Rudolf von Sinner, sob cuja orientação pude pesquisar com total autonomia, sem patrulhamentos ideológicos. Aos alunos do Instituto Bíblico Esperança (IBE), que com suas dúvidas e comentários me ajudaram a refletir sobre a situação do pentecostalismo. Ao Pastor Eliezer Morais, que disponibilizou a estrutura do IBE para me auxiliar nas pesquisas. Ao aluno Paulo Brizola que me auxiliou nas pesquisas do mestrado. Ao Professor de Escola Bíblica Dominical Misael, que ajudou a despertar em mim o desejo de conhecer mais sobre os mistérios de Deus. À Assembleia de Deus de Porto Alegre, igreja na qual fui livrado da morte ainda na minha infância, pelo poder de Deus, e que fez despertar em mim o amor pela teologia ainda na minha adolescência, pela Escola Bíblica Dominical.
Rui Josgrilberg destaca que, na América Latina, o crescimento dos pentecostais foi tão grande que tiveram aumentadas suas responsabilidades sociais e visibilidades políticas, de forma que não podem mais se omitir ou distanciar dos assuntos extraeclesiais. Porém, deveria haver reflexões teológicas pentecostais mais aprofundadas, inclusive articulando o político e o social com o teológico, quiçá promovendo uma nova interpretação do social à luz das doutrinas fundamentais do movimento^5.
Em relação à teologia pentecostal, mais especificamente a teologia da AD, cabe aqui uma observação preliminar: em virtude da presença decisiva dos missionários suecos, a teologia pentecostal assembleiana sofreu forte influência escandinava até a década de 1950, ocasião em que os norte-americanos se fizeram presentes com maior força por meio dos institutos bíblicos e de obras traduzidas pela CPAD (Casa Publicadora das Assembleias de Deus)^6. Recentemente, porém, e em relação a esta literatura, a ênfase passou a ser a reflexão teológica própria, a partir de autores nacionais, não se negligenciando, evidentemente, a herança estrangeira recebida. Neste sentido, surgiu em 2008 a “Teologia Sistemática Pentecostal”^7 , primeira obra do gênero editada e escrita por brasileiros, a qual foi bastante utilizada neste trabalho.
As reflexões mais amplas sobre a relação entre igreja e sociedade, porém, ainda escasseiam nos meios pentecostais. Faz-se necessário refletir sobre as especificidades da teologia pentecostal, bem como as possíveis consequências, no espaço público, de um discurso fundamentado nesse padrão teológico específico.
Assim, e acima de tudo, esta pesquisa se propõe a fazer uma análise teológica da teologia pentecostal assembleiana, verificando possíveis interações desse discurso com a sociedade, esta última em sentido amplo. Para tanto, um diálogo, ainda que incipiente, com a chamada Teologia Pública será feito, para que se comece a refletir até que ponto o discurso pentecostal assembleiano pode interagir com esse campo de estudos teológicos. O método utilizado foi o da pesquisa bibliográfica.
Preferiu-se delimitar o período de análise da teologia da AD entre o fim da década de 1980 e o ano de 2010, pois foi a partir dessa época que, com a Assembleia Nacional
(^5) JOSGRILBERG, Rui. Pentecostalismo e questões teológicas. Revista de Cultura Teológica , vol. 3 n. 13, p. 6 57-68, 1995, à p. 67. 7 ARAUJO, 2007, p. 558s. GILBERTO, Antônio. et al. (ed.). Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2008.
Constituinte, a denominação “despertou” para a esfera pública, passando a fundamentar teologicamente a participação do crente nos diversos espaços da sociedade, especialmente nos meios políticos. Desde então, portanto, pode-se perceber um maior volume de material teológico abordando assuntos que transcendem a realidade individual/espiritual/eclesial.
Quanto ao material da pesquisa, as fontes foram praticamente todas primárias, em especial no que diz respeito à teologia pentecostal. Foram consultadas as obras publicadas pela CPAD, a partir de autores brasileiros. Alguns escritos fundamentais e sistematizadores foram publicados há poucos anos (2007 e 2008) e serviram de base para a análise da teologia pentecostal da AD: o Dicionário do Movimento Pentecostal^8 , de Isael de Araújo, e a Teologia Sistemática Pentecostal^9 , editada por Antônio Gilberto, um dos maiores nomes da teologia pentecostal nacional. Esta última constitui-se numa obra de vários teólogos da denominação. Não traz grandes novidades, tampouco examina exaustivamente os temas pentecostais, deixando de seguir parâmetros acadêmicos de discussão. A abordagem do assunto lembra o estilo de manuais mais antigos de “Doutrinas Bíblicas”, onde se resumem as principais doutrinas aceitas pela igreja. Em alguns casos, copiaram-se trechos inteiros de livros já publicados por alguns dos autores^10. Contudo, o aspecto relevante da obra é que, no âmbito da CPAD, ela é a primeira do gênero a comentar alguns aspectos da responsabilidade social dos cristãos enquanto igreja.
Para a primeira parte do trabalho, além da leitura dessas obras básicas, foi realizado um levantamento da teologia constante nas Revistas de Escola Bíblica Dominical (EBD) a partir de 1987, coincidindo com o momento em que a AD passou a participar do espaço público de forma mais ostensiva, motivada pela Assembleia Nacional Constituinte. Esse material constituiu-se em importante fonte de pesquisa, visto que, numa linguagem mais acessível, reflete o pensamento teológico oficial da AD. Todas as revistas pesquisadas foram escritas por autores brasileiros vinculados à denominação. Assim, pode-se concluir com razoável segurança que as ideias exaradas nessas publicações refletem ou ao menos refletiam na época em que foram publicadas as concepções dominantes das lideranças e dos teólogos vinculados à AD.
(^8) ARAÚJO, 2007. (^9) GILBERTO, 2008. (^10) Como exemplo, menciona-se a seguinte obra, a qual possui vários trechos transcritos para a Teologia Sistemática Pentecostal mencionada na nota anterior: GILBERTO, Antônio. Verdades Pentecostais. Rio de Janeiro: CPAD, 2006a.
Para analisar essas questões, cabe deixar algumas palavras sobre o que se entende por teologia pública. A teologia tem como tarefa não somente compreender a natureza da verdade bíblica, mas também refletir sobre como essa verdade trata as questões da atualidade. Isso significa que a igreja deve estar envolvida não só com as questões teológicas internas , que são indispensáveis e fundacionais (interpretação bíblica, evolução histórica dos dogmas, etc.), mas também com questões externas , ou seja, como as suas crenças estão relacionadas com seu contexto cultural, como elas influenciam o engajamento do crente no mundo em que vive, ou, em outras palavras, como comunicar o evangelho em uma sociedade pós-moderna, multiétnica e multirreligiosa^12. Estender as reflexões teológicas para este nível de questionamento significa adentrar no campo da teologia pública.
De qualquer forma, é importante esclarecer que não existe um sentido unívoco para o termo “teologia pública”^13. A teologia é naturalmente pública no sentido de que não se trata de mero conhecimento esotérico, para poucos iniciados ou restrita a pequenos grupos ou classes sociais. Além disso, supõe-se que as questões propostas pela teologia são do interesse de toda sociedade, como por exemplo, a tentativa de responder à pergunta pelo sentido da existência humana. Por outro lado, uma vez que formam o caráter de uma pessoa e sua postura na sociedade, a religião e a teologia mostram seus potenciais de influenciar o espaço público, sendo certo que moldam o espaço e o tempo da sociedade na medida em que as manifestações de fé são por ela assimiladas com o passar do tempo^14.
Nico Koopman, em artigo bastante didático sobre a teologia pública, afirma que existem duas tendências nesse campo de estudos teológicos. A primeira enfatiza o aspecto da busca de um discurso racional e comunicável aos de fora da igreja, que não compartilham da mesma fé, visando ao estabelecimento de uma base de consenso a respeito de questões de justiça na esfera pública. Em outras palavras, pretende “tratar de questões que afetam a sociedade como um todo e de lidar com essas questões de uma maneira acessível a todos na esfera pública.”^15 A segunda enfatiza que fazer teologia pública é refletir sobre como ser igreja no espaço público, mantendo-se fiel às suas próprias convicções de fé, de forma que os
(^12) WELLS, David. A Supremacia de Cristo em um Mundo Pós Moderno. In PIPER, John; TAYLOR, Justin (Orgs.). A Supremacia de Cristo em um Mundo Pós-Moderno. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p. 19-51, à p. 13 23. SMIT, Dirkie. Notions of the Public and Doing Theology. International Journal of Public Theology , 14 Leiden, ano 1, n. 1, p. 431-454, 2007, à p. 443. STACKHOUSE, Max. Reflection on How and Why we go Public. International Journal of Public 15 Theology. Leiden, ano 1, n. 1, p. 421-430, 2007, à p. 423. KOOPMAN, Nico. Apontamentos sobre a teologia pública hoje. Protestantismo em Revista , São Leopoldo, v. 22, mai.-ago. 2010 (no prelo), p. 02.
teólogos deveriam se preocupar mais em como ser boas testemunhas de sua fé diante dos que não compartilham as mesmas convicções religiosas, manifestando sua ética social de serviço^16.
Para este trabalho, propõe-se adotar um conceito que leve em conta as duas perspectivas: por um lado, parte-se de uma determinada confissão religiosa (no caso o cristianismo pentecostal), procurando ser igreja no espaço público, testemunhando suas convicções de fé, agindo em consonância com seus princípios religiosos. Por outro lado, defende-se também que as manifestações pentecostais na esfera pública se deem através de um discurso teológico apologético, razoável e fundamentado, apto a participar das discussões públicas, dialogando com a academia, sociedade, economia, cultura, etc., sempre em busca de uma base para a convivência em comum com os que não compartilham a mesma fé.
Assim, temos que uma teologia pública também buscará entender a relação entre as convicções cristãs e o contexto social e cultural mais amplo^17. Estará, portanto, atenta aos temas em pauta na sociedade, abordando-os desde uma perspectiva teológica. Estará presente no espaço público, manifestando-se através de um discurso teológico e racional, comunicável^18 , pretendendo ser ouvida por toda a sociedade, e se propondo a colaborar para o seu bem, com valores que possam estabelecer uma base para convivência razoável, mesmo para os cidadãos de outras confissões religiosas ou ateus. Diante disso, é possível afirmar que a teologia pública é apologética, pois objetiva interagir com a cultura e sociedade e expressar- se de uma forma inteligível àqueles que não compartem das mesmas crenças, tentando demonstrar a razoabilidade de suas posições. Também se poderia afirmar, com base nessa
(^16) KOOPMAN, 2010, p. 3s. (^17) THIEMANN, Ronald. Constructing a Public Theology : the Church in a Pluralistic Culture. Louisville:
18 Westminster/John Knox Press, 1991, p. 19. É certo que o que venha a ser um “discurso ou argumentação propriamente público” não é uma questão simples. Linell Cady entende, por exemplo que as manifestações da direita evangelical americana e das teologias da libertação latino americanas não seriam genuinamente públicos, pois seriam confessionais, sempre apelando para autoridades confessionais na defesa de suas posições. Max Stackhouse defende que o modelo mais adequado de argumentação seria o “apologético”, por oposição ao confessional. Esta proposta, ainda que não renegue totalmente a perspectiva confessional, defende que as propostas mais profundas da fé podem ser demonstradas de maneira razoável, como alternativa viável para um compromisso autêntico e autorizado, dialogando e debatendo com outras posições de fé. Percebe-se que as distinções são bastantes sutis, abstratamente falando. CADY, Linell. Religion, Theology and American Public Life. Albany: State University of New York, 1993, p. 25, 26; STACKHOUSE, Max. Public Theology and Political Economy in a Globalizing Era. In: STORRAR, Wiliam; MORTON, Andrew (Ed.) Public Theology for the 21 Century : Essays in honor of Duncan B. Forrester. London; New York: T&T Clark, p. 179-194, 2004, à p. 191.
entre todos os segmentos da denominação, sejam eles cultos ou não, uma vez que a escola dominical muitas vezes é o único estudo teológico da maioria dos membros e até de alguns líderes da AD. Ao final, esta primeira análise demonstrará que houve um progressivo interesse da instituição com relação às questões sociais e políticas, ampliando gradativamente (ainda que não maciçamente) o espaço dedicado a essa temática e realizando um aprimoramento constante da fundamentação teológica.
No segundo capítulo deste trabalho, serão explicados de forma resumida alguns temas relevantes da teologia pentecostal assembleiana, já mencionados acima, os quais, do ponto de vista deste pesquisador, são relevantes e enriquecedores para a fundamentação da relação entre crente/igreja e sociedade. Os temas foram selecionados tendo em vista a especificidade do discurso pentecostal (a diferença específica em relação às demais correntes e práticas teológicas evangélicas) e suas possíveis consequências públicas, na medida em que poderiam justificar e motivar condutas dos crentes no espaço público.
O terceiro capítulo tem como objetivo demonstrar quais consequências públicas poderiam ser extraídas desses itens específicos da teologia pentecostal. Neste ponto, a análise está dividida em duas partes, contando sempre com o suporte da teologia pública. Primeiramente, serão sopesadas as consequências indesejáveis para uma possível “teologia pública pentecostal” a partir daqueles temas teológicos selecionados previamente, ou seja, será analisado como não deveriam ser interpretados estes pontos, os quais poderiam levar um cristão a condutas inadequadas no espaço público, ao menos inadequadas sob o ponto de vista de uma teologia pública.
Num segundo momento, serão apontadas algumas leituras que parecem mais apropriadas para os temas teológicos pentecostais. Delas será possível extrair consequências desejáveis e em consonância com o que alguns teólogos públicos propõem, o que facilitaria o diálogo com a sociedade e geraria uma participação mais efetiva e a busca do bem comum por parte do crente pentecostal e da própria AD enquanto instituição.
Cabe mencionar que por ocasião das reuniões do grupo de pesquisa, a partir das longas discussões travadas em cada encontro, uma série de dúvidas conceituais foram levantadas, sendo que aos poucos foi possível formar uma certa ideia do que se pode entender por “teologia pública”, como já mencionado acima. A partir dessas reflexões, somadas a outras feitas a partir da leitura de outros livros publicados pela CPAD, ainda que não de
autores pentecostais^22 , pretende-se tecer os comentários e críticas sobre como a teologia pentecostal pode interagir com os diversos públicos ouvintes hoje disponíveis.
Não se pretende nesta pesquisa analisar todos os aspectos da teologia pentecostal que tenham alguma relação direta ou indireta com a teologia pública, tampouco exaurir a questão ou apresentar soluções definitivas para os problemas levantados a partir da teologia assembleiana. O que se propõe é manter o cerne da pesquisa: uma análise teológica do discurso pentecostal assembleiano no que o mesmo estabelecer relações com o espaço público.
(^22) PIPER, John; TAYLOR, Justin (Orgs.). A Supremacia de Cristo em um Mundo Pós-Moderno. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
estabelecido em breve, exclusivamente pelo poder de Jesus Cristo, e o cristão deve “estar preparado”, com uma vida santificada, para este acontecimento); a evangelização dos perdidos; doutrinas bíblicas fundamentais^24.
1.1 Rápidas abordagens aos temas sociais: 1987-
Entre 1987 e 1997 se passam onze anos, ocorrendo, eventualmente, uma ou outra lição dentro de algumas revistas nas quais se veem indícios que apontam para alguma preocupação social como consequência de reflexões teológicas e bíblicas. Na revista sobre as “parábolas de Jesus”, de 1990, por exemplo, há uma lição (de treze no total) que enfoca a parábola do bom samaritano. Nela encontramos o seguinte comentário:
Segundo o ensino de Jesus no corpo desta parábola, o nosso próximo é qualquer ser humano, principalmente os carentes, os fracos, os necessitados, os desprezados, os sofredores, os inimigos. A todos estes precisamos atender em lugar de Cristo – o verdadeiro bom samaritano, que ao retornar ao céu disse: “ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda a criatura ”.^25 Por outro lado, de todos os temas estudados^26 nesse período, destaca-se o da revista do segundo trimestre de 1987, “Mordomia Cristã”^27. Ensino bastante comum nas Assembleias
(^24) Essa constatação se fez por meio da análise do tema de cada uma das revistas de escola dominical nos últimos 23anos, bem como do conteúdo de cada lição. Para maiores detalhes sobre o tema de cada revista, vide o anexo deste trabalho. 25 GILBERTO, Antônio. Lições Bíblicas. Lição 6: A parábola do bom samaritano, Rio de Janeiro: CPAD, 1990, p. 25. 26 27 Para um sumário dos assuntos de cada uma das revistas, vide o apêndice. CABRAL, Elienai. Lições Bíblicas. Rio de Janeiro: CPAD, 1987. Lições importantes: 1- “O que é mordomia cristã: O estudo da mordomia cristã leva-nos à verdadeira filosofia de vida cristã. Os princípios básicos da vivência cotidiana do crente estão expostos na doutrina da mordomia. Esse estudo, sem dúvida, será capaz de oferecer uma atitude nova e positiva para com a vida em relação com o mundo em que vivemos. … O conhecimento da mordomia cristã dá ao crente uma perspectiva mais global do significado da vida. Responde claramente à indagação: por que estou no mundo? Como viver sabiamente num mundo corrompido? (p. 03) Creio que este estudo acerca da mordomia cristã possa promover uma total revolução social e espiritual, e restaurar a consciência do dever de cada crente perante Deus e o mundo. Ao entendermos o significado dessa doutrina, estaremos aptos a fazer a obra de Deus em todas as suas dimensões. A doutrina bíblica da mordomia centraliza seus princípios na soberania de Deus sobre todas as coisas. Nós somos apenas seus mordomos (p. 04); 5 – Mordomia do dinheiro. Aprendemos aqui que a mordomia cristã nos ensina a usar recursos naturais na medida do necessário, controlando-os e conservando-os, a fim de que possa tirar o melhor proveito possível para si próprio e também para os demais. Deverá também zelar para que estes recursos naturais não se esgotem de uma vez só. Muitas vezes as devastações inconscientes das matas empobrecem a terra, e a exploração desordenada dos recursos minerais trazem consequências drásticas ao que precisam dos mesmos, posteriormente (p. 19); 12- Mordomia do amor cristão: A mordomia do amor cristão aos necessitados. Quando o amor divino nos domina, ele se torna poderoso em seus efeitos. Faz-nos preocupar com os necessitados e leva-nos a agir altruisticamente. Ele não vê barreiras, não faz fronteiras e vai além dos limites humano. É um fato incontestável, o de que o mundo está dominado pela ambição desenfreada, pela avareza, pela degenerescência física e moral do homem. Só o amor é capaz soerguer essa sociedade do seu egoísmo”. ( p. 44, grifos do autor);
de Deus do Brasil, tendo inclusive um livro publicado pela CPAD^28 , é o que mais se aproxima, no período, de uma fundamentação teológica da vida em sociedade, com possíveis implicações ecológicas^29. Nessa revista, a despeito se estar evidente que as principais preocupações tinham um cunho mais individual e moralista (santificação), vemos um ensino positivo a respeito do corpo, um chamado à prática da boa administração dos bens materiais, que pertencem a Deus, e não a nós, de forma que o dinheiro, os recursos materiais, devem ser usados com sabedoria, para o proveito de todos, em amor, o qual se manifesta em obras filantrópicas, sendo certo, citando as palavras do autor, que a ação do Espírito Santo não se dá somente “na esfera espiritual, mas também na social. …. A igreja tem uma responsabilidade social e não pode fugir à sua missão (Tg 1.27)”.^30 Assim, verifica-se neste ensino que a AD não adotou uma visão gnóstica, docética ou negativista do corpo e da matéria, apesar de sua ênfase no “espiritual”, pois o material é visto como criação boa de Deus, e deve ser bem administrado pelo ser humano, e não destruído, ignorado ou negado^31.
Outras lições que tiveram alguma relação com a temática social apareceram em 1989 (“A riqueza e os seus problemas”^32 ), e em 1990, quando houve lições sobre a relação entre Igreja e sociedade e Igreja e Estado^33.^ Em 1993 (no trimestre chamado “década da colheita”, em que se trabalhou o projeto evangelização e crescimento da AD em nível mundial), houve uma lição específica sobre “evangelização de grupos discriminados^34 ; e em 1994, quando ao estudar os evangelhos sinóticos, lições sobre o amor cristão e novamente sobre a relação entre Igreja e Estado.^35
(^28) CABRAL, Elienai. Mordomia Cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 2003. (^29) A questão ecológica, porém, foi trabalhada explicitamente apenas em 2003, quando foi inserida novamente a questão da mordomia cristã nas revistas de escola dominical, através da lição “Cuidando da terra”. Ao mesmo tempo, editou-se o livro retro mencionado, lançado juntamente com a revista como fonte de subsídios para aprofundamento, tendo igualmente um capítulo sobre o meio ambiente. 30 31 CABRAL, Elienai. 1987, Lição 13^ –^ A mordomia da cooperação. p. 47. As causas práticas que apontam um possível rebaixamento do corpo e do material devem ser buscadas em outros fatores, ao que tudo indica, que não a fundamentação teológica propriamente dita, mas talvez em um dualismo exacerbado a partir da má interpretação no que se refere à distinção, feita na teologia assembleiana, entre espírito, alma, e corpo. 32 OLIVEIRA, Raimundo de. Lições Bíblicas. Rio de Janeiro: CPAD, 1989, p. 37 e 39. Essa lição trata das preocupações que as riquezas trazem, e o risco de se afastar de Deus. Além disso, trabalha o julgamento dos ricos que oprimem os pobres, em especial aqueles que retém o salário ou pagam muito mal seus funcionários, ou aqueles que são indiferentes ao sofrimento dos necessitados. 33 FERREIRA, Tulio Barros. Lições Bíblicas. A igreja e a obra missionária. Rio de Janeiro: CPAD, 1990, p. 12, 28. 34 “Manter determinados grupos sociais à margem da evangelização é fruto de preconceito e nega, pela discriminação, o caráter universal do Evangelho”. COUTO, Geremias do. Lições Bíblicas. A década da colheita 35. Rio de Janeiro: CPAD, 1993, p. 32. SILVA, Ezequias Soares da Silva. Lições Bíblicas. Evangelhos Sinóticos: a perfeita harmonia. Rio de Janeiro: CPAD, 1994. Temos um comentário interessante a respeito do fundamentalismo violento: “Entretanto, o