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escola de samba como a voz do povo: uma análise comparativa, Notas de estudo de Cultura

da etnia negra com a análise dos desfiles de carnaval do Rio de Janeiro e de São Paulo. Palavras-chave: samba; resistência; carnaval; samba-enredo; cultura.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

EmiliaCuca
EmiliaCuca 🇧🇷

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ESCOLA DE SAMBA COMO A VOZ DO POVO: UMA ANÁLISE COMPARATIVA
DAS CARACTERÍSTICAS DE RESISTÊNCIA NO CARNAVAL
CONTEMPORÂNEO
Lana Galvão Catib
RESUMO
O trabalho explora os conceitos de indústria cultural, identidade nacional e luta para inserção
da etnia negra com a análise dos desfiles de carnaval do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Palavras-chave: samba; resistência; carnaval; samba-enredo; cultura.
INTRODUÇÃO
O samba contém inúmeras ramificações: samba-choro, samba-canção, samba de terreiro,
samba de exaltação, samba-enredo, samba de breque, sambalanço, samba de gafieira, bossa
nova, samba-jazz, samba de partido alto, samba de morro, samba de quadra e samba rock
(MUNANGA, 2006 apud AZEVEDO, 2018, p. 49).
O samba-enredo não é a modalidade que mais preservou os batuques matriciais, contudo, é
uma das modalidades com maior visibilidade no Brasil devido a sua intensa midiatização. Foi
escolhido para esta pesquisa devido a espetacularização dos carnavais, que promove
movimentação econômica nas cidades Rio e São Paulo.
O carnaval nem sempre foi ligado ao samba. De início, tinha influência européia, como baile
de máscaras e festas de salões, em uma data criada pela Igreja para ter controle da festa pagã.
No Brasil, com a participação de escravos nessa festa, os batuques começaram a fazer parte.
No século 19 as discrepâncias eram grandes na prática do carnaval. Enquanto a classe alta
fazia o famoso corso carnavalesco, com carros luxuosos, a classe marginalizada fazia os
cordões carnavalescos nas praças do Rio de Janeiro.
O samba já existia na Bahía mas foi no Rio de Janeiro que se estilizou. Seu sucesso como
música de identidade nacional faz parte de uma aspiração nacionalista pós-guerra.
Observa-se uma contraposição entre as características padronizantes e alienantes da produção
capitalista e as características de resistência em um mesmo espetáculo, em uma mesma arte.
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ESCOLA DE SAMBA COMO A VOZ DO POVO: UMA ANÁLISE COMPARATIVA

DAS CARACTERÍSTICAS DE RESISTÊNCIA NO CARNAVAL

CONTEMPORÂNEO

Lana Galvão Catib

RESUMO

O trabalho explora os conceitos de indústria cultural, identidade nacional e luta para inserção da etnia negra com a análise dos desfiles de carnaval do Rio de Janeiro e de São Paulo. Palavras-chave: samba; resistência; carnaval; samba-enredo; cultura.

INTRODUÇÃO

O samba contém inúmeras ramificações: samba-choro, samba-canção, samba de terreiro, samba de exaltação, samba-enredo, samba de breque, sambalanço, samba de gafieira, bossa nova, samba-jazz, samba de partido alto, samba de morro, samba de quadra e samba rock (MUNANGA, 2006 apud AZEVEDO, 2018, p. 49). O samba-enredo não é a modalidade que mais preservou os batuques matriciais, contudo, é uma das modalidades com maior visibilidade no Brasil devido a sua intensa midiatização. Foi escolhido para esta pesquisa devido a espetacularização dos carnavais, que promove movimentação econômica nas cidades Rio e São Paulo. O carnaval nem sempre foi ligado ao samba. De início, tinha influência européia, como baile de máscaras e festas de salões, em uma data criada pela Igreja para ter controle da festa pagã. No Brasil, com a participação de escravos nessa festa, os batuques começaram a fazer parte. No século 19 as discrepâncias eram grandes na prática do carnaval. Enquanto a classe alta fazia o famoso corso carnavalesco, com carros luxuosos, a classe marginalizada fazia os cordões carnavalescos nas praças do Rio de Janeiro. O samba já existia na Bahía mas foi no Rio de Janeiro que se estilizou. Seu sucesso como música de identidade nacional faz parte de uma aspiração nacionalista pós-guerra.

Observa-se uma contraposição entre as características padronizantes e alienantes da produção capitalista e as características de resistência em um mesmo espetáculo, em uma mesma arte.

A incorporação do samba como produto da indústria cultural deslocou o seu ritmo de produção pois, A economia capitalista é autogeradora de uma temporalidade com lógica própria. Ao se passar a viver de samba - ao invés de se viver no samba ou com ele - entrou- se no esquema de produção que, aos poucos, introduziu o seu ritmo próprio: o do espetáculo. Isso ocorreu também no interior das escolas de samba, cujas modificações acompanharam a trajetória ideológica da classe média: a escola começou a buscar formas empresariais (que abriram portas para o dirigismo estatal), vinculadas ao show business, e a profissionalizar os seus integrantes. (SODRÉ, 1998, p. 52)

OBJETIVOS

Tem-se como objetivo deste trabalho, destacar algumas características desse ritmo como instrumento de resistência da etnia negra no Brasil nos séculos passados; em seguida, buscar as características de afirmação da cultura negra presentes nos desfiles de carnavais contemporâneos para, então, analisar se estes são, como antes, mais do que uma demonstração cultural, mas, uma demonstração de resistência.

QUADRO TEÓRICO DE REFERÊNCIA

A indústria carnavalesca

A profissionalização do carnaval e consequente especialização do trabalho na sua produção, causou modificações profundas na produção e no espaço de mediações culturais das escolas de samba, como consequência da centralização da concepção e execução do desfile em acadêmicos externos a esse universo. Tal inserção, que teve início com a Acadêmicos do Salgueiro, foi aderida pelas outras escolas com o passar do tempo e ampliando a rivalidade pelo prêmio. Mauro Cordeiro (2017, p. 245), doutor em Sociologia, analisou esse panorama de forma pessimista: com a entrada dos carnavalescos na produção dos carnavais pelas escolas de samba, legitimados pelo capital cultural através do diploma, há uma violência simbólica estruturante a partir da reconfiguração da produção de bens culturais nesses espaços sociais. A festa espetacular que assistimos todos os anos não poderia ser feita apenas com investimento do governo ou por agremiações de bairro,

O modelo de festa precisa da grande empresa para manter o conforto, a segurança e a diferenciação de seus consumidores. Só a grande empresa tem condições de empreender este tipo de evento. Nem o Poder Público nem as pequenas agremiações

“Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?” - Paraíso do Tuiuti Qual será o valor? Pobre artigo de mercado Senhor eu não tenho a sua fé, e nem tenho a sua cor Tenho sangue avermelhado O mesmo que escorre da ferida Mostra que a vida se lamenta por nós dois Mas falta em seu peito um coração Ao me dar escravidão e um prato de feijão com arroz

Eu fui mandinga, cambinda, haussá Fui um rei egbá preso na corrente Sofri nos braços de um capataz Morri nos canaviais onde se planta gente Ê calunga! Ê ê calunga! Preto Velho me contou, Preto Velho me contou Onde mora a senhora liberdade Não tem ferro, nem feitor

“Senhoras do ventre do mundo” da escola Acadêmicos do Salgueiro; “Monstro é aquele que não sabe amar” da Beija-Flor de Nilópolis e “Maranhão; os Tambores vão Ecoar na Terra da Encantaria” da Acadêmicos do Tatuapé. Dessas escolas, 3 são do Rio de Janeiro^1 e 1 é de São Paulo^2.

Nesse ano, houve corte de verbas pela Prefeitura do Rio para o carnaval.


(^1) Letras dos sambas disponíveis em: <https://g1.globo.com/rj/rio-de-

janeiro/carnaval/2018/noticia/veja-as-letras-dos-sambas-enredo-das-escolas-do-rio-para-o- carnaval-de-2018.ghtml>. Último acesso: 06 de jun de 2019. (^2) Letras dos sambas disponíveis em: <https://g1.globo.com/sp/sao-

paulo/carnaval/2018/noticia/veja-as-letras-dos-sambas-enredo-das-escolas-do-carnaval-2018- de-sao-paulo.ghtml>. Último acesso: 06 de jun de 2019. Carnaval 2019

“História para ninar gente grande” - Estação Primeira de Mangueira Brasil, meu dengo A Mangueira chegou Com versos que o livro apagou Desde 1500

Tem mais invasão do que descobrimento Tem sangue retinto pisado Atrás do herói emoldurado Mulheres, tamoios, mulatos

Eu quero um país que não está no retrato

Brasil, o teu nome é Dandara E a tua cara é de cariri Não veio do céu Nem das mãos de Isabel A liberdade é um dragão no mar de Aracati

“Oxalá, salve a princesa! A saga de uma guerreira negra” - Mancha Verde

Tambores vão ecoar, a festa vai começar O meu batuque traz a força do terreiro A mancha verde é kizomba, amor Salve a princesa! Viva o povo negro!

O ora ie ie ô ora ie ieu mamãe Oxum Um ventre de luz, o fruto do amor Kaô kabecilê Xangô África, suntuosa riqueza África, reluz o encanto e a nobreza

“Quilombo do Futuro” - Vai-Vai Ô, Inaê, rainha do mar Alodê, Iabá, Odoyá Cuida de mim, mamãe, leva meu pranto Em seus braços, o meu acalanto

Sorrir, sim, nós podemos sonhar Pois temos um futuro pela frente Punhos cerrados A Saracura está presente

É que eu sou da pele preta Quilombo do povo, eu sou Vai-Vai Um privilégio que não é pra qualquer um Protegido e abençoado por Ogum

É que eu sou da pele preta Quilombo do povo, eu sou Vai-Vai Um privilégio que não é pra qualquer um Protegido e abençoado por Ogum

Também tiveram como tema afro os sambas: “Hakuna Matata”, da escola Colorado do Brás; “Liberdade, Canto Retumbante de Um Povo Heróico”,/ da Acadêmicos do Tucuruvi; “Bravos Guerreiros”, da Acadêmicos do Tatuapé; “Xangô”, da Acadêmicos do Salgueiro e “Da Majestosa África, Tu És Negra Mulher”, da escola Pérola Negra. Dessas escolas, 2 são do Rio de Janeiro e 6 são de São Paulo^3. Um samba-enredo que merece destaque nesse ano é o da São Clemente (RJ), “E o samba sambou…”, que desenhou em seu desfile a problemática abordada por essa pesquisa: “Quem diria minha gente / Vejam o que o dinheiro faz [...] / Hoje o samba é dirigido com sabor comercial”, relembrando as tradições que eram vívidas na época da Praça Onze (primeira metade do século XX). O carnavalesco Leandro Vieira, da Estação Primeira de Mangueira, vencedora do desfile de 2019, disse: "É um recado político para o país todo, que tem que entender que isso aqui é importante. É um recado político também para o presidente mostrar que o carnaval é isso aqui. O carnaval é a festa do povo. O carnaval é cultura popular. O carnaval não é o que ele acha que é. O carnaval é isso. E ele deveria mostrar para o mundo o carnaval da Mangueira. O carnaval da arte, o carnaval da luta, o carnaval do povo, o carnaval da cultura popular."

VELLOSO, Mônica. “A ‘cidade-voyeur’: o Rio de Janeiro visto pelos paulistas”. In Revista Rio de Janeiro. Niterói, 1986, nº 4, pp. 55-65.

NAPOLITANO, Marcos; WASSERMAN, Maria Clara. Desde que o samba é samba: a questão das origens no debate historiográfico sobre a música popular brasileira. Rev. bras. Hist. [online]. 2000, vol.20, n.39, pp.167-189.

GOMES, Tiago de Melo. Gente do samba: malandragem e identidade nacional no final da Primeira República. Topoi, Rio de Janeiro, v. 5, n. 9, jul./dez.. 2004.

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