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Seguimos então (capítulo dois), para a análise do mito de Eros e Psiqué no pensamento psicanalítico construído por Freud e também, de forma sucinta, ...
Tipologia: Notas de estudo
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Centro Universitário de Brasília FACULDADE DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO E SAÚDE – FACESCURSO: PSICOLOGIA
Fabiano Silva da Fonseca
Dezembro / 2008.Brasília,
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Brasília, Dezembro / 2008.
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Dedico este trabalho a todos aqueles que, em algum sentido, contemplam a sublime união do Amor com a Alma.
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AGRADECIMENTOS
Aos meus pais Maria Silva e Ademir, pela constante dedicação e carinho para com minha educação, não somente formal, mas como ser humano. Ao meu irmão Ângelo e aos meus amigos Thaís, Priscila, Wilton e Cristina com os quais divido minhas aspirações e que de alguma forma me auxiliaram em mais esta jornada. Aos amigos, grupo forte e coeso que o curso de psicologia desde o início me proporcionou: Paula, Anderson, Luiz Fernando e, especialmente, Joelma por sua companhia e apoio em diversos momentos do curso como também nesta monografia. À professora Cláudia Feres por sua influência inspiradora e dedicação na orientação deste trabalho e também ao longo do curso. Aos professores Moacir Rodrigues, Sandra Baccara, Tania Inessa, Valéria Mori e Ana Maria Beier cujo encontro nessa caminhada foi entusiasmante.
vii RESUMO No presente trabalho apresentamos a importância do mito como constituinte do fazer humano. Por meio do relato da história de Eros e Psiqué, descrita pelo poeta latino Apuléio, demonstramos como o mito torna-se a forma ilustrativa do desenvolvimento da Alma a nível pessoal e cultural através do seu contato com o Amor tanto na psicanálisedebruçamos primeiramente sobre a psicanálise do contato do bebê com a mãe como o como na psicologia analítica. Ao tratar desse desenvolvimento nos despertar da alma para a relação eu-outro, do impedimento que a criança sofre em voltar a essa relação e como essa energia ora interditada volta-se para outras relações e para o desenvolvimento da cultura. Quando abordamos a relação entre Eros e Psiqué, na teoria junguiana, nos deparamos com o inconsciente coletivo, arquétipos e complexos, decomo estas imagens fazem parte da vivência humana, de como são herdados por meio desse conjunto de vivências – a cultura. E como estas imagens se dispõem para alcançar o que a psicologia analítica denomina individuação. Apresentamos também uma breve crítica aos limites dos modelos apresentados e de uma nova postura de psicoterapia para ospsicologia profunda, voltando às raízes, antes das cisões entre as teorias que abordam a tempos pós-modernos defendida por pós-junguianos, que a denomina como análise do inconsciente. Consideramos finalmente, a necessidade de estudo aprofundado na abordagem do mito como exemplo de saber humano que, como ilustra nosso trabalho, foi e é fundamental para o estudo e desenvolvimento das psicologias do inconsciente tanto na teoria quanto na sua prática: a clínica. Palavras-chave: Mito, Psicanálise, Psicologia Analítica.
partimos para o relato do mito de Eros e Psiqué baseado no texto do poeta Lúcio de Apuléio, que é a única fonte nos nossos tempos de tal história. Seguimos então (capítulo dois), para a análise do mito de Eros e Psiqué no pensamento psicanalítico construído por Freud e também, de forma sucinta, desenvolvido por Lacan com vistas de compreender o desenvolvimento humano desde as relações parentais infantis, das formas de amor humano que perpassam pela clínica psicanalítica até as fundantes de nossa cultura. Abordamos então, no capítulo três, o mito do Amor e da Alma do ponto de vista da psicologia analítica seguindo o caminho inverso ao citado no parágrafo anterior (do cultural, para a relação clínica, e por fim, o desenvolvimento) cujos personagens atuam de forma arquetípica e se atualizam dentro de cada ser, o que é primordial para a formação da cultura e da influência desta sobre o humano. E apresentamos também neste capítulo, uma pequena articulação da prática clínica psicanalítica com a da psicologia analítica baseada na teoria do contato do amor com a alma.
A Young Girl Defending Herself Against Eros (Bouguereau, 1880)
“L'amour est un oiseau rebelle Que nul ne peut apprivoiser, Et c'est bien en vain qu'on l'appelle,S'il lui convient de refuser! L'amour est enfant de bohême, Il n'a jamais, jamais connu de loi [...]”^1 Georges Bizet (^1) O amor é um pássaro rebelde/ Que não se pode aprisionar,/ É em vão que o chame,/ Se lhe convém recusar!/ O amor é criança da boemia,/ Ela nunca, nunca conheceu lei [...] – Ária: Habanera da ópera Carmen. Ato I. (Bizet,1875).
fez com que Psiqué fosse atribuída como uma nova Afrodite, nascida da Terra, germinada pelo orvalho. Pessoas de todas as partes do mundo vinham admirá-la e adorá-la. Duas grandes conseqüências lhe sobrevieram: a primeira, ao contrário de suas duas irmãs mais velhas, que também eram belas, Psiqué não conseguia se casar, pois todos os homens a olhavam como uma divindade e não como possível esposa. A outra, é que sem ter consciência, atraiu para si a ira de Afrodite. A esta os homens deixaram de lhe prestar cultos e seus templos foram abandonados. Imensamente ofendida por ter seu nome profanado por uma mortal, a deusa da beleza, escolhida por Páris por seus atrativos sem par e aprovada com grande justiça por Zeus entre as deusas mais eminentes. A “antiga mãe da Natureza, origem primeira dos elementos, nutriz do Universo” (Apuléio, n.d., p. 72), quis usar a beleza de Psiqué para castigá-la. Assim, como também citou Apuléio: Imediatamente, chamou o filho, o menino alado, esse perverso velhaco que, agravando com sua má conduta a moral pública, armado de tochas e flechas, corre daqui e dali durante a noite, pela casa dos outros, incendeia todos os lares, comete impunemente os piores escândalos, nunca faz coisa boa. Se bem que ele já fosse impudente por natural velhacaria. (Apuléio, n.d., p. 72) Este era seu filho Eros, o terror dos homens e dos deuses, que com suas armas deixavam todos a sua mercê, a serviço do Amor. Após beijá-lo longamente com os lábios entreabertos, Afrodite deu a missão de Eros: encontrar Psiqué e fazê-la apaixonar-se pelo homem mais horrendo da face da Terra. Enquanto isso, preocupado do porque Psiqué não conseguia se casar, e desta forma, temeroso com a possibilidade de ter sido amaldiçoada pelos deuses, seu pai resolveu procurar o famoso oráculo apolíneo em Mileto. Este o informou que sua filha deveria ser entregue
junto ao precipício de rochedos para um casamento de morte, para uma fera não mortal, que não poupava nem mesmo os deuses. Acalentando a tristeza de seus pais, Psiqué assumiu seu cruel destino. Houve uma comoção geral, e uma grande comitiva a acompanhou. Entregue à sua sorte, sozinha naquele inóspito lugar, foi o momento em que Zéfiro, o Vento, a levou para um jardim. Exausta, entregou-se ao sono. E ao despertar, ao caminhar pelo jardim pôde contemplar a grandiosidade de um palácio e a beleza do lugar no qual se encontrava. Atendida por Vozes que passaram a servi-la, informaram a Psiqué que aquilo tudo a partir deste momento lhe pertencia. Psiqué desfrutou de um banho e pôde dormir. À noite, nas trevas, recebeu a visita daquele que ordenou a Zéfiro que a trouxesse a tal paraíso. A princípio, ficou temerosa por sua virgindade, mas entregou-se aos braços do seu misterioso benfeitor, e foi desposada por ele. Noutra noite, ao receber nova visita de seu invisível esposo, este lhe falou da possibilidade de suas irmãs, que ainda não sabiam de nada e que não tinham acompanhado o tenebroso cortejo, viessem até o rochedo para chorar sua morte. Pediu para que não lhes desse ouvido. Ela concordou, mas desde o amanhecer, sentindo-se sozinha, aprisionada pela falta de contato humano e sabendo que sua família sofria por sua morte, passou o dia a chorar, sem comer e, à tarde, acompanhada apenas pelas serviçais Vozes, retirou-se para dormir. Seu esposo ao chegar e vê-la marcada pelas lágrimas, admoestou-a novamente, falou do risco que ela correria em ver suas irmãs. Contudo, com belas palavras Psiqué, dirigiu-se ao seu misterioso amante e suplicou para que pudesse ver suas irmãs e lhes contasse de sua boa ventura. Então, “o marido sucumbiu à força e ao poder de Afrodite, às palavras de amor sussurradas em voz baixa. Cedendo, apesar de lamentar, prometeu tudo quanto ela quis.” (Apuléio, n.d., p. 79). Permitiu também que Psiqué entregasse a elas todo o ouro e colares que desejassem. E advertiu que ela não ousasse ver seu rosto mesmo que suas irmãs assim lhe
Mal saíram de casa, as duas irmãs foram para o rochedo e confiantes se lançaram no precipício onde Zéfiro, contra a vontade, mas sob ordem de seu senhor as sustentou até o jardim. Ao encontrarem Psiqué, esta lhes as contou da felicidade de ser mãe. E ao ser questionada novamente pelas irmãs sobre o marido, Psiqué não se lembrando da descrição anterior, o descreveu como um homem da província vizinha, de meia idade e que tinha grandes negócios. Entregando-lhes novos e suntuosos presentes despediu-se das irmãs e entregou-as ao Vento. Convencidas de que a irmã era mentirosa, ou não conhecia a aparência do marido, suspeitaram que quem a desposou fosse um deus e ficaram horrorizadas com a possibilidade que o filho que Psiqué carregava fosse divino. Desta forma, já pensavam em voltar na suntuosa casa de Psiqué com o plano em vista. Mal passaram a noite na casa dos pais, em que estiveram insones, voltaram para os rochedos e novamente com o auxílio do Vento foram até a irmã. Fingindo temer por sua vida, e em lágrimas, falaram a Psiqué que ela corria perigo, que uma serpente era vista durante a noite rastejando e nadando nos rios daquela região. Desconfiada, Psiqué confessou às irmãs que não conhecia o rosto do marido. Deduziram que tal esposo seria uma vil serpente, como a besta descrita pelo oráculo do deus de Delfos, e que certamente tal monstro esperava que o seu filho ficasse maior para devorar a ambos. Assim, depois de terem ido as suas irmãs de volta para casa, que lhe prometeram proteção após tomasse a providência de matar o marido. À luz de um candeeiro e com uma navalha na mão, Psiqué, acompanhada pelas Fúrias, esquecendo-se de todas as promessas que fizera ao marido, resolveu colocar o plano de suas irmãs em prática. Enquanto seu esposo repousava, Psiqué, débil, por natureza, de corpo e de alma, o fado cruel fortaleceu. Ela foi procurar a lâmpada e apanhou a navalha: a fraqueza do seu sexo transformara em
audácia. Mas assim que a oblação da luz revelou, no seu clarão, os segredos do leito, ela viu a mais feroz de todas as feras selvagens, o dulcíssimo, o adorável monstro. Eros em pessoa, o deus formoso que formosamente repousava. (Apuléio, n.d., p. 85) Ficou tão surpresa frente tal imagem que, se não tivesse escorregado de suas mãos, usaria a navalha para tirar a própria vida. Recuperando o ânimo, quis esquadrinhar com a luz toda a beleza de teu esposo, o rosto jovial, os cabelos dourados e cacheados repletos de ambrosia, as plumas brancas de suas asas repousadas sobre as costas e todo seu corpo liso e brilhante. Também com imensa curiosidade observou Psiqué as armas do marido: o arco, o carcaz e as flechas colocadas ao pé da cama. E ela então, tirou uma flecha do carcaz, provou a ponta no polegar, com um dedinho trêmulo, apoiou-a um pouco mais forte, picou-se apenas o bastante para que algumas gotinhas de sangue rosado perolassem a superfície da pele. Foi assim, que, sem saber, Psiqué se tomou ela própria de amor pelo Amor. (Apuléio, n.d., p. 86) Tomada de desejo pelo marido, Psiqué debruçou-se sobre ele o beijou intensamente, mesmo com medo de acordá-lo, mas sem perceber, uma gota de óleo fervente do candeeiro pingou sobre as costas de seu amado, que ferido pela dor, acordou e subitamente alçou voou. Desesperada para não perdê-lo Psiqué agarrou-se em sua perna direita, mas não agüentando caiu ao solo. Eros antes de sumir no céu e punir Psiqué com sua ausência voltou e do alto de um cipreste falou a ela dos planos de sua mãe Afrodite. Explicou que antes de cumpri-los foi ferido com suas próprias flechas, e assim, a tomou como esposa. Depois de tantos feitos, questionou como Psiqué poderia ter acreditado que ele era uma besta e quereria matá-lo.
encontrar Psiqué, mas estas com receio das flechas inflamadas de Eros procuraram suavizar a situação. Afrodite se sentindo ainda mais ultrajada voltou-se para o oceano. Psiqué continuava errante em busca do esposo, avistou um templo e nele entrou. Contrita, orou e pediu ajuda, na sua presença veio Deméter, repetindo as preces por socorro, implorou para que a deusa a abrigasse ali por alguns dias, para evitar a ira da mãe de seu amado, mas Deméter, contudo, não querendo suscitar mais ira em Afrodite, não atendeu o pedido da moça, mas também por pena, não a entregou à fúria da deusa da beleza. A jovem moça saindo dali e continuando sua caminhada se deparou com outro templo, percebendo que o mesmo pertencia a Hera lhe prestou adoração pedindo refúgio. A própria deusa apareceu e também por consideração a Afrodite não lhe concedeu auxílio. Mas a aconselhou que procurasse logo por Afrodite e, desta forma, buscasse resolver logo tal litígio. Afrodite havia ido até Zeus pedir o auxílio do mensageiro Hermes para que desse Psiqué como procurada e o deus-dos-deuses consentiu. Hermes também não hesitou em cumprir as suas ordens, porém, Psiqué já estava resoluta a se entregar à ira de Afrodite e se aproximava de seu palácio quando a serva da deusa, Hábito, a encontrou e arrastando-a pelos cabelos a levou até sua senhora. Vendo tal cena Afrodite em meio a gargalhadas, entregou Psiqué às suas também servas a Tristeza e a Inquietação. Depois considerou seu casamento ilegítimo por julgo desigual e o filho que carregava no ventre como bastardo, rasgou suas vestes, arrancou-lhe os cabelos e a espancou. Deu então Afrodite a Psiqué uma tarefa que deveria realizar até o final da tarde. Um monte de grãos contendo trigo, papoula, cevada, milho, ervilha, lentilha e fava, todos misturados, ela deveria separá-los conforme sua espécie. Então, a deusa se retirou para uma festa de casamento. Psiqué ficou silente e estupefata frente à impossibilidade da tarefa, foi que surgiu uma formiga que teve compaixão da jovem e convocou seu exército para ajudar, assim, Psiqué cumpriu a primeira tarefa. Quando Afrodite chegou, furiosa, pensou que sua decadente
nora teria sido auxiliada por seu filho Eros. Mas este estava encarcerado recuperando-se de seu machucado. Antes de o dia amanhecer, Afrodite procurou novamente Psiqué e lhe deu a segunda tarefa, deveria ir até o bosque banhado pelo rio e das ovelhas selvagens que possuíam lã de ouro, trazer-lhe um floco. Ao chegar às margens do rio e como forma de se livrar de seus dias ruins pensou em se jogar, mas um caniço que ficava ali sussurrou a ela que não fizesse isso. Explicou que o rebanho atacava os seres humanos com mordidas envenenadas para matá-los devido à irritação que o calor do sol provocava, e aquecia demasiadamente sua lã dourada. Mas eis o truque: se Psiqué esperasse o sol baixar, as ovelhas iam se refrescar na beira do rio e ficavam mais calmas, ao entrar no bosque a esta hora ela poderia colher nos ramos e folhas, por onde as ovelhas passavam, o tanto de lã que desejasse, e assim o fez. Afrodite não acreditou que Psiqué tivesse conseguido novamente e não contente lhe deu uma nova tarefa. Entre outras ameaças entregou uma ânfora de cristal a Psiqué, e pediu para que ela colhesse no cume dos rochedos escarpados as águas escuras que compõe o rio Estige e que se encaminha para o Cocito. Ao começar a caminhada, viu Psiqué que era impossível alcançar tal fonte, o rochedo era íngreme e liso, a fonte era guardada por dragões e as águas bramavam para que ela se afastasse se não morreria. “Mas as penas da alma inocente não escaparam aos olhos graves da boa Providência.” (Apuléio, n.d., p. 97). A águia de Zeus que certa vez sob as ordens de Eros trouxe até seu soberano o jovem Ganimedes, resolveu ajudar a esposa do deus alado. Pegou das mãos de Psiqué a ânfora de cristal e voou até as águas escuras, anunciou que estava a serviço de Afrodite e conseguiu pegar a água da fonte que foi solicitada. Ao voltar e se encontrar com Afrodite, esta a acusou de feitiçaria por conseguir realizar suas provas. E como não bastava, na intenção de recuperar a beleza que perdera ao cuidar do filho enfermo, a deusa lhe passou mais uma tarefa. Entregou-lhe uma pequena caixa