Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Enrique IV de Castela e a narrativa de Enríquez del Castillo, Notas de estudo de Construção

Este documento discute a figura de enrique iv de castela e a narrativa a respeito de seu reinado por diferentes cronistas, como hernando del pulgar e enríquez del castillo. Além disso, aborda a relação de enrique iv com a reconquista de granada e sua paternidade da princesa joana.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Neymar
Neymar 🇧🇷

4.7

(130)

378 documentos

1 / 7

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
ANPUH – XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – João Pessoa, 2003.
A FUNÇÃO DA CRÔNICA MEDIEVAL NA CONSTRUÇÃO DE BIOGRAFIA RÉGIA:
Enrique IV de Castela e a narrativa de Enríquez del Castillo.
LYGIA RODRIGUES VIANNA PERES – UFF
Na coleção de Crônicas dos Reis de Castela a partir do reinado de D. Afonso X, O Sábio, até
o reinado de Da. Isabel e D. Fernando, assinala seu organizador Don Cayetano Rosell que, para
cada reinado, anterior aos Católicos Reis havia uma crônica, “que de común acuerdo se conservan
y recomiendan como superiores por su concepto y méritos literários”1 Assinala ainda que o século
XV é campo frondoso e fértil, pois escritores de profissão, observadores dos acontecimentos, cujas
referências feitas segundo a paixão ou interesse de cada um, em estilo elegante, acreditavam
desempenhar bem seu papel “a gusto de los que pagaban ó los aplaudían. El más retórico era el que
presumia de mayor acierto”.2 E para o reinado dos Reis Católicos não há nenhuma dúvida quanto
aos verdadeiros historiadores desse período. Entretanto, continua, não acontece o mesmo com o
reinado de Enrique IV, objeto de nossas reflexões. Vários escritores se empenharam em escrever
sobre sua vida, o que dificulta atribuir a autoria de algumas obras sem provas para a identificação
do autor:
Cuál más, cuál menos, sabemos que intervinieron en aquella empresa el competidor de
Nebrija, Alonso de Palencia, Mosen Diego de Valera, Diego Enríquez del Castillo, D. Juan
Arias Dávila, el famoso compilador y refundidor de los documentos históricos en aquella
edad, Don Lorenzo Galíndez de Carvajal, y con carácter más general, sin ceñirse á limitado
espacio de tiempo, el bachiler Alfonso de Toledo, Pedro de Escávias, y quizá algun otro.3
Observamos, portanto, a problemática para o estudo das fontes do reinado do rei Enrique IV de
Castela. Assim, optamos para nossas considerações Diego Enriquez del Castillo, uma vez que
Alonso de Palencia não incluiu na relação de seus escritos uma Crônica de Enrique IV. Entretanto
esse autor escreveu as Décadas Latinas, cujo verdadeiro título é Las Tres Décadas de las cosas de
mi tiempo que vão desde 1440 até a confirmação da rainha Isabel no poder. E Mosén Diego de
Valera se baseia em Palencia para seu Memorial de diversas hazañas
Diego Enríquez del Castillo foi capelão e membro do Conselho da corte de Enrique IV, além
de seu cronista. Destaca-se pela fidelidade ao Rey, transcrevendo várias falas do monarca, como por
exemplo:
[...] é yo tengo de obrar como Rey, en quien como en espejo todos se han de mirar é tomar
doctrina; porque sabida cosa es que con los enxemplos del Rey se conforman los del reyno.
Asi que si bien consideramos la dignidad Real, y como Dios la hizo para señorear en el
mundo por el bien universal de todos, no son nacidos los Reyes para procurar sus propios
intereses, ni para hacer lo que solo á ellos cumple, mas que aprovechen á todos, é quieran la
utilidad de los muchos;4
1
pf3
pf4
pf5

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Enrique IV de Castela e a narrativa de Enríquez del Castillo e outras Notas de estudo em PDF para Construção, somente na Docsity!

A FUNÇÃO DA CRÔNICA MEDIEVAL NA CONSTRUÇÃO DE BIOGRAFIA RÉGIA:

Enrique IV de Castela e a narrativa de Enríquez del Castillo.

LYGIA RODRIGUES VIANNA PERES – UFF

Na coleção de Crônicas dos Reis de Castela a partir do reinado de D. Afonso X, O Sábio, até o reinado de Da. Isabel e D. Fernando, assinala seu organizador Don Cayetano Rosell que, para cada reinado, anterior aos Católicos Reis havia uma crônica, “que de común acuerdo se conservan y recomiendan como superiores por su concepto y méritos literários”^1 Assinala ainda que o século XV é campo frondoso e fértil, pois escritores de profissão, observadores dos acontecimentos, cujas referências feitas segundo a paixão ou interesse de cada um, em estilo elegante, acreditavam desempenhar bem seu papel “a gusto de los que pagaban ó los aplaudían. El más retórico era el que presumia de mayor acierto”.^2 E para o reinado dos Reis Católicos não há nenhuma dúvida quanto aos verdadeiros historiadores desse período. Entretanto, continua, não acontece o mesmo com o reinado de Enrique IV, objeto de nossas reflexões. Vários escritores se empenharam em escrever sobre sua vida, o que dificulta atribuir a autoria de algumas obras sem provas para a identificação do autor:

Cuál más, cuál menos, sabemos que intervinieron en aquella empresa el competidor de Nebrija, Alonso de Palencia, Mosen Diego de Valera, Diego Enríquez del Castillo, D. Juan Arias Dávila, el famoso compilador y refundidor de los documentos históricos en aquella edad, Don Lorenzo Galíndez de Carvajal, y con carácter más general, sin ceñirse á limitado espacio de tiempo, el bachiler Alfonso de Toledo, Pedro de Escávias, y quizá algun otro.^3

Observamos, portanto, a problemática para o estudo das fontes do reinado do rei Enrique IV de Castela. Assim, optamos para nossas considerações Diego Enriquez del Castillo, uma vez que Alonso de Palencia não incluiu na relação de seus escritos uma Crônica de Enrique IV. Entretanto esse autor escreveu as Décadas Latinas, cujo verdadeiro título é Las Tres Décadas de las cosas de mi tiempo que vão desde 1440 até a confirmação da rainha Isabel no poder. E Mosén Diego de Valera se baseia em Palencia para seu Memorial de diversas hazañas Diego Enríquez del Castillo foi capelão e membro do Conselho da corte de Enrique IV, além de seu cronista. Destaca-se pela fidelidade ao Rey, transcrevendo várias falas do monarca, como por exemplo: [...] é yo tengo de obrar como Rey, en quien como en espejo todos se han de mirar é tomar doctrina; porque sabida cosa es que con los enxemplos del Rey se conforman los del reyno. Asi que si bien consideramos la dignidad Real, y como Dios la hizo para señorear en el mundo por el bien universal de todos, no son nacidos los Reyes para procurar sus propios intereses, ni para hacer lo que solo á ellos cumple, mas que aprovechen á todos, é quieran la utilidad de los muchos;^4

O cronista nos dá a conhecer um pouco da consciência do Rei como espelho para seus súditos, exemplaridade e a dignidade Real instituída por Deus para o bem comum. É comedido no reconhecimento das debilidades do Monarca registrado em forte tensão com os nobres, “rebeldes por sistema, traidores por instinto y perversos por naturaleza”:

Verdad es que el Rey quisiera como varon tener osadia del Rey y esfuerzo de Caballero, para que aquella mesma noche fuera sobre ellos, muy ligeramente los pudiera prender y destruir para siempre, porque ellos estaban derramados é mal proveidos é sin órden; mas como era remiso, é la rotura muy agena de su condición, antes queria pendencia de tratos, que destruir sus enemigos.^5

É quando, por exemplo, o jogo de interesses destitui simbolicamente o poder Real na representação da “Farsa de Ávila”:

[...] mandaron hacer un cadahalso fuera de la cibdad en un gran llano, y encima del cadahalso pusieron una estatua asentada en una silla, que descian representar la persona del Rey, la qual estaba cubierta de luto. Tenia en la cabeza una corona, y un estoque delante de si, y estaba con un baston en la mano. E así puesta en el campo, salieron todos aquestos ya nombrados acompañando al Príncipe Don Alonso hasta el cadahalso. Donde llegados, […] tomaron al Príncipe, é se apartaron con él un grand trecho del cadahalso. Y entonces los otros señores que allí quedaron, subidos en el cadalso, se pusieron al rededor de la estatua: donde en altas voces mandaron leer una carta mas llena de vanidad que de cosas sustanciales, en que señaladamente acusaban al Rey de quatro cosas: Que por la primera, merecía perder la dignidad Real; y entonces llegó Don Alonso Carrilo, Arzobispo de Toledo, é le quitó la corona de la cabeza. Por la segunda, que merecía perder la administración de la justicia; así llegó Don Álvaro de Zúñiga, Conde de Plasencia, é le quitó el estoque que tenía delante. Por la tercera, que merecía perder la gobernación del Reyno; é así llegó Don Rodrigo Pimentel, Conde de Benavente, é le quitó el baston que tenia en la mano. Por la quarta que merecía perder el trono é asentamiento de Rey; é así llegó Don Diego Lopez de Zúñiga, é derribó la estatua de la silla en que estaba, disciendo palabras furiosas e dehonestas.^6

O fato assinala as tensões políticas pela divisão da nobreza o que leva também ao questionamento da integridade moral do titular do reino. Sua filha, aquela Dona Joana, cognominada La Beltraneja , é o testemunho da fortuna adversa ao Rei. Entretanto, é preciso ressaltar que Enríquez del Castillo é bastante íntegro e discreto sobre a paternidade da Princesa Joana, o que não ocorre com Hernando del Pulgar em sua Crônica dos “Señores Reyes Católicos Don Fernando y Doña Isabel” escrita por autoridade pública de 1482. Pulgar antes de começar sua narrativa, escreve nove capítulos sobre Enrique IV, de onde podemos destacar sua opinião tão diversa sobre o Rey castelhano:

El Rey veyéndose por entonces muy poderoso de gentes é rico de tesoros, queriendo encubrir el defecto natural que tenia para engendrar, no quiso dar orejas á las amonestaciones é suplicaciones que sobre esto le fueron, é publicó el preñado de la Reyna ser suyo.^7

Nesse momento cabe-nos trazer a voz do cronista na afirmação da pessoa divina do Rey:

claustrales, y de la forma quel Rey tuvo con ellos.^14 Informa o cronista que o rei querendo colocá- los em comum acordo, sem reduzir a uns ou a outros, resolveu deixar os claustrales em seu mosteiro, onde já estavam há muitos anos e “Mandó edificar de nuevo fuera de la cibdad um Monesterio muy notable de la advocación de San Antonio, el qual dió á los oservantes, y le dió muy ricos ornamentos y todas las cosas necesarias al culto divino. O Rei estabelece a concórdia e constrói outro mosteiro. Ressaltamos, mais ainda, as ações pacificadoras do castelhano Rei. Primeiramente estabelece a paz com seu tio o Rei de Navarra e em seguida a confirma com o seu outro tio o Rei Dom Alonso de Aragão e de Nápoles. Esta relação familiar é bastante importante, pois o herdeiro de Aragão, o Príncipe Dom Fernando, é primo em primeiro grau de Isabel para cujo matrimônio, realizado sem o consentimento do Rei e com apoio da nobreza, é necessária a autorização do Papa questionada pela sua existência ou não. Cabia a Dom Enrique dar prosseguimento e término à Reconquista. Portanto, uma de suas primeiras ações foi programar a entrada em Granada. Em abril de 1455 parte para Córdoba “donde los grandes del Reyno, é las otras gentes, asi de á caballo como peones, se avian de juntar”. Novamente em abril de 1458, “convocadas las gentes de sus Reynos, asi de á caballo, como peones, salvo los grandes, que no quiso llevarlos, el Rey se fue para Córdoba, é de allí entró poderosamente en la Vega de Granada”. O cronista destaca outro sucesso com os mouros, quando tudo no Reino prosperava e as coisas iam melhores do que o próprio Rei esperava: o Infante Muley Bulhacem, como lemos no capítulo XXVII , “con dos mil é quinientos rocines, é diez mil peones salió de la casa de Granada para hacer cavalgada en tierra de christianos, é vino á correr la villa de Estepa”. Estamos em 1462. Sabemos que o antecessor de Isabel é severamente criticado por não ter dado ênfase à Reconquista de Granada. Mas assinalamos que Enrique IV, como vimos, era um homem de grande sensibilidade artística, humanista por excelência e que, cremos, grande apreciador da cultura árabe. Em sua guarda tinha 20 mouros, é criticado por vestir-se à moda moura e sentar-se como os mouros. E o que é também bastante significativo: a cidade de Granada era de extremo esplendor e muito rica. Considerada a Damasco espanhola, foi constituída em corte no século IV “de la hégira”:

Granada es hoy la metrópoli de las ciudades marítimas, capital ilustre de todo el reino, emporio insigne de traficantes, madre benigna de marinos, albergue de viajeros de todas las naciones, vergel perpetuo de flores, espléndido jardín de frutas, encanto de las criaturas, erario público, ciudad celebérrima por sus campos y fortalezas, mar inmenso de trigo y de acendradas legumbres y manatial inagotable de sede y azúcar” 15

Parece-nos que a sensibilidade do monarca castelhano o impedia de lutar contra Granada. Não cremos que fosse por falta de vontade ou de poder. Outro aspecto de extrema importância a considerar são as relações com o Rei Afonso V de Portugal, como também a presença de nobres portugueses na Corte castelhana o que representará oposição à Isabel, em sua Corte, quando da entrada em Castela e coroação do rei português e de sua sobrinha Juana. A segunda esposa de Enrique IV era irmã de Dom Afonso V. O teatro do chamado “Século de Ouro”, expressão barroca das Letras e das Artes, na Espanha do XVII, recupera a memória da Península Ibérica, quando Portugal está sob a Coroa da Espanha, engrandecida e enobrecida com a temática portuguesa, considerando a crise política e econômica, nesse momento os reinados de Felipe III e Felipe IV. Trazemos para ilustrar nossas considerações a obra de Tirso de Molina Antona García , de 1622, já sob o reinado do IV Felipe. Trata-se das tensões entre Portugal e Castela após a morte de Enrique IV e a sucessão da Coroa. Lemos a “situação” 6, delimitada pela entrada e saída dos personagens ou pela mudança de cenário:

´efeitos do real´. Faz-se necessário, somos conscientes, a pesquisa de documentação “que dita a ambição e os limites da investigação”. Em nosso esboço tentamos destacar pequenos aspectos da vida quotidiana no exercício de sua função real, da crítica e oposição a sua pessoa, em um espaço adverso, quando o reino de Granada ainda não tinha sido reconquistado. A intertextualidade com obras de dramaturgos do “Século de Ouro”, das Letras e das Artes, o teatro barroco na Espanha, evidencia a teatralidade da História e o poder em cena, teatro da História.

NOTAS:

(^1) ENRIQUEZ DEL CASTILLO, Diego. Crônica del Rey Don Enrique el Cuarto de este nombre, por su capellán y cronista , in Crónicas de los Reyes de Castilla desde Don Alfonso El Sabio, hasta los Católicos Don Fernando y Doña Isabel. Colección Ordenada por Don Cayetano Rosell, Madrid: Biblioteca de Autores Españoles, 1953, Tomo tercero, pp. 97-222. 2 3 Idem, ibidem,^ p.V. 4 Idem, ibidem, p.V. 5 Idem, ibidem,^ p.111, 6 Idem, ibidem,^ p.137, Idem, ibidem , p.144,2. A “Farsa de Ávila”, assim chamado o destronamento do Rey, é o paradigma, na expressão barroca de Calderón de la Barca, do destronamento de Muley Mahomet, Príncipe de Fez, na obra El gran Príncipe de Fez. Obra de circunstância pela conversão ao cristianismo de Mawlay Muhammad, filho do Imperador de Marrocos, em 1663.Cf. PERES, Lygia R.V. “O Maravilhoso em Calderón de la Barca. Teatro da Memória. Rio de Janeiro: Agora da Ilha, 2001, pp. 175. 7 HERNANDO DEL PULGAR, Crónica de los Señores Reyes Católicos Don Fernando y Doña Isabel de Castilla y Aragon, in ROSSEL, Don Cayetano, Crónicas de los Reyes de Castilla, Madrid: BAE, 1953, pp.223-511, p.230,1 8 9 ENRIQUEZ DEL CASTILLO, p.144, 10 Ibidem , p. 3 11 Ibidem,^ p.111, 12 Ibidem,^ p. VALERA, Diego, Memorial de Diversas Hazañas, in Crónicas de los Reyes de Castilla desde Don Alfonso El Sabio, hasta los Católicos Don Fernando y Doña Isabel. Colección Ordenada por Don Cayetano Rosell, Madrid: Biblioteca de Autores Españoles, 1953, Tomo tercero, pp.1-95, p, 5 13 p.95,1, 14 ENRIQUEZ DEL CASTILLO, Op. cit ., p.101, 15 VALERA, Op. cit.,^ p.5,1. BEN AL-JATIB, Del Lamhat al badríya fi-l-dawla al-nasriya, in SÁNCHEZ ALBORNOZ, C. La España Musulmana, Madrid: Espasa-Calpe, 1986, T. II, p.531. 16 TIRSO DE MOLINA, Antona García, in Obras Dramáticas Completas, IV, ed. De Blanca de los Ríos, Madrid: Aguilar, 1989, pp.405-455, p.418, (^17) LE GOFF, J. São Luis , Biografia. Trad. De Marcos de Castro, Rio de Janeiro-São Paulo: Editora Record,

  1. pp. 20-32, p.20.