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Apostila Completa
Tipologia: Provas
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ÍNDICE
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Volume I
**1. Níveis de significação do texto: significação explícita e significação implícita, denotação e conotação. ......... 31
INGLÊS ............................................................................................................................................................................. 96 Gramática Interpretação de textos Vocabulário
Literatura ......................................................................................................................................................................... 139 Literatura Portuguesa ...................................................................................................................................................... 141 Literatura Brasileira ......................................................................................................................................................... 146 Estilos e época ................................................................................................................................................................ 158
EDUCAÇÃO FÍSICA ...................................................................................................................................................... 169
EDUCAÇÃO ARTÍSTICA .............................................................................................................................................. 191
lenho, lenhos); o neutro plural passou a feminino singular, admitindo tam- bém outro plural (ligna > lenha, lenhas). O caso latino que persistiu no português em geral foi o acusativo (por isso chamado caso lexicogênico), com perda do m final no singular. As desinências de graus deixaram de usar-se como tais; e as que hoje se ouvem, quando latinas, devem-se aos eruditos nas escolas.
Os verbos latinos, repartidos por quatro conjugações, esquematiza- ram-se em três: os da terceira conjugação latina passaram para a segunda (míttere > meter), ou para a quarta (-míttere >-mitir). Houve grande vacila- ção, no português antigo, sobre a conjugação que haveria de prevalecer: correger > corrigir, caer > cair etc. No português criou-se um futuro do subjuntivo, como no castelhano e no galego, proveniente do futuro perfeito do indicativo latino. Surgiu no português, como no galego, um infinitivo variável. Caducaram vários particípios, e formas nominais do verbo.
A sintaxiologia registra menor maleabilidade do português, em conse- quência do grande desgaste das flexões. Mas os princípios fundamentais da concordância e da regência continuam os mesmos (naturalmente não pode haver concordâncias de casos, pois que os casos desapareceram).
Gramática portuguesa
A fonologia muito equilibrada, circunstância que a aproxima do francês e do italiano, é uma das principais características do português.
A língua tem 13 vogais, oito orais -- u, ô, ó, á, a, é, ê, i -- e cinco nasais -- ~u, õ, ã, ~e, ~i -- sendo que, em algumas regiões, ouvem-se outras. Carece de fonemas aspirados ou africados. Possui três pares de consoan- tes fricativas -- f/v, ç/z, x/j (exemplos: fé/vó, sá/zé, xá/jó); três pares de consoantes oclusivas: p/b, t/d, k/g (exemplos: pé/bom, tá/dó, que/giz); e três consoantes nasais -- m, n, ñ (exemplos: tomo, anão, manhã). A con- soante lateral l pode ser usada como lh, a exemplo dos casos lado e olho, enquanto a consoante vibrante r pode ser dobrada: rã, urra (e esse r gemi- nado pode ser substituído por um gargarizado, mais áspero do que o r- grasseyé parisiense).
Outra particularidade da língua portuguesa é o fato de o acento tônico, no caso de vocábulos polissilábicos, poder cair em qualquer das três últimas sílabas. Também é característica a existência de palavras átonas, que se arrimam nas outras por meio de próclise ou de ênclise. Os ditongos, orais e nasais, são sempre decrescentes, isto é, terminam nas vogais reduzidas u ou i, exceto quando se situam depois de k ou g, e começam por u reduzido. Conta ainda o português alguns tritongos, que podem ser parcialmente nasais. Ocorrem sempre depois de k, ou de g, e começam por u reduzido. Ditongos outros, crescentes, podem surgir na linguagem descuidada, ou em certos artifícios de linguagem poética.
A lexicologia da língua portuguesa é das mais ricas que existem, mas não apresenta aspectos especialmente singulares. É predominantemente latina, mais pela importância do que pelo número de vocábulos latinos que abriga.
A sintaxiologia da língua portuguesa revela um analitismo que decorre do amplo desenvolvimento de suas perífrases. Predomina, na construção, a ordem direta, em que o sujeito antecede o verbo e o complemento ou complementos. A voz ativa predomina sobre a voz passiva, e as orações sem sujeito -- ou as de sujeito indefinido -- na maioria das ocasiões não têm o sujeito gramatical usado no francês ou nas línguas germânicas, isto é, o on, o man, o one.
Idiotismos
As palavras apresentam-se ao espírito como os elementos materiais, por assim dizer, da linguagem interior. Materializam as ideias e são como que as pedras de uma construção. Mas não se podem fazer transposições de uma língua para outra sem se obedecer a precauções. Em primeiro lugar, há, em cada língua, um número considerável de palavras auxiliares, que não correspondem a quaisquer ideias: surgem como instrumentos ou peças necessárias ao encadeamento das palavras-ideias, e nem sempre encontram correspondentes em outras línguas. Além disso, há certos torneios particulares, e até sui generis, que decorrem de velhos hábitos adquiridos. Tudo isso constitui os chamados idiotismos.
Palavras como homem, chove, azul ou bem correspondem a noções claras, a ideias que povoam o mundo interior de quem fala. Mas é, ele ou que não encontram nenhuma correspondência ideativa. O verbo ser, em
seu emprego mais corrente, apenas relaciona um nome a outro, provido este do toque nocional, variável ao infinito, que falta ao verbo (Um homem é bom ou mau, alto ou baixo, inteligente ou estúpido); ele pode referir-se a qualquer ente do gênero masculino (homem, leão, muro); que, seja prono- me, seja conjunção, não contém em si nenhuma noção precisa. No primei- ro caso, toma emprestado o valor de seu antecedente (a mulher, ou o homem, ou o carro que eu vi), no segundo é mera palavra de ligação (Peço-te que venhas). No latim não há o pronome ele, nem a integrante que. No russo, não se usa correntemente o verbo ser.
O curioso, porém, é que as palavras não ideativas, as chamadas deno- tativas, são as principais em cada língua, porque características de cada uma. São criações gramaticais. Quando não encontram versão em outras línguas, constituem idiotismos (do grego idiótes, "particular", "privado"). As palavras ideativas, pelo contrário, se não acham paralelo em outra, facil- mente se podem introduzir. Basta que a ideia se comunique, e se divulgue. Palavras ideativas criam-se à vontade, ou se importam. Às vezes surgem sem necessidade alguma, por moda, por contágio. Quando as ideias desaparecem, também elas podem sair de circulação. Tudo é contingente. Mas nas palavras denotativas não é possível mexer.
Talvez os principais idiotismos do português se possam resumir do se- guinte modo:
(1) A existência de cinco pronomes neutros para o singular: isto, isso, aquilo, tudo, o. Tais palavras referem-se às coisas, e podem combinar-se ainda em: tudo isto, tudo isso, tudo aquilo, tudo o. No castelhano também existem outras tantas palavras neutras: esto, eso, aquello, ello, lo. Trata-se, pois, de uma particularidade ibérica.
(2) O português constrói orações nominais (isto é, as de sujeito e pre- dicativo, que exprimem estado ou qualidade) com três verbos distintos: ser, estar, ficar, conforme se define o ser-sujeito em caráter definitivo, provisó- rio (ou recente), ou num momento em que ele muda de aspecto: Frederico é forte; Frederico está forte; Frederico fica forte. Nenhuma outra grande língua da Europa faz isso tão natural e agilmente.
(3) O infinitivo variável, flexionando-se pessoalmente, é um dos mais profundos traços do português. Assim sendo, essa forma verbal concorre com o subjuntivo, e o indicativo, principalmente nas orações subordinadas. Entretanto, pode alternar até com o imperativo. Peço-te passares por lá (= Peço-te que passes por lá). Creio estarmos preparados (= Creio que esta- mos preparados). Passar bem! (= Passe bem!). O uso do infinitivo variável foi mais extenso no português antigo e é mesmo mais notável na língua popular do que no português literário moderno. É, hoje, um maravilhoso recurso de clareza, ou de ênfase, a que é lícito recorrer mesmo quando a gramática postula o contrário.
Se não tivesse empregado o infinitivo variável, Camões teria escrito uma frase ambígua naquele célebre passo: "Ó Netuno, lhe disse, não te espantes / de Baco nos teus reinos receberes" (Os lusíadas, VI, 15). Com que ufania exclama ele, diante do estrangeiro: "Vai ver-lhe a frota, as armas, e a maneira / do fundido metal, que tudo rende, / e folgarás de veres a polícia (= civilização) / portuguesa na paz, e na milícia" (Ib., VII, 72).
Repare-se em como o segundo infinitivo, variável, torna a frase mais leve, e o pensamento mais evidente, na seguinte passagem de Alencar: "Nem por isso os outros deixaram de continuar o seu giro, e as estações de seguirem o seu curso regular" (Correr da pena). O infinitivo variável existe também no galego, e surgiu em dialetos ibéricos e itálicos.
(4) O predicativo preposicionado, isto é, introduzido por preposição, é uma das tendências que se têm acentuado no português. Embora se diga Afonso é considerado um talento, parece perfeitamente natural dizer Afon- so é tido por talento, ou ainda Afonso é tido em muito. Se um português diz naturalmente ele me chamou amigo, um brasileiro preferiria recorrer à preposição: Ele me chamou de amigo. Alguns puristas chegaram a censu- rar de viciosa esta última construção, sem reparar que o mesmo se tem feito com outros verbos sinônimos: "D. José cognominava de renegado o fugitivo sócio" (Camilo Castelo Branco, Amor de salvação); "Está averban- do de suspeita ou falazes tão ligeiras e infundadas ilações" (Latino Coelho, Camões).
(5) Um idiotismo funcional é o aspecto iterativo que modernamente se tem dado ao presente perfeito do indicativo. Enquanto nas outras línguas
esse tempo evolveu naturalmente para o passado, em português não exprime simples passado, senão passado reiterado. "Tenho reclamado" não significa "reclamei", como em outras línguas, mas "reclamei, reclamei, reclamei e ainda estou no propósito de reclamar".
(6) O infinitivo preposicionado em substituição do gerúndio é também traço do português, e também moderno. É sabido que as línguas români- cas criaram para o infinitivo a possibilidade de o ligarem com uma preposi- ção e, assim, tornaram supérfluas várias formas nominais do verbo latino, como supinos, particípios, gerundivo e mesmo as formas gerundiais distin- tas do ablativo. O português estendeu essa possibilidade até o gerúndio ablativo, de modo que se pode dizer "está a chover", em lugar do primitivo "está chovendo". No Brasil, prefere-se o gerúndio, de uso generalizado.
(7) O emprego de "estar com" na acepção de "ter" é muito da índole portuguesa. Podemos perfeitamente dizer "tenho sede, tenho sono, tenho a chave". Também nos é lícito expressar-nos "estou sequioso, estou sono- lento". Mas o mais natural será: "Estou com sede, estou com sono, estou com a chave."
(8) O analitismo português, já assinalado, pode ainda ser lembrado como um dos traços idiomáticos mais marcantes da língua. De um modo geral, as línguas românicas evolveram do sintetismo latino para um decidi- do analitismo. Mas talvez nenhuma chegou a tão grande desenvolvimento nesse terreno como o português. Enquanto o alemão (no ramo germânico) conservou e estimulou o gosto pela palavra composta, o português fez o contrário. Se a expressão perifrástica é desgraciosa e comprida, não se lhe pode negar, em geral, a clareza de significação. Uma palavra como apud não consegue ser tão expressiva como as suas traduções dicionarizadas: "junto de", "ao pé de", "perto de", "diante de", "ao lado de", "na presença de", "em companhia de", "em casa de", "à vista de", "segundo", "conforme", "em relação a", "no tempo de". Experimente-se traduzir o alemão bei, ou o inglês by. As perífrases verbais do português são, na verdade, uma cons- trução infernal para o estrangeiro, mas emprestam grande sutileza à ex- pressão.
Português no Brasil
A língua que se fala no Brasil, ainda que transpareçam traços caracte- rísticos locais, é em essência, como já se mostrou, a mesma que se pratica em Portugal, pois que se compendia na mesma gramática.
Foneticamente, assinale-se que no Brasil não se criou fonema novo. (No espanhol da Argentina, uma expressão como calle mayor se pronuncia aproximadamente como "káje ma'jor", fazendo-se ouvir o som de j, inexis- tente em terras de Castela.) Certos fonemas conhecidos no tupi-guarani não conseguiram subsistir nos vocábulos brasileiros dessa fonte. Mas é certo que portugueses e brasileiros, conquanto não pratiquem sistemas fonéticos diversos, têm hábitos por vezes diferentes.
Quanto à lexiologia, deve-se notar que não se gerou no Brasil nenhum denotativo: determinativos, pronomes, preposições, conjunções etc. são os mesmos nos dois países. O vocabulário ideativo, no entanto, enseja gran- des reparos, ou porque as palavras correspondam a ideias não-correntes em Portugal, ou porque se tenha dado sentido novo a certas palavras, ou porque se introduziram outras sem necessidade. Nas últimas linhas de Os Maias, onde Eça de Queirós diz: "Então, para apanhar o americano, os dois amigos romperam a correr desesperadamente pela rampa de Santos", é possível que um escritor brasileiro escrevesse: "Então, para pegar o bonde, os dois amigos começaram a correr desesperadamente pela ladeira de Santos."
Muitas das invenções carreiam nomenclatura nova, quase nunca coin- cidente, de um e de outro lado do Atlântico. Dizem os portugueses: cami- nho-de-ferro, combóio, chulipa. E os brasileiros: estrada de ferro, trem, dormente. "Carril" tem as preferências lusitanas; os brasileiros dizem "trilho". De qualquer maneira, o vocabulário ideativo é contingente e pode renovar-se completamente sem que a língua se abale.
Quanto à morfologia, nenhuma observação a fazer. Usam-se no Brasil, absolutamente, as mesmas desinências, e nada se permite de especial. Os prefixos e sufixos são fundamentalmente os mesmos.
Na sintaxe, o ponto nevrálgico é a questão da colocação dos prono- mes pessoais átonos. É que, embora átonas, tais partículas são muito mais ponderáveis no Brasil do que em Portugal. Assim sendo, os brasileiros as
colocam onde lhes parecem que soam melhor. Em Portugal, sendo por demais tênues, elas correriam o risco de não ser percebidas se não se sujeitassem a posições rígidas, onde o ouvido já as espere. Alencar escre- veu em Iracema: "A rola, que marisca na areia, se afasta-se o companhei- ro, adeja inquieta de ramo em ramo", para evitar o ciciar de um "se se afasta" (çi çi afáxta) ou para não bisar numa sílaba que lhe oferecia um "sibilo desagradável".
Ora, tal não acontece aos portugueses, que ali proferem um monossí- labo (çiç afáxta). Sem se dar inteiramente consciência do fato, os brasilei- ros desenvolveram hábitos de sínclise pronominal que nunca foram defini- tivamente estabelecidos em Portugal e que estão sujeitos à moda e a gostos particulares. Os demais preceitos sintáticos acatam-se nos dois principais países de língua portuguesa.
Dialetologia portuguesa
Em 1901, José Leite de Vasconcelos doutorou-se na Universidade de Paris com uma tese retumbante intitulada Esquisse d'une dialectologie portugaise (Esboço de dialetologia portuguesa) e apontou no território da metrópole diversos dialetos: o interamnense e o transmontano, ao norte; o beirão e o estremenho, ao centro; o alentejano e o algarvio, ao sul. Mas não se podem aceitar a existência desses dialetos, como os italianos ou os alemães, pois em quase nada se distinguem. Constitui um esforço de eruditismo o poder diferençá-los, tal a extraordinária unidade de expressão característica do mundo português.
O mesmo autor reconhece a existência de dialetos insulares, nos Aço- res e na Madeira, e aponta vários dialetos de ultramar, entre os quais o "brasileiro". Decide-o a priori, dizendo: "Se eu chamo dialeto, por exemplo, o português de Trás-os-Montes, com mais forte razão devo dar esse nome ao português do Brasil, ou 'brasileiro'..." Mas acontece que, se o Brasil for tratado com o mesmo interesse que ele demonstrou com respeito a Portu- gal, verifica-se que não há dialeto que se possa intitular "brasileiro": haverá muitos dialetos brasileiros, tão insignificantes no fundo quanto os de Portu- gal. ©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
Os concursos apresentam questões interpretativas que têm por finali- dade a identificação de um leitor autônomo. Portanto, o candidato deve compreender os níveis estruturais da língua por meio da lógica, além de necessitar de um bom léxico internalizado.
As frases produzem significados diferentes de acordo com o contexto em que estão inseridas. Torna-se, assim, necessário sempre fazer um confronto entre todas as partes que compõem o texto.
Além disso, é fundamental apreender as informações apresentadas por trás do texto e as inferências a que ele remete. Este procedimento justifica-se por um texto ser sempre produto de uma postura ideológica do autor diante de uma temática qualquer.
Denotação e Conotação Sabe-se que não há associação necessária entre significante (expres- são gráfica, palavra) e significado, por esta ligação representar uma con- venção. É baseado neste conceito de signo linguístico (significante + significado) que se constroem as noções de denotação e conotação.
O sentido denotativo das palavras é aquele encontrado nos dicioná- rios, o chamado sentido verdadeiro, real. Já o uso conotativo das palavras é a atribuição de um sentido figurado, fantasioso e que, para sua compre- ensão, depende do contexto. Sendo assim, estabelece-se, numa determi- nada construção frasal, uma nova relação entre significante e significado.
Os textos literários exploram bastante as construções de base conota- tiva, numa tentativa de extrapolar o espaço do texto e provocar reações diferenciadas em seus leitores.
Ainda com base no signo linguístico, encontra-se o conceito de polis- semia (que tem muitas significações). Algumas palavras, dependendo do contexto, assumem múltiplos significados, como, por exemplo, a palavra ponto: ponto de ônibus, ponto de vista, ponto final, ponto de cruz ... Neste caso, não se está atribuindo um sentido fantasioso à palavra ponto, e sim
extensas, fazendo aparecer textos descritivos no interior dos tex- tos narrativo. Tempo: Os fatos que compõem a narrativa desenvolvem-se num determinado tempo, que consiste na identificação do momento, dia, mês, ano ou época em que ocorre o fato. A temporalidade sa- lienta as relações passado/presente/futuro do texto, essas rela- ções podem ser linear, isto é, seguindo a ordem cronológica dos fatos, ou sofre inversões, quando o narrador nos diz que antes de um fato que aconteceu depois.
O tempo pode ser cronológico ou psicológico. O cronológico é o tempo material em que se desenrola à ação, isto é, aquele que é medido pela natureza ou pelo relógio. O psicológico não é mensurável pelos padrões fixos, porque é aquele que ocorre no interior da personagem, depende da sua percepção da realidade, da duração de um dado acontecimento no seu espírito.
Narrador: observador e personagem: O narrador, como já disse- mos, é a personagem que está a contar a história. A posição em que se coloca o narrador para contar a história constitui o foco, o aspecto ou o ponto de vista da narrativa, e ele pode ser caracteri- zado por :
Formas de apresentação da fala das personagens Como já sabemos, nas histórias, as personagens agem e falam. Há três maneiras de comunicar as falas das personagens.
Discurso Direto: É a representação da fala das personagens atra- vés do diálogo. Exemplo: “Zé Lins continuou: carnaval é festa do povo. O povo é dono da verda- de. Vem a polícia e começa a falar em ordem pública. No carnaval a cida- de é do povo e de ninguém mais”.
No discurso direto é frequente o uso dos verbo de locução ou descen- di: dizer, falar, acrescentar, responder, perguntar, mandar, replicar e etc.; e de travessões. Porém, quando as falas das personagens são curtas ou rápidas os verbos de locução podem ser omitidos.
Discurso Indireto: Consiste em o narrador transmitir, com suas próprias palavras, o pensamento ou a fala das personagens. E- xemplo: “Zé Lins levantou um brinde: lembrou os dias triste e passados, os meus primeiros passos em liberdade, a fraternidade que nos reu- nia naquele momento, a minha literatura e os menos sombrios por vir”.
Discurso Indireto Livre: Ocorre quando a fala da personagem se mistura à fala do narrador, ou seja, ao fluxo normal da narração. Exemplo: “Os trabalhadores passavam para os partidos, conversando alto. Quando me viram, sem chapéu, de pijama, por aqueles lugares, deram-me bons-dias desconfiados. Talvez pensassem que esti- vesse doido. Como poderia andar um homem àquela hora , sem fazer nada de cabeça no tempo, um branco de pés no chão como eles? Só sendo doido mesmo”. (José Lins do Rego)
Descrever é fazer uma representação verbal dos aspectos mais carac- terísticos de um objeto, de uma pessoa, paisagem, ser e etc.
As perspectivas que o observador tem do objeto são muito importan- tes, tanto na descrição literária quanto na descrição técnica. É esta atitude que vai determinar a ordem na enumeração dos traços característicos para que o leitor possa combinar suas impressões isoladas formando uma imagem unificada.
Uma boa descrição vai apresentando o objeto progressivamente, vari- ando as partes focalizadas e associando-as ou interligando-as pouco a pouco.
Podemos encontrar distinções entre uma descrição literária e outra técnica. Passaremos a falar um pouco sobre cada uma delas: Descrição Literária: A finalidade maior da descrição literária é transmitir a impressão que a coisa vista desperta em nossa mente através do sentidos. Daí decorrem dois tipos de descrição: a sub- jetiva, que reflete o estado de espírito do observador, suas prefe- rências, assim ele descreve o que quer e o que pensa ver e não o que vê realmente; já a objetiva traduz a realidade do mundo obje- tivo, fenomênico, ela é exata e dimensional. Descrição de Personagem: É utilizada para caracterização das personagens, pela acumulação de traços físicos e psicológicos, pela enumeração de seus hábitos, gestos, aptidões e tempera- mento, com a finalidade de situar personagens no contexto cultu- ral, social e econômico. Descrição de Paisagem: Neste tipo de descrição, geralmente o observador abrange de uma só vez a globalidade do panorama, para depois aos poucos, em ordem de proximidade, abranger as partes mais típicas desse todo. Descrição do Ambiente: Ela dá os detalhes dos interiores, dos ambientes em que ocorrem as ações, tentando dar ao leitor uma visualização das suas particularidades, de seus traços distintivos e típicos. Descrição da Cena: Trata-se de uma descrição movimentada, que se desenvolve progressivamente no tempo. É a descrição de um incêndio, de uma briga, de um naufrágio. Descrição Técnica: Ela apresenta muitas das características ge- rais da literatura, com a distinção de que nela se utiliza um voca- bulário mais preciso, salientando-se com exatidão os pormenores. É predominantemente denotativa tendo como objetivo esclarecer convencendo. Pode aplicar-se a objetos, a aparelhos ou meca- nismos, a fenômenos, a fatos, a lugares, a eventos e etc.
Dissertar significa discutir, expor, interpretar ideias. A dissertação consta de uma série de juízos a respeito de um determinado assunto ou questão, e pressupõe um exame critico do assunto sobre o qual se vai escrever com clareza, coerência e objetividade.
A dissertação pode ser argumentativa - na qual o autor tenta persuadir o leitor a respeito dos seus pontos de vista ou simplesmente, ter como finalidade dar a conhecer ou explicar certo modo de ver qualquer questão.
A linguagem usada é a referencial, centrada na mensagem, enfatizan- do o contexto.
Quanto à forma, ela pode ser tripartida em : Introdução: Em poucas linhas coloca ao leitor os dados fundamen- tais do assunto que está tratando. É a enunciação direta e objetiva da definição do ponto de vista do autor. Desenvolvimento: Constitui o corpo do texto, onde as ideias colo- cadas na introdução serão definidas com os dados mais relevan- tes. Todo desenvolvimento deve estruturar-se em blocos de ideias articuladas entre si, de forma que a sucessão deles resulte num conjunto coerente e unitário que se encaixa na introdução e de- sencadeia a conclusão. Conclusão: É o fenômeno do texto, marcado pela síntese da ideia central. Na conclusão o autor reforça sua opinião, retomando a in- trodução e os fatos resumidos do desenvolvimento do texto. Para
haver maior entendimento dos procedimentos que podem ocorrer em um dissertação, cabe fazermos a distinção entre fatos, hipóte- se e opinião.
- Fato: É o acontecimento ou coisa cuja veracidade e reconhecida; é a obra ou ação que realmente se praticou. - Hipótese: É a suposição feita acerca de uma coisa possível ou não, e de que se tiram diversas conclusões; é uma afirmação so- bre o desconhecido, feita com base no que já é conhecido. - Opinião: Opinar é julgar ou inserir expressões de aprovação ou desaprovação pessoal diante de acontecimentos, pessoas e obje- tos descritos, é um parecer particular, um sentimento que se tem a respeito de algo.
Baseado em Adilson Citelli
A linguagem é capaz de criar e representar realidades, sendo caracte- rizada pela identificação de um elemento de constituição de sentidos. Os discursos verbais podem ser formados de várias maneiras, para dissertar ou argumentar, descrever ou narrar, colocamos em práticas um conjunto de referências codificadas há muito tempo e dadas como estruturadoras do tipo de texto solicitado.
Para se persuadir por meio de muitos recursos da língua é necessário que um texto possua um caráter argumentativo/descritivo. A construção de um ponto de vista de alguma pessoa sobre algo, varia de acordo com a sua análise e esta dar-se-á a partir do momento em que a compreensão do conteúdo, ou daquilo que fora tratado seja concretado. A formação discur- siva é responsável pelo emassamento do conteúdo que se deseja transmi- tir, ou persuadir, e nele teremos a formação do ponto de vista do sujeito, suas análises das coisas e suas opiniões. Nelas, as opiniões o que faze- mos é soltar concepções que tendem a ser orientadas no meio em que o indivíduo viva. Vemos que o sujeito lança suas opiniões com o simples e decisivo intuito de persuadir e fazer suas explanações renderem o conven- cimento do ponto de vista de algo/alguém.
Na escrita, o que fazemos é buscar intenções de sermos entendidos e desejamos estabelecer um contato verbal com os ouvintes e leitores, e todas as frases ou palavras articuladas produzem significações dotadas de intencionalidade, criando assim unidades textuais ou discursivas. Dentro deste contexto da escrita, temos que levar em conta que a coerência é de relevada importância para a produção textual, pois nela se dará uma sequência das ideias e da progressão de argumentos a serem explanadas. Sendo a argumentação o procedimento que tornará a tese aceitável, a apresentação de argumentos atingirá os seus interlocutores em seus objetivos; isto se dará através do convencimento da persuasão. Os meca- nismos da coesão e da coerência serão então responsáveis pela unidade da formação textual.
Dentro dos mecanismos coesivos, podem realizar-se em contextos verbais mais amplos, como por jogos de elipses, por força semântica, por recorrências lexicais, por estratégias de substituição de enunciados.
Um mecanismo mais fácil de fazer a comunicação entre as pessoas é a linguagem, quando ela é em forma da escrita e após a leitura, (o que ocorre agora), podemos dizer que há de ter alguém que transmita algo, e outro que o receba. Nesta brincadeira é que entra a formação de argumen- tos com o intuito de persuadir para se qualificar a comunicação; nisto, estes argumentos explanados serão o germe de futuras tentativas da comunicação ser objetiva e dotada de intencionalidade, (ver Linguagem e Persuasão).
Sabe-se que a leitura e escrita, ou seja, ler e escrever; não tem em sua unidade a mono característica da dominação do idioma/língua, e sim o propósito de executar a interação do meio e cultura de cada indivíduo. As relações intertextuais são de grande valia para fazer de um texto uma alusão à outros textos, isto proporciona que a imersão que os argumentos dão tornem esta produção altamente evocativa.
A paráfrase é também outro recurso bastante utilizado para trazer a um texto um aspecto dinâmico e com intento. Juntamente com a paródia, a paráfrase utiliza-se de textos já escritos, por alguém, e que tornam-se algo
espetacularmente incrível. A diferença é que muitas vezes a paráfrase não possui a necessidade de persuadir as pessoas com a repetição de argu- mentos, e sim de esquematizar novas formas de textos, sendo estes diferentes. A criação de um texto requer bem mais do que simplesmente a junção de palavras a uma frase, requer algo mais que isto. É necessário ter na escolha das palavras e do vocabulário o cuidado de se requisitá-las, bem como para se adotá-las. Um texto não é totalmente auto-explicativo, daí vem a necessidade de que o leitor tenha um emassado em seu históri- co uma relação interdiscursiva e intertextual.
As metáforas, metomínias, onomatopeias ou figuras de linguagem, en- tram em ação inseridos num texto como um conjunto de estratégias capa- zes de contribuir para os efeitos persuasivos dele. A ironia também é muito utilizada para causar este efeito, umas de suas características salientes, é que a ironia dá ênfase à gozação, além de desvalorizar ideias, valores da oposição, tudo isto em forma de piada.
Uma das últimas, porém não menos importantes, formas de persuadir através de argumentos, é a Alusão ("Ler não é apenas reconhecer o dito, mais também o não-dito"). Nela, o escritor trabalha com valores, ideias ou conceitos pré estabelecidos, sem porém com objetivos de forma clara e concisa. O que acontece é a formação de um ambiente poético e sugerível, capaz de evocar nos leitores algo, digamos, uma sensação...
Texto Base: CITELLI, Adilson; “O Texto Argumentativo” São Paulo SP, Editora ..Scipione, 1994 - 6ª edição.
Gêneros textuais são tipos específicos de textos de qualquer natureza, literários ou não. Modalidades discursivas constituem as estruturas e as funções sociais (narrativas, dissertativas, argumentativas, procedimentais e exortativas), utilizadas como formas de organizar a linguagem. Dessa forma, podem ser considerados exemplos de gêneros textuais: anúncios, convites, atas, avisos, programas de auditórios, bulas, cartas, comédias, contos de fadas, convênios, crônicas, editoriais, ementas, ensaios, entre- vistas, circulares, contratos, decretos, discursos políticos
A diferença entre Gênero Textual e Tipologia Textual é, no meu enten- der, importante para direcionar o trabalho do professor de língua na leitura, compreensão e produção de textos^1. O que pretendemos neste pequeno ensaio é apresentar algumas considerações sobre Gênero Textual e Tipo- logia Textual, usando, para isso, as considerações feitas por Marcuschi (2002) e Travaglia (2002), que faz apontamentos questionáveis para o termo Tipologia Textual. No final, apresento minhas considerações a respeito de minha escolha pelo gênero ou pela tipologia.
Convém afirmar que acredito que o trabalho com a leitura, compreen- são e a produção escrita em Língua Materna deve ter como meta primordi- al o desenvolvimento no aluno de habilidades que façam com que ele tenha capacidade de usar um número sempre maior de recursos da língua para produzir efeitos de sentido de forma adequada a cada situação espe- cífica de interação humana.
Luiz Antônio Marcuschi (UFPE) defende o trabalho com textos na es- cola a partir da abordagem do Gênero Textual Marcuschi não demonstra favorabilidade ao trabalho com a Tipologia Textual, uma vez que, para ele, o trabalho fica limitado, trazendo para o ensino alguns problemas, uma vez que não é possível, por exemplo, ensinar narrativa em geral, porque, embora possamos classificar vários textos como sendo narrativos, eles se concretizam em formas diferentes – gêneros – que possuem diferenças específicas.
Por outro lado, autores como Luiz Carlos Travaglia (UFUberlândia/MG) defendem o trabalho com a Tipologia Textual. Para o autor, sendo os textos de diferentes tipos, eles se instauram devido à existência de diferen- tes modos de interação ou interlocução. O trabalho com o texto e com os diferentes tipos de texto é fundamental para o desenvolvimento da compe- tência comunicativa. De acordo com as ideias do autor, cada tipo de texto é apropriado para um tipo de interação específica. Deixar o aluno restrito a apenas alguns tipos de texto é fazer com que ele só tenha recursos para atuar comunicativamente em alguns casos, tornando-se incapaz, ou pouco
pondência com as Espécies carta, telegrama, bilhete, ofício, etc. No gênero romance, ele mostra as Espécies romance histórico, regionalista, fantásti- co, de ficção científica, policial, erótico, etc. Não sei até que ponto a Espé- cie daria conta de todos os Gêneros Textuais existentes. Será que é possí- vel especificar todas elas? Talvez seja difícil até mesmo porque não é fácil dizer quantos e quais são os gêneros textuais existentes.
Se em Travaglia nota-se uma discussão teórica não percebida em Marcuschi, o oposto também acontece. Este autor discute o conceito de Domínio Discursivo. Ele diz que os domínios discursivossão as grandes esferas da atividade humana em que os textos circulam (p. 24). Segundo informa, esses domínios não seriam nem textos nem discursos, mas dari- am origem a discursos muito específicos. Constituiriam práticas discursivas dentro das quais seria possível a identificação de um conjunto de gêneros que às vezes lhes são próprios como práticas ou rotinas comunicativas institucionalizadas. Como exemplo, ele fala dodiscurso jornalístico, discur- so jurídico e discurso religioso. Cada uma dessas atividades, jornalística, jurídica e religiosa, não abrange gêneros em particular, mas origina vários deles.
Travaglia até fala do discurso jurídico e religioso, mas não como Mar- cuschi. Ele cita esses discursos quando discute o que é para ele tipologia de discurso. Assim, ele fala dos discursos citados mostrando que as tipolo- gias de discurso usarãocritérios ligados às condições de produção dos discursos e às diversas formações discursivas em que podem estar inseri- dos (Koch & Fávero, 1987, p. 3). Citando Koch & Fávero, o autor fala que uma tipologia de discurso usaria critérios ligados à referência (institucional (discurso político, religioso, jurídico), ideológica (discurso petista, de direita, de esquerda, cristão, etc), a domínios de saber (discurso médico, linguísti- co, filosófico, etc), à inter-relação entre elementos da exterioridade (discur- so autoritário, polêmico, lúdico)). Marcuschi não faz alusão a uma tipologia do discurso.
Semelhante opinião entre os dois autores citados é notada quando fa- lam que texto e discurso não devem ser encarados como iguais. Marcuschi considera o textocomo uma entidade concreta realizada materialmente e corporificada em algum Gênero Textual [grifo meu] (p. 24). Discurso para eleé aquilo que um texto produz ao se manifestar em alguma instância discursiva. O discurso se realiza nos textos (p. 24). Travaglia considera o discursocomo a própria atividade comunicativa, a própria atividade produ- tora de sentidos para a interação comunicativa, regulada por uma exteriori- dade sócio-histórica-ideológica (p. 03). Texto é o resultado dessa atividade comunicativa. O texto, para ele, é visto como
uma unidade linguística concreta que é tomada pelos usuários da lín- gua em uma situação de interação comunicativa específica, como uma unidade de sentido e como preenchendo uma função comunicativa reco- nhecível e reconhecida, independentemente de sua extensão (p. 03).
Travaglia afirma que distingue texto de discurso levando em conta que sua preocupação é com a tipologia de textos, e não de discursos. Marcus- chi afirma que a definição que traz de texto e discurso é muito mais opera- cional do que formal. Travaglia faz uma “tipologização” dos termos Gênero Textual, Tipolo- gia Textual e Espécie. Ele chama esses elementos de Tipelementos. Justifica a escolha pelo termo por considerar que oselementos tipológicos (Gênero Textual, Tipologia Textual e Espécie) são básicos na construção das tipologias e talvez dos textos, numa espécie de analogia com os ele- mentos químicos que compõem as substâncias encontradas na natureza.
Para concluir, acredito que vale a pena considerar que as discussões feitas por Marcuschi, em defesa da abordagem textual a partir dos Gêneros Textuais, estão diretamente ligadas ao ensino. Ele afirma que o trabalho com o gênero é uma grande oportunidade de se lidar com a língua em seus mais diversos usos autênticos no dia-a-dia. Cita o PCN, dizendo que ele apresenta a ideia básica de que um maior conhecimento do funciona- mento dos Gêneros Textuais é importante para a produção e para a com- preensão de textos. Travaglia não faz abordagens específicas ligadas à questão do ensino no seu tratamento à Tipologia Textual.
O que Travaglia mostra é uma extrema preferência pelo uso da Tipo- logia Textual, independente de estar ligada ao ensino. Sua abordagem
parece ser mais taxionômica. Ele chega a afirmar que são os tipos que entram na composição da grande maioria dos textos. Para ele, a questão doselementos tipológicos e suas implicações com o ensino/aprendizagem merece maiores discussões.
Marcuschi diz que não acredita na existência de Gêneros Textuais i- deais para o ensino de língua. Ele afirma que é possível a identificação de gêneros com dificuldades progressivas, do nível menos formal ao mais formal, do mais privado ao mais público e assim por diante. Os gêneros devem passar por um processo de progressão, conforme sugerem Sch- neuwly & Dolz (2004).
Travaglia, como afirmei, não faz considerações sobre o trabalho com a Tipologia Textual e o ensino. Acredito que um trabalho com a tipologia teria que, no mínimo, levar em conta a questão de com quais tipos de texto deve-se trabalhar na escola, a quais será dada maior atenção e com quais será feito um trabalho mais detido. Acho que a escolha pelo tipo, caso seja considerada a ideia de Travaglia, deve levar em conta uma série de fato- res, porém dois são mais pertinentes: a) O trabalho com os tipos deveria preparar o aluno para a composi- ção de quaisquer outros textos (não sei ao certo se isso é possível. Pode ser que o trabalho apenas com o tipo narrativo não dê ao a- luno o preparo ideal para lidar com o tipo dissertativo, e vice-versa. Um aluno que pára de estudar na 5ª série e não volta mais à escola teria convivido muito mais com o tipo narrativo, sendo esse o mais trabalhado nessa série. Será que ele estaria preparado para produ- zir, quando necessário, outros tipos textuais? Ao lidar somente com o tipo narrativo, por exemplo, o aluno, de certa forma, não deixa de trabalhar com os outros tipos?); b) A utilização prática que o aluno fará de cada tipo em sua vida.
Acho que vale a pena dizer que sou favorável ao trabalho com o Gêne- ro Textual na escola, embora saiba que todo gênero realiza necessaria- mente uma ou mais sequências tipológicas e que todos os tipos inserem-se em algum gênero textual.
Até recentemente, o ensino de produção de textos (ou de redação) era feito como um procedimento único e global, como se todos os tipos de texto fossem iguais e não apresentassem determinadas dificuldades e, por isso, não exigissem aprendizagens específicas. A fórmula de ensino de redação, ainda hoje muito praticada nas escolas brasileiras – que consiste fundamentalmente na trilogia narração, descrição e dissertação – tem por base uma concepção voltada essencialmente para duas finalidades: a formação de escritores literários (caso o aluno se aprimore nas duas pri- meiras modalidades textuais) ou a formação de cientistas (caso da terceira modalidade) (Antunes, 2004). Além disso, essa concepção guarda em si uma visão equivocada de que narrar e descrever seriam ações mais “fá- ceis” do que dissertar, ou mais adequadas à faixa etária, razão pela qual esta última tenha sido reservada às séries terminais - tanto no ensino fundamental quanto no ensino médio.
O ensino-aprendizagem de leitura, compreensão e produção de texto pela perspectiva dos gêneros reposiciona o verdadeiro papel do professor de Língua Materna hoje, não mais visto aqui como um especialista em textos literários ou científicos, distantes da realidade e da prática textual do aluno, mas como um especialista nas diferentes modalidades textuais, orais e escritas, de uso social. Assim, o espaço da sala de aula é transfor- mado numa verdadeira oficina de textos de ação social, o que é viabilizado e concretizado pela adoção de algumas estratégias, como enviar uma carta para um aluno de outra classe, fazer um cartão e ofertar a alguém, enviar uma carta de solicitação a um secretário da prefeitura, realizar uma entre- vista, etc. Essas atividades, além de diversificar e concretizar os leitores das produções (que agora deixam de ser apenas “leitores visuais”), permi- tem também a participação direta de todos os alunos e eventualmente de pessoas que fazem parte de suas relações familiares e sociais. A avaliação dessas produções abandona os critérios quase que exclusivamente literá- rios ou gramaticais e desloca seu foco para outro ponto: o bom texto não é aquele que apresenta, ou só apresenta, características literárias, mas aquele que é adequado à situação comunicacional para a qual foi produzi- do, ou seja, se a escolha do gênero, se a estrutura, o conteúdo, o estilo e o nível de língua estão adequados ao interlocutor e podem cumprir a finali- dade do texto.
Acredito que abordando os gêneros a escola estaria dando ao aluno a oportunidade de se apropriar devidamente de diferentes Gêneros Textuais socialmente utilizados, sabendo movimentar-se no dia-a-dia da interação humana, percebendo que o exercício da linguagem será o lugar da sua constituição como sujeito. A atividade com a língua, assim, favoreceria o exercício da interação humana, da participação social dentro de uma sociedade letrada. 1 - Penso que quando o professor não opta pelo trabalho com o gêne- ro ou com o tipo ele acaba não tendo uma maneira muito clara pa- ra selecionar os textos com os quais trabalhará. 2 - Outra discussão poderia ser feita se se optasse por tratar um pou- co a diferença entre Gênero Textual e Gênero Discursivo. 3 - Travaglia (2002) diz que uma carta pode ser exclusivamente des- critiva, ou dissertativa, ou injuntiva, ou narrativa, ou argumentativa. Acho meio difícil alguém conseguir escrever um texto, caracteriza- do como carta, apenas com descrições, ou apenas com injunções. Por outro lado, meio que contrariando o que acabara de afirmar, ele diz desconhecer um gênero necessariamente descritivo. 4 - Termo usado pelas autoras citadas para os textos que fazem pre- visão, como o boletim meteorológico e o horóscopo. 5 - Necessárias para a carta, e suficientes para que o texto seja uma carta. 6 - Segundo Travaglia (1991), texto argumentativostricto sensu é o que faz argumentação explícita. 7 - Pelo menos nos textos aos quais tive acesso. Sílvio Ribeiro da Sil- va
A todo o momento nos deparamos com vários textos, sejam eles verbais e não verbais. Em todos há a presença do discurso, isto é, a ideia intrínseca, a essência daquilo que está sendo transmitido entre os interlocutores.
Esses interlocutores são as peças principais em um diálogo ou em um texto escrito, pois nunca escrevemos para nós mesmos, nem mesmo falamos sozinhos.
É de fundamental importância sabermos classificar os textos dos quais travamos convivência no nosso dia a dia. Para isso, precisamos saber que existem tipos textuais e gêneros textuais.
Comumente relatamos sobre um acontecimento, um fato presenciado ou ocorrido conosco, expomos nossa opinião sobre determinado assunto, ou descrevemos algum lugar pelo qual visitamos, e ainda, fazemos um retrato verbal sobre alguém que acabamos de conhecer ou ver.
É exatamente nestas situações corriqueiras que classificamos os nossos textos naquela tradicional tipologia: Narração, Descrição e Dissertação.
Para melhor exemplificarmos o que foi dito, tomamos como exemplo um Editorial, no qual o autor expõe seu ponto de vista sobre determinado assunto, uma descrição de um ambiente e um texto literário escrito em prosa.
Em se tratando de gêneros textuais, a situação não é diferente, pois se conceituam como gêneros textuais as diversas situações sociocomunciativas que participam da nossa vida em sociedade. Como exemplo, temos: uma receita culinária, um e-mail, uma reportagem, uma monografia, e assim por diante. Respectivamente, tais textos classificar-se- iam como: instrucional, correspondência pessoal (em meio eletrônico), texto do ramo jornalístico e, por último, um texto de cunho científico.
Mas como toda escrita perfaz-se de uma técnica para compô-la, é extremamente importante que saibamos a maneira correta de produzir esta gama de textos. À medida que a praticamos, vamos nos aperfeiçoando mais e mais na sua performance estrutural. Por Vânia Duarte
O Conto
É um relato em prosa de fatos fictícios. Consta de três momentos perfeita- mente diferenciados: começa apresentando um estado inicial de equilíbrio; segue com a intervenção de uma força, com a aparição de um conflito, que
dá lugar a uma série de episódios; encerra com a resolução desse conflito que permite, no estágio final, a recuperação do equilíbrio perdido.
Todo conto tem ações centrais, núcleos narrativos, que estabelecem entre si uma relação causal. Entre estas ações, aparecem elementos de recheio (secundários ou catalíticos), cuja função é manter o suspense. Tanto os núcleos como as ações secundárias colocam em cena personagens que as cumprem em um determinado lugar e tempo. Para a apresentação das características destes personagens, assim como para as indicações de lugar e tempo, apela-se a recursos descritivos.
Um recurso de uso frequente nos contos é a introdução do diálogo das personagens, apresentado com os sinais gráficos correspondentes (os travessões, para indicar a mudança de interlocutor).
A observação da coerência temporal permite ver se o autor mantém a linha temporal ou prefere surpreender o leitor com rupturas de tempo na apre- sentação dos acontecimentos (saltos ao passado ou avanços ao futuro).
A demarcação do tempo aparece, geralmente, no parágrafo inicial. Os contos tradicionais apresentam fórmulas características de introdução de temporalidade difusa: "Era uma vez...", "Certa vez...".
Os tempos verbais desempenham um papel importante na construção e na interpretação dos contos. Os pretéritos imperfeito e o perfeito predominam na narração, enquanto que o tempo presente aparece nas descrições e nos diálogos.
O pretérito imperfeito apresenta a ação em processo, cuja incidência chega ao momento da narração: "Rosárioolhava timidamente seu pretendente, enquanto sua mãe, da sala,fazia comentários banais sobre a história familiar." O perfeito, ao contrário, apresenta as ações concluídas no passa- do: "De repente,chegou o pai com suas botas sujas de barro,olhou sua filha, depois o pretendente, e, sem dizer nada,entrou furioso na sala".
A apresentação das personagens ajusta-se à estratégia da definibilidade: são introduzidas mediante uma construção nominal iniciada por um artigo indefinido (ou elemento equivalente), que depois é substituído pelo defini- do, por um nome, um pronome, etc.: "Uma mulher muito bonita entrou apressadamente na sala de embarque e olhou à volta, procurando alguém impacientemente. A mulher parecia ter fugido de um filme romântico dos anos 40."
O narrador é uma figura criada pelo autor para apresentar os fatos que constituem o relato, é a voz que conta o que está acontecendo. Esta voz pode ser de uma personagem, ou de uma testemunha que conta os fatos naprimeira pessoa ou, também, pode ser a voz de umaterceira pessoa que não intervém nem como ator nem como testemunha.
Além disso, o narrador pode adotar diferentes posições,diferentes pontos de vista: pode conhecer somente o que está acontecendo, isto é, o que as personagens estão fazendo ou, ao contrário, saber de tudo: o que fazem, pensam, sentem as personagens, o que lhes aconteceu e o que lhes acontecerá. Estes narradores que sabemtudo são chamados oniscientes.
A Novela
É semelhante ao conto, mas tem mais personagens, maior número de complicações, passagens mais extensas com descrições e diálogos. As personagens adquirem uma definição mais acabada, e as ações secundá- rias podem chegar a adquirir tal relevância, de modo que terminam por converter-se, em alguns textos, em unidades narrativas independentes.
A Obra Teatral
Os textos literários que conhecemos como obras de teatro (dramas, tragé- dias, comédias, etc.) vão tecendo diferentes histórias, vão desenvolvendo diversos conflitos, mediante a interação linguística das personagens, quer dizer, através das conversações que têm lugar entre os participantes nas situações comunicativas registradas no mundo de ficção construído pelo texto. Nas obras teatrais, não existe um narrador que conta os fatos, mas um leitor que vai conhecendo-os através dos diálogos e/ ou monólogos das personagens.
Devido à trama conversacional destes textos, torna-se possível encontrar neles vestígios de oralidade (que se manifestam na linguagem espontânea das personagens, através de numerosas interjeições, de alterações da sintaxe normal, de digressões, de repetições, de dêiticos de lugar e tempo.
O ministro afirmou: "O tema dos aposentados será tratado na Câmara dos Deputados durante a próxima semana.
O estilo que corresponde a este tipo de texto é o formal.
Nesse tipo de texto, são empregados, principalmente, orações enunciativas, breves, que respeitam a ordem sintática canônica. Apesar das notícias preferencialmente utilizarem os verbos na voz ativa, também é frequente o uso da voz passiva:Os delinquentes foram perseguidos pela polícia; e das formas impessoais:A perseguição aos delinquentes foi feita por um patrulheiro.
A progressão temática das notícias gira em tomo das perguntas o quê? quem? como? quando? por quê e para quê?.
O Artigo de Opinião
Contém comentários, avaliações, expectativas sobre um tema da atualida- de que, por sua transcendência, no plano nacional ou internacional, já é considerado, ou merece ser, objeto de debate.
Nessa categoria, incluem-se os editoriais, artigos de análise ou pesquisa e as colunas que levam o nome de seu autor. Os editoriais expressam a posição adotada pelo jornal ou revista em concordância com sua ideologia, enquanto que os artigos assinados e as colunas transmitem as opiniões de seus redatores, o que pode nos levar a encontrar, muitas vezes, opiniões divergentes e até antagônicas em uma mesma página.
Embora estes textos possam ter distintas superestruturas, em geral se organizam seguindo uma linha argumentativa que se inicia com a identifi- cação do tema em questão, acompanhado de seus antecedentes e alcan- ce, e que segue com uma tomada de posição, isto é, com a formulação de uma tese; depois, apresentam-se os diferentes argumentos de forma a justificar esta tese; para encerrar, faz-se uma reafirmação da posição adotada no início do texto.
A efetividade do texto tem relação direta não só com a pertinência dos argumentos expostos como também com as estratégias discursivas usadas para persuadir o leitor. Entre estas estratégias, podemos encontrar as seguintes: as acusações claras aos oponentes, as ironias, as insinuações, as digressões, as apelações à sensibilidade ou, ao contrário, a tomada de distância através do uso das construções impessoais, para dar objetividade e consenso à análise realizada; a retenção em recursos descritivos - deta- lhados e precisos, ou em relatos em que as diferentes etapas de pesquisa estão bem especificadas com uma minuciosa enumeração das fontes da informação. Todos eles são recursos que servem para fundamentar os argumentos usados na validade da tese.
A progressão temática ocorre geralmente através de um esquema de temas derivados. Cada argumento pode encerrar um tópico com seus respectivos comentários.
Estes artigos, em virtude de sua intencionalidade informativa, apresentam uma preeminência de orações enunciativas, embora também incluam, com frequência, orações dubitativas e exortativas devido à sua trama argumen- tativa. As primeiras servem para relativizar os alcances e o valor da infor- mação de base, o assunto em questão; as últimas, para convencer o leitor a aceitar suas premissas como verdadeiras. No decorrer destes artigos, opta-se por orações complexas que incluem proposições causais para as fundamentações, consecutivas para dar ênfase aos efeitos, concessivas e condicionais.
Para interpretar estes textos, é indispensável captar a postura ideológica do autor, identificar os interesses a que serve e precisar sob que circunstâncias e com que propósito foi organizada a informação exposta. Para cumprir os requisitos desta abordagem, necessitaremos utilizar estratégias tais como a referência exofórica, a integração crítica dos dados do texto com os recolhidos em outras fontes e a leitura atenta das entrelinhas a fim de converter em explícito o que está implícito.
Embora todo texto exija para sua interpretação o uso das estratégias mencionadas, é necessário recorrer a elas quando estivermos frente a um texto de trama argumentativa, através do qual o autor procura que o leitor aceite ou avalie cenas, ideias ou crenças como verdadeiras ou falsas, cenas e opiniões como positivas ou negativas.
A Reportagem
É uma variedade do texto jornalístico de trama conversacional que, para informar sobre determinado tema, recorre ao testemunho de uma figura- chave para o conhecimento deste tópico.
A conversação desenvolve-se entre um jornalista que representa a publi- cação e um personagem cuja atividade suscita ou merece despertar a atenção dos leitores.
A reportagem inclui uma sumária apresentação do entrevistado, realizada com recursos descritivos, e, imediatamente, desenvolve o diálogo. As perguntas são breves e concisas, à medida que estão orientadas para divulgar as opiniões e ideias do entrevistado e não as do entrevistador.
A Entrevista
Da mesma forma que reportagem, configura-se preferentemente mediante uma trama conversacional, mas combina com frequência este tecido com fios argumentativos e descritivos. Admite, então, uma maior liberdade, uma vez que não se ajusta estritamente à fórmula pergunta-resposta, mas detém-se em comentários e descrições sobre o entrevistado e transcreve somente alguns fragmentos do diálogo, indicando com travessões a mu- dança de interlocutor. É permitido apresentar uma introdução extensa com os aspectos mais significativos da conversação mantida, e as perguntas podem ser acompanhadas de comentários, confirmações ou refutações sobre as declarações do entrevistado.
Por tratar-se de um texto jornalístico, a entrevista deve necessariamente incluir um tema atual, ou com incidência na atualidade, embora a conver- sação possa derivar para outros temas, o que ocasiona que muitas destas entrevistas se ajustem a uma progressão temática linear ou a temas deri- vados.
Como ocorre em qualquer texto de trama conversacional, não existe uma garantia de diálogo verdadeiro; uma vez que se pode respeitar a vez de quem fala, a progressão temática não se ajusta ao jogo argumentativo de propostas e de réplicas.
TEXTOS DE INFORMAÇÃO CIENTÍFICA
Esta categoria inclui textos cujos conteúdos provêm do campo das ciências em geral. Os referentes dos textos que vamos desenvolver situam-se tanto nas Ciências Sociais como nas Ciências Naturais.
Apesar das diferenças existentes entre os métodos de pesquisa destas ciências, os textos têm algumas características que são comuns a todas suas variedades: neles predominam, como em todos os textos informati- vos, as orações enunciativas de estrutura bimembre e prefere-se a ordem sintática canônica (sujeito-verbo-predicado).
Incluem frases claras, em que não há ambiguidade sintática ou semântica, e levam em consideração o significado mais conhecido, mais difundido das palavras.
O vocabulário é preciso. Geralmente, estes textos não incluem vocábulos a que possam ser atribuídos um multiplicidade de significados, isto é, evitam os termos polissêmicos e, quando isso não é possível, estabelecem medi- ante definições operatórias o significado que deve ser atribuído ao termo polissêmico nesse contexto.
A Definição
Expande o significado de um termo mediante uma trama descritiva, que determina de forma clara e precisa as características genéricas e diferenci- ais do objeto ao qual se refere. Essa descrição contém uma configuração de elementos que se relacionam semanticamente com o termo a definir através de um processo de sinonímia.
Recordemos a definição clássica de "homem", porque é o exemplo por excelência da definição lógica, uma das construções mais generalizadas dentro deste tipo de texto:O homem é um animal racional. A expansão do termo "homem" - "animal racional" - apresenta o gênero a que pertence, "animal", e a diferença específica, "racional": a racionalidade é o traço que nos permite diferenciar a espécie humana dentro do gênero animal.
Usualmente, as definições incluídas nos dicionários, seus portadores mais qualificados, apresentam os traços essenciais daqueles a que se referem: Fiscis (do lat. piscis). s.p.m.Astron. Duodécimo e último signo ou parte do
Zodíaco, de 30° de amplitude, que o Sol percorre aparentemente antes de terminar o inverno.
Como podemos observar nessa definição extraída doDicionário de La Real Academia Espa1ioJa (RAE, 1982), o significado de umtema base ou introdução desenvolve-se através de uma descrição que contém seus traços mais relevantes, expressa, com frequência, através de orações unimembres, constituídos por construções endocêntricas (em nosso exem- plo temos uma construção endocêntrica substantiva - o núcleo é um subs- tantivo rodeado de modificadores "duodécimoe últimosigno ou parte do Zodíaco, de 30° de amplitude..."), que incorporam maior informação medi- ante proposições subordinadas adjetivas: "que o Sol percorre aparente- mente antes de terminar o inverno".
As definições contêm, também, informações complementares relacionadas, por exemplo, com a ciência ou com a disciplina em cujo léxico se inclui o termo a definir (Piscis: Astron.); a origem etimológica do vocábulo ("do lat. piscis"); a sua classificação gramatical (s.p.m.), etc.
Essas informações complementares contêm frequentemente abreviaturas, cujo significado aparece nas primeiras páginas do Dicionário: Lat., Latim; Astron., Astronomia; s.p.m., substantivo próprio masculino, etc.
O tema-base (introdução) e sua expansão descritiva - categorias básicas da estrutura da definição - distribuem-se espacialmente em blocos, nos quais diferentes informações costumam ser codificadas através de tipogra- fias diferentes(negrito para o vocabulário a definir;itálico para as etimolo- gias, etc.). Os diversos significados aparecem demarcados em bloco mediante barras paralelas e /ou números.
Prorrogar(Do Jat. prorrogare) V.t.d. l. Continuar, dilatar, estender uma coisa por um período determinado. 112. Ampliar, prolongar 113. Fazer continuar em exercício; adiar o término de.
A Nota de Enciclopédia
Apresenta, como a definição, um tema-base e uma expansão de trama descritiva; porém, diferencia-se da definição pela organização e pela amplitude desta expansão.
A progressão temática mais comum nas notas de enciclopédia é a de temas derivados: os comentários que se referem ao tema-base constituem- se, por sua vez, em temas de distintos parágrafos demarcados por subtítu- los. Por exemplo, no tema República Argentina, podemos encontrar os temas derivados: traços geológicos, relevo, clima, hidrografia, biogeografia, população, cidades, economia, comunicação, transportes, cultura, etc.
Estes textos empregam, com frequência, esquemas taxionômicos, nos quais os elementos se agrupam em classes inclusivas e incluídas. Por exemplo: descreve-se "mamífero" como membro da classe dos vertebra- dos; depois, são apresentados os traços distintivos de suas diversas varie- dades: terrestres e aquáticos.
Uma vez que nestas notas há predomínio da função informativa da lingua- gem, a expansão é construída sobre a base da descrição científica, que responde às exigências de concisão e de precisão.
As características inerentes aos objetos apresentados aparecem através de adjetivos descritivos -peixe de cor amarelada escura, com manchas pretas no dorso, e parte inferiorprateada, cabeça quase cônica, olhos muitojuntos, bocaoblíqua e duas aletasdorsais - que ampliam a base informativa dos substantivos e, como é possível observar em nosso exem- plo, agregam qualidades próprias daquilo a que se referem.
O uso do presente marca a temporalidade da descrição, em cujo tecido predominam os verbos estáticos - apresentar, mostrar, ter, etc. - e os de ligação - ser, estar, parecer, etc.
O Relato de Experimentos
Contém a descrição detalhada de um projeto que consiste em manipular o ambiente para obter uma nova informação, ou seja, são textos que descrevem experimentos.
O ponto de partida destes experimentos é algo que se deseja saber, mas que não se pode encontrar observando as coisas tais como estão; é ne- cessário, então, estabelecer algumas condições, criar certas situações para concluir a observação e extrair conclusões. Muda-se algo para cons-
tatar o que acontece. Por exemplo, se se deseja saber em que condições uma planta de determinada espécie cresce mais rapidamente, pode-se colocar suas sementes em diferentes recipientes sob diferentescondições de luminosidade; em diferentes lugares, areia, terra, água; com diferentes fertilizantes orgânicos, químicos etc., para observar e precisar em que circunstâncias obtém-se um melhor crescimento.
A macroestrutura desses relatos contém, primordialmente, duas categorias: uma corresponde àscondições em que o experimento se realiza, isto é, ao registro da situação de experimentação; a outra, aoprocesso observado.
Nesses textos, então, são utilizadas com frequência orações que começam comse (condicionais) e comquando (condicional temporal):
Se coloco a semente em um composto de areia, terra preta, húmus, a planta crescerá mais rápido.
Quando rego as plantas duas vezes ao dia, os talos começam a mostrar manchas marrons devido ao excesso de umidade.
Estes relatos adotam uma trama descritiva de processo. A variável tempo aparece através de numerais ordinais:Em uma primeiraetapa, é possível observar... em uma segundaetapa, aparecem os primeiros brotos ...; de advérbios ou de locuções adverbiais:Jogo, antes de, depois de, no mesmo momento que, etc., dado que a variável temporal é um componente essen- cial de todo processo. O texto enfatiza os aspectos descritivos, apresenta as características dos elementos, os traços distintivos de cada uma das etapas do processo.
O relato pode estar redigido de forma impessoal:coloca-se, colocado em um recipiente ... Jogo se observa/foi observado que, etc., ou na primeira pessoa do singular,coloco/coloquei em um recipiente ... Jogo obser- vo/observei que ... etc., ou do plural:colocamos em um recipiente... Jogo observamos que... etc. O uso do impessoal enfatiza a distância existente entre o experimentador e o experimento, enquanto que a primeira pessoa, do plural e do singular enfatiza o compromisso de ambos.
A Monografia
Este tipo de texto privilegia a análise e a crítica; a informação sobre um determinado tema é recolhida em diferentes fontes.
Os textos monográficos não necessariamente devem ser realizados com base em consultas bibliográficas, uma vez que é possível terem como fonte, por exemplo, o testemunho dos protagonistas dos fatos, testemu- nhos qualificados ou de especialistas no tema.
As monografias exigem uma seleção rigorosa e uma organização coerente dos dados recolhidos. A seleção e organização dos dados servem como indicador do propósito que orientou o trabalho. Se pretendemos, por exem- plo, mostrar que as fontes consultadas nos permitem sustentar que os aspectos positivos da gestão governamental de um determinado persona- gem histórico têm maior relevância e valor do que os aspectos negativos, teremos de apresentar e de categorizar os dados obtidos de tal forma que esta valorização fique explícita.
Nas monografias, é indispensável determinar, no primeiro parágrafo, o tema a ser tratado, para abrir espaço à cooperação ativa do leitor que, conjugando seus conhecimentos prévios e seus propósitos de leitura, fará as primeiras antecipações sobre a informação que espera encontrar e formulará as hipóteses que guiarão sua leitura. Uma vez determinado o tema, estes textos transcrevem, mediante o uso da técnica de resumo, o que cada uma das fontes consultadas sustenta sobre o tema, as quais estarão listadas nas referências bibliográficas, de acordo com as normas que regem a apresentação da bibliografia.
O trabalho intertextual (incorporação de textos de outros no tecido do texto que estamos elaborando) manifesta-se nas monografias através de cons- truções de discurso direto ou de discurso indireto.
Nas primeiras, incorpora-se o enunciado de outro autor, sem modificações, tal como foi produzido.Ricardo Ortiz declara: "O processo da economia dirigida conduziu a uma centralização na Capital Federal de toda tramita- ção referente ao comércio exterior'] Os dois pontos que prenunciam a palavra de outro, as aspas que servem para demarcá-la, os traços que incluem o nome do autor do texto citado,'o processo da economia dirigida - declara Ricardo Ortiz - conduziu a uma centralização...') são alguns dos sinais que distinguem frequentemente o discurso direto.
ou ocupa o nível superior em uma relação assimétrica (empregador em relação ao empregado, diretor em relação ao aluno, etc.), impõe-se o estilo formal.
A Carta
As cartas podem ser construídas com diferentes tramas (narrativa e argu- mentativa), em tomo das diferentes funções da linguagem (informativa, expressiva e apelativa).
Referimo-nos aqui, em particular, às cartas familiares e amistosas, isto é, aqueles escritos através dos quais o autor conta a um parente ou a um amigo eventos particulares de sua vida. Estas cartas contêm acontecimen- tos, sentimentos, emoções, experimentados por um emissor que percebe o receptor como ‘cúmplice’, ou seja, como um destinatário comprometido afetivamente nessa situação de comunicação e, portanto, capaz de extrair a dimensão expressiva da mensagem.
Uma vez que se trata de um diálogo à distância com um receptor conheci- do, opta-se por um estilo espontâneo e informal, que deixa transparecer marcas da oraljdade: frases inconclusas, nas quais as reticências habilitam múltiplas interpretações do receptor na tentativa de concluí-las; perguntas que procuram suas respostas nos destinatários; perguntas que encerram em si suas próprias respostas (perguntas retóricas); pontos de exclamação que expressam a ênfase que o emissor dá a determinadas expressões que refletem suas alegrias, suas preocupações, suas dúvidas.
Estes textos reúnem em si as diferentes classes de orações. As enunciati- vas, que aparecem nos fragmentos informativos, alternam-se com as dubitativas, desiderativas, interrogativas, exclamativas, para manifestar a subjetividade do autor. Esta subjetividade determina também o uso de diminutivos e aumentativos, a presença frequente de adjetivos qualificati- vos, a ambiguidade lexical e sintática, as repetições, as interjeições.
A Solicitação
É dirigida a um receptor que, nessa situação comunicativa estabelecida pela carta, está revestido de autoridade à medida que possui algo ou tem a possibilidade de outorgar algo que é considerado valioso pelo emissor: um emprego, uma vaga em uma escola, etc.
Esta assimetria entre autor e leitor um que pede e outro que pode ceder ou não ao pedido, — obriga o primeiro a optar por um estilo formal, que recor- re ao uso de fórmulas de cortesia já estabelecidas convencionalmente para a abertura e encerramento(atenciosamente ..com votos de estima e consi- deração... /despeço-me de vós respeitosamente. ../Saúdo-vos com o maior respeito), e às frases feitas com que se iniciam e encerram-se estes textos(Dirijo-me a vós a fim de solicitar-lhe que ...O abaixo-assinado, Antônio Gonzalez, D.NJ. 32.107 232, dirigi-se ao Senhor Diretor do Institu- to Politécnico a fim de solicitar-lhe...)
As solicitações podem ser redigidas na primeira ou terceira pessoa do singular. As que são redigidas na primeira pessoa introduzem o emissor através da assinatura, enquanto que as redigidas na terceira pessoa identi- ficam-no no corpo do texto(O abaixo assinado, Juan Antonio Pérez, dirige- se a...).
A progressão temática dá-se através de dois núcleos informativos: o pri- meiro determina o que o solicitante pretende; o segundo, as condições que reúne para alcançar aquilo que pretende. Estes núcleos, demarcados por frases feitas de abertura e encerramento, podem aparecer invertidos em algumas solicitações, quando o solicitante quer enfatizar suas condições; por isso, as situa em um lugar preferencial para dar maior força à sua apelação.
Essas solicitações, embora cumpram uma função apelativa, mostram um amplo predomínio das orações enunciativas complexas, com inclusão tanto de proposições causais, consecutivas e condicionais, que permitem desen- volver fundamentações, condicionamentos e efeitos a alcançar, como de construções de infinitivo ou de gerúndio:para alcançar essa posição, o solicitante lhe apresenta os seguintes antecedentes... (o infinitivo salienta os fins a que se persegue), oualcançando a posição de... (o gerúndio enfatiza os antecedentes que legitimam o pedido).
A argumentação destas solicitações institucionalizaram-se de tal maneira que aparece contida nas instruções de formulários de emprego, de solicita- ção de bolsas de estudo, etc.
Texto extraído de: ESCOLA, LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS, Ana Maria Kaufman, Artes Médicas, Porto Alegre, RS.
VARIAÇÃO (LINGUÍSTICA)
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
A variação de uma língua é o modo pelo qual ela se diferencia, sistemática e coerentemente, de acordo com o contexto histórico, geográfico e sócio-cultural no qual os falantes dessa língua se manifestam verbalmente.
Conceito
Variedade é um conceito maior do queestilo de prosa ouestilo de linguagem. Alguns escritores de sociolinguística usam o termoleto, aparentemente um processo de criação de palavras para termos específicos, são exemplos dessas variações:
dialetos (variação diatópica), isto é, variações faladas por comunidadesgeograficamente definidas.
idioma é um termo intermediário na distinção dialeto-linguagem e é usado para se referir ao sistema comunicativo estudado (que poderia ser chamado tanto deum dialeto ouuma linguagem) quando sua condição em relação a esta distinção é irrelevante (sendo, portanto, um sinônimo paralinguagemnum sentido mais geral);
socioletos, isto é, variações faladas por comunidadessocialmente definidas
linguagem padrão ou norma padrão, padronizada em função da comunicação pública e da educação
idioletos, isto é, uma variação particular a uma certa pessoa
registros (ou diátipos), isto é, o vocabulário especializado e/ou a gramática de certas atividades ou profissões
etnoletos, para um grupo étnico
ecoletos, um idioleto adotado por uma casa
Variações como dialetos, idioletos e socioletos podem ser distinguidos não apenas por seu vocabulário, mas também por diferenças na gramática, na fonologia e naversificação. Por exemplo, o sotaque de palavras tonais nas línguas escandinavas tem forma diferente em muitos dialetos. Um outro exemplo é como palavras estrangeiras em diferentes socioletos variam em seu grau de adaptação à fonologia básica da linguagem.
Certos registros profissionais, como o chamadolegalês, mostram uma variação na gramática da linguagem padrão. Por exemplo, jornalistas ou advogados inglesesfrequentemente usam modos gramaticais, como omodo subjuntivo, que não são mais usados com frequência por outros falantes. Muitos registros são simplesmente um conjunto especializado de termos (veja jargão).
É uma questão de definição se gíria e calão podem ser considerados como incluídos no conceito devariação ou deestilo
Espécies de variação
Variação histórica
Acontece ao longo de um determinado período de tempo, pode ser identificada ao se comparar dois estados de uma língua Portuguêsa. O processo de mudança é gradual: uma variante inicialmente utilizada por um grupo restrito de falantes passa a ser adotada por indivíduos socioeconomicamente mais expressivos. A forma antiga permanece ainda entre as gerações mais velhas, período em que as duas variantes convivem; porém com o tempo a nova variante torna-se normal na fala, e finalmente consagra-se pelo uso na modalidade escrita. As mudanças podem ser de grafia ou de significado.
Variação geográfica
Trata das diferentes formas de pronúncia, vocabulário e estrutura sintática entre regiões. Dentro de uma comunidade mais ampla, formam- se comunidades linguísticasmenores em torno de centros polarizadores , política e economia, que acabam por definir os padrões linguísticos
utilizados na região de diferentes lugares de sua influência e as diferenças linguísticas entre as regiões são graduais, nem sempre coincidindo.
Variação social
Agrupa alguns fatores de diversidade:o nível sócio-econômico, determinado pelo meio social onde vive um indivíduo; o grau de educação; a idade e o gênero. A variação social não compromete a compreensão entre indivíduos, como poderia acontecer na variação regional; o uso de certas variantes pode indicar qual o nível sócio-econômico de uma pessoa, e há a possibilidade de alguém oriundo de um grupo menos favorecido atingir o padrão de maior prestígio.
Variação estilística
Considera um mesmo indivíduo em diferentes circunstâncias de comunicação: se está em um ambiente familiar, profissional, o grau de intimidade, o tipo de assunto tratado e quem são os receptores. Sem levar em conta as graduações intermediárias, é possível identificar dois limites extremos de estilo: o informal, quando há um mínimo de reflexão do indivíduo sobre as normas linguísticas, utilizado nas conversações imediatas do cotidiano; e o formal, em que o grau de reflexão é máximo, utilizado em conversações que não são do dia-a-dia e cujo conteúdo é mais elaborado e complexo. Não se deve confundir o estilo formal e informal com língua escritae falada, pois os dois estilos ocorrem em ambas as formas de comunicação.
As diferentes modalidades de variação linguística não existem isoladamente, havendo um inter-relacionamento entre elas: uma variante geográfica pode ser vista como uma variante social, considerando-se a migração entre regiões do país. Observa-se que o meio rural, por ser menos influenciado pelas mudanças da sociedade, preserva variantes antigas. O conhecimento do padrão de prestígio pode ser fator de mobilidade social para um indivíduo pertencente a uma classe menos favorecida
Bibliografia
CAMACHO, R. (1988). A variação linguística. In:Subsídios à proposta curricular de Língua Portuguesa para o 1º e 2º graus. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, p. 29-41.
O modo de falar do brasileiro
Alfredina Nery
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Toda língua possui variações linguísticas. Elas podem ser entendidas por meio de sua história no tempo (variação histórica) e no espaço (varia- ção regional). As variações linguísticas podem ser compreendidas a partir de três diferentes fenômenos.
Em sociedades complexas convivem variedades linguísticas diferen- tes, usadas por diferentes grupos sociais, com diferentes acessos à educa- ção formal; note que as diferenças tendem a ser maiores na língua falada que nalíngua escrita;
Pessoas de mesmo grupo social expressam-se com falas diferentes de acordo com as diferentes situações de uso, sejam situações formais, informais ou de outro tipo;
Há falares específicos para grupos específicos, como profissionais de uma mesma área (médicos, policiais, profissionais de informática, metalúrgicos, alfaiates, por exemplo), jovens, grupos marginalizados e outros. São as gírias e jargões.
Assim, além do português padrão, há outras variedades de usos da língua cujos traços mais comuns podem ser evidenciados abaixo.
Uso de “r” pelo “l” em final de sílaba e nos grupos consonantais: pran- ta/planta; broco/bloco.
Alternância de “lh” e “i”: muié/mulher; véio/velho.
Tendência a tornar paroxítonas as palavras proparoxítonas: ar- ve/árvore; figo/fígado.
Redução dos ditongos: caxa/caixa; pexe/peixe.
Simplificação da concordância: as menina/as meninas.
Ausência de concordância verbal quando o sujeito vem depois do ver- bo: “Chegou” duas moças.
Uso do pronome pessoal tônico em função de objeto (e não só de su- jeito): Nós pegamos “ele” na hora.
Assimilação do “ndo” em “no”( falano/falando) ou do “mb” em “m” (ta- mém/também).
Desnasalização das vogais postônicas: home/homem.
Redução do “e” ou “o” átonos: ovu/ovo; bebi/bebe.
Redução do “r” do infinitivo ou de substantivos em “or”: amá/amar; a- mô/amor.
Simplificação da conjugação verbal: eu amo, você ama, nós ama, eles ama.
Variações regionais: os sotaques
Se você fizer um levantamento dos nomes que as pessoas usam para a palavra "diabo", talvez se surpreenda. Muita gente não gosta de falar tal palavra, pois acreditam que há o perigo de evocá-lo, isto é, de que o de- mônio apareça. Alguns desses nomes aparecem em o "Grande Sertão: Veredas", Guimarães Rosa, que traz umalinguagem muito característica do sertão centro-oeste do Brasil:
Demo, Demônio, Que-Diga, Capiroto, Satanazim, Diabo, Cujo, Tinho- so, Maligno, Tal, Arrenegado, Cão, Cramunhão, O Indivíduo, O Galhardo, O pé-de-pato, O Sujo, O Homem, O Tisnado, O Coxo, O Temba, O Azara- pe, O Coisa-ruim, O Mafarro, O Pé-preto, O Canho, O Duba-dubá, O Rapaz, O Tristonho, O Não-sei-que-diga, O Que-nunca-se-ri, O sem grace- jos, Pai do Mal, Terdeiro, Quem que não existe, O Solto-Ele, O Ele, Carfa- no, Rabudo.
Drummond de Andrade, grande escritor brasileiro, que elabora seu tex- to a partir de uma variação linguística relacionada ao vocabulário usado em uma determinada época no Brasil.
Antigamente
"Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de- alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio."
Como escreveríamos o texto acima em um português de hoje, do sé- culo 21? Toda língua muda com o tempo. Basta lembrarmos que do latim, já transformado, veio o português, que, por sua vez, hoje é muito diferente daquele que era usado na época medieval.
Língua e status
Nem todas as variações linguísticas têm o mesmo prestígio social no Brasil. Basta lembrar de algumas variações usadas por pessoas de deter- minadas classes sociais ou regiões, para perceber que há preconceito em relação a elas.
Veja este texto de Patativa do Assaré, um grande poeta popular nor- destino, que fala do assunto:
O Poeta da Roça Sou fio das mata, canto da mão grossa, Trabáio na roça, de inverno e de estio. A minha chupana é tapada de barro, Só fumo cigarro de paia de mío.
Sou poeta das brenha, não faço o papé De argun menestré, ou errante cantô Que veve vagando, com sua viola, Cantando, pachola, à percura de amô. Não tenho sabença, pois nunca estudei, Apenas eu sei o meu nome assiná. Meu pai, coitadinho! Vivia sem cobre, E o fio do pobre não pode estudá.
Além disso, para este autor, as regras que orientam a micro-coerência são as mesmas que orientam a macro-coerência textual. Efetivamente, quando se elabora um resumo de um texto obedece-se às mesmas regras de coerência que foram usadas para a construção do texto original.
Assim, para Charolles, micro-estrutura textual diz respeito às relações de coerência que se estabelecem entre as frases de uma sequência textu- al, enquanto que macro-estrutura textual diz respeito às relações de coe- rência existentes entre as várias sequências textuais. Por exemplo: Sequência 1: O António partiu para Lisboa. Ele deixou o escritório mais cedo para apanhar o comboio das quatro horas. Sequência 2: Em Lisboa, o António irá encontrar-se com amigos.Vai trabalhar com eles num projeto de uma nova companhia de teatro.
Como micro-estruturas temos a sequência 1 ou a sequência 2, en- quanto que o conjunto das duas sequências forma uma macro-estrutura.
Vamos agora abordar os princípios de coerência textual3:
Para assegurar essa recorrência a língua dispõe de vários recursos:
Todos estes recursos permitem juntar uma frase ou uma sequência a uma outra que se encontre próxima em termos de estrutura de texto, retomando num elemento de uma sequência um elemento presente numa sequência anterior:
a)-Pronominalizações: a utilização de um pronome torna possível a re- petição, à distância, de um sintagma ou até de uma frase inteira.
O caso mais frequente é o da anáfora, em que o referente antecipa o pronome. Ex.: Uma senhora foi assassinada ontem. Ela foi encontrada estrangu- lada no seu quarto.
No caso mais raro da catáfora, o pronome antecipa o seu referente. Ex.: Deixe-me confessar-lhe isto: este crime impressionou-me. Ou ain- da: Não me importo de o confessar: este crime impressionou-me.
Teremos, no entanto, que ter cuidado com a utilização da catáfora, pa- ra nos precavermos de enunciados como este: Ele sabe muito bem que o João não vai estar de acordo com o Antó- nio.
Num enunciado como este, não há qualquer possibilidade de identifi- car ele com António. Assim, existe apenas uma possibilidade de interpreta- ção: ele dirá respeito a um sujeito que não será nem o João nem o António, mas que fará parte do conhecimento simultâneo do emissor e do receptor.
Para que tal aconteça, torna-se necessário reformular esse enunciado: O António sabe muito bem que o João não vai estar de acordo com e- le.
As situações de ambiguidade referencial são frequentes nos textos dos alunos. Ex.: O Pedro e o meu irmão banhavam-se num rio. Um homem estava também a banhar-se. Como ele sabia nadar, ensinou-o.
Neste enunciado, mesmo sem haver uma ruptura na continuidade se- quencial, existem disfunções que introduzem zonas de incerteza no texto: ele sabia nadar(quem?), ele ensinou-o (quem?; a quem?)
b)-Expressões Definidas: tal como as pronominalizações, as expres- sões definidas permitem relembrar nominalmente ou virtualmente um
elemento de uma frase numa outra frase ou até numa outra sequência textual. Ex.: O meu tio tem dois gatos. Todos os dias caminhamos no jardim. Os gatos vão sempre conosco.
Os alunos parecem dominar bem esta regra. No entanto, os problemas aparecem quando o nome que se repete é imediatamente vizinho daquele que o precede. Ex.: A Margarida comprou um vestido. O vestido é colorido e muito e- legante.
Neste caso, o problema resolve-se com a aplicação de deíticos contex- tuais. Ex.: A Margarida comprou um vestido. Ele é colorido e muito elegante.
Pode também resolver-se a situação virtualmente utilizando a elipse. Ex.: A Margarida comprou um vestido. É colorido e muito elegante. Ou ainda: A Margarida comprou um vestido que é colorido e muito elegante.
c)-Substituições Lexicais: o uso de expressões definidas e de deíticos contextuais é muitas vezes acompanhado de substituições lexicais. Este processo evita as repetições de lexemas, permitindo uma retoma do ele- mento linguístico. Ex.: Deu-se um crime, em Lisboa, ontem à noite: estrangularam uma senhora. Este assassinato é odioso.
Também neste caso, surgem algumas regras que se torna necessário respeitar. Por exemplo, o termo mais genérico não pode preceder o seu representante mais específico. Ex.: O piloto alemão venceu ontem o grande prêmio da Alemanha. S- chumacher festejou euforicamente junto da sua equipa.
Se se inverterem os substantivos, a relação entre os elementos lin- guísticos torna-se mais clara, favorecendo a coerência textual. Assim, Schumacher, como termo mais específico, deveria preceder o piloto ale- mão.
No entanto, a substituição de um lexema acompanhado por um deter- minante, pode não ser suficiente para estabelecer uma coerência restrita. Atentemos no seguinte exemplo:
Picasso morreu há alguns anos. O autor da "Sagração da Primavera" doou toda a sua coleção particular ao Museu de Barcelona.
A presença do determinante definido não é suficiente para considerar que Picasso e o autor da referida peça sejam a mesma pessoa, uma vez que sabemos que não foi Picasso mas Stravinski que compôs a referida peça.
Neste caso, mais do que o conhecimento normativo teórico, ou lexico- enciclopédico, são importantes o conhecimento e as convicções dos parti- cipantes no ato de comunicação, sendo assim impossível traçar uma fronteira entre a semântica e a pragmática.
Há também que ter em conta que a substituição lexical se pode efetuar por
d)-Retomas de Inferências: neste caso, a relação é feita com base em conteúdos semânticos não manifestados, ao contrário do que se passava
com os processos de recorrência anteriormente tratados.
Vejamos: P - A Maria comeu a bolacha? R1 - Não, ela deixou-a cair no chão. R2 - Não, ela comeu um morango. R3 - Não, ela despenteou-se.
As sequências P+R1 e P+R2 parecem, desde logo, mais coerentes do que a sequência P+R3.
No entanto, todas as sequências são asseguradas pela repetição do pronome na 3ª pessoa.
Podemos afirmar, neste caso, que a repetição do pronome não é sufi- ciente para garantir coerência a uma sequência textual.
Assim, a diferença de avaliação que fazemos ao analisar as várias hi- póteses de respostas que vimos anteriormente sustenta-se no fato de R1 e R2 retomarem inferências presentes em P:
Já R3 não retoma nenhuma inferência potencialmente dedutível de P.
Conclui-se, então, que a retoma de inferências ou de pressuposições garante uma fortificação da coerência textual.
Quando analisamos certos exercícios de prolongamento de texto (con- tinuar a estruturação de um texto a partir de um início dado) os alunos são levados a veicular certas informações pressupostas pelos professores.
Por exemplo, quando se apresenta um início de um texto do tipo: Três crianças passeiam num bosque. Elas brincam aos detetives. Que vão eles fazer?
A interrogação final permite-nos pressupor que as crianças vão real- mente fazer qualquer coisa.
Um aluno que ignore isso e que narre que os pássaros cantavam en- quanto as folhas eram levadas pelo vento, será punido por ter apresentado uma narração incoerente, tendo em conta a questão apresentada.
No entanto, um professor terá que ter em conta que essas inferências ou essas pressuposições se relacionam mais com o conhecimento do mundo do que com os elementos linguísticos propriamente ditos.
Assim, as dificuldades que os alunos apresentam neste tipo de exercí- cios, estão muitas vezes relacionadas com um conhecimento de um mundo ao qual eles não tiveram acesso. Por exemplo, será difícil a um aluno recriar o quotidiano de um multi-milionário,senhor de um grande império industrial, que vive numa luxuosa vila.
2.Princípio da Progressão: para que um texto seja coerente, torna-se necessário que o seu desenvolvimento se faça acompanhar de uma infor- mação semântica constantemente renovada.
Este segundo princípio completa o primeiro, uma vez que estipula que um texto, para ser coerente, não se deve contentar com uma repetição constante da própria matéria.
Alguns textos dos alunos contrariam esta regra. Por exemplo: O ferrei- ro estava vestido com umas calças pretas, um chapéu claro e uma vesti- menta preta. Tinha ao pé de si uma bigorna e batia com força na bigorna. Todos os gestos que fazia consistiam em bater com o martelo na bigorna. A bigorna onde batia com o martelo era achatada em cima e pontiaguda em baixo e batia com o martelo na bigorna.
Se tivermos em conta apenas o princípio da recorrência, este texto não será incoerente, será até coerente demais.
No entanto, segundo o princípio da progressão, a produção de um tex-
to coerente pressupõe que se realize um equilíbrio cuidado entre continui- dade temática e progressão semântica.
Torna-se assim necessário dominar, simultaneamente, estes dois prin- cípios (recorrência e progressão) uma vez que a abordagem da informação não se pode processar de qualquer maneira.
Assim, um texto será coerente se a ordem linear das sequências a- companhar a ordenação temporal dos fatos descritos. Ex.: Cheguei, vi e venci.(e não Vi, venci e cheguei).
O texto será coerente desde que reconheçamos, na ordenação das suas sequências, uma ordenação de causa-consequência entre os estados de coisas descritos. Ex.: Houve seca porque não choveu. (e não Houve seca porque cho- veu).
Teremos ainda que ter em conta que a ordem de percepção dos esta- dos de coisas descritos pode condicionar a ordem linear das sequências textuais. Ex.: A praça era enorme. No meio, havia uma coluna; à volta, árvores e canteiros com flores.
Neste caso, notamos que a percepção se dirige do geral para o parti- cular. 3.Princípio da Não- Contradição: para que um texto seja coerente, tor- na-se necessário que o seu desenvolvimento não introduza nenhum ele- mento semântico que contradiga um conteúdo apresentado ou pressuposto por uma ocorrência anterior ou dedutível por inferência.
Ou seja, este princípio estipula simplesmente que é inadmissível que uma mesma proposição seja conjuntamente verdadeira e não verdadeira.
Vamos, seguidamente, preocupar-nos, sobretudo, com o caso das contradições inferenciais e pressuposicionais6.
Existe contradição inferencial quando a partir de uma proposição po- demos deduzir uma outra que contradiz um conteúdo semântico apresen- tado ou dedutível. Ex.: A minha tia é viúva. O seu marido coleciona relógios de bolso.
As inferências que autorizam viúva não só não são retomadas na se- gunda frase, como são perfeitamente contraditas por essa mesma frase.
O efeito da incoerência resulta de incompatibilidades semânticas pro- fundas às quais temos de acrescentar algumas considerações temporais, uma vez que, como se pode ver, basta remeter o verbo colecionar para o pretérito para suprimir as contradições.
As contradições pressuposicionais são em tudo comparáveis às infe- renciais, com a exceção de que no caso das pressuposicionais é um conteúdo pressuposto que se encontra contradito. Ex.: O Júlio ignora que a sua mulher o engana. A sua esposa é-lhe perfeitamente fiel.
Na segunda frase, afirma-se a inegável fidelidade da mulher de Júlio, enquanto a primeira pressupõe o inverso.
É frequente, nestes casos, que o emissor recupere a contradição pre- sente com a ajuda de conectores do tipo mas, entretanto, contudo, no entanto, todavia, que assinalam que o emissor se apercebe dessa contra- dição, assume-a, anula-a e toma partido dela. Ex.: O João detesta viajar. No entanto, está entusiasmado com a parti- da para Itália, uma vez que sempre sonhou visitar Florença.
4.Princípio da Relação: para que um texto seja coerente, torna-se ne- cessário que denote, no seu mundo de representação, fatos que se apre- sentem diretamente relacionados.
Ou seja, este princípio enuncia que para uma sequência ser admitida como coerente7, terá de apresentar ações, estados ou eventos que sejam congruentes com o tipo de mundo representado nesse texto.