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Este texto discute as diferenças entre a educação de gerações passadas e atuais, enfatizando as mudanças na relação entre pais e filhos. Os autores exploram as expectativas e desafios enfrentados por pais em diferentes épocas, além de analisar as implicações dessas mudanças para a sociedade.
O que você vai aprender
Tipologia: Esquemas
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Não perca as partes importantes!
Raymundo de Lima*
Os pais de antigamente levaram os filhos para trabalhar, para adquirir um ofício, ainda crianças. O estudo ficava em segundo plano, ou, de acordo com a mentalidade da época, era ignorado. Os pais de hoje preferem ver os filhos só estudando, [e se divertindo] porque trabalhar é assunto para só depois da faculdade – se tiver emprego, é claro. Obviamente, essa cultura atual é reforçada pela lei que proíbe o trabalho de menores de idade.
Os pais de antigamente achavam que os filhos tinham que crescer logo para se virar na vida, ir à luta, que era considerada dura e cheia de desafios. Os pais de hoje, no fundo, gostariam que os filhos não crescessem. Crescer pra quê? Para morar sozinho, correr riscos fora da família, trabalhar, ‘contribuir’ para o Imposto de Renda, pagar contas todo mês, fazer compras no supermercado, contratar alguém para lavar a roupa, cozinhar, arrumar a casa!
Embora existam casados com pacto de não ter filhos, mas o esperado é que eles venham para dar trabalho e preocupação. Ainda que tenham avós para cuidar deles, por algumas horas, dias, meses ou anos, a responsabilidade recai sempre sobre os pais. Pra que casar logo os filhos se eles podem viver livremente a existência. Eles podem namorar até no quarto de dormir... dos pais; podem chegar a hora que quiserem de madrugada, e também podem sair a qualquer hora, que pai ou mãe não terão coragem de regrar. Em casa, eles têm comidinha feita como amor da mamãe, roupinha lavada, colinho da mamãe ou da empregada paga pelos pais. Em casa os babies nem precisarão arrumar o quarto, ou recolocar as coisas no lugar, ou ainda ajudar os pais a descarregar as compras. Mães à moda antiga hoje não ousam pedir para os babies darem uma mãozinha na cozinha. Então, por que virar adulto?
Para ser responsável e ter que encarar a vida tão perigosa e incerta lá fora?
Autoridade em declínio
Os pais de antigamente exerciam ao máximo sua autoridade sobre os filhos. Eram autoritários e reprimiam os seus desejos. Os pais de hoje se acovardam diante do poder pulsional dos filhos. Uma pesquisa revela que cresce o número de pais negligentes e permissivos^1. O noticiário diz que existem crianças que batem de verdade nos pais e eles não sabem como reagir. Faz sucesso um programa da TV inglesa, “Super Nany” (adaptado pelo SBT, no Brasil) que ensina aos pais como lidar com os filhos mandões, birrentos, desrespeitosos, alguns parecem caminhar para a delinquência. São pais acovardados, vítimas dos próprios pontos-cegos educativos e sem autoridade cultural sobre os filhos.
Atualmente alguns justificam sua covardia educativa porque temem que o baby adolescente fuja de casa, como aconteceu com duas mocinhas de classe média que resolveram viajar sem avisar os responsáveis e terminaram virando notícia na imprensa nacional. Os pais de hoje também temem ver a explosão emocional dos filhos que não aprenderam suportar a mínima frustração. Por isso lhes dão tudo que eles desejam. Com esse gesto esses pais só conseguem amenizar sua culpa ou compensam suas próprias carências que eles próprios tiveram quando crianças e jovens. (“por que hoje eu não posso dar tudo o que meus pais não puderam me dar?”). Outros acham que se posicionando como covardes evitam a angústia e culpa diante da possibilidade de reação vingativa dos filhos. Também temem serem mal
(^1) Pesquisa coordenada pela profa. Lydia Weber,
da Universidade Federal do Paraná, aponta 45% de pais negligentes, 12% de permissivos, 33% de pais participativos e apenas 10% de pais autoritários.
interpretados pelos especialistas e vizinhos de plantão, e não sabem como agir diferente. Tradicionalmente, o pai era a Lei da casa e comando da família e as coisas do lar (Pater famílias). Hoje a autoridade do pai está em declínio^2 e a mãe não o substitui, mesmo a mulher considerada ‘alfa’ (poderosa na carreira profissional, com salário superior ao do marido), esse casal se sente impotente e despreparado para educar filhos. Daí eles cobrarem uma escola em tempo integral, que eduque seus filhos também integralmente. Mas, me pergunto: a função da escola é de ‘educar’ ou ‘ensinar’? Que pode ‘ensinar’ uma professora à alunos que vem de casa sem um mínimo de civilidade, só adquirida na socialização familiar? Caberá a escola ser prótese dos pais ou ela deve dedicar a ensinar bem os conteúdos de currículo? Preocupações ontem e hoje Conversas sobre a sexualidade antigamente não aconteciam. Embora hoje exista alguma abertura para trocar idéias sobre esse assunto tabu, muitos deles ainda resistem conversar sobre a psicossexualidade. Uma pesquisa revela que os pais atualmente estão mais preocupados com as drogas e as doenças transmissíveis do que em prevenir o amento do número de gravidez precoce entre adolescentes. Portanto, “Não houve grandes mudanças nas relações dos pais quanto eles eram adolescentes se comparado aos tipos de relação que estabelecem com seus filhos atualmente”, observa as pesquisadoras Luciane Cristo e Josiane P. Ferreira – Cascavel/PR <www.psicopedagogiaonline. Nas décadas de 1960 e 70, os jovens entravam em conflito sobre valores sociais, políticos, econômicos, religiosos,
(^2) Ler, aqui, LIMA, R. “Sobre o declínio da autoridade...” Também: CASTELS (1999), HURSTEL (1999), JULIEN (1997).
trabalho e/ou à carreira profissional. Era considerado “moderno” deixar que a escola se encarregasse totalmente de formar as novas gerações.
Na década de 1980, os professores foram humilhados por serem somente “professores” (comparados aos eucaliptos – “essa árvore sem vergonha, plantadas em série industrial”^3 ), e foram cobrados para serem “educadores”, metaforizados como os jequitibás.
O resultado daquele discurso educacional influenciado pelo psicologismo humanista-existencial e de fundo teológico-libertário, a sociedade paga até hoje, com professores que nem ensinam bem e nem educam. Hoje cresce o número de pais desresponsabilizados de “educar” os filhos. São os pais ‘negligentes’ e ‘permissivos’, apontados na pesquisa de Lydia Weber. É a geração de pais-banana e mães sem vocação para a maternagem, que deixam os filhos entregues à creche, babás, vizinha, avós, a si próprios. O mito do instinto materno foi desmontado no estudo de Batinter (1985), e as novas formas de paternidade são estudadas por Hurstel (1999). Atualmente, esses pais (negligentes e permissivos) se sentem no direito de cobrar da escola “educação de qualidade dos filhos” e escondem sua inveja ou racionalizam seu ódio para com uns poucos determinados a educar os filhos em casa^4.
Ora, os professores não devem sentir culpa pela parte que não lhes cabe. Obviamente, a escola atual está confusa, desnorteada: ela faz o que pode influenciada pelos modismos teórico- metodológicos de cada governo,
(^3) Ler: ALVES, R. Conversas com que gosta de
ensinar. São Paulo: Cortez, 1984. Atualmente, o eucalipto é considerada uma “árvore neoliberal” pelo MST. (^4) Refiro-me a matéria publicada no jornal Folha
de S. Paulo e Folha On Line, de 06/03/2010: “Juiz condena pais por educar filhos em casa”.
reforçado ainda pelos mesmos modismos das pesquisas em educação que não causam impacto na cultura escolar (ALVES-MAZZOTTI, 2003). Mas, será que cabe a escola também educar pais? Ouso dizer que hoje não existe educação proporcionada pelos pais nas grandes cidades, porque eles estão despreparados para tal tarefa. Nas cidades menores e comunidades, talvez estejam mais preparados, no sentido da tradição.^5 Nas grandes cidades, provavelmente, a nova geração de pais ausentes está sendo educada – ou deseducada - pelos seus
(^5) “Tradição”, aqui, é usada no sentido de Hannah Arendt. Ou seja, a autoridade está em crise na época contemporânea em conseqüência dos graves acontecimentos do século 20, e também da ‘ruptura da tradição’, que teve lugar no século 19. A partir desse período houve uma ruptura entre as gerações do passado e a emergente, para quem a memória do passado deveria ser sepultada ou desprezada, as experiências, valores conquistados da civilização agora deveriam ser menosprezadas ou esquecidos. Nesse sentido, ficou prejudicada a tarefa da educação que é justamente a de apresentar o mundo às novas gerações do presente, tentando fazê-las conscientes de que comparecem a um mundo que é o lar comum de múltiplas gerações humanas. Ao conscientizá-las do mundo a que vieram, estas deverão compreender a importância de sua relação e ligação com as outras gerações, passadas e vindouras. Tal relação se dará, primeiro, no sentido de preservar o tesouro das gerações passadas, isto é, no sentido de a geração do presente tomar o cuidado de trazer a esse mundo sua novidade sem que isso implique a alteração, até ao irreconhecimento, do próprio mundo, da construção coletiva do passado. O educador [pais, professores, responsáveis pela educação] deve ter em relação ao mundo uma atitude de amor mundi. Ou seja, de admiração pela obra das gerações humanas passadas e de desejo que tal obra seja “preservada” para as gerações que ainda virão. Essa atitude de preservar o mundo em relação à nova geração e preservar a nova geração em relação ao mundo. Portanto, em nossa opinião, os atos educativos precisam sustentar a ‘tradição’ das conquistas da civilização, sem o ranço tradicionalista. (ARENDT, 1974. Também FRANCISCO, M. F. S. Preservar e renovar o mundo. Revista Educação, número especial, 4, sobre H. Arendt).
coleguinhas e pela mídia. Por isso que a psicóloga norte-americana, Judith Harris, nos pergunta: O pai hoje ainda tem importância?
Obs.: esse “antigamente” refere-se a não mais que trinta quarenta anos. Ou seja, antigamente não é tão antigamente.
Referências ALVES, R. Conversas com quem gosta de ensinar. São Paulo: Cortez, 1984. ALVEZ-MAZZOTTI, A. J. Impacto da pesquisa educacional sobre as práticas escolares. In: Itinerários de pesquisa: perspectivas qualitativas em sociologia da educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. ARENDT, H. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 1972, p. BATINTER, E. Um amor conquistado. O mito do amor materno. Rio: Nova Fronteira, 1985. BAUMAN, Z. O amor líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. BAUMAN, Z. O mal-estar da pós- modernidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. CASTELS, M. O fim do patriarcalismo: movimentos sociais, família e sexualidade na era da informação. In: Poder e identidade. v. 2. São Paulo: Paz e Terra, 1999. HARRIS, J. H. Diga-me com quem anda... Rio: Objetiva, 1998. Também “Os pais têm importância?”- documentário exibido pelo GNT, 1999. HURSTEL, F. As novas fronteiras da paternidade. Campinas: Papirus, 1999. JULIEN, P. A feminilidade velada: aliança conjugal e modernidade. Rio de Janeiro, 1997. LIMA, R. O declínio da autoridade: efeitos na família e na escola. Educação no séc.21: múltiplos desafios. Maringá: Eduem, 2009. p. 119-128. Também in.: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/Espa coAcademico/article/view/8660/4812. WEBER, L. Disponível em: http://lidiaw.sites.uol.com.br/
Departamento de Fundamentos da Educação, e Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP).