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Edevilson de Godoy.pdf, Notas de aula de Teologia

Renold Blank, pela paciência, apoio, competência e testemunho de amor à teologia e ao Reino de Deus. Por fim, a todos aqueles que partilham comigo a ...

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Rio890
Rio890 🇧🇷

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Pe. Edevilson de Godoy
O sacrifício de Cristo como superação do sacrifício antigo
DOUTORADO EM TEOLOGIA
São Paulo
2009
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Pe. Edevilson de Godoy

O sacrifício de Cristo como superação do sacrifício antigo

DOUTORADO EM TEOLOGIA

São Paulo

PONTIFÍCIAUNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Pe. Edevilson de Godoy

O sacrifício de Cristo como superação do sacrifício antigo

DOUTORADO EM TEOLOGIA

Tese apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação do Prof. Doutor Renold Blank.

São Paulo

“Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultastes estas coisas aos sábios e doutores e as revelastes aos pequeninos. Sim, Pai, porque foi do teu agrado” (Mt 11,25-26).

“Abrirei a boca em parábolas; proclamarei coisas ocultas desde a fundação do mundo” (Mt 13,35).

“Ele era a luz verdadeira que ilumina todo homem; ele vinha ao mundo. Ele estava no mundo e o mundo foi feito por meio dele, mas o mundo não o reconheceu” (Jo 1, 9-10).

“Em o nome de Deus, eu vou começar: sem Sua ajuda, nada se fará. Mas Deus auxiliando, tudo aliviará. É portanto, o melhor que eu posso tentar. Em nome de Deus, vou começar”! (Karl Barth).

AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me dado gratuitamente o dom maravilhoso da vida! Obrigado Senhor!

Ao meu pai João Carlos de Godoy e a minha mãe Valdice Maria de Godoy.

Às minhas irmãs Edenilsa de Fátima e Eremildes Cristiane.

Obrigado por me amarem e me respeitarem como sou!

Às pessoas que me apóiam e me incentivam na pesquisa teológica. Particularmente às

amigas Maisa Araújo, Agnes Elizabeth do Canto Albertoni e à eterna Sandra Maria

Calixto ( in memoriam ).

À Pontifícia Universidade Católica e aos meus professores.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Renold Blank, pela paciência, apoio, competência e

testemunho de amor à teologia e ao Reino de Deus.

Por fim, a todos aqueles que partilham comigo a extraordinária aventura da vida e

acreditam no Reino de Deus: a mímesis perfeita do amor. Por aqueles que optaram pela

sequela Christi , fazendo da própria vida um sacrifício de amor em prol da cultura do

Evangelho. Obrigado por serem profecia, testemunho e contemplação da luz de Cristo

para o mundo.

JQR The Jewish Quarterly Review

JRAS Journal of the Royal Asiatic Society of Great Britain and Ireland

JTS Journal of Theological Studies

LG Constituição Dogmática Lumen Gentium

KAT Kommentar zum Alten Testament

MGWJ Monatsschrift für Geschichte und Wissenschaft des Judentums

NDTB Nuovo Dizionario di Teologia Biblica

NRT Nouvelle Revue Théologique

NTS New Testament Studies

RB Revue Biblique

RBit Rivista Bíblica Italiana

REB Revista Eclesiástica Brasileira

RecSR Recherches de Science Religieuse

RHR Revue de l’Histoire des Religions

RelS Religious Studies

Ribla Revista de Interpretação Bíblica Latinoamericana

RQ Revue de Qumran

RSPT Revue des Sciences Philosophiques et Théologiques

RTL Revue Théologique de Louvain

RTP Revue de Théologie et de Philosophie

SCh Sources Chrétiennes

SC Constituição Sacrosanctum Concilium

ST Studia Theologica

TEB Tradução Ecumênica Bíblica

TLZ Theologische Literaturzeitung

TQ Theologische Quartalschrift

TZ Theologische Zeitschrift

UF Ugarit-Forschungen

UNESP Universidade Estadual Paulista

UNIMEP Universidade Metodista de Piracicaba

VieSpir La Vie Spirituelle

VT Vetus Testamentum

WZ Wisseschaftliche Zeitschrift

WZU Wisseschaftliche Zeitschrift Univ. Halle

ZAW Zeitschrift für die Alttestamentliche Wissenschaft

ZNW Zeitschrift für Neutestamentliche Wissenschaft

ZST Zeitschrift für systematische Theologia

RESUMO

Este estudo analisa o sacrifício de Cristo como superação do sacrifício antigo, a

partir do paradigma do mecanismo vitimário explicado pelo antropólogo franco-

americano René Girard. A tese afronta o tema do sacrifício na perspectiva girardiana,

evidenciando a evolução do seu pensamento: partindo do processo mimético que

culmina na concepção clássica do bode expiatório como exorcização da violência

comunitária, chega a uma concepção mais dialética, na qual mantendo a teoria arcaica,

destaca a novidade cristã do sacrifício, enquanto dom de si mesmo pela vida do outro.

A pesquisa insere-se no contexto dos estudos sobre a função da religião nas relações

humanas, ou seja, o fenômeno religioso nas relações comunitárias, para, a partir de

Girard, enfocar o “sacrifício de Cristo” como a maior expressão de amor da história,

capaz de redimir o homem pecador. O estudo tem a humilde ambição de mostrar a

extraordinária contribuição da teoria girardiana à teologia. Não apresenta uma discussão

global do pensamento de Girard. Atem-se ao campo bíblico dogmático, verificando a

possibilidade de uma compatibilidade entre a teologia católica e o pensamento

girardiano em um ponto específico e absolutamente qualificante: o termo sacrifício pode

perfeitamente ser aplicado ao evento da paixão de Cristo.

Palavras chaves : sacrifício arcaico, mito, rito, mecanismo vitimário, projeção

da violência, sagrado violento, reino de Deus, mímesis da vida, bode expiatório,

sacrifício de amor, paixão de Cristo e soterologia.

ABSTRACT

This study examines the sacrifice of Christ as a conquest of ancient sacrifice,

from the paradigm of victimizing mechanism explained by Franco-American

anthropologist René Girard. The thesis affront the theme of sacrifice in perspective

Girard, highlighting the evolution of his thought: from the mimetic process that

culminates in the classic concept of the scapegoat as exorcism of community violence, it

reaches a more dialectic, in which maintaining the archaic theory, highlights the

Christian message of sacrifice as gift of self for the life of another. The research fits into

the context of studies on the role of religion in human relations, that is, the phenomenon

of religion in community relations, to, from Girard, focusing on the "sacrifice of Christ

as the greatest expression of love of history able to redeem sinful man. The study has a

humble ambition to show the extraordinary contribution of theory Girard theology. It

presents an overall discussion of the thought of Girard. Keep is the dogmatic biblical

field, including the possibility of the compatibility between Catholic theology and

thought Girard at a specific point and absolutely qualifying: the word sacrifice can be

perfectly applied to the event of Christ's passion.

Keywords : archaic sacrifice, myth, ritual, victimizing mechanism, projection of

violence, violent holy, kingdom of God, mimesis of life, scapegoat, sacrifice and love

soterologia.

INTRODUÇÃO

Tal é precisamente o sumo sacerdote que nos convinha: santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, elevado mais alto do que os céus. Ele não precisa como os sumos sacerdotes, oferecer sacrifícios a cada dia, primeiramente por seus pecados, e depois pelos do povo. Ele já o fez uma vez por todas, oferecendo-se a si mesmo. A Lei, com efeito, estabeleceu sumos sacerdotes sujeitos à fraqueza. A palavra do juramento, porém, posterior à Lei, estabeleceu o Filho, tornado perfeito para sempre (Hb 7, 26-28).

Nosso referencial teórico é o paradigma do mecanismo vitimário explicado por René

Girard. Afronta o tema do sacrifício, evidenciando a evolução do seu pensamento. Partindo do

processo mimético que culmina na concepção clássica do bode expiatório como exorcização

da violência comunitária, chega a uma concepção mais dialética, na qual mantendo sua

concepção arcaica, destaca a novidade cristã do sacrifício, enquanto dom de si mesmo pela

vida do outro. A pesquisa tem a ambição de mostrar a extraordinária contribuição da teoria

girardiana à teologia. Insere-se no contexto dos estudos sobre a função da religião nas

relações humanas, ou seja, o fenômeno religioso nas relações comunitárias, e, a partir de

Girard enfocar o “sacrifício de Cristo” como a maior expressão de amor da história, capaz de

redimir o homem pecador.

1 Fenômeno religioso na modernidade

Deus morreu! Deus continua morto! E nós o matamos! Como nos consolaremos, nós, os assassinos dos assassinos? O que o mundo possui de mais sagrado e possante perdeu seu sangue sob a nossa faca. O que nos limpará deste sangue? [...] Este evento enorme está a caminho, aproxima-se e não chegou ao ouvido dos homens [...] É preciso tempo para as ações, mesmo quando foram efetuadas, serem vistas e entendidas 1.

A modernidade colocou a razão no centro da vida e do mundo. Alimentada pelos

ideais de liberdade e subjetividade das grandes revoluções européias (Revolução Francesa e

Iluminismo), a comunidade científica enfatizou sobremaneira a dimensão racional da

existência humana em detrimento da dimensão simbólica (religiosa) da vida.

Em termos genéricos e muito placativos, as mais expressivas consequências dessa

mudança de paradigma podem ser descritas da seguinte maneira: a modernidade decretou a

morte de Deus (Nietzsche). Neste mundo da razão absoluta o sagrado não seria mais

(^1) NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência. São Paulo: Hemus, 1981. p. 125.

necessário. A descoberta da subjetividade humana leva à crítica da religião. O fenômeno

religioso é visto como expressão do imaginário ilusório 2.

A religião foi apontada como fator de alienação e dominação. Sua origem e função

social foram explicadas como impulsos de mecanismos psicológicos, sociais e ideológicos.

Foi interpretada como alienação anti-humana (Feuerbach) e acusada de legitimar as estruturas

sociais injustas do capitalismo (Marx). Foi concebida como fator desagregador e niilista da

humilhação moral do ser humano (Nietzsche). Da mesma forma, também foi analisada como

ilusão transcendental e regressão infantil causada pelos impulsos e estruturas do inconsciente.

A ideia de Deus é o deslocamento para uma figura paterna ampliada. As religiões são uma

tentativa de apaziguar o sentimento filial de culpa em relação ao pai. As ideias religiosas são

ilusões, realizações dos mais antigos, fortes e permanentes desejos da humanidade (Freud).

Interessante a posição de Gianni Vattimo comentando a crise da metafísica e o

posicionamento de Girard.

É diante desse pano de fundo que se apresenta hoje todo o fenômeno religioso. Girard mostrou, a meu ver, de forma convincente que se existe uma verdade divina no cristianismo, esta consiste precisamente no desvendar-se dos mecanismos violentos do qual nasce o sacro da religiosidade natural, ou seja, o sacro que é característico do Deus da metafísica 3.

1.1Fenômeno religioso na pós-modernidade

A revolução tecnológica que caracterizou a virada do milênio, por muitos, interpretada

como aurora da pós-modernidade, apresenta o surgimento de novos paradigmas que

progressivamente “sepultam” os conceitos da modernidade 4. A pós-modernidade marca a

revanche do sagrado ” diante da secularização em declínio, verifica-se uma verdadeira

explosão de religiosidade, que surge com novas faces.

Atualmente, apresenta-se a religião no conjunto do saber pós-moderno. Há um

processo de desconstrução dos grandes relatos religiosos 5 , da moral tradicional e, ao mesmo

tempo, nota-se a estruturação de novas articulações simbólicas, que manifestam a realidade

psicológica, existencial e sócioeconômica da vida humana na pós-modernidade.

(^2) Cf. LIBANIO, João Batista. Teologia da Revelação a partir da Modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. p. 120. (^3) VATTIMO, Gianni. Depois da Cristandade: por um cristianismo não religioso. Rio de Janeiro: Record, 2004.

p. 53. (^4) Cf. DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. 8. ed. Rio de Janeiro: Contraponto, 2006. p. 89. (^5) Cf. LYOTARD, Jean François. O Pós-Moderno. 4. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1993. p. 69.

verdade é que, embora jamais hesitasse, fui avançando um pouco às cegas, como que empurrado pela coisa 9.

O desejo é matriz do fenômeno religioso. O homem girardiano age sempre desejando

ser outro, que é ao mesmo tempo o seu modelo e o seu rival: eis o foco da inveja, do ódio, da

vingança e de todas as formas de exclusão. O desejo é a matriz da violência que alimentada

pelo ódio progressivo dos rivais, numa relação de reciprocidade negativa, envolve toda a

comunidade, ameaçando a ordem social e a própria sobrevivência do grupo. Somente o

sacrifício de uma vítima inocente: o bode expiatório pode aplacar os sentimentos de ódio e

rivalidade disseminados em toda a comunidade. O sacrifício do bode expiatório reporta

“paraíso perdido” e daí, a mesma comunidade, que assassinou a vítima anteriormente

considerada culpada por todas as mazelas da sociedade é misteriosamente divinizada pelos

seus próprios assassinos. Eis o sagrado violento: paradigma religioso explicado pelo

antropólogo franco-americano René Girard.

Neste contexto de diversas interpretações dadas ao fenômeno religioso, temos o

paradigma do mecanismo vitimário explicado por René Girard. A religião primitiva está

ligada à violência e os mitos primitivos escondem a violência do assassinato fundador como

purificação da comunidade. O rito atualiza o mito e a religião nasce do sacrifício violento da

vítima. As sociedades primitivas sacrificavam vítimas inocentes para restaurar a ordem social.

O desejo mimético, que conduz a rivalidade extrema entre as pessoas gerando ódio, inveja,

rancor, vingança e, sobretudo, um insaciável desejo de violência, culmina no linchamento

coletivo do bode expiatório.

Partindo da literatura, passando pela mitologia grega, dialogando com os principais

mestres da filosofia, da psicologia e da sociologia, chega-se à tradição judaico-cristã. René

Girard descobre que a tradição judaico-cristã é uma experiência profundamente nova, que

revolucionou as relações humanas. A partir do texto bíblico, demonstra objetivamente, que o

Deus da Bíblia não é o sagrado violento, que nasce do linchamento coletivo do bode

expiatório, mas é o Deus transcendente e misericordioso, solidário com as vítimas inocentes

do mundo. O ponto culminante dos estudos girardianos sobre a religião é o sacrifício de

Cristo, enquanto plenitude da revelação de Deus e do homem ao próprio homem, capaz de

desvendar aos olhos humanos essa realidade milenar e inconsciente, denominada por Girard

como mecanismo vitimário. Concluo dando a palavra ao próprio Girard.

(^9) ASSMANN, Hugo (org.). René Girard com Teólogos da Libertação: um diálogo sobre ídolos e sacrifícios.

Petrópolis: Vozes; Piracicaba: UNIMEP, 1991. p. 46.

Tenho sido levado a desenvolver cada vez mais uma teoria geral da religião centrada sobre o sacrifício, ou melhor, sobre uma hipótese a respeito da origem do sacrifício. Quando me ocupei do assunto, inicialmente não tinha tal intenção. Estou totalmente convencido de que teorias gerais são vistas com grande suspeita atualmente, e eu poderia ainda compartilhar de tal suspeita se minha própria pesquisa não tivesse dado uma irresistível guinada para o tipo de empreendimento do qual aprendi a desconfiar. Reagi fortemente contra muitos aspectos, continuo influenciado por ele. Creio que é possível recuperar a dimensão genérica sem perder o aspecto positivo do estruturalismo 10.

2 Objetivos da tese

Quero trabalhar para compreender o processo de superação do sacrifício do âmbito

mitológico-ritual para o âmbito cristão. Buscar caminhos capazes de mostrar o valor cristão

do sacrifício, pois permanece uma realidade central da tradição cristã e da vida humana.

Há uma longa história de antropólogos, sociólogos e teólogos que se dedicaram ao

tema do sacrifício. Contudo, nas últimas décadas, quem colocou o tema no centro do mundo

cultural de maneira abrangente e objetiva foi indiscutivelmente René Girard. A sua

particularíssima noção de sacrifício foi continuamente retomada, discutida e criticada em

vários ambientes acadêmicos. Girard agitou os ambientes acadêmicos a partir dos anos

setenta. No Brasil, o acontecimento marcante foi o encontro de Girard com os teólogos da

libertação realizado em Piracicaba de 25 a 29 de julho de 1990.

A tese mostra a clássica oposição girardiana entre “sacrificial” e “não sacrificial”,

aspecto normal para todos aqueles que afrontam o paradigma girardiano. Contudo, há uma

oposição entre duas formas de “sacrifício” em Girard? Sim, é exatamente isso. Uma

oposição entre “sacrifício arcaico” e “sacrifício de Cristo” pertence a Girard, houve uma

evolução no seu pensamento, fator praticamente desconhecido nos ambientes acadêmicos

brasileiros, posto que, não temos nenhuma publicação nesta área.

Acredito que a retomada do tema do sacrifício a partir de Girard vale a pena, pois pode

oferecer uma perspectiva nova na compreensão do próprio autor e uma contribuição peculiar

na reflexão do tema do sacrifício, de modo particular sobre a necessidade em estabelecer uma

distinção entre sacrifício no sentido histórico-cultural e sacrifício de Cristo. Uma segunda

motivação de caráter mais genérico, é que o pensamento antropológico girardiano abre uma

perspectiva extremamente original e interessante para uma conexão entre a mensagem cristã e

(^10) ASSMANN, Hugo. O pensamento de René Girard desperta interesses diferenciados. In: ASSMANN, Hugo

(org.). René Girard com Teólogos da Libertação: um diálogo sobre ídolos e sacrifícios. Petrópolis: Vozes, Piracicaba: UNIMEP, 1991. p. 99.