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Ebook com instruções práticas para professores para saberem lidar com alunos neuroatípicos.
Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas
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Não perca as partes importantes!
Pessoas neuroatípicas são todas aquelas que possuem o funcionamento neurológico e psiquiátrico diferentes dos considerados típicos pela sociedade. Houve o tempo em que os chamávamos de especiais, que eu particularmente achava verdadeiro, já que, para mim, eles sempre foram muito especiais. Contudo, também acredito que o vocábulo “neuroatípico” é adequado para que tratemos do assunto de uma forma muito mais científica e não apenas sentimental. Historicamente, os transtornos que conhecemos hoje já existiam há muito tempo. Discursos do tipo “isso é frescura de hoje em dia” ou “isso não existe” não só são cientificamente vergonhosos como também preconceituosos. Dizer que um funcionamento físico e químico do cérebro é frescura, na minha humilde opinião, é falta de estudo e de respeito. Em um tempo não tão longe, famílias, profissionais da saúde, da educação e a sociedade em geral considerava pessoas neuroatípicas como pessoas “loucas”. Hoje, isso não só não deve ser uma palavra para descrever qualquer neurodiversidade como também não é verdade dentro do conceito da palavra “loucura”. Do dicionário Michaelis do UOL, veja a definição de “louco”. lou·co Adjetivo masculino 1 De atitudes alteradas, próprias de quem sofre de insanidade mental; doido, maluco, vesano. Sofrer de insanidade mental é algo muito, mas muito mais sério do que um transtorno de aprendizagem que é o tema deste ebook. Precisamos então, inclusive para evitarmos discursos preconceituosos e sem conhecimento, separar o joio do trigo. Naquele tempo, como já disse não há muito tempo, essas pessoas neuroatípicas nem frequentavam escolas. Eram julgadas loucas e assim condenadas a viver sem estudo, sem socialização e sem a menor perspectiva de conquistar nada na vida. Aqueles que socialmente não tinham tanta dificuldade, que as dificuldades eram principalmente no aprendizado, eram apenas considerados preguiçosos, que não nasceram para os estudos e assim se intitulavam por toda a vida.
De acordo com a Associação Brasileira de Déficit de Atenção, “ O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. Ele é chamado às vezes de DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção). Em inglês, também é chamado de ADD, ADHD.” Comumente confundido com falta de limites, preguiça ou falta de vontade, o TDAH traz ao aluno dificuldades na escola e fora dela. São pessoas muito distraídas, que se movem o tempo todo, que perdem prazos e possuem dificuldades em se concentrar, porém muitos deles apresentam habilidades extraordinárias para assuntos que se identifiquem ou lhes tragam grande interesse. Veja uma lista de alguns sintomas deste transtorno do neurodesenvolvimento feita pela incrível Dra Ana Beatriz Barbosa Silva (Médica Psiquiatra, CRM/RJ 5253226/7): ● dificuldades em organizar as tarefas diárias; ● tendência a ser desorganizado e a perder objetos; ● irritação com tarefas repetitivas ou monótonas; ● preferência por ambientes agitados; ● numa conversa, começa a falar antes do fim de uma pergunta ou de uma resposta; ● distração e “sonhos acordados” constantes, principalmente quando está lendo ou ouvindo por obrigação; ● períodos de sonolência durante o dia; ● falhas de memória; ● comportamento impulsivo. Falar e agir sem medir consequências; ● alterações rápidas de humor; ● em alguns casos, envolvimento com drogas (álcool, cocaína e maconha). A impulsividade é uma das características mais marcantes de pessoas com TDAH. Muitas vezes aqueles que convivem com essas pessoas não costumam dar a sua devida importância como sintoma do transtorno, já que isso torna a convivência e os relacionamentos bastante difíceis. Portanto, acabamos relacionando este sintoma a uma característica de personalidade.
De acordo com a Associação Brasileira de Dislexia, “A Dislexia é considerada um transtorno específico de aprendizagem de origem neurobiológica, caracterizada por dificuldade no reconhecimento preciso e/ou fluente da palavra, na habilidade de decodificação e em soletração. Essas dificuldades normalmente resultam de um déficit no componente fonológico da linguagem e são inesperadas em relação à idade e outras habilidades cognitivas.” Geralmente identificada no momento da alfabetização, a dislexia é caracterizada por sintomas como espelhamento de letras, trocas de letras, dificuldades com o reconhecimento de sons, leitura lenta e falta de interesse pela leitura. Por outro lado, o aluno disléxico possui habilidades brilhantes como ter uma mente questionadora e criativa, um pensamento analítico e conseguir facilmente encontrar diferentes estratégias para novos desafios. Há dificuldades que os alunos podem ter durante a alfabetização e só ocorrem porque são pequenas e ainda não estão prontas para o processo de leitura e escrita. Se as dificuldades persistirem, o ideal é encaminhar a criança para uma avaliação multidisciplinar. O diagnóstico final de dislexia não significa de maneira nenhuma que a criança seja menos inteligente, muito pelo contrário. Ele significa que este aluno é portador de um transtorno de leitura de letras e palavras e consequentemente dificultando a interpretação de textos, apenas pela dificuldade na decodificação. Portadores de dislexia devem exigir das escolas e instituições de ensino que sejam preparadas para atender suas necessidades específicas. Fonte da imagem: spindow.com.br
Como podemos observar na imagem, de forma simples e didática, um cérebro disléxico deixa de ativar dois pontos no momento da leitura. Isso faz com que a decodificação de palavras seja uma grande dificuldade. Por consequência, interpretar textos e consolidar o conhecimento também se tornam difíceis. Consequentemente, se a leitura for substituída ou, pelo menos, não forr a única forma de aprendizado, o cérebro disléxico tem todas as outras faculdades intactas. São capazes de aprender assim como qualquer outro aluno. Assim como habilidades existem em cérebros sem neurodiversidade, elas vão existir também para cérebros neuroatípicos. Podemos, portanto, imaginar que alunos disléxicos tendem a ter mais facilidade em disciplinas da área de exatas. De qualquer forma, isso não quer dizer que não têm o direito e as habilidades necessárias para aprender idiomas e/ou qualquer disciplina que envolva muita leitura. Veremos no subtítulo “intervenções em sala de aula” que há muitas formas de “leitura” que podem ser adaptadas para estes alunos.
Você já deve ter ouvido falar que “professor nunca dá diagnóstico”. O que isso efetivamente significa levando em conta o quão importante é o papel do professor neste processo? Segundo Gabriel Coutinho, no artigo publicado pela ABDA (Associação Brasileira de Déficit de Atenção), “ o diagnóstico de TDAH será sempre responsabilidade do clínico e jamais de professores. Porém, os professores trazem consigo um considerável ‘banco mental' de comportamentos que ocorrem com maior ou menor frequência em faixas etárias específicas, o que permite a identificação daqueles alunos com comportamentos discrepantes dos demais.” Isto é, vai partir do professor a queixa e identificação dos sintomas não só do TDAH como de qualquer outro transtorno do desenvolvimento e da aprendizagem. Essas serão levadas até a coordenação da escola que entrará em contato com a família pedindo uma avaliação multidisciplinar. Essa equipe geralmente conta com psicólogos, psiquiatras, psicopedagogos, fonoaudiólogos, psicomotricistas, dentre outros profissionais. Essa avaliação resultará em um diagnóstico preciso que será encaminhado à escola e disponibilizado para a leitura de todos os professores e profissionais que lidam com este aluno na escola. A partir disso, o ideal seria que a família mantivesse o tratamento terapêutico e se necessário medicamentoso do aluno de acordo com as instruções dos profissionais responsáveis. Os profissionais responsáveis pelo tratamento devem estar em constante comunicação com a família e com os professores para instruí-los e coletar dados dos resultados a partir das intervenções realizadas. Porém, você deve estar se perguntando se eu perdi a noção da realidade e hoje vivo no país das maravilhas ao lado de Alice e do Chapeleiro Maluco. Eu até gostaria, a realidade me assusta um pouco mais, mas não. Sei muito bem que isso raramente acontece nas escolas brasileiras e, ouso dizer, do mundo. Acredito que a partir de um diagnóstico, ou até mesmo tendo observado alguns sintomas em seus alunos, há algumas intervenções que podem ser feitas por nós professores. Por isso, vamos ao próximo subtítulo.
Em Essential Teacher Knowledge , Jeremy Harmer destaca que a motivação é essencial para a aprendizagem e que tudo vai depender do equilíbrio dos exercícios e atividades - como envolvemos os alunos, como os motivamos a estudar e as oportunidades que promovemos para que eles ativem seu conhecimento. (HARMER, 2012, tradução minha) ¹ É essa a importância de entender o transtorno para aí sim planejar as possíveis intervenções. Vamos analisar algumas ideias a partir da literatura apresentada e da minha prática com alunos com TDAH, disléxicos e TEA.
- Para alunos com TDAH:
A) Aulas para apresentação de conteúdo Passo 1: Iniciar a aula apresentando o conteúdo em forma de imagem e/ou vídeo. Passo 2: Contextualizar o conteúdo com algum interesse dos alunos. Ex: conversar sobre a importância do conteúdo para a vida, exemplificar com elementos da realidade dos alunos ou até mesmo construir este conhecimento a partir do conhecimento prévio da turma. Passo 3: Apresentar o conteúdo no material (livro, slide, etc). Passo 4: Trabalhar com exercícios de consolidação simples. Passo 5: Corrigir oralmente e ir sanando possíveis dúvidas. Passo 6: Trabalhar com exercícios mais complexos e permitir que os alunos trabalhem em duplas ou trios. Passo 7: Corrigir oralmente. Passo 8: Repassar todo o conteúdo da aula com um último slide e/ou resumo na lousa para que quem prefira ler, possa ler e quem prefere ouvir, receba um resumo oral feito pelo professor. B) Aulas para prática de conteúdo já apresentado Passo 1: Revisar o conteúdo apresentado previamente em forma de mapa mental, organograma, tópicos, imagens e vídeos. Passo 2: Explicar a rotina da aula. Os exercícios que serão feitos, o tempo que terão para cada um e os objetivos da aula. Passo 3: Organizar as duplas ou trios para que os alunos possam compartilhar e se ajudar sem sobrecarregar nenhum colega. Passo 4: Durante a aula, passar pelos grupos e certificar-se de que todos os alunos estão envolvidos na atividade. *Observação: os passos aqui apresentados seriam benéficos, principalmente, para alunos com TDAH, dislexia e TEA, porém, com todo este cuidado, TODOS os alunos serão beneficiados.
O constante desenvolvimento de professores traz ao contexto da sala de aula em geral benefícios grandiosos. Dentro do tema da inclusão, alunos aprendem melhor, professores deixam de viver uma rotina frustrante e todos os alunos se beneficiam de um ambiente inclusivo e pacífico. Entender o que acontece no processo de aprendizagem de todos os nossos alunos é fundamental para qualquer planejamento de aula. Todos merecem estar envolvidos e a aprendizagem é um leque gigantesco; não há só um modelo para aprender. Fica aqui o meu último convite. Por que não explorar diferentes formas beneficiando a todos e tornando o dia-a-dia escolar ainda mais dinâmico?