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Neste documento, analisamos o filme 'pretty woman', estrelado por júlia roberts e richard gere, e discutimos o papel do capitalismo e da cultura de consumo na representação de mulheres na mídia. O texto aborda as estereótipos associados à imagem da mulher, as questões políticas e filosóficas presentes na trama, e a importância da análise de filmes de ampla divulgação na mídia.
Tipologia: Notas de aula
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UFPE – Drando. Daniel Ely Silva Barbosa Resumo: Ao avaliarmos alguns materiais para discutirmos em sala, com as alunas e os alunos da graduação, sobre as possibilidades dos usos das Novas Linguagens para o ensino de História, pensamos em selecionar o filme “Uma Linda Mulher”, estrelado por Júlia Roberts e Richard Gere, pois o mesmo seria uma boa opção para problematizarmos o papel do capitalismo no século XX. Temas como o mercado de ações, o capital volátil, e questões ligadas à indústria cultural e as estratégias de marketing no incentivo ao consumo, muito presentes nos meios de comunicação, foram alguns dos pontos que identificamos inicialmente. Mas, ao analisarmos o filme com mais calma, percebemos que outras discussões poderiam ser contempladas. Para além dos momentos de glamour, de romance, e de humor, dentre outros, ao longo de toda a trama, é bem presente nas cenas finais do filme a imagem do “príncipe encantado” que vem salvar a “mocinha”, proporcionando a ela não só conforto material, mas também a garantia de que a partir daquele momento ela seria protegida. Estereótipos de fragilidade, incompletude e dependência são associados à imagem da mulher em várias cenas. Lugares de fala que, em nossa opinião, precisam ser desconstruídos e discutidos em sala de aula. Palavras-chave: Cinema, História, Novas Linguagens. Nas últimas décadas cada vez mais os historiadores têm discutido e problematizado o cinema enquanto uma linguagem que pode ser utilizada para se debater várias temáticas em sala de aula. Não só os ditos filmes “Históricos e Épicos”, mas também outros gêneros cinematográficos carregam em suas tramas várias questões que, em muitos casos, fazem parte de diversos regimes de historicidade de várias sociedades (NAPOLITANO, 2010). Apesar de uma boa parte dos filmes terem a aparência de roteiros meramente ficcionais, muitos pontos ligados ao cotidiano de muitas culturas, em várias periodicidades, além de inúmeras questões políticas e filosóficas se fazem presentes na trama de diversas produções. Produções estas que carregam ideologias e interesses. Neste sentido cabe a academia avaliar estes discursos, de modo a submetê-los a um exame crítico.
Em se tratando de nosso mundo Ocidental acreditamos que os filmes que tiveram uma ampla divulgação no cinema e nas emissoras de TV merecem uma atenção especial, justamente pelo fato destas produções alcançarem, em geral, um grande público. E aqui não estamos desconsiderando as análises que possam ser feitas de filmes que não tiveram uma ampla divulgação. São muito válidas também as análises de produções que não foram veiculadas nos principais meios midiáticos. Lembrando que, em grande medida, a escolha do filme, bem como as questões que são problematizadas, são escolhas feitas pelo pesquisador que parte de sua subjetividade, e de suas inquietações. Mas, consideramos muito oportuno propor discussões acerca das produções que tiveram uma ampla divulgação nos principais meios midiáticos. Partindo de algumas das questões do parágrafo anterior pensamos em selecionar o filme “Uma linda mulher”, pois além abordar algumas questões que desejávamos trabalhar, o longa-metragem teve uma considerável divulgação na mídia, o que possibilita uma melhor compreensão, por parte de um público mais amplo, dos pontos que desejamos contemplar. Ao longo de nossa escrita optaremos por trabalhar muito mais algumas questões que identificamos ao longo do filme do que questões conceituais, pois entendemos que uma vasta literatura já foi dedicada ao estudo da dita indústria cultural, de modo que julgamos oportuno dedicar, em nossa análise, uma maior atenção a alguns pontos específicos. Também não pretendemos discorrer longamente acerca dos estudos de gênero, mas partindo de nossa análise desejamos operacionalizar algumas questões conceituais ao longo de nossa escrita. O filme “Uma Linda Mulher”, cujo título original é “Pretty Woman”, foi estrelado por Júlia Roberts e Richard Gere e dirigido por Garry Marshall. É uma “comédia romântica”, e é considerado, por vários críticos de cinema, como um dos maiores sucessos do gênero. Alguns chegam a afirmar que o filme serviu para alavancar a carreira da até então desconhecida atriz Júlia Roberts. Tanto o filme quanto alguns atores que protagonizaram a trama receberam várias indicações e prêmios. A história foi elaborada, originalmente, para advertir acerca da prostituição em Los Angeles, mas foi remodelada para um perfil de comédia romântica. Na trama o milionário Edward (Richard Gere) sai de uma festa, pega o carro de seu advogado emprestado e sai dirigindo pelas ruas até chegar na avenida Hollywood Boulevard. Para o carro e pede
Na cena seguinte ela vai para o hotel em que está hospedada durante aquela semana e pede ajuda ao gerente que liga para uma loja de roupas femininas e pede que ajudem Viviam a escolher um vestido. A noite Viviam e Edward vão para um jantar de negócios, e, no dia seguinte, Edward diz a Viviam que ficou surpreso com o fato de ela não ter comprado mais de um vestido no dia anterior, e pede a ela que compre outros vestidos. Ela diz que não foi divertido comprar roupas, pois as vendedoras foram mesquinhas com ela. Edward fica chateado e sai com Viviam para comprar roupas para ela. No caminho Viviam diz a Edward que as pessoas estão olhando para ela, ele diz que na realidade as pessoas estão olhando para ele. Ela diz que as lojas não foram gentis com ela, ele diz que as lojas não são gentis com pessoas, só com cartões de crédito. Edward e Viviam chegam em uma loja e ele diz ao gerente do estabelecimento que pretendem gastar uma quantia ofensiva na loja, e que querem ser bajulados. Enquanto Viviam é atendida é executada a canção “Pretty Woman”. Na sequência ela caminha elegante pelas ruas e chega ao hotel carregando e ostentando suas várias compras. Apesar das cenas que descrevemos nos parágrafos anteriores parecerem momentos alegres, de descontração, com uma boa dose de humor, e que até poderiam ter por finalidade desconstruir preconceitos e quebrar estereótipos na relação entre aparência e poder de compra, não podemos desconsiderar as mensagens que são passadas em cada cena, cada lance, cada flash. Se avaliarmos mais atentamente podemos perceber que é passada a ideia de que consumir, e aqui entenda-se comprar, traz felicidade. Que possuir determinados bens, ou frequentar certos ambientes “fará” de você uma pessoa feliz. Desde a Escola de Frankfurt, passando por várias outras perspectivas teóricas, os estudos acerca das estratégias para se tornar determinados “produtos” enquanto desejáveis foram efetuados. O sociólogo Zygmunt Bauman em sua obra “Vida para Consumo” chama a nossa atenção para o fato de que somos uma sociedade de consumidores, e que nos tornamos uma cultura consumista (BAUMAN, 2008). Para o filósofo Castoriadis algo essencial na criação é a constituição do novo, a emergência de novas instituições e novas maneiras de se viver, e de viver estas novas instituições. Constituição ativa de um signo o qual um grupo ou uma comunidade (o social- histórico) lhe imputam um significado, por um ato arbitrário (CASTORIADIS, 2007).
O mundo social é constituído/articulado em função de um conjunto de significações, de maneira que estas, uma vez instituídas, formam um imaginário efetivo , que é criação incessante e indeterminada (social-histórica e psíquica) de figuras/formas/imagens. Considerando o “ser” que interpreta discursos e que cria novas possibilidades. Assim, entendemos que no ser e por-ser emerge o social-histórico, que é ruptura do ser e aparição da alteridade, fluxo de perpétua auto-alteração e resignificação, figura e logo espaçamento do que ele torna visível, um ser-assim. Neste sentido a humanidade tem criado não só novas maneiras de ser e estar no mundo, e elementos, quer sejam materiais ou imateriais, mas também criado novas necessidades. E, especialmente a partir do século XX, temos assistido a toda uma espetacularização, por parte da mídia, da dita “cultura do consumismo”. Alguns poderiam alegar que, possivelmente, o grande público não estaria atento para estas questões que mencionamos anteriormente, e que muitos estariam muito mais interessados na trama, no romance, e nos momentos divertidos do que nos elementos que mencionamos nos parágrafos anteriores. Acreditamos que é preciso desconstruir esta “cultura do consumismo”. É preciso alertar a sociedade, e, especialmente as crianças e os adolescentes, para o fato de que a grande mídia tem construído a ideia de que precisamos adquirir determinados bens materiais para “sermos felizes”. Uma questão que também é muito explorada no filme seria a mudança de comportamento de ambos personagens no decorrer da trama. Em alguns momentos Edward cancela compromissos de trabalho para desfrutar de momentos de lazer com Vivian, e a personagem passa a aprender, gradativamente, a se vestir e se comportar de acordo com os ambientes que ela frequenta com Edward. Embora o choque cultural entre ambas realidades é sempre evidenciado por meio de cenas “bem humoradas”. Neste sentido a linguagem deste formato de se fazer cinema procura suavizar questões que pretende representar. Mas, se avaliarmos atentamente, é perceptível que a personagem Viviam procura se adequar muito mais a realidade de Edward do que o contrário. Em um dado momento do filme a personagem Viviam alega que optou pela prostituição por conta das dificuldades que enfrentou, dos relacionamentos com homens com quem se relacionou, e que quando saiu de casa ainda arranjou outros empregos, mas que não
Ao término do filme o narrador diz: “bem vindos a Hollywood, a terra dos sonhos, aqui alguns sonhos se tornam realidade, mas outros não. Continuem sonhando”. Embora alguns possam alegar que nas cenas finais também é passada a ideia de que a “princesa” salvou o príncipe de sua solidão amorosa, mas, na maior parte do filme é passada a ideia de que a personagem Viviam é muito mais dependente de Edward do que o contrário. Nas cenas finais do filme é bem presente a imagem do “príncipe encantado” que vem salvar a “mocinha”, proporcionando a ela não só conforto material, mas também a garantia de que a partir daquele momento ela seria protegida. Se observarmos as cenas com uma maior atenção podemos perceber que ao longo do filme a personagem Viviam modifica o seu comportamento e sua personalidade. A mulher que antes era confiante e determinada passa a ser frágil, incompleta e consumista. Assim, vemos que estereótipos são reforçados, onde a figura do homem é associada às concepções de competitividade, decisão e comando, e a figura feminina é associada a delicadeza, a insegurança, a incompletude. Discursos que continuam legitimando um determinado “lugar” de passividade e fragilidade para a mulher (SILVA, 2004). Mas, ao passo que esta imagem de “princesa”, que precisa ser protegida e cuidada pelo seu “príncipe encantado”, é agenciada, o filme também impõe ao homem a tarefa de proteger, cuidar, seria a clássica figura do “macho provedor”. Assim, apesar de reconhecermos a importância que o filme teve no que diz respeito a se fazer um alerta quanto a realidade do tráfico de drogas e da prostituição em Los Angeles, a nossa crítica é tanto para a “cultura do consumismo” presente no filme, quanto para esse lugar de incompletude e dependência que é atribuído ao gênero feminino. BIBLIOGRAFIA
BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo : a transformação das pessoas em mercadorias. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. CASTORIADIS, Cornelius. A instituição imaginária da sociedade. 6 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007. DUARTE, Rosália. Cinema & Educação. 2 ed Belo Horizonte: Autêntica, 2002. NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. 4ed. 4 reimp. São Paulo: Contexto, 2010. SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade : uma introdução às teorias do currículo. 2 ed. 7 reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.