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O Ratio Studiorum: sua origem, características e influência na educação brasileira, Manuais, Projetos, Pesquisas de História

Uma revisão bibliográfica sobre o ratio studiorum, o plano e organização de estudos da companhia de jesus, fundada no século xvi. O artigo aborda as contribuições do ratio studiorum para o ensino contemporâneo, delimita suas principais características e contexto histórico, e identifica resquícios da educação jesuítica no atual ensino brasileiro. A pesquisa utiliza fontes primárias e secundárias, incluindo o documento final e oficial do ratio studiorum, e obras bibliográficas sobre história e pedagogia jesuítica.

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2021

Compartilhado em 01/12/2021

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RATIO STUDIORUM: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
RATIO STUDIORUM: A BIBLIOGRAPHIC REVIEW
RATIO STUDIORUM: UNA REVISIÓN BIBLIOGRÁFICA
Thalita dos Santos Banzatti de Melo
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Resumo
A presente pesquisa visa compreender o documento Ratio Atque Institutio Studiorum Societatis Iesu, produzido
em 1599 pela Companhia de Jesus. Analisa-se a companhia fundada por Inácio de Loyola no século XVI e suas
possíveis contribuições para a pedagogia contemporânea. Contudo, a fim de evitar resultados simplistas,
anacrônicos ou arbitrários, é necessário contextualizar o momento histórico no qual o Ratio Studiorum foi
produzido e propagado. O objetivo geral da hodierna investigação é elucidar se o documento ainda exerce
influência na atualidade. Para que os resultados fossem viáveis, aplicou-se no estudo a metodologia descritiva.
Utilizou-se uma fonte primária, composta pelo documento final e oficial do Ratio Studiorum, e fontes secundárias
formadas fundamentalmente por obras bibliográficas. Com a análise efetivada em consonância com o rigor
técnico-metodológico, foi possível alcançar os resultados almejados. Identificou-se que há influência do Ratio
Studiorum nas práticas educacionais modernas, como, por exemplo, no ensino tradicional. Tendo em vista que
diversas teorias e métodos foram forjados em conjunturas distintas, torna-se essencial conhecer as raízes do ensino
para uma melhor compreensão da realidade e das possibilidades futuras.
Palavras-chave: Pedagogia. Ensino Inaciano. Educação. Companhia de Jesus.
Abstract
The present research aims to understand the Ratio Atque Institutio Studiorum Societatis Iesu, produced in 1599 by
the Society of Jesus. The company founded by Inácio de Loyola in the 16th century and its possible contributions
to contemporary pedagogy are analyzed. However, in order to avoid simplistic, anachronistic or arbitrary results,
it is necessary to contextualize the historical moment in which the Ratio Studiorum was produced and propagated.
In short, the general objective of today's investigation is to discover whether the document still influences today.
For the results to be viable, the descriptive methodology was applied in the study. A primary source was used,
composed of the final and official document of the Ratio Studiorum, and secondary sources formed mainly by
bibliographical works. With the analysis carried out in line with the technical-methodological rigor, it was possible
to achieve the desired results. It was identified that there is influence of Ratio Studiorum in modern educational
practices, such as traditional teaching. Bearing in mind that several theories and methods were forged in different
circumstances, it is essential to know the roots of teaching for a better understanding of reality and future
possibilities.
Keywords: Pedagogy. Ignatian teaching. Education. Society of Jesus.
Resumen
Esta investigación pretende entender el documento Ratio Atque Institutio Studiorum Societatis Iesu, producido en
1599 por la Compañía de Jesús. Se analiza la compañía fundada por Ignacio de Loyola en el siglo XVI y sus
posibles contribuciones para la pedagogía contemporánea. Sin embargo, para evitar resultados simplistas,
anacrónicos o arbitrarios, es necesario contextualizar el momento histórico en el cual el Ratio Studiorum fue
producido e divulgado. El objetivo de esta investigación es dilucidar si el documento todavía tiene influencia en
la educación. Para la obtención de resultados confiables, se aplicó la metodología descriptiva. Se utilizó una fuente
primaria el documento final y oficial del Ratio Sudiorum y fuentes secundarias, fundamentalmente textos
bibliográficos. A partir de riguroso análisis en lo técnico-metodológico, fue posible llegar a los resultados
esperados. Se pudo constatar la influencia del Ratio Studiorum en prácticas educativas modernas como, por
ejemplo, en la educación tradicional. Tomándose en consideración que diversas teorías y métodos se produjeron
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Professora de História, Pedagoga e estudante de Psicopedagogia. E-mail: thalita-banzatti@hotmail.com.
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RATIO STUDIORUM: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

RATIO STUDIORUM: A BIBLIOGRAPHIC REVIEW

RATIO STUDIORUM: UNA REVISIÓN BIBLIOGRÁFICA

Thalita dos Santos Banzatti de Melo^1 Resumo A presente pesquisa visa compreender o documento Ratio Atque Institutio Studiorum Societatis Iesu, produzido em 1599 pela Companhia de Jesus. Analisa-se a companhia fundada por Inácio de Loyola no século XVI e suas possíveis contribuições para a pedagogia contemporânea. Contudo, a fim de evitar resultados simplistas, anacrônicos ou arbitrários, é necessário contextualizar o momento histórico no qual o Ratio Studiorum foi produzido e propagado. O objetivo geral da hodierna investigação é elucidar se o documento ainda exerce influência na atualidade. Para que os resultados fossem viáveis, aplicou-se no estudo a metodologia descritiva. Utilizou-se uma fonte primária, composta pelo documento final e oficial do Ratio Studiorum, e fontes secundárias — formadas fundamentalmente por obras bibliográficas. Com a análise efetivada em consonância com o rigor técnico-metodológico, foi possível alcançar os resultados almejados. Identificou-se que há influência do Ratio Studiorum nas práticas educacionais modernas, como, por exemplo, no ensino tradicional. Tendo em vista que diversas teorias e métodos foram forjados em conjunturas distintas, torna-se essencial conhecer as raízes do ensino para uma melhor compreensão da realidade e das possibilidades futuras. Palavras-chave: Pedagogia. Ensino Inaciano. Educação. Companhia de Jesus. Abstract The present research aims to understand the Ratio Atque Institutio Studiorum Societatis Iesu , produced in 1599 by the Society of Jesus. The company founded by Inácio de Loyola in the 16th century and its possible contributions to contemporary pedagogy are analyzed. However, in order to avoid simplistic, anachronistic or arbitrary results, it is necessary to contextualize the historical moment in which the Ratio Studiorum was produced and propagated. In short, the general objective of today's investigation is to discover whether the document still influences today. For the results to be viable, the descriptive methodology was applied in the study. A primary source was used, composed of the final and official document of the Ratio Studiorum, and secondary sources — formed mainly by bibliographical works. With the analysis carried out in line with the technical-methodological rigor, it was possible to achieve the desired results. It was identified that there is influence of Ratio Studiorum in modern educational practices, such as traditional teaching. Bearing in mind that several theories and methods were forged in different circumstances, it is essential to know the roots of teaching for a better understanding of reality and future possibilities. Keywords: Pedagogy. Ignatian teaching. Education. Society of Jesus. Resumen Esta investigación pretende entender el documento Ratio Atque Institutio Studiorum Societatis Iesu, producido en 1599 por la Compañía de Jesús. Se analiza la compañía fundada por Ignacio de Loyola en el siglo XVI y sus posibles contribuciones para la pedagogía contemporánea. Sin embargo, para evitar resultados simplistas, anacrónicos o arbitrarios, es necesario contextualizar el momento histórico en el cual el Ratio Studiorum fue producido e divulgado. El objetivo de esta investigación es dilucidar si el documento todavía tiene influencia en la educación. Para la obtención de resultados confiables, se aplicó la metodología descriptiva. Se utilizó una fuente primaria — el documento final y oficial del Ratio Sudiorum — y fuentes secundarias, fundamentalmente textos bibliográficos. A partir de riguroso análisis en lo técnico-metodológico, fue posible llegar a los resultados esperados. Se pudo constatar la influencia del Ratio Studiorum en prácticas educativas modernas como, por ejemplo, en la educación tradicional. Tomándose en consideración que diversas teorías y métodos se produjeron (^1) Professora de História, Pedagoga e estudante de Psicopedagogia. E-mail: thalita-banzatti@hotmail.com.

Ratio Studiorum: uma revisão bibliográfica en coyunturas distintas, es esencial conocer las raíces de la educación para una mejor comprensión de su realidad y de sus posibilidades futuras. Palabras-clave: Pedagogía. Educación Ignaciana. Educación. Compañía de Jesús. 1 Introdução O Ratio atque Institutio Studiorum Societatis Iesu , normalmente conhecido e abreviado como Ratio Studiorum, é o plano e organização de estudos da Companhia de Jesus, fundada no contexto do século XVI, por um padre católico chamado Inácio de Loyola. Através desse código de ensino, os jesuítas desenvolveram colégios ao redor do mundo, inclusive no Brasil. Assim, a hodierna pesquisa possui como objetivo geral compreender as possíveis contribuições do Ratio Studiorum para o ensino contemporâneo e, especificamente: delimitar as principais características do Ratio Studiorum e o contexto histórico do qual teve origem; discriminar os principais objetivos da Companhia de Jesus; e identificar resquícios da educação jesuítica no atual ensino brasileiro. O sucesso dos objetivos almejados possibilitará o desfecho da problematização que impulsionou o atual estudo: é possível que um tratado desenvolvido há cinco séculos ainda exerça influência na pedagogia moderna? Pois, conforme salienta Marx e Engels ( 1980 apud NOGUEIRA ; LEAL, 2015, p.19): Aquilo que o homem faz, aquilo em que o homem acredita, o que conhece e o que pensa, tudo isso sofre interferência de ideias anteriormente elaboradas, ao mesmo tempo que novas representações produzem transformações em sua existência. Portanto, faz-se necessário conhecer o cerne do ensino, para que dessa forma haja melhor compreensão da realidade presente e das possibilidades futuras. Com intuito de alcançar êxito sobre os resultados pretendidos, será utilizada a pesquisa descritiva, valendo-se de fontes primárias e secundárias com foco em história e pedagogia direcionados ao estudo jesuítico e em especial ao Ratio Studiorum. A exposição do conteúdo trabalhado será alinhada no decorrer da pesquisa de maneira sistemática e cronológica, contendo na primeira parte, a exposição contextual das origens de Inácio de Loyola, fundador da companhia de Jesus, e da conjuntura do século XVI, com escopo de inserir o Ratio Studiorum , no contexto do qual transcorreu seu início. A segunda parte analisará a composição específica do Ratio Studiorum e suas principais características, normas e regras. Por fim, há uma descrição da Metodologia empregada na pesquisa, seguido dos resultados obtidos.

Ratio Studiorum: uma revisão bibliográfica entusiasmado com os resultados que estavam obtendo os jesuítas que lá ensinavam no Colégio de São Paulo. Inácio respondeu incentivando o seu esforço. No início, os colégios eram utilizados para a formação dos jovens que desejavam participar da Companhia de Jesus e após 1556, por insistência de alguns pais, os Jesuítas passaram a admitir outros jovens. A companhia de Jesus percebeu que a educação não era apenas um meio para o desenvolvimento humano e espiritual, mas poderia ser também um valioso instrumento para a defesa da fé católica, fortemente atacada pelos reformadores. Segundo Miceli (2016, p.86): O Concílio (de Trento,1545) não foi a única reação ou resposta à Reforma protestante dada pela Igreja Católica, que procurava reorganizar-se por meio de um movimento que é conhecido como Contrarreforma. Em meio a esse esforço de transformação e renovação da atuação da Igreja, foi criada por exemplo a Companhia de Jesus, cujas as ações concentram-se nas missões estrangeiras e na formulação e desenvolvimento de um programa pedagógico-educacional, com o qual pretendia fazer frente ao projeto educacional protestante, uma das grandes preocupações de Martinho Lutero, que considerava os jovens fundamentais para a propagação da reforma. Logo, o ensino passou a ter importância considerável no bojo da Igreja. É possível notar reflexos dessa educação, inclusive no Brasil, assim de acordo com Faoro (2012, p. 230), “A assistência social da colônia não encontrava outro remédio senão na Igreja, entregue ao seu cuidado o ensino”. Obviamente, essas medidas favoreceram a propagação do catolicismo. Em 1548, Inácio de Loyola aceitou abrir o primeiro colégio clássico da Companhia de Jesus, a pedido do vice-rei, na cidade de Messina. De acordo com Franca (1952, p.3): Para a nascente instituição enviou o fundador um manípulo de padres de rara valia, Jerônimo Nadal, reitor e professor de hebreu, Pedro Canísio, de retórica, André Frusius (des Freux), de grego, Isidoro Bellini, de lógica, João Batista Passeriní, Anibal Du Coudret e Benedito Palmio, respectivamente da 3°. 2°. e 1°. classe de gramática. O corpo docente apresentava um caráter acentuadamente cosmopolita: Italianos, espanhóis, franceses e alemães nele se achavam representados. A todos, porém, unia, além dos vínculos da fraternidade religiosa, um traço em comum de afinidade cultural. Com exceção de Canísio, que estudara na Universidade de Colônia, os demais se formaram em Paris. O modelo escolhido pelos padres para o primeiro colégio, e que inspirou no decorrer da construção do Ratio Studiorum , foi o modus parisienses. Segundo Storck (2016, p. 139 - 158) : Mas em que consiste o Modus parisiensis que influenciou na elaboração do Ratio Studiorum? Por que ele foi adotado pelos jesuítas? Estas interrogações são respondidas quando consideramos dois fatos importantes: a organização interna própria dos colégios parisienses e a maneira de ensinar, igualmente própria dos mestres de Paris, que se estruturou ao longo do tempo e na qual se mesclaram diferentes experiências, não se constituindo, portanto, num método de todo original.

Thalita dos Santos Banzatti de Melo O sucesso dessa primeira experiência foi tão profícuo que em 1548 Nadal escreveu a Inácio sobre a necessidade de abrir mais uma aula de gramática, já que o número de alunos estava a crescer. As primeiras experiências dos colégios jesuítas foram arquivadas por Nadal e, mais tarde, cooperaram para a formação do que viria a ser o Ratio Studiorum. Em 1551 foi redigido um primeiro plano de estudos que fora enviado à Roma e de Roma, para os outros colégios, conforme fossem fundados; assim, em 1552 é finalizado o primeiro tratado chamado De Studio Societatis Jesu. Dos primeiros tratados até o texto final, o trabalho empenhado nessa produção fora de aproximadamente meio século e contou com a participação de inúmeros intelectuais da área educacional jesuítica de diversas nacionalidades, porém, é possível identificar que, antes mesmo do texto final, os missionários jesuítas já orientavam-se pelas práticas e regras educacionais estabelecidas nos documentos iniciais, conforme Ferreira Junior e Bittar ( 2007 apud GONÇALVES, 2013, p.64), “todos os jesuítas tinham acesso as contribuições, documentos orientadores dos preceitos educativos da Companhia de Jesus, e uma versão inicial do Ratio Studiorum”. O texto final, promulgado por Aquaviva em 1599, permaneceu como lei oficial da Companhia de Jesus por dois séculos, até a sua supressão em 1750; a Companhia dirigia 578 colégios, 728 casas de ensino e 150 seminários. 2.1 O Ratio Studiorum O Ratio Studiorum é um manual prático e minucioso, que diz respeito às ações escolares e metodológicas aplicadas nos colégios jesuítas. De acordo com Miranda (2001, p. 100): Não se trata de um escrito teórico sobre educação, mas sim de uma exposição dos métodos e práticas utilizados nos colégios da Companhia durante quase quatro séculos, canonizados após longos anos de experimentação e reflexão nas diferentes províncias religiosas. Trata-se, portanto, da resposta metodológica que a Companhia dava ao seu próprio ideal educativo. Portanto, esse compêndio aborda e orienta todos os aspectos escolares das instituições jesuíticas e tem por objetivo, segundo Toledo (2000, p.181-187): Dar parâmetros para a educação, a avaliar as responsabilidades e atribuições e, ainda, a reger as formas de avaliação e promoção nas escolas – estabelecendo metas, objetivos e procedimentos universais. A Companhia de Jesus era dividida em províncias e circunscrições territoriais, a frente de cada província havia um provincial, que ficava responsável no tocante a educação, a nomear um prefeito de estudos e disciplinas, além de ficar incumbido pela proficiência dos professores, segundo o Ratio Studiorum (1599, p. 17):

Thalita dos Santos Banzatti de Melo O programa formativo do Ratio , segundo Ocampo (1999 apud STORCK, 2016, p. 139 -

  1. : Ao analisar-se o programa formativo do Ratio, observa-se, que este estava organizado no que podemos denominar uma lógica linear propedêutica, ou seja, um curso prepara imediatamente para o seguinte. Esta organização era semelhante à da Universidade de Paris, onde os jesuítas haviam estudado e se organizava em classes inferiores e faculdades superiores. A formação começava com as Classes Inferiores ou de Letras Humanas, que constavam de aulas de Gramática, Humanidades e Retórica. Terminado este estágio, também denominado Curso de Humanidades, o aluno estava preparado para as Faculdades Superiores, ou seja, a Filosofia e depois a Teologia. O Latim era a língua oficial, que se aprendia nas classes inferiores e era aperfeiçoado na Filosofia e na Teologia. O Currículo Teológico era formado da seguinte maneira: Teologia escolástica por 04 anos, Teologia Moral e Sagrada Escrituras por 02 anos e hebreu por 1 ano; contudo, a revisão de 1832 acrescentou ao currículo teológico disciplinas autônomas, o Direito Canônico e a História Eclesiástica, estudada no século XVI, só ocasionalmente. Já o currículo Filosófico era organizado da seguinte maneira: primeiro ano, Lógica e Introdução às Ciências; segundo ano, Cosmologia, Psicologia e Física; e no terceiro ano os alunos aprendiam Filosofia Moral, Metafísica e Matemática. O currículo Humanista, que se tratava de ensino inicial onde deveria ser explorada e desenvolvida todas as potencialidades e faculdades oral e escrita dos alunos, consistia de cinco classes, que são caracterizadas por graus; na primeira classe, estudava-se Gramática Inferior; a segunda classe consistia de Gramatica Média; a terceira classe era formada por Gramatica Superior; e a quarta e quinta classe eram formadas respectivamente por Humanidades e Retórica. Cada classe levava em torno de um ano para ser concluída, contudo, acabava durando mais tempo. As últimas matérias, muitas vezes, eram divididas, o que fazia com que o curso levasse 6 ou 7 anos para ser concluído. Latim e o Grego eram disciplinas preponderantes, já que não havia um estatuto específico para disciplinas como história, geografia, vernáculo; elas eram ensinadas concomitante na leitura. (FRANCA, 1952, p.22- 23 ). Para cada curso e disciplina, havia regras diferentes, que deveriam ser seguidas cuidadosamente pelos professores. De acordo com Toledo (2000, p.181–187): As regras comuns a todos os professores das faculdades superiores16, seção que abre a parte dedicada às normas para os professores das diversas áreas, níveis de ensino e disciplinas diversas, reforçam, logo desde o primeiro artigo, a concepção de que a educação é um ofício importante pelo fato de poder se constituir numa possibilidade de aproximar o homem de Deus, da fé e da Igreja. Ela, a educação, não é um fim em si, mas apenas meio ou caminho para se chegar à salvação.

Ratio Studiorum: uma revisão bibliográfica Sendo assim, fica evidente a importância dos professores para o sucesso almejado pelo Ratio Studiorum e, por esse motivo, a admissão de professores ocorria de forma rígida — deveriam ser devidamente formados. Dava-se, também, grande importância aos Exercícios Espirituais, segundo Sousa (2003, p. 26-43), “Para aí chegar, o futuro docente devia se libertar, antes de mais, de tudo o que impedisse a orientação do espírito e do coração ao apelo de Deus”. Ou seja, os exercícios espirituais eram parte importante para formação dos professores. De acordo com Klein (2015, p.184): Não surpreende, pois, que encontremos em seus princípios e orientações para guiar a outros durante os Exercícios Espirituais uma descrição perfeita da atitude pedagógica do professor, como alguém cuja a função não é a de meramente informar, mas de ajudar o estudante em seu progresso rumo a verdade. Para servir-se com êxito do paradigma Pedagógico Inaciano, os professores devem estar cônscios da própria existência, atitudes, opiniões, para que não imponham aos alunos as próprias ideias. Além da obrigação de participar das missas, rezar por seus alunos, praticar exercícios bíblicos, ter boa conduta etc., segundo Mesquida (2013, p. 235- 249 , grifo do autor): Os formadores dos educadores jesuítas, ou os docendi peritissimis , deveriam fazer uso preferencial da prelectio , ou seja, da preleção , na sua prática pedagógica, exercitando, em primeiro lugar, a capacidade de memorização do estudante, de acordo com a Regra n.º 5, do professor de gramática do Ratio Studiorum (1559/1870, p. 86): " The method of the prelection shall be as follow ", procurando assim levar os alunos a repetirem ao máximo a matéria de forma a exercitar a memória. Depois disso tinha início a composito , que nada mais é do que a reprodução do modelo apresentado pelo professor. Daí uma regra fundamental: " Imitatio est anima prelectionis " ["A imitação é o que anima a preleção"], em uma tradução livre. Finalmente, a décima quarta regra do Provincial prescreve que "no final do ano será feita a repetição de todas as aulas". Logo, é possível observar, que os professores jesuítas obtinham um alto grau de deveres e responsabilidades, de acordo com Franca (1952, p.45): “ Raras vezes se acentuou tão gravemente a responsabilidade do professor; raras vezes se lhe acendeu n´alma o fogo sagrado da dedicação e do entusiasmo por um ideal mais nobre!”. É possível nota um profundo apreço na educação jesuítica pelo ensino clássico, semelhante em alguns pontos com as artes liberais contidas no Trivium e Quadrivium , pois possui em sua base o tripé: Aristóteles, São Tomás e a Bíblia, além de diversos outros autores que também compõem a literatura clássica, como: Cícero, Catulo, Virgílio, Platão, Homero, Tucídides, dentre muitos outros, citados no Ratio Studiorum. S egundo Saviani (2006, p.6): A expressão mais acabada dessa vertente é dada pela corrente do tomismo, que consiste numa articulação entre a filosofia de Aristóteles e a tradição cristã; tal trabalho de sistematização foi levado a cabo pelo filósofo e teólogo medieval Tomás

Ratio Studiorum: uma revisão bibliográfica de textos religiosos diversos (orações, listas de preceitos, canções, diálogos, confessionários etc.) (BARROS, 2003, p.127). Por conseguinte, os jesuítas se mantiveram à frente do ensino brasileiro até a reforma pombalina de 1759, porém, de acordo com Rosário (2015, p.383): [...] a influência da educação jesuítica não se restringiu apenas ao período que por aqui se estabeleceram (1549 – 1759), ultrapassou períodos e, em todos eles encontram-se em menor ou maior quantidade reminiscências dessa educação, ou seja, marcou profundamente nossa educação. Sendo assim, torna-se imprescindível explorar as consequências históricas pedagógicas, a fim de que as permanências e transformações sejam analisadas, aplicadas ou remanejadas de maneira consciente — conforme as necessidades atuais. 3 Metodologia Com intuito de alcançar os objetivos estipulados que conduziram o desenvolvimento do hodierno estudo, foi utilizada pesquisa descritiva, com intuito de relatar e relacionar possíveis variantes ao tema; por conseguinte, a pesquisa contou com referências epistemológicas adequadas e análise metodológica sistemática. De acordo com Severino (2007, p.126): Referencias epistemológicas são, pois, necessárias para a produção do conhecimento científico; no entanto, elas não seriam fecundas para a realização de uma abordagem significativa dos objetos se não dispusessem de mediações técnico-metodológicas. Portanto, com esse intuito, utilizou-se como base no presente estudo fonte primária, composta basicamente pelo principal documento analisado na pesquisa, o Ratio Atque Institutio Studiorum Societatis Iesu 2 — edição final. Esse documento está disponível na íntegra através do Centro Virtual de Pedagogía Ignaciana , com tradução de Gustavo Amigó, S.J. e revisada por Dr. Daniel Álvarez, S.J. Utilizou-se, também, o Ratio Studiorum, com tradução de Leonel Franca na obra intitulada: O Método Pedagógico dos Jesuítas: O Ratio Studiorum. Segundo Toledo (2000, p.181-187), “Trata-se da única edição feita no Brasil”. Além da tradução do Ratio Studiorum, inserida na segunda parte da obra de Leonel Franca, a produção conta também na primeira parte com introdução, seguida da origem histórica e da explicação do Ratio Studiorum , mostrando-se de ampla valia no desenvolvimento da atual pesquisa, (^2) Disponível em: http://www.pedagogiaignaciana.com.

Thalita dos Santos Banzatti de Melo Foram empregadas, também, na produção cientifica, fontes de cunhos secundários produzidos por historiadores, como o mestre e doutor Paulo Miceli; professores como Makeliny Oliveira Gomes Nogueira (doutora em educação); sociólogos e estudiosos da área, respectivamente, Raymundo Faoro e Dermeval Saviani, com intuito de evitar resultados rasos, simplistas ou anacrônicos. Portanto, através da análise de documentos e obras bibliográficas, tornou-se viável alcançar os objetivos propostos no princípio da pesquisa. 4 Resultados de pesquisa A influência jesuítica na educação universal nos séculos XVI, XVII e XVIII é relativamente conhecida, estando atrelado à história de diversos países; contudo, o hodierno estudo, limitou-se em analisar possíveis resquícios do Ratio Studiorum na atualidade, com intuito de compreender o ensino atual em toda a sua amplitude, conforme afirma Gadotti (2003, p.72), “a Pedagogia dos jesuítas exerceu grande influência em quase todo o mundo, incluindo o Brasil”. A partir da análise desenvolvida, foi possível constatar que a pedagogia atual está repleta de traços advindos do Ratio Studiorum. De acordo com Oliveira (2018, p. 627-636), “ o nosso PPP (Projeto Político Pedagógico) possui traços que facilmente são identificados no Ratio Studiorum , tornando possível um paralelo entre ambos”. As consequências do Ratio Studiorum , ficam ainda mais evidentes quando são analisadas as práticas educacionais pautadas na Pedagogia Tradicional, bastante utilizada ainda nas escolas contemporâneas, segundo Saviani (2006, p.6), “As ideias pedagógicas expressas no Ratio Studiorum correspondem ao que passou a ser conhecido na modernidade como Pedagogia Tradicional”. Logo, é possível identificar consequências do Ratio Studiorum , tanto de forma direta, como na sistematização e organização documental escolar e nas práticas tradicionais, quanto indiretamente, levando em conta que diversos pensadores modernos absorveram o Ratio Studiorum no bojo de suas formações. Segundo Toledo (2000, p. 181-187): Émile Dürkheim, ao propor, no início do século XX, as Escolas Normais para formação de professores, certamente considerou o método e a organização de estudos, feitos pelos jesuítas na segunda metade do século XVI, o qual exerceu sólida influência sobre a Moderna educação francesa, especialmente o Colégio de La Flèche, fundado em 1603 pelo rei Henrique IV.

Thalita dos Santos Banzatti de Melo Ratio Studiorum , quanto indiretamente, devido à influência exercida sobre os estudiosos que tiveram a pedagogia inaciana — como base no desenvolvimento intelectual. Contudo, é necessário ressaltar novamente que nunca houve a pretensão de esgotar ou desvendar por completo o conteúdo analisado, pois, trata-se de um tema complexo e extenso que deve ser examinado visando também outras delimitações. Justamente, a amplitude e contradições encontradas nas diversas fontes analisadas apresentaram um grande desafio, tornando necessário o rigor metodológico com intuito de acoplar gnose e adquirir a compreensão necessária para uma melhor prática pedagógica. Como seres históricos, diversas práticas sociais, tiveram seus cernes construídos em conjunturas diferentes, e a maior amplitude de conhecimento, mostra-se benéfica para produzir trabalhos educacionais mais conscientes e precisos, o que torna possível o aprimoramento educacional. Referências BARROS, Maria. A relação entre manuscritos e impressos em Tupi como forma de estudo da política linguística jesuítica no século XVIII na Amazônia. Revista Letras , Curitiba, v. 61, n. especial, p. 125-152, 2003 FAORO, Raymundo. Os donos do poder - A formação do patronato político brasileiro. 5. ed. São Paulo: Globo, 2012. FRANCA, Leonel. O Método Pedagógico dos Jesuítas: o Ratio Studiorum. 1. ed. Rio de Janeiro: Livraria AGIR, 1952. GADOTTI, Moacir. História das Ideias Pedagógicas. 1. ed. São Paulo: Ática, 2003. JESUITAS; TARQUINIO LONGO; COLLEGIUM SOCIETATIS JESU. Ratio Atq[ue] Institutio Studiorum Societatis Iesu. Neapoli: in Collegio eiusdem Societatis, 1599. KLEIN, Luiz (org.). Educação Jesuítica e Pedagogia Inaciana. 1. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2015. LOYOLA, Inácio. Autobiografia. 1. ed. São Paulo: Edições Loyola, 1970. MESQUIDA, Peri. Catequizadores de índios, educadores de colonos, Soldados de Cristo: formação de professores e ação pedagógica dos jesuítas no Brasil, de 1549 a 1759, à luz do Ratio Studiorum. Educ. rev., Curitiba, n. 48, p. 235-249, jun. 2013. MICELI, Paulo. História Moderna. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2016. MIRANDA, Margarida. Humanismo jesuítico e identidade da Europa: uma comunidade pedagógica europeia. Humanitas , Coimbra, v. 53, p. 83- 111 , 2001.

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