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americana, Octavia Butler, grande “dama da ficção científica”, em Kindred – laços de ... apenas recentemente ganhou sua primeira tradução para o português.
Tipologia: Resumos
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Kindred – laços de sangue de Octavia Butler: Uma ode à memória sob o manto da ficção Recife 2021
Kindred – laços de sangue de Octavia Butler: Uma ode à memória sob o manto da ficção Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial à obtenção do Título de Mestra em Letras. Área de concentração: Teoria da Literatura Orientador : Prof. Dr. Eduardo Cesar Maia Ferreira Filho Recife 2021
Kindred – laços de sangue de Octavia Butler: Uma ode à memória sob o manto da ficção Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial à obtenção do Título de Mestra em Letras. Aprovada em: 11/03/2021. BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Eduardo Cesar Maia Ferreira Filho (Orientador) Universidade Federal de Pernambuco
Prof. Dr. Fábio Cavalcante de Andrade (Examinador Interno) Universidade Federal de Pernambuco
Prof. Dr. Cristhiano Motta Aguiar (Examinador Externo) Universidade Presbiteriana Mackenzie
A Rafael, meu irmão, pela semente plantada A Eduardo, meu amor, pela companhia na colheita A Octavia: por me fazer sonhar e acreditar no impossível
Primeira autora negra a escrever ficção científica na tradição literária norte- americana, Octavia Butler, grande “dama da ficção científica”, em Kindred – laços de sangue , usa a viagem no tempo como recurso narrativo para deslocar temporalmente a protagonista, Dana – uma mulher negra dos anos de 1970 – para o sul escravista dos estados unidos, no século XIX, assim, escreve um romance-resposta ao imaginário norte-americano pós-abolição, repleto de estereótipos racistas. Quando desloca a narrativa do plano do “real”, a autora convida o leitor a, através de Dana, observar os horrores da escravidão e questioná-los. Além disso, foi no seio do romance que a norte-americana questionou os espaços de memória reservados àqueles que não podem recordar. Portanto, esta pesquisa pretende investigar o uso que a autora faz do romance – em especial para novas formas de representação da mulher negra e recuperação e preservação da memória – , além de refutar a classificação da obra como ficção científica. Pretende-se, também, observar como foi através da literatura e do fazer literário que Octavia Butler pôde construir e reconstruir as identidades, questionar as relações de poder, o racismo e explorar as potencialidades da existência, a começar pela dela mesma. Palavras-chave: Memória. Octavia Butler. Poder. Representação. Identidade.
2.1 Octavia Estelle Butler: uma ilustre desconhecida para o público brasileiro.......................................................................................................... 13 2.2 A obra singular de Octavia Butler: recepção crítica e inovações literárias........................................................................................................... 2.3 "Questões de gênero" – Kindred – laços de sangue: o romance no limbo dos gêneros....................................................................................... 3 ESPAÇOS DE MEMÓRIA E AS RELAÇÕES DE PODER EM KINDRED – LAÇOS DE SANGUE ................................................................... 3.1 Breves considerações sobre o estudo da memória.......................................... 3.2 Memória e poder: quem pode recordar? O resgate da memória no seio do romance.......................................................................................... 52 4 OCTAVIA BUTLER: EXPLORADORA DAS POSSIBILIDADES DA EXISTÊNCIA............................................................................................. 4.1 Novas formas de representação da mulher negra e do imaginário cultural pós-abolição ....................................................................................... 4.2 Dana e a jornada da violência na construção da personagem sobrevivente..................................................................................................... 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. REFERÊNCIAS...............................................................................................
10 1 INTRODUÇÃO Escrevi sobre poder porque era algo que eu tinha muito pouco. Esta é a epígrafe de Kindred – laços de sangue (2017), romance da autora norte-americana Octavia Butler e objeto da presente pesquisa. Na epígrafe, encerra-se a síntese da literatura de Butler, cujo pioneirismo literário é somente uma de suas qualidades. Construiu-se autora e exaltou o fazer literário como a sua “obsessão positiva”: “A obsessão positiva tem a ver com não ser capaz de parar apenas porque você está com medo e cheia de dúvidas. A obsessão positiva é perigosa. Tem a ver com não ser capaz de parar de jeito nenhum” (BUTLER, 2020, p. 148). Em meio ao mar de dúvidas por aventurar-se a escrever fantasia e ficção científica – seara dominada por homens brancos – Octavia persistiu e frutificou. Culpa da obsessão positiva que estimulou a jovem Octavia a lançar-se na jornada incerta de construir-se autora quando parecia impossível que uma jovem negra, crescendo em meio a um regime de segregação racial, pudesse escrever – e ser lida – ficção científica e fantasia. Foi a obsessão positiva que a fez continuar a construir mundos fantásticos e narrativas sensíveis ainda que recebesse pilhas de cartas de rejeição. A obsessão positiva fez de Butler uma escritora do momento em que decidiu sê-lo, ainda muito jovem, até o momento em que faleceu precocemente, aos 5 9 anos. Enquanto literatura, com toda a sua potência, foi a obsessão positiva de Octavia Butler, ela é a minha obsessão positiva. Escolher como objeto de pesquisa uma autora não só pouco conhecida, como também inserida em uma tradição literária não tão comumente estudada na Academia, foi desafiador e, na mesma medida, satisfatório. Sobre Butler, são escassos os estudos e pesquisas acadêmicas, embora não falte o que dizer de sua obra. Pioneira ao se consagrar a primeira autora Norte – americana negra de ficção científica, Octavia lançou um olhar sobretudo afetivo, além de questionador, sobre as condições de existência de corpos distantes do padrão hegemônico de poder – masculino e branco – trazendo-os para o centro de suas narrativas, para, então, entre cenários fantásticos, tecer histórias sobre a complexidade e pluralidade da existência humana. À mulher negra, na obra de Butler, é dada a possibilidade de existir nos mais diversos papéis, sempre no centro da narrativa e sempre perpassada pelas questões de gênero e raça. Butler escreve sobre relações hierárquicas de poder enquanto suas
12 Kindred é uma espécie de reação a algumas das coisas que aconteceram durante os anos 60, quando as pessoas tinham vergonha, ou até mesmo raiva, de seus pais por não terem melhorado as coisas mais rápido, e eu queria pegar uma pessoa de hoje e mandá-la de volta à escravidão. Minha mãe nasceu em 1914 e passou a primeira infância em uma plantação de açúcar na Louisiana. Pelo que ela me contou, não era muito distante da escravidão, a única diferença era que eles podiam ir embora, o que eventualmente acabaram fazendo. (BUTLER, 1986, p. 496)^1 Ela não esconde os sentimentos que a acometiam e escreve para tentar olhar para o passado com compaixão, resgatando, por meio da ficção, uma memória possível de pessoas cujos relatos e memórias não foram preservados pela história. A vergonha da escravidão não deveria recair sobre os que descenderam dos escravizados. Escrever sobre uma autora singular me pareceu exigir uma estrutura de texto menos engessada, sem a separação e distinção de teorias e análises literárias, me pareceu preferível, no lugar disso, organizar os capítulos da pesquisa em eixos temáticos sobre os principais pontos da obra que me moveram a empreender essa jornada de estudo. Sendo este o primeiro capítulo, devo anunciar que o segundo servirá como uma apresentação da autora e do romance; destacando os aspectos singulares de seu fazer literário, a recepção crítica de sua obra e a polêmica que cerca o romance desde que foi publicado: a classificação do livro como ficção científica, embora, não haja ciência. Na terceira parte desta pesquisa, o eixo temático será a memória e, em um primeiro momento, lançarei um breve olhar sobre diversos tratamentos dados ao estudo da memória e sua relação com a história e a ficção. Em seguida, pretendo refletir sobre a relação da memória e do poder, e sobre o local – social e até espacial
13 2 OCTAVIA BUTLER: UMA BREVE APRESENTAÇÃO DA “GRANDE DAMA DA FICÇÃO CIENTÍFICA” E DO ROMANCE KINDRED – LAÇOS DE SANGUE 2.1 Octavia Estelle Butler: uma ilustre desconhecida para o público brasileiro Autora de 12 romances e duas coletâneas de contos, Octavia Estelle Butler, nascida em 1947, em Pasadena, Califórnia, até recentemente era uma ilustre desconhecida para o público brasileiro. Ainda que publique desde a década de 1970, apenas recentemente ganhou sua primeira tradução para o português. Kindred - laços de sangue, seu quarto romance, publicado em 1979 e considerado sua obra-prima, teve uma tradução tardia, apenas em 2017, pela editora Morro Branco, que desde então se dedica à tradução e publicação de outros trabalhos da autora. Abordando temas como gênero, raça, e relações de poder, a norte-americana passou os olhos pelo passado, abordando a escravidão sob um olhar contemporâneo, e especulou sobre futuros possíveis, através das suas distopias e narrativas de ficção científica. Embora a ausência de tradução para o português tenha se mostrado uma barreira considerável para o público brasileiro, a boa recepção da tradução de suas obras demonstra que, ainda que escrito há algumas décadas, seus romances permanecem atuais e pertinentes. Filha de um engraxate e uma empregada doméstica, Octavia cresceu ouvindo que uma mulher negra em suas condições jamais seria escritora. Sua mãe, Octavia Margaret Guy, levava para casa as revistas e livros descartados nas casas em que trabalhava; assim, a jovem Octavia teve acesso aos livros e revistas que os patrões de sua mãe liam. Embora tenha sido criada em uma comunidade etnicamente diversa, menos tolerante às práticas de discriminação racial, Butler não cresceu imune às dificuldades de ser uma menina negra e pobre em meio às políticas de segregação racial^2. Disléxica, com mais de 1,80, e tímida, Octavia acabava por se refugiar em meio aos livros. Ávida leitora de ficção científica, ainda criança pediu uma máquina de (^2) As leis Jim Crow, que estabeleciam regras rígidas e segregacionistas para convivências entre pessoas negras e brancas nos Estados Unidos da América.
15 das lutas de Dana para garantir a sobrevivência enquanto escreve e envia manuscritos, é baseada em suas próprias experiências.) Eventualmente, Butler encontrou mentores que lhe deram apoio, primeiro no Writers Guild of America e depois no Clarion Science Fiction Writers Workshop, do qual ela participou em 1970. Ela agradeceu especialmente a Sid Stebel, Harlan Ellison e Theodore Sturgeon (ela teve aulas com os dois últimos) por ensinarem-lhe os detalhes de como preparar um manuscrito para publicação e encorajando- a a continuar escrevendo. (p. 139-140)^4 Assim como os tios da protagonista de Kindred , a mãe de Octavia também gostaria que a filha fosse secretária e possuísse uma carreira estável; desse modo, ela teria mais do que as mulheres de sua família até então. Na infância, a mãe da autora trabalhara em uma plantação de açúcar e passou a vida como empregada doméstica, tais vivências maternas influenciaram a escolha dos temas abordados por Bulter. Em entrevista concedida a Randall Kenan, em 1991, a autora declara que: Kindred, surge como uma resposta de Octavia ao imaginário pós-abolição que envergonhava os descendentes dos escravizados, como uma resposta aos que culpavam os cativos do passado pelo racismo sofrido no presente. No romance, ela leva o leitor ao passado escravista dos Estados Unidos através dos olhos de Dana Franklin, mulher negra e escritora, contemporânea dos anos de 1976, que, involuntariamente, viaja no tempo para uma Maryland escravista pré-Guerra Civil. No dia de seu aniversário de vinte e seis anos, Dana sente-se tonta e desperta dentro de um rio, onde um menino branco e ruivo se afogava. Instintivamente, salva o menino: Rufus. Ameaçada pelo pai do garoto, ela volta ao seu tempo. Nessa primeira viagem, as duas leis que regerão as viagens de Dana são delineadas: ela vai para o século XIX quando Rufus corre perigo e volta ao presente quando a sua própria vida está em risco. O motivo pelo qual ela precisa, repetidas vezes, salvar o garoto é porque ele é seu antepassado, e salvar a vida dele garantirá sua existência e a da sua família no (^4) No original: Butler attended Pasadena City College and California State University at Los Angeles and took writing classes at the University of California at Los Angeles at night. For several years, she worked a variety of temp jobs in order to have time to write fiction. (Her depiction in Kindred of Dana’s struggles to make ends meet while she writes and sends off manuscripts draws on her own experiences.). Eventually Butler began to meet supportive mentors, first at the Writers Guild of America and then at the Clarion Science Fiction Writers Workshop, which she attended in 1970. She especially credited Sid Stebel, Harlan Ellison, and Theodore Sturgeon (she took classes from the latter two) with teaching her the nuts and bolts of preparing a manuscript for publication and for encouraging her to keep writing. (p. 139 - 140)
16 presente. Dana precisa assegurar que Rufus e Alice gerem Hagar, tataravó dela; entretanto, nem sempre será fácil para Dana escolher salvar Rufus no lugar dos que mais se parecem com ela. Embora suas existências estejam entrelaçadas, o tempo passa de maneira distinta entre passado e presente. Ao mesmo tempo em que Dana perde apenas um ano de sua vida nessa jornada, esteve presente em praticamente toda a vida de Rufus, acompanhando-o pela infância, juventude e idade adulta. Enquanto no presente se passam algumas horas ou até poucos dias, no passado podem se passar meses e anos, por isso, entre idas e vindas, Dana pode observar o crescimento de Rufus e as escolhas que ele fez da vida, além de poder acompanhar o destino dos demais personagens. Enquanto se faz presente na vida das pessoas da Fazenda Weylin de modo inconstante e imprevisível, ela permanece na memória daqueles que vivem e trabalham Durante as seis viagens que faz para o século XIX, uma delas acompanhada de seu marido, não são poucas as vezes em a protagonista precisa salvar seu antepassado, quando, não necessariamente gostaria de fazê-lo, pois, os constantes salvamentos acabam eximindo Rufus das consequências de seus atos e Dana tem consciência disso. Ainda assim, o laço entre eles – daí o nome do romance – é formado de maneira tão intensa, que, em determinado momento, Dana ama e odeia Rufus ao mesmo tempo. Deseja livrar-se dele e ao mesmo tempo salvá-lo de tornar- se, por completo, um homem de seu tempo. Trataremos das peculiaridades e das situações específicas geradas pelas viagens no tempo com detalhes nos capítulos seguintes, porém, é importante destacar que Kindred mantém e continua a tradição da autora de tratar tematicamente questões de raça, gênero e relações de poder. Além da protagonista, Butler coloca nesse romance outras mulheres negras, partindo de estereótipos veiculados e alimentados pelo imaginário racista pós-abolição, e os subvertendo. Ainda que Octavia não seja a primeira a tratar das questões da mulher negra ou da mulher negra durante a escravidão, é a primeira a fazê-lo no campo da ficção especulativa e científica. Protagonistas não-brancas, mulheres como protagonistas, discussões sobre poder e ausência dele, questões raciais e ambientais, sociedades em crise, diversas modalidades de escravidão, o personagem sobrevivente, são todos tópicos e temas repetidamente tratados por Butler em sua ficção. A Editora Morro branco tem traduzido os romances de Butler desde 2017, começando com Kindred – laços de sangue , tendo em seguida lançado os romances A parábola do semeador, A parábola dos talentos,
18 de seres humanos. A humanidade e a Terra foram salvas da completa destruição por uma raça alienígena, os Oankali, que possuem habilidades e tecnologias impressionantes na mesma medida em que sua aparência é repulsiva. Nos romances seguintes, Butler aprofunda os desdobramentos dessa hibridização e intensifica a discussão sobre o que nos faz humanos. Em comum, os romances aqui citados trabalham de maneiras diversas a escravidão, seja no passado ou no futuro, física ou psicológica, entre humanos ou entre espécies. Sobre os tipos de mundos que escrevia, Octavia declarou em uma entrevista que: “Na verdade, nunca projetei uma sociedade ideal. Não escrevo ficção científica utópica porque não acredito que humanos imperfeitos possam formar uma sociedade perfeita.” (Butler, 1986, p.14, tradução nossa.)^5 A descrença da autora no que diz respeito à natureza humana reflete em suas obras, ela tende a retratar a humanidade no que ela tem de mais sombrio, embora, em contraponto, crie personagens cujas trajetórias são marcadas pela esperança e baseadas na sobrevivência. Dona de uma obra múltipla, que inovou ao abordar temas que não faziam parte do escopo da ficção especulativa até então, recebeu diversos prêmios, como o Nebula Award e o Hugo Award^6 , ambos mais de uma vez, que a fizeram ser a primeira autora negra a ser reconhecida no campo da ficção especulativa nos Estados Unidos. Em 1995, também recebeu o prêmio MacArthur Fellowship , concedido apenas aqueles que se destacaram em seus ofícios, como mencionado no obituário escrito no Times Colunist , jornal canadense: “em 1995, Butler foi a primeira autora de ficção científica que recebeu o prêmio de “genialidade” da John D. and Catherine T. MacArthur Foundation, que pagava US$ 295.000 dólares durante um período de tempo de cinco anos” (2006)^7. Além disso, a Pasadena City College criou uma bolsa de estudos com seu nome. Octavia Butler faleceu em 2006, aos 58 anos, deixando uma obra que ainda se mantém influente e vem sendo bem recebida entre o público brasileiro. Kindred – (^5) No original: “I've actually never projected an ideal society. I don't write Utopian science fiction because I don't believe that imperfect humans can form a perfect society.” (^6) Premiações importantes no campo da ficção especulativa. O Nebula Award é oferecido aos melhores trabalhos de ficção científica/fantasia por dois anos seguidos e o Hugo Award à melhor obra de ficção científica/ fantasia do ano anterior. (^7) No original: In 1995, Butler was the first science fiction writer granted a ‘genius’ award from the John D. and Catherine T. MacArthur Foundation, wich paid $295.000 US over five years.
19 laços de sangue , por exemplo, vendeu mais de meio milhão de cópias no mundo inteiro. Em seu obituário, no jornal canadense The Gazette , temos: A primeira criação de Octavia Butler no mundo da ficção científica foi ela própria. Antes que alguém lhe dissesse que meninas negras não crescem para escrever sobre mundos futuristas, Butler, filha de um engraxate com uma empregada doméstica, já estava construindo um lugar para si mesma em um universo dominado pelos brancos. (STEWART, 2006, p. 34)^8 Foi através da literatura e do fazer literário que Octavia Butler pôde construir e reconstruir identidades, questionar relações de poder, o racismo e explorar as potencialidades da existência, a começar por sua própria. 2.2 A obra singular de Octavia Butler: recepção crítica e inovações literárias Octavia Butler, embora vencedora de prêmios importantes dentro do escopo da ficção científica e habitualmente lembrada e celebrada como “grande dama da ficção científica”, não se definia por esse título. Apesar do grande sucesso e prestígio no campo da ficção científica, a visão que tinha de si mesma era mais abrangente: dizia que era escritora apenas, não limitada por um gênero específico. Para Octavia, seu público em potencial seria formado somente por mulheres, feministas e pessoas negras, exatamente os perfis dos que não faziam parte do escopo representacional da ficção científica na época em que ela começou a publicar. Havia, até então, uma carência de um público leitor menos homogêneo – que não fosse branco ou masculino