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Ensino da Energia Interna: Conceitos e Transferências, Notas de aula de Termodinâmica

Este documento discute o papel da noção de armazenamento de energia na compreensão da energia interna, além de abordar a relação entre energia interna e energia de moléculas. O texto também explora as diferentes concepções de energia interna e as transferências de energia em termos de calor e trabalho.

O que você vai aprender

  • Qual é a relação entre energia interna e energia de moléculas?
  • Como a noção de armazenamento de energia serve de âncora no ensino da energia interna?
  • Qual é a importância da compreensão da energia interna na física?
  • Quais são as diferentes concepções de energia interna apresentadas no documento?
  • Como a energia interna pode ser transferida em termos de calor e trabalho?

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Barros32
Barros32 🇧🇷

4.4

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4. RESULTADOS
Neste capítulo apresentaremos e discutiremos as respostas dos alunos aos tes-
tes de conhecimento prévio e posterior ao ensino da disciplina Físico-Química I.
Do contraste entre essas informações procuraremos evidenciar a facilitação da
aprendizagem significativa da termodinâmica por nossa proposta de ensino.
O conhecimento prévio ao ensino foi avaliado por meio das respostas ao
questionário apresentado no Apêndice 3, das quais extraímos conceituações de
energia, energia interna, calor e trabalho e resoluções de problemas. Os alunos
também confeccionaram mapas conceituais em que identificamos os modos pelos
quais estruturaram os conceitos da primeira lei da termodinâmica (energia, energia
interna, calor e trabalho) e como os relacionavam.
Experimentamos nossa proposta de ensino em três turmas diferentes, uma a
cada semestre nos quais ensinamos a disciplina. Também tivemos oportunidade de
aplicar o questionário noutra turma em que não atuamos como professor, aumentando
o número de informações sobre os conceitos e os problemas. Por falta de tempo não foi
possível construir mapas conceituais com este quarto grupo de alunos.
O conhecimento dos alunos após o ensino foi avaliado através de mapas concei-
tuais e resolução de problemas nas provas da disciplina. A comparação entre os mapas
conceituais prévios e posteriores ao ensino permite verificar a ocorrência de mudanças
de hierarquia e de significado dos conceitos da primeira lei da termodinâmica. A compa-
ração entre os modos de resolver problemas, revela relações entre conceitos termodi-
nâmicos e entre descrições textuais e matemáticas de fenômenos estudados pela ter-
modinâmica, antes e após o ensino.
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4. RESULTADOS

Neste capítulo apresentaremos e discutiremos as respostas dos alunos aos tes- tes de conhecimento prévio e posterior ao ensino da disciplina Físico-Química I. Do contraste entre essas informações procuraremos evidenciar a facilitação da aprendizagem significativa da termodinâmica por nossa proposta de ensino. O conhecimento prévio ao ensino foi avaliado por meio das respostas ao questionário apresentado no Apêndice 3, das quais extraímos conceituações de energia, energia interna, calor e trabalho e resoluções de problemas. Os alunos também confeccionaram mapas conceituais em que identificamos os modos pelos quais estruturaram os conceitos da primeira lei da termodinâmica (energia, energia interna, calor e trabalho) e como os relacionavam. Experimentamos nossa proposta de ensino em três turmas diferentes, uma a cada semestre nos quais ensinamos a disciplina. Também tivemos oportunidade de aplicar o questionário noutra turma em que não atuamos como professor, aumentando o número de informações sobre os conceitos e os problemas. Por falta de tempo não foi possível construir mapas conceituais com este quarto grupo de alunos. O conhecimento dos alunos após o ensino foi avaliado através de mapas concei- tuais e resolução de problemas nas provas da disciplina. A comparação entre os mapas conceituais prévios e posteriores ao ensino permite verificar a ocorrência de mudanças de hierarquia e de significado dos conceitos da primeira lei da termodinâmica. A compa- ração entre os modos de resolver problemas, revela relações entre conceitos termodi- nâmicos e entre descrições textuais e matemáticas de fenômenos estudados pela ter- modinâmica, antes e após o ensino.

4.1 CONCEITOS DA PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA

PRÉVIOS AO ENSINO

4.1.1 CONCEITO DE ENERGIA

A conceituação da energia apresentou sérias dificuldades. Cerca de 48% dos a- lunos afirmou desconhecer ou não lembrar o que é energia, ou não deu qualquer res- posta. Isto se deveu, em parte, ao fato do teste aplicado ser constituído por questões abertas, permitindo que os termos não fossem conceituados, embora houvesse sido so- licitado aos alunos que buscassem de algum modo exprimir os conceitos pedidos. Os estudos sobre concepções de energia de alunos, em geral, empregam questões com alternativas, induzindo a algum tipo de resposta [^97 ]. A negação de exprimir o que seja energia, um termo de tão ampla e freqüente aplicação no cotidiano, nos leva a inferir que se trata mais de uma atitude de preserva- ção dos alunos, evitando expor-se, que da ausência do conceito. Examinando as res- postas dos outros estudantes (abaixo) podemos notar suas dificuldades de emprego da linguagem, constatada na totalidade dos alunos durante as aulas de discussão de pro- blemas. Aqueles que preferiram não conceituar energia teriam tido mais dificuldade de organizar suas idéias a respeito, no momento do teste. As demais respostas podem ser agrupadas em algumas categorias, mostrada na Figura 4-1 e discutidas a seguir.

[ 97 ] Ver, por exemplo, TRUMPER, Ricardo. A survey of conceptions of energy of Israeli preservice high school biologyteachers. International Journal of Sience Education , v.19(1), p. 31-46, 1997.

trado em livros do ensino fundamental por exemplo [^99 ]: “Sempre que acontece algo com a matéria existe participação de energia. Podemos dizer, de forma simples, que a energia é algo capaz de produzir um esforço, um trabalho, um movimento, uma mudan- ça na matéria.” A mudança também é vista sob a forma da entrada e saída de algo, libera- ção/perda ou absorção/ganho de energia:

‰ É algo que por influência do ambiente é ganho ou é perdido. ‰ É algo que pode ser liberada ou absorvida. ‰ É a forma sob a qual o calor é liberado. ‰ É qualquer manifestação gerado num processo. Por exemplo: a explosão de uma bomba libera energia; o aquecimento da água libera energia calorífera. Estas últimas respostas são semelhantes às encontradas por Watts [^100 ] e identi- ficadas como “produto”, pelo fato da energia aparecer como resultado de um processo. A noção de armazenagem da energia também se encontra presente, de modo implícito, o que pode servir de âncora para o ensino do conceito de energia interna. Por outro lado, a liberação e a absorção de energia são interpretáveis como transferências de energia entre sistema e vizinhanças, podendo vir a facilitar o ensino dos conceitos de calor e trabalho.

  1. TRABALHO A conhecida definição mecanicista de energia como capacidade de realizar tra- balho aparece como resposta majoritária nessa categoria. Algumas variações desse ti-

[ 99 ] SILVA JR., César da, SASSON, Sezar, SANCHES , Paulo Sérgio Bedaque.ed. São Paulo : Saraiva, 1993. Ciências: entendendo a natureza. 3a [ 100 ] WATTS. D. Michael. Some alternatives views of energy. Physics Education , v.18, p. 213-217, 1983.

po de associação apresentada pelos estudantes são:

‰ Algo que realiza trabalho. ‰ É tudo aquilo que proporciona trabalho, como no caso de um processo isotérmico em que calor é convertido em trabalho. ‰ É algo ao qual podemos associar trabalho, que é seu equivalente mecânico.

Há quem defina energia como quantidade de trabalho

‰ É o valor do trabalho necessário para levar um sistema de um estado inicial a outro.

ou como potência

‰ É a quantidade de trabalho realizado num espaço de tempo.

A definição da energia a partir do trabalho é difundida por livros didáticos de físi- ca [^101 ] e química [^102 ] para o ensino médio, embora também em nível universitário a energia seja introduzida como um conceito mecânico, para depois ser diferenciado, en- globando o calor como uma das formas de energia [^103 ]. Esta é, possivelmente, a causa para que os alunos apresentem esta concepção de energia. Em defesa dessa abordagem Warren afirma que a energia “só pode ser compre- endida se o estudante antes domina várias idéias básicas difíceis (particularmente força

e trabalho, e o conceito geral de conservação) e possui um extenso conheci-

[ [ 101 102 ] MÁXIMO, Antônio, ALVARENGA, Beatriz. (^) ] FELTRE, Ricardo. Química. 4a (^) ed. São Paulo : Moderna, 1994. v.2, p. 128. Física. São Paulo : Scipione, 1997. p. 237. [ 103 ] RESNICK, Robert. Op. Cit., v.1 e v.2.

‰ Medida de vibração das moléculas. ‰ Grau de vibração das moléculas de um sistema. ‰ Termo utilizado para quantizar o grau de agitação das partículas de uma certa por- ção de matéria.

Outros tipos de associação ocorrem com choques de partículas, movimento e interação moleculares:

‰ É o choque entre as partículas quando submetidas a um aumento de temperatura. ‰ Conjunto caracterizado por partículas e seu movimento. ‰ Capacidade que moléculas, átomos ou qualquer outra espécie possui de locomover e interagir com outras espécies. Na disciplina de Física Geral anterior à de Físico-Química há um capítulo sobre teoria cinético-molecular da matéria aplicada aos gases. Nessa teoria, a energia interna de um gás é identificada com a energia cinética das partículas que o constituem, prová- vel razão para o aparecimento dessa concepção de energia entre as respostas dos alu- nos. A existência de alguma relação entre energia e movimento das moléculas, ape- sar da precariedade das conceituações expostas, pode servir de ponto de partida para o ensino da energia interna como a soma das energias cinéticas moleculares com a e- nergia de interação das moléculas. Embora o ensino da termodinâmica seja predomi- nantemente fenomenológico, não pode prescindir de algumas interpretações com base em modelos corpusculares da matéria, como as variações de temperatura que ocorrem em expansões e compressões adiabáticas, por exemplo.

[ 108 ] LEHRMAN, Robert L. Energy is not the ability to do work. The Physics Teacher , v.11(1), p. 15-18, 1973.

  1. MATÉRIA ou QUASE-MATÉRIA As respostas incluídas nessa categoria referem-se à energia como substância ou com atributos quase-materiais:

‰ Energia seria uma “substância” que pode ser armazenada ou transformada em tra- balho, calor e outras formas de energia. ‰ É a essência primária do universo que o compõe em todas as suas formas e esta- dos de agregação. ‰ A definição física é a seguinte: matéria descondensada. ‰ É uma grandeza inerente a qualquer coisa que forma massa.

A materialização ou quase-materialização da energia é um fato conhecido na pesquisa sobre as concepções dos alunos [^109 ], havendo mesmo quem advogue seu ensino com base nessa idéia [^110 ]. O conceito de energia como substância não se res- tringe aos alunos, mas é também encontrado em livros de ciências do ensino funda- mental [^111 ] e ao longo da história da física [^112 ] como, por exemplo, os conceitos de ca- lórico e fluido elétrico. Um exame da estrutura dos conceitos de energia e de matéria, do ponto de vista fenomenológico [^113 ], nos mostra que ambos possuem atributos como: conservação,

[ [ 109 110 ] HIERREZUELO, José, MONTERO, Antonio. (^) ] SCHIMID, G. Bruno. Energy and its carriers. La ciencia de los alumnosPhysics Education , v.17, p. 212-218, 1982.. Barcelona : Laia/MEC, 1989. p.139. [ 111 ] LEMBO, Antônio, MOISÉS, Hélvio, SANTOS, Thaïs.51-52. Ciências: o corpo humano. São Paulo : Moderna, 1992. p. [ 112 ] DUIT, Renders. Should energy be ilustrated as something quasi-material? cation , v.9(2), p.139-145, 1987. International Journal of Science Edu- [ 113 ] SILVA, José Luis P. B., RESINES, Jose A., DE LA FUENTE, Maria Tereza. La diferenciación entre materia yenergía en la enseñanza secundaria. Anales del 2o (^) Simposio sobre La Docencia de las Ciencias Experimen- tales en la Enseñanza Secundaria. Madrid : Colegio Oficial de Biólogos, 1998. p.175-177.

trabalho, movimento molecular, matéria e multiformidade. De todas as respostas obti- das apenas 5% não puderam ser categorizadas desse modo. O número das categorias que se apresentaram em cada semestre investigado variou entre duas e cinco, confor- me o número de estudantes que responderam ao teste de conhecimento prévio. O crité- rio empregado para a seleção foi o comparecimento da concepção por mais de uma vez. Os dados mostram que os alunos ingressos na disciplina Físico-Química I durante o período investigado não possuíam o conceito científico de energia, cuja es- trutura é mostrada na Figura 3-3. Nenhuma das respostas referiu-se à conservação, da energia, seu principal atributo. Outras características gerais da energia — contenção, transferência, conversão e multiformidade — pouco foram citadas e, algumas vezes, apenas de modo implícito.

4.1.2 CONCEITO DE ENERGIA INTERNA

O conceito de energia interna é conhecido da maioria dos alunos. Sua ausência nas respostas dos testes foi de 20%. As concepções externadas (exceto 6%) foram a- grupadas nas seguintes categorias:

FIGURA 4-2: CONCEPÇÕES DOS ALUNOS SOBRE ENERGIA INTERNA

1. ENERGIA DO SISTEMA

Os alunos concebem, majoritariamente, a energia interna como a ener- gia do sistema. Alguns exprimem sua idéia de maneira direta:

‰ Energia de um sistema fechado. ‰ Energia contida em um corpo. ‰ Energia dentro de um sistema.

porém, a variedade das respostas demonstra a pluralidade de significados que o quali- ficativo interna, associado à energia, evoca nos alunos: energia intrínseca ( Energia in- trínseca dos corpos .), energia possuída ( É a energia que um sistema possui, não po- dendo ser medida, somente pode ser medida a sua diferença uma vez ocorrido algum processo no sistema .), energia contida ( É a energia característica contida no interior de um sistema .), energia própria, energia armazenada ( Energia própria, armazenada, em cada corpo .), energia disponível ( Energia disponível em um corpo .), energia total ( Ener- gia total de um sistema. ). Esta concepção é bem adequada aos nossos propósitos, pois consideramos a energia interna, do ponto de vista fenomenológico, como a energia possuída pelos sis- temas em virtude de sua existência material (ver Apêndice 1). Ademais, a idéia de con- tenção da energia que os alunos possuem é bem clara e certamente contribuirá na construção de um conceito superordenador de energia.

  1. ENERGIA DAS MOLÉCULAS DO SISTEMA A segunda concepção mais freqüentemente manifesta pelos alunos é que a e- nergia interna está associada às moléculas que compõem o sistema. Como já vimos, uma relação desse tipo ocorre também com o conceito de energia.

‰ Energia de um sistema que está ligada ao distanciamento entre as partículas e à a- gitação das mesmas. A interpretação molecular da energia interna é necessária para o entendimento de alguns fenômenos de interesse, como as variações de temperatura decorrentes de uma variação de volume ou de uma reação química que ocorre em um sistema. A exis- tência de algum tipo de associação entre energia interna e energia das moléculas do sistema é o ponto de partida para o ensino do conceito de energia interna como energia de movimento e interação molecular.

  1. ENERGIA COMO FUNÇÃO DA TEMPERATURA Essa concepção possivelmente tem sua origem na aprendizagem de aspectos quantitativos da teoria cinético-molecular e da termodinâmica nas disciplinas anteriores, como pode ser inferido das seguintes afirmativas:

‰ Num sistema, é a energia onde está envolvida a variação da temperatura. Através de uma série de considerações de ordem microscópica podemos chegar à que U = (3/2) nRT onde U: energia interna, R: constante dos gases e T: temperatura. Ma- croscopicamente temos que U = Q - W; onde Q: calor e W: trabalho.

‰ Em um sistema onde existe troca de calor e variação de temperatura, a energia in- terna depende da temperatura, quando não há variação de temperatura energia in- terna = 0.

A primeira resposta é uma interpretação resultante da teoria cinética dos gases. A se- gunda decorre da aprendizagem mecânica de que a variação da energia interna do gás

ideal é função apenas da temperatura, como também se verá nas resoluções dos pro- blemas do teste de conhecimento prévio. Outras respostas são menos precisas no que toca à relação entre energia interna e temperatura:

‰ Energia associadas as variações de temperatura do sistema. ‰ É uma variável de estado que está amarrada à temperatura.

De todo modo, a idéia de que a energia interna é uma função, ainda que impreci- sa e que se refira a apenas uma variável, serve de esteio para o futuro ensino dos as- pectos formais da termodinâmica.

  1. DEFINIÇÃO MATEMÁTICA Um quarto tipo de concepção é que a energia interna é tão somente uma variável computacional necessária na termodinâmica. Desse modo sua conceituação seria ape- nas matemática:

‰ Energia interna não é energia interior; é a energia de cuja variação é representada pela quantidade de calor e o trabalho produzido no sistema. ‰ Se temos um corpo e fornecemos a ele uma quantidade Q de calor e ele realiza um trabalho W, a energia interna do corpo é dada por ∆U = Q - W, ela é a diferença en- tre o calor fornecido e o trabalho realizado por um sistema. ‰ É a diferença entre a quantidade de calor fornecido e o trabalho realizado pelo sis- tema. Essa idéia poderia ser obstáculo à aprendizagem da termodinâmica macroscópi-

FIGURA 4-3: CONCEPÇÕES DOS ALUNOS SOBRE TRABALHO

  1. ENERGIA A maioria dos alunos conceituou trabalho como energia, por exemplo:

‰ Energia útil de um corpo. ‰ Energia despendida ou ganha por um sistema. ‰ É a energia que estava acumulada e que foi transformada ou transferida para outra posição ou estado.

Alguns procuraram ser mais específicos, explicitando uma finalidade para a e- nergia. Assim, o trabalho pode ter como objetivo a produção de movimento

‰ É a energia gasta para que um corpo se desloque. ‰ Energia necessária para tornar um sistema dinâmico. ‰ É o fluxo de energia de um ponto para outro, capaz de produzir movimento.

ou uma mudança de estado

‰ Energia usada para deslocar um sistema de um estado a outro. ‰ É a quantidade de energia gasta para modificar o estado de um sistema, ou utilizada pelo sistema sobre a vizinhança.

ou, o trabalho é vagamente associado a um processo

‰ Energia gasta para realizar um processo. ‰ É a energia necessária para a realização de um processo. ‰ Energia gasta para acontecer algum processo. Pode ser positivo ou negativo. ‰ Aproveitamento de energia, para a realização de alguma atividade.

Um aspecto comum à grande parte das respostas dessa categoria é a visão do trabalho como energia consumida ( gasta, necessária, usada, utilizada ) para a realiza- ção de algo. Apenas uns poucos alunos detêm a noção de diminuição e aumento da energia do sistema a partir da realização de trabalho, seja de modo explícito

‰ Energia cedida ou absorvida para levar um sistema do estado inicial a um estado fi- nal. ‰ Energia absorvida ou liberada que implica na modificação do sistema, dependendo apenas do seu estado inicial e final.

ou implícito

‰ Trabalho é a variação de energia cinética, também é de configuração de um siste- ma.

Este é um conceito vinculado à equação fenomenológica ∆U = Q - W, cuja leitura nos informa que a energia interna de um sistema fechado pode variar por calor — “transferência de energia, sem transferência de massa, através da fronteira de um sis- tema devido a uma diferença de temperatura entre sistema e vizinhança” [^116 ] — ou por trabalho, que representa uma variedade de modos de transferir energia que possuem outras causas diferentes da temperatura. Por exemplo, se a causa é uma diferença de pressões entre sistema e vizinhança, ocorre trabalho mecânico (de variação de volu- me), se uma diferença de potenciais elétricos, ocorre trabalho elétrico (de transporte de carga), se uma diferença de tensão interfacial, ocorre trabalho mecânico (de variação de superfície), e assim por diante, cada tipo de trabalho associado a uma causa distin- ta. Apenas 4% dos alunos conceituaram trabalho como processo porém, de modo inadequado

‰ É um processo físico ou químico onde se libera energia ou recebe energia. ‰ É um processo realizado através de energia, relacionado com a pressão e o volume de um determinado corpo ou meio. ‰ Processo no qual se gasta energia.

Embora a idéia de formas de energia tenha sentido na construção fenomenológi- ca do conceito de energia, uma vez aceita a conservação da energia e introduzido o conceito de transferência de energia, o trabalho adquire múltipla significação. Essa po- lissemia traz, obviamente, problemas à aprendizagem significativa que devem ser en- frentados no campo epistemológico, explicando-se a evolução conceitual da termodi- nâmica.

[ 116 ] Ibd., p. 34.

Contudo, há quem advogue a substituição do termo trabalho por outro como “va- riação na energia das vizinhanças mecânicas” [^117 ], ou simplesmente o ignore operando com variação de energia mecânica [^118 ]. O que os dois autores parecem esquecer é que o contexto científico é uma diferenciação do contexto social. Assim, o conceito mais amplo de trabalho se dá no nível social, polissêmico, comportando especificidades em várias áreas de estudo e no senso comum. Abolir o termo trabalho do jargão termodi- nâmico é negar-se à discussão da interpenetração dos diversos tipos de conhecimento que ocorrem no âmbito social. É, no mínimo, uma atitude irrealista de pretender fazer da termodinâmica um corpo de conhecimento isolado.

  1. FORÇA E DESLOCAMENTO As respostas constantes dessa categoria estabelecem, simultaneamente, rela- ções do trabalho com força e deslocamento

‰ É a relação entre força e deslocamento. ‰ Quando uma força provoca o deslocamento de um corpo. ‰ É a quantidade necessária para promover um certo deslocamento em um sistema sob determinada força.

apenas, com força

‰ É uma força aplicada a um meio capaz de provocar um deslocamento. ‰ É a ação de uma força sobre determinado corpo produzindo movimento. ‰ Trabalho é a força exercida pelo ou sobre o sistema pelo deslocamento.

[ 117 ] BARROW, Gordon M. Thermodynamicas should be built on energy — not on heat and work. Education , v.65(2), p. 122-125, 1988. Journal of Chemical [ 118 ] KEMP, H. R. The concept of energy without heat or work. Physics Education , v.19(5), p. 234-240, 1984.