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Dietrich Bonhoeffer, uma testemunha de Jesus Cristo no meio de seus irmãos, nascido a 04 de ... pela Editora Sinodal, São Leopoldo / RS: Discipulado.
Tipologia: Slides
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Não perca as partes importantes!
Bonhoeffer – “um luterano consciente”? [1] Esboço de uma relação [2]
Apresentação na Sociedade Internacional Bonhoeffer – Seção Língua Portuguesa / Brasil Seminário Teológico Escola de Pastores, Niterói / RJ, Rua Major Fróes, 59, 05/10/ 2013
Sempre grato a Eduard Haller , nonagenário, que me aproximou primeiramente ao testemunho de Dietrich Bonhoeffer
Ilustrações
Lado esquerdo do espaço do altar no templo evangélico luterano em Flossenbürg/ Baviera/Alemanha (localidade próxima à fronteira com a atual República Tcheca). Avista-se a placa de granito (matéria prima da região) em memória a Dietrich Bonhoeffer, afixada na parede.
A própria placa, decerrada em 09 de abril de 1954. Nela consta: Dietrich Bonhoeffer ein Zeuge Jesu Christi unter seinen Brüdern geb. 4 Febr 1906 in Breslau + 9 Abril 1945 in Flossenbürg. / Dietrich Bonhoeffer, uma testemunha de Jesus Cristo no meio de seus irmãos, nascido a 04 de fevereiro de 1906 em Breslau, morto a 09 de abril de 1945 em Flossenbürg. A formulação brotou da discussão acirrada na Igreja Evangélica na Alemanha pós-guerra sobre o fato de Bonhoeffer ser mártir propriamente dito ou não [3]. Ela surgiu dentro da Fraternidade de Pastores, congregada em e para oração, da Baviera, sob a coordenação de Karl Steinbauer, repetidas vezes encarcerado durante a época hitlerista em consequência de seu “dar testemunho mútuo [de Jesus Cristo a todos indistintamente, a membros da hierarquia igrejeira e altos representantes do regime da National-Sozialistische Deutsche Arbeiterpartei – NSDAP / Partido Nacional-Socialista Operário Alemão]” [4] , e de Hermann Dietzfelbinger, mais tarde bispo da Igreja Evangélica Luterana na Baviera (1955-75) [5].
Ao lado do conjunto dos cubículos, encontrava-se a forca.
Em 1970, colocou-se no pátio de suplício esta placa comemorativa, feita de granito. Na placa, foi gravada uma cruz; a viga transversal menciona 2 Tm 1.7 – Lutero traduz a passagem, vertida para o português, assim: Deus não nos deu o espírito do medo, mas da força e do amor e da disciplina. É bem provável que a escolha do versículo se deva a sua menção em carta de Bonhoeffer aos pais [7]. [Desconheço se é coincidência ou não que o mesmo versículo conste no memorial dedicado a Gustavo II Adolfo, rei da Suécia, que tombou na batalha de Lützen, perto da cidade de Lípsia/Saxônia/Alemanha, em 10 de novembro de 1632 {aniversário de Martim Lutero}, resguardando o poder político e a expressão cultural do protestantismo alemão.] Abaixo da cruz , lê-se (aqui vertido para o vernáculo): Na resistência contra ditadura e terror, deram sua vida para liberdade, justiça e dignidade humana ; seguem os nomes dos enforcados no dia 09 de abril de 1945 – afora Dietrich Bonhoeffer, quase todos oficiais alemães [8].
O monte de cinzas (e de esqueletos?) de falecidos e assassinados no campo de concentração. Presume-se jazer ali também Dietrich Bonhoeffer.
O espaço do altar na capela construída pelos sobreviventes do campo de concentração. No lado direito de quem entra no recinto, ainda antes da primeira fila de bancos, colocou-se, recentemente, um busto em bronze de Dietrich Bonhoeffer.
Exemplos do testemunho comum de Bonhoeffer e Lutero quanto a partes centrais da fé em Jesus Cristo
Para que cada interessado descubra por si próprio tal comunhão na fé e sua articulação, independentemente de assim chamados especialistas, arrolo publicações de Dietrich Bonhoeffer e de Martim Lutero que temos na língua Pátria, tentando formar uma sinopse [12]. Acredito que ela possa auxiliar a pessoas que querem aprender a crer [13] e se deixar preparar para o serviço daquilo que é justo [14] em nossos dias. Sinto-me, antes de tudo, ligado a esta gente e seu devedor. Ela importa para tornar visível que a vivência em, com, sob Jesus Cristo é necessária, sim, peremptória. Neste afã, pessoas estão sendo companheiros/as de Bonhoeffer e Lutero, cujo testemunho é experimentado e vivido.
Quanto a Dietrich Bonhoeffer, temos os seguintes escritos dele, todos publicados pela Editora Sinodal, São Leopoldo / RS: Discipulado. 11ª ed., 2011; Ética (comp. E. Bethge). 9ª ed., 2009; Prédicas e alocuções (comp. H. Malschitzky), 2007; Resistência e Submissão – Cartas e anotações na prisão, 2003; Tentação. 6ª ed. revis., 2003; Vida em comunhão. 9ª ed. revis., 2011. Não se deve omitir aqui as traduções para o espanhol de Sanctorum Communio – Dogmatische Untersuchung zur Soziologie der Kirche / Sociologia de La Iglesia – Sanctorum communio. Salamanca: Sigueme, 1969, de Christologie / Cristologia – Preleção de 1933 (reconstruída por E. Bethge à base de anotações de ouvintes) sob o título Quién es y quién fue Jesucristo? – Su historia y su mistério. Barcelona: Ariel, 1971 e de Das Wesen der Kirche / La Esencia de La Iglesia , Dein Reich komme! / Venga a Nosotros Tu Reino , Die erste Tafel der Zehn Worte / La Primera Tabla de Las Diez Palabras , Das Gebetbuch der Bibel / El Libro de Oración da La Biblia – In: Creer y Vivir. Salamanca: Sigueme, 1974. Conditio sine qua non para fazer jus a D. Bonhoeffer em seu contexto original, bastante estranho para o público eleitor latino-americano, é a biografia monumental que E. Bethge – seu aluno, amigo e parente, receptor da maioria das cartas que Bonhoeffer escreveu nas prisões, e assim seu intérprete-mor – elaborou: Dietrich Bonhoeffer , Teológo, Cristiano, Hombre actual. Bilbao: Desclée de Brouwer, 1970. Referente a Martim ou Martinho Lutero, dispomos de Obras Selecionadas / OSel – desde 1987 foram editados 11 volumes e são planejados mais alguns – organizados, impressos e divulgados pela Comissão Interluterana de Literatura / CIL (São Leopoldo), via Editora Sinodal, São Leopoldo, e Concórdia Editora, Porto Alegre, e, agora também, Editora Ulbra, Canoas. CIL já tinha publicado em 1984 Martinho Lutero, Pelo Evangelho de Cristo – Obras Selecionadas de momentos decisivos da Reforma / PEvC , e, no ano anterior, por ocasião do 500º aniversário de Lutero, passagens de suas prédicas e interpretações bíblicas, em CASTELO FORTE – Devoções Diárias, dirigidas especialmente às comunidades. No ano de 2012 lançou, em tradução atualizada, Catecismo Maior do Dr. Martinho Lutero. A Pastoral Popular Luterana / PPL, ligada à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, divulga, desde 2002, em seu devocionário anual, SEMENTE DE ESPERANÇA / SE, 12 trechos de Lutero acerca de
questões pertinentes, com breve introdução, por exemplo, no presente ano, a respeito daquilo que ele diz sobre a juventude e, no próximo, acerca de Lei e Evangelho.
Eis, então, os exemplos:
De saída, vale sublinhar que não se trata de arrolar citações textuais de Lutero que Bonhoeffer faz, volta e meia, em todas as suas obras [15]. Salta aos olhos já de um/a leitor/a iniciante, que o último menciona o primeiro bastante, aliás mais do que qualquer teólogo de seu presente e passado. Hoje e aqui, pretende-se apenas indicar onde e quando – pelo menos como vejo por ora – de Bonhoeffer e de Lutero são “um o coração e a alma” (At 4.32) [16].
1) A centralidade de Jesus Cristo em simplesmente tudo o que dizem, escrevem e fazem. Bonhoeffer e Lutero são cristólogos até a medula. Esta palavra reflete tudo. Quer dizer: Jesus Cristo lhes é, em primeiro lugar, Salvador e Sacramento, e, em segundo, em decorrência, mestre e exemplo. Esta diferença, entre Salvador e exemplo, ambos têm como categorial. Aí há concordância plena. O que é relativamente fácil de verificar. Inexiste outra assertiva da fé e reflexão dela, onde ambos ficam tão entrelaçados [17]. Suas formulações concretas podem ser diferentes, mas o sentido, o afã, o escopo são idênticos. O material de parte a parte é abundante, impossível explaná-lo agora; restrinjo-me a trechos especialmente expressivos: Bonhoeffer, Discipulado , p. 198-203, Ética , p. [121]-135, Resistência e Submissão , p. 434-40 < > Lutero, PEvC , p. 30s.; OSel v. 2, p. 436-60, v. 5, p. 24-84 e 87-109, v. 11, p. 27.1-31.24.
2) Lei e Evangelho. Para Lutero, a Palavra de Deus sucede sempre de forma dupla, contudo unida, em Lei e Evangelho. Apenas quem é ciente deste fenômeno ímpar e se debruça sobre ele é considerado por Lutero teólogo, sim, cristão: OSel v. 8, 171-6. 183- 95, v. 10, 22-557 e SE 2014 (sempre no início de cada mês). As pessoas que aprenderam e aprendem com o pregador de Wittenberg, entre elas, Dietrich Bonhoeffer, aplicam essa asserção inconfundível. O último o fez marcadamente em duas ocasiões: na discussão acerca de Confissão de Bethel , 1933, fato histórico a que me aterei ainda [18] , e em Ética , p. 225-9.
3) Confissão e absolvição dos pecados em particular. Lutero e Bonhoeffer foram curas de pessoas por excelência [19] ; seu jeito curador continua inspirando poimênicos /as em nosso meio. Longe de ser ideia forçada, é compreensão abalizada de gente que entende mais do que eu de nossos bem-aventurados: o testemunho existencial deles era intrinsecamente poimênico e visava com efeito à edificação pastoral de comunidade ou comunhão de irmãos[/ãs] localizada. A ênfase que Bonhoeffer colocou na confissão dos pecados concretos perante o irmão e na absolvição dos pecados pelo irmão, sendo o respectivo irmão o representante de Jesus Cristo, tem sua precursora na pregação e prática de Lutero: Bonhoeffer, Vida em comunhão , p. 97-107 < > Lutero OSel v. 7, 442.23-446.35, 462.1-464.6 = Catecismo Maior do Dr. Martim Lutero , p. 130-4.
constata: “ Eu cooperei na Confissão de Bethel deveras com entusiasmo ” [29]. Conforme levantamentos quanto ao surgimento da primeira versão do documento e cavações acerca de sua mensagem teológica e pastoral original bem como de sua particular importância dentro do conjunto dos testemunhos da IC, que, na esteira de E. Bethge [30], diversos pesquisadores [31] realizam, fica claro que Bonhoeffer, Hermann Sasse [32] e Georg Merz [33] foram os autores determinantes, decididamente contrários aos disparates dos CrA. O texto foi “obra de uma feliz cooperação” (H. Sasse) entre os três teólogos “evangélicos luteranos cônscios” [34].
A Confissão de Bethel contém um trecho intitulado “A Igreja e os Judeus” [35] ; aí deu contribuição significativa Wilhelm Eduard Vischer [36]. No intento de destacar Lei e Evangelho e observar como a máxima está sendo empregada por Bonhoeffer in statu confessionis , neste ponto extremamente sensível, e na qual teimou [37] , insiro aqui, em português, as seguintes assertivas do referido capítulo. As explicações em colchetes procuram ajudar na compreensão do texto, convenhamos, difícil de entender para pensamento e ambiente eclesiásticos brasileiros correntes.
“Nós condenamos cada tentativa de comparar ou confundir a missão histórica de povo qualquer que seja com a tarefa de Israel na história da salvação [Os CrA propagavam vivência e missão do povo alemão como parte integrante da história da salvação.] ...Nós somos contra a iniciativa [38] de que se roube a promessa com que a Igreja evangélica alemã foi agraciada [com a prédica doEvangelho de Jesus Cristo, que fora renovada na Reforma] , transformando-a em uma Igreja do Império de cristãos de origem ariana [O alvo dos CrA.]. Pois, desta feita, se colocaria uma lei racista [do estado alemão da época] ante a entrada para a Igreja e se transformaria esta Igreja [a Igreja evangélica alemã] em uma comunidade legalista judaica-cristã [cf. Gl 2.4-6.12] ... A particularidade dos cristãos de origem judaica não reside em sua raça ..., mas, exclusivamente, na fidelidade específica de Deus para com Israel segundo a carne [no sentido de que uma parte dele integre {‘o resto santo`} à Igreja; cf. Rm 9-11]. O fato de que o cristão de nascença judaica não ocupa um lugar especial na Igreja em consequência de uma lei qualquer faz com que ele [o judeu- cristão] seja um monumento vivo da fidelidade de Deus e um sinal [comprobatório] para a derrubada da cerca entre judeus e pagãos [efetuada por Jesus Cristo; cf. Ef 2.11-22] e que a fé em [Jesus] Cristo não possa ser desvirtuada em uma religião nacional ou em um cristianismo que combine com a raça ariana [Objetivo notório e apregoado pelos CrA.]. Os cristãos que vieram do âmbito pagão [todos os povos não judeus, inclusive o alemão] precisam, eles próprios, antes se expor à perseguição do que abrir mão – seja por livre e espontânea vontade [por decisão sinodal] ou seja obrigado [por força da lei racista do estado] – da fraternidade eclesial criada por Palavra e Sacramento com os judeus- cristãos, e seja em um ponto sequer” [39].
Estas passagens são repletas de alusões a linguagem e convicções de Lutero e da tradição doutrinária evangélica luterana ortodoxa. Sua enumeração e análise não vêm ao caso agora. O que interessa mesmo é enfocar o conceito Lei e Evangelho.
A Confissão de Bethel , na versão original, assegura que nenhuma lei estatal pode ou deve definir o que vem a ser Igreja e determinar quais são seus membros. Muito
menos ainda, a própria Igreja pode ou deve colocar proibições que impossibilitam que pessoas, quaisquer que sejam, entrem na Igreja, tornem-se seus membros, sejam aceitas e tratadas como iguais – aliás, necessitando, como todos e todas na Igreja, em vida e morte e depois, de Jesus Cristo. Jesus Cristo chama e cria sua Igreja mediante a pregação do Evangelho e a ministração dos Sacramentos sem acepção da pessoa. Na medida em que a Igreja é ciente disso e age em conformidade, ela é de Jesus Cristo, é a Igreja do Evangelho. Caso se introduza na Igreja, que foi selada por Palavra e Sacramento de Deus, sponte sive non sponte , pré-requisitos e obstáculos estranhos ou se crie separações e exclusões contrárias a Palavra e Sacramento – na época, surgidos do ideário racista – ela, a Igreja assim cerceadora, deixa de ser Igreja do Evangelho e vira antro da Lei. Para Bonhoeffer, os CrA e seus simpatizantes igrejeiros advogam uma Igreja da Lei, que renega o Evangelho. A tentação de cercear a Igreja arbitrário e legalisticamente acompanha a fé cristã desde sempre. Em seu início, havia grupos vindos do judaísmo que afirmaram que única e exclusivamente a pessoas circuncidadas e observantes de determinadas leis judaicas é franqueado ser da Igreja, corpo de Jesus Cristo. O que o apóstolo Paulo combateu como negação da “liberdade para a qual Cristo nos libertou” (Gl 5.1[-12]; cf. a epístola inteira; veja At 15.1-34 e a fundamentação teológica de Paulo para a coleta organizada por ele em favor da[s] comunidade[s] na Palestina: 2 Co 8s.), entre os povos de todas as origens, em todos os lugares e todas as épocas. Para Bonhoeffer, os CrA e seus simpatizantes igrejeiros são – que ironia, já que foram antijudeus por definição e convicção – iguais àqueles cristãos judeus-cristãos [40] que colocaram leis despóticas, deduzidas da história israelita e as atualizando, para que a pessoa fosse aceita na Igreja de Jesus Cristo.
O mais desafiador e inquietante em tudo isso: Bonhoeffer – após ter constatado “a prédica insuficiente sobre a Confissão dos Pecados e a Santa Ceia” , acrescentado “apenas do uso adequado de Confissão e Ceia resultam os pensamentos adequados [a respeito destas partes]” e afirmado sua crescente admiração pela garra pastoral- teológica ao redor da Santa Ceia expressa no documento confessional em tela [46] – repete com suas palavras as formulações afiadas da FC acerca das diferenças entre
N o t a s
1 H. E. Tödt. In: Dietrich Bonhoeffer Werke v. 1. München: Kaiser, 1986. p. XV. O termo alemão que Tödt usa na caracterização de Bonhoeffer podia se traduzir também com “convicto, assumido”. Segundo E. Bethge, um punhado de gente que lê as primeiras publicações de Bonhoeffer, o considera “um luterano teimoso” (Dietrich Bonhoeffer und die Juden. In: E. Feil al ., Konsequenzen [cf., abaixo, n. 2], p. 185). P. L. Lehmann chama Bonhoeffer de “o luterano passional” ( apud J. H. Burtness. In: Chr. Gremmels [Hg.], Bonhoeffer und Luther [cf., abaixo, n. 2], p. 172). 2 O palavra “relação” foi escolha proposital. Sendo neutro, o termo serve para se achegar à justaposição de Bonhoeffer e Lutero. Relacionar os dois de modo adequado está intrinsecamente ligado ao grau de conhecimento de seu legado. Sob tal condição, ocorre que se afirme paralelismo casual ou certa contiguidade entre os dois, também que haja influência de Lutero sobre Bonhoeffer, ou, que este esteja na linha do wittenberguense, até, que se encontre em dependência dele. Seja como for, vale recordar e insistir no contexto: não há originalidade em reflexão e prática da fé no povo peregrino de Jesus Cristo. Original e basilar em enunciado e ação é tão-só ele, o próprio Jesus Cristo, presente no e atuando via Espírito Santo. Seus discípulos, suas discípulas em nada contribuem aí, quando muito, conseguem esboçar desdobramentos ou consequências – por sinal, fracos, cambaleantes, sempre renováveis; jamais chegam além de indicar para aspectos originários de forma passageira – aspectos de base, isto é, cristo-cêntricos, que desde o início foram colocados, incutidos, repetidos, cuja importância fora testemunhada em todas as épocas, em muitos lugares e diferentes línguas. Estou inclinado a introduzir na descrição do númeno aludido a diferenciação que Bonhoeffer faz entre cantus firmus e contrapontos invertíveis ( Resistência e Submissão [cf., abaixo, II – Introdução], p. 402s.). Cantus firmus, então, corresponderia ao original, o qual Jesus Cristo personifica em ser e agir / em agir e ser, e contrapontos corresponderiam a desdobramentos e consequências temporários do original, os quais cristãos e cristãs ensaiam no decorrer da história. Existem diversas abordagens a respeito da relação entre Lutero e Bonhoeffer. Arrolo as seguintes: Chr. Gremmels (edit.), Bonhoeffer und Luther – Zur Sozialgestalt des Luthertums in der Moderne / Visando à morfologia social do luteranismo em tempos modernos. München: Kaiser, 1983 [Internationales Bonhoeffer Forum Forschung und Praxis 6]. H.-W. Krumwiede, Dietrich Bonhoeffers Luther-Rezeption und seine Stellung zum Luthertum / A recepção de Lutero em/por Dietrich Bonhoeffer e seu posicionamento perante o luteranismo [de seus dias]. In: W.-D. Hauschild alii (edits.), Die Lutherischen Kirchen und die Bekenntnissynode von Barmen / As Igrejas Luteranas e o sínodo confessante de Barmen. Göttingen: Vandenhoeck, 1984. p. [206]-
13 Cf. D. Bonhoeffer, Resistência e Submissão , p. 495; M. Lutero: “A fé não é nenhuma arte fácil, pelo contrário, é algo tão elevado, mas tão elevado, que a pessoa teria de aprender nela durante 100.000 anos se vivesse tanto tempo” ( WA 29, 494.14s.; tradução: AB). 14 Cf., acima, nota 9; M. Lutero, OSel v. 2 (cf., abaixo, II – Introdução), p. 174 – Prefácio. 15 Citas assim aparecem especialmente em suas manifestações pastorais-comunitárias, como Prédicas e alocuções , p. 16.29.48, e Creer e Vivir (El Libro de Oración da La Bíblia), p. 138,142s.,152, servindo de síntese final e reforçadora daquilo que Bonhoeffer quer comunicar.
16 Cf. a afirmação, melhor o testemunho, de G. Ebeling, aluno de Bonhoeffer e intérprete vitalício de Lutero: “Eis minha convicção: Bonhoeffer e Lutero são em meu coração um só” ( apud T. Karttunen, Die Luther-Lektüre Bonhoeffers. In: K. Grünewaldt alii , o. c. , p. 10 – n. 4; tradução: AB). 17 Por exemplo, E. Bethge fala em “ética cristológica ” (grifo meu) no tocante às reflexões éticas de Bonhoeffer (Dietrich Bonhoeffer und die Juden, p. 200) e M. Abraham, em “eclesiologia cristológica ” (grifo meu) no tocante às reflexões eclesiológicas de Bonhoeffer (K. Grünewald alii , o. c. , p. 150). 18 Veja, abaixo, III. 1. 19 Este traço poimênico acentuado sobressai em sua lida com pessoas em situações limítrofes: D. Bonhoeffer, Resistência e Submissão , p. 190-4 < > M. Lutero exerce seu cuidado de pessoas em perigo, inclusive via correspondência (veja WA Br [cartas] 1- 18; cf. a interpretação empática de G. Ebeling, Luthers Seelsorge – Theologie in der Vielfalt der Lebenssituationen an seinen Briefen dargestellt / A cura d´alma de Lutero – Teologia na complexidade das situações da vida, exposta através de suas cartas. Tübingen: Mohr, 1997); um número ínfimo das mesmas será publicado em OSel. 20 E. Bethge, Dietrich Bonhoeffer , p. 50s.53.66. 21 M. Lutero, OSel v. 6, 286.36-299.18, 302.1-303.26, 306.35-329.42, 331.36-336.20, 337.1-339.14, 342.1-359.19, 362.34-401.7. Talvez ajudem no entendimento da complexa matéria, as “introduções” às diferentes manifestações de Lutero, trazidas no vernáculo. 22 Em meados de 1940, D. Bonhoeffer viu em Hitler o anticristo, que deveria ser eliminado, independentemente de seu êxito militar e político: D. Bonhoeffer, Gesammelte Schriften [edit. E. Bethge] v. I / Ökumene – Briefe, Aufsätze, Dokumente 1928-1932. München: Kaiser, 1958-. p. 398.511 / GS. 23 D. Bonhoeffer, GS v. II / Kirchenkampf und Finkenwalde (Resolutionen-Aufsätze-Rundbriefe 1933 bis 1943), 1959. p. 48. 24 De momento, não consigo localizar esta sentença. A figura se encontra em OSel v. 2, p. 156 [15.]. 25 Talvez Bonhoeffer a exprima em “Jonas” ( Resistência e Submissão , p. 554s.). Insofismável, no entanto, ante o bispo anglicano George Bell de Chichester ( GS v. I, p. 395.508s.). Lutero a focaliza e fundamenta, p.ex., em OSel v. 1, 429s. [5.].433s. [12.-14.].435s. [18.], v. 2, 444.456s. 26 D. Bonhoeffer, GS v. II, 1959. p. 91-119. 27 Cf. H. Faulenbach, Deutsche Christen / CrA. In: H. D. Betz alii , Religion in Geschichte und Gegenwart – Handwörterbuch für Theologie und Religionswissenschaft / RGG. 4. ed., totalmente reelaborada. Tübingen: Mohr, 1998-. v. 2, colunas 698-701; K. Meier, Deutsche Christen / CrA. In: G. Krause alii , Theologische Realenzyklopädie. Berlin/New York: Gruyter, 1982. p. 552-4. 28 D. Bonhoeffer, GS v. II, p. 78s. (tradução: AB). 29 p. 132 (tradução: AB). 30 E. Bethge: Introdução para a Confissão de Bethel. In: GS v. II, p. 80-9; Dietrich Bonhoeffer , p. 414-9; Dietrich Bonhoeffer und die Juden. In: E. Feil, o. c. , p. 188-91. 31 Cf. M. M. Lichtenfeld, Georg Merz – Pastoraltheologie zwischen den Zeiten. Leben und Werk in Weimarer Republik und Kirchenkampf als theologischer Beitrag zur Praxis der Kirche. Gütersloh: Gütersloher, 1997. p. 328-32 [W.-D. Hauschild alii {edits.}, Die Lutherische Kirche. Geschichte und Gestalten. Band 18]. Recentemente, A. Pangritz, Die “Politik Gottes” mit Israel. Über Wilhelm Vischers Beitrag zum “Betheler Bekenntnis”. In: H. Bedford-Strohm alii [edits.], Evangelische Theologie 72. Jahrgang / 3-