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Provérbio Popular: Um Encontro Inesperado, Notas de estudo de Literatura

Neste documento, encontramos uma história de provérbio popular russa que conta a história de antón antónovitch skvozník-dmukhanóvski e suas interações com vários personagens, incluindo khristian ivánovitch guíbner, piótr ivánovitch dóbtchinski e bóbtchinski, ana andréievna e sua filha mária antónovna, entre outros. A história aborda temas como a importância da natureza na cura de doenças, a dificuldade de se comunicar com pessoas de línguas diferentes, e a importância de cuidar da saúde e da saúde mental. O texto também menciona a revista progressista 'o telégrafo de moscou'.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Amazonas
Amazonas 🇧🇷

4.4

(80)

224 documentos

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A UNESCO anunciou o ano de 2009 como “o ano de Gógol” e inúmeras exposições e eventos estão previstos para este ano na Rússia e no mundo todo em comemoração ao bicentenário do nascimento deste gigante da literatura russa. Personalidade bastante singular, altamente enigmática, Gógol deixa-se revelar em mutiso de seus escritos. A obra de Gógol como um todo tem sido considerada por uma parcela da crítica como expressão satírica da realidade russa na primeira metade do século 19, detectando-se uma maneira peculiar de “ver” o mundo e as coisas, isto é, sua “óptica desautomatizante”. O traço da obra gogoliana se revela por meio de uma espécie de acumulação absurda de detalhes que fazem da realidade um aglomerado de elementos contraditórios, mas que revelam na sua mais profunda essência, tornando esse caos fantástico e desconexo a sua mais fiel expressão. Nos textos de Gógol o sobrenatural e o inusitado surgem naturalmente do real e o absurdo que daí resulta se destaca do cotidiano mais comezinho no qual todos os opostos se tocam e onde o trágico e o cômico se mesclam a elementos de terror e humor. Os textos de Gógol são, portanto, poesia em ação e, como tal, podem desvelar os mistérios do irracional, mesmo que, muitas vezes, sob as máscaras da racionalidade.

Sumário

Personagens ......................................................................... 11 Ato 1 ........................................................................................ 13 Ato 2 ....................................................................................... 41 Ato 3 ........................................................................................ 69 Ato 4 ....................................................................................... Ato 5 ...................................................................................... 157 O Inspetor Geral Comédia em 5 atos (1836) A culpa não é do espelho se a cara é torta. Provérbio popular

Ato 1

Sala na casa do prefeito.

Cena 1

O prefeito, o encarregado da assistência social, o inspetor de escolas,

o juiz, o comissário de polícia, o médico e dois policiais.

Prefeito Chamei-os aqui, meus senhores, para lhes dar uma notícia bem desagradável. Está a caminho um inspetor geral. Amós Fiódorovitch Como? Um inspetor?!! Artémi Filípovitch Como? Um inspetor?!! Prefeito Um inspetor de Petersburgo, incógnito. E, ainda por cima, em missão secreta. Amós Fiódorovitch Essa não!! Artémi Filípovitch Era só isso que faltava!! Luká Lukítch Santo Deus! E ainda por cima em missão secreta! Prefeito Eu bem que pressentia: sonhei durante toda a noite com duas ratazanas impressionantes. Palavra de honra, nunca vi nada parecido: pretas, de tamanho sobrenatural! Chegaram bem perto, cheiraram e foram embora. Vou ler para os senhores a carta que recebi de Andrei Ivánovitch Tchmykhov, aquele que o senhor, Artémi Filípovitch, conhece bem. Olha o que ele escreve: “Meu caro amigo, compadre e benfeitor”... (Balbucia palavras a meia-voz, correndo os olhos com rapidez.) “...em informá-lo...” Ah! Aqui: “A propósito, apresso-me em informá- lo de que chegou um funcionário autorizado a inspecionar todo o estado e principalmente o nosso distrito. (Levanta um dedo de forma significativa.) Soube disso por meio de gente de confiança, apesar de o ditocujo se apresentar como

um indivíduo qualquer. Como sei que você, como todo mundo, tem lá os seus pecadilhos, pois você é um homem inteligente e não gosta de deixar passar o que lhe cai nas mãos...” (Interrompe.) Bem, já que estamos entre nós... “...então aconselho-o a tomar precauções, mesmo porque ele pode chegar a qualquer momento, se é que já não chegou e está hospedado incógnito em algum canto... Ontem eu...” Bem, aqui já vêm assuntos de família: “Minha irmã Ana Kirílovna veio nos visitar com seu marido; Ivan Kirílovitch engordou muito e continua tocando violino...” e etc. etc. Vejam só que situação. Amós Fiódorovitch É verdade. Que situação extraordinária, muito extraordinária! E não deve ser à toa. Luká Lukitch Mas para quê, Antón Antónovitch, para que isso? O que vem fazer aqui um inspetor? Prefeito Por quê?! Só pode ser coisa do destino! (Suspira.) Até hoje, graças a Deus, só se meteram com outras cidades, agora chegou a nossa vez. Amós Fiódorovitch Eu acho, Antón Antónovitch, que isso aí tem uma razão mais sutil e bem política. É o seguinte: a Rússia... é isso mesmo... a Rússia deseja fazer a guerra e aí, vejam só, o ministério manda um funcionário espionar se há traição em algum lugar. Prefeito Mas que asneira! Um homem inteligente como você! Traição numa cidadezinha dessas! Por acaso estamos numa fronteira? Daqui desta cidade, nem viajando três anos seguidos você pode chegar a algum lugar. Amós Fiódorovitch Não, não é bem assim, o senhor não... eu quero dizer... Esses superiores são bem espertos: mesmo longe, estão sempre de olho vivo. Prefeito Estejam ou não de olho, os senhores já estão avisados. Prestem atenção: de minha parte, já dei algumas ordens e os aconselho a fazer o mesmo. Principalmente o senhor, Artémi Filípovitch! Sem dúvida nenhuma, o tal funcionário vai querer, antes de mais nada, averiguar as instituições da assistência social sob sua responsabilidade; por isso, faça tudo ficar bem decente: os gorros devem estar limpos para que os doentes não pareçam ferreiros como sempre. Artémi Filípovitch Isso é o de menos. Até que dá pra eles ficarem limpos. Prefeito Isso mesmo. E também em cada cama deve-se escrever, em latim ou em qualquer outra língua — isto já é com o senhor, Khristian Ivánovitch -, o nome de cada doença, quando o sujeito adoeceu, data, hora... Também não é bom que os seus pacientes fumem um tabaco tão forte, que faz a gente espirrar, logo ao entrar. E seria ainda melhor se tivéssemos menos pacientes: podem até achar que são mal

Prefeito Ora, filhotinhos ou outra coisa qualquer, tudo é suborno. Amós Fiódorovitch Não senhor, Antón Antónovitch. Pois veja, por exemplo, se o casaco de peles de certas pessoas custa quinhentos rublos, ou o xale para a esposa... Prefeito Bem, e daí se o senhor recebe cachorros como propina? Em compensação, o senhor não acredita em Deus e nunca vai à igreja; mas eu, pelo menos, tenho uma fé inabalável e todos os domingos vou à igreja. Mas o senhor... Ah!, eu conheço o senhor muito bem: é só começar a falar da criação do mundo e os cabelos se põem em pé. Amós Fiódorovitch E olha que tudo isso com minha própria inteligência. Prefeito Mas veja que em alguns casos é pior ter muita inteligência do que não ter nenhuma. Aliás, eu apenas falei no tribunal de Justiça por falar, porque, pra dizer a verdade, é pouco provável que alguém vá lá algum dia xeretar: é um lugar tão formidável... está protegido por Deus. Quanto ao senhor, Luká Lukítch, como diretor de um estabelecimento de ensino, deve cuidar em particular dos professores. São pessoas bern cultivadas, sem dúvida alguma, com formação superior e tudo, mas têm condutas muito esquisitas, o que se deve, certamente, à sua condição de conceituadas. Um deles, por exemplo, aquele que tem uma cara gorda... não me lembro o nome dele, toda vez que sobe ao púlpito, não pode deixar de fazer uma ca reta assim (Faz a careta.) e depois, por debaixo da gravata, começa a passar a mão na barba. Ë claro que, se ele faz a tal careta diante de um aluno, ainda vai; talvez tenha que ser assim mesmo. Não posso dizer nada a respeito. Mas, pensem bem, se ele fizesse isso diante de um visitante, pegaria mal: o senhor inspetor, ou seja lá quem for, poderia tomar a ofensa para si, e aí, só o diabo sabe como tudo poderia acabar. Luká Lukitch Mas o que é que eu posso fazer? Já lhe falei várias vezes. Há alguns dias, quando nosso conselheiro entrou na classe, ele fez uma tal careta, coisa igual eu nunca tinha visto. Ele fez aquilo com as melhores das intenções, mas eu é que recebi o sermão: para que incutir na juventude ideias tão liberais? Prefeito Também tenho que lhe falar a respeito do professor de história. Ele sabe muita coisa, é evidente, um poço de conhecimentos, mas explica tudo com tamanho ardor que fica fora de si. Certa vez, fui ouvi-lo. Enquanto falava sobre os assírios e os babilónios, tudo bem, mas quando chegou em Alexandre Magno, nem posso descrever o que aconteceu. Deus me livre, ele desceu correndo do púlpito, até pensei que a escola estava pegando fogo, tal foi a força com que ele jogou uma cadeira no chão! E verdade que Alexandre Magno é um herói, mas para que quebrar as cadeiras? Para dar prejuízo ao erário! Luká Lukitch Ele é mesmo muito esquentado! Várias vezes já lhe chamei a atenção... e ele diz: “Seja como for, pela ciência dou a própria vida”.

Prefeito É, é uma lei inexplicável do destino: todo homem inteligente ou é bêbado, ou faz cada careta de que até Deus duvida. Luká Lukitch Deus nos livre de mexer com o ensino público, a gente tem medo de tudo. Qualquer um mete o nariz para mostrar que também é inteligente. Prefeito Isso ainda não é nada. O problema é esse incógnito maldito! De repente ele aparece: “Ah, vocês estão aí, meus pombinhos! Quem aqui é o juiz?” - “Liápkin- Tiápkin”. - “Pois que tragam aqui Liápkin Tiápkin! E quem é o diretor da assistência social?” - “Zemlianíka”. - “Pois que tragam aqui Zemlianíka!” Isso é que é o pior!

Cena 2

Os mesmos e o chefe dos correios.

Chefe dos Correios Meus senhores, que funcionário é esse que está vindo para cá? Prefeito Por acaso o senhor não ouviu nada a respeito? Chefe dos Correios Ouvi sim. Piótr Ivánovitch Bóbtchinski acabou de me contar lá na agência. Prefeito E então? O que acha de tudo isso? Chefe dos Correios O que eu acho? Que vai haver guerra com os turcos. Amós Fiódorovitch E isso mesmo! É isso que eu também acho. Prefeito É... mas que fora deram esses dois! Chefe dos Correios É guerra com os turcos, sim. Tudo sujeira dos franceses. Prefeito

Ai, santo Deus! Prefeito Ora, não é nada, nada. Seria outra coisa se você tornasse isso público, mas na realidade é um assunto familiar. Amós Fiódorovitch Sim senhor, mas o que eu acho é que estamos numa bela encrenca! Confesso que queria vir aqui, Antón Antónovitch, só para lhe dar uma cadelinha. Irmã de sangue daquele cachorro que o senhor conhece. E o senhor soube que Tcheptovitch e Varkhovinski estão em litígio, o que para mim é a maior maravilha: caço coelhos nas terras de um e de outro. Prefeito Deus do céu, os seus coelhos agora não me dão o menor prazer: esse maldito incógnito não me sai da cabeça. A gente fica esperando que, de repente, a porta se abra e... pronto...

Cena 3

Os mesmos, Dóbtchinski e Bóbtchinski; ambos entram ofegantes.

Bóbtchinski Um acontecimento extraordinário! Dóbtchinski Uma notícia inesperada! Todos O quê? Mas o que foi? Dóbtchinski Uma coisa imprevista! Estávamos chegando ao hotel... Bóbtchinski (Interrompendo.) Eu e Piótr Ivánovitch estávamos chegando ao hotel... Dóbtchinski (Interrompendo.) Desculpe, Piótr Ivánovitch, eu vou contar. Bóbtchinski Ah, não, me desculpe, por favor, me desculpe, eu é que., você, assim, quer dizer, não tem lá muito estilo...

Dóbtchinski E você, vai se confundir todo e não vai se lembrar de nada. Bóbtchinski Palavra de honra que eu vou me lembrar. Vou me lembrar. Então não me atrapalhe que eu vou contar tudo, mas não me atrapalhe! Senhores, façam a gentileza de não deixar que Piótr Ivánovitch me atrapalhe. Prefeito Pois falem logo, pelo amor de Deus! O que aconteceu? Meu coração não vai aguentar. Sentem-se, senhores! Peguem as cadeiras! Piótr Ivánovitch, aqui está uma cadeira! (Todos se sentam ao redor dos dois Piótrs Ivánovitchs.) Então, o que foi que aconteceu? Bóbtchinski Espera aí, espera aí; vou contar tudo pela ordem. Nem bem eu tive o prazer de sair daqui, logo depois que o senhor se dignou a ficar bastante desconcertado com o recebimento da carta, bem... então dei um pulo lá... por favor, Piótr Ivánovitch, não me interrompa! Sei tudo, tudo, tudo, tudinho. - Então, pois bem, dei um pulo até a casa de Koróbkin. Como o tal Koróbkin não se encontrava, resolvi entrar na casa de Rastakóvski, mas como Rastakóvski também não estava, passei então pela casa de Ivan Kuzmítch para contar a novidade, que o senhor tinha recebido... é isso, saindo de lá me encontrei com Piótr Ivánovitch... Dóbtchinski (Interrompendo.) Perto da barraquinha onde se vendem pastéis. Bóbtchinski Perto da barraquinha onde se vendem pastéis. Daí, ao encontrar Piótr Ivánovitch, digo-lhe: “Por acaso já sabe da última? Que Antón Antónovitch recebeu por carta fidedigna?” Mas Piótr Ivánovitch já tinha ouvido falar disso pela sua despenseira, Avdótia, que não sei por que tinha sido mandada à casa de Filipe Antónovitch Potchetchúiev... Dóbtchinski (Interrompendo.) Foi buscar um barrilzinho para a vodca francesa. Bóbtchinski (Desviando a mão dele.) Buscar um barrilzinho para a vodca francesa. Aí, então, fui com Piótr Ivánovitch à casa de Potchetchúiev... Não, não, não, Piótr Ivánovitch, não me interrompa, por favor, não me interrompa!... Pois fomos à casa de Potchetchúiev, mas, pelo caminho, Piótr Ivánovitch diz: “Vamos dar uma passadinha na hospedaria. Sabe, o meu estômago... não comi nada desde cedo, o meu estômago está tremendo...” É sim, o estômago de Piótr Ivánovitch estava mesmo. “Na hospedaria”, - disse ele - “agora deve ter um salmão fresquinho e podemos também tomar umas e outras.” Nem bem entramos no hotel e, de repente, um jovem... Dóbtchinski (Interrompendo.) Bem-apessoado e à paisana... Bóbtchinski

Dóbtchinski Umas duas semanas. Chegou no dia de São Nunca. Prefeito Duas semanas! (À parte.) Meu Deus! Valham-me todos os santos! Nessas duas semanas espancaram a mulher do subtenente! Não alimentaram os presos! As ruas viraram uma zona, uma imundície! Uma vergonha! Uma calamidade! (Põe as mãos na cabeça.) Artémi Filípovitch O que fazer, Antón Antónovitch? Pois vamos todos ao hotel em missão oficial. Amós Fiódorovitch Não, de jeito nenhum! Em primeiro lugar, tem que ir o conselheiro-chefe, o clero, os comerciantes, é assim que mandam os dez mandamentos. Prefeito Não senhores, não! Por favor, eu mesmo vou resolver. Já passei por maus momentos na vida e consegui escapar e até me agradeceram; quem sabe Deus me ajude agora também. (Dirige-se a Bóbtchinski.) O senhor disse que ele é um jovem homem? Bóbtchinski Jovem. Não mais que vinte e três ou vinte e quatro anos. Prefeito Melhor ainda: é mais fácil sondar um jovem. Um velho diabo é que seria uma desgraça, um jovem é claro como a água. Meus senhores, de vossa parte, preparem-se, enquanto eu vou em pessoa, ou sei lá, com Piótr Ivánovitch para, digamos assim, dar um passeio não oficial para ver se os viajantes não estão tendo aborrecimentos. Ei, Svistunóv! Svistunóv Às suas ordens. Prefeito Vá depressa buscar o comissário d.e polícia. Não, espere, preciso de você. Mande alguém trazer, o quanto antes, o comissário de polícia e volte logo. (O soldado corre às pressas.) Artémi Filípovitch Vamos, vamos, Amos Fiódorovitch! Ainda pode acontecer uma desgraça. Amós Fiódorovitch Mas você tem medo de quê? Ponha uns gorros limpos nos doentes e acabou a história. Artémi Filípovitch Que gorros, que nada! Mandaram dar uma sopa de aveia aos doentes, mas nos corredores há um cheiro de repolho que a gente até tapa o nariz. Amós Fiódorovitch Mas eu, com relação a isso, estou tranquilo. Na verdade, quem vai querer se meter num tribunal de província? E se alguém der uma espiada em qualquer

papel, vai se arrepender de ter nascido. Pois eu, há quinze anos no cargo de juiz, fico só sentado e quando me ocorre dar uma olhadinha nos processos - ah! Deixo pra lá. Nem o próprio Salomão pode resolver onde começa a verdade e acaba a mentira. (O juiz, o encarregado da assistência social, o inspetor de escolas e o chefe dos correios saem e, à porta, chocam-se com o soldado que está de volta.)

Cena 4

O prefeito, Bóbtchimki, Dóbtchinski e o soldado.

Prefeito A carruagem está pronta? Soldado Está, sim senhor. Prefeito Vá para a rua... não, espere! Vá e me traga... Mas onde é que estão os outros? Será possível que você está sozinho? Eu já ordenei que também Prókhorov estivesse aqui. E onde está Prókhorov? Soldado Está na delegacia de polícia. Só que não pode ser útil no caso. Prefeito Como assim? Soldado Explico: trouxeram o dito-cujo de madrugada, bêbado de cair. Jogaram dois baldes de água em cima dele e até agora nada. Prefeito (Pondo as mãos na cabeça.) Ai, meu Deus, meu Deus! Vá depressa lá para a rua, ou não... Vá correndo ao meu quarto, está ouvindo, e me traga a espada e meu novo chapéu. Vamos embora, Piótr Ivánovitch! Bóbtchinski E eu? E eu?... Permita que eu vá também, Antón Antónovitch! Prefeito Não senhor, Piótr Ivánovitch. Impossível! Não é conveniente. E, além do mais, não vamos caber todos na carruagem. Bóbtchinski Não faz mal, não faz mal. Vou correndo como um pintinho atrás de vocês. Eu só quero dar uma espiadinha, olhar pela fresta da porta e observar como ele se comporta... Prefeito

Prefeito Pois veja o que você tem a fazer: o soldado Púgovitsin... que é bastante alto, deve ficar na ponte, dando uma olhada. Mande retirar imediatamente aquela velha cerca ao lado do sapateiro e coloque lá algumas placas de palha, para dar a impressão de um certo planejamento urbano. Quanto mais tudo estiver quebrado, mais se denota a atividade do dirigente. Ah! Santo Deus! Já ia me esquecendo de que ao lado dessa mesma cerca estão amontoadas quarenta carroças com toda espécie de lixo. Que cidade horrível! Basta a gente colocar em algum lugar um monumento qualquer ou uma simples cerca, e pronto — só o diabo sabe de onde trazem tanta porcaria! (Suspira.) E se o tal funcionário perguntar aos policiais: “Estão todos satisfeitos?” - Respondam: “Muito contentes, excelência”. E aquele que não estiver contente vai ver depois comigo o que é estar descontente... Ufa! Culpado, sou culpado. (Em vez do chapéu, pega a caixa.) Queira Deus que eu saia são e salvo de tudo isso o mais rápido possível e então vou acender uma vela tão grande como ninguém jamais fez e vou exigir de cada um desses comerciantes espertinhos três puds* de cera. Ah, meu Deus, meu Deus! Vamos embora, Piótr Ivánovitch. (Em vez ao chapéu, tenta vestir a caixa de papelão.)

  • Pud: medida antiga, equivalente a 13,3 quilos. Comissário de Polícia Antón Antónovitch, isso aí é uma caixa, e não o seu chapéu. Prefeito (Joga fora a caixa.) E por que não a caixa? Que me importa a caixa! Ah, e se perguntarem por que ainda não foi construída a igreja junto à Casa de Misericórdia, para a qual há cinco anos recebemos uma boa soma, não esqueçam de dizer que... que começamos a construir, mas que pegou fogo. Já apresentei um relatório sobre isso. Porque, senão, pode alguém dizer por esquecimento, ou por bobeira mesmo, que nem chegamos a começar a obra. E diga a Derjimórda que contenha um pouco os seus punhos; para manter a ordem, ele deixa todo mundo com o olho roxo, culpado ou inocente. Então vamos embora, vamos, Piótr Ivánovitch! (Sai e volta.) Ah, e não deixem os soldados saírem à rua sem roupa: esses miseráveis vestem só a parte de cima do uniforme por cima da camisa, e por baixo mais nada. (Saem todos.)

Cena 6

Ana Andréievna e Mária Antónovna entram correndo.

Ana Andréievna Onde é que eles estão? Onde? Ah, santo Deus!... (Abrindo aporta.) E meu marido? Antocha! Antón! (Fala muito rápido.) Tudo por sua causa, por sua causa! Que moleza: “Um alfinetinho, um lencinho”... (Corre até a janela, e grita.) Antón, para onde você vai, para onde? O quê? Já chegou? O inspetor? Tem bigodes? Que tipo de bigodes? Voz do Prefeito Mais tarde, benzinho, mais tarde! Ana Andréievna Como, mais tarde? Essa agora, mais tarde! Não quero saber de mais tarde... Só quero saber uma coisa: quem é ele, é coronel? Hein? (Aborrecida.) — Foi embora! Você vai ver só! E tudo por sua causa: “Maezinha, maezinha, espere, estou prendendo o lencinho na cabeça, já estou indo”. Viu o que você fez? Agora não sabemos nada de nada! Tudo por causa desse seu maldito coquetismo! Foi só ouvir que o chefe dos correios estava aqui e se pôs toda faceira diante do espelho: olha de um lado, e do outro... Você pensa que ele arrasta uma asinha por você, mas é só você virar as costas para ele logo lhe fazer uma careta. Mária Antónovna O que se há de fazer, mãezinha? De todo modo, daqui a duas horas vamos saber tudo. Ana Andréievna Daqui a duas horas! Muito obrigada. Que bela resposta! E que tal dizer que só daqui a um mês saberemos tudo ainda melhor? (Curva-se na janela.) Eh! Avdótia! O quê? Avdótia, você sabe se chegou alguém... Não sabe? Sua estúpida! Alguém está acenando? Pois que acene. Você bem que poderia ter perguntado. Saber alguma coisa! Mas nessa cabeça só tem besteira, só pensa em namorados. O quê? Saíram depressa? E você não correu atrás? Então vá, vá agora mesmo! Corra e descubra para onde eles foram. Isso mesmo, procure saber direitinho, que tal esse forasteiro, como é ele, está entendendo? Olhe pela frestra e veja tudo, que olhos ele tem, se são pretos ou não. E volte bem rapidinho, está me ouvindo? Vá depressa, depressa, depressa, depressa! (Fica gritando junto à janela, enquanto cai o pano. O pano esconde as duas.)

verdade! E o tecido é tão caro! Pura lã inglesa! Só o fraque deve ter custado cento e cinquenta rublos, mas, no mercado, vão arrematá-lo por uns vinte rublos. As calças, então, nem se fale - uma ninharia. E tudo isso por quê? Porque ele não quer saber de nada. Em vez de ir para a repartição, vai passear pelas ruas, jogar cartas. Ah! Se o meu velho patrão soubesse disso tudo! Não se importaria nem um pouco de ser ele um funcionário e levantaria a sua roupinha para lhe cobrir tanto de palmadas que lhe deixariam coceiras por mais de quatro dias. Se tem que trabalhar, então trabalhe. E agora o dono do hotel disse que não vai lhe dar mais nada de comer enquanto não pagar o que deve. E se a gente não pagar? (Suspira.) Ah! Meu Deus do céu! Pelo menos uma sopinha qualquer! Acho que seria capaz de comer o mundo inteirinho. Estão batendo, deve ser ele. (Pula da cama apressadamente.)

Cena 2

Óssip e Khlestakóv.

Khlestakóv Pegue isso! (Dá-lhe o chapéu e a bengala.) E de novo jogado na minha cama? Óssip E pra que eu preciso ficar jogado na sua cama? Por acaso nunca vi uma cama? Khlestakóv Mentiroso! Ficou na minha cama sim! Olha lá, está toda desarrumada! Óssip Pra que me serve a sua cama? Por acaso eu não sei o que é uma cama? Tenho pernas, posso muito bem ficar de pé! Pra que é que preciso da sua cama? Khlestakóv (Passeia pelo quarto.) Vá lá ver no saquinho, não tem mais tabaco? Óssip E como é que vai ter tabaco? O senhor fumou o último já faz quatro dias! Khlestakóv (Caminha mordendo os lábios de diferentes formas. Por fim, diz em voz alta e decidido.) Escute aqui, Ossip! Óssip O que deseja? Khlestakóv (Em voz alta, mas menos decidido.) Vá lá embaixo. Óssip Lá embaixo onde? Khlestakóv (Com voz já nada decidida, bem menos alta e semelhante a uma súplica.) Lá

embaixo, na copa... Vá lá e diga que me dêem de comer. Óssip Ah, não! Não quero ir não! Khlestakóv Como é que se atreve, seu idiota? Óssip E também tanto faz, ir ou não ir. Não vai adiantar nada. O dono já disse que não vai dar mais nada pra gente comer. Khlestakóv Como se atreve, não vai dar? E um absurdo! Óssip E ainda disse mais. Disse que vai ao prefeito, que o senhor há quase três semanas não paga. “Você e seu patrão”, disse ele, “são dois vigaristas, e o seu patrão é um trapaceiro. Conhecemos muito bem vagabundos e patifes dessa laia”, ele disse. Khlestakóv E você ainda fica feliz, animal, de me contar tudo isso? Óssip E disse mais: “Dessa maneira, qualquer um chega aqui, se instala, fica endividado e depois não há como enxotá-lo. Eu não brinco em serviço, vou direto dar queixa para que o levem logo para a cadeia”. Khlestakóv Já chega, seu idiota! Vá, vá já falar com ele. Que porco! Óssip E melhor que eu chame o dono para que ele mesmo venha aqui falar com o senhor. Khlestakóv Mas para que o dono vir aqui? Vá lá e fale com ele. Óssip Mas, senhor, será que... Khlestakóv Então vá se danar! Chame o dono. (Óssip sai.)

Cena 3

Khlestakóv