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Este artigo apresenta uma análise da superestrutura da narrativa, com ênfase nos desfechos e nos equilíbrios, baseada no modelo de todorov. O texto explora variações na superestrutura da narrativa ideal, apresentando novas formas de desfechos e contribuindo para a melhoria de planilhas de correção. Além disso, o artigo incentiva instituições que não utilizam a narração a fazê-la.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de aula
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Artigo publicado nos Anais da XV Semana de Letras, Universidade Estadual de Maringá, Maringá-PR, 31 de maio a 04 de junho de 2004.
Introdução
“Tudo começou há muito tempo”, quando o homem, ainda, de forma bastante primitiva, desenhava em cavernas. Os anos foram passando e hoje, por meio de filmes, novelas, gibis, revistas, livros, ainda continuamos contando histórias e nos fascinando diante delas, quem sabe, buscando, um “final feliz”para nossas vidas. Entretanto, apesar do ato narrativo ser tão natural à nossa existência, observa-se que, em situações de vestibular, são poucas as instituições que oferecem aos candidatos a opção por essa tipologia. Mesmo os vestibulandos, de forma geral, se puderem optar entre a narração e a dissertação irão preferir esta última, já que, no ensino médio, talvez em função da própria incidência no vestibular, as escolas têm dado maior ênfase à tipologia dissertativa. Nesse sentido, ao longo dos últimos anos, por meio da coordenação de um Laboratório de Produção Textual, em uma escola privada do noroeste do Paraná, temos desenvolvido um trabalho de incentivo ou de retomada ao gosto pela narrativa, especialmente a de caráter ficcional. De forma específica, a partir de redações produzidas por vestibulandos, o objetivo deste artigo é: 1) expor algumas variações na superestrutura da narrativa ideal proposta por Todorov (1986), tendo em vista que isso será fundamental para evidenciarmos novas formas de desfechos; 2) apresentar as variações do desfecho da narrativa ideal , no sentido de contribuir para a melhoria de planilhas de correção dessa tipologia, e mesmo de incentivar instituições que não fazem uso da narração a fazê-lo.
A narrativa ideal
A discussão teórica sobre a narrativa tem seu marco, principalmente, com os estudos de Todorov(1986). Para o autor, a narrativa ideal:
Começa por uma situação estável que uma força qualquer vem perturbar. Daí resulta um estado de desequilíbrio; por ação de uma força dirigida em sentido inverso, restabelece-se o equilíbrio; o segundo equilíbrio
é muito semelhante ao primeiro, mas os dois nunca são idênticos (Todorov, 1986:76)
Assim, poderíamos representar esse modelo (tendo como referência principal o protagonista da história) em três momentos distintos: Equilíbrio Inicial (doravante representado pelo símbolo +), em que o protagonista é apresentado ao leitor, mas não encontra-se em sofrimento; o Desequilíbrio ou Conflito (representado por -) , em que o protagonista por algum motivo começa a sofrer; e, Equilíbrio Final (representado novamente por +), em que o protagonista restitui o equilíbrio. Esquematicamente, teríamos então:
Narrativa ideal + - +
Dito de outra forma, a superestrutura apresentada por Todorov pode ser definida como a tentativa do restabelecimento de uma situação de equilíbrio, rompida por um dano ou carência do protagonista, que deve ser reparado a fim de que haja a vitória. Vale a pena ressaltarmos que a situação de Equilíbrio Final pode assumir algumas variações (não especificadas no modelo todoroviano), tais como: a personagem principal encontra-se em uma situação de completa felicidade (desfecho do tipo “happy-end”); a personagem intensifica sua carga de sofrimento ou,ainda, encontra-se em uma situação de felicidade relativa e outras. Destacamos que essa sensação de relativo bem-estar pode, inclusive, resultar na morte da personagem principal, desde que isso signifique um alívio para o conflito desencadeado. Por exemplo, se o suicídio final do protagonista for por ele desejado, como forma de superação do conflito, poderemos, então, considerar que houve a tentativa de superação do problema.
Discutindo formas de estruturação do enredo
O termo enredo (ou ainda intriga, trama) é visto de forma diferenciada por alguns autores, especialmente no âmbito da literatura. Foster (apud Bourneff e Oullet, 1976), por exemplo, explica que enquanto o termo história valoriza os atos, os sentimentos, o elemento humano das personagens,
o termo intriga ou enredo volta-se mais ao encadeamento dos episódios. É nessa perspectiva que trabalharemos, então a noção de enredo. De forma geral, os livros didáticos utilizados como base para o ensino a narrativa restringem-se apenas a apresentar os elementos que a compõem e alguns (raros) apresentam apenas a superestrutura da narrativa ideal. Assim, o aluno não é levado a pensar no encadeamento dos episódios, em como poderá enriquecê-los, se não contar com um professor atento para isso. Assim, apesar da nossa formação estar voltada ao campo da Lingüística Aplicada, em que se inscreve, também, a Lingüística Textual, fomos encontrar nos estudos literários, alguns modelos de enredo ou intriga, em especial os desenvolvidos por Fantinati (s.d.), que pretendemos, com a apresentação específica dos desfechos posteriormente, ampliá-los. Para o professor paulista, que partiu para a formulação desses modelos também da obra de Todorov, existem quatro modelos de enredo que orientam a produção narrativa, a saber:
os seguintes esquemas de intriga ou enredo propostos por Fantinati:
Metodologia e novos desfechos à vista
As oito redações escolhidas para compor o corpus deste artigo fizeram parte de um estudo maior composto por 600 redações produzidas em uma escola privada do noroeste do Paraná, a partir do seguinte tema proposto pela Universidade Estadual de Ponta Grossa: “Meia-noite. Cansado e com sono caminho pelas ruas desertas, quando ouço umas risadinhas leves atrás de mim...” Antes, porém, dos alunos realizarem a produção trabalhamos o filme Lenda Urbana , e Seven , no intuito de que observassem como essas narrativas idealizaram os seus desfechos. Além disso, tendo em vista que a situação não era a de vestibular propriamente dita, apenas uma simulação,foi dada a orientação aos alunos que pudessem mudar o narrador da história, usando também o narrador de 3ª. pessoa. Como não encontramos, nas obras especializadas, muitas referências sobre os desfechos, à exceção de Faraco (1992) que nos fala do desfecho inesperado (similar ao que demos a denominação de quebra de expectativa), trabalhamos utilizando, como metodologia de análise, em busca do movimento criador do aluno, o plano dedutivo, ou seja, a partir de observações gerais, queríamos chegar às nominalizações de novas categorias de desfechos. Das 600 redações apresentas, tivemos a seguinte incidência de desfechos: 84 redações com desfecho tradicional do tipo + (equilíbrio final). 137 com desfechos negativos – (ou, seja, que acentuam a situação de conflito ou desequilíbrio). 195 com o desfechos que categorizamos de Final em aberto. 184 com desfechos que categorizamos de Quebra de Expectativa.
que me seguia, que diz: “o senhor deixou cair sua carteira e eu estava tentando lhe devolver...” Da mesma forma que no exemplo 4, as ações nos levam a esperar um desfecho mais negativo, que é mudado repentinamente por uma nova ação não esperada.
EXEMPLO 6: As risadinhas agora se transformaram em verdadeiras sirenes nos meus ouvidos. Não conseguia mais correr. Meu corpo não mais obedecia aos meus comandos. Paro, já sem forças, e olho para trás. Não vejo nada, a não ser a certeza de que minha mente doentia mais uma vez fazia com que eu confundisse alucinação com a realidade.
Nesse fragmento, vale a pena ressaltar, que nada anteriormente no texto do aluno dava indícios da aparente loucura da personagem. Assim, o final configura-se como uma quebra da expectativa daquilo que o leitor esperava como desfecho.
O desfecho que Acentua a Situação de Conflito
De todos os tipos de desfechos, anteriormente categorizados, esse, em específico opera uma mudança um pouco maior na superestrutura narrativa, já que não há superação da situação de conflito. Entretanto, ele tem sido bastante comum em filmes, romances e crônicas, o que o torna, de certa forma, um modelo de esquema a ser copiado pelos alunos. Vejamos os exemplos.
EXEMPLO 7 : Apavorada já não tinha mais forças. O pavor era absurdo. Meu Deus! Será esse o fim? Não podia ser. Finalmente ele a alcançara. A navalha afiada fazia com que seus olhos ficassem ainda mais arregalados e estáticos. Com desejo e raiva ele enfia a faca sucessivas vezes em seu corpo. As veias ainda pulsavam lentamente em sua garganta, teimando em lutar por um fio de vida, até que ele lhe dá o golpe final. O corpo focara lá, caído no chão, e os olhos ainda continuavam arregalados e estáticos.
Nesse excerto, notamos que a situação de conflito, desencadeada pela perseguição, é, ainda, mais acentuada, visto que a protagonista não deseja morrer, o que o torna, nessa perspectiva, bastante negativo as ações finais. Nesse desfecho, não se supera a situação de conflito, mas ela é acentuada, já que o protagonista encontra-se em maior tensão e estado de sofrimento.
EXEMPLO 8: As risadas chegavam cava vez mais perto. Ela sabia que aqueles garotos não eram flor que se cheire. Sabia o que eles queriam. Finalmente eles a alcançaram. Um a um a estupraram. A dor invadia-lhe. Ela não queria que esse fosse seu fim. De repente a escuridão. A morte chegara.
Novamente a protagonista, neste exemplo, não deseja a morte (se assim fosse, teríamos a superação do conflito), por isso seu sofrimento foi acentuado, resultando em sua morte.
Fechando essa história...
Iniciamos este artigo com o primeiro propósito de revelar variações na superestrutura da narrativa, a partir do modelo de Todorov, a fim de que chegássemos ao nosso principal intuito: o de categorizar novas formas de desfechos. Os resultados demonstraram que, no que diz respeito às superestruturas, tivemos os seguintes esquemas, variantes do todoroviano, representados pelos símbolos expostos nas seções anteriores: Esquema 1 + - F.A. Esquema 2 + - Q.E Esquema 3 + - A.S.C. Destacamos, ainda, os esquemas de superestruturas encontrados por Fantinatti (s.d.), a saber: Esquema 4 + - - Esquema 5 - - + Esquema 6 - + - É necessário ressaltarmos que todas essas formas de organizar a superesturtura não se esgotam nesse artigo, permitindo (re)combinações e variações. No que diz respeito aos tipos de desfechos, o experimento demonstrou que os desfechos do tipo Final em Aberto , Quebra da Expectativa e Acentuação da Situação de Conflito foram os mais utilizados pelos vestibulandos.Esse fato nos leva a concluir que, as planilhas de avaliação dessa tipologia precisam levar em consideração essas e outras variantes (tanto na superestrutura quanto no desfecho) não apresentadas para comporem os critérios de correção do texto narrativa. Finalmente, esperamos, com este trabalho, que possamos contribuir: com o professor, no que diz respeito à reflexão em torno de novos aspectos metodológicos no trabalho com a narrativa em sala de aula; com as instituições que utilizam a narração em suas provas de vestibulares, para refletirem sobre os critérios de avaliação; e, principalmente, com os alunos, para que possam ter outras opções de serem avaliados e, também, para que recuperem (caso tenham perdido) o gosto pela escritura do texto narrativo. Referências
BOURNEFF, R.; OULLET, R. O universo do romance. Trad. José Carlos Seabra Pereira. Coimbra: Livraria Almedina, 1976.
FARACO, C. Trabalhando com a narrativa. São Paulo: Ática: 1992. FANTINATI, C. E. Relatório de atividades. Unesp: s.d. (mimeo). TODOROV, T. Poética. Lisboa: Teorema, 1986. TODOROV, T. As estruturas narrativas. 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 1970.