Baixe A Prática Projetual de Bornancini e Petzold: Contribuições para o Ensino de Design e outras Slides em PDF para Desenho Técnico, somente na Docsity!
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
ESCOLA DE ENGENHARIA
FACULDADE DE ARQUITETURA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESIGN
Tese de Doutorado
O FATOR INTERACIONAL NO DESENVOLVIMENTO DO PROJETO DE PRODUTO:
contribuição metodológica de Bornancini e Petzold
Maria do Carmo Gonçalves Curtis
Setembro 2017
Maria do Carmo Gonçalves Curtis
O FATOR INTERACIONAL NO DESENVOLVIMENTO DO PROJETO DE PRODUTO:
contribuição metodológica de Bornancini e Petzold
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Design da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, como requisito parcial à obtenção do título
de Doutor em Design.
Orientadora: Prof. Dr. Liane Roldo
Porto Alegre
Setembro 2017
Maria do Carmo Gonçalves Curtis
O FATOR INTERACIONAL NO DESENVOLVIMENTO DO PROJETO DE PRODUTO: contribuição metodológica de Bornancini e Petzold
Esta Tese foi julgada adequada para a obtenção do Título Doutor em Design, e aprovada em sua forma
final pelo Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Porto Alegre, 25 de setembro de 2017.
__________________________________________________________
Prof. Dr. Régio Pierre da Silva
Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Design UFRGS
Banca Examinadora:
__________________________________________________________
Orientadora: Prof. Dr. Liane Roldo
Departamento de Engenharia de Materiais, DEMAT
Programa de Pós Graduação em Design UFRGS
__________________________________________________________
Prof. Dr. Marcos da Costa Braga
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de São Paulo- AUH FAUUSP
Programa de Pós Graduação em Design FAU USP
__________________________________________________________
Dr. Mario dos Santos Ferreira
Doutor em Engenharia de Produção- Universidade Federal de Santa Catarina
__________________________________________________________
Prof. Dr. Régio Pierre da Silva
Departamento de Design e Expressão Gráfica DEG
Programa de Pós Graduação em Design UFRGS
__________________________________________________________
Prof. Dr. Luis Henrique Alves Cândido
Departamento de Design e Expressão Gráfica DEG
Programa de Pós Graduação em Design UFRGS
AGRADECIMENTOS
À professora Liane Roldo, por confiar no meu trabalho
Aos docentes do Programa de Pós Graduação em Design da UFRGS, em especial à professora
Tânia Luísa Koltermann da Silva, pelo incentivo
À professora Lívia Salomão Piccinini, pela leitura da versão inicial da tese
Aos colegas do Departamento de Design e Expressão Gráfica UFRGS, pelo apoio e amizade
Aos professores da graduação em design da região metropolitana de Porto Alegre, que aceitaram
participar da pesquisa de campo, proporcionando a obtenção de dados empíricos
A todos os graduandos que participam da minha experiência docente, percurso que direcionou o
tema dessa tese, em especial, Augusto Bergamaschi Rückert
A Nelson Ivan Petzold pela lucidez, generosidade e visão
A José Carlos Mário Bornancini (in memorian)
E a Victor Lourenço, por tudo.
RESUMO
CURTIS, M.C.G. O fator interacional no desenvolvimento do projeto de produto: contribuição
metodológica de Bornancini e Petzold. 2017. 331 f. Tese (Doutorado em Design) – Escola de
Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2017.
Essa Tese enfoca a prática projetual de José Carlos Mário Bornancini (1923-2008) e Nelson Ivan Petzold
(1931) para (i) demonstrar como a parceria gaúcha Bornancini e Petzold (B/P), iniciada em 1962 e
encerrada em 2008, contribuiu ao desenvolvimento tecnológico de empresas brasileiras e ao acesso do
conhecimento tácito atingindo um patamar de excelência projetual, reconhecido nacionalmente; e (ii)
investigar como a trajetória da parceria B/P pode colaborar ao ensino de design. No Brasil, a
institucionalização do ensino de design ocorre durante a década de 1960, momento que coincide com
o início da atuação de B/P no desenvolvimento de projeto de produto. Como o tema engloba a
tecnologia, o ensino e o design, foi concebida uma abordagem singular para integrar esses elementos:
a perspectiva humanista , desdobrada nas dimensões ética, interdisciplinar e interacional. A história
recente mostra que a Reforma Universitária de 1968 se caracterizou pela ênfase tecnicista na formação
superior. No ensino de design, não foi diferente. A relação assimétrica entre áreas humanas e áreas
tecnológicas teve forte repercussão. Acrescenta-se ainda a priorização dos contextos internacionais,
por conseguinte o conhecimento da trajetória de designers locais é pouco explorado. Tendo em vista
contribuir ao ensino de design nos aspectos histórico e metodológico a Tese dedica-se a estabelecer
relações entre a prática projetual da trajetória pioneira de B/P, articulando-a com as abordagens
contemporâneas do design. Os procedimentos metodológicos empregados amparam-se nas
abordagens de pesquisa qualitativa por meio da coleta e análise de dados. As referências teóricas
apoiam-se nas áreas humanas e sociais, filosofia da ciência, psicologia, pedagogia, história e ensino do
design no Brasil, história e economia no Rio Grande do Sul, interdisciplinaridade, metodologias de
projeto, design centrado no usuário e design participativo. A análise dos dados obtidos verificou que os
aspectos histórico e metodológico estão interligados. A investigação da trajetória da parceria conclui
que (i) sua integração no ambiente organizacional contribuiu à adoção do paradigma tecnológico no Rio
Grande do Sul, formando a primeira geração de projetistas que desenvolve design industrial sob a matriz
modernista. E, (ii) no ensino em design, a prática de Bornancini e Petzold aponta que além do
conhecimento técnico-científico (fator tecnológico), a integração interpessoal (fator interacional) é
fundamental para o êxito do desenvolvimento de projeto de produto. Evidencia-se o ponto de contato
da parceria com as abordagens contemporâneas do design: entender que todos os envolvidos no
desenvolvimento de projeto de produto precisam ser valorizados.
Palavras-chave: Ensino de design; Design industrial; Projeto de produto, Fator interacional.
ABSTRACT
CURTIS, M.C.G. The interaction factor in the development of the product project: methodological
contribution of Bornancini and Petzold. Porto Alegre, 2017. 331 p. Thesis (Doctorate in Design) Graduate
Program in Design – PgDesign, UFRGS, 2017.
This thesis focuses on the project practice of José Carlos Mário Bornancini (1923-2008) and Nelson Ivan
Petzold (1931) in order to (i) demonstrate how the partnership between Bornancini and Petzold,
initiated in 1962 and closed in 2008, contributed to the technological development of Brazilian
companies and to the access of tacit knowledge reaching a level of project excellence, recognized
nationally; and (ii) to investigate how the path of the B/P partnership can contribute to design teaching.
In Brazil, the institutionalization of design teaching takes place during the 1960s, a moment that
coincides with the beginning of B / P performance in the development of product design. As the theme
encompasses technology, teaching and design, a unique approach was conceived to integrate these
elements: the humanistic perspective, unfolded in the ethical, interdisciplinary and interactional
dimensions. Recent history shows that the University Reform of 1968 was characterized by the
technicist emphasis on higher education. In design teaching, it was no different. The asymmetrical
relationship between human areas and technological areas had a strong repercussion. It also adds the
prioritization of international contexts, therefore the knowledge of the trajectory of local designers is
little explored. In order to contribute to the teaching of design in the historical and methodological
aspects, the thesis is dedicated to establishing relationships between the design practice of the pioneer
B / P trajectory, articulating it with the contemporary approaches to design. The methodological
procedures employed are based on qualitative research approaches through the collection and analysis
of data. The theoretical references are based on human and social areas, philosophy of science,
psychology, pedagogy, history and teaching of design in Brazil, history and economics in Rio Grande do
Sul, interdisciplinarity, design methodologies, user centered design and participatory design. The
analysis of the data obtained verified that the historical and methodological aspects are interconnected.
The investigation of the partnership trajectory concludes that (i) its integration into the organizational
environment contributed to the adoption of the technological paradigm in Rio Grande do Sul, forming
the first generation of designers that develops industrial design under the modernist matrix. And, (ii) in
design teaching, the practice of Bornancini and Petzold points out that in addition to technical-scientific
knowledge (technological factor), interpersonal integration (interactional factor) is fundamental to the
success of product design development. The point of contact of the partnership with contemporary
design approaches is evidenced: to understand that everyone involved in the development of product
design needs to be valued.
Key words: Teaching design; Industrial design; Product Design, Interaction Factor.
LISTA DE QUADROS E TABELAS
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABD - Associação Brasileira de Designers de Interiores ABDI - Associação Brasileira de Desenho Industrial ABEPRO - Associação Brasileira de Engenharia de Produção ABERGO- Associação Brasileira de Ergonomia ACP - Abordagem Centrada na Pessoa, C. Rogers ADG - Associação de Designers Gráficos do Brasil ADP - Associação de Designers de Produto AEND-Brasil - Associação de Ensino e Pesquisa de Nível Superior de Design do Brasil AIGA - The Professional Association for Design APDI/RS- Associação dos Profissionais de Desenho Industrial do Rio Grande do Sul apDesign - Associação de Profissionais de Design do Rio Grande do Sul Apex-Brasil - Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos BRDE - Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social B/P - Bornancini e Petzold Capes - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CBDI - Centro Brasileiro de Design Industrial Cefet - Centro Federal de Educação Profissional e Tecnológica CNE - Conselho Nacional de Educação CES - Câmara de Educação Superior CEEE - Companhia Estadual de Energia Elétrica, RS CNI - Confederação Nacional da Indústria CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CONTEC - Conselho Superior de Tecnologia CRT - Companhia Rio-grandense de Telefonia, RS DAU-MEC - Departamento de Assuntos Universitários, Ministério de Educação e Cultura DETEC - Departamento de Tecnologia DCN - Diretrizes Curriculares Nacionais DDB - Diagnóstico do Design Brasileiro, 2014 DI - Desenho Industrial DPI - Direitos de Propriedade Intelectual EBA/UFBA - Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia ENDEPRO – Engenharia desenvolvimento e produção ESDI - Escola Superior de Desenho Industrial ETC - Escola Técnica de Criação FAAP - Fundação Armando Álvares Penteado FA/UFRGS - Faculdade de Arquitetura/ Universidade Federal do Rio Grande do Sul FAU/USP - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo Feevale - Universidade Feevale, Novo Hamburgo, RS Finep - Financiadora de Estudos e Projetos Fiesp - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo Fiergs - Federação das Indústria do Estado do Rio Grande do Sul GEPI - Grupo de Estudos e Pesquisa Interdisciplinar (PUC/SP) HfG Ulm - Escola de Design de Ulm, Alemanha HOT - Higher-order-thinking IADÊ - Instituto de Artes e Decoração, São Paulo IAC/SP - Instituto de Arte Contemporânea/ São Paulo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICSID - International Council of Societies of Industrial Design ICT - Instituição Científica e Tecnológica IDI - Instituto de Desenho Industrial IEL - Instituto Euvaldo Lodi IES - Instituições de Ensino Superior iF - International Forum Design INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
UFSM - Universidade Federal de Santa Maria, RS ULBRA - Universidade Luterana do Brasil UnB - Universidade de Brasília Uneb - Universidade do Estado da Bahia Unilasalle - Universidade Lasalle, Canoas, RS Uniritter - Centro Universitário Ritter dos Reis UNISINOS - Universidade do Vale dos Sinos
Sumário
- Figura 01- Esquema da Pesquisa
- Figura 02- Elementos que integram a contribuição da tese
- Figura 03- Perspectiva Humanista: prática projetual de B/P, ensino e relação ser humano com tecnologia
- Figura 04- Interação entre os elementos que compõem o sistema usuário- produto- contexto
- Figura 05- Pirâmide de hierarquia das necessidades humanas básicas, Maslow
- Figura 06- Hierarquia de necessidades do usuário, Jordan
- Figura 07- Escada Humano-tecnológica
- Figura 08- Modelo Iceberg, Monat, Gannon
- Figura 09- Joaquim Tenreiro, Cadeira Trípode,
- Figura 10- Lina Bo Bardi, Poltrona Bowl,
- Figura 11- Poltrona Mole, 1961, Sergio Rodrigues
- Figura 12 - Identidade Visual do Prêmio Bornancini
- Figura13- Prêmio Bornancini 2016, Profissionais e Estudantes premiados
- Figura 14- Pesquisa sobre ensino em design no Brasil, 1970-2012
- Figura 15- Paradigmas do Design Contemporâneo, Giacomin,
- Figura 16- Transição do paradigma do design centrado no objeto ao design centrado no ser humano
- Figura 17- iPod, Jonathan Ives, 2007-11, Apple
- Figura 18- Dimensões do espaço de pesquisa e desenvolvimento em design, Sanders,
- Figura 19- Liz Sanders apresenta toolkits a grupo de participantes,
- Figura 20- Talheres Camping, Desenho manual de Bornancini,1974, Termolar
- Figura 21- Dobradiça especialmente desenhada para Todeschini
- Figura 22- Fogão Wallig Nordeste, 1963, Detalhe, botão de acionamento
- Figura 23- Rolha Giromagic, 1972, Termolar
- Figura 24- Rolha Vedasin, 1965, Termolar
- Figura 25- Rolha Dupla Ação, 1994, Termolar
- Figura 26- Garrafa Térmica Perfeita, 2004, Termolar
- Figura 27- Desenho da metodologia
- Figura 28- Perspectiva Humanista: articulação entre prática projetual de B/P e ensino em design
- Figura 29- Perspectivas das entrevistas quanto ao contexto do objeto de estudo
- Figura 30- Identidade visual da empresa Bettanin, Esteio, RS, Norberto Bozzetti
- Figura 31- Imagens do Bloco 1 de perguntas, Questionário versões 1 e
- Figura 32- Triangulação Metodológica da Tese
- Figura 33- Perspectiva Humanista: nexo entre a prática projetual de B/P e ensino em design
- Figura 34- Estrutura do Capítulo 4 Resultados e Discussão
- Figura 35- Fogão Wallig Nordeste no Banquete do Consumo
- Figura 36- Cartaz da Exposição Tradição e Ruptura, Bienal de São Paulo,
- Figura 37- Talheres Camping (1973, Hercules) e Tesoura Korta Fácil (Mundial)
- Figura 38- Bornancini no Setor de Produtos Novos, Zivi Hercules
- Figura 39- Linha de Tesoura Multiuse, composta por seis modelos, 1974, Zivi Mundial
- Figura 40- Protótipo: cabo em madeira simulando plástico (esq.) e Tesoura Multiuse (dir)
- Figura 41- Modelo do mecanismo de trava de uma pistola, Taurus
- Figura 42- Estudos de alternativas para Rolha Giromagic,
- Figura 43- Estudos para dobradiça de móvel componível Todeschini, 1966-68
- Figura 44- Borrachas Toy, Mercur,
- Figura 45- Borracha Prisma, Mercur, s/d
- Figura 46- Exemplo de exercício de Soluções Múltiplas, SM
- Figura 47- Perspectiva Humanista, integração do design na relação ser humano e tecnologia
- Figura 48- Ética, implicações na prática projetual e no ensino em design
- Figura 49- Interdisciplinaridade, implicações na prática projetual e no ensino em design
- Figura 50- Fator Interacional, integração interpessoal, Prática projetual e Ensino em design
- Figura 51- Participantes apreciam produtos projetados por B/P, 2015/02
- Figura 52- Pesquisadora durante apreciação de produtos de B/P, após aplicação do questionário
- Figura 53- Contribuição Metodológica da Tese: Perspectiva Humanista na Prática e Ensino de Design
- e pedagógicos, foco segundo a relação sujeito e objeto Quadro 01- Teorias do conhecimento, Abordagens do processo ensino-aprendizagem e modelos epistemológico
- Quadro 02- Níveis cerebrais e interação humano-produto, Norman
- Quadro 03- Comparativo das alterações do foco nos processos educacional e projetual
- Quadro 04 - Categorias e propriedades dos Problemas Design X, Norman e Stappers
- Quadro 05- Iniciativas do setor moveleiro no RS no polo de Bento Gonçalves
- Quadro 06 - Implicações no ensino e fundamentação das dimensões, Perspectiva Humanista
- Quadro 07- Fatores que justificam cooperação interdisciplinar
- Quadro 08- Novas relações resultantes da atitude interdisciplinar em sala de aula
- Quadro 09- Percurso da construção da estrutura curricular em desenho industrial/ design, BR
- Quadro 10- Necessidades do mercado e da sociedade e atuação dos designers
- Quadro 11- Competências e atividades do designer, ICSID
- Quadro 12- Competências do designer do futuro, segundo pesquisa AIGA 2006 -
- Quadro 13- Síntese do panorama das metodologias de projeto 1960 -
- Quadro 14- Componentes do conhecimento tácito
- Quadro 15- Características dos sistemas interativos, ISO 9241-210
- Quadro 16- Síntese dos Princípios da abordagem de Design Participativo, Bowen
- Quadro 17- Conceitos-chave do Design Participativo, Brandt, Binder, Sanders
- Quadro 18- Classificação dos métodos de pesquisa em design centrado no humano
- Quadro 19- Critérios de Avaliação Hanovver,
- Quadro 20- Encadeamento da pesquisa
- Quadro 21- Entrevista Semi Estruturada com Profissionais
- Quadro 22- Etapas da Aplicação do Questionário na graduação em design
- Quadro 23- Perguntas do Questionário, Bloco 1 relativas aos objetivos da tese
- Quadro 24- Perguntas do Questionário, Bloco 2 relativas aos objetivos da tese
- Quadro 25- Processo de Análise de Conteúdo
- Quadro 26- Avaliação Preliminar da análise documental
- Quadro 27- Sistematização das categorias de análise
- Quadro 28- Cronograma da Validação Comunicativa com Profissionais Entrevistados na Tese
- Quadro 29- Procedimentos metodológicos para validar pesquisa qualitativa
- Quadro 30- Instituições que participam da implantação do design industrial no BR e RS
- Quadro 31- Linha de tempo da implantação do design moderno no BR
- Quadro 32- Dados sintetizados das economias brasileira e gaúcha – 1980 -
- Quadro 33- Produtos inovadores de B/P desenvolvidos nos anos
- Quadro 34- Descompasso de inserção no paradigma tecno econômico, macroeconomia, BR/ RS
- Quadro 35- Acesso a tecnologias mais desenvolvidas pela indústria local
- Quadro 36- Articulações institucionais relacionadas a B/P nos cenários nacional e local
- Quadro 37- Linha de tempo da implantação do design moderno no RS
- Quadro 38- Abrangência da prática projetual de Bornancini e Petzold na indústria rio-grandense
- Quadro 39- Seleção de Cases conforme inserção e inovação de B/ P nas empresas
- Quadro 40- Evolução das Metodologias de Projeto e Processo de trabalho de B/P
- Quadro 41- Experiência Docente de Bornancini e Petzold
- Quadro 42- Complementaridade dos princípios orientadores da prática projetual de B/P
- Quadro 43- Indicadores da dimensão ética na prática projetual de B/P
- Quadro 44- Ressalvas ao Papel do Designer às dificuldades na Implantação do Projeto
- Quadro 45- Interdisciplinaridade na Prática de B/P conforme Ressalvas ao Papel do Designer
- Quadro 46- Integração organizacional: condições desfavoráveis e peculiaridades da parceria
- Quadro 47- Síntese das IES que participaram da pesquisa de campo
- Tabela 01- Universo discente, Design, região metropolitana de Porto Alegre,
- INTRODUÇÃO
- 1.1 Contextualização do tema, justificativa e problemática da pesquisa
- 2 Delimitação do Tema
- 1.3 Problema de pesquisa
- 1.4 Hipótese
- 1.5 Objetivo Geral
- 1.5.1 Objetivos Específicos
- 1.6 Estrutura da Pesquisa
- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
- 2.1 Perspectiva Humanista, nexo teórico- metodológico
- 2.1.1 Ética enquanto dimensão da perspectiva humanista
- 2.1.2 Fator Interacional, enquanto dimensão da perspectiva humanista
- 2.1.3 Interdisciplinaridade e complexidade, dimensão da perspectiva humanista
- 2.2 Implantação do design moderno no RS - uma perspectiva da história recente
- 2.2.1 Industrialização no RS, um panorama dos anos 1960 a década de
- 2.2.2 Mobiliário e arquitetura: estética de matriz modernista
- 2.2.3 Formalização do ensino em desenho industrial, relações com indústria e empresa.........
- 2.2.4 Design : uma nova opção profissional no Rio Grande do Sul
- 2.3 Sobre o ensino de design no Brasil: interdisciplinaridade, história e perfil profissional
- 2.3.1 Interdisciplinaridade, uma dimensão integradora no ensino
- 2.3.2 De Desenho Industrial a Design – um percurso histórico
- 2.3.3 Ensino do design no Brasil contemporâneo: competências e habilidades
- 2.4 Abordagens Contemporâneas do Design
- 2.4.1 Do objeto ao contexto: Visão das Metodologias de Projeto de Produto
- 2.4.2 Design contemporâneo: novas abordagens
- 2.4.3 Design centrado no usuário
- 2.4.4 Design participativo
- 2.5 Bornancini e Petzold: design industrial no Rio Grande do Sul
- 2.5.1 Formação e atividade acadêmica
- 2.5.1.1 Cadernos de Desenho Técnico: resposta à Reforma de 1968.............................................
- 2.5.2 Prática Projetual: inovação, qualidade e abrangência
- 5.2.1 Empresas que propiciaram o exercício da prática projetual de B/P
- Todesquini: intervenção única
- Metalúrgica Wallig: início da parceria
- Zivi Hercules: Transferência de saber tradicional alemão para o RS
- Termolar: soluções em conservação térmica..............................................................................
- METODOLOGIA
- 3.1 Processo de Investigação
- 1.1 Embasamento Teórico-Metodológico
- Pesquisa Bibliográfica
- Pesquisa Documental
- 3.1.2 Pesquisa de Campo
- Entrevistas
- Questionário
- Relações do conteúdo do questionário com os objetivos da Tese
- 3.2 Procedimentos de análise dos dados
- 3.2. 1 Categorização dos dados da pesquisa
- 3.3. Procedimentos de validade da proposta
- RESULTADOS E DISCUSSÃO
- 4.1 Bornancini e Petzold: Rumo ao paradigma tecnológico
- 4.1.1 A implantação do design: otimismo, institucionalização e consolidação
- 4.1.2 Design no RS: o fator tecnológico como legado de Bornancini e Petzold..........................
- 4.1.3 Relações de B/P com o cenário nacional: uma ligação de mão dupla
- 4.1.4 Cópia ou inovação? O fator tecnológico como tributo de B/P...........................................
- 4.2 Bornancini Petzold: processo de trabalho
- 4.2.1 Processo de Trabalho: acesso ao conhecimento organizacional
- 4.2.2 A expressão gráfica como elemento de comunicação na prática docente e projetual
- 4.3 B/P: princípios orientadores da prática projetual
- 4.3.1 Princípio técnico-científico: a cultura tecnológica
- 4.3.2 Princípio ético interacional na cultura da empresa............................................................
- 4.3.3 O princípio ético interacional na docência
- 4.4 A Perspectiva humanista na trajetória de Bornancini e Petzold
- 4.4.1 As dimensões da perspectiva humanista na trajetória de B/P
- 4.4.1.1 Ética, a integração social....................................................................................
- 4.4.1. 2 Interdisciplinaridade, integração com outras áreas
- 4.4.1. 3 Fator interacional, a integração interpessoal
- 4.4.2 Possibilidades metodológicas da proposta
- 4.4.2.1 Resultados obtidos no levantamento na graduação
- 4.4.2.2 Subsídios ao ensino de design
- Apostila sobre o pioneirismo tecnológico da parceria Bornancini e Petzold
- Vídeo-entrevista com Nelson Ivan Petzold
- 4.4.2.3 A centralidade do fator interacional na prática projetual
- CONSIDERAÇÕES FINAIS
- REFERÊNCIAS
- Apêndice 1 Lista de Documentos
- Apêndice 2 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE
- Apêndice 3 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE
- graduação em design na região metropolitana de Porto Alegre Apêndice 4 Lista de produtos consignados por Petzold para apreciação na coleta de dados na
- de Porto Alegre............................................................................................................................ Apêndice 5 Sistematização dos dados obtidos na graduação em design na região metropolitana
- Apêndice 6 Classificação dos Documentos Consultados
- Apêndice 7 Questionário aplicado na Etapa III- 2015/02............................................................
- Apêndice 8 Apostila
- Apêndice 9 Vídeo entrevista com Nelson Ivan Petzold
- Apêndice 10 Distinções Profissionais obtidas por Bornancini e Petzold.....................................
- Anexo 1 - Programação Paralela de Curso de Desenho Industrial na UFRGS
- Anexo 2 - Exercício de Desenho Criativo Disciplina de Desenho Técnico
- Anexo 3 - Carta Convite de José Mindlin a Bornancini e Petzold,
- Anexo 4 - Registro de Patentes Bornancini e Petzold
- Emérito, Anexo 5 - Nelson Petzold por Júlio Celso Vargas, Carta de Recomendação a Título de Professor
- Anexo 6 - Pronunciamento de Nelson Ivan Petzold, Título de Professor Emérito,
1. INTRODUÇÃO
O marco inicial do presente trabalho foi a pesquisa “DesigNO RS: uma contribuição para a história do
design desde uma perspectiva regional”^1 , na qual foi abordado o trabalho de profissionais que atuaram
na área de design, cuja prática projetual contribuiu para a implantação do design no cenário rio-
grandense. A pesquisa mostra que a relação interpessoal estabelecida entre os profissionais pioneiros
com a direção das empresas foi um importante fator para a afirmação da atividade do design. Evidência
disso é a notória influência da parceria Bornancini e Petzold no reposicionamento da empresa
Todeschini, fabricante de acordeões, que ao final da década de 1960 passou a produzir móveis de
cozinha componíveis (ELWANGER et al, 2016; CURTIS, COSSIO, 2012; MORAES, 2010).
O foco da tese estabelece um recorte estrito à prática projetual de José Carlos Mário Bornancini
e Nelson Ivan Petzold que contribuiu para o design industrial no RS, destacando-se pela qualidade,
abrangência e inovação dos produtos desenvolvidos. A parceria Bornancini e Petzold atingiu um
patamar de excelência projetual em um ambiente bastante incipiente, em termos de cultura do design,
como o Rio Grande do Sul de meados do século XX.
Do ponto de vista histórico e acadêmico, resgatar a experiência de profissionais reconhecidos na
área pela importante contribuição é uma oportunidade rica para a obtenção de dados da memória da
cultura do design local e possibilita tecer relações deste conhecimento com o ensino em design.
Bornancini faleceu em 2008, aos 84 anos de idade, em Porto Alegre. Petzold vem colaborando
decisivamente para o andamento deste resgate da história recente, identificada na sua trajetória
profissional ao lado do ilustre parceiro. Salienta-se que a pesquisa não se restringe a um registro
puramente histórico, pois pretende-se trazer à tona o conhecimento de aspectos metodológicos da sua
prática projetual para demonstrar que existem nexos entre a trajetória pioneira com as abordagens
contemporâneas do design.
Investigar as relações existentes entre aspectos metodológicos da prática projetual desses
profissionais com o contexto sócio histórico pode auxiliar na compreensão do processo de implantação
da cultura do design no Rio Grande do Sul. Este resgate histórico contribui para entender a prática
projetual no contexto atual relacionando a experiência em projeto e desenvolvimento de produto no
passado recente com as abordagens contemporâneas do design.
(^1) Projeto de pesquisa ocorrido entre 2010 a 2012, o qual gerou os seguintes artigos: Curtis, Maria do Carmo; Cossio, Gustavo. O projeto de Bornancini e Petzold: um estudo sobre inovação no produto para a Todeschini. Revista Estudos em Design, Rio de Janeiro, RJ, v.22.1, 2014, [ on line ]. Disponível em < http://www.maxwell.vrac.pucrio.br/estudos_em_design.php?strSecao=INPUT&NrSeqFas=249&cor=#ECOO8C> Curtis, Maria do Carmo; Cossio, Gustavo. Manlio Gobbi, um pioneiro do mobiliário no Rio Grande do Sul. In: Congresso Nacional de Design ( 2011 ago.: Bento Gonçalves, RS). Desenhando o futuro, Bento Gonçalves: Universidade de Caxias do Sul, 2011. [11] f., il.
profissionais interessados na institucionalização do ensino formal da prática projetual e que, Carlos
Lacerda, então governador da Guanabara, aproveita para promover seu projeto político. Conforme
Aloísio Magalhães (1977), a ESDI é marco do inicio da “implantação do design no Brasil”, porque
somente quando se cria uma instituição que garanta sua continuidade – a escola- uma atividade adquire
sua existência autônoma.
Em âmbito internacional, a metodologia projetual foi institucionalizada em 1960, ligada à HfG
Ulm, Alemanha. Questões atuais que norteiam a prática projetual, tais como o pensamento sistemático
sobre a problematização, os métodos de análise e síntese, a escolha das alternativas de projeto, se
institucionalizam no programa de ensino da HfG Ulm (BÜRDEK, 2006). Cabe mencionar que a HfG Ulm
foi o modelo curricular da ESDI (SOUZA, 1996; FREITAS, 1999; NIEMEYER, 2000; COUTO, 2008).
Já no Rio Grande do Sul, a implantação do design se deu a partir de ações em favor da sua
divulgação, pesquisa e reconhecimento. Esse processo sofreu influência das alterações na
industrialização nacional e no âmbito regional, o qual, historicamente, enfrenta um desnível em relação
à região Sudeste, tanto do ponto de vista ecônomico como do tecnológico (PESAVENTO, 1985;
BOZZETTI, 2004; CONCEIÇÃO, 2010).
Neste cenário, a parceria de José Carlos Mario Bornancini e Nelson Ivan Petzold, (B/P) iniciada
em 1962, contribuiu ao desenvolvimento tecnológico e à competitividade empresarial do país (BORGES,
2008 ). Numa aliança sinérgica entre engenharia (Bornancini) e arquitetura (Petzold), consolidaram uma
parceria atuando em empresas e indústrias locais, considerando o contexto da região metropolitana de
Porto Alegre, como: Wallig, Zivi/ Hercules/Mundial, Todeschini, Termolar, Elevadores Sûr, Gerdau,
Massey Fergusson, Taurus, Jackwal, Edisa, Springer, Mercur e Coza. A abrangência de sua produção,
abarca desde bens de consumo doméstico como tesouras, talheres, garrafas térmicas, terminais de
vídeo, móveis componíveis, revólveres, até bens de capital como colheitadeiras, foi e é reconhecida em
nível nacional (BORGES, 1988; 2008). As premiações e patentes, conquistadas ao longo dos anos,
atestam sua prática projetual como sinônimo de qualidade e inovação no desenvolvimento de artefatos.
Em concomitância à experiência projetual, também se dedicam a carreira docente, sobretudo no
ensino do Desenho Técnico, compartilhando a disciplina na Escola de Engenharia/ UFRGS de 1963 a
1978. Desenvolveram recursos didáticos, materiais adotados por outras instituições de ensino superior,
como o livro em formato de caderno Desenho Técnico Básico, Fundamentos Teóricos e Exercícios a Mão
Livre , publicado originalmente em 1978, e que permanece na ementa de muitas disciplinas que
abordam o desenho técnico (CURTIS, ROLDO, 2015; PIRES, BERNANDES, LINDEN, 2015).
Na graduação em design, a experiência docente de 23 anos^2 da autora desta pesquisa constata a
dificuldade dos alunos no conhecimento da história recente da profissão. Devido a natureza do design,
ser considerada como “fenômeno internacional e interdisciplinar”, a história da profissão no ensino
formal é conduzida por versões bibliográficas que enfatizam contextos internacionais (CARDOSO, 2008,
prefácio). Em consequência, no ensino da história recente do design brasileiro, o reconhecimento da
trajetória de designers locais é pouco explorado na graduação em design. Essa lacuna de conhecimento
sobre a trajetória profissional de designers no contexto local fragiliza a construção da identidade
profissional dos acadêmicos. Fragilidade apontada por Bornancini, 1995, em reunião do Conselho
Superior de Tecnologia, Contec, FIESP/CIESP:
Ninguém nega que se deve colher os ensinamentos dos países mais desenvolvidos, naqueles aspectos científicos e tecnológicos em que seria até burra a hipótese de busca de uma solução tupiniquim. Mas creio que nós, brasileiros, somos portadores de uma forma curiosa de complexo de inferioridade que, agredindo e negando em altas vozes as soluções do primeiro mundo, termina por copiá-las festivamente, como foi o caso da reforma do ensino universitário brasileiro (BORNANCINI, 1995:1).
Considerando o momento histórico do discurso, é compreensível a afirmação do designer relativa
aos aspectos científicos e tecnológicos e sua aceitação, quando o descompasso entre o Brasil e países
desenvolvidos era mais nítido neste campo. Sobretudo, salienta-se a crítica de Bornancini quanto ao
posicionamento subalterno atribuído ao design local pelos próprios brasileiros, e à reforma do ensino
universitário implantada no país em 1968, questão que repercutiu na carreira docente de B/P e, como
veremos, na institucionalização do ensino em design no cenário nacional.
O estudo da história recente registra que a Reforma Universitária de 1968 ocasionou uma ênfase
tecnicista na formação superior, após o processo de departamentalização ocorrido no período da
Ditadura Militar. Esse processo priorizou a eficiência, a modernização e a flexibilidade administrativa
das universidades. A adoção da “departamentalização”, conforme modelo estrutural de influência
norte-americana, provocou uma transformação de caráter administrativo-operacional, não
contemplando fatores didático-pedagógicos (COUTO,2008; FRAUCHES, 2011). O governo militar
desencorajava cursos nas áreas artísticas e humanísticas, que “poderiam formar focos de crítica”. Em
contrapartida, as áreas tecnológicas eram incentivadas porque, na ótica governamental, significavam
um “Brasil progressista” (COUTO, 2008:23).
No ensino em design, essa relação assimétrica entre áreas humanas e áreas tecnológicas teve
forte repercussão. Por um lado, o fator tecnológico peculiar ao desenho industrial ganhou destaque
positivo, sendo associado com o projeto político que visava a modernização nacional. Por outro, o
(^2) Inicia no ensino de Graduação em Educação Artística em 1992, na ULBRA/ Canoas, e integra o corpo docente do curso de Desenho Industrial, em 1993, permanecendo até 2006. No Curso de Design da Feevale, 1999 a 2009, leciona disciplina de História da Tecnologia e Design, Metodologia Visual. Em 2010, ingressa na UFRGS, no Departamento de Design e Expressão Gráfica, na área de Teoria e História do Design.