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Este estudo investigou o impacto da depressão materna no desenvolvimento de crianças de seis anos de idade, filhas de mães com e sem depressão, através do teste projetivo htp (house, tree, person). O htp é um instrumento rico para obter dados sobre a personalidade de crianças e pode ser útil em pesquisas que envolvam a influência da interação com a mãe no desenvolvimento dos filhos. Os resultados indicaram que as crianças cujas mães tiveram depressão pós-parto e ainda apresentavam sinais de depressão aos seis anos da criança, demonstraram sentimentos de insegurança e inadequação.
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Tipologia: Notas de aula
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Depressão materna e desenvolvimento infantil: Análise de aspectos da personalidade da criança através do HTP
Fernanda Schettini Rosa
Monografia apresentada como exigência parcial do Curso de Especialização em Psicologia – Ênfase em Infância e Família – sob orientação do Prof. Dr. Giana Bitencourt Frizzo
Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Psicologia Especialização em Infância e Família Porto Alegre, abril de 2013.
Resumo
A depressão pós-parto é uma doença que atinge 10 a 16% das puérperas e se manifesta dentro dos três primeiros meses após o nascimento da criança.. Alguns estudos mostram que a interação mãe-bebê pode ser prejudicada pelos sintomas depressivos da mãe. O objetivo desse estudo foi investigar através do teste projetivo HTP aspectos da personalidade de crianças no sexto ano de vida, filhas de mães com e sem depressão. Participaram 7 díades mãe-criança residentes na cidade de Porto Alegre. A faixa etária das mães variou entre 22 e 38 anos e as crianças apresentaram idade média de 5,71 anos de idade. Nas crianças foi aplicado o teste HTP e nas mães o BDI. Uma Entrevista sobre a Experiência da Maternidade foi utilizada para obter dados sobre o desenvolvimento das crianças. Os resultados do estudo indicaram algumas peculiaridades nas crianças filhas de mães deprimidas, como sentimentos de inadequação e insegurança. Os resultados apoiam a expectativa inicial de que a depressão materna pode afetar negativamente alguns aspectos do desenvolvimento infantil.
Palavras Chave: Depressão Materna, Desenvolvimento Infantil, HTP.
Introdução
A depressão pós-parto materna é uma doença mental que atinge cerca de 10 a 16% das puérperas dentro dos três primeiros meses após o parto (Klaus, Kennel & Klaus, 2000). Os principais sintomas que caracterizam a depressão pós-parto são irritabilidade, choro frequente, sentimentos de desamparo e desesperança, falta de energia e motivação, desinteresse sexual, alterações alimentares e do sono, sensação de incapacidade perante novas situações e, em alguns casos, queixas psicossomáticas (Klaus et al, 2000). As atitudes maternas em relação ao bebê durante a depressão pós-parto são variáveis, mas podem incluir desinteresse, medo de ficar sozinha com a criança ou inclusive interações invasivas que podem prejudicar o descanso adequado do bebê (APA, 2002). Segundo a revisão literária realizada por Reading e Reynolds (2001), alguns fatores de risco estão diretamente ligados à depressão pós-parto. Tais fatores foram classificados pelos autores em três categorias: a primeira está relacionada à qualidade das relações pessoais que a mãe mantém com a família e principalmente com seu companheiro. A segunda categoria diz respeito à problemas na gravidez e no parto, e alguns eventos estressantes como falta de planejamento familiar e retorno ao trabalho. A terceira refere-se a adversidades socioeconômicas tais como desemprego, baixa renda e problemas financeiros. De acordo com o DSM-IV-TR (APA, 2002), a duração de um episódio depressivo é variável, podendo durar meses ou até anos. Este episódio se torna crônico quando os sintomas característicos de um transtorno depressivo perduram por pelo menos 2 anos. Portanto, a depressão pós-parto pode se tornar depressão crônica se a mãe não for submetida a um tratamento eficiente. O estudo longitudinal realizado por Campbell, Cohn e Meyers (1995), nos mostra a importância de se considerar a cronicidade da depressão materna na investigação das consequências dessa doença no desenvolvimento infantil. Neste estudo, primíparas com e sem depressão foram identificadas através da aplicação da Entrevista para Transtornos Afetivos e Esquizofrenia (Endicott & Spitzer, 1978) e da Escala de Depressão do Centro de Estudos Epidemiológicos (Radloff, 1977) no segundo mês após o parto. As mães foram filmadas interagindo com seus filhos em suas próprias casas no segundo, quarto e sexto mês de vida do bebê. Os critérios investigados foram a interação durante a amamentação, a interação face a face e o brincar mãe-bebê. A cada visita domiciliar, a Entrevista para Transtornos Afetivos e Esquizofrenia (Endicott & Spitzer, 1978) foi novamente realizada para avaliar a recorrência
dos sintomas depressivos. Assim, foi possível identificar mães com depressão remitente e mães com depressão crônica, além do grupo de comparação. O estudo indicou que a depressão pós-parto não significa necessariamente um prejuízo na interação mãe-bebê. Mas, por outro lado, quando a mãe apresenta uma depressão crônica – nesse caso considerada ao longo dos seis primeiros meses de vida do bebê – a amamentação, o contexto de brincadeira e as interações face a face podem ser significativamente prejudicados. Por ser uma doença em que a capacidade de interação da mãe fica reduzida, pode haver consequências graves para a saúde mental da criança, já que esta é influenciada tanto por fatores genéticos, como por fatores ambientais (Brum & Schermann, 2006). Segundo Klaus et al. (2000), os bebês têm alta sensibilidade quando se trata da qualidade da atenção despendida pelos adultos em direção a eles. Muitos deles respondem com estresse e recusa quando a comunicação com suas mães é interrompida por breves períodos de tempo. Vários estudos (Carlesso & Souza, 2010; Brum & Schermann, 2006; Schmidt, Piccoloto & Muller, 2005) apontam que tanto a depressão pós-parto quanto a depressão materna crônica podem influenciar o desenvolvimento infantil em aspectos cognitivos, emocionais e sociais. Ao fazer uma revisão da literatura, foram encontrados alguns artigos sobre as consequências da depressão materna para o desenvolvimento infantil. Arteche e Murray (2011) realizaram um estudo longitudinal com 235 crianças. Foi investigada a transmissão intergeracional de distúrbios afetivos (ansiedade e depressão). Recrutou-se um grupo de mães com depressão pós-parto que foram diagnosticadas através da Escala de Depressão Pós-parto de Edimburgo (Cox, Holden & Sagovsky, 1987) e os diagnósticos foram confirmados através da Entrevista Psiquiátrica Estruturada (Goldberg, Cooper, Eswood, Kedward e Shepherd, 1970). Outro grupo foi composto por mães com ansiedade pós-parto que foram identificadas através da aplicação da Escala de Ansiedade e Interação Social, da Escala de Fobia Social e do Questionário de Estado de Preocupação de Penn (Mattick & Clarke, 1998; Meyer, Miller, Metzger & Borkovec, 1990), e os diagnósticos foram confirmados usando a Entrevista Clínica Estruturada (First, Spitzer, Gibbon et al, 1995). As mães que não apresentaram diagnóstico positivo para nenhum dos transtornos foram convidadas para compor o grupo de comparação. Quando as crianças completaram 5 anos, foi aplicado o Desenho da Família (Corman, 1979). Os desenhos foram analisados utilizando itens adaptados dos sistemas de Reynolds (1978) e de Fury (1997). Nas mães ansiosas, foram reaplicados todos os instrumentos do período pós-parto e nas mães depressivas, aplicou-se um questionário de saúde geral que confirmaram a cronicidade dos sintomas. Os resultados do Desenho da Família permitiram
avaliação, é possível obter informações importantes sobre os interesses gerais do indivíduo, assim como conflitos com o ambiente (Buck, 2003).
No que diz respeito ao uso do HTP como método de avaliação, poucos estudos foram encontrados. Os que existem, em sua maioria, tratam de aspectos de aprendizagem escolar. Hazin, Frade e Falcão (2010), Jacob, Loureiro, Marturano, Linhares e Machado (1999) estudaram a relação entre autoestima e desempenho escolar. Em ambos os estudos observou- se que existe relação entre cognição e afetividade.
Na pesquisa realizada por Hazin et al. (2010) foram avaliados vinte alunos de 12 a 14 anos de idade que cursavam a 5ª série do Ensino Fundamental de uma escola pública da cidade de Recife-PE. Em uma primeira etapa, foi aplicado o HTP para identificar o nível de autoestima das crianças. Em um segundo momento, as variáveis autoestima e gênero foram utilizadas para compor duplas homogêneas (quanto à autoestima) e heterogêneas (quanto ao gênero) que responderam a um questionário de avaliação em matemática desenvolvido pela Secretaria de Educação da Cidade do Recife e implementado pelo Núcleo de Pesquisa em Avaliação de Pernambuco (Nape) – UFPE (Falcão, 1997) visando avaliar o desempenho global dos alunos ao final do primeiro ciclo do ensino médio (4ª série). Os resultados foram favoráveis para que se conclua que o desempenho escolar em matemática pode ser afetado por aspectos afetivos da criança.
Na mesma linha de estudo, Jacob et al. (1999) utilizaram o HTP e o Teste das Pirâmides Coloridas de Pfister para avaliar o funcionamento afetivo, especificamente a autoestima de 50 crianças de 8 a 12 anos, sendo metade delas apresentando baixo desempenho escolar e a outra metade com desempenho satisfatório. O estudo indicou que as crianças com baixo desempenho escolar apresentam maiores sentimentos de fracasso e autoimagem depreciativa do que as crianças com desempenho escolar satisfatório conforme indicado pelos instrumentos utilizados (HTP e Teste das Pirâmides Coloridas de Pfister), o que demonstra que problemas afetivos podem influenciar o desempenho escolar.
Não foram encontrados estudos relacionando HTP e as consequências da depressão materna crônica com início ainda no pós-parto para o desenvolvimento da personalidade de crianças de 6 anos. No entanto, alguns artigos, como o estudo realizado por Arteche et al. (2011) mostram que outros instrumentos – nesse caso, o Desenho da Família, também podem ajudar na avaliação da influência da depressão materna no desenvolvimento da criança.
Considerando os aspectos da personalidade que são evidenciados pelos resultados obtidos através do HTP relacionados com o histórico do indivíduo, torna-se interessante que se avalie através do teste projetivo HTP quais evidências sugerem o impacto da depressão materna no desenvolvimento da criança. Por isso, este estudo tem por objetivo comparar através do teste projetivo HTP elementos da personalidade de crianças filhas de mães com e sem depressão crônica.
Método
Participantes
Participaram 7 díades mãe-criança residentes na cidade de Porto Alegre. A faixa etária das mães variou entre 22 e 38 anos, sendo a média 31,14 anos (Dp=5,242). Quanto a escolaridade, 4 mães estudaram até o segundo grau, 2 delas concluíram o terceiro grau e 1 tinha o terceiro grau incompleto. Apresentavam nível socioeconômico baixo a médio-baixo. As crianças apresentaram idade média de 5,71 anos (Dp=0,408). A maioria das 7 crianças era do sexo masculino, sendo somente 2 do sexo feminino.A maioria das crianças morava com os pais e as mães, somente uma delas morava somente com o pai e convivia pouco com a mãe. No anexo A, podem ser observadas alguns dados das famílias através de tabela. As famílias selecionadas fizeram parte do projeto intitulado “O impacto da psicoterapia para a depressão materna e para a interação pais-bebê: Estudo longitudinal do nascimento ao segundo ano de vida do bebê – PSICDEMA” (Piccinini et al., 2003), que acompanhou 22 famílias com mães com depressão pós-parto e 5 famílias como grupo de comparação até o segundo ano de vida da criança. No ano em que as crianças completariam 6 anos, elas foram novamente contatadas para um estudo de folllow up denominado “Depressão pós-parto e psicoterapia pais-bebê: estudo de follow up aos 6 anos de vida das crianças” (Frizzo et al, 2009). Foi possível recontatar 16 famílias, mas dessas, 3 não quiseram participar do estudo de follow up, totalizando, então, 13 famílias. Desse total, foram selecionadas para o presente estudo 4 díades com mães deprimidas no pós-parto e aos 6 anos da criança e 3 em que a mãe não apresentou indicadores de depressão em nenhum dos dois momentos.
Delineamento, Procedimentos e Instrumentos
sentimentos a respeito do desempenho e do apoio do companheiro como pai, assim como os sentimentos sobre o apoio recebido por outras pessoas. No quinto bloco investigaram-se questões a respeito de cuidados alternativos para a criança, particularmente no que se refere à creche ou escola, bem como a interação do filho (a) com outras crianças. Cópia no anexo C. Nas crianças foi aplicado o teste projetivo HTP - House, Tree, Person (Buck, 2003). O HTP é uma técnica projetiva em que o sujeito avaliado é convidado a desenhar uma casa, uma árvore e uma pessoa, respectivamente. Este teste é validado pelo Conselho Federal de Psicologia, é comumente utilizado com crianças e, muitas vezes, é utilizado como a melhor forma de se obter informações sobre o indivíduo que dificilmente surgiriam através da fala. O teste tem quatro fases, mas é possível realizar somente as duas primeiras, como no caso do presente estudo. A primeira fase consiste no desenho acromático dos três elementos já citados (casa, árvore e pessoa), com uso de lápis preto e borracha. Se o examinador considerar necessário, pede-se que o sujeito desenhe uma pessoa do sexo oposto a que foi primeiramente desenhada. A segunda fase consiste na realização de inquérito sobre aspectos de cada desenho. O inquérito posterior aos desenhos tem por objetivo permitir que o sujeito expresse os sentimentos associados a cada desenho, investigando todos os elementos, inclusive os aspectos implícitos. Neste estudo, foi utilizada a versão reduzida do inquérito em que somente as perguntas mais importantes sobre os desenhos serão feitas. Em função dos direitos autorais do teste, ele não pode constar nos anexos do presente estudo.
Análise dos Dados
Foi realizada uma análise qualitativa dos desenhos e do inquérito do teste projetivo HTP a fim de analisar características da personalidade das crianças avaliadas. As Entrevistas sobre a Experiência da Maternidade foram utilizadas para complementar os dados obtidos através da análise do HTP. Os casos foram comparados em suas peculiaridades e diferenças quanto à depressão materna. A autora recebeu os dados dos casos sem identificação a fim de fazer uma análise cega do diagnóstico da mãe. Os desenhos foram analisados a partir de três categorias: Proporção, Perspectiva, Detalhes. Cada elemento desenhado pela criança estimula um determinado aspecto do modo como ela vivencia sua individualidade. A casa nos permite analisar o relacionamento mantido pelo indivíduo com os irmãos e pais, principalmente com a mãe. Este desenho provoca uma mistura de associações conscientes e inconscientes sobre o lar e as relações interpessoais mais
íntimas, revelando a capacidade do sujeito de reagir sob estresse e tensões nestas situações (Buck, 2003). Já a expressão gráfica da árvore, dos três desenhos é o que mais estimula associações subconscientes e inconscientes. Trata-se do desenho que retrata como o indivíduo reage em seu ambiente, as avaliações críticas em relação a ele e os recursos de personalidade para obtenção de satisfação no e do ambiente (Buck, 2003). O desenho da pessoa estimula a expressão direta da imagem corporal. As associações conscientes são bastante estimuladas a partir deste desenho. O principal fator expressado no desenho da casa é a maneira como o indivíduo atua nas relações interpessoais (Buck, 2003)
Discussão dos Casos
CASO 1
Denise tinha 32 anos quando participou da primeira parte da pesquisa, enquanto seu filho, Gustavo, tinha sete meses de idade. O resultado do BDI realizado na época foi 34, representando indicadores de depressão pós-parto moderada. A mãe passou por doze sessões de psicoterapia pais-bebê oferecidas pela pesquisa para melhorar o vínculo mãe-bebê^1. Ao final do tratamento, o BDI foi reaplicado e resultou em 14, o que indica depressão leve. Seis anos depois, o BDI foi mais uma vez realizado e o resultado apontou novamente indicadores de depressão moderada (BDI=34). Gustavo é o primeiro filho do casal, mas tem uma irmã mais velha de dezoito anos, fruto de em um relacionamento anterior de Denise. Gustavo mora com o pai e convive pouco com a mãe, e há muito tempo não tem contato com a irmã.
Entrevista sobre a Experiência da Maternidade aos seis anos da criança
A mãe relatou que a criança era muito doce e querida. Ela contou que se envolveu com problemas familiares (filha usuária de drogas e pai bipolar) e se afastou dos cuidados com Gustavo. O marido resolveu interná-la para tratar a depressão e se separou, levando o filho para morar com ele. Denise referiu que não consegue manter contato com Gustavo; fazia visitas mensais, mas não conseguia se sentir a vontade para conviver com ele. Quando estava
(^1) Descrição da Psicoterapia utilizada pode ser encontrado em Prado et al (2009).
deste relato que a criança seria acessível para relacionamentos com figuras masculinas, pois Gustavo tinha somente o pai ao seu lado, talvez necessitando da convivência com uma figura materna. Gustavo realizou o desenho de uma árvore pequena e utilizou uma pequena área da página. Neste desenho observa-se novamente insegurança, retraimento, descontentamento e regressão através do tamanho pequeno do desenho. A criança demonstra também tendência a se afastar do ambiente ao utilizar uma pequena área da página. A árvore desenhada muito pequena nos remete a fortes sentimentos de inadequação para lidar com o ambiente. Na terceira expressão gráfica, a criança desenhou em uma pequena área da página uma pessoa de tamanho pequeno, totalmente de frente, com braços completamente estendidos em ângulo reto com o tronco, com mãos grandes. Quando esta é desenhada de frente, com braços estendidos em ângulo reto com o tronco pode-se interpretar que a criança apresenta profunda necessidade de ocultar sentimentos de inadequação e insegurança com uma sugestão de prontidão para enfrentar tudo direta e firmemente. As mãos grandes da pessoa desenhada implicam impulsividade e falta de capacidade nos aspectos mais refinados do convívio social. Mais uma vez sentimentos de insegurança, inadequação e retraimento aparecem por conta do tamanho pequeno da figura e da área utilizada. Ao fazer uma síntese interpretativa do HTP, pode-se observar que Gustavo demonstra muita incerteza e grande ansiedade em relação aos conflitos vivenciados na família (ausência da mãe). Pode considerar que o pai lhe traz segurança, mas ainda assim há indicadores de sentimentos de rejeição e insegurança em relação à mãe. Toda esta situação em que se encontra a família traz para a criança fortes sentimentos de inadequação para lidar com o ambiente o que faz com que Gustavo tenda a se afastar, se sentindo inseguro. Nas relações interpessoais, Gustavo pode preferir esconder sua insegurança, mostrando-se pronto para enfrentar qualquer situação de forma direta e firme. Porém, a impulsividade impera sobre os aspectos mais refinados do convívio social, como pode ser apreendido pelo relato da mãe que refere que Gustavo teve alguns problemas de relacionamento com os colegas da escola.
CASO 2
Deise, na época com 22 anos, participou da primeira parte da pesquisa com a filha, Kelly de três meses de idade. Foi realizado o BDI e o resultado indicou depressão pós-parto moderada (BDI=33). Assim, participou de doze sessões de psicoterapia pais-bebê oferecidas
pela pesquisa. Ao final do tratamento, o BDI foi reaplicado e o teste resultou em 28, mostrando que ela continuava com indícios de depressão moderada. Após seis anos, o BDI foi novamente realizado e mais uma vez o resultado apontou indicadores de depressão moderada (BDI=27). Kelly é a segunda de 3 irmãos. Além de Kelly e da irmã mais nova de um ano e meio, Deise teve o primogênito em um relacionamento anterior e este filho morava com sua mãe, no mesmo terreno em que se localizava sua casa.
Entrevista sobre a Experiência da Maternidade aos seis anos da criança
Deise relatou que ela e o marido se desentendiam bastante por causa de Kelly. Disse que a filha é outra pessoa quando está na frente do marido que, por motivos de trabalho, viajava bastante e tinha pouco tempo para conviver com a família. A mãe relatou ainda que Kelly não a obedecia e o que pai fazia tudo que ela queria, como pode ser observado neste relato da mãe: “Ele protege ela demais e ela acaba se sentindo mais forte. Ela é autoritária, acho que ela quer ser eu. Para os outros, é essa santice”. Aos seis anos, a criança não tinha uma alimentação saudável. Tinha algumas preferências para comer, mas a mãe não cozinhava o que ela queria porque ela mesma não gostava dos mesmos alimentos que a filha queria consumir. No ano em que completaria seis anos, Kelly ainda fazia uso da mamadeira. Deise relatou que uma fonoaudióloga recomendou a retirada da mamadeira para evitar futuros problemas, mas a menina chorava muito. A menina teve problemas logo que entrou na creche com 3 anos e meio de idade, era agredida pelos colegas. Mudou de escolinha, mas continuou tendo problemas, Kelly não conseguia se integrar. A mãe acreditava que os colegas sentiam ciúmes de Kelly e aconselhou a criança a revidar as agressões. Na escola estava mais integrada com os colegas, mas passou por alguns episódios de bullying , como por exemplo, Kelly não queria mais vestir um casaco de sua mãe porque seus colegas a compararam com um elefante e a chamaram de “gorda”. Em outra situação, a criança não queria mais usar um par de sapatos novos porque os colegas disseram que ela ficava com os pés grandes quando o usava. O relacionamento com os irmãos era recheado de brigas. Deise relatou que Kelly provocava os irmãos. A mãe não gostava que as crianças brincassem com os vizinhos porque, ao seu ver, eram sujos, e tinha medo que elas pegassem doenças. Deise tinha receio de deixar a filha ir aos passeios do colégio. Relatou ter medo que ela se perdesse, afirmando que Kelly era muito distraída. Deise considerava Kelly muito
No desenho da pessoa, Kelly utilizou quase todo o espaço da folha, inclusive uma parte do desenho foi cortada pela base da folha. Os braços da pessoa foram desenhados muito finos. Utilizar quase todo o espaço da página com uma parte do desenho sendo cortado pela margem pode representar sensação de ambiente restritivo, tensão, sentimento de frustração e de hostilidade em relação ao ambiente. O corte do desenho realizado na base da página remete- nos a probabilidade de que repressão esteja sendo usada como estratégia para manter a integridade da personalidade. Os braços muito finos podem ser interpretados como dependência. Ao fazer uma síntese interpretativa do HTP, pode-se observar que talvez Kelly sinta necessidade de “calor” no lar. A criança pode sentir também dificuldade em demonstrar-se acessível para interagir no ambiente familiar, o que pode ser causado pela ambiguidade dos pais em relação aos limites impostos na educação da filha. A criança apresentou nos desenhos sentimentos de inadequação e insegurança e tendência a se afastar do ambiente em que vive. Kelly demonstrou dependência e imaturidade, o que é comum em crianças pequenas, mas, a partir do relato da mãe na entrevista sobre a experiência da maternidade pode-se notar que esta característica não é bem aceita pela mãe. Apresentou falha nos mecanismos de superar dificuldades e necessidade de apoio, talvez porque a mãe seja bastante exigente. Quanto à capacidade da criança para atuar nas relações interpessoais, apresentou no desenho da pessoa sentimento de frustração e hostilidade em relação a um ambiente restrito. Foi interpretado que este ambiente restrito seria a escola, pois a mãe relatou que a criança sofreu alguns episódios de bullying. Apesar de não ter mais problemas no ambiente escolar, Kelly demonstrou necessidade de aprovação dos colegas, o que poderia gerar ansiedade. É provável que repressão estivesse sendo usada pela própria criança como estratégia para manter a integridade da personalidade.
Vanessa participou da pesquisa quando tinha 31 anos juntamente com seu filho, Marcelo, que na época estava com cinco meses de idade. Foi realizado o BDI obtendo-se o resultado 36, o que pode nos indicar depressão grave. A partir deste resultado, Vanessa foi convidada a participar de uma psicoterapia pais-bebê com o intuito de melhorar o vínculo mãe-bebê, completando dez sessões. Ao final do tratamento, o BDI foi reaplicado e o teste
resultou em 12, representando indicadores de depressão leve. Após seis anos do tratamento, o BDI foi novamente realizado e mais uma vez o resultado foi 12 (depressão leve). Marcelo era o filho caçula da família – tinha uma irmã de quinze anos. Os dois moravam com os pais na antiga casa dos sogros de Vanessa.
Entrevista sobre a Experiência da Maternidade aos seis anos da criança
Vanessa fez muitos elogios ao filho, como pode ser observado no seguinte relato: “Marcelo é o sonho de consumo de qualquer mãe. (...) O Marcelo é perfeito, ele é maravilhoso, é um filho amoroso, carinhoso. O Marcelo me ensinou a beijar de cinco em cinco minutos”. A mãe referiu que, quando contrariada, a criança demonstrava ter personalidade forte, ficando bravo. Relatou também que costumava brincar bastante com a criança e a convivência, no geral, era muito boa. A mãe contou que Marcelo superou suas expectativas durante a gravidez, pois a primeira filha teve muitos problemas durante a infância e, por isso, Vanessa tinha medo que o segundo filho lhe trouxesse muitas preocupações também. Ana, a irmã mais velha, e Marcelo mantinham um bom relacionamento com Marcelo e, segundo a mãe, a irmã ajudava mais nos cuidados com o irmão do que Eduardo, o pai. Vanessa relatou que o pai era muito imaturo, não conseguia dar conta das tarefas com o filho sem sua supervisão e, muitas vezes, não conseguia se impor como pai, mas costumava brincar com a criança sempre que podia. Marcelo utilizava a mamadeira aos seis anos, antes de dormir e ao acordar, e mamou no peito até os 2 anos e meio. Apresentava problemas para dormir sozinho no quarto, sentia medo. A criança teve dificuldade na adaptação na creche, chorava muito quando Vanessa o deixava, mas na escola tinha boa avaliação e ótimo relacionamento com os colegas, inclusive fazia apresentações de dança quando os amigos solicitavam. É possível apreender como Vanessa se descrevia como mãe a partir do seguinte relato: “Eu sou uma mãe relapsa em muitas vezes assim, eu não sou disciplinada com horário, ãhn, comida, essas coisas assim. Eu sou muito permissiva em algumas situações (...) mas assim, no geral, né, eu acho que eu tô fazendo o que eu me propus a fazer, né, que é orientar e deixar a coisa fluir pro lado do certo, que eu acho, pelo menos, que é certo”. Quanto à opinião de Eduardo em relação à sua função de mãe, Vanessa relatou que acreditava que ele confiasse muito em seus métodos para educar os filhos, tanto que na
pequenas). Nas relações interpessoais, Marcelo demonstrou impulsividade e dificuldade para conviver socialmente. Os desenhos revelaram sentimento de inadequação e ansiedade, mas apresentou-se exibicionista no ambiente escolar, confirmando o relato da mãe de que Marcelo realizava apresentações de dança para os amigos de escola. Possivelmente o exibicionismo foi a forma que encontrou para ser aceito pelos colegas e para lidar com a insegurança. Nos desenhos apresentou indícios de busca de satisfação na fantasia para compensar a frustração que sente no ambiente.
CASO 4
Irene, com 38 anos no início da pesquisa, participou com seu filho Daniel com sete meses de idade. O BDI realizado resultou em 32, o que indica depressão moderada. Com este resultado, Irene participou de doze sessões de psicoterapia a fim de melhorar o vínculo mãe- bebê. Ao final do tratamento, o BDI foi reaplicado, chegando ao resultado de 28, o que confirma que Irene continuava com depressão moderada. Após seis anos, o BDI foi novamente aplicado e o resultado apontou depressão leve (BDI=12). Daniel era o mais novo de três filhos, tinha duas irmãs mais velhas. Os três moravam com os pais.
Entrevista sobre a Experiência da Maternidade aos seis anos da criança
Irene relatou que Daniel era um filho maravilhoso, uma excelente criança, muito educada. Revelou que a gestação não foi programada e que este fator foi o que desencadeou o episódio de depressão que teve quando Daniel nasceu. Apesar disto, a mãe declarou que a chegada do filho alegrou a família. A mãe referiu ter um bom relacionamento com Daniel. Ela era responsável por praticamente todas as tarefas em relação aos cuidados do filho, pois o pai trabalhava muito e tinha pouco tempo para conviver com Daniel. Aos seis anos, a criança apresentava algumas dificuldades na hora das refeições, não se alimentava de forma saudável. O sono era tranquilo, dormia em seu próprio quarto, mas, algumas vezes, dormia na cama dos pais. Irene referiu que o filho ainda utilizava a mamadeira ao acordar, à tarde e ao dormir, mas que ela não pretendia retirar, pois já teve experiências negativas com as filhas mais velhas que, a partir da retirada da mamadeira, não faziam a refeição da manhã.
Daniel entrou na creche com um ano e meio, fato que causou muito insegurança para a mãe. A criança chorava bastante e não se adaptou com facilidade, então, a mãe preferiu deixá- lo sob os cuidados de uma conhecida. Ao entrar na escola, se adaptou com facilidade, mas Irene percebeu que ele tinha dificuldade para se enturmar com os colegas, inclusive a professora lhe contou que Daniel precisava ser incentivado para interagir com a turma. O relacionamento da criança com as irmãs foi descrito pela mãe como uma relação normal entre irmãos, às vezes, brigam, mas, na maioria das vezes, se relacionam bem. Irene relatou estar satisfeita com a participação de Edgar, pai de Daniel; referiu que ele participava bastante dos cuidados com o filho. A mãe descreveu Edgar como um ótimo pai, muito carinhoso, que, sempre que podia, ajudava nos cuidados de Daniel e estava sempre brincando com o filho. Irene acreditava que Edgar a via como uma boa mãe, dedicada e preocupada, e que ele confiava bastante nela. Irene se considerava uma boa mãe, cuidadosa e carinhosa, mas, relatou algumas preocupações em relação à maternidade: “Tenho medo de errar em algumas coisas, né, educar ele, dar educação, se vê que é muita proteção pra ele, né, e as coisas que eu tenho medo de eu ser muito mãezona pra ele, assim, protetora. (...) assim, quando eu largo ele na escola, quando ele se queixa que tá com alguma dor, alguma coisa, fico preocupada com a alimentação dele porque ele não quer comer, essas coisas assim”.
A criança desenhou uma casa com porta pequena, com ênfase nas cortinas que forma desenhadas não completamente fechadas. A chaminé foi representada com fumaça. A fumaça que sai da chaminé indica sentimento de pressões ambientais. As cortinas não completamente fechadas podem significar que a interação com o ambiente é conscientemente controlada e acompanhada por alguma ansiedade, assim como a ênfase nas cortinas nos remete a retraimento. A porta pequena pode significar reserva, inadequação e indecisão. A árvore foi desenhada por Daniel em tamanho pequeno, centralizada, com um galho quebrado e uma cicatriz no tronco. No inquérito, a criança relatou que a árvore estava distante dela. O tamanho pequeno do desenho da árvore em relação à página indica insegurança, retraimento, descontentamento e regressão. A localização central na página pode significar rigidez, mas é uma característica comum em crianças pequenas. A árvore foi relatada estando