




























































































Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Prepare-se para as provas
Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Prepare-se para as provas com trabalhos de outros alunos como você, aqui na Docsity
Os melhores documentos à venda: Trabalhos de alunos formados
Prepare-se com as videoaulas e exercícios resolvidos criados a partir da grade da sua Universidade
Responda perguntas de provas passadas e avalie sua preparação.
Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Comunidade
Peça ajuda à comunidade e tire suas dúvidas relacionadas ao estudo
Descubra as melhores universidades em seu país de acordo com os usuários da Docsity
Guias grátis
Baixe gratuitamente nossos guias de estudo, métodos para diminuir a ansiedade, dicas de TCC preparadas pelos professores da Docsity
Esta dissertação é o resultado de uma pesquisa que teve como principal objetivo identificar, analisar e aplicar estratégias de preparação vocal a fim de contribuir na construção da sonoridade do personagem para a cena cantada no teatro musical brasileiro. O trabalho discute conceitos como as principais características da voz cantada no teatro musical e a construção da sonoridade vocal do personagem para a canção na cena, resultando em uma proposta de preparação vocal baseada nas estratégias identificadas. A pesquisa conclui que ao preparar vocalmente o ator iniciante para espetáculos de teatro musical é importante que se ensine as técnicas básicas do canto, aplicando o nível de fala na voz cantada e desenvolvendo recursos vocais para que se possa expressar diferentes personalidades e emoções por meio de um processo de estudo cênico e de sua própria interpretação.
Tipologia: Esquemas
1 / 186
Esta página não é visível na pré-visualização
Não perca as partes importantes!
Estratégias de Construção da Sonoridade para a Cena Cantada. NATAL - RN 2021
Estratégias de Construção da Sonoridade para a Cena Cantada. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, na linha de pesquisa 1 - Processos e Dimensões da Formação em Música, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Música. Orientador: Prof. Dr. Jean Joubert Freitas Mendes NATAL - RN 2021
Estratégias de Construção da Sonoridade para a Cena Cantada. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, na linha de pesquisa 1 - Processos e Dimensões da Formação em Música, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Música. Aprovada em: //___ BANCA EXAMINADORA:
PROF. DR. JEAN JOUBERT FREITAS MENDES UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ORIENTADOR
PROF. DR. ALEXANDRE DE OLIVEIRA BÁDUE WABASH COLLEGE MEMBRO DA BANCA
PROF. MÁRIO ANDRÉ WANDERLEY DA SILVA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE MEMBRO DA BANCA
Esta dissertação é o resultado de uma pesquisa que teve como principal objetivo identificar, analisar e aplicar estratégias de preparação vocal a fim de contribuir na construção da sonoridade do personagem para a cena cantada no Teatro Musical brasileiro. Trata-se de um estudo sobre técnica vocal e as práticas interpretativas do ator durante a canção. O trabalho é direcionado a atores, cantores, preparadores vocais, professores de canto e pesquisadores da área. Após uma reflexão introdutória, é apresentado o resultado de uma pesquisa bibliográfica baseada sobretudo em autores como Miller (1986), (1994), (2011), Costa e Silva (1998), Fuks (1999), Behlau (2001), Fernandes (2009), Gil e Herbst (2016), Silva e Herr (2016) sobre a técnica vocal e a pedagogia do canto, Cardoso (2016); (2017), Esteves (2014) a respeito da sonoridade e práticas interpretativas no Teatro Musical brasileiro, entre outros autores. Na sequência, é apresentado o desenvolvimento da pesquisa em um grupo de extensão de Teatro Musical da Escola de Música da UFRN com atores amadores sendo apontadas, inicialmente, as características e necessidades vocais dos alunos. Ao mesmo tempo, é apresentada uma investigação e discussão sobre as estratégias de preparação vocal para o Teatro Musical usadas por profissionais reconhecidos na área e atuantes no mercado brasileiro. Tais estratégias dão base para a elaboração de uma proposta experimental de preparação vocal para Teatro Musical a qual é adaptada e aplicada no grupo estudado, sendo tal processo relatado no capítulo seguinte. Por fim, são apresentadas as avaliações feitas durante e ao final do processo, apontando os resultados identificados. A pesquisa conclui que ao preparar vocalmente o ator iniciante para espetáculos de Teatro Musical é importante que se ensine as técnicas básicas do canto, aplicando o nível de fala na voz cantada e desenvolvendo recursos vocais para que se possa expressar diferentes personalidades e emoções por meio de um processo de estudo cênico e de sua própria interpretação. Durante a prática da canção é necessário também que seja feito um estudo do texto e da música, investigando o seu estilo e os elementos que a compõem, propondo uma sonoridade vocal que melhor comunique as características identificadas. Palavras-chave: Preparação vocal. Teatro Musical. Sonoridade Vocal. Cena cantada.
Os profissionais preparadores da voz cantada ………………...…...…….. Definindo a sonoridade vocal dentro do contexto do espetáculo ..……. Contextualização histórica………………………………...………………..……. A abundância de padrões sonoros nos Musicais brasileiros……………….... Discussões sobre o uso do belting ……………………………………………... Aspectos básicos da técnica do canto para o Teatro Musical no Brasil Respiração e Apoio……………………………………………………………….. Fonação e o início do som: “ataque” vocal…………………………………….. Ressonância e articulação……………………………………………………….. Registração vocal…………………………………………………………………. IDENTIFICANDO AS PARTICULARIDADES E ESTRATÉGIAS DE ENSINO PARA ATUAÇÃO NO PROJETO POLI DA EMUFRN ….............. Montagem do primeiro espetáculo: Sob o céu de Órion ....................... Os ensaios e o processo de montagem.................................................... Entrevistas com os participantes do grupo Livre....................................... Estratégias de preparação vocal para o Teatro Musical: entrevistas com preparadores vocais e professores de canto ............................... Principais características da voz cantada no Teatro Musical...................... Primeiros passos no estudo do canto para o Teatro Musical.................... Evidenciando as emoções no som da voz cantada................................... Estudo de ornamentos vocais a fim de contribuir na sonoridade da canção………………………………………………………………………...…. Construção da sonoridade vocal do personagem de Teatro Musical......... CONTRIBUINDO NA CONSTRUÇÃO DA SONORIDADE VOCAL PARA A CENA CANTADA …………....…………………………………………….…. Montagem do segundo espetáculo: Maldito Sertão: à sombra da cruz Contextualizando o Musical………….…………………................................. Os ensaios e o processo de montagem………………………………………..
Aplicação da proposta de preparação vocal no grupo Livre ................. Estudo das técnicas vocais básicas…………………….……………….…….. Identificando a natureza vocal do cantor……………………………...……... Abordagem sobre a fisiologia e o funcionamento do aparelho fonador…... Principais cuidados com a saúde vocal……………………..……………….. Trabalhando a respiração e apoio………………...…………………………. Exercícios de aquecimento………………………………………..……..……. Fonação, ressonância e articulação……………..…………………………... Reconhecimento e exploração dos registros vocais…………...…………... Nível de fala aplicado a voz cantada…………………………………………. Prática das técnicas no repertório……...………………………..……….…. Contribuição na sonoridade vocal dos personagens para a canção…….. Sonoridade da voz do coveiro……………..………………………..……….. Sonoridade da voz de Dona Tereza…………...….………………………... Sonoridade da voz de um dos fantasmas….…………………………...…. Avaliações e Resultados ..................................................................... Avaliações durante a intervenção no grupo………………………………... Sonoridade vocal dos atores antes e após a intervenção………………... Participante 1………………………………………………………………….. Participante 2………………………………………………………………….. Participante 3………………………………………………………………….. Avaliação geral e resultados…………………………………………………. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................
ANEXO A - Roteiro: Sob o Céu de Órion ................................................ 152 ANEXO B - Roteiro: Maldito sertão: à sombra da cruz ........................... 178
9 indivíduo. Tais recursos também podem ser utilizados de forma artística, através do canto e do teatro, dando mais expressividade à sonoridade do ator na cena cantada. Sabe-se que o ator de Teatro Musical, além da dramaturgia e da dança, se utiliza do canto para empreender narrativas e transmitir diferentes mensagens ao público. Entretanto, muitos deles, por não terem prática na área da música, apresentam dificuldades com as técnicas do canto e, por isso, têm sua expressividade vocal limitada ao interpretar a cena cantada. Além disso, outras dificuldades podem surgir, como construir um timbre específico para a voz do personagem, bem como comunicar suas emoções, mantendo a mesma sonoridade durante a interpretação da canção. Dessa forma, os profissionais da voz que atuam nesta área, ao prepararem o ator, necessitam utilizar estratégias de ensino e treino vocal a fim de desenvolver tais habilidades nos intérpretes. Apesar do ensino de canto erudito ter iniciado séculos atrás, é recente o interesse dos professores em ensinar as técnicas do canto popular, que estão mais presentes no Teatro Musical. Rubim (2010) relata sua experiência em um congresso de professores: Em 1997 estive em Londres no IV ICVT (Quarto Congresso Internacional de Professores de Canto). Lá me surpreendi com uma palestra da renomada professora e pesquisadora Jo Estill (ver indicações bibliográficas) na qual ela explicava como ensinava a técnica do belting^1 e constatei que a maioria dos professores lá presentes, representantes de todo o mundo, tinham dúvidas a respeito da técnica e de como ensiná-la. (RUBIM,2010, p.41). Porém, mesmo após décadas de estudos nesse sentido, como o Teatro Musical é ainda uma área em ascensão no Brasil, bem como os estudos sobre as técnicas de ensino do canto popular, há ainda pouco material acadêmico produzido neste sentido em língua portuguesa, direcionado ao contexto nacional, e cada profissional acaba desenvolvendo seus métodos e estratégias pessoais ao lidar com o ensino de canto e a preparação vocal dos atores. Com base nesta reflexão inicial, este trabalho surge a partir do desejo do pesquisador de compreender e apresentar diferentes estratégias sobre o processo de preparação vocal do ator de Teatro Musical brasileiro, desenvolvidas por profissionais experientes na área e atuantes no mercado nacional e, com isso, (^1) Técnica de emissão vocal com características de um som metalizado e estridente, vindo do estilo Broadway e utilizado no Teatro Musical em geral. (CARDOSO; FERNANDES, 2015).
10 auxiliar atores, cantores, preparadores vocais, professores de canto e pesquisadores, disponibilizando tais informações. Apesar de haver um bom número de pesquisas e abordagens técnicas para canto no Teatro Musical, principalmente em língua inglesa, durante a realização deste trabalho, percebeu-se através de pesquisa bibliográfica que há uma escassez de materiais que discutam tais técnicas aplicadas especificamente no contexto do Teatro Musical brasileiro, considerando os estilos musicais e a sonoridade da língua portuguesa. Portanto, esse trabalho, acima de tudo, tem a intenção de contribuir para a produção de pesquisa nacional nessa área. Quando se fala em Teatro Musical neste trabalho obviamente não se tem a intenção de abranger todas as formas teatrais musicadas e seus diversos gêneros. Para tanto, seria necessário uma investigação bem mais aprofundada, o que demandaria outras pesquisas voltadas para cada área. A intenção desse trabalho, no entanto, é tratar sobre a preparação vocal direcionada às principais demandas de Teatro Musical no Brasil atualmente. A pesquisa foi desenvolvida e aplicada a partir da observação e participação em um grupo de extensão em Teatro Musical da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EMUFRN). O seu objetivo central foi identificar, analisar e aplicar estratégias de preparação vocal a fim de contribuir na construção da sonoridade do personagem para a cena cantada em um espetáculo de Teatro Musical. Para tanto, foi necessário seguir os seguintes passos: ● Reconhecer as características e necessidades vocais dos alunos de um projeto de extensão em Teatro Musical da EMUFRN; ● Identificar as estratégias de ensino utilizadas por professores de canto e preparadores vocais que atuam profissionalmente na área do Teatro Musical; ● Analisar as estratégias identificadas e desenvolver uma proposta de preparação vocal a fim de contribuir na sonoridade da voz cantada do personagem; ● Aplicar a proposta nos alunos do projeto de extensão observado; ● Refletir sobre os resultados da proposta aplicada. Dessa forma, inicialmente, foi feita uma pesquisa bibliográfica sobre a preparação vocal e o canto no Teatro Musical brasileiro. Além disso, foi feita uma
12 O terceiro capítulo relata, inicialmente, a identificação das características do grupo estudado, suas qualidades, dificuldades e particularidades durante a montagem do primeiro espetáculo escrito pelo próprio grupo em uma composição colaborativa, intitulado Sob o Céu de Órion (2019). Também são abordadas as entrevistas realizadas com os seus integrantes a fim de entender como enxergam o processo de preparação vocal para a cena cantada durante os ensaios. Além disso, o capítulo apresenta a identificação e discussão de estratégias de ensino de canto para o Teatro Musical usadas por profissionais da área, atuantes no mercado nacional. São discutidos conceitos como as principais características da voz cantada no Teatro Musical e a construção da sonoridade vocal do personagem para a canção na cena, resultando em uma proposta de preparação vocal baseada nas estratégias identificadas. Por fim, o quarto capítulo traz um relato sobre a adaptação e aplicação da proposta logo após a montagem do segundo espetáculo do grupo Livre, Maldito Sertão: Sob a Sombra da Cruz (2020) de Márcio Benjamim. Sendo também apresentadas as avaliações feitas durante e ao final do processo, apontando os resultados identificados ao fim da intervenção no grupo.
13 2 A PREPARAÇÃO VOCAL VOLTADA PARA O TEATRO MUSICAL NO BRASIL Ao considerar o ensino e as instruções em relação à voz cantada, sabe-se que a pedagogia vocal de uma forma mais sistematizada se inicia com o canto erudito. De acordo com Farah (2019), “a genealogia da pedagogia da estética e técnica do canto lírico estende-se em uma linha que começa no século VII de nossa era”. O ensino de canto se desenvolveu ao longo do tempo, mas somente no século passado, a partir do avanço de estudos científicos e de um entendimento mais aprofundado sobre a fisiologia vocal, passou-se a desenvolver técnicas a partir dos novos conhecimentos sobre a estrutura e o funcionamento do aparelho fonador. Dessa forma, pesquisadores e pedagogos da voz começaram a dedicar-se ao estudo e desenvolvimento de técnicas que também pudessem atender as demandas de outros estilos e gêneros musicais. Apesar de ainda recente a disponibilidade dos professores de canto em ensinar o canto popular, pode-se dizer que a ascensão do mercado dos Musicais no Brasil na década de 1990 e início deste século, contribuiu para que esses profissionais buscassem uma melhor capacitação, inclusive estudando fora do país, a fim de atender a demanda dos atores e cantores brasileiros. Nós viramos mercado internacional e os cantores brasileiros começam a vislumbrar o momento onde as audições, dentro dos moldes da Broadway, começam a acontecer de forma mais sistemática e profissional. A procura por preparo também é um fator marcante da década de 1990 e os professores e alunos de canto que estudaram fora do país começam a compartilhar e demonstrar seu conhecimento influenciando a qualidade técnica dos novos espetáculos (RUBIM, 2010, p. 44). Por outro lado, Rubim continua afirmando que os profissionais da voz no Brasil naquele momento ainda não tinham muitas referências sobre técnica vocal, já que as grandes publicações sobre a voz cantada com embasamento científico foram lançadas ainda na década de 1980, todas em língua estrangeira. “Pouquíssimos professores tinham acesso a teóricos como Richard Miller (1986, 1993, 1996, 2000, 2004, 2008) e Johan Sundberg (1987) que são ícones internacionais em voz cantada” (Ibid., 2010, p. 44). Dessa forma, ao longo dos anos os professores brasileiros foram desenvolvendo e adaptando suas próprias técnicas de preparação vocal para o
15 Portanto, com o intuito de trazer mais esclarecimento sobre este tópico, o presente capítulo aborda o assunto logo em sua primeira parte, apresentando as primeiras falas dos profissionais entrevistados durante a realização da pesquisa. Ao todo foram entrevistados seis especialistas que trabalham profissionalmente com Teatro Musical e que atuam em montagens de espetáculos a nível nacional, mas principalmente no eixo Rio - São Paulo. São eles: Chiara Santoro, Rafael Villar, Tony Lucchesi, Marconi Araújo, Aurora Dias e Mirna Rubim. Os outros pontos tratados nas entrevistas, bem como os detalhes sobre a metodologia e o perfil de cada entrevistado, são apresentados mais à frente no capítulo 3 onde serão abordadas as estratégias de preparação vocal para o Teatro Musical. A discussão inicial aqui levantada dá base aos outros tópicos tratados ao longo deste capítulo, onde são feitas reflexões sobre as diferentes sonoridades do Teatro Musical dentro do contexto nacional e as principais técnicas do canto usadas durante o processo de preparação dos atores para a cena cantada. 2.1 Os profissionais preparadores da voz cantada A função do preparador vocal que trabalha com cantores pode variar de acordo com o profissional que está realizando o trabalho, quer seja um professor de canto ou um fonoaudiólogo. Os objetivos e necessidades individuais do cantor ou cantora podem determinar quais trabalhos cada profissional deverá realizar durante o processo de condicionamento vocal. “Há alguns anos a Fonoaudiologia passou a fazer parte do estudo técnico elementar do profissional envolvido com voz cantada, pois os cuidados com a voz são de suma importância, visto que levam à longevidade da voz”. (COLEPICOLO, FERREIRA, 2017, p. 03). Dessa forma, passou-se a considerar o fonoaudiólogo também como preparador de cantores, atuando, porém, dentro de suas especificidades. O trabalho desse profissional se direciona a alguns pontos que podem ser citados, como por exemplo, as orientações em relação à fisiologia e saúde vocal; esquema corporal; respiração; ressonância; o aparelho fonador; audição; as condições do uso da voz; o aspecto emocional e/ou psíquico; as relações entre a fala e o canto e a motricidade orofacial. (Ibid., 2017, p. 03).
16 Já o professor de canto é o profissional que trabalha diretamente com a voz de uma forma artístico-musical. Miller (1994) afirma que assim como o fonoaudiólogo, este profissional deseja evitar o abuso vocal, mas ao mesmo tempo desenvolve o ensino das técnicas a partir de uma visão estética-artística, e completa dizendo que, se a técnica de canto não estiver de acordo com o equilíbrio das funções fisiológica e acústica, correrá o risco de haver o surgimento de problemas vocais. Portanto, como afirmam Colepicolo e Ferreira (2017), ambos os profissionais estão preocupados em desenvolver técnicas que preservem a saúde vocal do cantor, contribuindo no uso da voz cantada. Os professores de canto com foco no auxílio e na formação e os fonoaudiólogos visando o bem-estar no uso da voz. Pode-se dizer que tais profissionais desenvolvem trabalhos essenciais com os cantores/atores e ao invés de concorrentes, se completam no trabalho de preparação vocal. Apesar da atuação do fonoaudiólogo e do professor de canto ser diferente, o trabalho em parceria na voz cantada pode trazer benefícios para os sujeitos que fazem uso da voz, principalmente no que tange aos cuidados com a voz. Em outro âmbito, para o lado clínico, significa a compreensão de especificidades envolvidas no atendimento dos pacientes e para o lado artístico, recursos mais objetivos e concretos nas questões relacionadas à produção da voz (COLEPICOLO, FERREIRA, 2017, p. 02). Durante a preparação vocal para a cena cantada no Teatro Musical é comum que sejam usadas estratégias e exercícios baseados na pedagogia vocal desenvolvida por pesquisadores e professores de canto. Porém, qual seria de fato a diferença entre o preparador vocal e o professor de canto, levando em conta que são utilizadas estratégias em comum ao lidar com os cantores? Ao realizar as entrevistas com os especialistas, o pesquisador, inicialmente, abordou essa questão e os entrevistados comentaram sobre as especificidades desses profissionais e como se diferem. Sobre esse assunto a professora Aurora Dias comentou: “Quando eu estou como professora de canto eu tô num processo mais longo [...] a preparação vocal já é uma coisa mais direcionada, para alguma coisa específica.” (AURORA DIAS). Na mesma linha de pensamento a professora Chiara Santoro fala sobre as diferentes funções e destaca a importância de o preparador vocal desenvolver o seu
18 Nesse sentido, todos os entrevistados parecem concordar que fonoaudiólogos e professores de canto podem exercer a função de preparador vocal para trabalhos específicos com abordagens diferentes, de acordo com suas formações. De acordo com o diretor musical Tony Lucchesi, ao exercer a função de professor de canto, o profissional aborda a técnica vocal no intuito de conduzir o ator ao aprendizado e ao desenvolvimento vocal. Já na função de preparador vocal ele afirma, em consonância com os outros entrevistados, que o profissional desenvolve um trabalho específico. O professor de canto, ele vai conduzir o ator, o cantor, o aluno de certa forma, né?, como professor, nos aspectos fisiológicos, nos aspectos de ensino, de afinação, de percepção musical, tudo muito alinhado com a técnica. E eu entendo que o preparador vocal ele talvez esteja associado com um projeto específico. (TONY LUCCHESI). Os autores Lima e Freire (2020) trazem uma reflexão sobre a função do professor de canto a partir da perspectiva da pedagogia contemporânea, principalmente no que diz respeito ao olhar atencioso para o aluno e suas necessidades, “um olhar que torna possível ao professor capacitado e disposto a adequação das técnicas ao momento de cada um, dando margem a uma interação efetiva com o discente e a partir dele, gerando um ambiente participativo e integrado.” (LIMA; FREIRE, 2020, p. 174). O professor Rafael Villar abordou a questão a partir do contexto em que se desenvolve o trabalho. Ele concorda que mesmo sendo professor de canto pode desenvolver trabalhos como preparador vocal em ocasiões diferentes. Depende do local onde eu estou. Por exemplo, nos Musicais em geral, se contrata um preparador vocal. Às vezes pode ser um fonoaudiólogo [...] no dia a dia, eu sou professor de canto, né?, dou aula de canto. Então geralmente sou um preparador vocal quando estou vinculado a um trabalho profissional específico. (RAFAEL VILLAR). Gill e Herbst (2016) citam, também, que um mesmo indivíduo pode acumular habilidades que lhe permitam ser preparador e, paralelamente, professor de canto ou fonoaudiólogo, mas reforçam o fato de serem áreas distintas e, por isso, requerem diferentes conhecimentos.
19 Portanto, em geral, a função do professor de canto envolve um ensino a longo prazo, abordando desde as técnicas básicas, com o objetivo de aprimorar a voz do cantor. Já o preparador vocal trabalha com um projeto específico, desenvolvendo estratégias para que o cantor atinja a sonoridade desejada dentro daquele contexto. 2.2 Definindo a sonoridade vocal dentro do contexto do espetáculo O trabalho de preparação vocal do cantor de Teatro Musical envolve, antes de tudo, o planejamento e desenvolvimento de estratégias para atender as demandas vocais que são específicas à sonoridade dos estilos de cada peça. O Teatro Musical no Brasil passou por várias mudanças no que diz respeito à estética dos espetáculos desde seu surgimento em 1859 com o chamado “Teatro de Revista”, e de lá para cá uma variedade de estilos musicais foi sendo cada vez mais explorada nas montagens através de influências nacionais e internacionais. 2.2.1 Contextualização histórica Segundo Cardoso (2016) o Teatro Musical no Brasil surge nos moldes do Teatro de Revista francês “com humor, muita música, coreografias e irreverência, estas peças passavam “em revista” os acontecimentos do ano anterior em uma resenha satírica”. (CARDOSO, 2016, p. 30). Porém ao longo dos anos a revista foi perdendo seu espaço e o Musical brasileiro foi se adaptando às novas realidades da pós-modernidade e às mudanças no mundo do entretenimento. Com o fim dos cassinos, a proliferação das salas de cinema e o fortalecimento de um cinema nacional nos anos 1950/60 (nascido ainda nos anos 1940), o entretenimento muda de lugar e a revista (gênero musical hegemônico no país) começa a viver seu ocaso. Some-se a isso o subsequente surgimento da televisão e a enorme penetração das grandes rádios (como a Rádio São Paulo e a Rádio Nacional). Em paralelo, claro, companhias de teatro (chamemos, convencional) começavam a fazer história – TBC (SP) e Os Comediantes (RJ) são bons exemplos. (ESTEVES, 2014). A influência norte-americana no Teatro Musical brasileiro coincide com a importação dos filmes hollywoodianos para o Brasil ainda nos anos 20. De acordo com Veneziano (1991) o sapateado, o foxtrote e os ragtimes começaram a invadir