Importância do Cinema Americano na Imagem Positiva dos EUA na História, Notas de estudo de Construção

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

EMMANUEL CORREIA

O GRANDE “MOCINHO DA HISTÓRIA MUNDIAL”: CONSTRUÇÃO DA

IMAGEM ESTADUNIDENSE NAS TELAS DE CINEMA.

Florianópolis 2020

EMMANUEL CORREIA

O GRANDE “MOCINHO DA HISTÓRIA MUNDIAL”: CONSTRUÇÃO DA

IMAGEM ESTADUNIDENSE NAS TELAS DE CINEMA.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de bacharel Orientador: Prof. Ricardo Neumann, Dr. . Florianópolis 2020

Dedico este trabalho aos meus pais, Elói e Salete que desde criança sempre incentivaram a minha paixão por cinema.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaria de agradecer em especial a todos os professores que passaram pela minha vida, seja aqueles que eu tive na minha vida escolar ou na acadêmica, professores estes que me passaram seus conhecimentos sobre história, política, economia e até mesmo sobre a ABNT, me inspirando na busca de querer saber e conhecer mais sobre as coisas. Mas eu gostaria de agradecer em especial a um professor, ao meu orientador, professor Ricardo, que foi praticamente o meu Sr.Miyagi, me fornecendo seus conhecimentos para confecção deste trabalho. Gostaria de agradecer também a todos os meus amigos, aqueles que fiz na minha antiga cidade e em especial a aqueles que fiz nesses anos de faculdade. Por último, gostaria de agradecer, a minha família, meus avós, meus irmãos, cunhadas, cunhado, sobrinhos humanos e os meus sobrinhos de quatro patas e em especial meus pais Salete e Elói, todos eles que sempre incentivaram a minha paixão por cinema, paixão esta que acabou gerando este trabalho.

ABSTRACT

The present work has as its theme a study about the influence of the cinema in the construction of and positive and heroic image about the United States, image that is consolidated in the popular world imagination. The relevance of this research it is because the Hollywood is the strongest film industry in the world and it is an industry in which influence extends to other parts of the world, ended up influencing in the imagination of the world population, through the launching of movies in which the United States are represented as the heroes that save the “day” from the “forces of evil”. With this, this paper brings as specific purpose to understand the way that the cinema contributed to construct a narrative representation of an American aggrandizement. The chapters were subdivided according to the specified objectives; Observe the importance of the cinematographic representations in the formation of the Soft Power of a country. Analyze how the United States accounts throw your movies, your vision of the history, analyzing five periods of the world history and their own: Independence, March to the West, Second World War, Cold War and after-Cold War: Observe the creation of a heroic American image in the cinematographic works that represent the periods of history established above. The main results of this research allowed a better understanding about the influence of the American cinema in the construction of an ideal about the United States, allowing the understanding of how that nation until today, still see yourself as the “good guy” of the history. Related to methodology, this research is characterized as basic and qualitative and the objectives are explanatory and the procedure is bibliography and documentary. Keywords: United States. Cinema. Hero. Image. Cinematographic Representation.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

• Figura 1 – Pôster de Sete Homens e um Destino (1960) e Rambo 2 - A Missão (1985)
• Figura 2 – Cena de Indiana Jones e a Última Cruzada (1989)
• Figura 3 - Cena do filme O Patriota (2000)...........................................................................
• Figura 4 - Clint Eastwood em Por um Punhado de Dólares (1964)
• Figura 5 - Cena da reunião nazista em Indiana Jones e a Última Cruzada (1989)
• Figura 6 – Cena de Rambo jogando com os Mujahidin em Rambo 3 (1988)
• Figura 7 - O vilão do filme True Lies (1994)

6.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA GUERRA FRIA ............................................................. 40

6.2 ANÁLISE DOS FILMES RAMBO 2: A MISSÃO (1985), RAMBO 3 (1988), DURO DE

MATAR (1988).......................................................................................................................... 41

7 O “MOCINHO” DERRUBA O “MURO”: O “REFLEXO” DO PÓS-GUERRA

FRIO NAS TELAS DE CINEMA. ........................................................................................ 47

7.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PÓS-GUERRA FRIA..................................................... 47

7.2 ANÁLISE DO FILME INDEPENDENCE DAY (1996), FORÇA AÉREA UM (1997) E

TRUE LIES (1993). .................................................................................................................. 47

8 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 53

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 55

10 1 INTRODUÇÃO Esta pesquisa tratará o cinema como uma ferramenta usada para formar uma imagem sobre os Estados Unidos, imagem esta de que o país sempre está do lado do bem, analisando como o cinema norte-americano através da história e suas representações ajudaram a construir a imagem de que eles são sempre os personagens principais e os “mocinhos”, havendo nesta primeira parte do projeto a delimitação do tema, objetivo geral e específicos, metodologia e justificativa. 1.1 TEMA E PROBLEMA O cinema em si passou a ser analisado e discutido como um documento somente a partir dos anos 1970 como aponta Cristiane Nova em sua publicação “O cinema e o conhecimento da História”. A partir deste período, este tipo de estudo começou, por causa de uma série de reformulações que o próprio estudo da história passou, aceitando não somente documentos escritos, mas também os filmes como uma representação de um determinado fato, pensando os mesmos como retratos muitas vezes de certos costumes e ideologias do país que o produziu (NOVA, 1996). Os norte-americanos foram os que mais usaram o seu cinema para narrar os acontecimentos históricos e construir sua soberania e força, pondo nas entrelinhas dos filmes seus princípios e costumes, vendendo seu estilo de vida para outras partes do mundo, querendo que estes seguissem o seu padrão de vida, dito como o correto, criando a imagem da família feliz numa casa com seu cachorro, como aponta Leandro Karnal (2007). Os Estados Unidos se aproveitaram para construir a imagem de bom moço, muitas vezes graças ao cinema, por meio da representação destes como o mocinho da história, sendo um claro uso do Soft Power, este definido por Nye (2017), como a capacidade de convencer alguém sobre algo, ou seja, instigar a pessoa e atrair ela por causa daquilo que foi apresentado, fazendo esta acreditar na ideia mostrada. Com isto o cinema estadunidense é um dos maiores exemplos do uso do Soft Power, pois criou no imaginário popular a imagem de ser um país dito superior aos outros e que não importa a situação sempre estará do lado do bem. Por isso o cinema, deve ser analisado, pois através do que esta sendo representado na tela, se tem uma melhor compreensão da forma de pensamento do país que o produziu, em nosso trabalho neste caso, os Estados Unidos e de como este quer ser visto na história, na qual

12 história dos Estados Unidos, assunto esse que será analisado neste trabalho, que tem como Problema de Pesquisa: Como podemos observar a formação de uma imagem positiva dos Estados Unidos na história através da sua representação nas telas de cinema? 1.2 OBJETIVOS Com base na pergunta de pesquisa foram definidos os seguintes objetivos: 1.2.1 Objetivo Geral Compreender de que maneira o cinema contribuiu para construir uma representação narrativa de enaltecimento estadunidense. 1.2.2 Objetivos Específicos Observar a importância das representações cinematográficas na formação do Soft Power de um país; Analisar como os Estados Unidos contam através do cinema, a sua visão da história, sendo analisados cinco períodos-chaves da história mundial e dos Estados Unidos: Independência, Expansão para o Oeste, Segunda Guerra Mundial, Guerra Fria e pós-Guerra Fria; Observar a criação de uma imagem heroica estadunidense nas respectivas obras cinematográficas que representam os períodos históricos estabelecidos acima. 1.3 JUSTIFICATIVA O cinema sempre foi uma ferramenta usada para a construção de um conceito, sendo que a maioria dos filmes feitos em Hollywood, sempre os Estados Unidos são os mocinhos da história e os caras do bem que acabam por salvar o dia no final. A indústria cinematográfica estadunidense até os dias de hoje continua sendo a indústria cinematográfica mais forte no mundo e aquela que mais faz filmes, vendendo sempre seu estilo de vida, seus costumes e seu patriotismo, fatores estes que me levaram a escolher este tema para ser tratado, pois os filmes em si são documentos, pois representam uma imagem e um conceito sobre um país e merecem ser estudados. A pesquisa em si, analisa pontos da história norte-americana e mundial através de uma visão ocidental especificamente

13 uma visão feita pelos Estados Unidos, auxiliando na obtenção de uma melhor imagem como estes querem ser vistos pelas outras partes do globo. Esta pesquisa irá auxiliar na construção desta imagem, pois muitas vezes o cinema é visto como uma forma de arte ou um meio de entretenimento, não uma ferramenta política de criação de uma imagem. Por isto, iremos para o lado na qual a imagem mostrada, cria no imaginário das pessoas uma visão sobre os Estados Unidos em si na qual estes sempre serão os caras bons. Para embasar estas ideias irei utilizar autores e artigos na qual o cinema é visto como uma representação da história e uma ferramenta de representação dela, bem como utilizarei autores que tratam sobre a história dos Estados Unidos e dos pontos chaves da história mundial que ajudaram na construção da imagem estadunidense. Assim, meu trabalho irá ajudar a obter uma melhor compreensão de como os Estados Unidos, querem que sua história seja mostrada e espalhada, visão esta que sempre ajudou a fortificar sua imagem como força dominante no mundo, criando a ideia de que não importa o período ou momento que o mundo passe, os Estados Unidos sempre estarão do lado do bem, salvando o dia e o mundo das forças ditas do mal que buscam dominá-lo e governa-lo, sendo criada a imagem de ser sempre uma peça importante para a obtenção da dita paz mundial e serem sempre os mocinhos da história. 1.4 METODOLOGIA A aplicabilidade deste trabalho será básica ou pura, pois segundo Liane Zanella (2013) o ramo da pesquisa básico, ele é voltado ao desenvolvimento teórico, muitas vezes “criando” novas questões a partir daquilo que já foi produzido por outros autores. A abordagem do problema será qualitativa, pois conforme afirma Gil (2002), no modo de abordagem qualitativo é analisado o conteúdo e o discurso apresentado, sendo no caso deste trabalho será analisado o chamado conteúdo que é a história contada nestes filmes e os respectivos discursos presentes nestas obras. Os objetivos serão explicativos, pois conforme aponta Sérgio Antônio Severino (2017), na pesquisa explicativa são registrados e analisados os fenômenos, buscando identificar o que levou a estes, sendo no caso desta pesquisa, serão analisados os filmes, buscando explicar como o cinema ajudou a criar uma imagem “heroica” sobre os Estados Unidos através de uma representação da história. Com isto o procedimento que será usado para embasar a pesquisa e ajudar a explicar a ideia central será documental e o bibliográfico. Documental, pois os filmes analisados em si são documentos e conforme Cristiane Nova (1996), eles representam o passado ou são um reflexo do momento na qual o

15 positivamente como os heróis da história com o passar dos tempos, ideia esta que será vista e tratada neste trabalho através dos filmes que ajudaram a criar esta imagem sobre os Estados Unidos, num contexto em que a história do país é contatada não através dos livros, mas sim através de uma ferramenta que se estende para outras partes do globo que é o cinema.

16 2 O CINEMA COMO UMA FERRAMENTA NA FORMAÇÃO DA IMAGEM DOS ESTADOS UNIDOS 2.1 CULTURA A cultura é o elemento que caracteriza um país, uma comunidade, uma pessoa. A cultura é desenvolvida através da história, sendo definida como o compartilhamento de significados entre os membros de uma sociedade, que interpretam o mundo de uma maneira semelhante (BROWN, 2010). Porém a cultura muitas vezes transcende o país que a formou, sendo os Estados Unidos um grande exemplo para esta transcendência cultural, chegando suas reproduções culturais para outros países principalmente através das artes, sendo o cinema o maior de todos os exemplos. O cinema é uma arte capaz de recriar o passado, reimaginar o presente e vislumbrar o futuro, por meio de uma reinvenção da realidade (KEMP, 2011). 2.2 MODERNIZAÇÃO DO MUNDO E DIFUSÃO DOS PADRÕES E VALORES SOCIOCULTURAIS OCIDENTAIS (POPULAR CULTURE E HIGH CULTURE). Ianni (2001) afirma que após o fim da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria, houve uma “modernização do mundo” por meio da expansão dos meios de comunicação. Estes meios de comunicação passaram a estar mais presentes na sociedade, por meio da mídia impressa e da mídia eletrônica, ajudando a criar uma imagem do mundo (IANNI, 2001). Segundo Ianni (2001) com esta “modernização do mundo” houve uma difusão e sedimentação dos padrões e valores socioculturais ocidentais, sendo o maior exemplo a difusão dos padrões e valores norte-americanos. Por meio desta difusão cultural, a cultura passou a ser dividida, segundo Joseph Nye (2017), entre dois tipos: a primeira é a high culture como literatura, artes, estando focada mais para uma elite e a segunda é popular culture que é voltada mais para divertimento das massas. No popular culture que é o divertimento das massas, o cinema norte-americano se encaixa, pois, ele é focado principalmente ao grande público que vai assistir as grandes produções para se divertir e entrar numa aventura que os faça esquecer os problemas do mundo. Assim estes filmes ditos “mais conhecidos” voltados às massas chamados também de filmes-padrão, são designados como o tipo de filme na qual na maioria das vezes apresenta uma história muito parecida ao grande público, oferecendo ação, humor, romance, buscando satisfazer os interesses e gostos das pessoas que os assistem (MORIM, 2002). Por meio disto,

18 Sendo assim, os filmes apresentados neste trabalho são filmes na grande maioria conhecidos pelo grande público e que buscam criar esta imagem “heroica” norte-americana, usando certos estereótipos para enaltecer a sua nação, apresentando histórias idênticas que possuem discursos relacionados à defesa daquilo que se acredita ser certo, afirmando que a nação estadunidense estará do lado do bem não importando o momento mostrando sua nação como se fosse “perfeita”. 2.3 CONSTRUÇÃO DE UMA IMAGEM POSITIVA ESTADUNIDENSE Com esta ideia de serem vistos como os “mocinhos da história”, os Estados Unidos usaram o seu cinema para representar o seu país de uma maneira única, na qual este se destacasse dos outros países. Marc Ferro (1992) afirma que desde que o cinema foi criado e se tornou uma arte, os filmes representam, criam e glorificam o país nas quais estes foram feitos. O cinema norte-americano é o grande exemplo desta “glorificação”, criando a figura heroica do país e mesmo havendo filmes que criticam a imagem estadunidense, como por exemplo, os filmes que tratam sobre os traumas da guerra do Vietnã, continua-se reproduzindo nas suas outras obras cinematográficas um conceito de sua nação como uma figura de extrema importância para a condução do mundo, conceito este passado aos outros países. Leon Trótski, no começo do século XX, já afirmava que o cinema é o melhor instrumento de propaganda para impor uma ideia para outras partes (FERRO, 1992 apud TRÓTSKI, 1923). Através das imagens criadas por meio dos diversos meios de comunicação, os Estados Unidos são vistos como um grande império, dito como o maior após o império romano (NYE, 2017). Segundo Joseph Nye (2017) todo império tem os seus inimigos e comparando ao império romano, o terrorismo são os novos “bárbaros” que buscam derrubar os Estados Unidos. Esta crença sobre seus “inimigos”, está presente desde quando a nação estadunidense ainda era uma colônia, sendo os “inimigos” representados como povos capazes de cometer atos terríveis contra inocentes com o objetivo de criar medo às populações, sendo derrotados pelos heróis no final da história. Estes heróis estadunidenses tornaram-se o que são, pois possuem valores que atraem parte da população que passam a acreditar neles, sendo baseados muitas vezes em figuras reais, tornando-os símbolos da luta do bem contra o mal (KARNAL, 2007). Os Estados Unidos através do seu cinema criaram a imagem de seus heróis como indivíduos corajosos, sempre dispostos a batalhar por aquilo que acreditam ser certo, sendo que neste mundo apresentado nas telas, os mocinhos são diferentes dos caras maus, possuindo

19 características que diferenciam um do outro. Assim, o cinema é um meio de representação, que cria um mundo imaginário, mundo este feito por aqueles que fizeram o filme (BARROS, 2007). Com isto, o cinema norte-americano criou um mundo na qual os Estados Unidos na maioria das vezes derrotam os caras maus no final da história e os seus heróis vão embora em direção ao por do Sol, com a sensação de dever comprido. Figura 2 – Cena de Indiana Jones e a Última Cruzada (1989) Fonte: (IMDB, 2020). Através desse mundo fantasioso, Hollywood cultivou a crença de sucesso individual, na capacidade do governo de proteger seus cidadãos contra os ditos “caras maus”, além de os Estados Unidos serem mostrados como uma sociedade sem classes (KARNAL, 2007). Com isto, quando se percebeu a importância do cinema e sua influência, certas figuras políticas, buscaram apropriar-se desta forma cultural, pondo-o a serviço de seu país, glorificando sua nação ou “doutrinando” outras para seus ideais (KORNIS, 1992). Por meio da ideia de uma construção grandiosa sobre sua nação, o cinema durante a Primeira Guerra Mundial, já desenvolvia a imagem heroica norte-americana na qual um homem estadunidense salvaria o dia, sendo esta ideia vista no cinema mudo da época como, por exemplo, nos filmes de Charlie Chaplin que retratavam este conflito (SILVA, 2004). A partir disto a indústria cinematográfica norte-americana passou a receber incentivos dos mais diversos meios como do governo e das indústrias que perceberam a capacidade expansionista que o cinema em si possui (SILVA, 2004). Esta intervenção feita pelos governos no cinema e em outros meios de comunicação é uma dita intervenção positiva, intervenção esta voltada à politização ou orientação, ou seja, que faça com que as outras nações ou a até mesmo a sua, acredite no país através daquilo que é apresentado sobre eles nos mais diversos meios (MORIM, 2002). Esta intervenção dita “positiva” é diferente da intervenção negativa na qual é feita também pelos Estados sendo voltada muitas vezes a censura (MORIM, 2002). Por meio desta ideia de politização dos meios de comunicação, a indústria cinematográfica estadunidense esteve