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Este texto discute o ensino da leitura e escrita, enfatizando a importância de compreender as estruturas intrínsecas da língua e os processos teóricos que apoiam a aprendizagem real. O autor aborda a importância de compreender a fala, leitura e escrita como segmentos progressivos da aprendizagem, e os conhecimentos necessários para analisar o processo de alfabetização. Além disso, ele discute a relevância da integração dos falantes na escola e a universalidade do aprendiz dentro de um contexto maior.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de estudo
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Monografia submetida à aprovação no curso de Especialização em Ensino e leitura para a obtenção do grau de Especialista em Leitura e Ensino. Orientadora: Profª Dra. Gisele da Paz Nunes.
Dedico este trabalho a todos os educadores que buscam melhorar suas condições enquanto sujeito ativo do processo de ensinar e aprender. Dedico também este trabalho, a quem me ajudou a buscar as respostas que eu precisei para concluir esta pesquisa e a todas as pessoas que se colocaram ao meu lado, incentivando e apoiando em todos os momentos.
Outro saber que não posso duvidar um momento se quer na minha prática educativo-crítica é o de que, como experiência especificamente humana, a educação é uma forma de intervenção no mundo.‖ Paulo Freire
- 1. Introdução - 2. O conhecimento linguístico na formação do professor....................... - 2.1. A fala - 2.2. O que é leitura
1. Introdução
O fato de criticarem o ensino fundamental, referindo-se a incompetência dos alunos em produzir e interpretar textos nos remete a indagações que nos fazem pensar no motivo pelo qual se passam tantos anos na escola e não se aprende a produzir textos com coesão e coerência? Por que não se aprende a ortografia correta das palavras? O problema seria a alfabetização? O ensino da língua está descontextualizado da realidade? Todas essas indagações apontam para um déficit nas técnicas e metodologia adotadas nas escolas, que confundem em sua maneira de ensinar aquilo que é natural nas pessoas, a sua comunicabilidade. Os instrumentos que capacitam o aprendizado de sua representação não são compreendidos enquanto sistema funcional vivo e cultural. Muito do que se discutirá neste trabalho, passa pelo campo do conhecimento individual do professor e por suas concepções de aprendizagens. Durante anos de trabalho na educação infantil e alfabetização, pude perceber que a compreensão dos esquemas pelos quais a criança desenvolve seus conhecimentos a respeito da leitura e escrita está diretamente ligado ao conhecimento que o professor tem a respeito do que pensa ensinar. Infelizmente, de forma geral, é direcionado a essa fase da educação, profissionais que se quer conhecem métodos e teorias que os ajudem a entender como funciona os processos de apropriação da linguagem. A esses profissionais, são entregues materiais impressos sob forma de apostilas e livros nos quais atividades comentadas são disponibilizadas com a intenção de ajudar o professor, o que deixa implícito que nesta fase é fácil trabalhar. Dentro desse quadro, a indignação se torna cada vez maior, uma vez que sem conhecimentos específicos, como um professor poderia compreender processos tão complexos? Fica um sentimento de banalização do ensino, no qual, qualquer um pode atuar desde que siga as orientações ao professor no manual. Portanto, entender as atitudes lingüísticas do grupo envolvido no processo educativo é algo que sugere estudos específicos, conhecimentos teóricos e técnicos sem os quais o trabalho perde o foco de sua intenção maior. O trabalho aqui apresentado sugere a leitura e escrita enquanto conquistas intrínsecas, pois, (Cagliari, 1998) quando se fala da leitura, incluem-se muitos fatos relativos à escrita, por que um processo necessariamente implica o outro. Em se tratando de alfabetizar, cuidados devem permear constantemente a ação do professor. Caso não se interesse pelo
O período que uma criança permanece na escola para concluir o ensino fundamental é um período bastante longo. Considerando os conteúdos obrigatórios referentes à representação gráfica da própria língua, veremos que os anos passam e as dificuldades relacionadas à aprendizagem da leitura e escrita continuam em déficit. Podemos pensar em várias lacunas que ocasionam esse processo. Em muitos casos, a alfabetização é considerada a grande geradora dos problemas que surgirão nas séries seguintes, o foco na alfabetização se torna mais forte e profundo no que se refere à culpabilidade do fracasso na formação de leitores e produtores de textos. Talvez um dos vários problemas relacionado à leitura e escrita resida fundamentalmente na alfabetização, muitos outros se espalham pelos trâmites sociais, políticos, familiares, emocionais e orgânicos. Para solucionar esses problemas referentes ao ensino aprendizagem, é preciso compreender como a língua é organizada, seus aspectos funcionais e estruturais. A escrita é decorrência da leitura e dessa forma, escrever é aplicar seus conhecimentos e produzir sua própria escrita. Este é um procedimento criterioso para o educador, pois ele vai necessitar de conhecimentos lingüísticos e muitos estudos acerca do assunto. Mas, para a criança que sofrerá a mediação pode parecer algo simples, considerando que ela é falante nativa da língua e sua capacidade e experiências de vida estão intimamente ligadas a essa estrutura. O objeto dessa pesquisa está relacionado com a apreensão do ensino/aprendizagem da língua (leitura e escrita) na alfabetização. Delineamos que o objetivo dessa pesquisa é investigar o processo de aquisição da leitura e escrita buscando referenciais teóricos que discutam cada processo dentro da lingüística, que comprovem a base de uma aprendizagem realmente pautada e configurada na prática, com autores que discutam de fato, procedimentos, ações pertencentes ao conhecimento estrutural da linguagem, no sentido de que se possa garantir uma sustentabilidade para professores compreenderem, de fato, o que é alfabetizar alguém. Assim como diz Cagliari (1999), a alfabetização depende crucialmente do conhecimento da categorização gráfica e funcional das letras, ou seja, a compreensão das formas congeladas (arbitrárias) de se escrever e as múltiplas relações estabelecidas pela leitura. A fala, a leitura e a escrita são aspectos fundamentais da linguagem que precisam ser desenvolvidas com seriedade pela escola. O que se ensina enquanto conteúdos na alfabetização e que gera déficit nas
séries seguintes, são composições técnicas e metodológicas que implicitamente acabam por desconstruir a linguagem natural das crianças, por uma artificial. A primeira forma de leitura e interpretação se dá em contato com o meio social onde nada acontece de forma segmentada, a aprendizagem se dá na interação. A leitura que uma criança faz do meio em que vive, em contato com materiais diversos e pessoas possibilita sua inserção numa teia de aprendizagens que, mesmo coletiva, deixa suas características individuais que são alteradas constantemente num processo cíclico de aprender/reaprender. Partindo dessa percepção de estudos da língua faremos uma análise do que vem a ser a compreensão de fala, leitura e escrita. Neste trabalho, que será discutido ao longo desta monografia a leitura está firmada como fato primordial, presente no intenso contato da criança com materiais impressos para que elaborem suas hipóteses sobre a decifração da escrita. Por isso o objetivo maior dessa pesquisa é investigar os conhecimentos necessários para alunos e professores terem a fim de se apropriarem da leitura e escrita como instrumentos de comunicabilidade e representação social. Para isso, buscaremos referencias teóricos que discutam cada processo dentro da lingüística e que comprovem a base de uma aprendizagem realmente pautada e configurada na prática e explicada de fato. Devemos assumir que os erros no ensino pertencem muito mais àqueles associados às praticas educativas escolares, principalmente aos professores que se comprometem a ensinar a língua nas suas modalidades. Assim não buscaremos nas outras ciências e na sociedade desculpas para a não aprendizagem adequada. Se percebermos que há um vácuo entre o ensino e a forma de ensinar, precisamos descobrir os fatores geradores desses vácuos. Assim,
A solução para a formação competente do professor está nos estudos, pesquisas e leituras... a mudança do presente só se fará pelo esforço conjugado dos professores, pois são eles os maiores interessados e as pessoas que tem um conhecimento mais aprofundado da triste realidade de nossa educação escolar, pois que vivem diariamente os seus problemas e mazelas. (COELHO, 2001, p. a 27) Pensando em discutir toda essa inquietude que envolve o conhecimento do educador, portanto sua atuação em relação ao ensino de leitura e de escrita busca-se inicialmente compreender os vários aspectos da linguagem, para em seguida discutir questões referentes à Linguística e depois um entendimento sobre o que constitui a fala, enquanto unidade intrínseca da linguagem e suas modalidades e, por isso, há que ser considerada enquanto segmento
2. O Conhecimento Linguístico na Formação Do Professor
Segundo Cagliari (1994), a escola se envolveu num emaranhado de teorias e métodos que se afastou da realidade lingüística de seus alunos, perdendo assim a intenção a que se propõe ensinar. Se um aluno passa grande parte de sua vida sentada em uma cadeira escolar tentando aprender a própria língua e no final descobre que durante tanto tempo aprendeu tão pouco, ou pior, descobre que não aprendeu porque a escola não soube ensinar, faz com que as reflexões sobre o que e como a escola ensina suscitem abrasivamente. Refletindo sobre os problemas referentes à leitura e escrita que circundam todas as séries escolares, inclusive o ensino superior, podemos nos ater a dois segmentos distintos, mas pertencentes a um movimento recíproco e indissociável: a formação do alfabetizador e a sala de alfabetização. Podemos pensar nestas duas categorias como elos que se unem e vão interferindo em todos os outros, desencadeando seqüências de erros que se repetem dentro da escola. Erros estes presentes em diversas situações como: a formação do alfabetizador não lhe dá condições sólidas para compreender as estruturas mínimas da língua materna e, por conseguinte, ter a compreensão de aspectos estruturais e funcionais necessários para se ensinar alguém a ler e escrever; as escolas adotam pacotes educacionais e não se preparam com estudos sólidos para uma educação realmente significativa a respeito da língua; se apóiam em métodos e técnicas presentes em livros e apostilados e não se preocupam com a formação do professor que irá trabalhar aquele material, sem falar na concepção de que, professores das séries iniciais são vistos como aqueles que não precisam de formação especializada, que são as séries mais fáceis de trabalhar e, por aí perceberemos uma série de outras situações que menosprezam a formação do professor e por decorrência deteriora a educação de qualidade. Por isso é que a formação do professor é de fundamental importância ao analisarmos desempenho em sala de aula, pois este poderá conduzir ao processo positivo ou negativo do ensino/aprendizagem. Concordamos que a formação do professor alfabetizador é imprescindível à sua atuação, pois conhecimentos sólidos sobre a lingüística e os sistemas de escrita é base para analisar e compreender de forma competente os fatos que vierem a ocorrer em seu trabalho. Os
conhecimentos referentes ao funcionamento da fala, leitura e escrita é que dão bases para análises do que acontecem no processo de alfabetização, evitando transtornos e confusões referentes à leitura e escrita, suportes essenciais para que o professor comprometido com o sistema educativo compreenda realmente o seu papel na formação do aluno e na percepção de cada nível de conhecimento atingido pelo aluno, dando sentido ao trabalho realizado.
O processo de alfabetização inclui muitos fatores, e, quanto mais ciente estiver o professor de como se dá o processo de aquisição do conhecimento, de como a criança se situa em termos de desenvolvimento emocional, de como vem evoluindo o seu processo de interação social, da natureza da realidade lingüística envolvida no momento em que está acontecendo a alfabetização, mais condições terá esse professor de encaminhar de forma agradável e produtiva o processo de aprendizagem, sem os sofrimentos habituais. (CAGLIARI, 1994, p.9) Entender como a fala, a leitura e a escrita funcionam e a importância dessas categorias da linguagem nas sociedades atuais é de fato algo que conduzirá a uma estruturação sólida do processo que envolve a alfabetização. A escrita é exercida como instrumentos de ascensão e dominação social, e as atividades escolares giram muito mais em torno da escrita do que da leitura, até a fala, que é ensinada na escola, assume aspectos da escrita. Sabemos também da confusão que se faz ao relatar o que é a escrita e a leitura, e de como esses processos são realizados na escola. Por isso, iremos discutir cada um desses aspectos da linguagem na perspectiva de mostrar que os conhecimentos lingüísticos devem ser adquiridos pelo professor de língua portuguesa e professores responsáveis pela alfabetização, a fim de consolidar o sentido de uma alfabetização realmente significativa.
2.1 A Fala
A linguagem constitui-se enquanto instrumento comunicativo por meio da interação entre as pessoas. Desde muito cedo os bebês são expostos e estimulados a se tornarem integrantes dessa interação social por intermédio dos outros falantes que o rodeiam. Aprendem a se comunicar com gestos, sinais corporais e pela linguagem oral, assim vão se constituindo sujeitos ativos de sua própria história. Podemos nos ater ao fato de como ocorre a aprendizagem desta linguagem oral que é bastante complexa, permeada constantemente pela ação dos outros, ou seja, pelo processo
primeiro referencial que as crianças têm de conhecimento é a própria fala; contudo, a escola com seus métodos e técnicas faz com que os alunos interpretem os fenômenos fonéticos da fala apresentando como modelos que se pretendem ensinar a forma escrita das palavras e não a realidade fonética. O que depois de algum tempo muitos alunos não conseguem avançar em sua aprendizagem. Por isso não conseguem sequer entender a própria fala ou a de outras pessoas, a não ser através da escrita ortográfica. Podemos dizer que adotando essa atitude o educador comete um grande equívoco que em muitos casos poderá submeter os alunos a inúmeras dificuldades com relação à aprendizagem formal da própria língua. Neste caso a escola no papel do professor deveria utilizar enquanto instrumento de análise e aplicação, essa habilidade de percepção da fala que as crianças têm a fim de explorar essa linguagem oral e transformar essa análise em material de intervenção pedagógica que auxiliará numa melhor compreensão dos aspectos da natureza lingüística. Contudo, o que se percebe é que há uma sobrecarga no papel da escrita em detrimento a leitura e a fala; foca-se muito na mera decodificação de letras/sílabas/palavras seguindo ou não essa ordem, fragmenta-se a linguagem oral e a transforma em algo artificial bem diferente da fala espontânea tornando o texto uma seqüência de palavras segmentadas, sem construção de sentidos, por isso é comum que no decorrer da vida escolar, os alunos apresentam problemas para compreender o óbvio dentro da linguagem. Podemos apontar essa questão como um dos grandes fatores que ocasiona a dificuldade em lidar com a linguagem dentro e fora da escola. Se analisarmos calmamente o que é a linguagem dentro e fora da escola, perceberemos que uma criança de três ou sete anos, como falante nativa, usa o dialeto existente em seu cotidiano isto é um vocabulário e um conjunto de regras gramaticais específicas para pronunciar várias palavras. Uma característica da fala da criança que chama a atenção é o fato de que elas generalizam regras, aplicando uma regra geral quando deveria aplicar uma particular. É quando a criança diz: ―eu fazi ‖ em vez de: ―eu fiz ‖ , como eu vendi, comi etc. o que nesta situação pode parecer um erro, é uma demonstração ativa de que a criança está apta a participar desta interação que chamamos aprendizagem.
Qualquer manifestação lingüística, desde a mais tenra idade, tem vocabulários e regras. A criança vai aprender a dizer nóis vai ou nós vamos não porque é menos ou mais dotada para a linguagem, mas porque se tornou falante de um ou de outro dialeto_._ (CAGLIARI, 1994, p.19)
Percebe-se claramente que o uso das regras gramaticais está presente, a diferença reside no dialeto usado por cada grupo que usa a sua língua conforme regras próprias de seu dialeto. Neste sentido, o estudo da natureza da língua torna-se objeto de pesquisa e interesse daqueles que se envolvem com alfabetização, provavelmente os passos seguintes serão vistos numa perspectiva muito mais relacional, uma vez que o ingresso na escola não se dá através de uma ruptura entre a linguagem utilizada informalmente e aquela considerada padrão, mas numa junção esquemática que proporciona uma linguagem viva e dinâmica.
Quando um aluno erra - porque cria certas ―regularizações‖, escrevendo por exemplo, mininu no lugar de menino - está nos revelando que elabora suas próprias representações através da escrita das palavras, que não é mero repetidor das formas escritas ao seu redor. (MORAES, 2001, p.37)
Portanto, como diz Cagliari (1998) toda criança que entra na escola já pensou sobre várias questões e já acumulou informações em sua mente. Considerar a criança enquanto sujeito articulador de idéias é fato de grande relevância para sua aprendizagem escolar. O que a escola faz com todo esse conhecimento trazido pelo aluno? Como acontece a integração desses falantes na escola, quando se deparam com as situações que lhes impõe transformarem seus conhecimentos lingüísticos em leitura e escrita? Fala e escrita pertencem a realidades diferentes, a vida de uma língua está na fala. Se a escola tem por objetivo ensinar como a língua funciona, deve incentivar a fala e mostrar que a fala funciona diferente da língua escrita. A escola gira em torno da escrita mesmo quando tenta abordar questões que só existem na fala. Nesta perspectiva, a aprendizagem deve ser promovida enquanto sistema dinâmico, estabelecido por relações significativas mediadas pelo contato entre os sujeitos participantes do processo. Portanto, a relevância em perceber a universalidade do aprendiz dentro de um contexto maior, vislumbra sua interação no processo enquanto sujeito histórico, repleto de experiências lingüísticas e sociais de extrema significação, garantindo uma aprendizagem fundamentada nos pressupostos reais dos fatos comunicativos (porque neste caso falamos de leitura e escrita). Assim, é imprescindível na formação do educador alfabetizador o estudo dos aspectos técnicos da lingüística, sem os quais, métodos e didáticas se diluem num complexo movimento que transformam o ensino num enfadonho processo.
Se analisarmos, por exemplo, as dificuldades reais que a grande maioria dos alunos tem para resolver provas, vamos descobrir que o problema não está na falta de conhecimento do aluno, e sim no impasse lingüístico criado pela formulação de questões que lhe são apresentadas. (CAGLIARI, 1994, p. 26)
Neste sentido é que se configura a idéia de que, na escola, deve-se ensinar aos alunos o que é uma língua, quais as propriedades e usos que ela realmente possui e qual é o comportamento da sociedade e dos indivíduos com relação aos usos lingüísticos. A escrita ortográfica tem sua forma ―congelada‖ para que seja lida nos diferentes dialetos, o que vai depender do leitor e da finalidade de sua leitura. Dessa forma compreendemos que fala é diferente de escrita porque podemos ler de diversas maneiras, mas escrever segue normas fixas. No processo de se alfabetizar uma criança, o conhecimento ortográfico não é fundamental nem deve exercer grande peso no ensino, o que se deve considerar é a capacidade para produzir textos espontâneos, uma vez que ao enfrentar novos desafios que envolvam a escrita de palavras as crianças constroem hipóteses sobre ortografia sem perder a facilidade de expressão que já adquiriram oralmente. As aquisições ortográficas devem ocorrer à medida que o aluno enquanto compositor do seu conhecimento se apropria de novas estruturas lingüísticas e através dessas mediações passe a praticá-las em suas leituras e escritas individuais.
Deixar que os alunos escrevam redações espontâneas não dando muita atenção aos erros ortográficos e apostando na capacidade das crianças de escrever e se autocorrigir com relação à ortografia é de fato um estímulo e um desafio que o aluno sente no seu trabalho, uma motivação verdadeira para a escrita. Essa é a melhor forma de valorizar as atividades dos seus alunos. (CAGLIARI, 1994, p. 124) É muito importante salientar que o ensino da escrita e leitura não se finda no final do 1° ano nem no último ano do ensino fundamental. É conveniente que ocorra ao longo de todos os anos de estudo. O ensino da língua na alfabetização só se difere de outras séries pela especificidade de ser ali, em muitos casos, o primeiro momento de contato real com essa nova modalidade lingüística, o aprendizado da leitura e da escrita e o manuseio de materiais impressos em situações que formalize sua oralidade. Em todos os momentos que envolvem o processo ensinar/aprender percebemos a permanência de um aspecto fundamental e discreto que pode até
parecer simples e fácil e que de maneira alguma pode ser considerada dispensável ao professor: conhecimento dos aspectos lingüísticos. Sendo a lingüística a ciência que estuda a linguagem humana e as línguas em particular o objetivo e a importância dessa ciência durante o processo de ensino/aprendizagem da língua materna não pode de forma alguma ser ignorado. Ações que busquem a interação da natureza lingüística envolvidas no momento que acontece a alfabetização trarão condições para que o ensino ocorra sem sofrimentos habituais.
A criança ao se deparar com a forma como a escola lida com a linguagem pode levar um choque... Tudo que ela aprendeu até aquele momento será ignorado, embora a escola diga que parte do conhecimento de sua realidade. Descobrirá o preconceito desta quanto ao seu modo de falar, andar, vestir, agir, pensar. Faz-se com a criança o mesmo que se faz com um relógio: reduz-se a zero, para que no prazo de um ano esteja pronta para receber seu diploma de alfabetizada. (CAGLIARI, 1994, p. 20)
É preciso que o professor tenha domínio lingüístico para ensinar português. Para o aluno aprender o dialeto da escola, é como aprender uma língua estrangeira e aprender a escrever ortograficamente é como montar um quebra-cabeça.
A compreensão da natureza da escrita, de suas funções e usos é indispensável ao processo de alfabetização... Por outro lado, todo o conhecimento que a criança tem da linguagem oral se deturpa quando ela entra na escola. (CAGLIARI, 1998, p. 8) Para que a situação que distancia o processo da alfabetização não se torne fator que complique a aprendizagem, Cagliari (1994, p.41) aponta que o uso da lingüística se faz necessário e deve ser planejado em conjunto por lingüistas e professores de língua portuguesa com a colaboração de pedagogos, psicólogos, etc. nessa interação, o lingüista vai sugerir o conteúdo e as técnicas de investigação, o professor e os demais colaboradores do processo escolar vão dosar o ensino, programá-lo na seqüência conveniente e buscar as motivações para o aluno estudar a língua. Sabemos que a possibilidade de unir esses profissionais em busca de um mesmo ideal ainda é algo pouco vislumbrado nas escolas, fato que se percebe frente ao movimento silencioso dos responsáveis pela educação (diretores, coordenadores, professores e demais órgãos responsáveis) em se manterem cada um no seu universo, como se a educação fosse