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Este livro aborda a temática do comportamento suicida e autolesão em adolescentes, com foco na prevenção e intervenção. Apresenta dados de pesquisas, entrevistas com adolescentes, familiares e profissionais de saúde, além de discutir as causas, fatores de risco e estratégias de prevenção. O livro destaca a importância da saúde mental, da rede de apoio e da atuação integrada de profissionais de saúde, educação e assistência social.
Tipologia: Trabalhos
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Autores Joviana Q. Avanci Simone G. Assis Orli Carvalho da Silva Filho Aline Ferreira Gonçalves Pedro Henrique S. L. Tavares Nelson de S. M. Marriel
O fato é que o comportamento suicida e a autolesão podem ser preve- nidos e evitados! Prevenir compreende qualquer medida que antecipe a ocorrência de um agravo à saúde. Para tanto, precisamos conhecer o que pode ativar e perpetuar os gatilhos para a ideação, planejamento, tentativa, suicídio consumado e a autolesão, para se pensar em formas mais precisas de preveni-los. Os fatores de proteção na infância e adolescência são tam- bém fundamentais: eles podem impedir, retardar ou diminuir a ocorrência desses problemas de saúde mental. No mundo todo, muitos profissionais e instituições estão voltados a implementar ações e programas de prevenção sobre esses fenômenos. Por isso conhecer um pouco dessas experiências é fundamental!
“
Se a gente consegue investir na formação das pessoas, inclusive na gra- duação dos profissionais que vão trabalhar com prevenção do suicídio e promoção de saúde mental, [já] faz uma diferença muito grande, porque a gente ainda tem professor na faculdade que fica falando que depressão é frescura.
”
(Profissional de saúde, especialista na prevenção do compor- tamento suicida)
Para quem se destina este livro: Profissionais de saúde, da educação e do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente (em des- taque da assistência social e conselho tutelar) estão entre os grupos alvo de leitura deste livro. Esses profissionais precisam ter conhecimento sobre o que é o comportamento suicida e a autolesão, como e quando se mani- festam, e como podem apoiar e intervir junto as crianças, adolescentes e suas famílias. Pais e grupos de suporte ao público infantojuvenil podem também se beneficiar dessa leitura.
Este livro foi elaborado a partir de pesquisas sobre comportamento suici- da e autolesão desenvolvidas no Departamento de Estudos sobre Violência e Saúde Jorge Careli (Claves), da Fundação Oswaldo Cruz. Nasceu de uma
SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE : representa a articulação e integração entre os diversos ato- res do Estado e da sociedade civil na promoção, defesa e controle da efetivação dos direitos da infância e da adolescência previstos no Estatu- to da Criança e do Adolescente [7].
extensa revisão bibliográfica^1 sobre estratégias de prevenção do com- portamento suicida e da autolesão baseada no referencial teórico da in- teligência emocional e de outras habilidades socioemocionais, que reuniu 97 artigos científicos, relatórios e outros materiais bibliográficos. Também apresenta falas oriundas de entrevistas semiestruturadas com 22 adoles- centes com comportamento suicida e/ou autolesão, 18 familiares e 20 pro- fissionais de saúde, especialistas na prevenção do suicídio, participantes de dois estudos2,3^ realizados nos anos de 2017 e 2022 em Dourados/Mato Grosso do Sul (MS), Porto Alegre/Rio Grande do Sul (RS) e São Gonçalo/Rio de Janeiro (RJ).
Como está organizado : temos a intenção de que este texto seja claro e de fácil leitura. Os temas estão apresentados em seis capítulos, que abordam aspectos conceituais, epidemiológicos, fatores que podem desencadear os problemas bem como os que os protegem, além das estratégias de preven- ção e de atenção diante de casos de comportamento suicida e autolesão envolvendo crianças e adolescentes.
“
para mim, a valorização da vida é reconhecer que essas pessoas que
tentam suicídio, que morrem por suicídio, elas têm um sofrimento maior do
que qualquer coisa. entender o ser humano em toda sua complexidade,
que ele não tem uma causa única e atuar, nos diversos pontos. porque eu
posso estar fazendo prevenção do suicídio conversando com um amigo,
conversando com a caixa da padaria, conversando com um vendedor de
picolé ou mesmo dando aula e formando outros profissionais. então, para
mim, prevenção do suicídio é tudo isso que eu faço.
”
(Profissional de
saúde, especialista na prevenção do comportamento suicida)
1 Projeto Prevenção do suicídio na adolescência: revisão da literatura para subsidiar ações em saú- de (CNPq 401882/2021-7). 2 Projeto Violência autoprovocada na infância e na adolescência (CNPq 461623/2014-5). 3 Projeto Comportamento suicida: uma abordagem longitudinal da infância à vida adulta (aborda- gem qualitativa) (Faperj, Nº Processo 57134422.6.0000.5240)
Aos sete anos ele desencadeou, ele estava brincando com
meu sobrinho e eu fiquei a favor [do sobrinho]… e ele desen-
cadeou um ódio, uma raiva quando a visita foi embora, foi a
primeira vez que meu filho saiu fora de controle. [...] ele pegou
um garfo e veio, a gente, eu fiz uma contenção nele, ele veio que
ele queria se automutilar. tanto que ele encostou do lado da ju-
gular dele, aquele garfo, eu consegui, contive ele, ele entortou
o garfo, um garfo resistente, ele fez várias voltas, a força que ele fez [...]
Foi a primeira internação. Impulsividade, sete anos. [...] nessa internação
foi quando ele tentou [...] conseguiu uma faca, ele foi todo machucado na
jugular, entrou pra dentro. depois da internação, quando ele foi ficando
mais velho, eu acredito que com onze anos, ele pegou um cadarço dentro
do quarto, quando ele sofre alguma coisa na escola.... ele tinha “muita
baixa estima”, então se ele sentisse que alguém tinha alguma coisa a mais
do que ele ou professor, deu parabéns pra alguém que fez alguma coisa ou
o professor chamasse a atenção dele em público ou alguém dissesse “ai, tu
é isso, tu é…”, ou que ele sentisse inferior, ele vinha “esse mundo é cruel,
eu queria morrer”, mas ao mesmo tempo me culpando, “por que que eu tô
nessa situação de ser pobre, de não ter pai”. Aí ele, eu tinha que cuidar,
ele pegava um fio e ele tentava apertar mesmo o pescoço, fazia lá em cima
com o lençol, aonde ele podia, se encaixava, ele se “quando tu dormir eu
vou me matar [...]a última internação dele, foi no ano passado, [...] eu não
podia tirar o olho dele, deixar nunca ele sozinho, que ele vinha, queria
pegar todas as facas, eu já mantinha... e ele ligou o gás, ele conseguiu
[...] e ligou o micro-ondas. e estava procurando mais alguma coisa, “eu
vou explodir a casa”. e ele, na fúria, ele faz! Foi quando eu consegui, pedi
força, conseguimos arrombar a porta, tirar ele.
”
(Mãe de menino com
14 anos, tentativa de suicídio, Porto Alegre/RS)
Aparece sob a forma de ideação suicida, quando há pensamentos que fo- mentam o desejo de dar fim à existência. Quando tais ideias são deliberadas e articuladas, tem-se uma fase de planejamento do comportamento suici- da, que tende a preceder as tentativas, caso venham a ocorrer [8]. Ao longo da vida, 17% das pessoas tendem à ideação suicida, 5% ao planejamento suicida e 3% a tentativas de suicídio. Destas tentativas, apenas 1/3 recebe atendimento hospitalar. Estima-se que todo caso de suicídio é acompanha- do por 17 casos de ideação suicida [10], o que sinaliza a relevância de atuar logo que o comportamento suicida dá os primeiros sinais.
“
era uma situação mais de cansei! não quero mais, não quero mais
viver não, cansei. Só dá problemas, só dá estresse, nada melhora, não vejo
nada acontecendo, só dá tristeza, tristeza e eu pensava que era mais fácil
acabar.
”
(Mulher, com 24 anos, descreve a ideação suicida que teve no
início da adolescência, Rio de Janeiro/RJ)
A tentativa de suicídio envolve atos cometidos por indivíduos que preten- dem se matar, mas cujo desfecho não resulta em óbito [9]. Tentativas pre- gressas representam um dos mais consistentes fatores de risco para um caso de suicídio [8]. A evidência, mesmo implícita, de uma intenção de morte, diferencia as tentativas de suicídio das diversas formas de autolesão. Tal distinção é delicada na assistência e traz embates acadêmicos sobre a sobreposição ou não do comportamento suicida e das autolesões [8].
“
nunca cheguei a me cortar porque eu não via muito sentido, mas já
tentei me matar diversas vezes.
”
(Mulher, com 25 anos, que teve com-
portamento suicida na adolescência, Rio de Janeiro/RJ)
O suicídio apresenta-se como o desfecho mais grave, uma confluência de um máximo de dor, de perturbação e de pressão [Shneidman apud 11]. É um ato deliberado e executado pelo próprio indivíduo com intenção de morte, de forma consciente, mesmo que ambivalente, usando um meio que ele acredita ser letal [12]. Tem como características a intencionalidade, a autoperpetração e a crença na fatalidade.
É difícil distinguir com clareza os limites da ideação, planejamento e tentativa: por exemplo, uma tentati- va pode ser interrompida e se fixar como ideia ou in- tenção, enquanto um pensamento pode eclodir com angústias e ansiedades avassaladoras e explodir em forma de ato contra a vida. De outro lado, nem todo o pensamento sobre a morte ou o desejo de morrer é evidência de algum risco [8,177]. E, ainda, nem sempre os sinais do comportamento suicida são evidentes e, muitas vezes, o quadro só é revelado quando o ato é consumado [178].
“
quando a gente vê os nossos cortes, a gente se sente mal, a gente se
sente fracassado por a gente ter deixado aquilo acontecer, sabe? e acaba
fazendo de novo. Aí vai vindo outros motivos e como tu sabe que aquilo
te alivia a dor[...] eu sentia culpa dos próprios cortes […] com a minha
amiga, ela sempre soube dos meus cortes, daí ela sempre tentou me ajudar.
Como eu sempre tentei ajudar ela. eu sempre falava pra ela que eu, eu
tentava parar,... As nossas conversas eram até um pouquinho estranhas.
Há diferenças potenciais na manifestação da autolesão entre os gêneros [19]:
Apesar da visibilidade da autolesão entre as meninas, o problema é tam- bém relevante entre os rapazes.
Sinais de alerta importantes para o comportamento suicida e autolesão: [20]
Outros pontos relevantes: desde quando pensa em se ferir ou matar, gravidade da lesão e frequência com que acontece. Autolesão por pe- ríodo prolongado tem maior risco de pensamentos e tentativas de sui- cídio. Episódios mais graves e frequentes podem ocasionar ferimentos mais graves do que o planejado e podem levar à morte [21].
e autolesão
Como já falamos, a autolesão não está necessariamente relacionada ao comportamento suicida, que pressupõe a ideação, planejamento, tentativa e ato consumado com intenção de morte. São comportamentos distintos.
Estudo longitudinal realizado com (1.466) mil quatrocentos e sessenta e seis estudantes, de cinco universidades dos Estados Unidos, evidencia- ram que a autolesão precedeu ou co-ocorreu com o suicídio em 61,6% dos casos [25]. Geralmente o comportamento suicida ocorre no mo- mento ou após o período da vida em que a autolesão foi praticada. Em cerca de 20% das pessoas o comportamento suicida aconteceu antes da autolesão [24].
São muitas as dificuldades da família e dos próprios profissionais que aten- dem crianças na detecção do comportamento suicida. Primeiro que, para assumir este comportamento, é preciso que a criança tenha clareza sobre a finitude da vida e irreversibilidade e universalidade da morte, o que costu- ma ocorrer entre sete e nove anos de idade. Só assim poderá desejar acabar com sua própria vida. Por essa razão, usualmente, os registros epidemioló- gicos não permitem que um desfecho fatal seja categorizado como suicídio no grupo etário menor que cinco anos de idade [26].
O desenvolvimento infantil não é linear! Crianças podem evoluir ou regredir em função da forma como são cuidadas e das adversidades que enfrentam na vida. O nível do desenvolvimento mostra-se distinto também em condições como doenças físicas crônicas, transtornos mentais, deficiências intelectuais, dentre outros.
Para facilitar a avaliação dos profissionais em relação ao entendimento so- bre a morte pela criança, é necessário compreender se elas já desenvolve- ram as seguintes concepções [26]:
O diagnóstico do comportamento suicida é crescente ao longo dos anos da infância e adolescência. Avanci, Pinto e Assis [28] estudaram crianças brasi- leiras entre 5 e 9 anos de idade, detectando 58 óbitos de crianças brasilei- ras por suicídio entre 2006-2017, com a maioria sendo do sexo masculino, de cor da pele branca e com nove anos de idade (maior crescimento co- meça aos 8 anos). O enforcamento foi o meio mais utilizado pelas crianças para se matar. As internações por tentativas de suicídio no mesmo período
BIOPSICOSSOCIAIS: Compreende as dimen- sões biológica, psicológica e social de um indi- víduo [27].