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Análise de Desenhos de Figuras Humanas em Quadros Psicóticos e Neuróticos, Notas de estudo de Desenho

Este texto apresenta uma análise de desenhos de figuras humanas encontrados em quadros de pessoas com psicose e neuroses graves. Os traços e símbolos presentes nos desenhos são utilizados para identificar características estruturais relacionadas à perda da noção de pessoa humana, transtorno do controle de impulsos, perda de capacidade de julgamento, rigidez ou movimento harmonioso, omissão ou incompleção de partes, inadequação lógico-formal e outras anomalias. O texto também discute a importância de uma 'avaliação de conjunto' dos desenhos para informar sobre a situação psicológica do sujeito.

O que você vai aprender

  • Como as anomalias observadas nos desenhos de figuras humanas podem ajudar a identificar distúrbios mentais?
  • Qual é a importância de analisar o conjunto de desenhos de figuras humanas em quadros clínicos?
  • Quais são os traços e símbolos associados à perda da noção de pessoa humana em desenhos de figuras humanas?
  • Quais são as características estruturais dos desenhos de figuras humanas em quadros psicóticos e neuróticos?

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Jose92
Jose92 🇧🇷

4.6

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bg1
Ribeiro, Laura C. Texto 10. Como o desenho da pessoa humana mostra dificuldades psicológicas
1
Psicologiaclinicatextos.com.br: Coletânea de textos sobre o desenho da pessoa humana. Inserido em 12/2014
TEXTO 10
Como o desenho da pessoa humana mostra
dificuldades psicológicas
Neste texto, apresento resumidamente conjuntos de indicadores referentes a vários quadros
clínicos, a interpretação simbólica associada ao indicador, e, após a apresentação de cada conjunto, uma
descrição dinâmica dos mesmos. Indicadores psicopatológicos (denominados doravante IP) são os
traços gráficos gerais (por exemplo, linha interrompida) ou específicos (por exemplo, ausência de mãos)
sobre os quais se tenha afirmado, na literatura, que estão presentes em determinada(s) dificuldade(s),
ou que tenham discriminado as amostras psicopatológicas das amostras controle que pesquisei, num
nível estatisticamente significativo. IPs genéricos, presentes em vários quadros de dificuldades, e
traços mais específicos de uma dificuldade psicológica determinada.
Os IPs que apresentamos a seguir foram obtidos com base em três tipos de fontes: informações
consolidadas em livros sobre o desenho da figura humana, artigos científicos sobre o desenho da
figura humana e pesquisas que realizamos. Quando a informação é proveniente de literatura sobre o
DFH, e é informação relativamente disseminada, usa-se o sinal (lit) para qualificar o indicador, sem
mencionar o nome do autor de onde foi retirada aquela informação. Casos os indicadores formem
conjuntos definidos por determinado autor, as iniciais de seu prenome, nome do meio e sobrenome se
acham indicadas, e você pode ir à bibliografia. Nossas pesquisas forneceram alguns resultados
discriminativos (e teoricamente consistentes). Quando os dados se referem às nossas pesquisas,
apresentamos o sinal de um asterisco (*) se o IP foi discriminativo no nível 0,05 e dois asteriscos (**), se
o nível foi 0,01. Quando o IP não se mostrou discriminativo no nível 0,05, mas a probabilidade estatística
associada à presença do IP permitiria supor que, com amostras maiores, o IP se mostraria
discriminativo, considerou-se haver uma tendência à discriminação, assinalada com o sinal (t).
Além de permitir apreciar como o conjunto de indicadores é consistente para cada dificuldade
psicológica, o próprio conjunto com a descrição dinâmica que o acompanha é um modo de se
organizarem informações obtidas da análise de desenhos. Esse trabalho de reflexão reforçará
naturalmente sua habilidade de elaborar sínteses compreensivas. Apresento também indicadores não
patológicos, associados a determinadas situações, como dependência, ou várias defesas, que podem
auxiliar a compreender PSJ. Este texto apresenta, pois, indicadores, mas lembre-se de que nenhum tem
caráter definitivo por si só.
Um alerta: o desenho das figuras humanas nos parece um excelente instrumento para
conhecer melhor a dinâmica de uma pessoa: as percepções de si mesmo, e a visão do outro que habita o
mundo interno do sujeito. Visão inspirada pelas interações que o sujeito manteve e mantém e que
mediatiza sua conduta interpessoal. Entretanto, o desenho das figuras humanas não permite fazer um
diagnóstico psiquiátrico, que está além das possibilidades que o desenho oferece com segurança.
Traços associados a quadros de grave dificuldade psicológica
O Quadro 1 sumariza 33 traços que se mostraram presentes nos desenhos de PSJs que
vivenciavam dificuldades psicológicas graves. São consideradas dificuldades graves as psicoses e a
psicopatia. Os traços são descritos na Coluna 1 e são seguidos da sua análise simbólica resumida na
Coluna 2.
Indicamos o(s) código(s) que se refere(m) ao(s) indicador (IP) mencionado. Assim, você poderá
cotejar a descrição resumida que fazemos aqui com as diretrizes de identificação dos traços (Textos 5 e
6) e com os significados simbólicos que lhes são associados (Textos 7 e 8). O asterisco indica significância
estatística do traço como IP, desde que o indicador tenha sido significativo, pelo menos, para uma das
dificuldades graves e tenha revelado tendência em relação às outras.
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TEXTO 10

Como o desenho da pessoa humana mostra

dificuldades psicológicas

Neste texto, apresento resumidamente conjuntos de indicadores referentes a vários quadros

clínicos, a interpretação simbólica associada ao indicador, e, após a apresentação de cada conjunto, uma

descrição dinâmica dos mesmos. Indicadores psicopatológicos (denominados doravante IP) são os

traços gráficos gerais (por exemplo, linha interrompida) ou específicos (por exemplo, ausência de mãos)

sobre os quais se tenha afirmado, na literatura, que estão presentes em determinada(s) dificuldade(s),

ou que tenham discriminado as amostras psicopatológicas das amostras controle que pesquisei, num

nível estatisticamente significativo. Há IPs genéricos, presentes em vários quadros de dificuldades, e

traços mais específicos de uma dificuldade psicológica determinada.

Os IPs que apresentamos a seguir foram obtidos com base em três tipos de fontes: informações

já consolidadas em livros sobre o desenho da figura humana, artigos científicos sobre o desenho da

figura humana e pesquisas que realizamos. Quando a informação é proveniente de literatura sobre o

DFH, e é informação relativamente disseminada, usa-se o sinal (lit) para qualificar o indicador, sem

mencionar o nome do autor de onde foi retirada aquela informação. Casos os indicadores formem

conjuntos definidos por determinado autor, as iniciais de seu prenome, nome do meio e sobrenome se

acham indicadas, e você pode ir à bibliografia. Nossas pesquisas forneceram alguns resultados

discriminativos (e teoricamente consistentes). Quando os dados se referem às nossas pesquisas,

apresentamos o sinal de um asterisco () se o IP foi discriminativo no nível 0,05 e dois asteriscos (*), se

o nível foi 0,01. Quando o IP não se mostrou discriminativo no nível 0,05, mas a probabilidade estatística

associada à presença do IP permitiria supor que, com amostras maiores, o IP se mostraria

discriminativo, considerou-se haver uma tendência à discriminação, assinalada com o sinal (t).

Além de permitir apreciar como o conjunto de indicadores é consistente para cada dificuldade

psicológica, o próprio conjunto com a descrição dinâmica que o acompanha é um modo de se

organizarem informações obtidas da análise de desenhos. Esse trabalho de reflexão reforçará

naturalmente sua habilidade de elaborar sínteses compreensivas. Apresento também indicadores não

patológicos, associados a determinadas situações, como dependência, ou várias defesas, que podem

auxiliar a compreender PSJ. Este texto apresenta, pois, indicadores, mas lembre-se de que nenhum tem

caráter definitivo por si só.

 Um alerta : o desenho das figuras humanas nos parece um excelente instrumento para

conhecer melhor a dinâmica de uma pessoa: as percepções de si mesmo, e a visão do outro que habita o

mundo interno do sujeito. Visão inspirada pelas interações que o sujeito manteve e mantém e que

mediatiza sua conduta interpessoal. Entretanto, o desenho das figuras humanas não permite fazer um

diagnóstico psiquiátrico, que está além das possibilidades que o desenho oferece com segurança.

Traços associados a quadros de grave dificuldade psicológica

O Quadro 1 sumariza 33 traços que se mostraram presentes nos desenhos de PSJs que

vivenciavam dificuldades psicológicas graves. São consideradas dificuldades graves as psicoses e a

psicopatia. Os traços são descritos na Coluna 1 e são seguidos da sua análise simbólica resumida na

Coluna 2.

Indicamos o(s) código(s) que se refere(m) ao(s) indicador (IP) mencionado. Assim, você poderá

cotejar a descrição resumida que fazemos aqui com as diretrizes de identificação dos traços (Textos 5 e

6) e com os significados simbólicos que lhes são associados (Textos 7 e 8). O asterisco indica significância

estatística do traço como IP, desde que o indicador tenha sido significativo, pelo menos, para uma das

dificuldades graves e tenha revelado tendência em relação às outras.

2

Quadro1 Traços e símbolos presentes em desenhos de PSJs com dificuldades psicológicas graves (IPs)

Traço (s) e código(s) correlativo(s) Interpretação simbólica usualmente associada ao

traço

  1. Fuga ou afastamento do padrão Figura

Humana**( lit): figura não humana, bizarra,

despersonalizada, zoomórfica, robotizada, monstruosa,

ou onde se perdeu o esquema corporal humano, por

distorções. (AP:01.23, 01.14, 01.25; 01.28, 01.29, 01.

e ES05.10)

Símbolo de perda do padrão simbólico de pessoa

humana. //Símbolo de mecanismos de clivagem e de

identificação projetiva patológica, com

desorganização do ego, do objeto e vivências de

esvaziamento e despersonalização.

  1. Simetria confusa*(lit): confusão na simetria da

cabeça, dos membros, do tronco. (ES02.02)

Símbolo de labilidade, falta de equilíbrio emocional e

transtorno no controle dos impulsos, com pouca

crítica.

  1. Perspectiva confusa*(lit) do corpo ou do rosto : pouca

noção de perspectiva, com torções nos perfis, ângulos

de visão simultâneos numa figura, presença de

transparências raras, indicações de órgãos internos por

transparência. (ES03.03, 03.04, 03.05; PF16.04, 16.06,

Indicador de distúrbio na capacidade de discriminação

e julgamento, e nas funções adaptativas e de ajuste à

realidade.// Símbolo de mecanismos de clivagem,

unidos a mecanismos de identificação projetiva

excessiva.

  1. Desenho com desproporções grosseiras * (lit)

(ES05.11)

Símbolo de baixa integração de personalidade, com

pobreza de equilíbrio entre impulsos e controle.

  1. Figura que mostra pouca capacidade para

contato *(lit): traços faciais e/ou braços frágeis, olhos

ausentes ou fechados, lesões em boca ou mãos.

(AP02.03)

Símbolo de pouca capacidade para as relações

interpessoais, narcisismo e contato débil com o

mundo exterior.

  1. Desenho com pobreza de detalhes**, ou primitivo e

vazio (lit): desenho muito pobre, ou de figuras vagas,

vazias, com limites imprecisos. (ES05.05, 05.06;

PF24.01)

Símbolo de indiferenciação em relação ao mundo

externo, com mecanismos de identificação projetiva

excessiva, ou de recalcamento com isolamento do

afeto e mecanismos de anulação.

  1. Figura com ausência de movimento, ou com

movimento robotizado (lit ): estática, ou com aparência

de homem de lata. (AP03.01 e 03.03)

Símbolo de presença de controle rígido e precário

sobre impulsos, ou de conflitos sérios, podendo tender

à despersonalização.

  1. Figura desenhada de frente e em pé, mas muito

inclinada (t/lit). (AP04.01)

Símbolo da perda projetada do equilíbrio físico, ou

colapso da personalidade.

  1. Figura inexpressiva, ou rosto com expressão

vaga *(lit) (AP02.02, PF02.08.06)

Símbolo de falta de espontaneidade e de contato

débil com o mundo exterior.

10. Desenho de linhas ambíguas ou vagas na folha de

papel, desenho de grafismos junto à figura, ou desenhos

espalhados por toda a folha (lit). (AP07.02, AP07.08,

AP07.09)

Símbolo de emocionalidade ou ansiedade livre, sem

defesas intelectuais, mas traduzindo esforço para

compensar a sensação da ruptura da comunicação

básica. //Símbolo de vivência de pânico, com clivagem

e fortes processos evacuativos, que indicam

desorganização e ataque às funções adaptativas de

ajuste à realidade.

  1. Sucessão desordenada ou confusa* (lit) (ES01.02) Indicador de incapacidade de ordenação do

pensamento, com carência de autocrítica.

  1. Ausência de correções e retoques em produção

medíocre ou menos* (TE06.01)

Símbolo de limitação das faculdades de avaliação e

correção, com critério pobre de realidade e reação

impulsiva aos estímulos.

  1. Reações que fogem ao comum ao realizar a prova*

(Nenhum PSj-controle as apresentou. As reações

variam, os códigos sendo exemplos). (TE07.01, 07.07,

07.09, a 07.11; TE07.17)

Símbolo de alguma idiossincrasia que está manifesta

todo o tempo, ou que tende a se manifestar em

situação de estresse.

  1. Linha tremida * (todos os hospitalizados a

demonstraram) (TE05.06)

Indicador de algum comprometimento do sistema

nervoso.

  1. Desenho com excesso de detalhes, rígidos e

repetitivos em esquema corporal preservado

(lit).(ES05.02)

Símbolo de utilização de defesas rígidas e rotineiras

contra emergência de conteúdos internos e/ou

externos imprevisíveis.

4

narcisismo e pobreza de relações interpessoais (traços 05, 13, 19). Identificou-se sentimento de perda

de vitalidade e crescimento (traço 23). E o corpo como problema apareceu também na impulsividade,

no sentimento de recusa do corpo, e na organicidade (traços 02, 12, 14).

Foi esclarecedor que os desenhos de psicopatas compartilhassem com os psicóticos em crise os

traços que indicavam a perda da noção de pessoa humana, o transtorno do controle de impulsos e a

perda da capacidade de julgamento por identificação projetiva excessiva ou por impulsividade, mas não

a perda da vitalidade.

Esses dados podem ser comparados com os obtidos por Elsa Grassano (1977, p. 159-181), em

abordagem psicanalítica. A autora examina primeiramente a delimitação do objeto gráfico em relação à

folha, para inferir sobre a delimitação do mundo interno e externo do cliente. Em seguida, avalia as

características estruturais de cada objeto gráfico, para verificar a presença de funções de discriminação,

simbolização e capacidades de reparação e sublimação.

O tratamento dado à folha permite ver a emergência de identificação projetiva evacuativa

maciça, que se revela pelo "povoamento" da folha por minúsculos pequenos objetos.

As características estruturais da produção que permitem distinguir um funcionamento primitivo

de um funcionamento neurótico ou adaptativo apontam possibilidades opostas. Nas descrições

seguintes, a possibilidade anterior ao traço oblíquo (/) refere-se ao funcionamento primitivo (em geral,

psicótico); a possibilidade posterior a (/) refere-se ao funcionamento adaptativo ou neurótico. Como

você poderá ler no parágrafo seguinte, a neurose é assim vista como o normal, decorrente do mal estar

inerente ao processo civilizatório, e supõe mecanismos mais evoluídos de inter-relação.

As características estruturais mencionadas do funcionamento psicótico/neurótico são, pois,

respectivamente: a) a não/integração das partes, ligada à in/capacidade de integrar pensamento,

sentimento e ação; b) a não/delimitação em relação à folha por limites precisos e não fragmentados (a

fragmentação revelando pequenas zonas de identificação projetiva) nem excessivos (que revelam medo

da identificação projetiva possível); c) a não/presença das partes que exercem funções de comunicação

(olhos, mãos, boca); d) a não/presença de diferenciação sexual e pessoal; e) a presença de rigidez/ou

movimento harmonioso, a primeira até um nível em que pode haver desvitalização ou desumanização,

distinguindo-se a ausência de movimento do nível psicótico como ataques ao aparelho psicomotor, e a

dificuldade de movimento do neurótico como bloqueio, presença de recalcamento ou controle

obsessivo; f) a omissão/não omissão de partes, a in/completude dos desenhos, informando sobre a

capacidade e lidar com objetos precisos e diferenciados; g) a in/adequação lógico-formal das figuras

(perspectiva in/correta, tamanhos extremos/não), indicando a disponibilidade das aquisições evolutivas

básicas relativas ao controle, às noções de espaço, de autocolocação adequada no ambiente, etc..

Freitas Júnior (no Brasil, 1979) elaborou uma Escala simples para avaliação da Deterioração do

Desenho da Pessoa (EDDP), empiricamente, " sem base psicanalítica " (p. 3), que apresenta um total de

18 traços, destinados a identificar patologia grave.

Ele não analisa o tratamento dado à folha de papel, e seus indicadores são: (A) grande distorção

e perda da estrutura humana; (B) ausência de olhos, nariz, boca; (C) ausência de tronco, ou tronco

irreconhecível, ou muito largo ou estreito; (D) perda de proporções, e assimetrias acentuadas, na cabeça

e membros; (E) sexo da figura não identificável por caracteres secundários ou roupas; (F) linhas muito

recobertas ou fragmentadas; (G, H, M, N) braços, mãos e/ou pernas em uma dimensão, ou ausentes; (I)

tronco aberto em baixo; (O, R) representação dos órgãos genitais e de órgãos internos; (S) traços não

representantes (sic) no espaço interno, espaço interno cheio; (J) desvio axial maior que 10º; (L) linha

axial quebrada, assimetria no tronco; (P) boca aberta, representação de dentes; (Q) braços

perpendiculares ao solo, sem postura intencional; (R) rótula representada por círculo e (T) outros itens a

que atribui menor peso: pés com pontas concêntricas, olhos vazios ou em fenda, tronco e braços em

cruz, transparência nítida, ausência de indicação de roupa ou cabelo; contorno do tronco ondulado,

anomalias em mãos e dedos.

5

Há marcada superposição dos indicadores entre os dados de nossas pesquisas e as listas de Elsa

Grassano e de Freitas Jr. Os indicadores "ausência de correções em produção medíocre ou menos",

"linha tremida", "reações incomuns" e "cabelos omitidos ou ralos" não são apontados por eles. De

modo sintético, os indicadores comuns a todos nós são: ausência ou pobreza das partes que exercem

funções de comunicação; indiferenciação sexual; afastamento do humano; desproporção das figuras

(nos seus vários aspectos) e desvios flagrantes de simetria e perspectiva. Pela maioria dos traços

observados se referirem ao desenho globalmente considerado, vê-se que há razão lógica para se afirmar

que uma “ avaliação de conjunto” dos desenhos informa sobre a situação psicológica do sujeito.

Não inserimos no Quadro alguns traços que os autores mencionados descrevem, pois os

consideramos pouco definidos: "não integração de partes" (por espaço entre elas? distorção? diferenças

de alinhamento?) ; "espaço interno cheio com traços não representantes, exceto estampado" (dá para se

supor que se trata de preenchimento exagerado com traços, mas é difícil discriminar, pois o próprio PSJ

pode dizer que se trata de estampado) e "braços perpendiculares ao solo sem postura intencional"

(como definir?). Os dois autores apontam também "linhas fragmentadas no contorno ou limite da

figura" e Freitas Jr. aponta "linhas repassadas". Entretanto, "linhas repassadas" apareceram em 52% do

grupo controle e do grupo de protocolos elite dos universitários, em nossas pesquisas. Embora possa ter

ocorrido problema de definição quanto ao montante de repassado, ou à sua forma, achamos mais

prudente não incluir esse indicador. As "linhas fragmentadas" foram raras, mas presentes em

porcentagem equivalente também nos controles (em torno de 10%). Dos traços de Freitas Jr., também

não confirmamos a linha axial quebrada, que foi encontrada com frequência nos protocolos normais.

O superdetalhismo aparece em vários outros autores e foi incluído na listagem. Os traços

"tronco irreconhecível ou ausente", "membro(s) em uma dimensão", "tronco aberto em baixo",

"omissão de partes", e "rótula representada por círculo" (Freitas Jr.) foram inseridos no Quadro porque,

além de registrados por outros autores, foram encontrados em nossas pesquisas, e na direção da

psicopatologia, somente que não num nível estatisticamente significativo. Na verdade, houve frequência

maior no grupo psicopatológico, mas não houve frequência alta desses traços nem no grupo controle (o

que seria contraprova) nem no próprio grupo psicopatológico. "Figura muito inclinada" mostrou-se

também um indicador potencialmente discriminativo. As figuras a seguir são exemplos de desenhos

feitos por pessoas-sujeitos (PSJs) que estavam com graves dificuldades psicológicas.

Figura 1. Desenho das duas figuras humanas em quadro de grave dificuldade psicológica

(Exemplo 1: A letra C, de cliente, refere-se a PSJ, pessoa-sujeito

7

Figura 4. Desenho das duas figuras humanas em quadro de grave dificuldade psicológica (exemplo 4)

2. Traços associados ao quadro de depressão maior

O Quadro 2 apresenta os 25 traços observados no desenho de PSJs que estavam vivendo um

episódio de depressão maior. O Quadro segue os mesmos moldes do Quadro anterior. A partir deste

Quadro, não apresentamos comparações com outros autores (embora tenha sido feita). Lembre-se de

que a referência (lit) indica registro do indicador na literatura. A apresentação dos traços e do

significado simbólico é sintética; se necessário, vá aos Textos 5, 6, 7 e 8 ― basta olhar pelos códigos.

Quadro 2 Traços dos desenhos de PSJs em episódio de depressão maior.

Traço (s) e código(s) correlativo(s)

Interpretação simbólica usualmente associada ao

traço

  1. Fuga ao padrão Figura Humana* por limitações ou

lesão na figura (lit): perda do esquema corporal por

distorções, simetria confusa*, presença de

desproporções grosseiras, amputações gerais.

("Desintegração da gestalt" em EG) (ES05.10, 05.14,

05.11, 02.02 e AP01.29 e AP01.30)

Símbolo de perda do padrão simbólico de pessoa

humana, por mecanismos de clivagem e de

identificação projetiva patológica, com

desorganização do ego, do objeto e vivência de

esvaziamento e despersonalização. //Símbolo de

labilidade afetiva.

  1. Desenho com pobreza de detalhes**, ou vaz io (lit)

: desenho muito pobre, ou de figuras vagas, vazias, ou

esquemáticas. (ES05.05, ES05.06, ES05.07)

Símbolo de indiferenciação em relação ao mundo

externo, com mecanismos de identificação projetiva

excessiva, ou recalcamento, isolamento e anulação.

  1. Figura inexpressiva* ou rosto com expressão

vaga*: figura c/ ausência de movimento, ou aparência

de boneco(a). (AP01.20, 02.02, 03.01 e PF02/8/6)

Símbolo de falta de espontaneidade e de contato

débil com o mundo exterior, energia baixa e controle

rígido e precário.

  1. Figura pequena com traços simples e falta de

proporção ** (PF04.06/04.10 )

Símbolo de baixo nível de energia e diminuição da

força egoica.

  1. Figuras tristes ou fracas*, ou com corpo em

posição de inatividade (lit).

(AP02.20, AP02.21, AP04.06)

Símbolo de baixa de tônus vital e humor.

Símbolo de vivências de impotência e inadequação,

com inibição egoica.

8

  1. Figura no quadrante inferior esquerdo** ou

metade inferior (lit) (AP06.10 e AP06.10)

Símbolo de conflitos, inadequação e fixação em

problemas egocêntricos e primitivos.

  1. Figura que mostra pouca capacidade de contato

**(AP02.03)

Símbolo de pouca capacidade para relações

interpessoais, retraimento e narcisismo.

  1. Cabeça desproporcional aos membros : cabeça de

tamanho grande com membros pequenos**, ou com

ênfase; pernas e braços pequenos, finos e frágeis. (EG:

"aspecto de busto ou estátua, com acentuação de

rosto e tronco") (PF01.05.03, 01.06, 21.09)

Símbolo de preocupação com o eu ou cabeça,

conjugada à repressão das necessidades de contato,

poder, ambição e autonomia.

  1. Cabelos omitidos, ralos ou destacados da

cabeça.** em qualquer das duas figuras (EG: "cabelo

pobre, desvitalizado ou confuso")

(PF08.09, PF08.10, TD02.03)

Símbolo de sentimento de perda de vitalidade ou

capacidade erótica, ou de distanciamento entre os

impulsos vitais e a personalidade como um todo.

  1. Olhos vazios* ou pouco detalhados (t) , ou

fechados, ou oblíquos para baixo. (PF03.07,

03.05, 03.02 e 03.16)

Símbolo de rejeição à realidade, ou percepção vaga do

mundo, como massa indiferenciada, com poucos

detalhes.

  1. Boca enfatizada (lit, EG, JP): muito grande, para

baixo, omitida, com dentes.

(PF05.01, 05.02, 05.04, 05.16 e 05.19)

Símbolo de dificuldades com as introjeções orais e

relações de dependência básicas.

  1. Membros superiores com pobreza de tratamento :

mãos omitidas* (JP, EG), em palitos*, imprecisas,

zoomórficas, ou omissão total ou parcial de braços, ou

ombros pequenos ou frágeis (lit).

(PF19.01/ 03 / 05 / 15 , 18.01 e 17.01)

Símbolo de ausência de confiança nos contatos

sociais, e na produtividade, com limitação do dar e

receber, e repressão da agressividade, com dano

egoico (vivência de castração) e culpabilidade.

  1. Dedos com tratamento impreciso : dedos

retocados ou apagados*, delineados vagamente

t .

(PF20.05)

Indicador de falha no trato com a realidade concreta,

com infantilidade. Símbolo de sentimentos de menos-

valia e culpabilidade, ou de agressividade infantil.

  1. Zona dos quadris ausente, ou mal desenhada, ou

omissão da parte inferior do corpo (lit., EG.)

(PF14.03, ES05.18, PF26.08)

Símbolo de negação do relacionamento genital.

  1. Poucas indicações de roupa : menos que o

essencial

t

. (PF24.01, 26.08 e 25.04)

Símbolo de menor adequação à realidade e parcas

defesas sociais.

  1. Acentuação da linha média ; inclui botões baixos

na linha média (lit). (PF28.05, ES02.031)

Símbolo de necessidade de pessoa que seja eixo

referencial: dependência, em relação a pai, mãe,

parentes, parceiro sexual, etc.

  1. Pernas omitidas*, ou muito mal desenhadas ou

colocadas. (PF21.01, 21.02)

Símbolo de insegurança no estar no mundo, na

autonomia ou nas relações pessoais.

  1. Pés mal parados**, ou pés borrados ou

distorcidos* ( PF22.09, PF22.16)

Símbolo de insegurança, e de fragilidade na adaptação

social e/ou sexual.

  1. Indiferenciação sexual entre figuras.

(TD01.01, TD01.02)

Símbolo de indiferenciação pessoal e psicossexual.

  1. Desenho do sexo oposto em primeiro lugar* ou

desenho de pessoa específica, exceto si mesmo.

(AP01.07, TD04.01)

Símbolo de valorização do outro , em geral.

  1. Pressão fraca (t/ EG), amplitude pequena e linha

com pequeno tremor. (TE02.02, TE03.02, TE05.07)

Símbolos de ansiedade.

  1. Presença de sombreado no corpo todo ou corpo

borrado (lit) (ES04.03/ 04 )

Símbolo de ansiedade, e culpabilidade.

  1. Sucessão com início pelas pernas/pés (lit).

(ES01.05)

Símbolo de interferências na elaboração do

pensamento por vazio, tristeza, desânimo.

  1. Reações incomuns ao teste : temor ou inabilidade

para realizar o teste*, recusar-se a terminá-lo (t).

(TE07.07, TE07.17)

Símbolo de falta de confiança em seus recursos

reparatórios, com autocrítica exagerada.

  1. Nariz muito grande em homens (lit, EG) (PF04.02) Símbolo de esforço compensatório para lidar com

sentimentos de impotência e inadequação.

10

Na literatura, encontramos para as neuroses depressivas também o "rosto com expressão de

cortesia excessiva", "olhos bem trabalhados, mas com expressão lamuriosa", "boca côncava e

receptiva", "figura feliz", e "braços cruzados, ou para trás", indicadores que confirmam a análise da

autora argentina. Eles permitem compreender o fundo depressivo, mas com presença de defesas, que

permitem o trabalho do sujeito, seja pelo esforço do desenho (como nos olhos bem trabalhados), seja

pela tentativa de mostrar-se "feliz".

3. Traços associados ao quadro de fase eufórica de distúrbio bipolar

O Quadro 3 sumariza 15 traços observados no desenho de PSJs que estavam na fase eufórica de

distúrbio bipolar. Como a apresentação do significado simbólico é sintética, para compreensão maior

aconselha-se cotejar com textos anteriores sobre identificação e codificação de traços.

Quadro 3 Traços dos desenhos de PSJs em fase eufórica de distúrbio bipolar

Traço (s) e código(s) correlativo(s) Interpretação simbólica usualmente associada ao

traço

  1. Afastamento ou fuga do padrão “Figura

Humana”** por limitações (lit): figura pouco

humanizada, despersonalizada; ou presença de

desproporções; ou perspectiva confusa (t), simetria

confusa (t/lit.)(-AP01.00; AP01.25, ES02.02, 03.03,

01.02 lit e PF16.06)

Símbolo de perda do padrão simbólico de pessoa

humana, com desorganização do ego e do objeto e

forte labilidade afetiva e transtorno no controle dos

impulsos, podendo haver mecanismos de clivagem e de

identificação projetiva patológica.

  1. Figura pequena e no alto da página**. Lit. (Obs.:

em JP e EG, figuras grandes) (AP05.02, 05.09 e 06.04)

Símbolo de pouca valorização de si, inferioridade, mas

com euforia e desejos frustrados de se destacar.

  1. Figura pequena com traços simples e falta de

proporção**, desenho com pobreza de detalhes (t).

AP05.10; ES05.05, 05.

Símbolo de diminuição da força egoica, impulsividade e

diminuição da eficiência do eu, com incapacidade de

manter nível de energia para ações mais complexas.

  1. Figura que mostra pouca capacidade de contato*,

com mãos pobres ou imprecisas*. ( AP02.03 e PF19.05)

Símbolo de pouca capacidade para relações

interpessoais, retraimento e narcisismo.

  1. Rosto com expressão vaga, com olhos vazios, ou

pouco detalhados*; figura inexpressiva (t.). (PF03.07,

03.05 e AP02.02)

Símbolo de pouca espontaneidade, contato débil com o

mundo exterior, insegurança e uso de mecanismos de

isolamento do afeto.

  1. Predomínio de linhas angulosas*e retas ou linhas

curvas (lit); ombro geométrico (t)

(TE04.01, PF17.07)

Símbolo de pouco cuidado no desenhar, com

agressividade infantil e primitiva.

  1. Cabelos omitidos ou ralos* ( PF08.09/10) Símbolo de sentimento de impotência ou inadequação,

com perda de vitalidade ou capacidade erótica.

  1. Cabeça diminuída (t)

PF01.03)

Símbolo de diminuição do controle.

  1. Membros inferiores com tratamento pobre : pernas

esquematizadas (t), pés omitidos (t). (PF22.03, PF23.01)

Símbolo de dificuldades nos processos de separação e

autonomia, com cerceamento da autocolocação.

  1. Ausência de correções e retoques em figura

medíocre ou menos*, lit, JP: "pouco uso de borracha".

(TE06.01)

Símbolo de limitação das capacidades de avaliação e

correção (reparação), com reações impulsivas ou lábeis

aos estímulos.

  1. Braços com maior capacidade de alcance no sexo

oposto* (TD04.09)

Símbolo da atribuição de maior capacidade de

satisfazer necessidades ao sexo oposto, e, por

extensão, ao outro.

  1. Desenho do sexo oposto em primeiro lugar (t)

(TD04.01)

Símbolo de valorização e idealização do outro sexo, e

do outro em geral.

  1. Reações excepcionais ao teste : alegria excessiva;

comentários absurdos durante o teste (t/lit) (TE07.10,

TE07.11)

Símbolo de presença de defesas de negação onipotente

da depressão e perda de noção da realidade social.

  1. Desenhos espalhados, grafismos, ou escrita junto à

figura (t) (AP07.08, AP07.09)

Símbolo de esforço para compensar a sensação de

ruptura da comunicação básica.

  1. Vestido com flores, ou vaso de flores, ou desenhos

de flores ( lit) (PF25.03, PF31.13)

Símbolo de temor à destruição interna do objeto, com

uso de defesas eufóricas.

O conjunto de traços acima se mostra também rico, embora, em nossas pesquisas, grande parte

dos traços não tenha discriminado a crise eufórica num nível estatisticamente significativo. O

11

afastamento psicótico da realidade está claro (traços 01, 03, 05, 14), mas mostrando as características

compensatórias próprias ao esforço maníaco (indicadores 02, 13, 15) ― euforia e alegria constante. No

nível interpessoal, vê-se o empobrecimento social (traço 04), conjugado às dificuldades com a separação

e autonomia (traço 09). Contrastam as vivências de inadequação (traços 07, 11, 13) e os fortes

transtornos no controle dos impulsos ― euforia, agressividade, labilidade (traços 01, 02, 03, 06, 08, 10).

A figura pequena e no alto da folha contrasta com a figura pequena e na parte inferior da página

dos depressivos. O traço figura pequena e no alto da folha é visto na literatura como símbolo de desejos

compensatórios da inferioridade e pouca valorização de si, colocação consistente com a literatura

psicanalítica, que descreve as defesas maníacas como defesas de negação onipotente da depressão.

Essas análises não negam o quadro orgânico que, por sua vez, não invalida a natureza dos processos

psicológicos simultâneos. A identificação de aspectos psicológicos pode inclusive auxiliar a identificar

quadros incipientes, ou mesmo, quadros em que somente aspectos psicológicos estejam presentes,

desacompanhados de outros sintomas.

O terceiro indicador ― figura pequena, com traços simples e com falta de proporção ―

compartilhado com os protocolos de depressão, é visto na literatura como símbolo de baixo nível de

energia e diminuição da força egoica. O baixo nível de energia poderia parecer contraditório ao excesso

de energia, de caráter maníaco. O exame dos traços ligados aos episódios maníacos que configuram

tendências auxilia a compreensão: "ombros geométricos", "pernas esquematizadas", "rosto sem

expressão", "pés omitidos", "falta de detalhes". Esses traços indicam, para além de seus significados

simbólicos particulares, uma esquematização da figura humana, um modo rápido e infantil de desenhar.

Inferimos, pois, que “baixo nível de energia” se refere à incapacidade de manter um nível de energia

adequado a ações mais complexas. Entretanto, adiante podem ser vistos desenhos que não se

enquadram nesses padrões ― estatísticas são probabilidades, mas não são leis!

O último traço digno de observação refere-se às linhas angulosas (indicador 06), que têm sido

vistas na literatura como símbolo de agressividade, crítica, tensão e rigidez. Viu-se que "ombros

geométricos" e "tronco anguloso" estão associados à síndrome eufórica. Voltando-se aos desenhos,

verificou-se que a maior parte deles apresentava troncos angulosos de tipo geométrico , e não angulosos

"fortes, musculosos". São desenhos que lembram esquematizações, as linhas retas e angulosas sendo

aspectos de um desenho pobre em detalhes, simetria e perspectiva. Pode-se supor, pois, que se trata de

agressividade de características infantis, primitiva, e não de uma conduta obstinada de crítica e rigidez.

Optou-se por acrescentar esses dados ao registro acima, fugindo à interpretação da literatura.

A literatura apresenta, também, um conjunto de traços que caracteriza o uso de defesas

maníacas. Estas envolvem mecanismos de negação da realidade, de idealização do poder, da alegria, ou

da bondade do objeto, de forma que o eu fica, assim, protegido do aparecimento da carência, dos

conteúdos negativos ou de atitudes depressivas. Na expressão facial, isto se mostra através da

expressão de cortesia forçada (PF02.08.03), dos olhos fechados (PF03.12), da boca de palhaço (PF05.10),

e da cabeça "cortada" (em que falta parte), mas preenchida pelo cabelo (supostamente, força vital ―

PF01.18). No corpo da figura, temos a dependência negada (variantes dos seios, como bolsinhos

PF12.05), a roupagem com desenhos "alegres" e "inofensivos" de coração ou flores (PF25.03, PF31.13),

os botões numerosos (PF28.02) que dão aspecto infantil ao conjunto, ou as minúcias que enchem o

desenho e impedem o sentimento do vazio (AP06.04)

Uma das PSJs internas, que denominaremos C.PSJ, escreveu uma história que merece ser lida:

História narrada por PSJ

Essa é minha filha, graças a Deus, que se chama...

É uma menina que vai completar 6 anos. É alegre, comunicativa, carinhosa, mas não

gosta de se alimentar bem.

Vivo preocupada com ela, tenho todos os cuidados necessários, mas meu maior medo é

que ela fique traumatizada por ter uma mãe que tem psicose.

Temo que ela não me respeite...

Essa é a árvore genealógica de meus antepassados, derramando bênçãos sobre ela.

13

4. Traços associados ao quadro clínico de esquizofrenia paranoide

O Quadro 4 apresenta 17 características que discriminaram os protocolos de esquizofrenia

paranoide dos protocolos controle, em nossas pesquisas, e traços que são apresentados na literatura.

A forma de apresentação é a mesma, iniciando pelos traços mais gerais e indo para os mais

específicos. Como a apresentação do significado simbólico é sintética, para compreensão maior

aconselho que você vá aos Textos 7 e 8. Fez-se um agrupamento de indicadores, dada a extensão do

número de indicadores que a literatura apresenta; nesse agrupamento, alguns conjuntos foram

formados, levando-se em consideração aspectos mais abstratos, implicando, pois, em um nível de

inferência mais elevado.

Quadro 4 Traços dos desenhos de PSJs com diagnóstico de esquizofrenia paranoide

Traço (s) e código(s) correlativos Interpretação simbólica usualmente associada ao

traço

  1. Fuga ao padrão de Figura Humana** por estranheza

(lit ): estereótipo, personagem ridículo, figura não

humana, figura zoomórfica, desenhos monstruosos,

figura bizarra, figura mecânica e robotizada como homem

de lata. (-AP01.00/ 09 / 12 / 23 /24, 01.28 a 01.30)

Símbolo de perda do padrão simbólico de pessoa

humana. Símbolo de mecanismos de clivagem e de

identificação projetiva patológica, com

desorganização do ego, do objeto e vivências de

esvaziamento e despersonalização.

  1. Figura pouco humanizada* por pobreza (lit) : figura

pobre, ou vazia, primitiva, ou despersonalizada, ou

esquematizada, com distorções ou amputações gerais.

(AP01.25; ES05.07, 05.06, 05.10, 05.14 e PF17.05)

Símbolo de mecanismos de clivagem unidos a

mecanismos de identificação projetiva excessiva,

com desorganização do ego e do objeto e vivências

de esvaziamento e despersonalização.

  1. Sucessão desordenada * (lit). (ES01.02) Indicador de incapacidade de ordenação do

pensamento.

  1. Simetria e perspectiva confusa (t) , podendo haver

transparências anatômicas ou generalizadas (lit). V.

indicadores 02 e 03, Quadro 5.1 (ES02.02/03/04/05/11;

PF16.04/06; AP04.11)

Símbolo de distúrbio na capacidade de julgamento e

mecanismos de clivagem e de identificação projetiva

excessivos, com desorganização do ego e do objeto e

possibilidade de vivências de esvaziamento e

despersonalização, incluindo labilidade e falta de

controle de impulsos.

  1. Movimento ausente (lit). (AP05.01/.04) Símbolo presença de controle rígido e precário sobre

impulsos ou conflitos sérios.

  1. Tema da figura(s) sugerindo onipotência (lit) : por

aspecto ameaçador, por poder evidente (rei, cristo,

mago) ou sugerido (halo, sombras, capa), etc. (AP02.04,

02.07, 07.10, 07.11; PF30.01; TD05.02)

Símbolo de mecanismos de clivagem e identificação

projetiva excessiva, com desorganização de ego e do

objeto, podendo haver preocupação com a natureza

indefinida da interação entre sujeito e objeto.

  1. Indiferenciação sexual (lit): figuras indiferenciadas, ou

muito parecidas por pobreza, ou em que a figura

feminina parece masculina, ou em que a parte inferior do

sexo oposto não é bem definida. (TD01.01, 01.02, 01.05,

Símbolo de indiferenciação pessoal e psicossexual,

com dificuldades de reconhecer qualidades que

diferenciam as pessoas, por confusão ou indefinição;

imago materna supervalorizada.

  1. Presença de tratamento gráfico excessivo (lit):

grafismos, confusão entre figura e fundo, sombreado em

todo o corpo, figura pobre com detalhes em excesso, ou

detalhes rígidos e repetidos em figura rica.

(AP07.08/09/13; ES04.04, 05.02/08)

Símbolos de esforço para compensar a sensação da

ruptura da capacidade de comunicação básica, com

confusão na delimitação entre eu e realidade

exterior.

  1. Figuras com tamanho extremo: grande ou muito

grande**, ou, ao contrário, minúscula ou muito pequena

(lit). (AP05.02, 05.01, 05.10, 05.08)

Símbolo de autopercepção inadequada, com:

a) autoestima excessiva, megalomania e fantasia

compensatórias de sentimentos de rejeição social e

inadequação (predomínio paranoide); ou b) forte

rejeição ao ambiente e volta para si (predomínio

esquizoide).

  1. Figura com olhos que fogem ao comum (lit): vazios,

esbugalhados, satânicos, suspeitosos, repassados.

(TD03.07, 03.15, 03.19.06 e 07)

Símbolos de transtornos no modo de perceber a

realidade, com temor à mesma, ou ao objeto

persecutório visto como externo.

14

  1. Tratamento diferente dado aos dedos: deformados ou

rígidos, em lança ou garra, zoomórficos, muito

detalhados, que parecem pontas de asas (lit), em número

maior (t). (PF18.21, 19.15, 20.06/ 09 / 11 / 13 / 15 e PF 20.04)

Símbolo de incapacidade, conflitos e agressividade na

forma de satisfazer necessidades (v. cap. 5).

  1. Pernas e pés com tratamento não habitual:

desproporcionais, em forma de pênis, mal parados

t ,

ausentes, mal desenhados, vazados e rígidos (lit).

PF21. 01 / 02 / 05 ; 22.01/ 14 - 15 )

Símbolo de problemas sérios, com ambivalência,

cerceamento ou dificuldades de controle frente ao

impulso para autonomia e necessidades de

separação.

  1. Presença de sinais de busca de referências corporais

(lit): ênfase na linha média, perfil enfatizado, articulações

destacadas, fileira de botões que não vem ao caso, botão

único no umbigo. (ES02.03; AP04.10; PF23.01, 28.07-08)

Símbolos do uso de referências concretas e infantis

para completar o sentido imperfeito de identidade, e

das tentativas de lidar com a ameaça de perda de

controle, com ênfase à dependência materna.

  1. Traços faciais com elementos que chamam a atenção

(lit): (a) nariz muito grande, (b) língua de fora, (c) orelhas

enfatizadas. (PF04.02, 05.21 e 07.03)

Símbolos das distorções nas relações interpessoais

por incapacidade de regular: (a) trocas sexuais, (b)

receptivas e (c) receptivo-passivas.

  1. Genitais enfatizados (lit )(PF15.03) Símbolo de dificuldades sexuais.
  2. Cabelo omitido ou ralo* (PF08.09/ 10 / 11 ) Símbolo de sentimento de impotência ou

inadequação, ou passividade ressentida, ou de

debilidade pessoal, ou de perda da capacidade

erótica.

  1. Presença de indicadores de pouco controle: pressão

flutuante (t), ausência de correções e retoques em

produção medíocre ou menos. (TE02.04, TE06.01)

Símbolo de instabilidade e impulsividade

  1. Figura totalmente à esquerda ( AP06.01) Símbolo de volta para si mesmo(a).

O conjunto de traços acima se mostra muito rico, embora, em nossas pesquisas, parte dos

traços não tenha chegado ao nível de significância estatística de 0,05. Vemos que o quadro simbólico

dos protocolos de sujeitos que

apresentam esquizofrenia

paranoide, além dos aspectos

globais de desorganização,

mostra uma personalidade

com transtornos na capacidade

de planejar e simbolizar

(indicadores 01, 02, 03, 04),

com dificuldades na ordenação

do pensamento (indicador 03),

problemas de afeto rígido ou

conflituoso (indicadores 05, 08,

09, 11, 14, 15, 18), com

presença de onipotência e

excesso de avaliação

(indicadores 06, 09a, 10, 12), e

parco controle (03, 08, 17). Há

indicadores que remetem à

divisão de objeto indicada pela

psicanálise (nºs 01, 04, 06).

Outros indicadores lembram a

dificuldade na aquisição da

autonomia e separação (nºs

07, 12, 13), e os sentimentos

de inadequação e impotência

(09b, 16).

Figura 7. Desenho das duas figuras humanas em quadro de esquizofrenia paranoide (ex. 1)

16

Cabeça e rosto em geral. Personalidade esquizoide: Cabeça somente (PF01.01), cabelos destacados da

cabeça (PF08.11), boca pequena (PF05.02), olhos e orelhas enfatizados (PF03.01 e PF07.03), como

símbolos de recusa ao corpo, aos contatos, e ideias de controle e desconfiança.

Personalidade paranoide: Cabeça muito grande, ou pequena e redonda (PF01.05 ou 01.03.01), olhos

enfatizados, ou com pupilas grandes e escuras, ou em negrito no contorno, ou representados por ponto,

ou com expressão ameaçadora, de fixidez ou furtiva (PF03.01/ 02/ 03/ 09/ 19.02/ 19.03/ 19.04) e

orelhas enfatizadas (PF07.03), como símbolos dos problemas de controle, da ênfase no controle visual, e

das ideias de desconfiança.

Pescoço e tronco. Personalidade esquizoide: Pescoço comprido e fino em excesso (PF10.03) e tronco

fino (PF11.03), como símbolo de controle e distância entre pensamento e afetividade.

Personalidade paranoide: Pescoço com borrões (PF10.06) tronco anguloso (PF11.08), e ombros grandes

em desenhos de mulheres (PF17.04), como símbolos de conflitos de controle e ênfase no poder.

Braços. Personalidade esquizoide: Braços em direção ao corpo (PF18.04), para trás (PF18.10) ou

cruzados (PF18.16), como símbolos de fuga e defesas na relação interpessoal.

Personalidade paranoide: Braços cruzados (PF18.16), como símbolo de defesa na relação interpessoal.

5. Traços associados ao quadro de psicopatia

O Quadro 5 apresenta os 23 traços que, em nossas pesquisas, discriminaram os desenhos de

PSJs com condutas de psicopatia dos desenhos feitos pelos PSJs do grupo de controle, e os traços que

estão associados a essa dificuldade grave, na literatura. A forma de apresentação é a mesma, iniciando-

se pelos traços mais gerais, indo-se para os mais específicos. Como a apresentação do significado

simbólico é sintética, para compreensão maior aconselha-se ir aos Textos 7 e 8.

Quadro 5 Traços dos desenhos de PSJs com características de psicopatia

Traço(s) e código(s) correlativo(s) Interpretação simbólica usualmente associada ao

traço

  1. Fuga ao padrão Figura Humana** por degradação :

estereótipos, personagem ridículo, figura não humana,

figura zoomórfica, fig. com nariz em focinho de porco,

cabeça com forma geométrica.(-AP01.00; AP01.09/ 12 / 23 /

24 ; PF04.17 e PF01.14)

Símbolo de perda do padrão simbólico de pessoa

humana. Símbolo de identificação projetiva

indutora, com coartação da capacidade de

pensamento, e vivências nocivas depositadas

chistosamente no psicólogo.

  1. Desenho de par antitético** em geral e quanto à

reparação*: desprotegido x perseguidor; exibicionista x

recatado; ativo x passivo; animal x humano, etc..

(TD05.01/ 06 / 09 / 04 )

Símbolo das funções pessoais (padrões mentais)

existentes em PSJ, baseadas em relações objetais,

e que estão dissociadas em PSJ, com uso de

defesas primitivas, paranoides e/ou eufóricas.

  1. Presença de contrastes nas figuras (lit): figuras

paralisadas e grandes com histórias agressivas; fig. do

próprio sexo de corpo inteiro, e do outro parcial; figura do

próprio sexo com mais equilíbrio, ou mais cuidada.

(AP03.02; TD05.19, 04.08, 04.06 e 04.11)

Símbolo de presença de identificação projetiva, e

de colocação no outro de seus aspectos mais

negativos, podendo mostrar dissociação, se a

distância for muito acentuada.

  1. Ausência de aspecto dócil na figura*: figura de bandido

(lit), figura com aspecto ameaçador (t), rosto com

expressão ameaçadora (t), podendo ser uma figura

agradável, mas com conotação hostil (lit). (-AP02.12,

AP01.19, 02.04; PF02.08.

  • 05 ; AP02.05)

Símbolo de agressividade que não é controlada e

de mecanismos de clivagem e identificação

projetiva excessiva.

Símbolo de mecanismos de sedução associados a

desconsideração pelo objeto.

  1. Figura com ênfase muscular e na ação: figura em

posição de ação (t); tronco anguloso, ou enfatizado e

musculoso (t); indicação de músculos; ombros grandes e

largos; braços fortes ou largos; movimento não gracioso e

com força; pernas separadas em V invertido. (AP03.05,

03.09, 02.06; PF11.08, 11.17, 16.05, 17.03, 18.05 e 21.18)

Símbolo do desejo de mostrar capacidade, força e

agressividade, de forma compensatória, com

instrumentação do aparelho motor como meio

expulsivo-expansivo de controle do objeto, com

exacerbação dos mecanismos de ação.

  1. Estilo impulsivo de ação: linha confusa*; pressão forte

(lit); traçado impulsivo (lit); linha dentada (t); ausência de

correções e retoques em produção medíocre ou menos*;

Símbolo de agressividade, insegurança e

ansiedade, com impulsividade.

17

sombreado vigoroso.(TE05.10, 02.01, 01.04, 05.09, 06.01,

04.03 e 04.05)

  1. Simetria confusa* (ES02.02) Símbolo de labilidade, falta de equilíbrio

emocional e transtorno no controle dos impulsos,

com debilidade de defesas.

  1. Desenho de figura parcial* ou com corpo cortado na

vertical (lit)(ES05.13, 05.17; PF01.01 e PF01.07)

Símbolo de falta de sentido de integridade ou

plenitude ou de cisão pessoal.

  1. Cabeça de tamanho diminuído*, ou com elementos

discrepantes variados: cortada, ou sombreada, ou mal feita

(lit), ou com traços faciais sombreados fortemente (t).

(PF01.03/ 09 / 14 / 18 ,05.01 e PF02.04)

Símbolo de problema com controle de impulsos,

podendo haver dissociação.

  1. Cabelos e pelos enfatizados por excesso: cabelos

enfatizados por sombreamento, desordenados, ou

espetados e/ou pelos do rosto desordenados*,

sobrancelhas peludas e grossas (t), indicadores masculinos

excessivos na figura (t). (PF08.02/ 01 / 06 / 08 ; PF09.08/ 02 ;

TD01.13)

Símbolo de conflito em relação à virilidade ou

sexualidade, acompanhado de ansiedade em

relação às fantasias ou a conduta sexual desviante,

com mecanismos anal-expulsivos, por excesso de

identificação projetiva.

  1. Olhos com tratamento especial: em negrito, ou

pequenos, ou com formas geométricas, ou com expressão

ameaçadora, furtiva ou de fixidez. (lit) (PF03.03/ 10 / 14 /19)

Símbolo de conflitos interpessoais e agressividade

nas relações, com recusa do meio, ou uso dos

olhos como instrumento social agressivo.

  1. Boca enfatizada*, ou muito grande (lit), ou com dentes

à mostra (lit). (PF05.01/ 02 / 19 )

Símbolo de dificuldades nas relações captativas

e/ou de troca.

  1. Problemas de desenho nas partes de ligação: pescoço

com borrões (lit), cintura interrompida*, sombreada,

reforçada (PF13.02/10.06)

Símbolo de problemas com o controle dos

impulsos, com ansiedade em relação a essa

divisão.

  1. Mãos com problemas no desenho : omitidas (t), muito

grandes (t), ou imprecisas, ou sombreadas, ou nos bolsos,

ou com punhos enfatizados (lit), ou os braços têm maior

possibilidade de alcance no sexo oposto (t) (PF19.01/ 02 /

05 / 06 / 09 / 13 ; TD04.09).

Símbolo de dificuldades na busca efetiva de seus

objetivos, com ansiedade, ou culpabilidade, ou

dissimulação em relação aos contatos sociais ou às

ações praticadas.

  1. Mãos e dedos com formato especial : polegar ou

indicador com traçado especial**; mãos ou dedos

retocados, ou com formato especial no sexo oposto.

(PF20.07 / 05 ; TD02.22)

Símbolo de sentimento de impedimento à

autorrealização, ou preocupações e dificuldades

sexuais.

  1. Área genital com problemas de desenho : calças

enfatizadas, com sombreamento ou borrões (lit); ou com

ênfase na braguilha; ou zona dos quadris ausente; ou área

genital diminuída; ou parte inferior do tronco do sexo

oposto com problemas de definição. (PF26.01, 14.03, 15.07,

26.04; TD02.16)

Símbolo de dificuldades com sexualidade.

  1. Pernas com traçado especial : sombreamento ou

reforço*; pernas como saias divididas ao meio (t)

pernas

aparecendo por transparência (lit). (PF21.11/ 14 /21.12)

Símbolo de conflito, ou preocupação e consciência

exageradas do sexual.

  1. Perfil (t) ou corpo de frente com cabeça em outras

direções (t). (AP04.09 e 04.11)

Símbolo de evasividade.

Obs.: Nas nossas pesquisas, só conseguimos pessoas com diagnóstico de psicopatia em PSJs adictos. A literatura

associa dependência e forte apego à imago materna ao adicto, e não ao psicopata. Portanto, os indicadores 19,

20 e 21 podem refletir a adição a drogas também presente na amostra pesquisada.

  1. Seios enfatizados na figura feminina, desenhados por

homens ** (TD02.08) Ver observação adiante.

Símbolo de relações de dependência conflituosas

ou difíceis, por forte apego à imago materna.

  1. Desenho de umbigo somente no sexo oposto (TD02.13)

Ver observação adiante.

Símbolo de conflitos ou dificuldades nas relações

de dependência, por forte apego à imago

materna.

  1. Figura feminina com braços com maior possibilidade de

alcance (t) (TD04.09) Ver observação adiante.

Símbolo de valorização e idealização do outro,

com conflitos ou dificuldades nas relações de

dependência, por forte apego à imago materna.

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Figura 10. Desenho das duas figuras humanas em quadro clínico de psicopatia (exemplo 2)

Figura 11. Desenho das duas figuras humanas em quadro clínico de psicopatia (exemplo 3)

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5.1 Impulsividade

Se algum cliente apresentar indícios de psicopatia em seus desenhos, é adequado avaliar a

possibilidade de condutas impulsivas A abordagem mais segura que encontramos de impulsividade foi a

de Peter Oas (1985 a; 1985b). Ele define impulsividade como "comportamento que é socialmente

inadequado ou pouco adaptativo e que é rapidamente emitido, sem se pensar sobre ele" (1985a, p.

142). Assim distingue dois elementos - desadaptação e uma falha na mediação cognitiva (a mediação

cognitiva permite adiamento de resposta). Com isso, Oas exclui da definição comportamentos rápidos e

independentes de reflexão, mas adaptados, como os comportamentos intuitivos, os instintivos ou os

espontâneos.

O Quadro 5.1 começa com os 6 indicadores de Peter OAS (1985b), que foram testados pelo

Autor em amostras norte-americanas. O ponto de corte é preciso: se houver no desenho mais do que 3

(três) entre os 6 (seis) indicadores, existe baixa mediação cognitiva. Essa coexistiu, no mínimo em 93%

dos casos, com comportamento impulsivo. Como ainda não temos dados de nossa cultura, os

indicadores são aqui relatados para fornecer pistas ao clínico, e subsídios à pesquisa entre nós.

Em outras fontes, foram encontrados dois dos indicadores de OAS. Nelas, havia a indicação de

"impulsividade", além dos outros símbolos a que o traço gráfico remetia, e que informamos, na coluna

da interpretação simbólica. Nesses símbolos, vê-se que não há a mesma consistência do trabalho de

OAS; falta definir impulsividade como construto teórico. Entretanto, você pode observar que há

somente dois traços em que o conteúdo do desenho remete à impulsividade, que são as "narinas

acentuadas" e as "mãos muito grandes". Os outros quatro são de traçado. Isso é interessante, pois fala

de um aspecto da conduta que sofre menos a influência do processo individual de simbolizar , ou seja, de

mediação cognitiva. Não se criam símbolos corporais para a impulsividade, por assim dizer: é "a mão",

na rapidez de seu traçado, ou na força da pressão que exerce sobre o papel, que a “simboliza”,

malgrado o sujeito.

Quadro 5.1 Traços do desenho da figura humana associados à característica impulsividade

Traço (s) descrito(s) e código(s) Interpretação simbólica usualmente associada ao traço

  1. Completação da tarefa em menos de 5 minutos.

TE07.

Símbolo de pouca capacidade de mediação cognitiva e

pouco adiamento e controle de respostas: agir sem pensar,

com reações desadaptativas.

  1. Linhas que se superpõem em pelo menos duas das

partes do corpo : cabeça, tronco, pescoço, braço, perna,

pé. TE05.

Símbolo de pouca capacidade de mediação cognitiva e

pouco adiamento e controle de respostas.

  1. Simetria confusa (IP) ES02.02 Símbolo de pouca capacidade de mediação cognitiva e

pouco adiamento de respostas.

Símbolo de labilidade e falta de equilíbrio emocional (outras

fontes).

  1. Desenho com não mais do que dois dos seguintes

detalhes : óculos, sobrancelhas, pestanas, íris, olhos

sombreados, pupilas, fivela no cinto, pintura, joias,

roupas, estilo específico de cabelo. ES05.

Símbolo de pouca capacidade de mediação cognitiva e

pouco adiamento de respostas.

Indicador de diminuição da eficiência intelectual e do

conhecimento realista do eu (outras fontes).

  1. Um dos seguintes : olho(s) vazio(s), sem os

elementos centrais, ou nariz omitido, ou amputação de

um dedo ou mais. PF03.07, ou PF04.06, ou PF20.

Símbolo de pouca capacidade de mediação cognitiva e

pouco adiamento de respostas.

06. Avaliação de qualidade do desenho pobre: Escala

de Harris menor do que 36. Não temos códigos para

esse indicador.

Símbolo de pouca capacidade de mediação cognitiva e

pouco adiamento de respostas.

  1. Nariz com narinas acentuadas. PF04.15 Símbolo de agressividade.
  2. Mãos muito grandes. PF19.02 Símbolo de agressividade e poder, com atuações, e

inaptidão nos aspectos mais refinados das relações sociais.

  1. Traçado impulsivo ou agressivo TE01.04 Símbolo de agressividade , que pode ser compensatória do

temor à debilidade.

  1. Pressão flutuante.(IP) TE02.04 Símbolo de instabilidade.
  2. Linha fragmentada ou interrompida. (Somente se

predominante) TE05.

Símbolo de não discriminação por identificação projetiva,

com má delimitação entre o mundo interno e externo.

  1. Linha peluda (se predominante). TE05.08 Símbolo de primitivismo e agressividade.