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Este documento discute a teoria keynesiana em relação à demanda efetiva e à flexibilidade de preços, comparando-a com a teoria clássica e as teorias keynesianas modernas. Também aborda a inconsistência expositiva de tobin em relação à demanda efetiva e à flexibilidade de preços, e a interpretação de keynes sobre a lei de say e o princípio da demanda efetiva.
Tipologia: Notas de aula
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Paul Davidson*'
N a página IX do Prefácio da edição alemã da Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda, publicado por Dunchçr e Humbolt em 1936, aparecem as seguintes frases: "Esta é uma das razões que justificam que eu chame minha teoria de uma Teoria Geral. Uma vez que se baseia em hipóteses menos restritivas, é também mais facilmente adotada para uma extensa área de circunstâncias diferentes".^ Essas frases ecoam o tema insistente de Keynes, que uma teoria geral exigia menos axiomas restritivos. Por exemplo, Keynes (1936, p.16) declarou que os economistas clássicos "(...) parecem geômetras euclidianos em um mundo não euclidiano, os quais, descobrindo que na realidade linhas retas aparentemente paralelas freqüentemente se encontram, condenam as linhas por não se manterem retas (...) No entanto, de fato, não há remédio a não ser abandonar o axioma das paralelas e construir uma geometria não euclidiana, (grifo nosso) Alguma coisa similar é necessária em economia hoje em dia".
Em qualquer argumento lógico, cabe àqueles que adotam hipóteses altamente especiais justificá-las e não àqueles que dispensam tais axiomas provar uma negação geral. Assim, ao declarar que sua análise era uma teoria
Texto traduzido pelo Economista Adalberto Alves Maia Neto, da Fundação de Economia e Estatística Slegfried Emanuel Heuser. Professor da University of Tennessee. Essas frases não aparecem no Prefácio da edição alemã do Collected Works of Jolin Maynard Keynes (1973, p. xxv - xxvii). Schefold (1980) chamou atenção ao fato de essas frases não aparecerem em The Collected Works.
Keynes (1936, p.231) rejeita claramente a hipótese de substituição bnjta, quando declara que uma propriedade essencial da moeda é que a elasticidade de substituição entre a moeda (isto é, todos os ativos líquidos) e os bens produzíveis é zero. Em sua Teoria monetária da produção, Keynes (1973a, p.408-410) rejeita especificamente a hipótese clássica de neutralidade da moeda no longo prazo. Em sua ênfase na incerteza e em sua rejeição das expectativas probabilísticas (KEYNES, 1936, p.161 -162) e da metodologia econonométrica de Tinbergen de prever o futuro econômico (KEYNES, 1973b, p. 308), Keynes rejeita o axioma ergódigo da teoria clássica.
geral que exigia menos axiomas restritivos, Keynes colocou para os economis- tas clássicos o ônus de justificarem suas hipóteses de que um sistema econômico necessitava dos axiomas da substituição bruta (isto é, qualquer coisa é substituta de qualquer outra coisa), da moeda neutra e de um processo econômico ergódigo, de modo que o futuro não era incerto — ao contrário, os resultados futuros eram controlados por distribuições de probabilidades objeti- vas e imutáveis.^ Gaibraith (1994) notou a relação entre as "três primeiras palavras" do livro de Keynes (isto é ,"A Teoria Geral) e a Teoria Geral da Relatividade de Einstein. Gaibraith (1994, p.62) demonstra que"(...) os paralelos entre a economia de Keynes e a teoria da relatividade de Einstein são profundos o suficiente e, evidentemente, suficientemente intencionais, para proporcbnarem uma estrutura útil para pensara respeito do que Keynes pretendia com sua revolução científica". Tobin, por outro lado, apresenta uma interpretação diferente sobre o que Keynes pretendia ao chamar sua análise de "a Teoria Geral". Tobin (1992, p.387) declara que "(...) a questão central da teoria macroeconômica, hoje, é a mesma que era há sessenta anos atrás, quando John Maynard Keynes se revoltou contra o que chamou de ortodoxia 'clássica' de seus dias". Mais ainda, Tobin (1993, p.45-46) considera como um "velho keynesiano não reconstruído" quem acredita que os modelos macroeconômicos baseados no princípio da demanda efetiva do Capítulo 3 de Keynes são mais úteis do que a "velha ou nova macroeconomia clássica", ou até do que os modelos novo-keynesianos. Ao discutir "as questões de teoria, keynesiana versus clássica, tanto na época quanto agora" (TOBIN, 1992, p.387), contudo, Tobin insiste que "(...) a palavra Geral no título foi usada para distinguir sua [de Keynes] teoria de um regime restringido pela demanda vis-à-vis ao modelo 'clássico', restringido pela oferta e com mercados que se desobstruem {market clearing/'. Para Tobin, portanto, o termo geral não significa que a estrutura analítica do princípio da demanda efetiva dé Keynes pode aplicar-se tanto para sistemas abaixo
Apesar da afirmação de Tobin de que o princípio da demanda efetiva de Keynes não se aplica a um regime restringido pela oferta, ao escrever How T o Pay For The War, Keynes (1972) utilizou seu princípio da demanda efetiva para explicar como sua teoria "Geral" é aplicável até mesmo aos anos de guerra, com a economia em pleno emprego e restringida pela oferta. A análise clássica simplesmente não iria funcionar. O fato de que Keynes escreveu How To Pay For The War ilustra que há um conflito entre a alegação restritiva de Tobin, que a Teoria Geral de Keynes não é aplicável a regimes restringidos pela oferta no mundo real, e a alegação de Keynes da aplicabilidade universal da sua teoria geral ao mundo e m que vivemos. Essa diferença pode ser localizada nas incom- patibilidades analíticas entre a espécie de (velho) keynesianismo de Tobin e o próprio desenvolvimento explícito de Keynes do princípio da demanda efetiva na Teoria Geral. Tobin (1993, p.46) não "defende o texto literal da Teoria Geral", ao propor o que alega ser a substância da teoria "Geral" de Keynes. Como um artifício de debate, essa advertência é impecável, pois permite a Tobin defender tudo o que ele pensa ser "keynesiano", sem ter de demonstrar que seu modelo é fundamentado nas propriedades e axiomas explícitos que Keynes identificou como "essenciais" à "substância" de seu princípio da demanda efetiva. Entretanto deve ser exigido, no mínimo, a quem quer que proponha uma explicação que reflita a substância da Teoria Geral de Keynes que não apresente nada que esteja em explícito desacordo com as próprias palavras de Keynes. Tobin condena os novos-keynesianos por desenvolverem "uma caricatura da verdade" (TOBIN, 1992, p.395), quando discutem que flutuações na pro- dução e no emprego resultam exclusivamente de variações exógenas na demanda nominal, na presença de preços e salários nominais rígidos. Tobin argumenta que a "(...) proposição central keynesiana não é rigidez nominal nos preços, mas, sim, o princípio da demanda efetiva (grifo nosso)" (TOBIN, 1993, p.46). Porém, se, em sua interpretação do que é a teoria "Geral" de Keynes, Tobin considerou erroneamente as evidências escritas de Keynes, então, como mostraremos, seu velho-keynesianismo é também uma carica- tura da verdade. Este texto demonstrará que a interpretação de Tobin sobre Keynes está em conflito expositivo e lógico com os escritos de Keynes sobre o que seja "essencial" e o que seja a "substância" da Teoria Geral do Emprego. Na
i P E E - C E O O C
BIBLIOTECA Ensaios FEE, Porto Alegre(17)2:7-41, 1996 J 1
esperança de que as representações incorretas dos velhos e novos-keyne- sianos não continuarão a ser perpetuadas na literatura, este texto vai colocar as evidências em ordem, demonstrando que: 1^) Keynes reconheceu que sua teoria geral do emprego requeria o alijamento de alguns axiomas restritivos da teoria clássica, ainda que m a n t i v e s s e a possibilidade de preços instantaneamente flexíveis. Isto permitia a Keynes demonstrar que, no caso geral, (a) 0 8 determinantes da função demanda agregada não eram idênticos aos determinantes da oferta agregada (isto é, a oferta não criava sua própria procura); e que (b) são nos determinantes da d e m a n d a agregada e na demanda por liquidez, e não nas condições (de oferta) imperfeitas dos preços de mercado, que uma teoria geral do equilíbrio com desemprego para uma economia de laissez-faire orientada para o mercado está contida; 2°) o princípio da demanda efetiva de Keynes produz diferentes impli- cações de política para o papel do governo, permanentes e de longo prazo, comparadas às implicações de política dos modelos dos ve- Ihos-keynesianos, dos novos-keynesianos, dos velhos-clássicos e dos novos-clássicos.
Para começar, uma óbvia, ainda que não a mais importante, inconsistência expositiva. Tobin afirma (1992, p.394-395):"(...) despesa agregada em dólares em bens e serviços (...) não é o que Keynes quis dizer por demanda efetiva. Ele [Keynes] estava referindo-se a demanda por quantidades de bens e serviços, mensurados em preços constantes, não em dólares (grifo nosso)". Ao analisar a questão sobre se preços e salários perfeitamente flexíveis asseguram pleno emprego, Keynes (1936, p.259-260) explicitamente afirma:
"(...) a questão precisa em discussão é se a redução nos salários monetários será ou não acompanhada pela mesma demanda efetiva agregada anterior, medida em moeda (grifo nosso), ou.
Tobin (1993, p.46: ver também 1992, p.394) declara que "a ausência de uma desobstrução de mercado {marl<et clearing) completa e instantânea" origina um mercado de trabalho obstruído (uncleared); o desemprego deve-se, exclusivamente, à "falha dos preços" em se ajustarem instantaneamente a
Tobin, na verdade, insiste que"(...) a teoria l<eynesiana considera as recessões como deslizes do pleno emprego" (TOBIN, 1992, p.387). Isto implica que ou (a) o mundo real está sempre em um "deslize" e não pode nunca atingir o pleno emprego, ou (b) o mundo real, de fato, atinge um pleno emprego mesmo na ausência de preços instantaneamente flexíveis. No primeiro caso, se o pleno emprego é uma situação inatingível, por que desenvolver prescrições de políticas de pleno emprego para uma situação que não pode ser alcançada? No último, a flexibilidade instantânea de preços não é uma condição necessária para o pleno emprego. (Naturalmente, há uma numerosa evidência empírica de economias no mundo real que atingiram o pleno emprego sem preços flexíveis).
p r e ç o s ) / há uma suposição "keynesiana" de que flexibilidade instantânea não é uma condição necessária para a existência de equilíbrio com pleno emprego. A flexibilidade completa é uma condição suficiente para o pleno emprego na teoria geral de Keynes? A insistência de Tobin de que o desemprego "keynesiano" requer uma flexibilidade menos que instantânea de preços signi- fica que é uma imperfeição(ções) da oferta agregada nos ajustamentos dos preços de mercado que evita que um sistema de mercado estabeleça o pleno emprego após qualquer choque de demanda. Se isso é verdadeiro, então, como uma questão lógica e a despeito da alegação de Keynes no Capítulo 3 (1936, p. 24-26), o desemprego não pode ser atribuído exclusivamente aos determinantes da função de demanda agregada independente das condições da oferta agregada. Se Tobin está correto, isto seria um surpreendente volte face para o keynesianisnfx). Keynes seria um teórico chariatão, que estava, na realidade, apenas simulando que tinha produzido uma revolução teórica. Nas próprias palavras de Tobin (1993, p.56), "Keynes simulava que supunha competição pura em todos os mercados (grifo nosso)". Felizmente para a reputação de Keynes como um teórico, a afirmação de Tobin sobre a substância da teoria geral de Keynes está em conflito direto com o que Keynes escreveu. A espécie de keynesianismo de Tobin é tanto uma caricatura do princípio da demanda efetiva de Keynes quanto o novo-keynesianismo.
^ Se apenas todos os agentes (incluindo os trabalhadores) pudessem ajustar instan- taneamente os preços para baixo, então, todos os mercado iriam desobstruir-se (cleai). Na terminologia de Tobin (1993, p.47), isso ocorreria no caso de "mercados competitivos continuamente desobstruídos (price-cleared)'. ® Quanto menos axiomas uma teoria exige, mais geral (por definição) ela é. Tobin, portanto, deve estar supondo que Keynes aceitou todos os axiomas clássicos (que são correntemente a base para a moderna teoria axiomática do valor), a despeito da evidência, sugerida na nota 2 e discutida mais amplamente infra, de que Keynes rejeitou especificamente três axiomas clássicos. Surpreendentemente, nem os velhos nem os novos-keynesianos pensam que é importante considerar o que Keynes alegou como sendo "As Propriedades Essenciais do Juro e da lUoeda", em suas explicações da teoria de Keynes sobre o funcionamento de uma economia monetária. Os pós-keynesianos, por outro lado, incorporaram as "propriedades essenciais" de Keynes nas condições necessárias para uma teoria geral de emprego.
qualquer variação exógena na demanda. Tobin (1993, p.53) justifica essa crença, argumentando que "Na teoria padrão de Wairas-Arrow-Debreu, a flexibilidade perfeita de todos os salários e preços, presentes e futuros, manteria o equilíbrio com pleno emprego".^ Hahn (1977, p.37), porém, demonstrou que"(...) o ponto de vista de que com salários monetários flexíveis não haveria desemprego não tem um argumento convincente a recomendá-lo (...). Mesmo em modelos tradicionais com tatonnement puro, a convergência ao equilíbrio não pode ser provada genericamente".
A seção 6 infra, demonstrará que a rejeição explícita de Keynes a um axioma clássico assegurou que, em uma teoria geral do emprego, todas as provas de existência de um equilíbrio com pleno emprego estão ameaçadas. O princípio geral da demanda efetiva de Keynes reconhece a possibilidade de existência de um equilíbrio estável com desemprego, mesmo com flexibilidade perfeita de preços.
Tobin não admite que a palavra "geral" na teoria geral de Keynes se refere a uma estrutura lógica que requer menos axiomas que a do caso clássico.^ A única diferença entre a análise da demanda efetiva de Keynes e a teoria clássica, Tobin insiste (1992, p.391, ver também p.394-395, 1993, p.55-56), é de natureza pragmática. Tobin afirma que a "essência da disputa keynesiana (e Keynes?) — novo-clássico" envolve o fato, no mundo real, de que variações de preços dos produtos necessitam algum período finito de 'tempo reaT', por menor que seja, para serem opeiacbnais. 'Flexibilidade completa significa ajustamento instantâneo, de modo que os preços estão sempre desobstruindo (clearing os mercados" (TOBIN, 1992, p.39) e "Tudo que a macroeconomia keynesiana precisa, na verdade, é que os preços dos produtos e os salários monetários não sejam perfeitamente flexíveis (grifo nosso)" (TOBIN, 1993, p.56)^°.
demanda efetiva agregada que não é reduzida na mesma proporção da redução nos salários monetários (isto é, que é um pouco maior quando medida em unidades de salários). Mas se não é pennitido à teoria clássica estender suas conclusões relativas a uma indústria em particular à indústria como um todo, ela é totalmente incapaz de responder à questão de que efeito terá sobre o emprego uma redução dos salários monetários. Pois ela não tem nenhum método de análise que lhe permita enfrentar o problema (grifo nosso)".
O exemplo de livro-texto apresentado por Tobin (1992, p.391) de "uma análise de mercado marshalliana para uma única mercadoria", visando analisar o efeito de um decréscimo exógeno na demanda agregada, implica o mesmo ignoratio elenchi clássico, isto é, a falácia de propor uma prova que é irrelevante à proposição em questão. Para Keynes, o uso do esquema mar- shalliano de um mercado de uma única mercadoria para a análise macroe- conômica não é logicamente permissível para responder à questão sobre se um sistema de preços instantaneamente flexível é uma condição suficiente para um equilíbrio de pleno emprego. Tobin (1993, p.58), por outro lado, argumenta que essa análise marshalliana não é aplicável porque, em uma economia descentralizada,"(...) como trabalhadores e patrões planejam uma redução nos salários reais para toda a economia?". Dessa forma, Tobin vale-se do pragmatismo, ao invés da lógica, para rejeitar a hipótese especial clássica de preços universal e instantaneamente flexíveis.
Tobin não pode ter apreendido a "proposição central" de Keynes, se insiste em usar aquilo que Keynes rotulou de ignoratio elenchi como representativo do que aconteceria se todos os preços fossem instantaneamente flexíveis. Sempre que a economia é modelada (usando o esquema geométrico marshalliano ou a álgebra do equilíbrio geral), o analista está presumindo, em vez de provando, que, com preços perfeitamente flexíveis, o sistema de mercado opera"(...) como se todos os mercados, de trabalho, bem como de produtos, fossem desobstruídos (cleared) por ajustamentos de preços a cada momento no tempo" (TOBIN, 1992, p.391). Keynes, porém, insistia que tais técnicas de modelagem eram incapazes de explicar por que é apropriado"(...) supor que a demanda efetiva agregada é fixa" em termos do nível do emprego, se, como questão de lógica, todos os preços e salários (e, portanto, as rendas nominais agregadas dos fatores) caem instantaneamente, após a queda inicial exógena na demanda agregada. Na verdade, é necessário uma análise diferente (ver seção 7 infra).
Keynes sustentou que a "questão precisa" que sua 'Teoria Geral" podia enfocar e que o caso clássico não era capaz de analisar era se qualquer variação possível nos salários e preços, induzida por uma redução exógena na demanda agregada, restabelecerá automaticamente o pleno emprego. Essa "questão precisa" requeria uma "diferença de análise" (KEYNES, 1936, p.257) em relação à teoria clássica (seja na forma das curvas marshallianas, ou seja, do sistema algébrico wairasiano). O "(...) método de análise (KEYNES, 1936, p.260) para responder ao problema divide-se em duas partes". Primeiro, uma redução nos salários monetários e m resposta a uma queda exógena na demanda agregada nominal aumentaria o emprego, dadas a propensão a consumir, a propensão a investir e a taxa de juros? Segundo, uma redução pari passu em todos os preços nominais afetaria o emprego através de "repercussões nestas três variáveis?" "A primeira questão nós [Keynes] já respondemos de forma negativa nos capítulos precedentes" (KEYNES, 1936, p.260) dos Livros I a IV de A Teoria Geral. A resposta de Keynes à segunda questão envolvia rastrear as reper- cussões dos preços e salários flexíveis nos vários componentes da demanda agregada, incluindo, em uma economia aberta, o setor externo (KEYNES 1936, p.262-269). No fim dessa discussão das repercussões, Keynes advertiu (1936, p.26): "Supor que uma política de salários [completamente] flexíveis é um complemento correto e adequado de um sistema que, em seu conjunto, é de laissez-faire é o oposto da verdade". Tobin (1992, p.395) reconhece, no final das contas, a relevância da segunda questão de Keynes quanto às repercussões de salários flexíveis na propensão a consumir, na propensão a investir e na taxa de juros, ao escrever que "(...) a questão resume-se a se uma deflação proporcional de todos os preços, tanto os salários monetários quanto os preços dos produtos, aumen- tará, ou não, a demanda efetiva agregada real". Nesse ponto crítico, Tobin evita essa questão quando continua: "Esta é uma matéria complicada, (grifo nosso) e eu não posso tratá-la adequadamente aqui" (TOBIN, 1992, P.395). (O leitor descuidado fica com a impressão de que a resposta deve estar na afirmação anterior de Tobin, de que preços perfeitamente flexíveis asseguram pleno emprego, apesar dessa "matéria complicada" não discutida).
Em sua resposta de 1937 a Duniop e Tarshis, porém, Keynes (1973) indicava que não estava apenas simulando, ao supor concorrência perfeita. Ao contrário, como uma questão de argumento lógico, Keynes estava "fazendo uma pequena concessão ao outro ponto de vista" (KEYNES, 1973, p.441). Keynes estava convencido de que o defeito fatal da análise clássica não residia nas inflexibilidades de preços. Já em 1935, Keynes (1973 a) afirmava que"(-..) não devemos considerar condições de oferta (...) como sendo a fonte funda- mental de nossas dificuldades" (ibid., p.486). Apesar dessa evidência, Tobin (1993, p. 55-58) insiste que a ausência de flexibilidade de preços é a essência da economia keynesiana. Em uma carta para o autor (datada de 5 de maio de 1993), em resposta a uma versão anterior desse texto, Tobin explica sua posição, ao escrever:
"Eu considero a 'flexibilidade de preços' como uma condição que nunca existe, nunca pode existir. Como eu a defino, ela quer dizer que nunca, para qualquer período finito de tempo, por mais curto que seja, as ofertas e demandas divergem aos preços existentes. Isto quer dizer que quaisquer choques na demanda e na oferta são absorvidos por 'saltos' nos preços, de modo que não há nenhum período de tempo real durante o qual os preços estão ajustando-se, mas ainda não estão completamente ajustados, ao choque". Tobin está argumentando que, como uma questão pragmática e não de lógica teórica, mesmo com técnicas de preços por código de barra de computador e outros processos de controle por computador, levará algum período de "tempo real" (pelo menos um nanossegundo) para os preços se ajustarem. O desemprego é, portanto, inevitável após qualquer choque de redução de demanda. Mas também leva algum "tempo real" para dispensar trabalhadores e interromper fluxos de produção. Conseqüentemente, o argu- mento do "tempo real", de Tobin, implica que os empresários podem reduzir emprego e fluxos de produção mais rápido (isto é, e m menos de um nanossegundo) que o breve tempo real necessário para ajustar preços contro- lados por computador. Confiando e m uma leitura do mainstream, de reflexo wairasiano, Tobin funde a noção de equilíbrio com a de desobstrução de mercados (marl<et clearing). Tobin escreve (1993, p.59), por exemplo, que, quando ocorre o desemprego involuntário,"(...) a economia não está, em nenhum sentido, em
equilíbrio. Ela não está em uma posição de repouso, os mercados não estão
desobstruídos (clearing)". O conceito de equilíbrio, porém, foi introduzido em economia por Marshall, que o tomou emprestado da física, onde equilíbrio significa um balanço de forças endógenas, de modo que o campo sob estudo está "em repouso". Keynes, como um estudante de Marshall, insistia que, em um equilíbrio com desemprego involuntário, não há forças de livrç mercado endógenas que alterariam automaticamente o balanço de forças de mercado existente e que mudariam a posição de equilíbrio com desemprego, mesmo se os preços fossem perfeitamente flexíveis. O conceito de desobstrução (clearing) não é necessário para um equilíbrio econômico de um corpo em repouso. Leijonhufvud (1974, p.164-165) indica que a teoria do mainstream negli- genciou essas "(...) diferenças entre o pensamento marshalliano e wairasiano (...) Mas Keynes era, é claro, um teórico de preços marshalliano, e ignorar este fato no presente contexto não é simplesmente satisfatório". Até Patinkin (1965, p. 643), no final das contas, reconhece que o equilíbrio significa"(...) no sentido usual do termo que nada tende a mudar no sistema", mesmo que, ao longo da maior parte de seu livro, funda desobstrução (clearing) com equilíbrio. Como uma questão de taxonomia e lógica, desobstrução de mercado (market clearing) pode ser uma condição suficiente, mas não é uma condição necessária para o equilíbrio (DAVIDSON, 1967). Somente supondo curvas de demanda e oferta clássicas bem comportadas (isto é, efeitos substituição sem efeitos renda dominantes) e preços flexíveis no caso da mercadoria única marshalliana, o analista pode estar seguro que desobstrução (clearing) e equilíbrio ocorrem simultaneamente. Na teoria geral de Keynes, uma "propriedade essencial" de todos os ativos líquidos (incluindo a moeda) é que a elasticidade de substituição entre ativos líquidos e bens produzíveis é "igual, ou quase igual, a zero" (KEYNES, 1936, p.231, ver também p.241, n.1). Essa "propriedade essencial" significava que Keynes tinha que descartar o axioma ubíquo clássico da substituição bruta, assim como o matemático tinha de "abandonar o axioma das paralelas (...) para construir uma geometria não euclidiana" (KEYNES, 1936, p.16). Arrow e Hahn (1970, p.105, 126-127, 215-305) demonstraram que a remoção do axioma da substituição bruta põe em risco todas as provas de existência. Não é necessário que exista algum vetor de preços que assegure um equilíbrio com pleno emprego.
Tobin acredita, aparentemente, que o "meio termo" é sempre aposição virtuosa. Por exemplo, ver o debate de Tobin (1974, p.80) com Friedman, onde sugere que a ausência de hipóteses "extremas" é, de alguma fonna, algo virtuoso per se. No entanto, para se obter o meio tenno, é necessário que freqüentemente se tratem com evasivas as questões lógicas essenciais?
A princial diferença entre velhos e novos-keynesianos envolve o conceito de aderência [stickness] nominal dos primeiros e a noção de rigidez nominal dos segundos (TOBIN, 1993, p.44-48). Novos-keynesianos enxergam rigidez, isto é, valores nominais imutáveis por longos períodos de tempo calendárico como um aspecto essencial do keynesianismo, ao passo que velhos-keyne- sianos se dispõem a fazer "uma hipótese muito menos restritiva" (TOBIN, 1993, p.46) quanto à duração de tempo antes que os preços se ajustem. Esta última hipótese "(...) deixa bastante espaço para a flexibilidade, em qualquer signifi- cado de senso comum da palavra" (TOBIN, 1993, p.46). Velhos e novos modelos clássicos imaginam preços de mercado perfeitamente flexíveis. Para Tobin (1992, p.391), "a essência" da disputa keynesianos versus clássicos é somente a questão os preços se ajustam "quão rápido?" Entre a flexibilidade imediata clássica e a rigidez de longa duração novo-keynesiana, há "várias velocidades de ajustamento de preços (...) durante as quais os mercados não estão desobstruídos (clearing)" (TOBIN, 1992, p.394). Tobin (1992, p.394) sustenta que o velho-keynesianismo é a corporificação da razoabilidade, já que "possui o meio termo" entre os pontos de vista polares dos novos clássicos e dos novos-keynesianos acerca da flexibilidade de preços. Se comparado com Marshall, todo esse rebuliço entre teorias do emprego clássicas e keynesianas do mainstream não é uma tempestade num copo d'água envolvendo diferentes hipóteses a respeito da velocidade de ajus- tamento de preços versus produção? (Em Marshall, qualquer variação exógçna na demanda resulta em uma variação instantânea nos preços _[spof_ do período de mercado. Somente em um período curto, cuja duração é maior que a do período de mercado, a produção poderia ajustar-se).
P E E_._ C E D O C
De acordo com Tobin, tanto os velhos como os novos-keynesianos supõem uma velocidade de ajustamento dos preços menor que a do ajus- tamento instantâneo suposta pelos teóricos clássicos, tais como Marshall e Wairas. A única distinção fundamental entre velhos e novos-keynesianos é que os últimos presumem uma velocidade de ajustamento de preços ainda menor que os primeiros. O argumento de Keynes, anticlássico em sua totalidade, baseava-se exclusivamente na reversão do argumento de Marshall sobre a velocidade de ajustamento? Keynes não admitiu isso, assim como outros renomados scho lars (Leijonhufvud, Hahn, dentre outros) que estudaram Keynes, Marshall e o sistema wairasiano. Leijonhufvud (1968) foi o primeiro a atribuir a Keynes essa reversão no argumento de Marshall acerca da velocidade de ajustamento. Seis anos depois, porém, Leijonhufvud (1974, p. 169) retratou-se, afirmando: "Não é correto atribuir-se a Keynes uma reversão geral no ranking marshalliano das velocidades de ajustamento dos preços relativos e quantidades. No 'curtíssimo prazo', para o qual o comportamento do sistema pode ser definido no modelo de Keynes, produção-preços devem ser tratados como perfeitamente flexíveis". A retratação de Leijonhufvud é um reconhecimento tardio de que, e m numerosas passagens em A Teoria Geral, Keynes especificamente aceitou a noção de que qualquer mudança na demanda de mercado alterará instantaneamente todos os preços de mercado [spo/]^^ correntes. Keynes (1936, p.142) escreveu, por exemplo: "Não há nenhuma saída do dilema que, se ela [uma mudança] não for prevista, não haverá nenhum efeito nos negócios em curso, ao passo que, se ela for prevista, os preços [spo/] dos bens existentes serão imediatamente ajustados"^^. Hahn (1977, p.35) também argumenta q u e : "Keynes não supôs preços fixos. Antes pelo contrário. Nem deu a im- pressão de argumentar que os preços variam mais vagarosamente que
Preços spof são, é claro, os únicos preços de mercado existentes para bens disponíveis para a entrega hoje. Para afirmações adicionais quanto à possibilidade de preços perfeitamente flexíveis em sua análise, ver Keynes (1936, p.227, 231-232).
(^16) Como exemplo, ver a afirmação de Blanchard na seção 6 infra. Ver também Samuelson (1969, p.184), onde fez da "hipótese ergódiga" a sine qua non do método científico em economia. Lucas e Sargent também têm insistido que expectativas endógenas sem erros persistentes (expectativas racionais que exigern o axioma ergódigo) são uma necessidade para desen- volver a economia como uma "ciêricia com base empírica". Mankiw (1992, p.560-561) continua, "A Teoria Geral é um livro obscuro. Eu não tenho certeza de que mesmo Keynes sabia completamente o que queria dizer (...) A Teoria Geral é um livro antiquado (...) Nós estamos em uma posição melhor do que Keynes para entender como a economia funciona (...). O longo prazo não está tão distante que alguém possa alegar arrogantemente, como Keynes, 'que no longo prazo estamos todos mortos'".
necessário para tornar a economia uma disciplina c i e n t i f i c a i ^ Ao aceitarem todos os microfundamentos axiomáticos clássicos, em contraste com Keynes, os velhos e os novos-keynesianos estão presumindo que seus modelos são casos especiais da teoria geral da economia clássica. Quando seus sensos comuns interferem com suas lógicas axiomáticas novo-clássicas, esses weaker spirits, keynesianos da Síntese Clássica, im- põem hipóteses ad-hoc de curto prazo, aderência (stickness) nominal ou rigidez, para explicar o desemprego. Por exemplo, em uma carta pessoal endereçada ao autor (de 5 de maio de 1993), Tobin escreveu:
"(...) o debate essencial (...) diz respeito à eficácia de mecanismos de ajustamentos naturais de mercado em eliminar qualquer desemprego involuntário (excesso de oferta de trabalho em um mercado não de- sobstruído) que ocorra. Este debate não pode, em absoluto, acontecer, se alguém supõe, como o fazem os novos clássicos e também os no- vos-keynesianos no caso de mercados competitivos, que o desemprego involuntário ou qualquer outro excesso de oferta jamais existam".
Keynes, por outro lado, insistia que não existe nenhum mecanismo automático de mercado (incluindo preços completamente flexíveis) que assegure um equilíbrio com pleno emprego em uma economia monetária. Apesar do protesto de Tobin, nem velhos nem novos-keynesianos são capazes de engajar os teóricos clássicos em qualquer discussão lógica consistente em apoio ao princípio da demanda efetiva de Keynes, como descrita em seu Capítulo 3. Mankiw, pelo menos, (1992, p.561) reconheceu essa incapacidade, quando escreveu que "Se a economia novo-keynesiana não é uma repre- sentação verdadeira das posições de Keynes, então pior para Keynes".^^
o New Palgrave apresenta uma derivação de oferta agregada de Keynes a partir de fundamentos de microoferta marshallianos (DAVIDSON, 1987).
Keynes escreveu a D. H. Robertson que sua função de oferta agregada "(...) é simplesmente a velha função oferta (...) é apenas uma repreparação de nossa velha amiga, a função oferta" (KEYNES, 1973 a, p.513). As condições da oferta agregada de Keynes foram derivadas das funções de microoferta de Marshall (KEYNES, 1936, p.44-45). A característica dessa função de oferta agregada "(...) envolve poucas considerações que já não são familiares" (KEYNES, 1936, p.89). Keynes insistiu que"(...) é a parte desempenhada pela função demanda agregada que tem sido negligenciada" (KEYNES, 1936, p.89), e não imperfeições nas condições de oferta que embasam o caso geral de equilíbrio com desemprego. No Capítulo 3, Keynes (1936, p.25-26) argumenta que a análise clássica da Lei de Say não proporcionou "a lei verdadeira relacionando as funções de demanda e oferta", porque ela presumiu que a demanda agregada envolvia determinantes idênticos aos da função de oferta agregada, de modo que "(...) a oferta cria sua própria procura". A Lei de Say especifica que toda a despesa (demanda agregada) nos produtos da indústria é sempre exatamente igual aos custos totais da produção agregada (oferta agregada), incluindo os lucros brutos. Tomando para simbolizar a demanda agregada e para a oferta agregada (ambas medidas em unidades de salários, isto é, valores nominais deflacionados pela taxa de salários), então:
D ^ = f d (N) (1) Z ' ' = fz (N) (2)
Como Keynes usou a "velha" função de oferta clássica da concorrência perfeita como uma microbase da função de oferta agregada, preços de mercado completamente flexíveis são consistentes com a equação (2). A existência de inflexibilidades, portanto, não é uma condição necessária para a análise da demanda efetiva de Keynes.