Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Cleusa Albilia de Almeida JOVENS DE CHAPA E CRUZ ..., Notas de aula de Cultura

JOVENS DE CHAPA E CRUZ: CONSUMO DE MANGÁS PARA A PRODUÇÃO DE ... (Letícia); c) foi convidado por um amigo para baixar o one piece e gostou pelo fato de.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Tapioca_1
Tapioca_1 🇧🇷

4.6

(400)

224 documentos

1 / 13

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
Cleusa Albilia de Almeida
279
JOVENS DE CHAPA E CRUZ: CONSUMO DE MANGÁS PARA A PRODUÇÃO DE
SENTIDOS
CHAPS AND CROSS YOUNG: CONSUMPTION OF MANGA FOR THE
PRODUCTION OF MEANINGS
Cleusa Albilia de Almeida
1
RESUMO: O artigo traz reflexões sobre a produção e recepção de textos de mangá, de jovens
estudantes da cidade de Cuiabá - MT. Previamente conhecidos por seu envolvimento com
mangá, foram selecionados jovens do Instituto Federal de Ciências e Tecnologias e de
Instituto privado e de uma universidade pública. A metodologia de abordagem qualitativa
requereu o procedimento de observação, de entrevista semi-estruturada e de grupo focal, após
leitura conjunta de Mangás. O cenário se configurou como espaço privilegiado para se saber
que sentidos atribuem àqueles textos. Isto implica falar sobre: condições de produção que nos
remetem às histórias de leitura, razão das preferências por Mangá; que significados verbais e
não-verbais veiculam os Mangás.
Palavras-chave: Leitura; produção de sentidos; jovens.
ABSTRACT:The article reflects on the production and reception of manga texts by young
students from the city of Cuiabá - MT. Previously known for his involvement with manga,
young people were selected from the Federal Institute of Science and Technology and a
private institute and a public university. The methodology of qualitative approach required the
procedure of observation, semi-structured interview and focus group, after reading Mangás
jointly. The scenario has been configured as a privileged space to know what meanings are
attributed to those texts. This implies talking about: conditions of production that refer us to
the stories of reading, reason for preferences by Manga; what verbal and non-verbal meanings
Manga.
Keywords: Reading; production of meanings; young.
INTRODUÇÃO
Tornou-se senso comum comentar que jovens não leem. É uma reclamação de
professores, pais, com eco na mídia em geral. Entende-se por isso, que não qualquer
procedimento de leitura por eles. Não é preciso pesquisar para se constatar o contrário: eles
leem textos escritos, não verbais, midiáticos, hipermidiáticos etc. O que talvez eles não leiam
sejam os textos completos do jornal diário, cuja tessitura não prescinde de critérios de
textualidade. Esta observação não se restringe aos jovens, mas a leitores deste momento cuja
pressa e foco em pequenos textos e manchetes, como também em textos audiovisuais,
1
Pós-doutora em Educação (UFMT), doutora em Ciências da Comunicação (UNISINOS), mestra em Estudos de
Cultura Contemporânea (ECCO/UFMT) e professora na Faculdade de Educação INVEST e na Escola Estadual
Raimundo Pinheiro SEDUC/MT.
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa
pfd

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Cleusa Albilia de Almeida JOVENS DE CHAPA E CRUZ ... e outras Notas de aula em PDF para Cultura, somente na Docsity!

Cleusa Albilia de Almeida

JOVENS DE CHAPA E CRUZ: CONSUMO DE MANGÁS PARA A PRODUÇÃO DE

SENTIDOS

CHAPS AND CROSS YOUNG: CONSUMPTION OF MANGA FOR THE

PRODUCTION OF MEANINGS

Cleusa Albilia de Almeida^1

RESUMO: O artigo traz reflexões sobre a produção e recepção de textos de mangá, de jovens estudantes da cidade de Cuiabá - MT. Previamente conhecidos por seu envolvimento com mangá, foram selecionados jovens do Instituto Federal de Ciências e Tecnologias e de Instituto privado e de uma universidade pública. A metodologia de abordagem qualitativa requereu o procedimento de observação, de entrevista semi-estruturada e de grupo focal, após leitura conjunta de Mangás. O cenário se configurou como espaço privilegiado para se saber que sentidos atribuem àqueles textos. Isto implica falar sobre: condições de produção que nos remetem às histórias de leitura, razão das preferências por Mangá; que significados verbais e não-verbais veiculam os Mangás.

Palavras-chave: Leitura; produção de sentidos; jovens.

ABSTRACT: The article reflects on the production and reception of manga texts by young students from the city of Cuiabá - MT. Previously known for his involvement with manga, young people were selected from the Federal Institute of Science and Technology and a private institute and a public university. The methodology of qualitative approach required the procedure of observation, semi-structured interview and focus group, after reading Mangás jointly. The scenario has been configured as a privileged space to know what meanings are attributed to those texts. This implies talking about: conditions of production that refer us to the stories of reading, reason for preferences by Manga; what verbal and non-verbal meanings Manga.

Keywords: Reading; production of meanings; young.

INTRODUÇÃO

Tornou-se senso comum comentar que jovens não leem. É uma reclamação de professores, pais, com eco na mídia em geral. Entende-se por isso, que não há qualquer procedimento de leitura por eles. Não é preciso pesquisar para se constatar o contrário: eles leem textos escritos, não verbais, midiáticos, hipermidiáticos etc. O que talvez eles não leiam sejam os textos completos do jornal diário, cuja tessitura não prescinde de critérios de textualidade. Esta observação não se restringe aos jovens, mas a leitores deste momento cuja pressa e foco em pequenos textos e manchetes, como também em textos audiovisuais,

(^1) Pós-doutora em Educação (UFMT), doutora em Ciências da Comunicação (UNISINOS), mestra em Estudos de Cultura Contemporânea (ECCO/UFMT) e professora na Faculdade de Educação INVEST e na Escola Estadual Raimundo Pinheiro – SEDUC/MT.

Cleusa Albilia de Almeida

justificam a não leitura do texto escrito de livros, artigos, leis, revistas, enfim, que exigem tempo diferenciado, conhecimento da língua escrita-padrão e temas múltiplos. Para se constatar que eles leem, basta conviver com eles, como pais, professores e amigos. O que leem é a questão. Temos observado que os escolhidos são os que transitam na internet de modo geral, nas redes sociais, como virais, memes, tiras gibis, revistas semanais endereçadas a eles, que trazem sugestões de livros, discos, filmes e vídeos. Assistem a filmes e principalmente a produtos audiovisuais do Facebook, Instagram, Linkedin e Youtube. O espectro é muito variado e, quase sempre, com predileção por best-sellers como Senhor dos Anéis, Harry Potter, Saga Crepúsculo^2 , entre tantos outros. Percebem-se aqui os mais variados temas e tipos de signos com seus arranjos nas sequências intertextuais e interdiscursivas, que funcionam com seus nexos históricos, sociais, culturais, imaginativos como produtoras de sentidos. Chamou-nos a atenção sobre este grupo de Cuiabá, que se reúne para produzir, ler e discutir sobre mangá, desdobrando-se suas preferências também pelos anime e pelo cosplay. Poderíamos ter iniciado nossa investigação pelos conceitos de cultura, que recomendariam estranhamento. Todavia, nos ativemos ao conceito de cultura de Quéau: “O que é cultura? É aquilo que pode dar a toda pessoa razões para viver e ter esperança. È o que pode dar meios de agir a fim de aumentar a beleza e a sabedoria no mundo” (QUÉAU,2002, p. 460). Levamos em consideração também a concepção de cultura que é a de repartir sentidos conjuntamente, isto é, todos os jovens trazem consigo suas próprias ideologias e culturas recebidas e ao longo do caminho vão acrescentando ou mesmo adaptando suas concepções e conceitos. O embasamento teórico metodológico é semiodiscursivo. O aspecto sígnico, o discurso diferenciado foi privilegiado na leitura conjunta dos mangás. A análise discursiva das entrevistas foi efetuada a partir da interlocução ativa, considerando que o “sentido se constitui, pois, não em conjunto de regras abstratas mas, nas práticas sociais e culturais [...] no espaço intervalar que permite apreender a natureza dos procedimentos dialógicos e interativos” (CITELLI, 2000, p.53-54).

(^2) Pesquisa realizada no Programa de Estudos de cultura Contemporânea: dissertação de Mestrado: Transmidiação: Jovens e o processo de reconstrução de sentidos da Saga Crepúsculo.

Cleusa Albilia de Almeida

mais velhos já que a cada geração se identificam correntes de jovens que aceitam o que existe socialmente (tradições, instituições, etc.) e os que se rebelam (PAIS, 2003). A corrente classista interpreta a juventude a partir da reprodução social entendida em termos da reprodução das classes, sendo a transição para a vida adulta determinada pelas desigualdades sociais. Aqui as culturas juvenis são apresentadas como ‘culturas de resistência’, isto é, negociadas num contexto determinado pelas relações de classe. Ao observar e conversar com os jovens selecionados para a pesquisa, notamos, sobretudo, o desejo de modificar, ou mesmo o de rememorar, o novo, aquilo que lhes foi apresentado. De maneira que, como fator para continuar a observação com mais cuidado, a percepção de que os jovens têm uma consciência diferente de cultura e de consumo é de suma importância, já que o modo de consumo cultural nem sempre é reconhecimento como cultura, mas como gosto, seja grupal ou individual, talvez um modo de performizar as crenças.

METODOLOGIA: O PROCESSO

Por ser parte de uma pesquisa de maiores dimensões, para este enfoque, especificamente, que é o de produção de sentidos de mangá, decidimos, a par da recuperação de concepções teóricas, conversar/entrevistar os jovens leitores de mangá. Foram feitos contatos anteriores via internet, através do facebook, e-mails entre outros; acompanhamos os jovens em suas reuniões e elaboramos questões, cujas respostas não tinham única expectativa, mas inúmeras possibilidades. Na tentativa de lhes dar liberdade de responderem, conforme pensam, a entrevista foi semiestruturada, sempre prescrutando-lhes os sentidos atribuídos ao mangá. As perguntas levaram em conta o contexto de situação desses jovens em Cuiabá, sua relações de amizade, preferências. A contribuição da Análise do Discurso, através do funcionamento discursivo, possibilitou que a entrevista se caracterizasse como prática discursiva e não meramente perguntas e respostas. Da tentativa de entrevistarmos um por um, resultou que separados apresentavam alguma dificuldade, juntos pareceram-nos mais dispostos à interlocução que pretendíamos. Dessa forma, optamos por fazermos um grupo focal. Consideramos adequado entrevistá-los em grupo, alinhando-nos a Bauer e Gaskell que atribuem características a entrevista de grupo, tais como: sinergia que emerge da interação social: o grupo é mais que a soma de suas partes; é possível observar de atitude e mudança de opinião e a liderança de opinião e, ainda, nível de envolvimento emocional maior do que a entrevista individual (BAUER E GASKELL, 2013, p.76).

Cleusa Albilia de Almeida

ONDE SE DÃO AS PRODUÇÕES DE SENTIDOS: O ESPAÇO DE ESTAR-JUNTO

A loja Rush^4 foi aberta com o interesse de receber jovens que gostam de jogar e jovens leitores e consumidores da Cultura Japonesa. Esta loja foi fundada em 16 de novembro de 2012, por jovens recém-formados, sendo dois sócios que também consomem esses jogos específicos e diferentes. Esse espaço foi pensando para ser um local de encontro, de troca de ideias, ou de jogar seja nas mesas os grupos de amigos ou os games nos computadores. É um ambiente agradável e climatizado, quem frequenta o espaço se sente a vontade, pode conversar, ver jogos e aprender antes mesmo de comprar os próprios, vendem produtos como camisetas, colares dos personagens em destaque, bottons , bonés, livros e jogos em multiplicidade desde os mais leves aos exigentes em atenção e conhecimento sobre o assunto. Segundo Deadpool^5 um dos entrevistados, os jogos podem tirar a alma quando não se sabem as jogadas. Nesse ambiente são realizados eventos para esses jovens que além de clientes, são convidados a sugerir, produzir e realizar atividades que envolvem eventos pequenos, no espaço da própria loja e eventos maiores onde necessitam locar o espaço para a realização.^6 Foram 05 os jovens entrevistados. Inserem-se na faixa etária entre 17 a 26 anos de idade. São 03 estudantes da IFMT. E dois são estudantes de graduação e trabalham em suas respectivas áreas. Um como professor de idiomas – faz letras na UFMT e outro faz Direito na UNIVAG e trabalha no próprio escritório. Os entrevistados residem em Cuiabá- MT: Renan Riva, Thiago moram em Cuiabá, no bairro Jardim das Américas (população de alto pode aquisitivo), Letícia Alves, no bairro Praeiro (poder aquisitivo médio) e Waleska e Gabriel moram no Jardim Califórnia (população de alto poder aquisitivo). Segundo os entrevistados , eles não pertencem e não têm um grupo especifico, porém aderem aos eventos da cultura pop. Os entrevistados não participam de todas as atividades, uns vão para a loja Rush e se sentem parte de uma cultura diferenciada, e com os donos dessa loja realizam eventos próprios para os que consomem a cultura pop. Esse local é a casa de

(^4) Loja localizada no Jardim das Américas, próxima ao shopping Três Américas em Cuiabá, oferece espaço para jovens que curtem a cultura pop, em especial japonesa. 5 6 Identificação do jovem Renan Riva Moraes um dos criadores da comunidade Anime Cuiabá. Há, ainda, competições de cosplayeres: de modo simplificado e com premiações maiores. O próximo evento marcado será o dia 29 de junho de 2014 às 14h00, chama-se Marvel Day – Cosplay – Battle Scenes.

Cleusa Albilia de Almeida

Victória, 17 anos, estudante do curso de Edificações, na IFMT. Chamou-nos atenção pelas roupas, os adereços na mochila, enfim, a aparência que a diferenciava do grupo. Os pais são fomentadores do consumo cultural que se dá por meio de livros, ursinhos de pelúcia, chaveiros e, por fim, na participação dela no último evento em São Paulo, do qual se recorda com felicidade e sentimento de realização, por perceber que faz parte de uma cultura crescente e em transformação. Letícia, 17 anos, estudante do curso de secretariado, também do IFTM. Além de ser colecionadora, desenha mangá e já fez o seu próprio, intitulado “Corrompida”, que possui um blog para a sua divulgação^8. Seu consumo principal nos mídias são sites que têm como interesse comum os desenhistas de mangá e aqueles com direcionamento para a cultura pop. Está sempre atualizada, participando dos grupos regionais, sonha em participar do grupo nacional/internacional, cuja reunião acontece em São Paulo. Waleska, 17 anos, estuda comunicação e marketing no IFMT, sua prática favorita é o Cosplay , também é roteirista de mangá e possui blog (bakeneko.blogspot.com.br) e site (nyahfanfiction.com). Seu roteiro disponível é o “Sem no yoru wo koete”. Em todos os eventos vai com um personagem diferente, nos últimos usou os personagens: Asusa, do anime K-on; Tomoyo, de Sakura Cardcaptors; Alice Radorahertz; Catlyn, do Jogo da Liga das Lendas; e para o 5º Festival do Japão em Cuiabá está em construção, para o primeiro dia, o personagem Lulu – da Liga das Lendas. E Perona One Piece – de Nico Robin – para fechar o evento. Participa do grupo Kazejin – do qual foi a primeira líder. Esse grupo obedece ao líder e os seus comandos para as reuniões, eventos, encontros e ensaios fotográficos. Para suas atividades, locam os ambientes e contratam profissionais para produzir a arte e representar a cultura que consomem com prazer. Gabriel, 17 anos, estudante de Sistemas – IFMT. Sua prática principal é o Otaku e o J- Rochers , aos quais ele e seu grupo assistem pelo computador. Participou do evento nacional “Ressaca Friends”, que ocorreu em São Paulo, no ano de 2013, nos dias 15 e 16 de dezembro. Está contando os dias para participar em 2014 do Animê Friends, também em São Paulo (as datas estão confirmadas para os dias 17 a 27 de julho de 2014).

Renan Riva Moraes, 22 anos, estudante de Letras na UFMT. E professor de Idiomas na UNIVAG, um dos colaboradores para a manutenção do Anime Cuiabá, com 1. 455 membros no Facebook e sempre está envolvido com os eventos nipônicos na cidade de Cuiabá e já frequentou os eventos nacionais e internacionais.

(^8) corrompidaplace.blogspot.com.br

Cleusa Albilia de Almeida

Thiago Fujimura Viegas, 26 anos, estudante de Direito na UNIVAG. É autônomo e trabalha em sua própria empresa de prestação de serviços de auditorias. Leitor assíduo de mangá conhecem todos os organizadores dos eventos nipônicos na cidade de Cuiabá. E sente muito orgulha da cultura e da língua nipônica que fala, escreve muito bem, o fato de ter morado 08 anos no Japão o ajudou muito nesse acervo de conhecimentos da cultura pop. São pessoas que vivem as suas diferenças, em idade, pelos locais onde moram, pelo que estudam, onde trabalham e pelos gostos. Mas são muito parecidos ao se falar de mangá. Aí se instala os interdiscursos ditados pelas formações discursivas, ou seja, configurações específicas de discursos em suas relações.

RESULTADOS E DISCUSSÕES Consideramos a entrevista prática social dialógica, buscando através dela os sentidos que emergem do cotidiano: as narrativas, as argumentações. Acompanhando Pinheiro (1999), concebemos a entrevista como prática discursiva, ou seja, como ação, situada e contextualizada, por meio da qual se produzem os sentidos se constroem versões da realidade. Na busca de sentidos, compreendemos que são produções e que não necessariamente estão na materialidade, mas no discurso que pretendemos analisar. A fim de buscarmos os sentidos que são produzidos/atribuídos por esses jovens, elaboramos questões abertas, permitindo, nesse processo de interlocução, as respostas como melhor conviesse aos entrevistados. Iniciamos nosso diálogo com questões que dizem respeito às condições de produção de seus textos e de suas leituras. Vejamos o diálogo. Indagados sobre: a) o primeiro contanto com a cultura japonesa e como se deu o prazer dessa leitura. Afirmou que foi com os animes, sim bastante. Digimon foi o seu primeiro anime e seu primeiro mangá foi akumetsu. Está acostumado a ler mangás e sua característica principal é a leitura via internet. (Gabriel); b) leu muitos mangás o que a faz construir o próprio mangá. Seu primeiro mangá foi One Piece.^9. (Letícia); c) foi convidado por um amigo para baixar o one piece e gostou pelo fato de ser muito fácil o download e depois dessa primeira leitura não parou mais. Ele atualmente é o colaborador responsável pelo anime Cuiabá, movimenta de modo organizado os eventos da cultura pop sendo eles regionais, locais e nacionais. (Renan); d) sempre gostou muito de ler e o que a fez ficar com as leituras de mangá foi exatamente a quantidade dos exemplares, e porque os japoneses lançam muitas histórias em uma semana, enquanto as histórias

(^9) Seu mangá pode ser lido no endereço http://m.dpzine.com/2015/07/corrompida-cap-01.html#.U6h9zJRdWI8. São quatro capítulos e estes estão disponíveis nesse endereço.

Cleusa Albilia de Almeida

  • Sobre se considerar um otaku, um fã.
  • Consideram-se otaku e fãs da cultura japonesa. Eles comentaram que além das leituras tem peculiaridades que envolve todos os membros e que atendem suas expectativas enquanto leitura e mesmo quando acontecesse algum evento nipônico, isto para dizer que se sentem muito bem nesses ambientes da cultura japonesa e aqui em Cuiabá está numa fase crescente de inserção de novos membros e a permanência desses mesmos membros. O fato de poder trocar leituras, episódios e ainda os bottons , camisetas e outros tipos de acessórios que nos identifica como membro da cultura pop japonesa. (resposta comum a todos). Gabriel puxa as falas coincidentes. Consideram-se imersos na cultura japonesa de prazer e de lazer. A esta questão, emendamos a pergunta de:
  • se perceber como um leitor de histórias em quadrinhos, de forma geral, ou apenas de mangá
  • apenas mangás.
  • os demais entrevistados deixaram claro que leem mangá e que de algum modo são leituras em quadrinhos e que possuem um vínculo com o mangá sem outras leituras.

São respostas que evidenciam a preferência por mangá, porque, além do que atribuem ao mangá, não o excluem no gênero quadrinhos. Ampliando para outras práticas, indagamos sobre o cosplay.

  • gosta muito dessa prática, porém só observa. (Gabriel)
  • admira, gosta. Mas nunca tentou fazer. (Letícia)
  • admira quem faz cosplay, mas faz uma ressalva “quem faz cosplay tem que fazer bem feito, ou seja, deve ter tempo, dinheiro e dedicação” e se não for desta forma, torna-se cospobre, Ele sempre faz, mas de modo bem natural, reclicando as pessoas que possuem. (Waleska)
  • faz muito cosplay e adora o que faz. Nesse momento está compondo seu figurino para o Festival do Japão, não vai revelar o personagem por desejar fazer surpresa para os participantes do Festival Japonês em setembro de
  1. (Waleska)
  • apenas curte essa prática, mas não faz cosplay. (Thiago)

Apenas Waleska é “ cosplayer”. Os demais admiram, curtem, mas atêm-se ao mangá. A ironia demonstrada por ela no neologismo cospobre , traz mais uma característica dos fãs da cultura japonesa, ou seja, para se fazer cosplay, impõe-se ter boa condição financeira. Os demais não alegaram falta dela.

Cleusa Albilia de Almeida

FOCANDO: ENTREVISTANDO TODOS JUNTOS

A produção de sentidos que buscamos se dá interacionalmente entre os interlocutores (entrevistadoras e entrevistados). E as produções de sentidos são múltiplas e polissêmicas. A escolha de algumas falas entre muitas, nos coube nessa análise. Nos inserimos nas leituras de mangá, com o objetivo que eles falassem sobre as historinhas, personagens. Apesar de muita insistência, pouca ou nenhuma iniciativa de resposta neste sentido. Então, nos ativemos à generalidade de atribuição de sentidos aos mangás. A pergunta comum a todos foi: que sentidos trazem o mangá para vocês? Dentre as respostas, ainda um pouco tímidas: viver! E provocados, responderam que o mangá traz histórias que lhes dão mais sentidos para viver; alegaram que os temas são universais e que problemas, dificuldades, dúvidas e, até prazeres, se assemelham aos deles. Cada um, no momento de sua leitura se não se identifica exatamente com a personagem, se identifica com o que ela está vivendo naquela narrativa. Alegam que, em algum momento da vida, já passaram por isto, ou já idealizaram que isto poderia vir a acontecer. Interessante observar nesses discursos o devir! Emendaram, dizendo que no mangá eles encontram coincidentemente sonhos que têm, que gostariam de realizar. Um deles, o do amor entre as pessoas, mas também, o desejo de corrigir a violência, a impunidade, ainda que seja também com violência. Nesses discursos há um clamor por justiça. Quanto aos relacionamentos amorosos, dizem que no mangá isto é suave, mesmo quando se lê no mangá proibido para menores (o que fica em lugar reservado nas bancas); segundo eles é relacionamento sincero, sem medo de ficar só, de perder o outro, mas algo de mais maduro, e o que importa é o estar junto, pelo tempo que for. Alguns alegam a diferença em relação a amores veiculados por outras mídias, mesmo de outros quadrinhos. Em todos os casos, é recompensado aquele que sempre age com verdade, com sinceridade. Isto é instigante para ser comum a jovens de diferentes faixas etárias, condição socioeconômica e também escolaridade diferenciadas. Quanto ao formato mangá: o exagero das imagens, a narrativa impressa, copiando o cinema nos enquadramentos, o exagero de tinta preta, os olhos, eles leem com a tranquilidade de quem se habituou e aprova todo esse texto não verbal, que, na opinião deles, só enfatiza os sentidos pretendidos pelo autor.

Cleusa Albilia de Almeida

LEMOS, André. Cibercultura - tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto Alegre: Sulina, 2007.

MAFFESOLI, Michel. O tempo das tribos. O declínio do individualismo na sociedade de massa. Rio: Forense, 1987.

ORLANDI, Eni. Introdução à Análise de Discurso. Campinas: Pontes, 1999.

PAIS, José M. Culturas juvenis. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2003.

QUÉAU, Phelllipe. Cibercultura e Infoética. In MORIN, Edgard. Religação dos Saberes. São Paulo: Bertrand Brasil,2002.

UETA, Tais Marie 2013. Mangá, imagens e peculiaridades da estética. Dissertação de mestrado (mimeo), 2013.