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Um estudo sobre a organização de comportamentos extraídos de um projeto de graduação em psicologia e as competências e habilidades relacionadas aos perfils profissionais. A construção de um 'mapa' de comportamentos envolvidos em diferentes sub-ámbitos, incluindo ocupações específicas, tarefas componentes de operações, operações envolvidas em tarefas, ações constituintes de operações, comportamentos imediatamente relacionados a maneiras de fazer algo, comportamentos relacionados a conhecimentos sobre a maneira de fazer algo, comportamentos relacionados a situações, e comportamentos relacionados a conhecimentos sobre instrumentos e recursos. O documento também apresenta a sequência de comportamentos do quinto conjunto de comportamentos da classe de comportamentos 'caracterizar necessidades sociais em relação a alterações em processos comportamentais', denominado 'identificar diferentes tipos de avaliação psicológica'.
Tipologia: Notas de aula
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Programa de Pós-Graduação em Psicologia
"Somos todos anjos de uma só asa, só podemos voar quando abraçados uns aos outros." Fernando Pessoa
Dedico esse trabalho à minha mãe, Rita de Cassia Gonçalves, por me fazer acreditar que tudo é possível e ter me ensinado a vencer todos os desafios.
S U M Á R I O Resumo...................................................................................................................... Xx
Abstract..................................................................................................................... Xxii
I COMPORTAMENTOS PROFISSIONAIS DE PSICÓLOGOS AO INTERVIR DIRETAMENTE SOBRE FENÔMENOS PSICOLÓGICOS................................. 01
1.1 Características da formação de nível superior e as decorrências na atuação desses profissionais na sociedade...................................................................... 03
1.2 Características da formação do psicólogo no Brasil e suas decorrências para a descoberta de comportamentos profissionais do psicólogo................................ 06
1.3 As definições e distinções entre campo de atuação profissional, mercado de trabalho e área de conhecimento e suas implicações para a formação do psicólogo........................................................................................................... 15
1.4 Comportamentos profissionais do psicólogo ao intervir diretamente sobre fenômenos psicológicos e a relação da noção de classes de comportamentos profissionais, âmbitos de atuação, capacidade de atuar e limites de compreensão sobre a atuação profissional......................................................... 18
II PROCESSO DE OBTENÇÃO DE DADOS PARA CARACTERIZAR OS COMPORTAMENTOS PROFISSIONAIS DE PSICÓLOGOS AO INTERVIR DIRETAMENTE SOBRE FENÔMENOS PSICOLÓGICOS................................. 28
2.1 Fontes de informação.......................................................................................... 28
2.2 Critérios de escolha das fontes de informação................................................. 28
2.3 Material e equipamento....................................................................................... 29 2.4 Procedimento...................................................................................................... 30 2.4.1. Identificar, selecionar, transcrever os destaques das obras que foram utilizados como fontes de informação, que façam referência a comportamentos profissionais de psicólogos ao intervir diretamente sobre fenômenos psicológicos.......................................................................................................... 30 2.4.2 Analisar e fragmentar os trechos que foram utilizados como fontes de informação, que faziam referência a comportamentos profissionais de psicólogos ao intervir diretamente sobre fenômenos psicológicos.................. 31 2.4.3 Avaliar e alterar o sujeito e adequar o verbo e complemento dos fragmentos.............................................................................................................. 33
2.4.4. Avaliar a linguagem utilizada para expressar comportamentos que constituem a intervenção direta de psicólogos sobre fenômenos psicológicos, identificados nos trechos selecionados dos projetos de curso e propor linguagem apropriada................................................................................................................ 33 2.4.5 Avaliar e aperfeiçoar quando necessário a nomenclatura dos comportamentos que constituem comportamentos profissionais dos psicólogos ao intervir diretamente sobre fenômenos psicológicos.......................................... 35 2.4.6 Avaliar se o fragmento é uma atividade ou um comportamento que constituem comportamentos profissionais dos psicólogos ao intervir diretamente sobre fenômenos psicológicos................................................................................ 36 2.4.7. Identificar os níveis de abrangência dos comportamentos profissionais dos psicólogos ao intervir diretamente sobre processos e fenômenos psicológicos encontrados dentro da sistematização.................................................................... 37 2.4.8. Organizar os comportamentos encontrados nos projetos de curso em Psicologia arranjados em um sistema comportamental, seguindo níveis de abrangência.............................................................................................................. 40
III CLASSES DE COMPORTAMENTO CONSTITUINTES DA CLASSE GERAL CARACTERIZAR NECESSIDADES SOCIAIS EM RELAÇÃO A ALTERAÇÕES EM PROCESSOS COMPORTAMENTAIS.................................. 43
3.1. Os comportamentos da classe geral Caracterizar necessidades sociais em relação à alterações em processos comportamentais estão predominantemente localizados na classe manejo de instrumentos ou recursos envolvidos com o que precisa ser feito e com ênfase na formação clínica................................................. 81
IV CLASSES DE COMPORTAMENTO CONSTITUINTES DA CLASSE GERAL PROJETAR INTERVENÇÕES DIRETAS RELACIONADAS A PROCESSOS COMPORTAMENTAIS .................................................................. 89
4.2 Os comportamentos constituintes da classe de comportamento Projetar intervenções diretas relacionadas a processos comportamentais enfatizam o manejo de instrumentos e recursos envolvidos com o que precisa ser feito, o que possibilita a formação de profissionais que restringem a sua intervenção a técnicas e a aplicação de testes ................................................................................. 98
V CLASSES DE COMPORTAMENTO CONSTITUINTES DA CLASSE GERAL EXECUTAR INTERVENÇÕES DIRETAS RELACIONADAS A PROCESSOS COMPORTAMENTAIS.................................................................... 104
5.2 Os comportamentos constituintes da classe geral Executar intervenções diretas relacionadas a processos comportamentais enfatizam a execução clínica e pouco evidenciam o fenômeno psicológico............................................................... 145
R E S U M O
Estudos avaliativos feitos sobre a qualidade da intervenção de psicólogos que atuam no País, conduzidos principalmente pelo Conselho Federal de Psicologia, publicados nas décadas de 1980, 1990 e nos anos 2000 têm possibilitado identificar que, embora hajam trabalhos de intervenção inovadores em diversos campos, o trabalho do psicólogo ainda se restringe aos tradicionalmente conhecidos. Os estudos têm possibilitado evidenciar que o profissional de Psicologia no país é caracterizado pela dominância de um modelo de atuação restrito, denominado muitas vezes como limitado por não explorar suficiente e adequadamente todo o potencial de conhecimentos que a Psicologia avançou. Caracterizar os comportamentos profissionais relevantes do psicólogo auxilia na identificação das lacunas de comportamentos propostos pelos cursos de psicologia como necessários a serem aprendidos pelos alunos e futuros profissionais. Quais são os comportamentos profissionais necessários aos psicólogos para intervirem sobre as necessidades que essa sociedade apresenta? Para produzir respostas a essa questão foram examinados dois projetos de curso de psicologia de duas organizações de ensino do País. As classes de comportamentos foram identificadas nas fontes de informações por meio da análise das sentenças gramaticais, nas quais o sujeito expresso nas sentenças gramaticais foi considerado como o profissional formado; o verbo como referente ao que necessita ser realizado pelo sujeito (classes de respostas do organismo) e o complemento como expressão dos aspectos do meio com o qual o sujeito deverá realizar algo (classes de estímulos). Depois de identificadas ou derivadas essas classes foram organizadas em sistemas comportamentais por graus de abrangência de complexidade do comportamento de acordo com a sua função relativa no conjunto dos comportamentos identificados a partir das fontes. Esses sistemas comportamentais foram representados em diagramas de decomposição orientados por seis classes gerais:
formação do psicólogo nada ou muito pouco evidenciam este aspecto da formação profissional. Nenhum comportamento profissional foi encontrado nesse âmbito de abrangência.
Palavras-chave : formação do psicólogo; projetos de curso, intervenção direta.
Fome, violência, baixa escolaridade, mortalidade infantil, falta de confiança no futuro, corrupção são ocorrências do dia-a-dia das pessoas e que configuram uma parte do objeto de intervenção e do contexto do exercício profissional do psicólogo. Quais são os comportamentos profissionais necessários aos psicólogos para intervirem sobre essas ocorrências e seus determinantes e sobre as demais necessidades que essa sociedade apresenta? A formação do psicólogo lhe possibilita identificar claramente o seu campo de atuação profissional? A formação do psicólogo é suficiente para possibilitar intervir sobre as atividades solicitadas ao menos pelo mercado de trabalho? Caso o psicólogo não considere as necessidades sociais ou não consiga atuar sobre elas, quais as decorrências para a profissão? E quais as decorrências para a própria sociedade? A produção de conhecimento que possibilite identificar e caracterizar comportamentos profissionais dos psicólogos para intervir diretamente sobre fenômenos psicológicos torna-se relevante social e cientificamente de forma a contribuir para o desenvolvimento da profissão e do ensino para capacitação de novos profissionais em Psicologia. Por meio da produção desse conhecimento será possível identificar quais são os comportamentos profissionais necessários ao psicólogo para intervir diretamente na sua profissão. Quais as possibilidades de intervenção de um psicólogo? Botomé, Kubo, Mattana, Kienen e Shimbo (2003) sistematizaram as classes de comportamentos profissionais do psicólogo em relação as classes gerais de comportamentos. Para os autores, um profissional psicólogo necessita ser capaz de intervir indiretamente por meio da produção de conhecimento sobre processos comportamentais (pesquisa) e pela produção de aprendizagem relacionada a processos comportamentais (ensino) e intervir diretamente por meio da produção de alterações em processos comportamentais. Para que ocorra a efetivação da intervenção direta, um profissional necessita ser capaz de “Caracterizar necessidades sociais em relação a alterações em processos comportamentais”, “Projetar intervenções diretas relacionadas a processos comportamentais” “Executar intervenções diretas relacionadas a processos
comportamentais”, “Avaliar intervenções realizadas em relação a processos comportamentais”, “Aperfeiçoar intervenções realizadas em relação a processos comportamentais a partir dos dados de avaliação” e por fim “Comunicar descobertas feitas em intervenções sobre processos comportamentais” Nesse sentido, a formação do psicólogo precisa assegurar condições para que os profissionais sejam capacitados a intervirem de modo a produzir esses tipos de alterações comportamentais em relação aos fenômenos psicológicos que ocorram na sociedade. Estudos avaliativos feitos sobre a qualidade da intervenção de psicólogos que atuam no País, conduzidos principalmente pelo Conselho Federal de Psicologia, publicados nas décadas de 1980, 1990 e nos anos 2000 têm possibilitado identificar que, embora hajam intervenções consideradas inovadoras em diversos campos, grande parte do trabalho do psicólogo ainda se restringe aos tradicionalmente conhecidos. Bastos e Achcar (1994) identificam pesquisas de âmbito nacional realizadas pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP, 1988; Bastos, 1992), e outras de abrangência regional ou local, e que têm repetidamente documentado que o profissional de Psicologia no país é caracterizado pela dominância de um modelo de atuação restrito, denominado muitas vezes como limitado por não explorar suficiente e adequadamente todo o potencial de conhecimentos em que a Psicologia avançou. Outra pesquisa mais recente realizada pelo Conselho Federal de Psicologia (2004) também evidencia os mesmos aspectos. A atuação profissional é caracterizada como eminentemente técnica. Bock (1997) considera a atuação profissional como um exercício que contém um saber (métodos, técnicas e teorias) que auxilia o desenvolvimento do homem, auxilia a redução do sofrimento, auxilia no aumento do autoconhecimento necessário para o equilíbrio e a adaptação ao meio social. A autora não reconhece nas práticas tradicionais e usuais uma finalidade social e política dessa atuação. Além disso, ela acrescenta que as finalidades da atuação estão relacionadas apenas ao indivíduo e a um movimento que lhe é próprio, natural, que deve ser conservado ou reconduzido. No ensino de graduação ocorre grande parte da formação de profissionais que atuarão na sociedade. Decorrências prejudiciais surgirão nessa sociedade se a formação dos alunos de nível superior for restrita ao uso de técnicas, como demonstradas pelas implicações de intervenções feitas pelos estudos referidos. Outro aspecto importante que necessita ser discutido para possibilitar o desenvolvimento da Psicologia como área de conhecimento é a definição por parte dos psicólogos sobre qual é o seu fenômeno de estudo. Botomé (1987) identifica que
curso em nível superior, para aqueles que estão cursando um curso em nível superior, para aqueles que participam da formação de profissionais de nível superior, para aqueles que se relacionam com esses profissionais depois de formados e para aqueles que dependem dos serviços prestados por esses profissionais. O ensino de nível superior é um tipo de formação que é caracterizado por possibilitar a qualificação em diversas dimensões, entre as quais podem ser destacadas dimensões éticas, políticas, sociais, afetivas, técnicas, científicas e culturais (Botomé, 2000). Para Duran (1994) a formação deve ser considerada como um processo voltado ao desenvolvimento da capacidade de problematizar e buscar soluções, mas ela é produto de histórias anteriores de formação e expectativas sociais e envolve a articulação de muitas dimensões que são usualmente apresentadas como pólos opostos. A formação de profissionais de nível superior tem crescido desde o ano de 1997 e é responsável por uma grande parte dos profissionais que atuam na sociedade. Segundo dados do INEP/MEC, no ano de 2002 existiam 14.399 cursos de graduação presencial no País. Já no ano de 2008 a quantidade de cursos de graduação presencial era de 24.719, o que corresponde a um aumento de 58,25% da quantidade de cursos oferecidos em seis anos. Segundo o mesmo relatório do INEP/MEC, o crescimento da quantidade de vagas para cursos de graduação presencial acompanhou o aumento da quantidade de cursos no mesmo período: de 1.773.087 vagas em 2002, passou a 2.985.137 vagas em 2008, um crescimento de aproximadamente 59,40%. A qualidade dos profissionais formados é correspondente à qualidade dos serviços prestados por esses profissionais à sociedade. Assim, formar profissionais qualificados possibilita uma prestação de serviços de qualidade para atender as necessidades sociais. Para Kubo e Botomé (2001), a preparação de profissionais de nível superior é uma tarefa complexa que exige constantes estudos sobre a profissão, constantes avaliações dos vários aspectos que compõem diferentes tipos de trabalho e procedimentos dos profissionais e constantes correções de rumo no “fazer” profissional. Assim, caracterizar os comportamentos de um profissional ao intervir diretamente no seu campo de atuação profissional auxiliará a sociedade a ter profissionais mais qualificados. Para caracterizar os comportamentos profissionais relevantes em qualquer curso de nível superior é preciso ter clareza sobre qual é o objetivo do ensino de graduação. Um dos objetivos do ensino de graduação é formar profissionais aptos a compreenderem a realidade, intervirem e transformarem essa realidade por meio de ações cientificamente fundamentadas, tecnicamente adequadas e socialmente
significativas (Botomé, 1997). Mas é isso que ocorre? Esse conceito do objetivo da formação de nível superior é um consenso? Para Pardo, Mandieri e Nucci (1998) a formação de nível superior deveria preparar o indivíduo para “adquirir o domínio dos princípios fundamentais, das técnicas especificas e das “atitudes adequadas” para poder reagir corretamente nas situações iguais as anteriormente experimentadas, e resolver satisfatoriamente as tarefas novas que se apresentam” (p. 21). Essa definição diverge da definição de Botomé (1994), pois está centrada nas tarefas e técnicas e não nas necessidades sociais. Em outra publicação, Botomé e Kubo (2002) identificam como responsabilidade dos cursos de graduação preparar pessoas com capacidade para transformar conhecimento científico em condutas profissionais e pessoas na sociedade, relativas aos problemas e necessidades dessa sociedade. Rebelatto e Botomé (1999) indicam como objetivos da universidade, capacitar pessoas para utilizar o conhecimento de diferentes áreas nos campos de atuação profissional e a de produzir o conhecimento necessário para essa capacitação. Assim, identificar os objetivos do ensino de graduação e os comportamentos relevantes para serem ensinados aos profissionais psicólogos são aspectos importantes para que a população possa ser atendida nas suas necessidades. Outro aspecto importante a ser considerado ao caracterizar os comportamentos profissionais é identificar algumas limitações da formação de nível superior. Rebelatto e Botomé (1999) identificam que o ensino superior parece estar mais voltado ao ensino de técnicas e modelos de atuação profissional existentes do que ao desenvolvimento de alternativas de atuação profissional que possibilitem o desenvolvimento de uma atuação que seja significativa para a sociedade. Os autores complementam essa idéia ao destacarem que as universidades parecem exercer muito mais a função de “formar profissionais” do que produzir um avanço no conhecimento existente. É importante identificar os comportamentos necessários na formação de profissionais de nível superior para produzir conhecimento e posteriormente desenvolver da sociedade. Zanelli (1994a) acrescenta que ainda que essa seja uma tarefa difícil, é inadiável que se identifique as lacunas e repensem as competências e conhecimentos da formação dos profissionais de nível superior. Diversos autores (Zanelli, 1994a; Zanelli, 2004; Duran, 1994; Rebelatto, Botomé, 1999; Botomé, Kubo, 2002; Moura, Puente-Palácios, 2006) identificam necessidades de aprimoramento na formação dos profissionais de nível superior, mas poucas ações de profissionais e gestores de cursos têm sido feitas para corrigir a tendência de uma formação eminentemente técnica e fragmentada. Duran (1994)
Essa afirmação parece indicar uma direção promissora para as pessoas responsáveis pela capacitação de novos profissionais, em especial, para psicólogos. Mas qual a proposta dos cursos para a formação de psicólogos? Kubo e Botomé (2001) questionam se os profissionais de Psicologia estão preparados para enfrentar as exigências que as relações entre as instâncias sociais, políticas e econômicas da sociedade configuram. Se os objetivos da formação do psicólogo não forem claramente compreendidos pelos gestores dos cursos e professores universitários e se eles não forem esclarecidos e aprendidos pelos alunos ocorrerá uma atuação profissional deficiente e problemática. Para Botomé (2006) existe a necessidade de haver alguma sistematização do conhecimento existente sobre a formação do psicólogo. Uma sistematização que reúna o conhecimento existente sob o aspecto de suas contribuições especificas para o desenvolvimento do ensino de graduação em relação ao projeto de curso para realizar esse ensino com as especificações das condições – contingências – necessárias para essa realização com forma e grau satisfatórios. Santos e colaboradores (2009) ao estudarem as diretrizes curriculares do curso de graduação em psicologia, afirmam que as diretrizes curriculares são de certa maneira uma contribuição para orientar o trabalho do ensino superior nesse campo de atuação profissional, mas ainda com visibilidade parcial a respeito do que exatamente é necessário ser mudado e o que precisa ser feito. Os conceitos e a terminologia usados nesse documento ainda misturam concepções antigas com uma proposição de direção “nova”. O conhecimento científico, a conceituação atualmente disponível e a tecnologia já existente ainda não parecem estar suficientemente presentes para orientar o desenvolvimento do ensino nessa direção. Ao indicar o “ensino de competências”, há muito a considerar para efetivamente ir além do “ensino de conteúdos”. A afirmação de Botomé (2006) sobre a necessidade de haver uma sistematização do conhecimento sobre a formação do psicólogo torna-se urgente quando são percebidas incoerências sobre os objetivos da formação profissional. Maluf (1994) identifica que o psicólogo necessita ser um cientista do comportamento com uma formação conceitual e metodológica que lhe permita compreender e intervir em seu objeto de intervenção. De maneira contrária, o objetivo da formação do psicólogo também aparece na literatura associado à idéia de ajudar ao próximo, de auxiliar, de compreender absolutamente, de aceitar totalmente e de ajudar ao outro. Em oposição as contribuições de Maluf (1994), Bock (1997) descreve que o psicólogo parece ter em suas mãos a possibilidade e a responsabilidade de fazer do outro um homem feliz,
colocá-lo em movimento, estimulá-lo, acompanhar seu destino, converter percepções em “consciência”, estruturar. A autora descreve que muito pode ser feito e muitas mudanças podem ser operadas com a ajuda do psicólogo, como “portador” desse tipo de conhecimento. Branco (1998) por meio de um estudo sobre a inserção dos psicólogos nas unidades básicas de saúde, realizado pelo Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, identificou que, além da dificuldade de definir o seu papel, recriar técnicas e encontrar referenciais adequados, o psicólogo não sabe ao menos definir o seu objeto de estudo. Gestores de cursos e professores, orientados pelos projetos de curso e pelas diretrizes curriculares, necessitam possibilitar aos alunos que esses desenvolvam comportamentos relacionados ao entendimento e intervenção em relação ao objeto de estudo da psicologia – o fenômeno psicológico. É relevante para os profissionais e também para os gestores de cursos de Psicologia identificarem o seu objeto de intervenção como forma de possibilitar uma reorganização do que necessita ser aprendido pelos futuros profissionais psicólogos, para capacitá-los para intervir sobre as necessidades sociais. Bock (1997) salienta que diversas análises realizadas por estudiosos da formação do psicólogo têm identificado que esse profissional aprende pouco sobre o que seja o objeto de intervenção, o que dificulta o desenvolvimento de atividades profissionais diferente daqueles aprendidos nos cursos de graduação. Na própria literatura da Psicologia, os autores não descrevem de maneira consensual o que seria esse objeto de estudo. Botomé (1981, 1988) considera como objeto de estudo da Psicologia o comportamento humano, definido como a relação entre ação (classes de respostas) do organismo e aspectos do meio em que realiza essa ação (situações antecedentes e conseqüentes). De maneira contraditória a Botomé (1981; 1988), Pardo e colaboradores (1998) descrevem que a profissão do psicólogo tem como objeto de intervenção o conjunto de fenômenos em relação aos quais os profissionais são solicitados a interferir. E o objeto de intervenção seria composto pelos fenômenos psicológicos, tais como, o desenvolvimento humano, o processo de aprendizagem. Será que existem diversos fenômenos psicológicos como identificam Pardo e colaboradores (1998)? Para Santos e colaboradores (2009) os eventos, fenômenos e objetos de estudo podem ser definidos de distintas maneiras, considerando desde aspectos topográficos até funcionais. Também podem ser definidos com ênfase em parte de suas características, nucleares ou periféricas, ou exclusivamente por apenas uma das partes dessas características. Identificar qual é o objeto de intervenção da Psicologia é um dos primeiros aspectos que necessitam ser considerados