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Andréa cláudia miguel realiza uma pesquisa financiada pela fapesp sobre a construção de uma imagem da cidade de são paulo através de sete filmes produzidos por cineastas paulistas na década de 1980. Ela analisa a visão antropológica desses filmes e como os personagens lidam com a cidade.
O que você vai aprender
Tipologia: Trabalhos
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e você mora ou conhece ra- zoavelmente a cidade de São Paulo, feche os olhos e pense nas primeiras imagens que lhe vêm à cabeça. Provavel- mente não ficará livre dos pedestres andando às pressas pelo Centro ou na avenida Paulista. Tampouco dos limi- tes impostos pelos rios Pinheiros e Tie- tê e das pontes cobertas de congestio- namento no cair da tarde. Certamente se lembrará também de algum arra- nha-céu famoso: o prédio do Banespa, o Terraço Itália ou o Copan. Algumas palavras sobre o cenário? Trabalho, co- rreria, progresso, modernidade, opor- tunidades e barulho. Estereótipos da capital paulista, as- sim como de qualquer outra grande cidade, permanecem na memória de seus moradores. São frutos da vivência do indivíduo na metrópole, mas, tam- bém, das imagens veiculadas pelo ci- nema, pela televisão, pelos jornais e até mesmo pela literatura. A observa- ção é de Andréa Cláudia Miguel Mar-
Anjos do Arrabalde: relação difícil entre indivíduo e cidade
REPRODUÇÃO
tornaram possíveis, como vários da lista de Andréa demonstram: Cidade oculta , Anjos da noite e A dama do Cine Xangai. “Ainda que não conscientemente, esses cineastas formaram um movi- mento estético”, afirma a doutoranda. “Além dos recursos técnicos, desenvol- veram temáticas comuns”, diz. Disaster movie , de Wilson Barros, trata da ques- tão da incomunicabilidade entre os se- res humanos, mesmo tema de Diversões Solitárias , do cineasta. A marginalidade social ou cultural, por meio de perso- nagens outsiders , está presente tanto em Cidade oculta quanto em Anjos do arra- balde. Esse filme, mesmo contrastando com os demais – além de produzido por um cineasta veterano e autodidata, preservava o realismo cinemanovista – , foi escolhido justamente por causa da temática. “O tema principal é o da rela- ção entre o indivíduo e a cidade”, afirma. Ao começar seus estudos, a pesqui- sadora acreditava que haveria algumas constantes nos filmes: a solidão, a vio- lência e a fragmentação. Para seu es- panto, pelo menos um desses elemen- tos, o da sensação de fragmentação, não
era vivido pelos personagens. “Ao criar estratégias para sobreviver nessa imen- sa cidade, os personagens faziam uma seleção entre as milhares de referências existentes nela para construir uma cida- de própria, um percurso pessoal”, ana- lisa a antropóloga. “O personagem Anjo, de Cidade oculta , por exemplo, trabalha em uma draga, retirando lixo acumulado do fundo do rio. Ele constrói um mundo próprio por meio de objetos encontra- dos (um anel, um brinquedo, uma foto) no lixo”, conta Andréa.“São objetos que simbolicamente constituem sua própria cidade, ou seja, não um amontoado de fragmentos e referências, mas uma to- talidade”, explica.
Recurso audiovisual - Para compreen- der melhor a influência das imagens cinematográficas sobre o cotidiano dos paulistanos, Andréa lançou mão do próprio recurso audiovisual analisado teoricamente em sua tese. Saiu às ruas da cidade entrevistando todo tipo de cidadão, do camelô ao dono do restau- rante ou o executivo da Bolsa de Valo- res, e produziu um vídeo de dez minu-
tos. “A pergunta básica era: o que é a cidade de São Paulo para você?”, conta a pesquisadora. Indo além das primeiras impressões, Andréa ouviu pacientemente os entrevista- dos e chegou à conclusão de que existia uma estrutura comum ao discurso construído por todos eles, muito semelhante à construção da cidade para muitos dos persona- gens dos filmes analisados. “Num primeiro momento, as pessoas se valem de estereótipos da cidade: ‘É uma cidade difícil, mas só aqui há oportunidades’,‘é a cidade do progresso’ ”, conta ela. Num segundo momento, Andréa aponta, o indiví- duo costuma se inserir nesse estere- ótipo, com depoimentos do tipo: “É difícil, acordo às 5 horas e chego às 11 da noite, mas tenho trabalho”, por exemplo. Conforme a conversa con- tinua, ela nota, descobre-se que as pes- soas também constroem a sua pró- pria cidade, a cidade que é possível para elas. Dentro dessa construção, a pes- quisadora encontrou outro fato interessante. “A noção de que na grande cidade só há lugar para o in- dividualismo é equivocada”, diz.“Isso porque as pessoas pertencem a grupos, nunca estão o tempo todo sozinhas, assim acabam construindo cidades sim- bólicas semelhantes e redes de solida- riedade para sobreviver”, observa. Com esses elementos, Andréa resu- me duas conclusões de sua tese. De um lado, o trânsito de mão dupla em que, por um lado a construção simbólica do cinema alimenta a vida e a imagem que as pessoas têm da cidade, por outro, essa memória também alimenta o tra- balho dos cineastas. A segunda conclu- são é que não há uma cidade, mas vá- rias cidades em São Paulo e nos filmes que a retratam. O que não significa, obrigatoriamente, uma fragmentação, mas a intersecção de várias totalidades. “Uma pessoa pode pertencer a um ou a diversos grupos ao mesmo tempo”, desde que escolha assim. “É como um bancário que esconde suas tatuagens durante o dia, quando defende seus in- teresses profissionais e, à noite, trans- forma-se no punk a bater cabeça em um baile”, exemplifica. São as comple-
Cidade oculta ( à esq. ) e Disaster Movie ( acima ): ao criar suas estratégias para sobreviver em São Paulo, os personagens dos filmes tentam construir uma cidade própria
REPRODUÇÃO
Pesquisa FAPESP nº 81, novembro de 2002