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Charles Bukowski. Sobre o amor. Tradução de Valério Romão ... quem diabos é o Tom Jones? ... oh, eu era um mulherengo! 179 poema de amor. 183 um cão.
Tipologia: Notas de aula
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Tradução de Valério Romão
Editado por Abel Debritto
o melhor poema de amor que consigo escrever
consigo ouvir o som de vidas humanas sendo rasgadas
Ela jaz ali como um saco de batatas. Consigo sentir a grande montanha vazia da sua cabeça mas está viva. Ela boceja, coça o nariz e puxa para si os cobertores. Em breve dar-lhe-ei um beijo de boa noite e dormiremos. E longe é a Escócia e debaixo do chão as marmotas correm. Ouço os motores na noite e através do céu uma mão alva acena: boa noite, querida, boa noite.
e, disse, podes pegar nos teus tios e tias ricaços e avós e pais e em todo o seu petróleo de merda e nos seus sete lagos e nos seus perus selvagens e búfalos e em todo o Estado do Texas, quero dizer, nos seus fuzilamentos de corvos e nos teus passeios de sábado à noite e na tua biblioteca minúscula e nos teus vereadores corruptos e nos teus artistas maricas — podes pegar em todos eles e no vosso semanário e nos vossos famosos tornados e nas vossas cheias imundas e nos vossos gatos ululantes e na tua subscrição da revista Life e metê-los no cu, querida, metê-los no cu.
consigo ainda manejar uma picareta e um machado (acho) e consigo sacar vinte e cinco dólares por quatro assaltos no ringue (talvez); claro, tenho 38 anos mas um pouco de tinta disfarça as madeixas brancas no cabelo e consigo ainda escrever um poema (às vezes), não te esqueças disso, e ainda que possam não render nada,
é melhor do que esperar por morte e por petróleo, melhor do que caçar perus selvagens, à espera de que o mundo comece.
ok, vadio, disse ela, baza.
o quê? disse eu.
baza. fizeste a tua última birra estou farta das tuas birras de merda: estás sempre em personagem como numa peça de O’Neill.
mas, amor, eu sou diferente, não o consigo evitar.
és diferente, pois! céus, quão diferente! não batas a porta à saída.
mas, amor, eu amo o teu dinheiro!
nunca me disseste que me amavas!
o que queres um mentiroso ou um amante?
as flores despontando estremecem água súbita pela minha manga abaixo água súbita fresca e limpa como a neve — enquanto as espadas afiadas como caules se enterram no teu peito e as doces rochas selvagens avançam num salto e nos aprisionam.
toda a cerveja estava envenenada e o capitão morreu assim como o oficial e o cozinheiro não tínhamos ninguém para manejar as velas e o vento de noroeste rompeu os panos como se estes fossem unhas carambolámos à bruta o touro rasgando as laterais do casco e durante todo esse tempo num canto um merdas qualquer estava com uma vadia bêbeda (a minha mulher) ali a pinar como se nada se passasse e o gato não parava de olhar para mim rastejando na despensa por entre pratos batendo pratos com flores e videiras pintadas até que não consegui aguentar mais e peguei no bicho e atirei-o borda fora.
sapatos no guarda-roupa como lírios de Páscoa, os meus sapatos sozinhos neste momento, e outros sapatos com outros sapatos como cães passeando por avenidas, e só o fumo não basta e recebi uma carta de uma mulher no hospital, amor, diz ela, amor, mais poemas, mas eu não escrevo, não me compreendo a mim mesmo, ela manda-me fotografias do hospital tiradas do ar, mas eu lembro-me dela noutras noites, quando não estava a morrer, sapatos com saltos como adagas ladeando os meus, como essas noites intensas podem mentir tanto, como essas noites se transformaram finalmente nos meus sapatos no guarda-roupa encimados por sobretudos e camisas sem jeito, e olho para o buraco deixado pela porta e para as paredes, e não escrevo.
estão sempre a escrever sobre os touros, os toureiros, aqueles que nunca viram um ou outro, enquanto rasgo as teias das aranhas tentando chegar ao meu vinho o zunzum dos bombeiros, maldito barulho rompendo a calmaria, e tenho de escrever uma carta ao meu padre acerca de uma puta na 3rd Street que não pára de me ligar às três da manhã; escadas velhas acima, cu cheio de farpas, a pensar em poetas de edições de bolso e no padre, e atiro-me furiosamente à máquina de escrever, e olhem olhem os touros continuam a morrer e acabam com eles e criam-nos como trigo nas searas, e o sol é negro como tinta, como tinta negra isto é, e a minha mulher diz Brock, por amor de Deus, a máquina de escrever a noite toda, como posso dormir? e rastejo até à cama e beijo-lhe o cabelo desculpa desculpa desculpa às vezes fico excitado não sei porquê um amigo disse-me que ia escrever sobre Manolete… quem? ninguém, miúda, um tipo morto como Chopin ou o nosso velho carteiro ou um cão, dorme, dorme, dou-lhe um beijo e faço-lhe uma festinha na cabeça, uma boa mulher, passado pouco tempo ela dorme e eu espero pela manhã.