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Guias e Dicas
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História e Evolução da Imprensa em Caxias do Sul, Provas de Tradução

Este capítulo visa resgatar o processo da imigração italiana na encosta superior do nordeste do rio grande do sul, principalmente na cidade de caxias do sul, e a história da imprensa local desde o seu início em 1897. Ao longo do texto, é possível ver a relação entre a imigração e a criação dos jornais, além de análises sobre a nomenclatura adotada e as seções humorísticas dos periódicos.

O que você vai aprender

  • What was the impact of the local press on the social, moral, and psychological rules of the society in Caxias do Sul?
  • What was the purpose of the humor sections in the local newspapers of Caxias do Sul?
  • How did the Italian immigration influence the beginning of the local press in Caxias do Sul?
  • How did the nomenclature of the newspapers reflect the spirit of the time and the individuals who contributed to them?
  • What was the role of the local press in the society of Caxias do Sul in the early 20th century?

Tipologia: Provas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Wanderlei
Wanderlei 🇧🇷

4.5

(185)

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS, CULTURA E
REGIONALIDADE
LILIANA CAINELLI CAMBRUZZI FERRETTI
“CASTIGAT RIDENDO MORES”: O HUMOR COSTUMBRISTA
NAS PÁGINAS DO PERIÓDICO A ENCRENCA (1914-1915),
DE CAXIAS DO SUL
CAXIAS DO SUL
2019
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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS, CULTURA E

REGIONALIDADE

LILIANA CAINELLI CAMBRUZZI FERRETTI

“CASTIGAT RIDENDO MORES”: O HUMOR COSTUMBRISTA

NAS PÁGINAS DO PERIÓDICO A ENCRENCA (1914-1915),

DE CAXIAS DO SUL

CAXIAS DO SUL

LILIANA CAINELLI CAMBRUZZI FERRETTI

“CASTIGAT RIDENDO MORES”: O HUMOR COSTUMBRISTA

NAS PÁGINAS DO PERIÓDICO A ENCRENCA (1914-1915),

DE CAXIAS DO SUL

Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade na Universidade de Caxias do Sul. Orientadora: Profª. Drª. Alessandra Paula Rech.

CAXIAS DO SUL

“Castigat Ridendo Mores”: o humor costumbrista nas páginas do periódico

A Encrenca (1914-1915), de Caxias do Sul

Liliana Cainelli Cambruzzi Ferretti

Dissertação de Mestrado submetida à Banca Examinadora designada pelo Colegiado do Programa de Pós-Graduação em Letras, Cultura e Regionalidade da Universidade de Caxias do Sul, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade, Área de Concentração: Estudos de Identidade, Cultura e Regionalidade. Linha de Pesquisa: Processos Culturais e Regionalidade. Caxias do Sul, 21 de março de 2019.

Banca Examinadora:

Dra. Alessandra Paula Rech Orientadora Universidade de Caxias do Sul

Dr. Douglas Ceccagno Universidade de Caxias do Sul

Dr. Márcio Miranda Alves Universidade de Caxias do Sul

Dra. Maria Helena Camara Bastos Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Aos que, por meio da comunicação, são incansáveis na busca por um mundo melhor.

Não tenhas medo das palavras grandes, pois se referem a pequenas coisas. Para o que é grande os nomes são pequenos: Assim a vida e a morte, a paz e a guerra, a noite, o dia, a fé, o amor e o lar. Aprende a usar, com grandeza, as palavras pequenas. Verás como é difícil fazê-lo, mas conseguirás dizer o que queres dizer. Entretanto, quando não souberes o que queres dizer, usa palavras grandes. Que geralmente servem para enganar os pequenos.

Arthur Kudner

RESUMO

A presente dissertação investiga, por meio da metodologia de análise de conteúdo, de que forma o humor costumbrista está presente no A Encrenca , em especial na coluna Janellisces , e em que categorias de humor o jornal opera, com vistas a contribuir para os estudos sobre o humor e imprensa regional da Serra Gaúcha. Com aporte teórico multidisciplinar, contemplando as áreas da Comunicação Social, História, Sociologia, Letras e Literatura, buscou-se contextualizar a Região de Colonização Italiana no Rio Grande do Sul dos primórdios da imigração a 1914, ano de lançamento do jornal, incluindo o surgimento e desenvolvimento da imprensa local. Também fez-se relevante o levantamento das teorias do humor, em especial, as categorias elencadas por Vladimir Propp, além de dados sobre o início da imprensa humorística no Brasil, e posteriormente no Rio Grande do Sul e na Serra Gaúcha. Com base na revisão bibliográfica, foi possível realizar a análise das representações presentes no corpus. Ao final deste trabalho, evidencia-se como a pena pilhérica do jornal fazia uso dos recursos humorísticos em sua produção textual com foco no costumbrismo, buscando por meio do riso colocar em discussão hábitos da sociedade.

Palavras-Chave: Imprensa. Humor. Costumbrismo. A Encrenca. Caxias do Sul.

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE TABELA

Tabela 1 - Jornais lançados em Caxias entre 1897- 1914 32

Tabela 2 - Edições da coluna “Janellisces” 95

INTRODUÇÃO

Imagine-se na Caxias do Sul de 1914, em pleno mês de outubro, com as flores e aromas da primavera trazendo consigo um clima ameno, após um inverno rigoroso; ouvindo o distante barulho do trem, que há quatro anos acelera o desenvolvimento da cidade, passeando pelas ruas centrais, por onde circulam pedestres, cavalos, carroças e até alguns carros, ladeados por postes de luz elétrica, uma novidade que ilumina a Pérola das Colônias^1 desde o ano anterior. Imagine-se admirando as modernas construções que abrigam os Clubes Sociais, o Teatro e o Banco da Província, dividindo espaço com casarões antigos dos primórdios da imigração italiana na cidade, iniciada há 39 anos. Entre a diversidade de aromas, imagens e ruídos, sua visão é atraída para duas senhoras, uma debruçada à janela de sua casa, e a outra, provável vizinha, defronte, que tchacolan^2 animadas, ambas portando um jornal de nome curioso: A Encrenca. O parágrafo estimula um exercício de imaginação que culmina em frente à janela de Dona Procópia, pseudônimo/personagem que assina a seção Janellisces no jornal A Encrenca, em diálogos com uma vizinha, sobre as encrencas da sociedade caxiense de 1914/1915. A forma distinta de iniciar a introdução desta dissertação, de maneira mais descontraída do que o normal, sem no entanto comprometer a seriedade da pesquisa, justifica-se pela escolha do tema que será abordado nas próximas páginas, que é a incidência do humor no periódico, que se apresentava como “Crítico, humorístico e noticioso”. Todavia, nesta etapa introdutória da pesquisa ainda não se obtém a contextualização necessária para uma efetiva compreensão e consequente visualização da cena proposta, ao menos na perspectiva que será abordada neste estudo. A Pérola das Colônias, como a própria denominação dá a entender, destacava-se na região de colonização italiana. Seus habitantes vivenciavam o progresso acelerado, e a sociedade local, que se fazia cada vez mais atuante em diversas áreas, foi propícia para o desenvolvimento da imprensa no período. Desde o século XIX a Serra gaúcha contou com pessoas dedicadas a propagar a informação através de impressos, e esses registros históricos hoje podem ser conferidos digitalmente no acervo digital do Centro de Memória, da Câmara Municipal de Caxias do Sul, e nos arquivos do Arquivo Histórico Municipal João Spadari

(^1) Título proclamado por Júlio de Castilhos, então presidente do Rio Grande do Sul, em 12 de março de 1897, quando usou o termo pela primeira vez em um discurso que realizou em Caxias ao falar entusiasmado sobre o desenvolvimento que via pelo esforço dos colonos na cidade. 2 Em tradução livre do dialeto local significa conversam.

Adami (AHMJSA), que contemplam um acervo com edições de 74 jornais locais, além de diversos outros registros, que juntos documentam a história pela perspectiva da sociedade local. Ao folhear qualquer periódico antigo, ainda mais quando se é um jornalista, sente-se um desejo de saber como eram realmente essas pessoas que escreviam e que eram mencionadas nas páginas hoje amareladas e desgastadas pelo tempo. Por mais que a tecnologia avance de maneira vertiginosa, podemos viajar no espaço, conhecer qualquer lugar no mundo, mas não no tempo. Independentemente de recursos financeiros à disposição, não há como voltar no tempo de forma física, no entanto, através da leitura, da literatura e da história preservada podemos chegar o mais próximo possível de períodos e lugares distintos. E os jornais são um recurso precioso que oportunizam essa viagem no tempo, possibilitando não só conhecer o contexto representado, mas também a visão de determinados grupos. Esta pesquisa tem início motivada pela singularidade de um desses jornais, A Encrenca , com suas 31 edições que circularam de 11 de outubro de 1914 a 30 de maio de 1915, das quais apenas 27 estão preservadas, e que desde o primeiro olhar já instiga a curiosidade acerca de seu nome, e aumenta o interesse ao identificar seu slogan “Crítico, Humorístico e Noticioso”. E justamente a palavra humorístico indica a postura do jornal e o distingue. Esse viés humorístico, expresso somente através da linguagem textual, destaca-o entre os demais da época na região e instiga o desenvolvimento desta pesquisa, que tem por objetivo geral identificar, através da metodologia de análise de conteúdo, de que forma o humor costumbrista^3 aparece nesse veículo e em que categorias de humor A Encrenca opera. O humor perpassa nosso cotidiano de forma tão espontânea, presente de tão distintas maneiras e dosagens na linguagem humana, que chega a passar despercebido. Nos acostumamos a sua presença e o consideramos tão natural que muitas vezes não o vemos como objeto de estudo científico, talvez por influência de Platão, como será visto mais adiante. Para permitir o embasamento necessário e, desta forma, alcançar o objetivo geral proposto, elencam-se como objetivos específicos a) o resgate histórico da imprensa humorística existente na época; b) a análise das representações do contexto histórico, social e cultural de Caxias do Sul nos textos do periódico, em especial nos da coluna Jannelisces.

(^3) O Dicionário Houaiss (2009, p.562) define Costumbrismo como: “s.m. (1974) Lit em certas obras literárias, esp. espanholas e hispano-americanas, o enfoque dos costumes típicos de uma região ou país ° ETIM esp. costumbre +- ismo (cp. port. costume <lat. co(n)suetumine ). A expressão será analisada detidamente mais adiante na pesquisa.

da seção, com a amostragem de quatro textos, escolhidos em virtude da aproximação gradual do corpus , decorrente da leitura das publicações preservadas. Em todas as transcrições feitas nesta pesquisa, optou-se por manter a ortografia e destaques gráficos originais, desta forma, preservando a integridade dos escritos, mesmo nas situações em que é visível, como um acento trocado, que a alteração não foi em virtude da gramática da época, ou do desconhecimento da grafia correta, mas apenas uma falha na montagem para a impressão. Partindo da singularidade do A Encrenca em seu meio, agregado à inexistência de pesquisas aprofundadas sobre o veículo e específicas sobre o humor escrito na imprensa regional, afirma-se a necessidade e a relevância do trabalho proposto. Assim, pretendemos trazer à luz mais informações sobre o periódico que faz parte da história local e poderá servir de incentivo à realização de novas pesquisas acerca do corpus e da temática.

1 CAXIAS DO SUL NA VIRADA DO SÉCULO XIX

Para poder analisar a incidência do humor no jornal A Encrenca , faz-se necessário conhecer um pouco sobre a sociedade em que esse periódico nasceu e circulou. Para tanto, este capítulo visa a resgatar brevemente o processo da imigração italiana na Encosta Superior do Nordeste do Rio Grande do Sul, principalmente na cidade de Caxias do Sul, tema já muito estudado pela comunidade acadêmica. Esta primeira etapa da pesquisa contextualiza brevemente o período pré-imigração italiana, em 1875, até 1914/1915, data em que veiculou o periódico objeto deste estudo, quando a região passava por um processo acelerado de mudanças, e a população local adaptava-se à chegada do trem em 1910, à luz elétrica no ano anterior e as notícias longínquas da Primeira Guerra Mundial, que, embora distante territorialmente, era muito próxima aos que tinham emigrado e deixado familiares e amigos na Europa. O intuito inicial é o de compilar informações tanto sobre a urbanização e a industrialização caxienses da época, quanto o surgimento da imprensa escrita na cidade, em cujo contexto estava inserida a Encrencasinha , forma carinhosa com que os editores chamavam o jornal desde a sua primeira edição. O jornalzinho , usando novamente termo recorrente dos editores, desperta curiosidade ao apresentar como objetivo “Cavar a vida pelhereando”, noticiar o cotidiano da sociedade local fazendo graça. Mas, antes de nos aprofundarmos nas páginas amareladas do semanário, regressamos a Caxias da década de 1910, berço do periódico aqui estudado.

1.1 URBANIZAÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO

O passado, as escolhas e a história vivida são os responsáveis por criar o que somos, e com uma cidade, uma região, não é diferente. Por isso, para compreender a Caxias do Sul de 1914, devemos ter ciência de sua formação, neste estudo focando apenas a partir de 1875, mais precisamente em maio deste ano, com a leva migratória vinda da Itália, principalmente do norte deste país, escoando pelo porto de Gênova. É curioso mencionar que a população emigrada não se via originalmente como nação. A unificação da Itália era recente, e os imigrantes, por virem de províncias distintas, falavam distintos dialetos, e não se consideravam italianos. De Boni e Costa (2011, p.XIV) informam que poucos imigrantes conheciam a língua oficial da Itália, porque nunca precisaram se

A grande maioria dos expatriados italianos apostava tudo que tinha, incluindo a própria vida, na incerteza da cucanha^4 , para fugir da miséria que assolava a Itália. No entanto, esses imigrantes não eram miseráveis, como afirmam Giron e Bergamaschi (2001, p.47): “Ainda que pobres, os imigrantes não eram miseráveis. Os miseráveis permaneceram na Itália, pois não tinham dinheiro para as passagens.” O processo imigratório despertou, inclusive, o interesse da iniciativa privada, que passou a fazer a aliciação e a intermediação da vinda dos futuros colonos, atraindo a população das províncias italianas. O discurso enfatizava as possibilidades da nova terra e apresentava o Brasil como o país da cucagna , onde os colonos poderiam ser patrões e construir fortuna e ter mesa farta. E a Itália, que inicialmente visava apenas a diminuir o contingente populacional, começou a perceber que poderia tirar vantagem nesse processo. Para tanto, a partir de 1888, tornou-se de grande importância o trabalho de cônsules e diplomatas nas regiões colonizadas no Brasil. Eles eram os responsáveis tanto por registrar informações e impressões sobre as áreas em que exerciam suas atividades, quanto por enviar seus relatórios a Roma. O governo italiano objetivava orientações para melhor tirar proveito da política comercial em prol da Itália. Já estabelecidos, mesmo sobrevivendo com dificuldades e estando distantes 66 quilômetros da cidade mais próxima, São Sebastião do Caí, e mais de 150 quilômetros da capital Porto Alegre, destes cerca 60 quilômetros pelos rio Guaíba e Caí, trajeto que chegava a levar uma semana, os colonizadores acabaram obrigados a permanecer na região e, como afirmam Giron e Pozenato (2004, p.17), “Pode-se dizer que esse isolamento possibilitou o surgimento de uma sociedade sui generis , que guardou por mais tempo que as outras suas especialidades regionais, o que acabou por definir os rumos de sua organização e cultura”. A precariedade das estradas e as condições em que viviam os emigrados são explicitadas em relatos do cônsul italiano no Rio Grande do Sul, Enrico Perrod, que atuou no estado de 29 de julho de 1882 a 15 de setembro de 1883: “Tomava-me de coragem ao pensar no heroísmo de nossos primeiros colonos [...] a colonização foi dificílima. As histórias sobre os primórdios da colônia causam tremores” (DE BONI, 1985 p.26-27). O cônsul, assim como outros representantes do governo italiano enviados às colônias, assumem um tom laudatório ao falar dos imigrantes: “Requer-se mesmo toda a força de nosso

(^4) De acordo com o descendente de italianos oriundos de Belluno, Aldo Cambruzzi, cucagna era a cesta que ficava no alto de um pau de sebo escorregadio, e nas festas coloniais quem conseguisse subir e alcançá-la, ganhava a cesta farta. Para os futuros imigrantes, o Brasil seria a terra da cucagna , ou seja, a o lugar da fartura.

caráter, capaz de suportar todos os sofrimentos e privações que, posso garantir, já desponta vigorosa e anunciando um esplêndido porvir [...]” (DE BONI, 1985, p.107). Ele também faz referência à determinação dos italianos, frente às tentativas fracassadas dos imigrantes franceses e alemães de povoar a região.

Desde 1868, alguns colonos alemães arriscaram-se a ir desmatar aquelas selvas, mas todos acabaram retrocedendo [...], o governo providencial deliberou, em 1871, povoar por sua conta essa zona da província esquecida no meio da floresta e habitada por animais ferozes, mas foi somente no ano de 1874 que pode levar a cabo empresa tão corajosa [...], vieram 48 franceses, assistidos por todos os auxílios [...], mas também estes se retiraram, logo que acabaram as antecipações e sem que houvessem abatido uma árvore sequer” (DE BONI, 1985 p.26-27).

O discurso laudatório também é visto no excerto a seguir, retirado da edição fac-símile do Cinquentenario Della Colonizzazione Italiana Nel Rio Grande Del Sud, de 1925:

Fuori della patria, la nostra qualitá principale, essenciale, apariscente é quella di essere italiani, e come tale siamo fatti segno alla lode ed al biasimo; perché l’azione che noi spiegjiamo, l’energia economica, intellettuale e morale che noi sviluppiamo in seno alla societá brasiliana, non é azione o energia politica, che non ha valori fuori d’tália, ma azione ed energia sociale, come valore demográfico, como valore famigliare, como valore economico, che si transformano gradativamente in aumento della popolazione agricola ed industriale, in fattori morale atti a far decrescere la criminalitá; valori che a loro volta determinano il progresso del paese che ci ospita ed il benessere di noi stessi. [...] (CICHERO, 1925 fac-símile 2000, 444).^5 Esses emigrados começam a se organizar e, logo, costumes medievais, como reunir-se em espaços públicos para negociar ou trocar produtos, renasceram na Colônia, e nos lotes começaram a ser cultivadas árvores frutíferas, como pereiras, laranjeiras, bergamoteiras, caquizeiros e marmeleiros. Os frutos eram consumidos in natura ou geravam geleias e chimias^6 , e a produção era para consumo familiar, mas o excedente podia ser negociado, ou trocado, no mercado local. “Os colonos, acostumados às feiras europeias, retomaram os costumes de vender seus produtos na praça. Na feira da praça Dante Alighieri, situada no centro geográfico da sede da Colônia” (GIRON; BERGAMASCHI, 2001, p. 61). A vitivinicultura também cresceu: “o vinho produzido artesanalmente, na cantina caseira, passou a ser fabricado por estabelecimentos vinícolas, que foram montando

(^5) Tradução livre: Fora de nosso país, nossa qualidade principal, essencial e imparcial é ser italiano e, como tal, somos marcados pelo elogio e pela culpa; porque a ação que explicamos, a energia econômica, intelectual e moral que desenvolvemos na sociedade brasileira não é ação política ou energética, que não tem valores fora da Itália, mas ação e energia social como valor demográfico, como valor familiar, como valor econômico, que gradativamente se transforma em aumento da população agrícola e industrial, em fatores morais capazes de diminuir o crime; valores que, por sua vez, determinam o progresso do país anfitrião e o bem 6 - estar de nós mesmos.[...] Doce parecido com a geleia, mas mais pastoso e normalmente com pedaços da fruta.