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Guias e Dicas
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castelo interior ou moradas, Transcrições de Teologia

a monja carmelita teresa d avila escreve um tratado que ensina o caminho da oração.

Tipologia: Transcrições

2020

Compartilhado em 30/05/2020

marcos-batista-49
marcos-batista-49 🇧🇷

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Santa Teresa de Jesus CASTELO INTERIOR
Santa Teresa de Jesus
LIVRO DAS MORADAS ou
CASTELO INTERIOR
CASTELO
INTERIOR
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Santa Teresa de Jesus CASTELO INTERIOR

Santa Teresa de Jesus

LIVRO DAS MORADAS ou

CASTELO INTERIOR

n CASTELO INTERIOR

file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Provvisori/mbs%20Library/001%20-Da%20Fare/00-index.htm2006-06-01 15:00:

Santa Teresa de Jesus CASTELO INTERIOR:Index.

Santa Teresa de Jesus

LIVRO DAS MORADAS ou

CASTELO INTERIOR

Índice Geral

n JHS

n PRIMEIRAS MORADAS

n SEGUNDAS MORADAS

n TERCEIRAS MORADAS

n QUARTAS MORADAS

n QUINTAS MORADAS

n SEXTAS MORADAS

n SÉTIMAS MORADAS

n EPÍLOGO

file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Provvisori/mbs%20Library/001%20-Da%20Fare/0-STeresaMoradas.htm2006-06-01 15:00:

STERESAMORADAS: PRIMEIRAS MORADAS, Index.

PRIMEIRAS MORADAS

Índice

CAPÍTULO l. Trata da formosura e dignidade das nossas almas. Põe uma comparação para se entender e diz o lucro que há em entendê-la e saber as mercês que recebemos de Deus, e como a porta deste castelo é a oração.

CAPÍTULO 2. Trata de quão feia coisa é a alma que está em pecado mortal, e como quis Deus dar a entender algo disto a uma pessoa. Trata também alguma coisa sobre o próprio conhecimento. Diz como se hão-de entender estas moradas.

file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Provvisori/mbs%20Library/001%20-Da%20Fare/1-STeresaMoradas1.htm2006-06-01 15:00:

STERESAMORADAS: SEGUNDAS MORADAS, Index.

SEGUNDAS MORADAS

Índice

CAPÍTULO ÚNICO. Trata do muito que importa a perseverança para chegar às últimas moradas, e a grande guerra que dá o demónio, e quanto convém não errar o caminho no princípio para acertar. Dá um meio que experimentou ser muito eficaz.

file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Provvisori/mbs%20Library/001%20-Da%20Fare/1-STeresaMoradas2.htm2006-06-01 15:00:

STERESAMORADAS: QUARTAS MORADAS, Index.

QUARTAS MORADAS

Índice

CAPÍTULO 1. Trata da diferença que há entre ternuras na oração e gostos, e diz o contento que lhe deu entender que é coisa diferente o pensamento e o entendimento. É de grande proveito para quem se recreia muito na oração.

CAPÍTULO 2. Prossegue no mesmo e declara por uma comparação o que são gostos e como se hão- de alcançar não os procurando.

CAPÍTULO 3. Trata do que é oração de recolhimento. Na maior parte das vezes, a dá o Senhor antes da oração acima dita. Diz seus efeitos e os que ficam da oração anterior em que tratou dos gostos que dá o Senhor.

file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Provvisori/mbs%20Library/001%20-Da%20Fare/1-STeresaMoradas4.htm2006-06-01 15:00:

STERESAMORADAS: QUINTAS MORADAS, Index.

QUINTAS MORADAS

Índice

CAPÍTULO 1. Começa a tratar como na oração se une a alma com Deus. Diz em que se conhecerá não ser engano.

CAPÍTULO 2. Prossegue no mesmo. Declara a oração de união por uma comparação delicada. Diz os efeitos com que fica a alma. É muito para ter em conta.

CAPÍTULO 3. Continua a mesma matéria. Fala de outra maneira de união que pode alcançar a alma com o favor de Deus e quanto importa para isto o amor do próximo. É muito proveitoso.

CAPÍTULO 4. Prossegue o mesmo, declarando mais esta maneira de oração. Diz o muito que importa andar de sobreaviso, pois o demónio anda bem avisado para fazer voltar atrás no caminho começado.

file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Provvisori/mbs%20Library/001%20-Da%20Fare/1-STeresaMoradas5.htm2006-06-01 15:00:

STERESAMORADAS: SEXTAS MORADAS, Index.

CAPÍTULO 6. Diz um efeito da oração que fica dita no capítulo passado, com o qual se entendera que é verdadeira e não engano. Trata de outra mercê que o Senhor faz à alma para a empregar em seus louvores.

CAPÍTULO 7. Trata de como é a pena que sentem de seus pecados as almas a quem Deus faz as ditas mercês. Diz quão grande erro é não se exercitar, por espiritual que se seja, em trazer presente a humanidade de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, e sua sacratíssima paixão e vida, e a Sua gloriosa Mãe e os santos. É muito proveitoso.

CAPÍTULO 8. Trata de como se comunica Deus a alma por visão intelectual e dá alguns avisos. Diz os efeitos que faz quando é verdadeira. Recomenda o segredo destas mercês.

CAPÍTULO 9. Trata de como o Senhor se comunica à alma por visão imaginária, e avisa muito que se guardem de desejar ir por este caminho. Dá para isso razões. É muito proveitoso.

CAPÍTULO 10. Diz outras mercês que Deus faz à alma por modo diferente das que ficam agora ditas, e do grande proveito que delas fica.

CAPÍTULO 11. Trata de uns desejos tão grandes e impetuosos, que Deus dá à alma de O gozar, que a põem em perigo de perder a vida, e do proveito que fica desta mercê que o Senhor faz.

file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20P...bs%20Library/001%20-Da%20Fare/1-STeresaMoradas6.htm (2 of 2)2006-06-01 15:00:

STERESAMORADAS: SÉTIMAS MORADAS, Index.

SÉTIMAS MORADAS

Índice

CAPÍTULO 1. Trata das grandes mercês que Deus faz às almas que chegaram a entrar nas sétimas moradas. Diz como, a seu parecer, há alguma diferença entre alma e espirito, ainda que tudo seja um. Há coisas dignas de ter em conta.

CAPÍTULO 2. Prossegue no mesmo. Diz a diferença que há entre união espiritual e matrimónio espiritual. Declara-o com delicadas comparações.

CAPÍTULO 3. Trata dos grandes efeitos que causa esta dita oração. É preciso prestar atenção, e lembrar-se dos efeitos que faz, porque é coisa admirável a diferença que há entre estes e. os anteriores.

CAPÍTULO 4. Com o qual acaba, dando a entender o que lhe parece que pretende Nosso Senhor em fazer tão grandes mercês à alma, e como é necessário que andem juntas Marta e Maria. É muito proveitoso.

file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Provvisori/mbs%20Library/001%20-Da%20Fare/1-STeresaMoradas7.htm2006-06-01 15:00:

Santa Teresa de JesusCASTELO INTERIOR: L.0, C.1.

Santa Teresa de Jesus

CASTELO INTERIOR

Este tratado, chamado Castelo interior, escreveu Teresa de Jesus, freira de nossa Senhora do Carmo, para suas irmãs è filhas, as freiras Carmelitas Descalças.

JHS

  1. Poucas coisas, das que me tem mandado a obediência, se tornaram tão dificultosas para mim como escrever agora coisas de oração; primeiro, porque me parece que o Senhor não me dá nem espírito nem desejo para o fazer; depois, por ter a cabeça, há três meses, com um zumbido e fraqueza tão grande, que, até sobre negócios urgentes, escrevo a custo. Mas, entendendo que a força da obediência costuma facilitar coisas que parecem impossíveis, a vontade determina-se a fazê-lo de muito bom grado, ainda que a natureza se aflija muito; porque o Senhor não me deu tanta virtude, para que o pelejar com a enfermidade contínua e com muitas e variadas ocupações se possa fazer sem grande contradição sua. Faça-o Ele, que tem feito outras coisas mais dificultosas para me fazer mercê, e em cuja misericórdia confio.
  2. Creio bem que pouco mais hei-de saber dizer do que já disse em outras coisas, que me mandaram escrever, antes temo que hão-de ser quase sempre as mesmas: porque, como os pássaros a quem ensinam a falar, não sabem mais do que lhes ensinam ou eles ouvem, e isto repetem muitas vezes, assim sou eu ao pé da letra. Se o Senhor quiser que eu diga algo de novo, Sua Majestade o fará ou será servido trazer-me à memória o que de outras vezes disse, e que até com isto me contentaria, por tê-la tão má que folgaria em atinar com algumas coisas, que dizem que estavam bem ditas, caso se tivessem perdido. Se nem mesmo isso me der o Senhor, com me cansar e acrescentar o mal de cabeça, por obediência, ficarei com lucro, embora do que disser, não se tire nenhum proveito?
  3. E assim começo a cumpri-la hoje, dia da Santíssima Trindade, ano de 1577, neste mosteiro de S. José do Carmo em Toledo, onde estou

file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20P...bs%20Library/001%20-Da%20Fare/STeresaMoradas0-1.htm (1 of 2)2006-06-01 15:00:

Santa Teresa de JesusCASTELO INTERIOR: L.0, C.1.

presentemente, sujeitando-me em tudo o que disser ao parecer de quem mo manda escrever, que são pessoas de grandes letras. Se alguma coisa disser que não vá conforme ao que ensina a Santa Igreja Católica Romana, será por ignorância e não por malícia. Isto se pode ter por certo e que sempre estou e estarei sujeita, por bondade de Deus, e o tenho estado, à Santa Igreja. Seja para sempre bendito e glorificado! Amen!

  1. Disse-me quem me mandou escrever, que estas freiras destes mosteiros de Nossa Senhora do Carmo têm necessidade de que alguém lhes declare algumas dúvidas de oração, e lhe parecia que melhor entendem as mulheres a linguagem umas das outras. Com o amor que me têm, lhes faria mais ao caso o que eu lhes dissesse e, por esta razão, entendia ter alguma importância se se acertasse a dizer alguma coisa e, por isso, irei falando com elas naquilo que escrever, porque parece desatino pensar que pode fazer ao caso a outras pessoas. Grande mercê me fará o Senhor, se a alguma delas aproveitar para O louvar um poucochinho mais. Bem sabe Sua Majestade que eu não pretendo outra coisa; e é bem claro que, quando atinar a dizer alguma coisa, elas entenderão que não é meu, pois não há razão para isso, nem tão-pouco tivera eu entendimento e habilidade para coisas semelhantes; se o Senhor, por Sua misericórdia não mos desse.

file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20P...bs%20Library/001%20-Da%20Fare/STeresaMoradas0-1.htm (2 of 2)2006-06-01 15:00:

Santa Teresa de JesusCASTELO INTERIOR: L.1, C.1.

se tem em tão pouco procurar com todo o cuidado conservar sua formosura. Tudo se nos vai na grosseria do engaste ou cerca deste castelo; que são estes corpos.

  1. Consideremos agora que este castelo tem, como disse, muitas moradas: umas no alto, outras em baixo, outras aos lados; e, no centro e meio de todas estas, tem a mais principal onde se passam as coisas mais secretas entre Deus e a alma.

É mister que fiqueis esclarecidas por esta comparação; talvez seja Deus servido que eu possa por ela dar-vos a entender alguma coisa das mercês que Ele faz às almas e as diferenças que há entre elas, até onde eu tiver entendido que é possível; que, todas, será impossível entendê-las alguém, pois são muitas, e quanto mais quem é tão ruim como eu! Pois ser-vos-á grande consolo, quando o Senhor vos fizer essas mercês, saber que é coisa possível e, a quem Ele as não fizer, para louvarem Sua grande bondade. Assim como não nos faz dano considerar as coisas que há no céu e o que nele gozam os bem-aventurados, antes nos alegramos e procuramos alcançar o que eles gozam, tão pouco nos fará dano ver que é possível, neste desterro, comunicar-se um tão grande Deus a uns vermes tão cheios de mau odor e amá-los com uma bondade tão boa e uma misericórdia tão sem medida. Tenho por certo que, a quem fizer dano entender que é possível fazer Deus esta mercê neste desterro, que estará muito falha de humildade e de amor do próximo; porque, se assim não é, como podemos deixar de nos alegrar de que Deus faça estas mercês a um irmão nosso e de que Sua Majestade dê a entender Suas grandezas seja a quem for, pois isso não impede que no-las faça a nós? Que algumas vezes será só para as mostrar, como disse do cego a quem deu vista quando Lhe perguntaram os Apóstolos se era cego por seus pecados ou de seus pais. E assim acontece fazer mercês, não por serem mais santos do que aqueles a quem as não faz, mas para que se conheça Sua grandeza, como vemos em S. Paulo e na Madalena e para que O louvemos em Suas criaturas.

  1. Poderá dizer-se que parecem coisas impossíveis e que é bom não escandalizar os fracos. Menos se perde em que estes não o creiam, do que em deixarem de aproveitar aqueles a quem Deus as faz e de se consolar e despertar a amar mais a Quem faz tantas misericórdias, sendo tão grande Seu poder e majestade; tanto mais que sei que falo com quem não corre este perigo, porque sabem e crêem que dá Deus ainda muito maiores provas de amor. Eu sei que

file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20P...bs%20Library/001%20-Da%20Fare/STeresaMoradas1-1.htm (2 of 4)2006-06-01 15:00:

Santa Teresa de JesusCASTELO INTERIOR: L.1, C.1.

os que nisto não crerem, não o verão por experiência; porque Deus é muito amigo de que Lhe não ponham taxa e medida a Suas obras, e assim, irmãs, nunca isto aconteça às que o Senhor não levar por este caminho.

  1. Pois, voltando a nosso formoso e deleitoso castelo, temos de ver como poderemos entrar nele.

Parece que digo algum disparate; porque, se este castelo é a alma, claro que não se trata de entrar, pois se é ele mesmo, pareceria desatino dizer a alguém que entrasse num aposento estando já dentro. Mas haveis de entender que vai muito de estar a estar; que há muitas almas que ficam à volta do castelo, onde estão os que o guardam, e que se lhes não dá nada de entrar, nem sabem o que há naquele tão precioso lugar, nem quem está dentro, nem mesmo que dependências tem. Já tereis visto, em alguns livros de oração, aconselhar a alma a que entre dentro de si; é isto mesmo.

  1. Dizia-me há pouco um grande letrado, que as almas, que não têm oração são como um corpo paralítico ou tolhido que, embora tenha pés e mãos, não os podem mexer; e são assim: há almas tão enfermas e tão habituadas às coisas exteriores, que não há remédio nem parece que possam entrar dentro de si mesmas; porque é tal o costume de tratarem sempre com as sevandijas e alimárias que estão à roda do castelo, que já quase se tornaram como elas e, sendo de natureza tão rica e podendo ter a sua conversação nada menos do que com Deus, não têm remédio. E se estas almas não procuram entender e remediar sua grande miséria, ficarão feitas em estátuas de sal por não voltarem a cabeça para si mesmas, assim como ficou a mulher de Lot por voltar a cabeça para trás.
  2. Porque, tanto quanto eu posso entender, a porta para entrar neste castelo é a oração e reflexão, não digo mais mental que vocal; logo que seja oração, há-de ser com consideração; porque naquela em que não se adverte com Quem se fala e o que se pede e quem é que pede e a Quem, não lhe chamo eu oração, embora muito meneie os lábios. E, se algumas vezes o for, mesmo sem este cuidado, será porque se teve em outras; mas, quem tivesse por costume falar com a Majestade de Deus como falaria a um seu escravo, que nem repara se diz mal, mas o que lhe vem à boca e decorou, porque já o fez outras vezes, não o tenho por oração e preza a Deus nenhum cristão a tenha desta sorte. Que entre vós, irmãs, espero em Sua Majestade não haverá tal oração, pelo costume que há de tratardes de coisas

file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20P...bs%20Library/001%20-Da%20Fare/STeresaMoradas1-1.htm (3 of 4)2006-06-01 15:00:

Santa Teresa de JesusCASTELO INTERIOR: L.1, C.2.

CAPÍTULO 2. Trata de quão feia coisa é a alma que está em pecado mortal, e como quis Deus dar a entender algo disto a uma pessoa. Trata também alguma coisa sobre o próprio conhecimento. Diz como se hão-de entender estas moradas.

  1. Antes de passar adiante, quero dizer-vos que considereis o que será ver este castelo tão resplandecente e formoso, esta pérola oriental, esta árvore de vida que está plantada nas mesmas águas vivas da Vida, que é Deus, quando cai em pecado mortal. Não há trevas mais tenebrosas, nem coisa tão escura e negra que ela o não esteja muito mais. Basta saber que, estando até o mesmo Sol, que lhe dava tanto resplendor e formosura no centro da sua alma, todavia é como se ali não estivesse, para participar d'Ele, apesar de ser tão capaz de gozar de Sua Majestade, como o cristal o é para nele resplandecer o sol. Nenhuma coisa lhe aproveita; e daqui vem que todas as boas obras que fizer, estando assim em pecado mortal, são de nenhum fruto para alcançar glória; porque, não procedendo daquele princípio que é Deus, do qual vem que a nossa virtude é virtude, e apartando-nos d'Ele, não pode a obra ser agradável a Seus olhos; porque, enfim, o intento de quem faz um pecado mortal, não é contentar a Deus, senão dar prazer ao demónio o qual, como é as mesmas trevas, assim a pobre alma fica feita uma mesma treva.
  2. Eu sei de uma pessoa a quem Nosso Senhor quis mostrar como ficava uma alma quando pecava mortalmente. Diz aquela pessoa que lhe parece que, se o entendessem, não seria possível que alguém pecasse, ainda que se pusesse nos maiores trabalhos que se possam pensar para fugir das ocasiões. E assim, deu-lhe um grande desejo de que todos o entendessem. Assim vo-lo dê a vós, filhas, de rogar a Deus pelos que estão neste estado, todos feitos uma escuridão, e tais são suas obras; porque, assim como duma fonte muito clara, claros são os arroiozitos que dela manam, assim é uma alma que está em graça, pois daqui lhe vem serem suas obras tão agradáveis aos olhos de Deus e dos homens, porque procedem desta fonte de vida, onde a alma está como uma árvore plantada; nem ela teria frescura e fruto, se não lhe viesse dali; é isto que a sustenta e faz com que não seque, e que dê bom fruto. Assim a alma que, por sua culpa se aparta desta fonte e se transplanta a outra de uma negríssima água e de muito mau odor, tudo o que dela sai é a mesma desventura e sujidade.

file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20P...bs%20Library/001%20-Da%20Fare/STeresaMoradas1-2.htm (1 of 8)2006-06-01 15:00:

Santa Teresa de JesusCASTELO INTERIOR: L.1, C.2.

  1. É de considerar aqui que a fonte e aquele Sol resplandecente que está no centro da alma, não perde seu resplendor e formosura, que está sempre dentro dela, e não há coisa que lhe possa tirar a sua formosura. Mas, se sobre um cristal que está ao sol, se pusesse um pano muito negro, claro está que, embora o sol dê nele, a sua claridade não fará o seu efeito no cristal.
  2. Ó almas remidas pelo Sangue de Jesus Cristo! Entendei-vos e tende dó de vós mesmas! Como é possível que, entendendo isto, não procureis tirar este pez deste cristal? Olhai que, se a vida se vos acaba, jamais tornareis a gozar desta luz. Ó Jesus! O que é ver uma alma apartada dela! Como ficam os pobres aposentos do castelo! Que perturbados andam os sentidos, que é a gente que vive neles! E as potências, que são os alcaides, mordomos e mestres-salas, com que cegueira, com que mau governo! Enfim, como onde está plantada a árvore é o demónio, que fruto pode dar?
  3. Ouvi uma vez a um homem espiritual, que não se espantava do que fazia quem está em pecado mortal, mas sim do que não fazia. Deus, por Sua misericórdia, nos livre de tão grande mal, que não há coisa, enquanto vivemos, que mereça este nome de mal, senão esta; pois acarreta males eternos para sempre. É disto, filhas, que devemos andar temerosas e o que temos de pedir a Deus em nossas orações; porque, se Ele não guarda a cidade, em vão trabalharemos, pois somos a própria vaidade.

Dizia aquela pessoa que tinha aproveitado duas coisas da mercê que Deus lhe fez: uma, um temor grandíssimo de O ofender, e assim sempre Lhe andava suplicando não a deixasse cair, vendo tão terríveis danos; a segunda, um espelho para a humildade, vendo que, coisa boa que façamos, não tem seu princípio em nós mesmos, mas naquela fonte onde está plantada esta árvore das nossas almas, e neste Sol que dá calor às nossas obras. Disse que se lhe representou isto tão claro que, em fazendo alguma coisa boa ou vendo-a fazer, acudia ao seu princípio e entendia como, sem esta ajuda, não podíamos nada; e daqui lhe procedia ir logo a louvar a Deus, e, habitualmente, não se lembrava de si em coisa boa que fizesse.

  1. Não seria tempo perdido, irmãs, o que gastásseis a ler isto, nem eu a escrevê-lo, se ficássemos com estas duas coisas, que os letrados e entendidos muito bem sabem; mas a nossa ignorância de mulheres de tudo precisa; e assim, porventura, quer o Senhor que

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