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Uma carta escrita por frei jordão, servo inútil da ordem dos pregadores, para irmã diana. Ele expressa seu desejo de que ela procure e acolha cristo jesus, desejando-lhe saúde e consolação no espírito santo. Frei jordão enfatiza a importância de regozijar-se com os servos de jesus cristo, especialmente nas suas alegrias e consolações. Ele também pede que irmã diana se torne digna dos abraços de jesus cristo.
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Tipologia: Notas de estudo
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Tradução: fr. Filipe Rodrigues, op Revisão: Maria Carvalho Torres Imagem da capa: Jan Davidsz de HEEM, 1628
um lugar mais adequado para a vida dominicana. A sua pregação era acolhida com grande entusiasmo. Entre as suas ouvintes mais fervorosas encontrava-se uma jovem que pertencia a uma das famílias mais nobres e ricas de Bolonha; chamava-se Diana. O avô, Pedro Lovello, era dono de um vasto terreno, muito próximo das Escolas e ao lado da igreja de São Nicolau. O Reitor da igreja, Rodolfo de Faenza, ingressou na Ordem. No meio de tudo isto está Diana de Andaló, apelido que lhe deu o pai André de Andaló, filho de Pedro Lovello. Mas Diana aspirava a mais. Conseguida a presença dos frades no seu novo convento, pensou na fundação de outro convento de monjas, em que ela própria pudesse viver a vida dominicana, como a tinha instituído o Mestre Domingos, em Prouilhe e em São Sixto de Roma. Nas mãos do Santo Fundador e na presença de fr. Reginaldo, de fr. Guala, de fr. Rodolfo e de outros frades, Diana fez a sua profissão dominicana ainda antes de ter tomado hábito e de viver em convento regular. Mas encontrou uma tremenda oposição da família. Entretanto, a vida na casa familiar tornava-se-lhe insuportável por causa dos seus desejos de pobreza evangélica e de vida consagrada. Um dia, por ocasião de um passeio a cavalo a um santuário perto de Bolonha, nas primeiras encostas dos Apeninos Emilianos, encerrou-se num convento das monjas agostinhas de Ronzano, enquanto as suas companheiras de viagem voltavam para a cidade e davam a notícia em casa. Os Andaló mobilizaram-se rapidamente. Chegaram armados a Ronzano, forçaram as portas e tiraram à força Diana do mosteiro. Com tanta força, que Diana partiu uma costela. Durante algum tempo, Diana viveu meio prisioneira entre os seus, mas a sua forte personalidade não se deixou vencer e, de vez em quando, escrevia cartas a São Domingos, às escondidas, que lhe respondia da mesma maneira. Rapidamente acabou a oposição, deixaram-na esperar em Ronzano, enquanto se construía o Mosteiro de Santa Inês e ali esteve até à oitava da Ascensão de 1223. Em todo este tempo muitas coisas ocorreram na vida de Jordão. Poucos dias depois de ter tomado hábito, fez a sua profissão como frade pregador. Alguns historiadores dizem que professou três dias depois de ter tomado hábito. Tal era a familiaridade que o unia ao convento de Saint-Jacques que, antes de lá entrar, já era considerado como um entre os frades daquele convento. Não nos esqueçamos que já era diácono, Mestre em Artes e Bacharel em Teologia. Por outro lado, Jordão, já frade pregador, com todos os direitos que a sua profissão religiosa lhe conferia, dotado de uma enorme personalidade, rapidamente adquiriu uma grande reputação e estima entre os seus irmãos de Saint-Jacques. De tal modo que, em pouco tempo, o elegeram como um dos seus representantes no Capítulo Geral da Ordem, que se iria celebrar em Bolonha, em Maio de 1220, dia de Pentecostes. Assim nos conta o próprio Jordão: «No ano do Senhor de 1220, celebrou-se em Bolonha o primeiro Capítulo Geral da Ordem, a que assisti
pessoalmente, enviado de Paris com mais três irmãos, pois Mestre Domingos tinha ordenado, na sua carta que, do Convento de Paris, fossem quatro irmãos ao Capítulo de Bolonha. Quando recebi a ordem de assistir, ainda não estava há dois meses na Ordem». Jordão, que produziu uma extraordinária impressão entre os frades capitulares, regressa a Paris encarregado pelo próprio Capítulo de ensinar a Sagrada Escritura aos frades do seu convento de Saint-Jacques. O tema do seu curso foi o Evangelho de São Lucas. Decerto que começou imediatamente as suas pregações aos estudantes, animado, seguramente, pelos abundantes frutos que, em Bolonha, São Domingos colhia entre a juventude estudantil que frequentava a universidade. A 30 de Maio de 1221, celebrou-se, também em Bolonha, o segundo Capítulo Geral. Jordão não assistiu a ele, mas sentia-se a sua presença no ambiente, de tal modo que Domingos pensou nele para dirigir a Província da Lombardia, a qual ele próprio governava. O Capítulo nomeou Jordão como primeiro Provincial da Lombardia. Quando chegou a Bolonha para tomar posse do cargo da Província, Domingos tinha falecido, nesta cidade, a 6 de Agosto. Certamente que São Domingos tinha falado a Jordão do seu projecto de fundar em Bolonha um mosteiro de monjas, e ter-lhe-ia contado das dificuldades familiares que Diana estava então a viver pela sua decisão de se colocar à frente daquela obra. Chegado a Bolonha, Jordão foi informado em pormenor sobre como estavam as coisas. Tinha de regressar rapidamente a Paris, onde iria celebrar-se o terceiro Capítulo Geral, que, além de tudo, era electivo. A 22 de Maio de 1222, os capitulares elegeram por unanimidade fr. Jordão de Saxónia como segundo Mestre Geral da Ordem e, portanto, como sucessor de São Domingos de Gusmão. Que a intuição dos capitulares era verdadeiramente genial, confirmam-no com toda a evidência os acontecimentos que se sucederam nos quinze anos em que Jordão esteve à frente da Ordem Dominicana. Jordão tinha à sua espera, em Bolonha, a fundação do mosteiro de Santa Inês e Diana era para ele uma preciosa herança que lhe deixava nas suas mãos o Santo Patriarca. Rapidamente se resolveram todas as dificuldades e, a 26 de Junho de 1223, estava tudo pronto para a tomada de hábito de Diana e de outras quatro nobres bolonhesas, presidida pelo Mestre Jordão. A partir desse momento, as relações entre Diana e Jordão tonam-se cada vez mais profundas e chegarão a constituir um dos exemplos mais maravilhosos de amizade espiritual entre duas almas que se compreendem no mais puro amor em Jesus Cristo. Esta amizade ficou perpetuada na correspondência epistolar entre Diana e Jordão, da qual se conservam 50 cartas que Jordão escreveu a Diana e às monjas de Santa Inês.
É absolutamente certo que o Beato Jordão escreveu muitas cartas como Mestre Geral da Ordem, que dirigiu a toda a Ordem e a pessoas ou conventos particulares. Destas, só três é que chegaram até nós. Uma dirigida a toda a Ordem por causa da trasladação dos restos de São Domingos para o novo sepulcro monumental. As outras duas cartas são dirigidas a frades: uma a fr. Estêvão de Espanha, Provincial da província da Lombardia, para defender as monjas de Santa Inês da ordenação do Capítulo Generalíssimo de 1228. A outra foi escrita aos frades do convento de Saint- Jacques de Paris. Além das três cartas mencionadas, temos ainda 54 cartas. Destas, quatro foram dirigidas ao mosteiro de Nossa Senhora de Oeren, perto de Treveris. Não se sabe quem são as destinatárias. As outras cinquenta cartas formam um único bloco e são dirigidas ou à Beata Diana ou a todas as monjas de Santa Inês de Bolonha. Conservam-se em vários códices, mas não na redacção original. Ainda que com algumas variantes, devido à transcrição, todas coincidem na sua totalidade. Dois dos códices conservavam-se nas monjas de Santa Inês de Bolonha. Um deles perdeu-se. O que se conserva é do século XV. Até 1796, data em que o mosteiro foi destruído pelos franceses, as monjas guardavam-no como uma preciosa relíquia. Com a dispersão da comunidade, duas monjas salvaram o códice e mais algumas memórias. Em 1823, entraram as duas no mosteiro de São Domingos e São Sixto de Roma – actualmente a universidade de São Tomás ou Angelicum. Desde 1931 que se conserva no mosteiro do Santo Rosário de Monte Mario, que foi para onde se transferiram as monjas ao estabelecer-se o Angelicum no convento de São Domingos e São Sixto. A carta LI não estava no códice de Bolonha; descobriu-a o P. Benedictus Reichert no códice da Universidade de Würzburg – Códice Herbipolensis – e publicou-a no ano de 1897. Parece que a é a primeira carta de Jordão a Diana e escreveu-a quando ela ainda estava no mosteiro de Ronzano. Nesta carta, Jordão trata Diana de por Senhora e não por Irmã, o que parece indicar que ainda não tinha vestido o hábito dominicano. Não deixa de ser um pequeno contratempo o facto de os historiadores e os editores das cartas do Beato Jordão não se terem posto de acordo sobre a ordem da respectiva colocação e enumeração. A presente numeração é a do P. Walz, que é a que usou também B. Altaner, primeiro editor do códice de Bolonha. É a ordem segundo a qual estão agrupadas no tal pergaminho. A cruz dos editores continua a ser a cronologia das cartas. Nenhuma tem data e só em muito poucas se indica alguma circunstância temporal para se poder fixar a
data exacta. Por isso os editores não coincidem nem na ordenação cronológica, nem na fixação do lugar onde foram escritas. Nesta versão das cartas são colocadas a data e o lugar mais ou menos aproximado, seguindo os estudos dos especialistas, particularmente de Altaner, Scheeben e Wals. Do Beato Jordão conservam-se, além das cartas e da Oração a nosso Pai São Domingos, a primeira História da Ordem dos pregadores – Libellus de Principiis Ordinis Praedicatorum – com a primeira biografia de São Domingos; Jordão é, por isso, o primeiro historiador da Ordem dos Pregadores e o primeiro escritor da espiritualidade dominicana. As cartas do Beato Jordão são para a família dominicana um precioso testemunho de valor incalculável da primitiva espiritualidade da Ordem dos Pregadores. É certo que as Vidas dos Irmãos de Gerardo de Frachet é como que um florilégio da espiritualidade dos frades dos primeiros anos da Ordem. Mas as cartas de Jordão, que respiram espontaneidade e naturalidade por todos os seus poros, falam-nos de um modo de ser e de viver dia-a-dia a vida consagrada na Ordem Dominicana. Jordão não se apresenta como Mestre de vida espiritual. Nas cartas que nos chegaram apresenta-se-nos como o amigo e irmão sacerdote que escuta e conversa com profunda naturalidade com umas pessoas concretas, que contam pormenores da sua vida humana e espiritual e lhe pedem conselho e direcção. É certo que a vida itinerante do Mestre Jordão não lhe permite entreter-se com grandes discursos, nem com altas explicações doutrinais. Homem de governo, poupa os grandes discursos e, em cartas, normalmente breves, despacha os assuntos que Diana lhe apresenta, resolve-lhes os problemas e dá-lhe indicações concretas, claras e concisas. As cartas a Diana e às monjas de Santa Inês de Bolonha e de Nossa Senhora de Hórreo de Tréveris, são cartas de carácter pessoal, resposta a cartas recebidas, mensagens pessoais a pessoas muito queridas. Sem artifícios nem preocupações literárias, com a espontaneidade que lhes dá uma vida dominicana vivida com ambição e na profundidade radical dos tempos fundacionais. Aqui, sim, se aplica a passagem bíblica «A boca fala da abundância do coração». São cartas saídas de um coração transbordante do amor de Deus e de vitalidade dominicana que quer transmitir e espalhar profusamente através da sua vocação apostólica. A mesma esmagadora eloquência que arrastava os estudantes, desliza serena e convincente pelas páginas maravilhosamente humanas das cartas, que chegam até ao fundo do coração. Jordão escreve a Diana em tom humano, pessoal, concreto. É uma comunicação vital, cheia de notícias pessoais, de interesses comuns, de experiências religiosas, de situações singulares. Na realidade são diálogos com a Irmã Diana, com as monjas de Santa Inês, com as de Oeren. Não é o Mestre ou o Superior que escreve; é o homem, o amigo, o pai. O seu estilo é directo, transparente e comum. Interessa-se
acompanha-o o fr. Everardo, que morre no caminho, precisamente em Lausanne. Entretanto, São Domingos morre em Bolonha, a 6 de Agosto.
1222 – Capítulo Geral em Paris a 30 de Maio. Por unanimidade, fr. Jordão é eleito Mestre Geral da Ordem dos Pregadores. Durante quinze anos vai reger os destinos dos frades.
1223 – 8 de Junho o Mestre Jordão dá o hábito a Irmã Diana e a outras quatro irmãs jovens de Bolonha e começa a funcionar a comunidade de monjas dominicanas do convento de Santa Inês. Pouco depois, chegariam do Convento de São Sixto de Roma Ir. Cecília, Ir. Amada, Ir. Inês e Ir. Teodora, formadas sob a direcção de São Domingos. Em Julho, entra na Ordem Alberto Magno, conquistado em Pádua pela pregação de Jordão.
1224 – Em Paris, Jordão prega o Advento e a Quaresma aos estudantes. Do Advento à Páscoa, entram na Ordem 40 noviços e, entre eles, o Mestre Humberto de Romans, futuro 5º Mestre da Ordem e o Mestre Hugo de São Caro, que será o primeiro Cardeal dominicano.
1225 – 23 de Outubro, morre em Colónia fr. Henrique, Prior do convento, assistido pelo seu grande amigo Mestre Jordão.
1226 – 25 de Março, profissão de fr. Gerardo de Frachet, que escreverá Vidas dos Irmãos , cuja terceira parte está dedicada na sua íntegra ao «santo e memorável nosso Pai fr. Jordão, segundo Mestre da Ordem dos Pregadores e digníssimo sucessor do bem-aventurado Domingos».
1227 – 18 de Março, morte de Honório III. Sucede-lhe o cardeal Ugolino, que toma o nome de Gregório IX. Jordão vai a Roma.
1228 – Primeira cátedra dos dominicanos na Universidade de Paris. É regente fr. Rolando de Cremona. No Pentecostes, celebra-se em Paris o primeiro Capítulo generalíssimo da Ordem, pedido pelo Papa. Um decreto que diz respeito às vocações femininas vai criar problemas às religiosas de Santa Inês.
1229 – O Capítulo Geral de Bolonha encarrega os frades de Toulouse de ensinar teologia na Universidade. Vem de Paris fr. Rolando de Cremona e na cidade do Sena sucede-lhe fr. Hugo de São Caro.
1230 – Jordão visita Oxford e prega aos estudantes. A 26 de Maio, Capítulo Geral em Paris. Dá o hábito ao Mestre João de São Gil, famoso catedrático da Universidade, passando a ser duas as cátedras da Ordem.
1231 – Jordão assiste ao Capítulo Geral de Bolonha e visita várias cidades italianas.
1232 – A 12 de Junho inaugura o Capítulo Geral de Paris, que regula, pela primeira vez, a organização dos estudos na Ordem. Esta organização vai ser revalidada no Capítulo Generalíssimo seguinte.
1233 – 24 de Maio, preside em Bolonha à trasladação dos restos de São Domingos, na presença de 300 frades chegados de todas as províncias para o Capítulo Geral. Sobre o grande acontecimento escreve uma carta circular a toda a Ordem que destila amor e veneração pelo bem-aventurado Pai Domingos.
1234 – A 5 de Agosto recebe em Estrasburgo a notícia da canonização de São Domingos, realizada em Rieti, no dia 3 de Julho. Entra na Ordem Alberto de Slkenberg, rapaz de 15 anos. Desgosto para os frades, sentido profético de Jordão: fr. Pedro de Tarantaise – assim se chamou na Ordem – foi um grande Mestre em Teologia, Provincial, Arcebispo de Lião, Cardeal de Ostia e, finalmente, ocupou a Cátedra de São Pedro, com o nome de Inocêncio V. Jordão não pôde assistir ao Capítulo Geral de Paris, por estar doente. Depois decidir-se-á da necessidade de anular um decreto capitular que afectava o convento de Santa Inês de Bolonha.
1235 – Doente, não consegue também ir ao Capítulo Geral que se reúne em Bolonha, a 30 de Maio. Uma vez recuperado, dirige-se a Paris, onde chega no Advento. Ali permanecerá a pregar até ao ano seguinte.
1236 – Espera em Paris a celebração do segundo Capítulo Generalíssimo. Durante a sua estada na cidade do Sena, entram na Ordem 72 candidatos. O Capítulo encomendar-lhe-á a visita da Província da Terra Santa. A 10 de Junho, morre Ir. Diana de Andaló.
1237 – Em Fevereiro embarca para Nápoles em São João de Acre, acabada a visita à Palestina. A 13 desse mês morre num naufrágio do barco na costa da Palestina.
1827 – Confirmação oficial do culto antiquíssimo que, desde sempre, a Ordem lhe tributou.
1ª Carta: Perseverança
Às monjas de Santa Inês de Bolonha (Pádua, Verão de 1234)
Frei Jordão, servo inútil da Ordem dos Pregadores, às muito amadas filhas em Cristo, as monjas de Santa Inês de Bolonha, com o desejo de que procurem e acolham a Cristo Jesus. Lembrarem-se de mim, amadas filhas, consola o meu coração, porque vejo que caminhais no Senhor com espírito tão em uníssono e tão alegre e que não buscais nada além do único e suficiente Bem. Sem Ele, tudo quanto se tiver não é realmente riqueza, mas sim pobreza. E tanto mais o possuís, quanto vos entregastes a Ele, afastando os vossos corpos e almas deste mundo perverso, para pertencerdes completamente ao vosso único Esposo e, deste modo, serdes santas de corpo e alma , como diz o Apóstolo. Deus dá-se-nos com tão maior largueza, quão mais generosos somos com Ele. Por isso, vendo-vos com ânimo disposto a tudo e porque tudo deixastes por amor a Cristo, Esposo das vossas almas, não só no momento em que o fizestes por Ele, mas, além disso, quando, diariamente, vos esforçais por vos apagardes mais e mais, para, deste modo, vos unirdes só ao amor do vosso redentor – porque é bom unir-se a Ele – vendo, pois, tudo isto em vós, com alegria no meu coração, bendigo a quem vos chamou à graça, na qual perseverais que em vós produz o querer e o fazer segundo a sua vontade. Procurai, pois, minhas queridas, não receber em vão esta graça. De Deus recebestes este dom tão singular; dom perfeito, que não teve início em vós, mas que vos vem do alto e desce do Pai das luzes, que brilhou nos vossos corações por meio da sua graça e vos chamou à sua luz admirável. Por isso, enquanto tendes luz, caminhai na luz, para que as trevas não vos surpreendam. Caminhai, digo-vos, na luz do vosso Deus. Quem caminha, anda devagar. Não arrasta os pés por preguiça, mas também não corre precipitadamente e com inoportuna euforia. Este, de que agora vos falo, é um mal que mais qualquer outro temo em vós. Porque pode acontecer que haja algumas que corram sem ponderação e sem moderação, num excessivo derramamento de lágrimas, em vigílias ou em especial abstinência, ou noutro tipo de mortificações semelhantes, nada adequadas à vossa débil constituição. Não tendes força suficiente para tantas coisas como pensais e algumas facilmente esgotam as vossas forças físicas, crendo que o corpo ainda pode aguentar mais. Sabeis que muitas vezes vos chamei à atenção sobre este aspecto, porque sempre o temi em vós. Não quero ser maçador ao escrever-vos isto que me parece que vos é tão necessário. Sede, pois, prudentes,
Quanto ao resto e, como tendes vindo a fazer, rezastes ao Senhor pelos estudantes de Pádua e Ele escutou-vos, porque entraram vinte noviços bons e virtuosos; sede agora diligentes em dar-lhe muitas graças e que não diminua a intensidade das vossas orações^1. A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com o vosso espírito. Ámen. Saúda-vos em Cristo Jesus o fr. Gerardo^2 , nosso companheiro de viagem.
(^1) Entre estes vinte noviços que entraram na Ordem em Pádua, encontrava-se Santo Alberto Magno. (^2) Este fr. Gerardo, companheiro de viagem de Jordão, é muito difícil de identificar. Não será certamente fr. Gerardo de Frachet, o primeiro biógrafo do Mestre Jordão na sua Vitae Fratrum. Não poderia este ser identificado com o mesmo fr. Gerardo que, com o fr. Albísio, acompanhavam o Mestre Jordão e com ele pereceram no naufrágio?
3ª Carta: Excessiva Ansiedade
À Ir. Diana (Milão, Inverno de 1233)
Fr. Jordão, servo inútil da Ordem dos Pregadores, à sua muito querida em Cristo Jesus, Ir. Diana, em Bolonha, saúde e consolação do Espírito Santo.
Não gosto de ouvir dizer que estás tão angustiosamente atribulada por causa da minha doença, como se quisesses que eu fosse excluído do número dos filhos de Deus e não participasse na Paixão de Jesus Cristo, nosso Redentor. Não sabes que Deus castiga o filho que ama? Não queres que eu seja um dos seus filhos? Será boa, por acaso, essa tua ansiedade? Se queres que eu entre no Reino, suporta o facto de eu ter de andar pelo caminho que a Ele conduz, porque temos de atravessar muitas tribulações para entrar no Reino de Deus. Se esta doença fosse ocasião de algum mal, com toda a certeza me agradaria que tivesses alguma pena; mas se, pelo contrário, comigo está tudo a correr bem e com fruto, não gostaria, minha filha muito querida, que ficasses perturbada, para meu bem. Por isso, se queres consolar-me e tirar-me a causa da minha preocupação, deita fora a tristeza da tua alma e procura viver com mais alegria. Entretanto, encomenda-me ao Senhor e pede-lhe que o que eu tiver contraído em ordem a um castigo futuro, mo converta agora em instrumento de correcção. O artífice bom e piedoso conhece bem a purificação de que o seu vaso precisa. Por isso, devemos submeter-nos em tudo à sua vontade e temos de entregar nas suas mãos os nossos caminhos. Quero, no entanto, que saibas que há pouco tempo estive em grave perigo de morte, não só por causa das febres altas^3 mas também de outras doenças. Graças a Deus, já saí delas todas. Parece também que uma das três febres que tive desapareceu por completo. Consola-te, pois, e coloca diante dos olhos aquela vida em que não há nenhuma doença, como diz o profeta: Nenhum mal te acontecerá, nenhuma epidemia chegará à tua tenda. É verdade que na miséria da vida presente nos assaltam os males dos pecadores e, porque são muitas as suas maldades não é, portanto, de admirar que aqui sejamos flagelados por causa dos nossos excessos. Por isso, também eu estou preparado para os sofrimentos, para poder chegar àquela tenda, que é Deus, de onde não se aproxima nenhuma calamidade. Nenhum mal de pecado entra naquelas límpidas e brilhantes moradas, nas que se digne orientar-nos o bom e piedoso Filho de Deus, Jesus Cristo, que é bendito pelos séculos dos séculos. Ámen. Fica bem; saúda as minhas muito queridas filhas e consola-as no Senhor. A ti e a elas vos saúda afectuosamente o fr. Gerardo.
(^3) Estas febres altas poderão ter sido causadas pela malária ou paludismo… terão sido febres parasitárias.
4ª Carta: Deus Protege-nos
À Ir. Diana (Vercelli, Verão de 1233)
Fr. Jordão, servo inútil da Ordem dos Pregadores, à sua muito querida filha em Cristo Jesus, Diana, saúde e graça de alegrias espirituais.
Ainda há pouco tempo te deixei. De então para cá, Deus tem-me ajudado sempre com muita generosidade. Dos que entraram em Reggio Emilia creio que já ouviste o bastante. Dá graças a Deus por eles. Escrevi-te de Vercelli, onde só tínhamos recebido um noviço, aliás, muito bom. Espero que em breve, com a ajuda de Deus, tenhamos muitos. Fr. Henrique do Ultramar^4 está gravemente doente. Vo-lo recomendo muito, a ti e às monjas. Pedi por ele fielmente ao Senhor, pois temos medo de já o ter perdido totalmente. Quanto ao resto, minha muito querida, entrega ao Senhor o teu destino, consola-te continuamente n’Ele, e aprende a vencer n’Ele qualquer adversidade que a instabilidade deste mundo faça cair sobre ti. Em relação a mim, não te preocupes, porque espero que o mesmo que a ti te guarda em Bolonha, me guardará também a mim, peregrino de tão variados caminhos. O teu papel na quietude da tua casa e o meu, na contínua azáfama das minhas viagens, cumprimo-lo unicamente por amor a Ele. Ele é o nosso único fim; que nos dirige ao mesmo tempo no desterro presente e que será o nosso prémio na Pátria, e que é bendito pelos séculos dos séculos. Ámen. Fica bem em Cristo e saúda todas as minhas muito queridas irmãs, especialmente a Prioresa, Galiana, Jordana e Julita. A ti e a elas vos saúda o teu filho fr. Gerardo. Encomendamo-nos às vossas orações.
(^4) Fr. Henrique do Ultramar, também chamado fr. Henrique de Marsberg, foi nomeado Provincial da província da Terra Santa no Capítulo Generalíssimo de 1228. Renunciou ao cargo no Capítulo Geral de Bolonha de 1231.
6ª Carta: Melhoras de Saúde
À Ir. Diana (Milão, Inverno de 1233-34)
Fr. Jordão, servo inútil da Ordem dos Pregadores, à muito querida filha em Cristo Jesus, saúde e consolação do Espírito Santo.
Soube que estás preocupada com o meu estado de saúde. Faço-te saber que Deus vos escutou, a ti e às tuas monjas. Comecei a melhorar há alguns dias e já pouco ou nada me incomodam as febres que tinha. Estou praticamente curado, ainda que me sinta muito débil e esteja ainda perturbado pelo mal que passei. Por isso, dai graças a quem começou e me dê mais forças e mais saúde. Saúda e consola as monjas, minhas filhas muito queridas, e as outras que tu sabes a quem teria de cumprimentar. A ti e a elas vos saúda afectuosamente fr. Gerardo. Fica bem em Cristo Jesus. Ámen.
7ª Carta: Novos Noviços
À Ir. Diana (Milão, Verão de 1233)
Fr. Jordão, servo inútil da Ordem dos Pregadores, à muito querida Irmã Diana, saúde e consolação do Espírito Santo.
Sobre o meu estado de saúde quero que saibas, muito minha querida, que ao regressar de Vercelli a Milão com oito noviços muito bons e capazes para a Ordem, e com o pensamento de ir de lá para a Alemanha, veio-me uma febre terçã, que desde esse dia até agora já tive três acessos e estou à espera do quarto. Graças a Deus que esta doença não é perigosa e, segundo dizem os médicos, cura-se rapidamente. Dou- te estas notícias para que não percas a calma, se alguém te falar da minha doença e possas julgar que é mais perigosa do que o é na realidade é. Entretanto, recomenda- me às orações das monjas. Fr. Henrique do Ultramar já recuperou a saúde, graças, segundo creio, às vossas orações, e já foi para a Alemanha. Por favor, não te preocupes com a minha doença, pois com ela espero melhorar na alma e no corpo. O Senhor tinha-nos concedido os seus dons em Reggio e em Vercelli. Quis, sem dúvida, que eu não os recebesse totalmente de graça, coisa que me parece muito justa. Que o seu nome seja bendito pelos séculos. Ámen. Fica bem. Saúda as minhas filhas muito queridas e especialmente a Prioresa, Galiana, Jordana e Julita, às quais juntamente contigo saúda o teu irmão e filho, fr. Gerardo. Comunica aos frades o meu estado de saúde para que rezem por mim. Não lhes escrevo por falta de tempo. O Espírito de Jesus Cristo esteja com o teu espírito. Ámen.