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Este documento discute a relação entre a contração muscular excêntrica e as lesões musculares por estiramento. Apresenta estudos que demonstram que, embora a contração excêntrica danifique o tecido muscular, um treinamento específico pode modificar a estrutura do músculo e o tornar menos susceptível a novas lesões. Além disso, discute as características da contração excêntrica e suas implicações no desempenho muscular, bem como as possíveis justificativas para as diferenças entre as contrações excêntricas e outras formas de contração muscular. Finalmente, discute os benefícios de um treinamento de força com ênfase na contração excêntrica para a prevenção e tratamento de lesões musculares.
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Tipologia: Notas de aula
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Monografia apresentada ao Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para obtenção de título de Bacharel em Fisioterapia. Orientador: Prof. Sérgio Teixeira da Fonseca. Co-orientador: Eduester Lopes Rodrigues.
As lesões musculares por estiramento são as lesões de maior incidência no contexto esportivo. Sua ocorrência tem sido freqüentemente relacionada à contração muscular excêntrica, pois durante esta contração o músculo é alongado enquanto contrai. Adicionalmente este tipo de ação muscular é capaz de promover microlesões no músculo, o que pode torná-lo mais susceptível ao estiramento. Por outro lado, a realização de treinos com ênfase na contração excêntrica tem demonstrado efeitos positivos na prevenção deste tipo de lesão. Esta relação paradoxal pode ser melhor compreendida quando algumas características peculiares a contração muscular excêntrica são conhecidas. O objetivo desta revisão foi esclarecer a relação entre a contração muscular excêntrica e as lesões musculares por estiramento, por meio do conhecimento das características únicas a este tipo de ação muscular. Além disso, essa revisão visa fornecer informações que podem guiar a utilização do exercício excêntrico na prática clínica.
Muscle strains have been cited as the most common injuries in competitive sports. Its occurrence has been associated with eccentric muscle contraction because during this contraction the muscle is stretched while it contracts. Additionally, this kind of muscle action can promote microscopic muscle injuries that can make it more susceptible to strains. On the other hand, eccentric training has been demonstrated to have a positive effect in the prevention of muscle strains. This paradoxical relation can be better understood when some particular characteristics of eccentric muscle contraction are known. The aim of this review was clarify the relationship between eccentric muscle contraction and muscle strain injuries by means of understanding of the special characteristics of this kind of muscle action. In addition, the supplied information can be use to guide the use of eccentric exercise in clinical practice.
As lesões do aparelho musculoesquelético possuem etiologia multifatorial. A compreensão de cada um dos fatores envolvidos na geração destas lesões e como eles interagem é de extrema importância para que se possa tratá-las e sobretudo preveni-las (BAHR; KROSSHAUG, 2005). Os fatores envolvidos nas lesões esportivas devem ser bem conhecidos pela equipe responsável por reabilitar o atleta, pois este conhecimento pode ser utilizado para guiar o processo de recuperação do esportista, permitindo um rápido retorno a prática com segurança. Nas competições esportivas, muita atenção tem sido direcionada às lesões traumáticas, por contato, nas quais o contato entre dois ou mais atletas ou entre um atleta e uma estrutura gera um trauma. No entanto, a incidência crescente de lesões sem contato, tem preocupado os profissionais da medicina desportiva (COHEN et al ., 1997). Na Copa do Mundo de futebol em 2002, a incidência de lesões sem contato foi maior do que nos demais torneios internacionais de futebol e cerca de 90% dessas lesões afastaram os atletas dos treinos e jogos, com um tempo de afastamento maior do que aquele gerado pelas lesões por contato (JUNGE et al ., 2004). As lesões sem contato são, em sua maioria, lesões musculares (GARRET, 1990, 1996). Estas têm sido citadas como o tipo de lesão mais freqüente na prática esportiva (BODEN; GARRET, 2002). Dentre as lesões musculares, as lesões musculares por estiramento destacam-se por sua alta incidência e sobretudo reincidência no contexto esportivo (BROCKETT et al ., 2004; GABBE et al ., 2006; GARRET, 1990, 1996). Durante as temporadas de 1997 a 2000 do futebol australiano o estiramento dos isquiossurais foi a lesão mais comum e prevalente (ORCHARD; SEWARD, 2002), com níveis de reincidência de aproximadamente 30% por temporada (GABBE et al ., 2006). As lesões musculares por estiramento ocorrem, de forma geral, em resposta a um alongamento brusco do músculo em contração. A gênese destas lesões tem sido amplamente relacionada à contração muscular excêntrica, pois durante esta contração, músculos contraindo são forçadamente alongados e altos níveis de tensão podem ser gerados (GARRET, 1990, 1996). A contração muscular excêntrica promove microlesões nas fibras musculares que, em associação a outros fatores, podem eventualmente acometer todo o músculo, sendo, por isso, uma das responsáveis pela ruptura parcial ou total do tecido muscular que caracteriza os estiramentos (BROCKETT et al ., 2001; PROSKE et al ., 2004).
A contração muscular excêntrica, por outro lado, é caracterizada por muitas propriedades incomuns às demais contrações musculares e por isso é potencialmente capaz de produzir adaptações únicas no músculo esquelético (LASTAYO et al ., 2000). Estas adaptações envolvem os Sistemas Nervosos Central e Periférico e a estrutura muscular e parecem proteger o músculo de lesões (MCHUGH, 2003). Assim, embora a contração muscular excêntrica danifique o tecido muscular, sendo um dos fatores envolvidos na geração das lesões musculares por estiramento, um treinamento de força que envolva esta contração pode modificar a estrutura do músculo de forma que ele se torne menos susceptível a tais lesões (ASKLING et al ., 2003). O tecido muscular é dotado de alta plasticidade, uma vez que ele se adapta às demandas impostas a fim de otimizar seu desempenho (BALDWIN; HADDAD, 2002). Assim, não seria controverso esperar que as adaptações promovidas pela contração muscular excêntrica no tecido muscular poderiam torná-lo menos susceptível a novos danos, prevenindo-o de lesões. Por isso a compreensão de cada uma das características desta contração e a forma como elas estão relacionadas ao desempenho muscular são de extrema relevância e podem auxiliar no aperfeiçoamento da prática esportiva bem como na prevenção e tratamento das lesões musculares associadas. Adicionalmente, a proposta de que um treino com ênfase na contração excêntrica possa auxiliar na prevenção das lesões musculares por estiramento se torna uma alternativa interessante frente aos altos níveis de reincidência deste tipo de lesão (PROSKE et al ., 2004).
também serve como isolante para a atividade neurológica dentro do músculo (HAMILL; KNUTZEN, 1999). Embora estas estruturas sejam descritas como entidades distintas, estão entrelaçadas de tal maneira que podem ser consideradas como uma lâmina contínua de tecido conectivo (BROWN, 2006). A fibra muscular é o elemento funcional básico do músculo, variando, em espessura de aproximadamente 10 a 100 micrômetros, e em comprimento de cerca de 1 a 50 cm. Cada fibra muscular é, na verdade, uma única célula multinucleada revestida por uma fina membrana plasmática chamada sarcolema (BROWN, 2006). No interior da fibra muscular existem milhares de pequenos filamentos denominados miofibrilas, além de organelas usuais como mitocôndrias, sarcoplasma, retículo sarcoplasmático e túbulos T (HAMILL; KNUTZEN, 1999). As miofibrilas são os elementos contráteis da fibra muscular, medem de 1 a 2 micrômetros de diâmetro e consistem em miofilamentos protéicos de actina (filamento fino) e miosina (filamento espesso). Na fibra muscular em repouso, esses miofilamentos se sobrepõem parcialmente em uma disposição regular e produzem um padrão de bandas ao longo da miofibrila conhecido como sarcômero, no qual faixas claras e escuras distintas são aparentes (BROWN, 2006). As faixas escuras, chamadas faixas A, correspondem à presença do filamento espesso de miosina, enquanto as faixas claras, denominadas faixas I, são causadas pela presença do filamento fino de actina. A miosina também apresenta projeções transversais, conhecidas como “ligações transversas”, dispostas em pares, pelas quais interage fisicamente com a actina durante a contração muscular (BANDY; DUNLEAVY, 1996). Ao microscópio eletrônico pode-se, entretanto, visualizar outras três regiões dentro de um sarcômero: faixa H, linha M e disco Z. A faixa H corresponde ao local dentro da faixa A onde actina e miosina não se sobrepõem. A linha M é formada pelo espessamento da região média do filamento de miosina no centro da faixa H. Já o disco Z é a região onde os sucessivos filamentos de actina se ancoram e que limita e separa um sarcômero do outro (BROWN, 2006). A junção miotendínea, região de transição entre músculo e tendão, possibilita a transmissão de forças entre essas duas estruturas e para tanto, apresenta características morfológicas especiais (MALONE et al ., 1996). As fibras musculares diminuem de diâmetro em até 90% quando se fundem ao tecido do tendão, o que aumenta significativamente o estresse através da fibra por área de secção transversa (BROWN, 2006). Além disso, os sarcômeros localizados próximo à junção miotendínea tendem a ser mais curtos e podem sofrer diminuição da capacidade de geração de força, aumento da taxa de contração e
diminuição da habilidade de mudar de comprimento (MALONE et al ., 1996). Para minimizar esse impacto, tem-se em cada extremidade da fibra muscular uma extensa dobra do sarcolema formando interdigitações que conectam os filamentos terminais de actina do sarcômero com o tecido do tendão, via proteínas transmembrana. Estas interdigitações aumentam a área de contato e permitem a redistribuição das forças, reduzindo o estresse sobre o músculo (CURWIN, 1996). O funcionamento muscular ativo pode ser descrito por meio de três tipos de ativação: isométrica, concêntrica e excêntrica (HAMILL; KNUTZEN, 1999). A ativação isométrica ocorre quando o músculo produz força sem uma mudança significativa no seu comprimento, ou seja, a posição articular permanece constante. A ativação concêntrica ocorre quando o músculo produz uma força à medida que diminui de comprimento (contrai literalmente). Em contrapartida, a ativação excêntrica acontece quando o músculo produz uma força enquanto está sendo alongado por forças externas, tais como a gravidade ou a ação de um grupo muscular antagonista (NEUMANN, 2006). Há ainda outra forma de ativação muscular, passível de ocorrer apenas em músculos biarticulares, a ativação econcêntrica. Nesta modalidade, o músculo produz força ativa enquanto combina concomitantemente o movimento de uma das articulações na direção de contração (semelhante à contração concêntrica) com o movimento da outra articulação na direção do alongamento das fibras musculares (como visto na contração excêntrica), gerando diferentes ações nas articulações que atravessa (PRENTICE, 2002). Em resumo, o músculo esquelético é constituído por tecidos conectivos, fibras musculares e regiões de organização peculiar, as junções miotendíneas. A disposição destes componentes, além de caracterizar o tecido muscular, otimiza a sua função. A função muscular, por sua vez, pode ser resumida em quatro tipos de ações musculares, isométrica, concêntrica, excêntrica e econcêntrica e a diferença entre essas ações habilita o músculo a atuar em contextos diferentes.
As ações excêntricas por muito tempo foram consideradas apenas como o retorno ou a segunda fase dos movimentos isotônicos. No entanto, a prática clínica e a pesquisa
contrações musculares concêntrica e isométrica segue um regra geral, o comando motor para a contração muscular excêntrica parece se diferenciar por ser específico desta contração. A contração muscular excêntrica, quando comparada à contração muscular concêntrica, produz maior torque muscular em um mesmo ângulo articular. Nesta circunstância, os valores eletromiográficos registrados para o músculo em ação são consideravelmente inferiores durante a ação excêntrica (TESCH et al ., 1990). Este paradoxo pode ser compreendido através de alguns mecanismos peculiares, associados à contração muscular excêntrica. O primeiro mecanismo corresponde à maior eficiência mecânica que caracteriza esta contração. Um maior torque muscular excêntrico pode ser gerado, mesmo sob baixos níveis eletromiográficos, devido á contribuição dos componentes elásticos musculares que auxiliam no controle do alongamento concomitante a contração muscular. Adicionalmente, os componentes contráteis musculares armazenam energia elástica e a convertem em energia mecânica durante a contração muscular, contribuindo para a geração de tensão (LASTAYO et al ., 2003; LINDSTEDT et al ., 2001; TESCH et al ., 1990). O segundo mecanismo está associado a um recrutamento diferenciado das unidades motoras durante a contração muscular excêntrica. Nardone et al. (1989) demonstraram que unidades motoras de alto limiar são prioritariamente selecionadas desde o início do movimento excêntrico, ao contrário do processo proposto pelo Princípio do Tamanho. Este recrutamento diferenciado poderia compensar a ativação limitada das unidades motoras. Esses autores sugeriram ainda que fibras musculares de contração rápida sejam preferencialmente recrutadas durante a contração muscular excêntrica (NARDONE; SCHIEPPATI, 1988). Assim, um controle motor diferenciado associado a uma grande eficiência mecânica possibilita que músculos gerem maior tensão ao contraírem excentricamente, a despeito de um sinal eletromiográfico reduzido. As peculiaridades do controle neural da contração muscular excêntrica podem ser observadas também no Sistema Nervoso Central. Fang et al. (2001) registraram a atividade elétrica cortical e periférica durante as contrações musculares excêntrica e concêntrica dos músculos flexores do cotovelo. Esses autores encontraram um início precoce da ativação cortical prévia a execução do movimento excêntrico, bem como uma maior atividade cortical relacionada à preparação e execução da contração muscular excêntrica. Os autores relacionaram estes achados à maior dificuldade em se executar tal contração e à maior susceptibilidade à ocorrência de lesões durante o desempenho desta. Além disso, os autores propõem que há uma maior quantidade de informação sensorial referente ao alongamento das
estruturas musculares e um maior número de variáveis que devem ser controladas durante o movimento excêntrico. Perifericamente, foram observados níveis eletromiográficos significativamente menores para os músculos flexores do cotovelo durante a contração muscular excêntrica, em concordância com estudos prévios (TESCH et al ., 1990). Estes achados sugerem que as adaptações neurais conseqüentes da contração muscular excêntrica se estendem por todo o Sistema Nervoso: Central e Periférico. O papel do Sistema Nervoso Central em um treinamento de força que envolva contrações musculares excêntricas ainda não está claro. No entanto, as adaptações neurais conseqüentes desta contração parecem proteger o músculo, poupando-o de um estresse adicional. Tais adaptações, como ativação limitada das unidades motoras, podem ser, portanto, estratégias que contribuem para proteger o Sistema Musculoesquelético de lesões (WEBBER; KRIELLAARS, 1997).
O tecido muscular tem a capacidade de adaptar suas propriedades estrutural e funcional de acordo com a demanda a qual é submetido. Essa capacidade de adaptação é denominada plasticidade muscular. Em resposta a um aumento na demanda, como o gerado pelo treinamento de força, o tecido muscular pode se adaptar através do aumento do tamanho da miofibrila, hipertrofia muscular, bem como através da alteração da composição das proteínas contráteis e metabólicas (BALDWIN; HADDAD, 2002). Um treinamento de força é geralmente constituído por ações musculares combinadas, ou seja, o músculo é submetido a contrações musculares concêntricas, excêntricas ou mesmo isométricas (MOORE et al ., 2005). Muitos estudos têm sido conduzidos a fim de verificar como as ações musculares, isoladas ou combinadas, promovem as adaptações que ocorrem no músculo em resposta ao treinamento de força, como a hipertrofia e o aumento da força muscular (ADAMS et al ., 2004; NORRBRAND et al ., 2008; SEGER et al ., 1998). A maioria destes estudos aponta a contração muscular excêntrica como o principal estímulo para promover hipertrofia muscular (FARTHING; CHILIBECK, 2003; HATHER et al ., 1991; HIGBIE et al ., 1996; LASTAYO et al ., 2000; NORRBRAND et al ., 2008; SEGER et al ., 1998). A maior hipertrofia decorrente desta contração parece estar
alterações na estrutura muscular (KRAEMER et al ., 2007; MAIOR; ALVES, 2003). Como o papel do Sistema Nervoso Central em um treinamento de força que envolva contrações musculares excêntricas ainda não está claro, conclusões acerca deste tópico não podem ser estabelecidas. A especificidade do treino desempenha um papel importante na promoção das adaptações musculares. O treino excêntrico parece ter uma resposta mais específica ao tipo de ação muscular do que o treino concêntrico, ou seja, músculos submetidos a um treino excêntrico são mais fortes durante ações excêntricas. As duas maiores variáveis que influenciam a especificidade do treino são o modo de contração muscular e a velocidade do movimento (PADDON-JONES et al ., 2005). Embora haja controvérsias sobre a especificidade do treino excêntrico em relação à velocidade (SEGER et al ., 1998), sabe-se que o aumento deste parâmetro favorece a geração de tensão durante ações excêntricas e que o contrário ocorre durante ações concêntricas (ALLEN, 2001). Dessa forma, o treino excêntrico em alta velocidade parece ser mais efetivo do que o treino excêntrico em baixa velocidade ou do que o treino concêntrico em qualquer velocidade para promover ganhos de massa e força muscular (FARTHING; CHILIBECK, 2003). O modo como a especificidade ao tipo de contração muscular e a velocidade de trabalho do músculo interferem no exercício excêntrico são de extrema valia pois podem orientar o treinamento de força de forma que ele promova as adaptações musculares esperadas. Portanto a contração muscular excêntrica, quando envolvida no aumento da demanda imposta sobre um músculo, tem grande potencial para modificá-lo, aumentando sua força e área de secção transversa, de forma a otimizar sua funcionalidade em seu novo contexto de ação.
Fadiga muscular pode ser definida como um prejuízo agudo no desempenho do músculo, acompanhado por um aumento na percepção do esforço necessário para exercer a força desejada e uma eventual inabilidade para produzir esta força (ENOKA; STUART, 1992). A redução na capacidade muscular de geração de força, que classicamente caracteriza uma situação de fadiga, pode ter origem central ou periférica. Quando a fadiga surge de uma
redução progressiva da velocidade e freqüência de condução do impulso voluntário aos motoneurônios, o processo é conhecido como Fadiga Central. Por outro lado, quando a fadiga muscular resulta de alterações na homeostasia do próprio músculo, o processo é conhecido como Fadiga Periférica (ASCENÇÃO et al ., 2003). Diversas variáveis podem influenciar o desenvolvimento da fadiga, tais como o tipo de contração muscular, a atividade executada e sua duração (ENOKA; STUART, 1992). Dentre os tipos de contração muscular, a contração muscular excêntrica parece ser a menos influenciada pela fadiga (TESCH et al ., 1990). Diferentemente do que ocorre nas demais contrações musculares, em situações de fadiga, um músculo contraindo excentricamente é capaz de produzir maior tensão e preservá-la por um maior período de tempo sem que haja um recrutamento adicional de unidades motoras (KAY et al ., 2000). O fato de a contração muscular excêntrica ser menos influenciada pela fadiga se torna intrigante quando as adaptações neurais conseqüentes desta contração são consideradas. É questionável a forma como uma contração caracterizada por uma ativação limitada de unidades motoras, durante a qual unidades motoras de alto limiar e fibras musculares de contração rápida são preferencialmente recrutadas, pode ser mais resistente a fadiga (PULL; RANSON, 2007). A resposta parece estar na contribuição do papel mecânico do componente elástico muscular e do tecido conectivo para esta contração. Ao contribuírem para a geração de tensão, os elementos não contráteis assumem papel de destaque, pois garantem a manutenção da tensão gerada, mesmo em situações de fadiga (KAY et al ., 2000; TESCH et al ., 1990). Em adição, Kay et al. (2000) sugeriram que a ativação incompleta das unidades motoras promoveria uma maior reserva de unidades motoras em repouso, o que permitiria, durante períodos maiores de ativação, um revezamento entre unidades motoras utilizadas e em repouso, resultando em menor fadiga. A estas particularidades soma-se o fato de que a contração muscular excêntrica apresenta maior eficiência metabólica que as demais contrações. Ao contraírem excentricamente, músculos são capazes de produzir maior tensão muscular com menor demanda por oxigênio (HATHER et al ., 1991; LASTAYO et al ., 1999). Além disso, embora esteja associada a alterações na homeostasia muscular, a contração muscular excêntrica parece não comprometer a função oxidativa do músculo (WALSH et al ., 2001). Portanto, a interação entre as adaptações neurais conseqüentes da contração muscular excêntrica e a maior eficiência mecânica e metabólica desta contração otimiza sua
atribuídos a distúrbios nos receptores musculares, desencadeados pela contração muscular excêntrica, visto que se fossem provenientes das alterações geradas pela fadiga, não teriam persistido por quatro dias. Gregory et al. (2002), por outro lado, sugeriram que a contribuição periférica para as alterações na percepção de força, após a contração muscular excêntrica, é provavelmente pequena e que o senso de efeito, derivado centralmente, parece desempenhar papel dominante nesse processo. Os autores chegaram a esta conclusão ao avaliar o efeito da contração muscular excêntrica na resposta dos órgãos tendinosos de Golgi de gatos a tensões ativas e passivas. Neste estudo os órgãos tendinosos de Golgi demonstraram ser confiáveis para sinalizar a tensão muscular, visto que forneceram uma resposta adequada para tensões passivas e ativas, mesmo quando a produção de força muscular estava comprometida, após o exercício excêntrico. Adicionalmente, Carson et al. (2002) sugeriram que, em situações nas quais o tecido muscular esteja alterado, parece haver discordância entre as informações fornecidas pelo Sistema Nervoso Central e pelos órgãos tendinosos de Golgi. Nessas circunstâncias, os indivíduos enfatizariam as informações provenientes do Sistema Nervoso Central, ou seja, o senso de efeito. No entanto, a relação entre este senso e o córtex motor também parece ser alterada pela contração muscular excêntrica, sendo provável que estas alterações sejam mediadas pelas informações periféricas a cerca do estado do aparato contrátil muscular, o que explicaria os erros encontrados (CARSON et al ., 2002). Brockett et al. (1997) também encontraram alterações no senso de posição dos indivíduos estudados. Estas alterações consistiam em erros no julgamento da posição da articulação do cotovelo em diferentes ângulos. Frente a estas alterações, Gregory et al. (2004) sugeriram que, assim como as fibras extrafusais, as fibras intrafusais dos fusos musculares seriam danificadas pela contração muscular excêntrica, o que deturparia o senso de posição. No entanto, estes autores, ao analisar a resposta dos fusos musculares de gatos após o exercício excêntrico, concluíram que as fibras intrafusais não estão propensas a lesão durante a contração muscular excêntrica, em situações nas quais o músculo esteja trabalhando dentro de sua amplitude habitual. Portanto, ao contrário do esperado, os déficits proprioceptivos que surgem após o treino excêntrico não podem ser diretamente relacionados à lesão muscular desencadeada por esta contração. Assim, as alterações na propriocepção não podem ser compreendidas apenas por uma possível disfunção do sistema aferente periférico. Alguns estudos têm sugerido que mecanismos eferentes regulatórios podem estar envolvidos nos distúrbios proprioceptivos
encontrados (GREGORY et al ., 2004; PULL; RANSON, 2007). Dessa forma, futuras investigações são necessárias para melhor compreendermos o efeito do treino excêntrico sobre o sistema proprioceptivo.
A relação comprimento-tensão é uma relação direta entre o comprimento do músculo e a tensão que ele é capaz de desenvolver. De acordo com esta relação, há um comprimento ótimo no qual o músculo é capaz de gerar uma tensão máxima. Este comprimento ótimo representa o melhor posicionamento dos filamentos de actina e miosina, de forma que o maior número de pontes cruzadas pode ser formado (NORKIN; LEVAGIE, 2001). Vários estudos têm demonstrado que a relação comprimento-tensão é alterada pelo treino excêntrico (BROCKETT et al ., 2001; BUTTERFIELD et al ., 2005; MORGAN; TALBOT, 2002; PRASARTWUTH et al ., 2006; WHITEHEAD et al ., 2001). Esta alteração se dá de forma que a tensão máxima passa a ser gerada em comprimentos musculares maiores. Muitos autores têm sugerido que o aumento no comprimento ótimo muscular resulta das lesões mecânicas e celulares geradas pela contração muscular excêntrica, como forma de proteger o músculo de uma futura agressão (MORGAN; PROSKE, 2004; MORGAN; TALBOT, 2002). O aumento no comprimento ótimo muscular poderia proteger o músculo de novas lesões porque aumentaria a amplitude articular na qual o músculo pode gerar maior tensão, reduzindo sua desvantagem mecânica para geração de torque (BROCKETT et al ., 2004). Brockett et al. (2001) defendem que a alteração na relação comprimento-tensão é a melhor forma de mensurar as lesões provocadas pela contração muscular excêntrica no tecido muscular, pois não está relacionada com as conseqüências da fadiga. O aumento no comprimento ótimo muscular ocorre após uma única série de exercício excêntrico (MORGAN, 1990; PROSKE; ALLEN, 2005), como também é mantido com a realização crônica deste exercício (MORGAN; PROSKE, 2004; MORGAN; TALBOT, 2002). Alguns mecanismos têm sido propostos na tentativa de explicar como ocorre esta alteração no comprimento ótimo de um músculo submetido ao treino excêntrico. Tais mecanismos variam de acordo com tempo no qual o músculo foi submetido a este treino. Para