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Guias e Dicas
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Capítulo III Relevância bíblica da compreensão da vida., Provas de Teologia

Dicionário internacional de teologia do Novo. Testamento, 2ª ed.; São Paulo, Vida Nova, 2000, p. 2641-2652. 3Cf. L. HODGSON, Life after Death II.

Tipologia: Provas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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Capítulo III
Relevância bíblica da compreensão da vida.
Introdução
A vida e a morte são categorias opostas, que são básicas para todas as
coisas vivas,1 as duas categorias se relacionam entre si, e se interpretam
mutuamente. A vida denota o funcionamento orgânico das plantas, dos animais e
dos seres humanos. 2 A vida humana é única no seu gênero. Ela não é meramente
instintiva, como também é capaz de auto-realização e está aberta a influências e
mudanças formadoras diversas.
Em grego faz-se distinção entre zõe, que tende a significar a "vida" como
força vital e natural, e bios que tem um conteúdo ético mais forte, e que também
significa "modo de vida". É fato instrutivo que o NT adota a primeira destas duas
palavras para denotar aquela comunhão com Deus que os seres humanos
desfrutam como dádiva específica do próprio Deus.
Desde Homero o substantivo bios, deriva do verbo correspondente bioó e
tem relacionamento com latino vivere, "viver", que denota a "vida" nas suas
manifestações externas concretas. Emprega-se bios geralmente para "curso da
vida" ou “duração da vida,”3 e especificamente para o "modo de vida" de uma
pessoa, que não é considerado, no entanto, um evento histórico de uma vez para
sempre, mas, sim, como um comportamento super temporal que existe lado a lado
com outros "tipos" possíveis.
1 Cf. W. B. J. Martin, "Life after Death III. The Poets - Victorian and Modern", ExpT 76, 1964-65,
140-143.
2Cf. BROWN, Colin; COENEN, Lothar (org.), Dicionário internacional de teologia do Novo
Testamento, 2ª ed.; São Paulo, Vida Nova, 2000, p. 2641-2652.
3Cf. L. HODGSON, "Life after Death II. The Philosophers: Plato and Kant", ExpT76, 1964-65,
107ss.; Platão, Symph. 181d, 203d; Leg. 6, 770a; 7, 802a; Platão, Leg. 2, 663b; Rep. 617d ss. e
também Eth. Nic. 1 3p l095b, 14 ; cf. biõtikos, "pertencente à vida", "quotidiano", Políbió 4,73,8;
Diógenes Laércio 7,22; Epicteto, Dissertationes 1, 26, 3,7.
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Capítulo III

Relevância bíblica da compreensão da vida.

Introdução

A vida e a morte são categorias opostas, que são básicas para todas as coisas vivas,^1 as duas categorias se relacionam entre si, e se interpretam mutuamente. A vida denota o funcionamento orgânico das plantas, dos animais e dos seres humanos. 2 A vida humana é única no seu gênero. Ela não é meramente instintiva, como também é capaz de auto-realização e está aberta a influências e mudanças formadoras diversas.

Em grego faz-se distinção entre zõe, que tende a significar a "vida" como força vital e natural, e bios que tem um conteúdo ético mais forte, e que também significa "modo de vida". É fato instrutivo que o NT adota a primeira destas duas palavras para denotar aquela comunhão com Deus que os seres humanos desfrutam como dádiva específica do próprio Deus.

Desde Homero o substantivo bios , deriva do verbo correspondente bioó e tem relacionamento com latino vivere, "viver", que denota a "vida" nas suas manifestações externas concretas. Emprega-se bios geralmente para "curso da vida" ou “duração da vida,” 3 e especificamente para o "modo de vida" de uma pessoa, que não é considerado, no entanto, um evento histórico de uma vez para sempre, mas, sim, como um comportamento super temporal que existe lado a lado com outros "tipos" possíveis.

(^1) Cf. W. B. J. Martin, "Life after Death III. The Poets - Victorian and Modern", ExpT 76, 1964-65, 140-143. 2 Cf. BROWN, Colin; COENEN, Lothar (org.), Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento 3 , 2ª ed.; São Paulo, Vida Nova, 2000, p. 2641-2652. Cf. L. HODGSON, " Life after Death II. The Philosophers: Plato and Kant ", ExpT76, 1964-65, 107ss.; Platão, Symph. 181d, 203d; Leg. 6, 770a; 7, 802a; Platão, Leg. 2, 663b; Rep. 617d ss. e também Eth. Nic. 1 3p l095b, 14 ; cf. biõtikos, "pertencente à vida", "quotidiano", Políbió 4,73,8; Diógenes Laércio 7,22; Epicteto, Dissertationes 1, 26, 3,7.

Aristóteles expressa com grande clareza o conceito ético da vida sustentado pelos gregos; distinguindo entre os seguintes modos de vida: amante dos prazeres (apolaustikos); ativo (praktikos), político (politikos); e contemplativo (theóretikos) Mais tarde, bios adquiriu os significados concretos de subsistência, comércio e riqueza.

Na LXX, bios usualmente traduz yãmím, "dias", plural de yôm "dia", quando traduz um equivalente hebraico a LXX, seguindo o pensamento histórico do Antigo Testamento, adota principalmente o significado temporal de bios, isto é, a duração da vida.

A palavra bios não ocorre em qualquer lugar no Pentateuco ou nos Profetas, no entanto em Ct 8, 7, significa "riqueza"; e "alimento" em Pr 31, 14. O significado da palavra fica mais claro em Jó, onde ocorre 13 vezes. 4 A vida do homem, com toda a sua miséria, se assemelha a trabalhos forçados (7, 1), a uma sombra (8, 9), à vaidade (7, 16), à tristeza (15, 20). Mas por contraste, promete ao ser humano a longevidade (Pv 3:2), dádiva esta que ela segura na mão direita (Pr 3, 16), enquanto os ímpios são castigados com uma vida curta e fugaz (Sb. 2, 1, 4, 5).^5

Já em Macabeus 4, a influência helênica substitui o significado temporal de bios, adotando um significado ético. Assim como Aristóteles aplicara ao substantivo uma variedade de adjetivos, assim também 4 Macabeus o descreve como modo de vida leal à lei (nominos, 5; 36; 7: 15); reto (orthos, 1: 15); agradável (hedys, 8 :23); até divino (theios, 7: 7).

Diferentemente de zõe, bios é surpreendentemente raro no NT, 6 e ocorre apenas 11 vezes (bioõ uma só vez, em 1Pe 4:2). Podem ser achados todos os três significados que são normais no grego profano, mas com mudanças características de ênfase, bios tem um significado claramente temporal como a duração da vida. Na maioria das vezes (6 vezes) bios é empregado no sentido concreto, um pouco

(^4) Cf. D. H. GARD, "The Concept of the Future Life according to the Greek Translator of the Book of Job", 5 JBL 73, 1954, 137-143. Cf. R. Taylor, "The Eschato1ogical Meaning of Life and Death in the Book of Wisdom I-V", Ephemerides Theologicae Lovanienses 6 42, 1966, 72-137. Cf. D. HILL, "The Background and Biblical Usage of zõe and zõe aiõnios", Greek Words and Hebrew Meanings: Studies in the Semantics of Soteriological Terms, 1967, 82-201.

lado, é uma palavra mais técnica que ocasionalmente se emprega nos contextos soteriológicos onde não há referência alguma à história natural.

No grego clássico, a "vida" se refere em primeiro lugar àquela qualidade viva da natureza da qual os seres humanos, os animais e as plantas compartilham juntamente A vida no mundo grego pertencia à categoria da ciência natural,^9 sendo caracterizada pela capacidade de autolocomoção, em contraste com o movimento mecânico.

Os gregos consideravam como causa da vida a psyche (alma), que Diógenes da Apolônia imaginava como sendo uma substância etérea (aer), enquanto Xenofantes a considerava como o fôlego trêmulo (pneuma)^10. Assim como psyche e zõe ficam estreitamente juntas no pensamento grego assim também psyche e sõma (corpo) 11 ; a vida natural consiste nos componentes alma e corpo integrados.

Não somente cada indivíduo por si, como também o universo inteiro é considerado como sendo um organismo vivo (zõon empsychon, Platão, Tim. 30b) ou como sendo um mundo com uma alma (kosmos empsychos). Até mesmo os deuses, segundo se imagina, são, em larga medida, criaturas vivas (zõa), tendo a natureza bipartida em analogia com o corpo e alma humanos 12 Assim, Platão faz distinção entre seres vivos que são thneta que significa "mortais", isto é, "humanos", e athanata que expressão que dizer "imortais", ou seja, "deuses".

Os gregos consideravam que um terceiro componente era específico na vida humana: a razão, mente ou entendimento (nous). Enquanto o sõma e, até certo ponto, a psyche entram na composição da vida natural, o nous é um elemento divino que entra na vida humana de fora para dentro, realçando-a além da vida natural, geralmente dos animais, e que produz um tipo de existência que é capaz de várias alternativas ( bios). Esta idéia se expressa não meramente mediante

(^9) Cf. R. BULTMANN, Theology of the New Testament, I, 1952, 203-10, 345-352; Primitive Christianity in its Historical Setting, 1956; The Gospel of John, 1971; Cf. Platão, Leg. 10, 895c ss. Phaedr. 10 245c e ss.; Aristóteles, An. 2,2 p. 412b, 16-17; p. 413a, 22 ss. 11 Cf. H. DIELS,^ Die Fragmente der Vorsokratiker, I,^ 425, 42 Cf. L. HODGSON, " Life after Death II. The Philosophers: Plato and Kant ", ExpT76, 1964-65; Platão, 12 Phaedr. 105c e segs.; Aristóteles, An. 2, l, p 412b,7 ss. Cf. Aristóteles, Metaph 11, 7, p. 1072b, 28 'e segs; (Tim. 38c e segs.).

a grande variedade de construções no dativo que se pode achar com zaõ; patridi, "para a pátria", Demóstenes, Orationes 7: 17; patri, "para o pai", Dionísio de Halicarnasso,3, 17,7), como também mediante os adjetivos, advérbios e preposições que podem ser acrescentados, e que qualificam a "vida" como sendo boa (agathé), "ordeira" (kosmiõs), "razoável" (kata logon) ou "má" (aischra). 13

Entre os estóicos, o lema kata physin zen, "viver segundo a natureza", assumiu grande importância. Esta frase, no entanto, não dá a entender a existência instintiva, mas, sim, a vida que é virtuosa (kat' areten) ou vivida conforme a razão (kata logon) e que capacita o ser humano que de outra forma está "morto", a cumprir o propósito da sua existência, 14 ou seja, eu zen, "viver bem".

A expressão bios kata physin a "vida segundo a natureza", também se acha, neste mesmo sentido. Embora os gregos do período clássico encarassem seu ideal como envolvimento ativo nas questões públicas da polis , os estóicos, no período helenístico, idealizavam a·completa retirada do alvoroço externo do mundo e o cultivo da vida interior de cada um. Assim enquanto os estóicos distinguiam entre a vida externa e interna, o neoplatonismo diferenciava entre a vida neste mundo e a vida além deste mundo.

Conforme Plotino, o ser humano realmente possui a vida natural, mas a vida que é perfeita (teleia) e verdadeira (aléthiné) acha-se somente no domínio único da divindade (hen). O caminho a esta vida verdadeira leva, através da abnegação do corpo e da purificação (katharsis) de todas as coisas terrestres, até o momento da vista ou visão (thea), quando o ser humanos atinge a vida verdadeira e, se une com ela. 15. Em outras palavras, a vida é encarada como uma ascensão constante em vista da perfeição.

O gnosticismo, por contraste, encarava a vida como descida. zõé, que freqüentemente se associa com phõs, "luz" que é algo essencialmente divino, um fluido tangível no mundo divino, certamente uma entidade física, mas, ao mesmo tempo, uma coisa indestrutível que possui um poder vivificante, ou seja, a imortalidade. No mundo humano cotidiano, esta vida puramente divina se mistura

(^13) Cf. Pla tão,Rep.521a;Leg. 7, 806e; 3, 944c. (^14) Cf. Epíteto, Dissertationes, 1,9, 19; 2,9,7-8; 3, 1, 25-26; 4, 11, 3).· (^15) Cf. Plotino, Enêadas 1,4, 3; 6, 7, 31.

de uma pessoa, que são uma dádiva de Javé, o Senhor da vida (Gn 25:7; 47: 28; Dt 32:29; Sl 16:11; Jz 13:23). 17

A vida é, pois aquilo que se move (Sl 69: 34), o ideal da vida era o envolvimento ativo, expresso, geralmente na fome e sede (Jz 15: 18 e segs.), no ódio e amor (Gn 24:27); na saúde, bem-estar (Pv 2:19; Sl 56:13; Ml 2:9). "A vida é associada com a luz, com a alegria, com a plenitude" com a ordem e com o ser ativo (Sl 27: 1; Jó 33: 25 e segs.; Pv 3: 16; Gn 1) e é contrastada com as trevas, com a tristeza, com a vaidade, com o caos e com o silêncio, que são características dos seres mortos e inanimados.^18

A vida era concebida como um todo integrado, harmônico, não havendo as distinções, do pensamento grego, de corpo, alma e razão, ou as nossas próprias distinções entre a vida física, a vida intelectual e a vida espiritual. 19. Por essa razão é que termos como carne (Gn 6: 13), alma (Js 10: 28; Lv 17:11), espírito (1Sm 30:12) ou fôlego (Jó 27:33 ss.) são intercambiáveis com o termo vida. A vida (nepes) está no sangue 20 (Lv 17: 11, 14; Gn 9:4; Dt 12: 23) e morrer é derramar o sangue é deixar sair ou expirar a própria alma.

A vida é dádiva de Javé^21 , por isso, a freqüência ao santuário, o louvor, a aliança, eram fundamentais para o israelita, pois assim continuaria vivo (Ex 33: 18 ss; Sl 27:4; 65:5; 84:5; Pv 5: 6). Tal é a dependência em que o ser humano está de Deus, no tocante à sua vida, que o fôlego ou espírito do ser humano podem ser chamados de fôlego de Deus ou espírito de Deus (Jó 27:3 ss.; 33:4; Gn 6:3; Is 42:5); assim também Sl 104:27-30 onde Deus é louvado como o criador e preservador de toda espécie de vida, humana ou animal.^22

A vida tem uma duração e no fim dela, chega a morte (Sl 89:48; Ec 12:7) e o ser humano vai para o sheol (Jó 3: 13 ss.; Sl 6:5; 30:9; ou inferno, hades). De

(^17) Cf. H, W. Wolff, Anthropology of the Old Testament, 1974 (^18) Cf. E.E.ELLIS,Novo Dicionário Bíblico, p.1665. S. G. F. Brandon, "Life after Death IV. The After-Life in Ancient Egyptian Faith and Practice", 19 ExpT 76, 1964-65, 217-220. 20 Cf. VON ALLMEN,^ Vocabulario Biblico,^ art. Vida 21 Cf. E. E. Ellis, op. cit., p. 1656. Cf. DUFOUR, Léon Xavier et ali (Trad. Frei Simão Voigt), Vocabulário de teologia bíblica , Petrópolis, Vozes, 1972, p. 1067-1072. 22 Cf. E. E. ELLIS, idem, ibid., p. 1657

qualquer modo, portanto, a vida era prezada e só no desespero extremo se cogitava do suicídio ou da morte (Jr 20: 14 e ss.; Jó 3: 11 ss.). 23

A relação entre a vida, o sofrimento e a morte recebe atenção na narrativa mosaica da criação (Gn 1-3), no livro de Jó e em alguns Salmos. Javé é a origem da vida, o pecado é a causa da dor e da morte, 24 embora o justo também sofra e morra. Assim, não é possível identificar todo sofrimento como conseqüência imediata de pecados cometidos pela pessoa. A questão do sofrimento e da morte é mais profunda, e jaz na quebra da harmonia da Criação pela queda, e na solidariedade da humanidade em Adão. Em relação a isto, há a esperança de vida após a morte, na qual o justo será vindicado de seus tormentos (Jó 17: 1, 11-16; 19:23-27).

A confiança dos patriarcas que sobreviveriam à morte, 25 mesmo deixando de debater o meio ou método propriamente dito, surgiu juntamente com as demais bênçãos daquela era. Abraão acreditava que o poderoso Deus poderia livrar seu filho da própria morte, em Gn 22. Além disto, o relacionamento deles com Deus, e a continuada associação dEle com eles, não foram cancelados após a morte, porque Ele repetidas vezes se identificava, o Deus vivo e pessoal, como o "Deus de Abraão, Isaque e de Jacó.

Em Deuteronômio encontramos o conceito da vida estreitamente ligado ao da aliança. Por sua fidelidade a Javé, Israel terá seus dias prolongados na terra (4: 26, 40; 5: 16, 33; 11 :9; 17 :20; 30: 18; 32 :47), bênção esta que tem seu fundamento na noção de vida como duração dos dias. Já em Dt 8: 3, em um contexto de advertência ao povo, encontramos a frase: "Nem só de pão viverá o ser humano", como uma lembrança de que a vida é mais do que alimento e que para haver prosperidade na nação é necessário seguir a Javé fielmente (2:7; 14: 29; 15:10, 18).

(^23) Cf. H. H. Rowley, "The Good Life" and "Death and Beyond", The Faith of Israel, 1956, 124- 149; 150-176; G. von Rad, G. Bertram, R. Bultmann, 24 zaõ etc., TDNT II 832-875. Cf. S. H. Hooke, "Life after Death V. Israel and the After-Life", ExpT 76, 1964-65, 236-39; and "Life after Death VI. The Extra-Canonical Literature", ibid., 273-276; Dt 30, 15-20; 2Rs 5,1-27; Ecl 11,7-12,8; 40,18-27; Jr 45,1-5; Ez 47,1-12; Jo 5,1-18; 17,1-5. 25 Cf. A. J. Feldman, The Concept of Immortality in Judaism Historically Considered, 1964.

especialmente impressionante; o versículo 11 diz: “... Eis que trarei o mal sobre eles”, que relembra a exortação de Moisés em Dt 30: 15 ss. A falta de cumprimento da Lei da Aliança causou a destruição da nação (Judá) conforme Javé avisara por intermédio de Moisés. A vida oferecida não foi achada e sim o mal, por causa da maldade do povo (11: 17). Em virtude da quebra da aliança, Javé faria uma nova aliança com seu povo (31: 31; 33: 14-26), pela qual, as leis do Senhor seriam inscritas nos corações dos seus e obedecidas alegremente, o que resultaria em bênçãos, sinal de vida.

Na sua mensagem a Ezequias (21:1 e segs.), Jeremias coloca diante do povo as mesmas opções que Moisés apresentara aos antepassados da nação (21: 8) vida ou morte, que na situação em que foram apresentadas, eram muito reais - a não rendição aos babilônios levaria à morte de quase toda a população de Jerusalém - o que finalmente aconteceu.

Ezequiel é outro dos profetas que enfatizava a mensagem da vida oferecida por Javé. Em plena consonância, com a teologia da aliança, ele enfatizara que o justo viverá, e não o ímpio. Isto se o justo permanecer na prática da justiça. Ao ímpio é oferecido o convite ao arrependimento e à conversão, pois Deus não tem prazer na morte dele.

A responsabilidade do indivíduo pela sua própria vida é amplamente ressaltada, embora isso não anule a solidariedade do povo da aliança (Ez 3: 16; 18:1; 33:7). Em Ezequiel 37:1-14, no relato da visão dos ossos secos é ressaltada a noção de que é o Espírito do Senhor fonte da vida e a lembrança da antiga promessa da aliança: a terra e o bem-estar (34:26) na aliança renovada com Israel que garante a vida. 29

Nos Salmos e na Literatura Sapiencial, a ênfase recai fortemente na vida como fruto da comunhão com Javé e da prática da sabedoria. 30 A sugestão deuteronômica das duas alternativas reaparece com destaque em Provérbios, onde

(^29) Cf. V. W. C. Kaiser, Jr., op. cit., p. 245-252. (^30) Cf. G. VON RAD, Old Testament Theology, I, 1962; II, 1965 (see indexes); Genesis, 1963; and "Right eousness and 'Life' in the Cultic Language of the Psalms", The Problem of the Hexateuch and Other Essays, 1966, 243-266.

a sabedoria se apresenta como guia para a vida, enquanto a estultícia leva à morte (2:18; 3:2, 18e; 4:4).

O temor do Senhor, idéia já presente em Deuteronômio com certa freqüência (4: 10; 5 :29; 6:2; 10: 12; 17: 19; 31: 12 e segs.), em Provérbios é elevado ao lugar central na piedade israelita, e àquele que temesse ao Senhor eram reservadas as bênçãos da aliança: o prolongamento da vida (10:27), a própria vida (14:27; 19:23), o bem estar e a prosperidade (14:26; 19:23; 22:4). Também em Ecl (3: 14; 8: 12; 12:13) e nos Salmos Sapienciais (25, 34, 103, 119) a relação entre o temor do Senhor e a vida é ressaltada. 31 Assim, pois, o conceito vétero- testamentário da vida é essencialmente realista, pois a vida é a existência humana no seu dia-a-dia com todas as suas peculiaridades e alternativas.

No sentido religioso Javé é o originador da vida e o seu preservador; 32 em função da aliança que fez com Israel. É Ele que tem o governo da nação e dá ou tira a vida; no sentido comunitário é Israel que tem ou perde a vida dada por Javé, embora isto não negue a individualidade dos israelitas, o conceito de solidariedade é fortíssimo.^33 A declaração mais impressionante da piedade vétero-testamentária encontra-se no Sl 63:3: "A tua graça é melhor do que a vida", que demonstra cabalmente quanto o conceito de vida no Antigo Testamento é vinculado a Javé, o Criador da Vida. 34

A LXX freqüentemente reinterpreta o conceito vétero-testamentário da vida em termos daquele do grego zõe (cf. LXX Dt 32: 39; Sl 55: 14 [56: 13]; 118 [119]; Pv 16: 15; Jó 19:25; 33:30). Em grande medida, o judaísmo posterior adotou o conceito vétero-testamentário da vida (Meg. 27b; Taan. 20b; Ber. 55a; cf. SB IV 267, 275,629), mas, sob a influência helenística, a vida verdadeira era encarada mais e mais e freqüentemente como sendo a dádiva da vida eterna (zõe aiõnios), a "vida sem fim" (4Mac. 7:19; 15:3; 16:25; 17:12; 18:19). A partir do período dos macabeus, a crença na vida além túmulo e na vida eterna era (^31) Cf. W. C. KAISER, Jr., op. cit., p. 169-186. (^32) Cf. W. EICHRODT, Theology of the Old Testament, II, 1967, 496-529. (^33) Cf. H. H. Rowley, La Fe de Israel, 1973, p. 95-118; R. P. Shedd, Man in Community, 1962, in passim; G. E. Wright, 34 A Dourina Biblica do homem em sociedade, 1966. Cf. V. D. KIDNER, Salmos, Introdução e Comentário, 1982, in J. G. Baldwin, Daniel, Introdução e Comentário, 1983, in loco. W. C. Kaiser, Jr., Teologia do Antigo Testamento, 1980, p. 102. (Ex 3:6; cf. Mc 12:26)". Também nos Salmos (16:10; 73:24) e em Daniel (12:1 ss) encontramos a idéia da vida após a morte.

A compreensão da vida no Novo Testamento

No Novo Testamento ocorrem referências ao assunto importante que é a vida,^39 conforme se pode esperar, em todos os livros do NT. Mas é na teologia de Paulo e de João que se expressa mais claramente a doutrina da vida, 40 e é evidente que o ensino do Novo Testamento contém elementos que são vétero- testamentários, judaicos posteriores e também gregos quanto à sua origem.

O conceito vétero-testamentário da vida se evoca mais nitidamente nos Evangelhos Sinóticos. A vida natural é considerada uma possessão sem preço (Mc 8: 37). Jesus é freqüentemente conclamado a exercer seu poder a fim de que os doentes ou os moribundos vivessem (Mc 5: 23, aoristo zese, "que ela viva"; cf. Jn 4: 47 ss) ou até a restaurar a vida terrestre aqueles que já morreram (Mc 5: 35 ss; Lc 7: 11-12; Jo 11: 1-2).

Assim como no AT, empregam-se categorias temporais para a vida (Lc 1: 75; Hb 7: 3; Rm 7: 1), que é considerada uma coisa dinâmica, mas, ao mesmo tempo, limitada e transitória (At 17:28; Tg 4:14). Não é meramente uma ocorrência natural, mas sim, um evento que pode ser bem sucedido e que também pode fracassar (Lc 15:13, asõtõs zen, "viver dissolutamente"; 2Tm 3:12, eusebõs zen, "viver uma vida piedosa"). A vida verdadeira depende da palavra de Deus (Mt 4:4, citando Dt 8: 3), enquanto viver longe de Deus se descreve como sendo a "morte" (Lc 15: 24, 32).

As necessidades básicas da vida, tais como alimento e roupa, não são desprezadas, de modo algum; pelo contrário, são recebidas com gratidão, como dádivas do Criador (Mt 6:25; Lc 12:15). Deus, que pode matar e vivificar (Mt 10:28; Rm 4:17), é o Criador indisputado (At 17:125), o Senhor (Lc 12:20; At

(^39) Cf. G. E. LADD, A Theology of the New Testament, 1975, 254-269. (^40) Cf. R. W. Thomas, "The Meaning of the Terms 'Life' and 'Death' in the Fourth Gospel and in Paul", SJT 21, 1968, 199-212.

10:42; Tg 4:15) e a concretização da vida; Ele é o Deus vivo (Mt 16:16; 26:63) e o Deus dos vivos (Mt 22: 32; Mc 12: 27; Lc 20: 38).

Em contraste com a vida presente, existe a vida do porvir (Mc 10:30; 1 Tm 4:8: "A piedade tem valor, de todas as maneiras, porque tem a promessa da vida que agora é e da que há de ser (zoes tes nyn kai tes mellouses). Ela é descrita como sendo a "vida eterna" (zõe aiõnios; Mt 19:16; paralelamente Mc. 10:17; Lc 18:18; Mt25:46; cf. 2Tm 1:10; zõe kai aphtharsia, "vida e imortalidade"). 41 Esta vida é atingida, não em razão da imortalidade da alma, esta idéia grega é completamente estranha ao Novo Testamento, mas, sim, é dádiva de Deus, pois é Ele quem ressuscita os mortos (Mt 22:31-32 par. Mc 12:36-27; Lc 20: 36-37).

O fato de se referir à vida futura ocasionalmente com o emprego de zõe isoladamente, isto é, sem qualquer frase qualificadora indica que semelhante vida é considerada real e verdadeira, a própria vida de Deus mesmo (Mt l8:l8;Mc 9:43,45). Não há, porém, qualquer implicação aqui da desvalorização da vida terrestre, conforme se acha no helenismo posterior. Pelo contrário, o relacionamento do ser humano com a vontade de Deus nesta vida presente determina o seu destino na vida do porvir (Mt 19: 16 par. Mc 10: 17; Lc 18 :18; Lc 10:25).

Em Mt 7: 13-14; 13: 23-24 é retomada a idéia dos dois caminhos que se acha em Dt 30: 10; Jr 21 :8, na literatura sapiencial e inter-testamentária, em Cunrã e nos escritos cristãos posteriores. Este estreito relacionamento entre a vida presente e a futura se expressa de modo mais impressionante na parábola do juízo final (Mt 25 :31 ss.): os desobedientes padecerão o castigo eterno, enquanto os justos entrarão na vida eterna (Mt 25:46).

O conceito de Paulo da vida eterna é profundamente afetado pela ressurreição de Cristo dentre os mortos (1Cor 15: 4); esta, sendo um fato consumado, comprovou o poder da vida divina sobre a morte (Rm 14:9). O apóstolo vê Cristo como sendo a própria concretização do poder vivo de Deus,

(^41) Cf. G. R. Beasley-Murray, "The Contribution of the Book of Revelation to the Christian Belief in Immortality", SJT 27, 1974, 76-93.

Para Paulo a ressurreição de Cristo é o penhor da nossa própria ressurreição futura para a vida eterna, onde a morte e todas as imperfeições da criação presente ficarão sendo coisas do passado (Rm 8: 18). "Porque assim como em Adão todos morreram, assim também todos serão vivificados (zõopoiethesontai) em Cristo, o novo Adão"(1Cor 15: 22).^45

A nova vida não se confina ao tempo histórico, mas, sim, indica o futuro, a vida eterna, quando for vencido o último inimigo, a morte (1Cor 15: 26, 28; Rm 6: 22; Gl 6: 8). Paulo retrata a transição da vida temporal para a vida eterna em termos de um drama cósmico, da transformação milagrosa e do arrebatamento (1Ts 4: 13-17; 1Cor 15: 20). Nisto, segue a tradição apocalíptica, com o emprego de figuras de linguagem e simbolismo apocalípticos.^46 Não se enreda, no entanto, nas especulações do judaísmo posterior, confina-se, pelo contrário, a sugestões figuradas a respeito da forma que a vida futura assumirá.

Essa vida será, portanto, uma vida corporificada (1Cor 15: 35; 2Cor 5: 1. Notemos que os judeus não podiam conceber uma vida em estado desincorporado. E assim essa nova vida implica em ver a Cristo face a face (1Cor 13: 12; 2Cor 5 :7), em entrar na plenitude da justiça, da paz e da alegria (Rm 14: 17), da glória (doxa, 2Cor 3: 8-9) ou da glorificação (Rm 8: 17), mas, sobretudo, em estar com Cristo por toda a eternidade (1Ts 4: 17; 2Cor 5 :8; Fp 1:23). 47

Ocorrência e uso da temática da vida na literatura joanina

No evangelho de João o substantivo ocorre 36 vezes (17 na expressão zõe aiõnios) e o verbo 16 vezes. Em 1Joao o substantivo ocorre 13 vezes, mas o verbo

(^45) Cf. F. F. Bruce, "Paul on Immortality", SJT 24, 1971, 457-72. (^46) Cf. D. S. Russell, The Method and Message of Jewish Apocalyptic 200 B.C -A.D. 100, 1964, 353-390. 47 Cf. E. SCHMILT, "Life", EBT II, 499-503.

viver ocorre somente uma (1Jo 4:9). No Apocalipse o verbo ocorre 15, vezes e o substantivo 17. Os seguintes verbos compostos também ocorrem: zõopoieõ, três vezes no evangelista e anazaõ, uma vez, em Ap 20: 5. A mera constatação estatística já demonstra como é importante o conceito de vida em João.

Em Jo 5: 26, logos e zoe expressam o conceito vétero-testamentário de Deus como o possuidor e doador da vida que é retomado e colocado num contexto cristológico, 48 "porque assim como o Pai tem a vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo".

No Prólogo (1: 4), o logos é exaltado como Deus, que é a Palavra e se declara que "a vida estava nele, ela a vida era a luz dos homens". No capítulo 5, o contexto do v. 26 deixa claro que vida tem um sentido soteriológico; já neste versiculo (1: 4), o aspecto soteriológico é ressaltado pela definição de zõe como "luz dos humanos". É comum a conexão entre luz e vida em João (3: 16-21; 8: 12; 12: 46-50; cf. 1Jo1: 5-10; 2: 7-11), sempre com sentido salvífico. Fica claro que a vida, em João, segue o pensamento do Antigo Testamento (Sl 36:9; 104: 29; Gn 1:

  1. e o expande de modo cristológico e soteriológico.^49.

Não há um dualismo entre vida eterna em seu sentido espiritual e vida física. Há, sim, o dualismo escatológico entre vida e morte, ou entre luz e trevas. Só há uma vida verdadeira, a de Deus, e só os que recebem a Cristo têm a vida porque "Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância" (10:10). 50

A missão do Logos, em João, é apresentada como o outorgar da vida (6:

  1. e só nEle é que se encontra a vida (3: 16; 5: 26,40; 6: 53; 10:28; 1Jo 4: 9). As mesmas idéias ressurgem no Apocalipse, já no contexto pós-pascal: “Eu sou o primeiro e o último, e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da morte e do inferno” (1: 17-18; 4: 9-10).

(^48) Cf. C. H. DODD, The Interpretation of the Fourth Gospel, 1953, 144 - 150. (^49) Para os conceitos helenísticos e gnósticos da vida, cf. C. H. Dodd,A Interpretação do Quarto Evangelho; R. Bultmann, zõê, TDNT, II; D. Hill, Greek Words and Hebrew Meanings; O. Piper, "Life", 50 IDB, vol. 3; e C. K. Barrett,The Gospel According to St. John. Cf. DUFOUR, Léon Xavier et ali, Dicconario del nuevo testamento , Bilbao, Desclée de Brower, 2002, p. 589-591.

12; Jo 5: 24) e se expressa na prática do amor 53 (Jo15: 9-17; 1Jo 3: 14) e na alegria (Jo 16: 20-24).

O conceito de vida em João tem um conteúdo ético profundíssimo,^54 visto que segundo o texto "aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama e aquele que me ama será amado por meu Pai; e eu também o amarei; e me manifestarei a ele" (10 14:21); "nisto conhecemos o amor, em que Cristo deu sua vida por nós; e devemos dar a nossa vida pelos irmãos" (1Jo 3: 16; 3: 11). Assim, pois a vida eterna^55 que recebemos nos leva a repartir a vida com nossos irmãos, a respeitá-la integralmente em todas as suas formas e nos faz co- participantes da missão de Cristo para o mundo (Jo 17: 14-18)

Quando se compara João com os Sinóticos percebe-se claramente uma mudança de tom e de termos. Nos Sinóticos o tema dominante é o Reino de Deus, que ocorre só 3 vezes em João, enquanto vida é um conceito menos usado. Ao se examinar mais atentamente os conteúdos do Reino nos Sinóticos, e Vida em João, descobre-se, contudo, que ambos pertencem à mesma categoria teológica e são sinônimos.

A expressão zõe aiõnios, em João, substitui o Reino de Deus dos evangelhos sinóticos. Aquilo que é, propriamente, uma bênção futura torna-se um fato presente em virtude do futuro em Cristo. Tanto o Reino de Deus quanto a Vida Eterna são conceitos soteriológicos, teocêntricos, messiânicos e escatológicos, ambos em processo de concretização, trazidos por Jesus Cristo.

Em suma, Reino de Deus e vida eterna têm, igualmente, implicações éticas de largo alcance, que distinguem os que recebem as suas bênçãos daqueles que apenas pensam que as receberam. Ambos são conceitos exclusivos. Só há, portanto um Reino de Deus e só uma Vida Eterna, e somente em Cristo é que os seres humanos os encontram, não há, pois outro caminho (Jo 14: 6; At 4: 12), que não seja pela lei do amor, pela liberdade, pela abertura e aceitação do outro como irmão e irmã, fazendo surgir um mundo novo que já começa aqui e agora. (^53) Cf. G. E. Ladd, A Theology of the New Testament, 1975… p. cit., p. 254-285. (^54) Cf. BOGAERT, Pierre-Maurice (org) et ali, Dicionario enciclopedico de la Bíblia , Centro informática y Bíblia Abadia Maredsous, Barcelona, Herder, 1993, p. 1603. 55 Cf. F.M. DU BUIT, L. Monloubou, Dizionario biblico storico- critico , Edizioni Borla, Roma, 1987, p. 1039.

A modo de conclusão

A vida é compreendida como a origem e meta do projeto de Deus, ela está sempre em luta contra os projetos que produzem morte. O compromisso fundamental de um povo que conhece o projeto de Deus consiste em lutar de todas as formas para que a vida triunfe sobre a morte.

Em toda a Bíblia, existe um profundo sentido da vida em todas as suas formas, e um sentido muito genuíno de Deus, nos revelam que a vida, buscada pelo ser humano com uma esperança incansável, é um dom sagrado no qual Deus mesmo faz luzir seu mistério e sua generosidade.

No Antigo Testamento, Deus é vivo e chama o ser humano à vida em plenitude. Invocar, esse Deus vivo, significa apresentar-se como o servo desse mesmo Deus. Tudo isso não é só proclamar que o Deus de Israel é um Deus vivo e poderoso que age na história, mas é evocar sua extraordinária vitalidade, seu ardor absorvente que não se fatiga nem se cansa. Deus é visto, portanto, como o rei eterno, cuja ira não se pode suportar. Ele é portanto, aquele que dura para sempre, que salva e liberta, que faz maravilhas no céu e na terra.

A vida é coisa preciosa aos olhos de Deus. Ela aparece nas últimas etapas da criação, para coroá-la. Por sua vez, a terra produz outros seres vivos. Enfim Deus cria, à sua imagem e semelhança, o mais perfeito dos viventes, o ser humano. E para assegurar a continuidade e o crescimento dessa vida nascente, Deus lhe dá o dom de sua bênção.

De modo que, embora a vida do ser humano seja um tempo de penoso serviço, no entanto, está pronto a sacrificar tudo para salvá-la. Todos os seres vivos e o próprio ser humano, têm a vida apenas precariamente. Estão, por natureza, sujeitos à morte. Essa vida, com efeito, depende da respiração, Isto é, dum frágil sopro, independente da vontade e que num insignificante instante pode