Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Capítulo 8 Capítulo, Slides de Literatura

As síndromes pulmonares hemorrágicas encon- tram-se designadas na literatura médica atual como: hemorragia pulmonar, hemorragia alveolar (HA),.

Tipologia: Slides

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Selecao2010
Selecao2010 🇧🇷

4.4

(226)

224 documentos

1 / 8

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
J Bras Pneumol. 2005;31(Supl 1):S36-S43
S 36 Borges ER, Ab`Saber AM, Barbas CSV
Síndromes hemorrágicas pulmonares*
Pulmonary hemorrhage syndromes
EDUARDO DA ROSA BORGES1, ALEXANDRE MUXFELDT AB`SABER2, CARMEN SÍLVIA VALENTE BARBAS3
As síndromes pulmonares hemorrágicas encon-
tram-se designadas na literatura médica atual como:
hemorragia pulmonar, hemorragia alveolar (HA),
hemorragia intraparenquimatosa pulmonar, hemor-
ragia microvascular difusa do pulmão, etc. Esses
termos são normalmente utilizados para designar
sangramentos que se originam da microvasculatura
pulmonar: arteríolas, capilares e vênulas, muitas
vezes decorrentes de lesão envolvendo a membra-
na alvéolo-capilar. Esta revisão tem como principal
objetivo uma abordagem geral das síndromes
hemorrágicas pulmonares, com ênfase nos sangra-
mentos provenientes da microvasculatura pulmonar
e via aérea inferior, denominados a partir de agora
apenas hemorragia alveolar (HA). Esta nomen-
clatura tem a intenção de diferenciar este tipo de
sangramento de outro, muito mais comum como
causa de hemoptise, geralmente originado em
lesões focais das vias aéreas e do parênquima
pulmonar e acomete a circulação brônquica, e não
a pulmonar, e que afeta os alvéolos apenas de
maneira secundária quando o sangue proveniente
das vias aéreas maiores é aspirado.(1) Clinicamente
a HA apresenta-se como dispnéia (25% a 100%),
tosse, hipoxemia, aumento do gradiente alvéolo-
INTRODUÇÃO
arterial, hemoptise (25% a 100%), febre (25% a
100%), dor torácica (20% a 30%), anemia (75% a
100%) e imagem radiológica de infiltrado alvéolo-
intersticial (80% a 100% dos casos), geralmente
bilateral, mas podendo se apresentar de maneira
unilateral ou até lobar. A ocorrência de derrame
pleural associado à HA é um pouco mais rara.(1-3)
Além dos sintomas específicos da HA podem estar
presentes sintomas relacionados a doenças sistê-
micas que predisponham à HA, como doenças do
tecido conjuntivo e vasculites.
A presença de hemoptise, apesar de bastante
comum, não é obrigatória e deve sempre ser bem
caracterizada, sendo fundamental o diagnóstico
diferencial com hematêmese e epistaxe. Hemoptise
maciça, definida por alguns autores como expecto-
ração sanguínea maior que 600 mL/24h, raramente
está presente na HA, sendo as lesões endobrôn-
quicas ou lesões inflamatórias ou infecciosas focais as
fontes mais comuns de sangramento nestes casos.(1,4)
Os achados radiológicos são bastante inespe-
cíficos, com infiltrado alveolar difuso, predominan-
temente peri-hilar, geralmente poupando ápices e
seios costofrênicos (Figuras 1-3), o que torna a
diferenciação com edema pulmonar e infecção
Resumo
As síndromes hemorrágicas pulmonares caracterizam-se por
infiltrado pulmonar bilateral, queda dos níveis de hemo-
globina e hipoxemia. Dentre as causas de sangramento
estão as infecções, vasculites, coagulopatias e doenças do
colágeno. A terapêutica consiste do tratamento da doença
causal e suporte ventilatório, podendo ser associada a
plasmaferese.
Abstract
Pulmonary hemorrhage syndromes are characterized by
bilateral pulmonary infiltrates, decreased serum levels of
hemoglobin, and hypoxemia. The causes of pulmonary
hemorrhage include: infections, vasculitis, coagulopathies
and collagen diseases. The therapy consists of treating the
underlying disease and providing ventilatory support. In
some cases, performing plasmapheresis can be beneficial.
Descritores: Hemorragia; Infecção; Vasculite; Transtornos
da coagulação sanguínea; Doenças do colágeno Keywords: Hemorrhage; Infection; Vasculitis; Blood
coagulation disorders; Collagen diseases
* Trabalho realizado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP - São Paulo (SP) Brasil.
1. Pós-Graduando Nível Doutorado de Pneumologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP -
São Paulo (SP) Brasil.
2. Doutor em Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP - São Paulo (SP) Brasil.
3. Professora Livre-Docente de Pneumologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP -
São Paulo (SP) Brasil.
Capítulo 8
Capítulo 8
pf3
pf4
pf5
pf8

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Capítulo 8 Capítulo e outras Slides em PDF para Literatura, somente na Docsity!

S 36 Borges ER, Ab`Saber AM, Barbas CSV

Síndromes hemorrágicas pulmonares*

Pulmonary hemorrhage syndromes

EDUARDO DA ROSA BORGES 1 , ALEXANDRE MUXFELDT AB`SABER 2 , CARMEN SÍLVIA VALENTE BARBAS 3

As síndromes pulmonares hemorrágicas encon- tram-se designadas na literatura médica atual como: hemorragia pulmonar, hemorragia alveolar (HA), hemorragia intraparenquimatosa pulmonar, hemor- ragia microvascular difusa do pulmão, etc. Esses termos são normalmente utilizados para designar sangramentos que se originam da microvasculatura pulmonar: arteríolas, capilares e vênulas, muitas vezes decorrentes de lesão envolvendo a membra- na alvéolo-capilar. Esta revisão tem como principal objetivo uma abordagem geral das síndromes hemorrágicas pulmonares, com ênfase nos sangra- mentos provenientes da microvasculatura pulmonar e via aérea inferior, denominados a partir de agora apenas hemorragia alveolar (HA). Esta nomen- clatura tem a intenção de diferenciar este tipo de sangramento de outro, muito mais comum como causa de hemoptise, geralmente originado em lesões focais das vias aéreas e do parênquima pulmonar e acomete a circulação brônquica, e não a pulmonar, e que afeta os alvéolos apenas de maneira secundária quando o sangue proveniente das vias aéreas maiores é aspirado. (1)^ Clinicamente a HA apresenta-se como dispnéia (25% a 100%), tosse, hipoxemia, aumento do gradiente alvéolo-

INTRODUÇÃO

arterial, hemoptise (25% a 100%), febre (25% a 100%), dor torácica (20% a 30%), anemia (75% a 100%) e imagem radiológica de infiltrado alvéolo- intersticial (80% a 100% dos casos), geralmente bilateral, mas podendo se apresentar de maneira unilateral ou até lobar. A ocorrência de derrame pleural associado à HA é um pouco mais rara. (1-3) Além dos sintomas específicos da HA podem estar presentes sintomas relacionados a doenças sistê- micas que predisponham à HA, como doenças do tecido conjuntivo e vasculites. A presença de hemoptise, apesar de bastante comum, não é obrigatória e deve sempre ser bem caracterizada, sendo fundamental o diagnóstico diferencial com hematêmese e epistaxe. Hemoptise maciça, definida por alguns autores como expecto- ração sanguínea maior que 600 mL/24h, raramente está presente na HA, sendo as lesões endobrôn- quicas ou lesões inflamatórias ou infecciosas focais as fontes mais comuns de sangramento nestes casos. (1,4) Os achados radiológicos são bastante inespe- cíficos, com infiltrado alveolar difuso, predominan- temente peri-hilar, geralmente poupando ápices e seios costofrênicos (Figuras 1-3), o que torna a diferenciação com edema pulmonar e infecção

Resumo As síndromes hemorrágicas pulmonares caracterizam-se por infiltrado pulmonar bilateral, queda dos níveis de hemo- globina e hipoxemia. Dentre as causas de sangramento estão as infecções, vasculites, coagulopatias e doenças do colágeno. A terapêutica consiste do tratamento da doença causal e suporte ventilatório, podendo ser associada a plasmaferese.

Abstract Pulmonary hemorrhage syndromes are characterized by bilateral pulmonary infiltrates, decreased serum levels of hemoglobin, and hypoxemia. The causes of pulmonary hemorrhage include: infections, vasculitis, coagulopathies and collagen diseases. The therapy consists of treating the underlying disease and providing ventilatory support. In some cases, performing plasmapheresis can be beneficial.

Descritores : Hemorragia; Infecção; Vasculite; Transtornos da coagulação sanguínea; Doenças do colágeno

Keywords: Hemorrhage; Infection; Vasculitis; Blood coagulation disorders; Collagen diseases

  • Trabalho realizado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP - São Paulo (SP) Brasil.
  1. Pós-Graduando Nível Doutorado de Pneumologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP - São Paulo (SP) Brasil.
  2. Doutor em Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP - São Paulo (SP) Brasil.
  3. Professora Livre-Docente de Pneumologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP - São Paulo (SP) Brasil.

Capítulo 8

Síndromes hemorrágicas pulmonares S 37

bastante dificil. Infiltrados que não respeitem as cis- suras pulmonares são menos sugestivos de infecção. Na evolução radiológica, desde que não haja novo sangramento, a imagem de HA tende a desaparecer de maneira mais rápida que a de infecção, porém mais lentamente que de edema pulmona.r (1,4-5) A presença de anemia é quase obrigatória e pode apresentar características de anemia ferropriva. A queda de Hb em valor menor que 1,0 g/dL associada a um novo infiltrado radiológico é bastante sugestiva do diagnóstico.(3)^ Mesmo usando esta definição mais restrita de HA, várias podem ser as causas do sangramento, entre elas: uremia, insuficiência cardíaca congestiva, infecção, tromboembolismo pulmonar, coagulopatias, reação a drogas ou alterações da microvasculatura (primárias ou secundárias). A confirmação diagnóstica pode ser feita através

de broncoscopia com lavado broncoalveolar (LBA) ou da medida de difusão pulmonar de monóxido de carbono. A alta afinidade da hemoglobina pelo monóxido de carbono ocasiona um aumento na sua difusão. Aumento maior que 30% do valor basal ou uma medida única com 130% ou mais do valor predito são altamente sugestivos do diagnóstico. A pouca disponibilidade deste teste em nosso meio, as condições clínicas desfavoráveis dos pacientes com HA e a perda de sensibilidade do teste caso o exame não seja realizado até 48 horas após o episódio de sangramento são limitações importantes deste método. (1-3) A broncoscopia com LBA é importante não somente para confirmar o diagnóstico de HA mas também para excluir causas infecciosas ou outros sítios de sangramento. Caracteristicamente, o LBA da HA apresenta uma quantidade progressivamente maior de sangue à medida que se vai instilando soro e o broncoscopista pode observar sangramen- to proveniente de vários segmentos pulmonares. Na ausência de sangramento ativo, a pesquisa, no líquido do LBA, de macrófagos contendo hemos- siderina auxilia no diagnóstico. (1-3,6)^ Marcadores de atividade inflamatória e testes visando o diagnós- tico etiológico específico serão comentados adi- ante, assim como a biópsia pulmonar, que apresenta pouca utilidade no diagnóstico de HA, mas pode ser fundamental na pesquisa de sua etiologia. A HA pode ser uma manifestação de uma gama variada de doenças e o processo comum a todas elas é um sangramento difuso nos ácinos pulmo- nares (Figura 4). Histologicamente, a HA pode apresentar-se como um sangramento discreto com relativa preservação da arquitetura alveolar, como, por exemplo, nos casos secundários a distúrbios de coagulação, estenose mitral e inalação de subs- tâncias tóxicas, em que um aumento da pressão hidrostática na microcirculação pulmonar as- sociado a alterações da permeabilidade da barreira alvéolo-capilar parecem contribuir para o sangramento (Figura 4b). (6) Outra forma de apresentação histológica é a capilarite pulmonar (Figura 4c), que pode aparecer isoladamente ou em associação com inflamação de arteríolas e vênulas. Novamente, várias são as doenças que podem cursar com capilarite pulmonar, e sua fisiopatogenia ainda não está bem estabe- lecida. Histopatologicamente, há um infiltrado intersticial neutrofílico, com boa parte destas célu-

Figura 1. Radiografia de tórax de paciente com hemorragia alveolar mostrando infiltrado peri-hilar bilateral.

Figura 2 - Tomografia computadorizada de tórax mostrando infiltrado pulmonar peri-hilar bilateral por hemorragia alveolar.

Síndromes hemorrágicas pulmonares S 39

Alguns medicamentos (difenilhidantoína, PTU, D-penicilamida, sirolimus, por exemplo) e drogas ilícitas (cocaína) podem desencadear vasculites imunomediadas enquanto outros parecem facilitar sangramento sem vasculite em pacientes com fato- res predisponentes (abciximab, por exemplo). (3-4,15-18) Aneurismas da artéria pulmonar e seus ramos associados à doença de Behçet e da síndrome do anticorpo antifosfolípide também são descritos como causa de sangramento pulmonar. (19-22) Após a realização do diagnóstico da HA, é de suma importância a investigação de doenças que estejam causando ou contribuindo para o sangramento pois deste diagnóstico dependerá a instituição de trata- mento adequado. Para este fim deve-se iniciar com uma história clínica detalhada, incluindo pesquisa de antecedentes de doenças reumatológicas, exposição a fatores de risco, coagulopatias prévias, uso de medicamentos. O exame físico minucioso é importante no sentido de se achar dados que apontem para doenças sistêmicas como causadoras da HA, como por exemplo artrites e artralgias, petéquias, hematomas, lesões cutâneas sugestivas de vasculite, sinusiopatia de repetição, nariz em “sela” e alterações oculares. A avaliação laboratorial geral deve conter: dosa- gem de hemoglobina e hematócrito para avaliar o grau de anemia e a evolução do paciente (estabi- lidade ou nova queda de hemoglobina, leucograma (infeccioso, eosinofilia (Churg-Strauss, estrongi- loidíase), função renal e urina I para detecção de acometimento renal simultâneo e uremia, plaquetas e tempo de coagulação, pois apesar do pulmão quando íntegro, mesmo na presença de coagulo- patias, raramente apresentar sangramento espon- tâneo, alguns trabalhos mostram que na presença de fatores de risco para sangramento com con- gestão pulmonar, estenose mitral e vasculites a incidência de hemorragia é maior nos pacientes com distúrbios de coagulação, principalmente se houver plaquetopenia menor que 60.000. (3,5,7)^ Além disso, qualquer coagulopatia deve ser corrigida na presença de sangramento ativo. Fibrinogênio, dímero D e outros produtos de degradação de fibrina devem ser solicitados com o intuito de se diferenciar distúrbios primários de coagulação de uma coagulação intravascular disseminada secundária ao processo já instalado. Provas de atividade inflamatória têm mais papel evolutivo que diagnóstico. (1-3,5,7,23)^ O “status” imunológico do paciente deve ser pesquisado com sorologia para o vírus da imunodeficiência humana, história de

neoplasia ou uso de imunossupressores. Mesmo nos pacientes com vasculites sistêmicas e doenças do tecido conectivo previamente conhecidas, a exclusão de causas infecciosas para o sangramento é fundamental visto que a insti- tuição de tratamento imunossupressor na vigência de quadro infeccioso sem tratamento pode trazer conseqüências catastróficas. (3,7,24-25)^ Para tanto, devem ser solicitadas hemoculturas e cultura de urina. No LBA deve-se fazer pesquisa direta e cultura para bactérias, fungos e micobactérias, além de reação em cadeia da polimerase paraP. carinii e vírus (principalmente citomegalovírus,

Figura 4 - A) Hemorragia pulmonar difusa; B) Hemorragia recente e antiga: macrófagos com hemossiderina; C) Capilarite: neutrófilos ao longo dos septos alveolares

S 40 Borges ER, Ab`Saber AM, Barbas CSV

vírus sincicial respiratório, herpes simples e parvovírus B 19). Antigenemia para citomega- lovírus pode ser útil porém a biópsia pulmonar mostrando inclusão viral é o padrão ouro para o diagnóstico de HA secundária a infecção por citomegalovírus. A presença deStrongyloides stercoralis no líquido do LBA é diagnóstica, sendo o exame de fezes isoladamente positivo apenas sugestivo de infecção pulmonar por este parasita. No entanto, nas duas situações faz-se imperativo o tratamento da infecção parasitária antes da tera- pia imunossupressora. (5,11)^ Em pacientes com epide- miologia positiva para leptospirose, culturas de urina, do líquido do LBA e hemoculturas devem ser realizadas também em meios especiais (Fletcher, Stuart e Tween 80), assim como deve ser solicitada sorologia específica. (12,26)^ Além da pesquisa direta e da cultura para fungos no LBA, a investigação pode prosseguir com sorologia para criptococo, histoplasma,P. brasiliensis e Aspergilos. Porém, novamente a biópsia se faz necessária para o diagnóstico de certeza, principalmente em caso suspeito de aspergilose pulmonar invasiva. A HA geralmente ocorre nos pacientes já diagnosticados como portadores de vasculites ou doenças do colágeno, porém, a HA também pode ser a manifestação inicial de uma destas doenças num paciente sem diagnóstico prévio. Nos primeiros, a exclusão de causas infecciosas e a comprovação de atividade sistêmica ou em outros órgãos-alvo da doença de base confirmam a causa da HA. Já nos pacientes previamente hígidos, a investigação destas doenças se impõe. A granulomatose de Wegener é uma vasculite de pequenas e médias artérias que se caracteriza por uma inflamação granulomatosa necrotizante do trato respiratório superior e inferior e glomerulonefrite necrotizante focal ou segmentar. Desta maneira clinicamente há envolvimento pulmonar e de vias aéreas superiores em 70% a 95% dos casos, com história de infecções de repetição e a presença de nariz “em sela” que é praticamente diagnóstica. O acometimento renal ocorre em 50% a 85% das vezes no decorrer da doença, não estando necessariamente presente na abertura do quadro, mas sendo mais freqüente e geralmente de evolução mais grave quando na presença de HA. Pode haver ainda acometimento cutâneo (40% a 60%), músculo- esquelético (30% a 70%) e ocular (25% a 55% dos casos). Lesões de sistema nervoso central e cardíacas

são mais raras. Laboratorialmente, a análise do sedimento urinário mostrando hematúria e cilindros hemáticos falam a favor de lesão renal associada. Na vigência de atividade da doença, o ANCA-c tem sensibilidade de 90% a 95% e especificidade de 90%, e o ANCA-p pode estar presente em 20% dos casos. Fator reumatóide pode ser positivo em até 60% dos casos. Provas de atividade inflamatória devem estar elevadas. Nos casos de ANCA-c negativo e dúvida diagnóstica, deve-se lançar mão de biópsia tecidual. Apesar da menor sensibilidade, biópsias de lesões cutâneas e de via aérea superior devem preceder a pulmonar por serem menos invasivas. Nos casos com acometimento renal, a biópsia deste órgão evidencia uma glomerulonefrite focal necrotizante pauci-imune e é útil principalmente como diferencial de síndrome de Goodpasture, púrpura de Henoch-Schönlein, nefropatia por IgA e outras lesões que não envolvam glomerulonefrite. A biópsia pulmonar, se necessária e na vigência de HA, deve ser realizada a céu aberto ou por videotoracoscopia, devendo-se evitar a via transbrônquica. Demonstração de arquitetura pulmonar preservada e o não encontro de células inflamatórias no interstício pulmonar é o achado histopatológico típico de HA secundária a distúrbios de coagulação, inalação de substâncias tóxicas, estenose mitral e hemossiderose pulmonar idiopática. Já o encontro de capilarite é característico da poliangeíte microscópica, granulomatose de Wegener, lúpus eritematoso sistêmico e outras doenças do colágeno, como a polimiosite, doença mista do tecido conjuntivo, síndrome antifosfolípide e artrite reumatóide. A capilarite também é encontrada na HA associada a drogas. Se na biópsia pulmonar a céu aberto observarmos a presença de dano alveolar difuso o diagnóstico de lúpus eritematoso sistêmico, inalação de crack, HA associada a transplante de medula e pós-radiação devem ser considerados. (1- 2,5,23-28) A poliangeíte microscópica é uma vasculite ne- crotizante não granulomatosa de pequenos vasos que apresenta HA em 10% a 50% dos casos. O rim é afetado em quase 100% das vezes, podendo haver também artralgias e mialgias (50% a 65%), envolvimento cutâneo (50% a 65%), mononeurite multiplex (15% a 50%) e envolvimento do trato gastrointestinal (30% a 45%). Laboratorialmente caracteriza-se por insuficiência renal, sedimento urinário com proteinúria e hematúria. ANCA-p é positivo em 50% a 75% e ANCA-c em 10% a 15%.

S 42 Borges ER, Ab`Saber AM, Barbas CSV

A hipoxemia deve ser imediatamente corrigida através da administração de oxigênio por cateter nasal ou por dispositivos de CPAP e/ou BIPAP nasais pois a administração de pressão positiva nas vias aéreas, além de melhorar a oxigenação, mantém as unidades alveolares pressurizadas tendendo a estabilizar o sangramento alveolar. Nas hipoxemias não corrigidas com a administração de oxige- noterapia e/ou ventilação não invasiva, a intubação orotraqueal associada ao uso de pressão controlada e altos níveis de PEEP impõe-se propiciando a estabilização do sangramento e a melhora da oxige- nação e do quadro radiológico destes pacientes. (34) Após a estabilização do quadro hemodinâmico e respiratório deve ser coletado um LBA e o material obtido deve ser encaminhado para pesquisa de bactérias, vírus e parasitas. Na suspeita e/ou confirmação de infecção deve ser iniciada terapêutica antiviral, antibacteriana e/ou antiparasitária espe- cífica, sendo que alguns autores sugerem a intro- dução de antibioticoterapia empírica até o resultado final dos exames colhidos para avaliar a presença de infecção ou, nos casos em que houver neces- sidade de intubação orotraqueal, até que o doente seja extubado. (3) Nos casos das doenças auto-imunes deve ser imediatamente iniciada a pulsoterapia com metil- prednisolona (500 mg a 1 g via endovenosa por três dias). Há pelo menos um trabalho com lúpus eritematoso sistêmico sugerindo que a dose de 500 mg tem a mesma eficácia que a de 1 g, com menor risco de infecção, associada a imuneglobulina endovenosa e/ou plasmaferese nos casos refratários. Após a confirmação de doença auto-imune (ANCA ou fator antinúcleo positivos e/ou confirmação histo- lógica) deve ser iniciada a terapêutica imunos- supressora com ciclofosfamida (3 a 5 mg/kg/dia) endovenosa. Estes pacientes devem ser mantidos com suporte ventilatório e hemodinâmico, bem como monitori- zação de hemoglobina e hematócrito até a estabili- zação do quadro. A retirada do suporte respiratório deve ser progressiva e após a extubação deve-se instituir a ventilação não invasiva com pressão positiva, visto que há relatos de sangramento alveolar após o paciente retomar a ventilação espontânea e gerar pressão pleural negativa. A terapêutica imunos- supressora para os pacientes portadores de doenças auto-imunes deve ser mantida pelo período de um ano após a remissão da doença, com monitorização

dos efeitos colaterais das drogas utilizadas, principalmente da linfopenia no uso da ciclofosfamida. O acompanhamento com dosagem quantitativa de anticorpos específicos, ferritina e proteínas de fase inflamatória podem auxiliar na prevenção de novos episódios, já que estes parâmetros tendem a aumentar antes de uma recorrência. (1-2,6,28)

FLUXOGRAMA DE HEMORRAGIA ALVEOLAR

Suspeita diagnóstica: Infiltrado pulmonar bilateral Queda da hemoglobina Queda da PaO 2 / FiO (^2) História: Exposição a urina de rato, doenças prévias Exame clínico completo: Febre (infecção) icterícia rubínica (leptospirose) lesões de pele (lúpus eritematoso sistêmico, granulomatose de Wegener) Artralgia /artrite (lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatóide) Sinusiopatia (granulomatose de Wegener) Alteração urinária Aftas / ulceras genitais (Behçet) Exames laboratoriais: Hemograma (hemoglobina e hematócrito seriados) Coagulograma com plaquetas Fator antinúcleo Complemento ANCA Anticorpo antimembrana basal Anticardiolipina Anticoagulante lúpico Uréia e creatinina Sedimento urinário Sorologia para leptospirose Antigenemia para citomegalovírus Crioglobulinas Sorologia para vírus da imunodeficiência humana Tomografia de tórax: Caracterização do infiltrado e observação da árvore vascular Lavado broncoalveolar: Aspecto do LBA Pesquisa de hemossiderina nos macrófagos Cultura geral e pesquisa de vírus (herpes, cito- megalovírus, parvovírus) e fungos Biópsia de pele e/ou rim Biópsia pulmonar a céu aberto (se não feito o diagnóstico com os exames acima)

Síndromes hemorrágicas pulmonares S 43

Tratamento: Suporte ventilatório + reposição de hemoglobina e hematócrito + correção de coagulopatias Tratamento de infecção Pulsoterapia com solumedrol (500 mg a 1000 mg /dia 3x) Imuneglobulina endovenosa / plasmaferese Ciclofosfamida se confirmada vasculite ou doença do colágeno

REFERÊNCIAS

  1. Dweik RA, Arroliga AC, Cash JM. Alveolar hemorrhage in patients with rheumatic disease. Rheum Dis Clin North Am. 1997;23(2):395-410. Review.
  2. Green RJ, Ruoss SJ, Kraft SA, Duncan SR, Berry GJ, Raffin TA. Pulmonary capillaritis and alveolar hemorrhage. Update on diagnosis and management. Chest. 1996;110(5):1305-16. Review.
  3. Santos-Ocampo AS, Mandell BF, Fessler BJ. Alveolar hemorrhage in systemic lupus erythematosus: presentation and management. Chest. 2000; 118(4): 1083-90.
  4. Corder R. Hemoptysis. Emerg Med Clin North Am. 2003; 21(2):421-35. Review.
  5. Schwarz MI, Brown KK. Small vessel vasculitis of the lung. Thorax. 2000;55(6):502-10. Review.
  6. Cohen S. Diffuse pulmonary hemorrhage: evolutionary "flaw" or consequence of evolutionary progress? Am J Med Sci. 2002;323(3):130-9.
  7. Vincent B, Flahault A, Antoine M, Wislez M, Parrot A, Mayaud C, Cadranel J. AIDS-related alveolar hemorrhage: a prospective study of 273 BAL procedures. Chest. 2001;120(4):1078-84.
  8. Rodriguez W, Hanania N, Guy E, Guntupalli J. Pulmonary- renal syndromes in the intensive care unit. Crit Care Clin. 2002;18(4):881-95, x. Review.
  9. Capizzi SA, Specks U. Does infection play a role in the pathogenesis of pulmonary vasculitis? Semin Respir Infect. 2003;18(1):17-22. Review. 1 0. Somer T, Finegold SM. Vasculitides associated with infections, immunization and antimicrobial drugs. Clin Infect Dis. 1995;20(4):1010-36. Review.
  10. Upadhyay D, Corbridge T, Jain M, Shah R. Pulmonary hyperinfection with strongyloides stercoralis. Am J Med. 2001;111(2):167-9.
  11. Carvalho CR, Bethlem EP. Pulmonary complications of leptospirosis. Clin Chest Med. 2002;23(2): 469-78. Review.
  12. Guo X , Gopalan R, Ugbarugba S, Stringer H, Heisler M, Foreman M, Nzerue C. Hepatitis B-related polyarteritis nodosa complicated by pulmonary hemorrhage. Chest. 2001;119(5):1608-10.
  13. Bennett S, Remo J, Osborn E, Statler J. CMV-Induced hemorrhage in HIV: a case report. Chest. 2001;120(4): 374S.
  14. Vlahakis NE, Rickman OB, Morgenthaler TI. Sirolimus- induced alveolar hemorrhage. Chest. 2002; 122(4): 255S. 1 6. Dua S, Sood N. An unusual case of alveolar hemorrhage. Chest 2001;120(4):363S.
  15. Ali A, Hashem M, Rosman HS, Kazmouz G, Gardin JM, Schrieber TL. Use of platelet glycoprotein IIb/IIIa inhibitors and spontaneous pulmonary hemorrhage. J Invasive Cardiol. 2003;15(4):186-8.
  16. Kalra S, Bell MR, Rihal CS. Alveolar hemorrhage as a complication of treatment with abciximab. Chest. 2001; 120(1):126-31. 1 9. Langford CA. 15. Vasculitis. J Allergy Clin Immunol. 2003;111(2Suppl):S602-12. Review.
  17. Wiedermann FJ, Lederer W, Schobersberger W. Alveolar hemorrhage associated with antiphospholipid syndrome [letter]. Chest. 2001;120(1):323.
  18. Asherson RA, Espinosa G, Cervera R, Font J, Carles Reverter J. Catastrophic antiphospholipid syndrome: proposed guidelines diagnosis and treatment. J Clin Rheumatol. 2002:8(3):157-65.
  19. Chung MH, Lee HG, Kwon SS, Kim YS, Park SH. Pulmonary arterial aneurysms in primary antiphospholipid antibody syndrome. J Comput Assist Tomogr. 2002;26(4):608-12. 2 3. Specks U. Diffuse alveolar hemorrhage syndromes. Curr Opin Rheumatol. 2001;13(1):12-7. Review. 2 4. Roane DW, Griger DR. An approach to diagnosis and initial management of systemic vasculitis. Am Fam Physician.1999;60(5):1421-30.
  20. Lee JG, Joo KW, Chung WK, Jung YC, Zheung SH, Yoon HJ, et al. Diffuse alveolar hemorrhage in lupus nephritis. Clin Nephrol. 2001;55(4):282-8. Review.
  21. Luks AM, Lakshminarayanan S, Hirschmann JV. Leptospirosis presenting as diffuse alveolar hemorrhage: case report and literature review. Chest. 2003;123(2):639-43.
  22. Russell KA, Fass DN, Specks U. Antineutrophil cytoplasmatic antibodies reacting with the pro form of proteinase 3 and disease activity in patients with Wegener's granulomatosis and microscopic polyangiitis. Arthritis Rheum. 2001;44(2):463-8.
  23. Hernandez ME, Lovrekovic G, Schears G, Helfaer M, Friedman D, Stafford P, et al. Acute onset of Wegener's granulomatosis and diffuse alveolar hemorrhage treated successfully by extracorporeal membrane oxygenation. Pediatr Crit Care Med. 2002;3(1):63-6.
  24. Capdevila AA, Irrazábal LC, Gnocchi C, Luna MC, Rossi S, Nadal AM et al. Respiratory failure due to lupus pneumonitis: Case report and review of the literature. Clin Pulm Med. 2003;10(3):136-42.
  25. Teixeira A, Genereau T, Sutton L,Herson S, Cherin P. Implication of occult alveolar hemorrhage in Henoch- Schonlein purpura. J Clin Rheumatol. 2002;8(5):287-8.
  26. Espinosa G, Cervera R, Font J, Asherson RA. The lung in the antiphospholipid syndrome. Ann Rheum Dis. 2002; 61(3):195-8. Review. 3 2. Jaffery HH, Patel PC, Abbas M, Stagner LC. Churg Strauss Syndrome with massive hemoptysis. Chest. 2002;122(4) 256S-7S. 3 3. B a d s h a H , E d w a r d s C J. I n t r a v e n o u s p u l s e s o f methylprednisolone for systemic lupus erythomatosus. Semin Arthritis Rheum. 2003;32(6):370-7. Review.
  27. Amato MB, Barbas CS, Medeiros DM, Magaldi RB, Schettino GP, Lorenzi-Filho G, et al. Effect of a protective- ventilation strategy on mortality in the acute respiratory distress syndrome. N Engl J Med. 1998;338(6):347-54.