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literatura cante pra eu dormir
Tipologia: Notas de estudo
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Não perca as partes importantes!
É minha primeira lembrança nítida. Estava empilhando potes de
falar ao telefone, sintonizando na intensidade silenciosa de sua voz.
— Nossa, como é feia. Nosso lindo bebê. Foi só o que ele disse. Eu era o lindo bebê dela. Chamava-me assim o tempo todo. Linda? Agora eu sabia a verdade. Eu era feia. Muito feia. Não me admira que ele tenha ido embora. Nem olhou para trás. Não viu sua filha feia construindo uma torre de contos de fadas com potes de plástico brancos e amarelos, e cantando baixinho a primeira música que ela mesma compôs.
Co-omo é feia, co-omo é feia. Ao menos sei cantar. Puxei ao lado da mamãe. Posso não ter a aparência de um pássaro canoro — pareço mais uma cegonha —, mas se você fechar os olhos, vai achar lindo.
Droga. Tem um calouro nu, acorrentado ao meu armário. Não. Não está nu. De cueca. Uma cena nada bonita, garoto. Pernas finas e brancas, peito magro, braços tremendo. Meias pretas. Talvez sua mãe não tenha lavado as roupas durante as férias de primavera, e ele só tinha isso para vestir hoje.
Uma corrente de bicicleta coberta por um plástico verde-limão passa pela maçaneta do armário, desce pela cueca do pobre garoto até a perna e sobe, prendendo-se com força. Ele podia escapar se quisesse correr despido na frente de todos.
Risos abafados atrás de mim. Eu não me viro. É o que eles querem. Os sons multiplicam-se. Amplificam-se. Ganham a dimensão de uma plateia.
Eu não desconfiei de nada ao andar curvada pelo corredor, afundada em uma calça Levi’s e um blusão de moletom largos, os
Bíblia. Irônico. Não há nada bíblico em Colby e seu séquito de atletas veteranos que mantêm o colégio Port High School sob seu domínio. Apocalípticos? Funciona. Mas o fim do reinado está próximo. Os veteranos vão se formar. A não ser que, por um movimento doentio dos dados e do destino eles sejam reprovados, no próximo ano estaremos livres. Os Cavaleiros vão cavalgar em direção ao pôr do sol. Espero que os guerreiros ocultos atrás das colinas os alcancem e acabem com eles.
O garoto está falando de novo. A turma atrás de mim, perto o bastante para ouvir.
— Disseram que a Fe..., que você exige um sacrifício — estremece novamente e olha para o chão. — Toda lua cheia.
A multidão urra. O riso deve ser saudável, edificante. Mas não em Port, Michigan.
— Tudo bem. Ia dar uma tapinha no ombro dele, mas me contive. — Vamos pedir ao Sr. Finnley que corte a corrente.
Ele não cala a boca. Levanta a cabeça e faz uma careta para mim.
— Falaram que você me arrastaria para sua toca. Mais risos. O calor toma conta do meu rosto, e eu resmungo: — Não como calouros no café da manhã.
— Comer? — confuso, ele chega a juntar as sobrancelhas. — Não é isso que eles disseram que você faria.
A baderna aumenta atrás de nós. Parece que metade da escola está abarrotando o corredor.
Não virei para olhar. — Não vou machucá-lo. — Pode me nocautear primeiro? As risadas cruéis e escarnecedoras ricocheteiam pelo corredor, batendo nos armários de metal.
O garoto deve ter engolido cada palavra da lenda da Fera. Sou um gigante. Abominável. Mas uma besta enlouquecida que violenta calouros esqueléticos?
Levanto as mãos e recuo. — Pegaram você, tudo bem. — Meus olhos ardem. — Eles me pegaram também. Você está salvo. — Viro para trás e tento abrir caminho entre a muralha de corpos inflexíveis para procurar o zelador. Meus olhos estão embaçados. Droga.
Não se descontrole. Não se descontrole. Não se descontrole. — Com licença. Por favor. A parede ondulante de gargalhadas continua firme.
Precisa de um refrão mais otimista. Não consigo criar nenhum grunhido assim para completar a equação. Nem a melodia. Só essas poucas linhas que me fazem soar tão zangada. Acho que estou zangada. Mas não quero que todos saibam. Estou acostumada a apagar, queimar, rasgar, esconder, sofrer. Sempre volto para o “Co- omo é feia, co-orno é feia” e permaneço lá.
O fim do ano não chega rápido o suficiente. Se andar na ponta dos pés no ano que vem, conseguirei respirar. Como quando eles terminaram o ensino fundamental.
Scott lê meus pensamentos. — Faltam só três meses, oito dias, treze horas e vinte e nove minutos para a formatura deles.
— Por que você me ajuda? — Scott e eu éramos grandes amigos na pré-escola, e ficamos na mesma classe novamente na terceira série. Ele era magrinho, e no almoço tinha que ir à enfermaria para tomar um remédio contra a hiperatividade. Eu já era mais alta que os outros e usava óculos redondos e grossos, que me faziam parecer um bebê cabeludo que crescera demais. Meu cabelo era curto na época. Cortá- lo agora? De jeito nenhum. Onde eu me esconderia?
Scott não tem que se esconder. Não precisa me ajudar e condenar-se a pertencer eternamente ao grupo dos perdedores. Ele é bonitinho desde que ficou livre das espinhas. Acho que ele não percebe. Continua baixinho, capitão nos concursos de perguntas e
Ele dá uma risadinha, indiferente, abnegado, um perfeito Clark Kent.
— Não faço mais Educação Física. Não podem roubar minhas roupas e jogá-las na privada.
— Mas podem machucá-lo. — Você está preocupada? — Ele dá um tapinha em meu ombro. — É muito gentil, Beth. Vejo você no coro. Coro. Coro da escola. Não o meu verdadeiro coro, em Ann Arbor. Não o coro para o qual implorei que mamãe me deixasse fazer um teste quando tinha 13 anos. Não o coro só de meninas que participa de competições, no qual me sento discretamente no fundo e
— Para ouvir você cantar. Essa provavelmente foi à frase mais amável que um garoto já me disse. Não que ele estivesse sendo sincero.
Entrei na brincadeira. — Tenha cuidado. — dei um cutucão em seu braço. — Você vai destruir sua reputação.
Ele ficou sério. — Não sou gay, Beth. — Eu sei, claro que não. Ele ia dizer mais alguma coisa, mas apenas balançou a cabeça e foi embora.
Eu o desafio a dizer que não sou feia.
Bom, voltando a esta manhã. Scott já está na metade do corredor, mas eu o alcanço com facilidade. As pernas compridas das bestas avançam rapidamente.
— Obrigada, Scott. De verdade. A escola seria um inferno sem você.
Ele estica o braço como se estivesse acompanhando uma é princesa em um baile.
— Foi um prazer, madame. Uma risada fraca e trêmula sai da minha boca. Ponho o braço em cima do dele e deixo-o conduzir-me pelo corredor, grata pelo apoio.
Ele sorri para mim. Também está sem aparelho. Dentes recém- branqueados. Um pouco ofuscantes.
— Imagino o que as pessoas pensam ao ver-nos andando juntos. — eu rio, com mais força desta vez.
— O Belo e a Fera. O doutor Namar fez um ótimo trabalho em seu rosto — vamos ao mesmo dermatologista. Até agora o milagre da pele lisa não aconteceu para mim. Mas o doutor Namar continua tentando. Diz que ficarei com poucas marcas. Mas eu tenho olhos.
Scott para e olha para mim. Tem uma expressão sonhadora no rosto.
— O Belo e a Fera? Então se dançarmos a luz da lua... — É melhor você trazer um banquinho. — Como aqueles de rodinha, da biblioteca? Perfeito. Importa-se se eu conduzir? Então me sinto urna boba. Uma menina gigante estorvando o doce e pequeno Scott. Solto seu
assustadora visão. — Como eu poderei algum dia, esquecer essa coisa de aparência? Sou a Fera.
— Se acreditar nisso, eles terão vencido. — Acorde. Olhe em volta — cruzo os braços, tentando controlar a reação atrasada que me faz estremecer — eles já venceram há muito tempo.
A feiosa do contralto
Scott não está no coro, Procuro por ele depois da aula. Sem sorte. Tenho prática no Cantoras da Juventude em Ann Arbor, não posso perder tempo. Mas preciso falar com ele. Sei que ele está tentando ser simpático, mas ouvi-lo dizer coisas sobre beijos e danças dói mais que ver “A Fera” pintado, com spray verde-claro no porta-malas do meu Ford laranja.
Queria ser beijada tanto quanto qualquer outra garota de 17 anos. O gênio da feiura deu-me uma grande quantidade de hormônios. Mas por que vou pensar nisso? Quando tiver 40 anos, algum careca cego pode apaixonar-se por mim. Minha visão é péssima, então teríamos isso em comum, algo em que poderíamos basear nosso relacionamento. Sou repugnante demais até para ser tocada por um cara que enxerga. Li em algum lugar que o pico sexual das mulheres ocorre aos 38, portanto vai dar certo para mim.
sentimentos. A desgraça adora companhia. Veja Scott e eu, por exemplo.
A chuva e a neve me perseguem enquanto atravesso Detroit. Estou muito atrasada. Odeio o clima de março. A primavera aqui é escura, fria e suja. Montes de neve podre e cinza que perduram o máximo possível. Granizo e gelo, não a neve branquinha do inverno.
O trânsito está caótico esta noite, e a pobre e velha Jeannette tem medo. Todos cortam nossa frente. Nunca ouso fazer isso. Aqui é Detroit. Posso ser feia, mas ainda quero viver para cantar mais uma canção.
Finalmente, fico livre do trânsito da metrópole e entro na tranquila Ann Arbor, cidadezinha elegante de universitários, adormecida às margens de um silencioso riacho. A igreja de pedra em que cantamos, a que é tão velha quanto à cidade. Entro sutilmente no santuário, no meio do aquecimento.
Não tem problema. Já estou aquecida. Pratiquei as canções da lista durante todo o trajeto. Cantei do começo ao fim. Todas as músicas. Baixei todas as partes, não apenas meu contralto. Adoro o solo de tomo soprano da canção gospel que usamos no teste da
de CD moribundo de aula. Jeannette até que os alto falantes estourassem e cantei o solo. Era uma até verdadeira estrela no carro.
Adoro quando podemos cantar músicas gospel. Nenhuma de nós é tão purista a ponto de preferir as peças religiosas clássicas.
Todos imploraram à Terry por mais Broadway. É o que há de melhor para cantar. A maioria das meninas fica entusiasmada com as
público. Eu não admito que tenho minhas divas contemporâneas favoritas gravadas no iPod. Quem não tem? Mas quando estou me apresentando, quero mais que isso. Quero que a música tenha corpo e alma, desolação e alegria. Algum sentido, pelo amor de Deus. É tão difícil encontrar algo que signifique alguma coisa. Terry está meio deslumbrada com a Olimpíada. Não tem como sermos convidadas.
com todas cantando algo diferente em uma espécie de roda. Celebração e angústia ao mesmo tempo. Fantástico. Mas Meadow, nossa solista soprano, engasgou. Ela fez aula de canto à vida inteira e
conseguisse inúmeras vezes, até que todas estivéssemos irritadas e esgotadas. Meadow ficou aos prantos, e simplesmente desapareceu. Terry teve que emendar alguma coisa para enviar ao comitê.
A Olimpíada de Coros é em Lausana, Suíça, em julho. Terry fica colocando fotos dos Alpes e lagos e castelos e casas suíças cheias de gerânios vermelhos e bandeiras no site. Será tão deprimente quando ela receber a notícia. A resposta deve chegar esses dias. Também nos