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CADEIA PRODUTIVA DO OVO NO ESTADO DE SÃO PAULO1, Notas de aula de Produtividade

A avicultura de postura brasileira repre- senta atualmente 2,5% da produção mundial de ovos. Seu plantel de poedeiras é da ordem de 55 milhões de aves que ...

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Tucano15
Tucano15 🇧🇷

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Informações Econômicas, SP, v.30, n.1, jan. 2000.
CADEIA PRODUTIVA DO OVO NO ESTADO DE SÃO PAULO1
Sônia Santana Martins2
Ana Lúcia Lemos3
Antônio de Pádua Deodato4
Erica Salgado Politi5
Nilce M. S. Queiroz6
1 - INTRODUÇÃO 1 2 3 4 5 6
Assim como ocorreu na avicultura de
corte, na avicultura de postura também vem ocor-
rendo redução dos preços reais no varejo ao
longo dos anos, podendo-se dizer que a avicultu-
ra em geral tem contribuído significativamente
para a melhoria da dieta do brasileiro, mesmo o
de baixa renda.
A avicultura de postura brasileira repre-
senta atualmente 2,5% da produção mundial de
ovos. Seu plantel de poedeiras é da ordem de 55
milhões de aves que produzem anualmente cer-
ca de 13 bilhões de ovos.
São Paulo é o maior produtor de ovos
do País. Tomando por base os dados publicados
pela União Brasileira de Avicultura (UBA), que
elabora suas estimativas de produção a partir de
dados sobre a produção de matrizes e de pintos
comerciais, São Paulo responde por 40% da pro-
dução nacional, seguido pelo Paraná (11%),
Minas Gerais e Rio Grande do Sul (8,5% cada
1Versão revista e atualizada de texto apresentado para
discussão no Workshop sobre a Cadeia Produtiva do Ovo
MARTINS, 1997, promovido pela Secretaria de Agricultura
e Abastecimento do Estado de São Paulo, em fevereiro de
1997, no auditório do IEA. Nos anexos são apresentados
os depoimentos das pessoas que participaram do
workshop.
2Engenheiro Agronômo, Doutor em Economia, Pesquisa-
dor Científico do Instituto de Economia Agrícola (IEA).
3Engenheiro de Alimentos, Doutora em Tecnologia de
Alimentos, Pesquisador do Instituto de Tecnologia de
Alimentos (ITAL).
4Médico Veterinário, Pesquisador do Instituto de Zootecnia
(IZ).
5Zootecnista, Mestre em Produção Animal, Pesquisador do
Instituto de Zootecnia (IZ).
6Médico Veterinário, Pesquisador do Instituto Biológico
(IB).
um), Pernambuco (6%), Ceará (4,5%) e Goiás
(3,7%). Além de abastecer seu mercado con-
sumidor, o Paulo exporta ovos para outras
Unidades da Federação e para o exterior, embo-
ra a dimensão das exportações para o estrangei-
ro não tenha maior significado.
A produção brasileira de matrizes e
pintos comerciais para postura também se con-
centra em São Paulo, assim como as indústrias
que processam o ovo para produzi-lo em
ou líquido, destinado basicamente à indústria
alimentícia, especialmente na produção de maio-
neses, massas e biscoitos, achocolatados, etc.
Este trabalho objetiva descrever o fun-
cionamento da cadeia produtiva do ovo do Esta-
do de São Paulo, inclusive no aspecto da apro-
priação da renda por ela gerada, bem como ana-
lisar sua situação atual e perspectivas.
2 - CARACTERIZAÇÃO DA CADEIA
Na figura 1 apresenta-se o fluxograma
da cadeia produtiva de ovos, tal como ela está
estruturada no Estado de São Paulo. A montan-
te da produção de ovos está a produção do
material genético desenvolvida em outros países
(bisavós) e a produção local de avós (criadas a
partir de ovos importados), de matrizes e de pin-
tos comerciais para postura, que são adquiridos
pelas granjas produtoras de ovos para formar seu
plantel de poedeiras.
Ainda a montante das granjas estão as
indústrias químico-farmacêutica, de equipamen-
tos, de embalagens e de rações comerciais, em-
bora hoje a grande maioria das granjas, devido à
necessidade de reduzir custos de produção, pro-
duzam ração para uso próprio.
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CADEIA PRODUTIVA DO OVO NO ESTADO DE SÃO PAULO^1

Sônia Santana Martins^2 Ana Lúcia Lemos^3 Antônio de Pádua Deodato^4 Erica Salgado Politi^5 Nilce M. S. Queiroz^6 1 - INTRODUÇÃO^1 2 3 4 5 6 Assim como ocorreu na avicultura de corte, na avicultura de postura também vem ocor- rendo redução dos preços reais no varejo ao longo dos anos, podendo-se dizer que a avicultu- ra em geral tem contribuído significativamente para a melhoria da dieta do brasileiro, mesmo o de baixa renda. A avicultura de postura brasileira repre- senta atualmente 2,5% da produção mundial de ovos. Seu plantel de poedeiras é da ordem de 55 milhões de aves que produzem anualmente cer- ca de 13 bilhões de ovos. São Paulo é o maior produtor de ovos do País. Tomando por base os dados publicados pela União Brasileira de Avicultura (UBA), que elabora suas estimativas de produção a partir de dados sobre a produção de matrizes e de pintos comerciais, São Paulo responde por 40% da pro- dução nacional, seguido pelo Paraná (11%), Minas Gerais e Rio Grande do Sul (8,5% cada (^1) Versão revista e atualizada de texto apresentado para discussão no Workshop sobre a Cadeia Produtiva do Ovo MARTINS, 1997, promovido pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, em fevereiro de 1997, no auditório do IEA. Nos anexos são apresentados os depoimentos das pessoas que participaram do workshop. (^2) Engenheiro Agronômo, Doutor em Economia, Pesquisa- dor Científico do Instituto de Economia Agrícola (IEA). (^3) Engenheiro de Alimentos, Doutora em Tecnologia de Alimentos, Pesquisador do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL). (^4) Médico Veterinário, Pesquisador do Instituto de Zootecnia (IZ). (^5) Zootecnista, Mestre em Produção Animal, Pesquisador do Instituto de Zootecnia (IZ). (^6) Médico Veterinário, Pesquisador do Instituto Biológico (IB). um), Pernambuco (6%), Ceará (4,5%) e Goiás (3,7%). Além de abastecer seu mercado con- sumidor, São Paulo exporta ovos para outras Unidades da Federação e para o exterior, embo- ra a dimensão das exportações para o estrangei- ro não tenha maior significado. A produção brasileira de matrizes e pintos comerciais para postura também se con- centra em São Paulo, assim como as indústrias que processam o ovo para produzi-lo em pó ou líquido, destinado basicamente à indústria alimentícia, especialmente na produção de maio- neses, massas e biscoitos, achocolatados, etc. Este trabalho objetiva descrever o fun- cionamento da cadeia produtiva do ovo do Esta- do de São Paulo, inclusive no aspecto da apro- priação da renda por ela gerada, bem como ana- lisar sua situação atual e perspectivas. 2 - CARACTERIZAÇÃO DA CADEIA Na figura 1 apresenta-se o fluxograma da cadeia produtiva de ovos, tal como ela está estruturada no Estado de São Paulo. A montan- te da produção de ovos está a produção do material genético desenvolvida em outros países (bisavós) e a produção local de avós (criadas a partir de ovos importados), de matrizes e de pin- tos comerciais para postura, que são adquiridos pelas granjas produtoras de ovos para formar seu plantel de poedeiras. Ainda a montante das granjas estão as indústrias químico-farmacêutica, de equipamen- tos, de embalagens e de rações comerciais, em- bora hoje a grande maioria das granjas, devido à necessidade de reduzir custos de produção, pro- duzam ração para uso próprio.

Martins, Sônia

Figura 1 - Fluxograma da Cadeia Produtiva do Ovo. Fonte: Relatório interno preliminar da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, MARTINS et al. (1996). Importação de ovos de avós

Martins, Sônia

produtores. Dada a perecibilidade do produto^10 e a produção em fluxo contínuo, as variações de preço viabilizam a manutenção do escoamento da produção. O ajuste da oferta à demanda é mais difícil que no caso do frango, não só porque a coordenação da cadeia é menos centralizada mas também porque o nível de produção depen- de do plantel de poedeiras cuja formação demora quase 5 meses e cujo descarte antecipado é um prejuízo razoável e um risco de perda de lucro, caso os preços do ovo venham a se recompor. Os supermercados se abastecem com diversos atacadistas para comprar a preços me- nores e os contratos de fornecimento são de curto prazo para permitir renegociações freqüen- tes de preço. Seus prazos de pagamento no segundo semestre de 1995 eram superiores a vinte dias, sendo que algumas redes só compra- vam com prazo de 45 dias. Os negócios do ata- cado com o criador, por outro lado, envolviam prazo de pagamento de pelo menos 7 dias. Na distribuição varejista dos produtos avícolas a importância dos supermercados é crescente, como será analisado no capítulo refe- rente a consumo. Eles negociam com os ataca- distas de ovo e também com os frigoríficos em posição de força, exigindo prazos de pagamento longos e escolhendo fornecedores que ofereçam bons preços, sendo diferente apenas a situação dos grandes frigoríficos que têm marcas próprias conhecidas do público e, mesmo assim, apenas no que se refere aos produtos industrializados ou recortados. As condições de pagamento ofereci- das ao pequeno varejo, especialmente no que se refere a prazos de pagamento, por parte dos fri- goríficos e dos atacadistas de ovo, são menos vantajosas que as oferecidas aos supermerca- dos. Os supermercados constituem o tercei- ro elo forte das cadeias produtivas do frango e do ovo. Segundo CYRILLO (1987, p.20), ‘na atuali- dade o mercado do varejo de alimentos brasileiro é dominado por grupos de grandes empresas modernas, regionalmente estabelecidos. Ao mes- mo tempo coexistem com elas pequenas firmas (^10) Note-se que o ovo dura oito a dez dias sem refrigeração, passando então a perder qualidade. O giro normal do produto nos depósitos do atacado é de 1a 2 dias, podendo chegar a 2 ou 3 dias no máximo. Nos EUA e na Europa o ovo vai para a geladeira já na granja, enquanto no Brasil só é mantido resfriado na casa do consumidor. de cunho tradicional ou não, que, em termos individuais, participam modestamente deste mer- cado, ocupando espaços marginais e/ou menos- prezados, até o presente, pelo segmento moder- no do setor. Adicionalmente observa-se, nos veí- culos de comunicação, a propaganda das quali- dades e vantagens oferecidas por determinadas empresas do setor. Estas características - grupo dominante, diferenciação de produto e coexistên- cia com firmas marginais - são consistentes com as hipóteses associadas ao modelo teórico de oligopólio diferenciado com franja’”. 2.1 - Detalhamento das Características da Pro- dução Comercial de Ovos em São Paulo A produção paulista de ovos, segundo levantamento do IEA, concentrava-se, em 1996, nas Divisões Regionais Agrícolas de Marília (24%), Araçatuba (13%), Sorocaba e Presidente Prudente (12%), São José dos Campos (11%) e Campinas (10%), não diferindo significativamente do observado na década passada. Está havendo um processo de aumen- to de escala produtiva nas granjas. A Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IB- GE) cadastrou, em 1984, cerca de 700 granjas com capacidade superior a dez mil poedeiras no Estado de São Paulo. Em Bastos, município mai- or produtor de ovos do Estado, quase todas as granjas atualmente superam esse plantel, sendo que está em curso um processo de absorção das granjas pequenas pelas maiores. Pessoas diretamente ligadas ao setor dizem que a escala mínima atual seria de 40. poedeiras, que viabilizaria a montagem de fábrica de ração e de equipamentos de classificação na própria granja. Há granjas muito grandes, que chegam a ter mais de 1,5 milhão de poedeiras. O Levantamento Censitário de Unidades de Produção Agrícola (Projeto LUPA), realiza- do pela Secretaria de Agricultura e Abastecimen- to em 1995 e 1996 (PINO et al., 1997), mostra os dados para a avicultura de postura apresentados na tabela 1. Nesse censo agrícola foram levantadas todas as aves existentes nas propriedades, e constatou-se que em 18.069 propriedades havia plantéis de até 200 cabeças, que não podem ser

Cadeia Produtiva do Ovo

TABELA 1 - Estrutura da Avicultura de Postura Paulista, Estratificação das Granjas por Número de Aves, 1995 e 1996 Estrato (no^ de aves) Número de UPAs Aves acumuladas (cabeça) Número de aves Número médio Participação percentual Participação acumulada (%) Menos de 200 18.069 689.996 38 1, 200 a 1.000 526 166.170 166.170 316 0,4 0, 1.001 a 5.000 143 596.350 430.180 3.008 1,1 1, 5.001 a 10.000 123 1.616.720 1.020.370 8.296 2,5 4, 10.001 a 20.000 163 4.199.743 2.583.023 15.847 6,4 10, 20.001 a 50.000 224 11.905.804 7.706.061 34.402 19,2 29, 50.001 a 150.000 141 24.659.111 12.753.307 90.449 31,8 61, 150.001 a 200.000 12 26.806.412 2.147.301 178.942 5,4 66, 200.001 a 250.000 6 28.159.946 1.353.534 225.589 3,4 70, 250.001 a 300.000 6 29.906.946 1.747.000 291.167 4,4 74, 300.001 a 500.000 9 33.741.92 3 3.834.977 426.109 9,6 84, Mais de 500.001 8 39.369.574 5.627.651 703.456 14,0 98, Total parcial 1 1.361 39.369.574 39.369.574 28.927 98,3 98, Total geral 19.430 40.059.570 40.059.570 2.062 100,0 100, (^1) Refere-se ao total, excluídas as granjas com menos de 200 aves. Fonte: Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Projeto LUPA. considerados de finalidade comercial. Os plantéis entre 200 e 1.000 aves, existentes em 526 uni- dades de produção, embora provavelmente des- tinados à produção comercial, abastecem merca- dos locais e não se enquadram no padrão da avicultura industrial em que as aves são de linha- gens especializadas, a alimentação é feita com ração balanceada e exige uma certa escala de produção. Somados, os planteis de até 10. aves representam 5,7% do plantel total do Esta- do, aí incluídos os plantéis de até 200 aves que correspondem a 1,7% do total e correspondem a criações de galinhas caipiras criadas soltas e destinadas ao consumo familiar de carne e ovos. Na faixa de 1.000 a 10.000 aves há 266 unidades agrícolas de produção, cujo plantel ainda está abaixo da escala mínima, devendo tratar-se de criações implantadas há muitos anos, quando a escala usual era menor. A granja modal de postura possui de 20.000 a 50.000 aves alojadas e pode ser consi- derada uma granja comercial pequena. Nessa faixa de plantel há 224 granjas que possuem 19,2% do total de poedeiras do Estado. Na faixa 50.000 a 150.000 aves estão 141 granjas que reúnem 31,8% do plantel total. Acima de 150.000 aves, o número de granjas é bem menor, são 41 granjas que detêm mais de 38% do rebanho total, sendo que as oito maiores granjas, com número de aves médio superior a 700.000 aves, respondem por 14% do plantel total. A distribuição regional do plantel paulis- ta de poedeiras, segundo a atual regionalização da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, cujas unidades são os Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDRs), está apresentada na tabela 2. 2.2 - Aspectos Técnicos da Avicultura de Pos- tura Dada a estreiteza da margem de lucro da atividade, acredita-se que seja grande a ho- mogeneidade técnica das granjas em produção, pois os granjeiros pouco eficientes não consegui- riam se manter no negócio. A produtividade das galinhas usada pe- la Associação Paulista de Avicultura (APA) nos seus custos de produção é 72%. Esse índice quer dizer que, a cada dia, cerca de 72% das poedeiras alojadas produzem um ovo, ou que

Cadeia Produtiva do Ovo

cada poedeira põe um ovo em 72% dos seus dias de vida produtiva. Há, contudo, criações em que os índices são mais elevados, ultrapassando 82%. Segundo a União Brasileira de Avicultores (UBA), a produtividade média anual das poedei- ras brasileiras e paulistas, idênticas, foi de 77% e 79% em 1995 e 1996, respectivamente, caindo para 67% nos dois anos seguintes. O consumo atual das poedeiras em fase de produção está em torno de 1,8kg de ra- ção por dúzia de ovos produzida, 10% inferior ao consumo observado dez anos atrás. Esse au- mento da conversão da ração em ovo decorreu tanto do melhoramento genético e de técnicas mais adequadas de manejo das poedeiras quan- to do melhor conhecimento das suas necessida- des nutricionais e da formulação mais adequada das rações. 2.3 - Aspectos Genéticos, de Manejo, Sanitá- rios e de Pesquisa A cadeia de produção de ovos comer- ciais se inicia bem longe do País, pois as linha- gens presentes no mercado brasileiro são oriun- das dos EUA e da Europa onde é feita a pesqui- sa para o desenvolvimento e melhoramento ge- nético e são produzidas as avós. As linhagens de avós são importadas. Aqui no Brasil, em granjas especiais conhecidas como avozeiras, elas são criadas e produzem as matrizes, que são vendidas para granjas matrizei- ras onde são produzidos os ovos de pintos co- merciais, que podem ser vendidos para incuba- dores ou incubados na própria matrizeira e ven- didos na forma de pintinhos de um dia para as granjas de postura, onde são criadas e vão pro- duzir os ovos para consumo. Os pintinhos do sexo masculino são descartados. Ao referir-se à avicultura de postura brasileira, MARTINS (1996) observa que “Tam- bém as linhagens de postura aqui utilizadas são poucas e estrangeiras, prevalecendo no mercado de matrizes de poedeiras brancas a Isa Babcock com 45% de participação, vindo a seguir a Hy Line com 30%, a Lohman LSL com 15% e a Ha- ver com 10%^11_. No mercado de matrizes de poe-_ (^11) Segundo informação de técnicos de empresas avozeiras. O avozeiro da Isa Babcock no Brasil é sua filial brasileira, o da Hy Line é a Granja Ito, o da Lohman, a Granja Planal- to, e o da Haver a Coopercotia, sendo que só a Isa comer- deiras vermelhas a ordem de importância das linhagens é: Isa Brown, Hyline Brown, Lohman Brown e Hysex, para as quais não consegui- mos os percentuais de participação. Note-se que as poedeiras vermelhas representam cerca de 30% do total do plantel nacional. O número de linhagens de postura utilizadas no Brasil redu- ziu-se pois, segundo SORJ; POMPERMAYER; CORRADINI (1982), em 1980 havia 23”. Na granja de postura comercial, as aves recém-saídas do ovo são criadas até os 45 dias em instalações especiais fechadas com aquecimento e iluminação que devem ser muito bem limpas e desinfetadas antes de recebê-las, além de ficar vazias durante certo tempo entre a saída de um lote e a entrada de outro, para evitar qualquer contaminação, o que constitui o “vazio sanitário”. Dos 45 aos 120 dias de idade as fran- gas são “recriadas” em instalações mais abertas, igualmente limpas e desinfetadas. Com 120 dias de idade são transferidas para os galpões de produção, onde ficam alojadas em gaiolas sus- pensas até o final do período de produção, quan- do são descartadas e vendidas. Para cada período de vida das aves existe uma série de recomendações que devem ser rigorosamente seguidas. No que se refere à nutrição, a ração deve ser adequadamente formulada com níveis nutricionais adequados para cada idade da ave. No que se refere à profi- laxia de doenças é necessário traçar e seguir um programa de vacinação a ser administrado às aves e um programa higiênico sanitário a ser seguido pela granja, que inclui o isolamento dos diversos núcleos, limpeza, lavagem, desinfecção e descanso das instalações, e um programa de monitoramento dos lotes de aves para as di- versas doenças às quais as aves são susceptí- veis, o controle bacteriológico da água bebida, o controle de ectoparasitas, o controle de roedores, etc. O manejo das aves é feito de acordo com a idade. Para cada fase da vida da ave exis- te uma série de medidas de manejo a ser prati- cada; entre as quais inclui-se o corte do bico (debicagem), o método de arraçoamento, o ma- nejo das cortinas dos galpões de pintinhos, a pulverização de desinfetantes nas aves, a limpe- za das instalações com aves, a melhoria da venti- cializa matrizes para vários matrizeiros no Brasil e América Latina, pois os outros avozeiros vendem exclusivamente as pintinhas comerciais.

Martins, Sônia

lação entre os galpões, o manejo de esterco, etc. Entre as práticas recomendadas para a obtenção de boas produtividades e custos bai- xos destacam-se as consideradas mais difíceis de serem implantadas e praticadas, que são:

  1. programa higiênico sanitário; 2) treinamento de mão-de-obra: a mão-de-obra contratada para execução de serviços neste setor deve ser bem treinada e conscientizada de que trabalha com um produto que é perecível e vem embalado da produção e tem de chegar ao consumidor com a melhor qualidade possível, portanto, tudo que se faz nesta etapa da produção é para manter a qualidade dos ovos, pois não há como melhorá- la, mas pode-se piorá-la muito; e 3) processa- mento de ovos: que ocorre num armazém da própria granja, que recebe toda a produção de ovos e os prepara para a comercialização, atra- vés de um processo de limpeza, classificação e embalagem. É muito importante que a construção do armazém seja adequada à fácil higiene e lim- peza dos equipamentos e da instalação. A pesquisa avícola feita aqui no Brasil está relacionada principalmente a aspectos de sanidade, manejo, arraçoamento e ambientação, temas desenvolvidos pelas universidades paulis- tas, nos departamentos de veterinária e zootec- nia, bem como no Instituto de Zootecnia da Se- cretaria de Agricultura e Abastecomento do Esta- do de São Paulo. O Instituto Biológico, outro órgão de pesquisa da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, teve importante papel de apoio ao desenvolvimento da avicultura paulista, desde seu início, principalmente nos aspectos relacio- nados à sanidade e profilaxia de doenças. Atual- mente sua atuação na pesquisa relacionada à avicultura de postura concentra-se no Laboratório de Patologia Avícola de Bastos, fruto de um con- vênio entre a Secretaria da Agricultura, a Prefeitu- ra Municipal de Bastos e o Sindicato Rural de Bastos, município onde existem cerca de 120 granjas com plantel de aproximadamente 8 mi- lhões de aves. Atualmente estão sendo desenvolvidos no Laboratório de Bastos os seguintes trabalhos: Melhoria da conservação da qualidade do ovo para o consumo; Incidência, monitoria e controle de salmoneloses; Controle de ectoparasitas; e Qualidade da matéria-prima de origem animal utilizada na fabricação de ração. O Laboratório procura desenvolver a pesquisa de forma dirigida, de modo que os resultados sejam divulgados e paulatinamente postos em prática pelas granjas. Além disso, desenvolve um trabalho de orienta- ção e assistência veterinária às granjas da região, que inclui visitas, coleta de material, execução de exames sorológicos e bacteriológicos para diag- nósticos e monitoramento dos planteis das gran- jas, organização de palestras técnicas para avi- cultores, técnicos e pessoal especializado em geral. Até 1993, a maior preocupação do corpo técnico do laboratório era com agentes (bactérias, fungos e vírus) causadores de morta- lidade e queda de produção. Hoje há grande preocupação também com agentes que às vezes passam despercebidos na granja, mas que po- dem estar presentes nos produtos de origem avícola e que causam sérios casos de toxi- infecção humana, como por exemplo S. enteriti- des. Por causa disso o trabalho de orientação das granjas redobrou, pois a primeira tarefa a desempenhar passou a ser conscientizar o pro- dutor de que ele produz alimentos para o ser humano, que devem ter a melhor qualidade pos- sível. 3 - OBJETIVOS DA CADEIA E DE CADA ATOR COMPONENTE A cadeia se estruturou tendo em vista a produção de ovos, sendo nada mais que um sistema no interior do qual há divisão de trabalho em atividades correlacionadas e interdependen- tes. O objetivo maior de cada ator é a ob- tenção de lucro e o crescimento da empresa, como acontece normalmente na economia capi- talista. Na busca do lucro ou da ampliação da fatia de mercado, os vários agentes tentam redu- zir custos e ampliar receitas através das melho- res técnicas de administração de recursos e da utilização das melhores tecnologias produtivas disponíveis. A rentabilidade e o risco característicos dos vários elos da cadeia são diferenciados, ha- vendo estudos que mostram ser a atividade cria- tória a menos rentável de toda a cadeia, como se verá mais adiante. 4 - DIMENSÃO ATUAL E IMPORTÂNCIA DA CADEIA

Martins, Sônia

1.000. 1.200. 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 OOVOSPMD RBSSP Figura 2 - Produção Paulista de Ovo (OOVOSPMD)^1 e Renda Bruta da Cadeia em São Paulo (RBSSP)^2 , 1970 a 1994. (^1) Em mil dúzias. (^2) Em R$1.000 de set./95. Fonte: Instituto de Economia Agrícola.

1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 OOVOSPM D VARDZ(100.000) Figura 3 - Evolução da Produção Paulista de Ovos (OOVOSP)^1 e Preço do Ovo Branco Grande no Mercado Varejista (VARDZ)^2 , 1970 a 1994. (^1) Em mil dúzias. (^2) Em R$/dz., multiplicado por 100.000. Fonte: Instituto de Economia Agrícola. pois geralmente os locais de exposição a ele designados são de pouca visibilidade, assim como de que as opções de tamanho de embala- gem se restringem a caixinhas de uma dúzia ou bandejas de trinta unidades, alegando que essas falhas na apresentação e exposição do produto não estimulam o consumo. Nota-se, contudo, nos últimos anos, uma diversificação do ovo e uma tentativa de imprimir marca ao produto. Já estão nos su- permercados ovos com baixo nível de coleste- rol, ovo “caipira”, ovo em embalagens plásticas transparentes e embalagens de 6, 12 e 18 unidades. Entre os produtos industrializados, destinados basicamente à indústria de alimen- tos, está sendo lançado o ovo em pó para

Cadeia Produtiva do Ovo

TABELA 3 - Estimativa do Valor Bruto da Agricultura, Produtos Classificados de Acordo com os Valores de 1997/98, Estado de São Paulo, 1993/94 a 1997/ (em R$1.000,00 de maio de 1998^1 ) Produto 1993/94 1994/95 1995/96 1996/97 1997/ Cana-de-açúcar 2.624.020 2.542.020 3.062.620 3.149.940 3.222. Laranja 1.018.020 688.190 804.040 900.590 1.245. Carne bovina 987.130 817.070 783.930 763.430 771. Café 748.074 265.256 409.193 505.082 725. Carne de frango 548.677 518.451 611.198 664.711 667. Ovos 480.736 302.250 362.129 476.083 526. Leite C 458.391 437.290 527.169 439.072 417. Milho 410.987 329.017 356.914 296.626 338. (^1) Valores trazidos para maio de 1998 pelo IGP-DI. Fonte: PROGNÓSTICO AGRÍCOLA (1998). TABELA 4 - Plantel de Poedeiras e Produção de Ovos, São Paulo e Brasil, 1995 a 1998 Estado/País 1995 1996 Plantel de poedeiras (1.000u.) Produção de ovos (30 mil dz.) Plantel de poedeiras (1.000u.) Produção de ovos (30 mil dz.) São Paulo 23.399 1.494 22.717 1. Brasil 58.250 3.719 56.000 3. Estado/País 1997 1998 Plantel de poedeiras (1.000u.) Produção de ovos (30 mil dz.) Plantel de poedeiras (1.000u.) Produção de ovos (30 mil dz.) São Paulo 22.181 1.242 23.912 1. Brasil 52.074 2.916 56.513 3. Fonte: União Brasileira de Avicultura. 0, 10, 20, 30, 40, 50, 60, 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 PRG ATG VARGC X Figura 4 - Evolução do Preço^1 do Ovo Branco Grande nos Três Níveis de Mercado^2 , Estado de São Paulo, 1970-94. (^1) Em R$/cx.30dz. (^2) Ao Produtor (PRG), Atacado (ATG) e Varejo (VARGCX). Fonte: Instituto de Economia Agrícola.

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TABELA 5 - Participação Percentual dos Equipamentos Varejistas na Venda de Ovos Equipamento POF-1981/82^1 POF-1991/92^2 APA 1994 Supermercado 20, 6 51, 3 40 Avícola 3, 4 12 19 Feira 20 18, 3 29 Atacadista 36, 5 12 ... Bar 14, 6 3, 3 ... Armazém 4, 2 6, 4 ... Outros 0, 15 8, 7 12 Total 100 100 100 (^1) Refere-se à região metropolitana de São Paulo. (^2) Refere-se ao Estado de São Paulo. Fonte: Pesquisas de Orçamentos Familiares FIPE/USP e pesquisa encomendada pela Associação Paulista de Avicultores, GUIA Aves & Ovos, fevereiro de 1995. observados de 1994 a 1998 no mercado ataca- dista de São Paulo, são apresentados na tabela 6 para ilustrar as diferenças de preço entre os tipos. Os supermercados comercializam ape- nas os ovos grande e extra. O ovo tipo industrial é todo comercializado por “marreteiros” nos bair- ros de periferia. O ovo pequeno e o médio são adquiridos principalmente por restaurantes e co- zinhas industriais. Há uma estacionalidade nos preços do ovo, decorrente de estacionalidades na produção e no consumo. Segundo um estudo desenvolvido no IEA, levando em conta dados do período 1985-94, nos meses de fevereiro a agosto os pre- ços do ovo grande costumam ficar acima da mé- dia anual e, nos demais meses, abaixo. Comen- ta-se, porém, nos meios conhecedores do mer- cado de ovos, que a estacionalidade do consumo estaria mudando nos últimos anos. 7 - ALOCAÇÃO ECONÔMICA POR ELO DA CADEIA PRODUTIVA Apresentam-se a seguir trecho e figura 5 extraídos de MARTINS (1996, p.54 e 55), que mostram a apropriação, por parte de criadores, atacadistas e varejistas, do preço final do ovo no varejo da cidade de São Paulo. Na parcela apropriada pelo produtor estão embutidas as parcelas apropriadas pelos fornecedores de in- sumos ao criador, quais sejam, os produtores de pintos, de ração, de medicamentos, de embala- gens, de energia e de equipamentos. Nas parce- las apropriadas pelo atacadista e varejista já es- tão descontados o custo de compra do ovo. “Dividindo o preço do ovo ao produtor e margens brutas do atacado e varejo pelo preço de varejo obtém-se a quota de participação de cada agente no preço de varejo, que é usualmen- te chamada de margem relativa de comer- cialização. A quota do produtor, preço recebido não descontado de nenhuma despesa e a dos demais agentes, já descontada das despesas mais relevantes, em termos percentuais, podem ser visualizadas na figura 5. Como fica bem claro na figura 5, a participação da renda bruta do produtor no pre- ço de venda no varejo cai constantemente ao longo do período, enquanto crescem as partici- pações das margens brutas do atacado e do varejo. Paralelamente à redução do preço do ovo em todos os níveis de mercado, ver figura 4, houve aumento da fração do preço do varejo apropriada pelos agentes engajados na circu- lação, em detrimento da fração apropriada pelo produtor. Note-se ainda que, a partir de 1980, a participação do atacadista supera, sistematica- mente, a do varejista, invertendo a situação anterior.”

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TABELA 6 - Preços Médios por Tipo de Ovo, Mercado Atacadista, Cidade de São Paulo, 1995 a 1998 (R$ por caixa de 30dz.) Ovo 1995 1996 1997 1998 Extra 21,11 21,18 20,68 20, Grande 20,05 20,17 19,69 19, Médio 18,23 18,69 18,33 18, Pequeno 15,89 16,40 16,38 16, Industrial 14,20 14,41 14,56 15, Fonte: Instituto de Economia Agrícola. (em %) 0, 0, 0, 0, 0, 0, 0, 0, 0, 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 QPROD QATAC QVAR Figura 5 - Quotas de Participação do Produtor (QPROD), Atacadista (QATAC) e Varejista (QVAR) sobre o Preço de Varejo da Caixa de Trinta dúzias, Cidade de São Paulo, 1970-1994. Fonte: Elaborada pelos autores a partir de dados do Instituto de Economia Agrícola. 8 - PRODUTIVIDADE DAS TRANSFORMA- ÇÕES FÍSICAS QUE OCORREM NOS VÁRIOS NÍVEIS DA CADEIA Como já foi visto a parcela da produção de ovos que passa por transformação industrial está em torno de 5%. A maior parcela dos ovos produzidos é consumida in natura , não sofrendo processos de transformação física. A industrialização do ovo permite a pro- dução do ovo integral desidratado, da clara desi- dratada, da gema desidratada, e processos de industrialização mais sofisticados permitem a se- paração da albumina e outros componentes. Na industrialização uma caixa de trinta dúzias produz em média 18 litros de ovo líquido, que resultam em 4,5kg de ovo em pó. 9 - POLÍTICAS PÚBLICAS A avicultura é uma das atividades am- paradas pela política de crédito rural, sujeita por- tanto à crescente restrição de recursos que vêm sendo destinados a essa finalidade. Segundo informação obtida nas regiões produtoras, os avicultores recorrem costumeiramente ao crédito de custeio pecuário para fazer frente às despesas correntes da produção. Os avicultores, mutuários do Banco do

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são da produção, pois aumentos da oferta são seguidos por redução de preço. Campanhas pu- blicitárias divulgando as propriedades nutritivas e culinárias do ovo e desmistificando o “perigo do colesterol” podem vir a criar espaço para a am- pliação da produção. Outro fator que pode estimular o con- sumo é o aumento da atenção dada pelos vare- jistas à exposição do produto. Note-se que os varejistas só teriam a lucrar com o aumento das vendas, pois o ovo é um produto de giro muito rápido no supermercado, que compra dos ataca- distas com prazos de pagamento entre 20 e 40 dias, dependendo do seu porte. Tem havido grande aumento da produ- tividade da mão-de-obra empregada na avicultura de postura, devido à automatização crescente das operações. Antigamente um funcionário tra- tava de 5.000 galinhas, hoje já trata de 25. aves, número que tende a crescer. Esse aumento da produtividade do trabalhador e a relativa es- tagnação da produção apontam no sentido da redução do emprego oferecido pela atividade. Os salários pagos aos tratadores de poedeiras estão em torno do piso salarial rural do município que, no Estado de São Paulo, é geralmente 20% a 30% superior ao salário mínimo. 11 - DESEMPENHO DO SETOR NOS ÚLTIMOS ANOS Em 1995 a produção aumentou quase 18% em relação à obtida no ano anterior, atingin- do o recorde de 16.030 milhões de ovos, elevan- do a disponibilidade per capita/ ano de 92 para 101 unidades. Porém, esse aumento da oferta foi acompanhado por redução de preço superior a 40% (Tabela 7). As dificuldades vividas pelo setor em 1996, de elevação significativa dos preços dos principais insumos das rações avícolas, milho e soja, decorrente da pequena safra obtida, ilus- tram bem a relação estreita entre o bom desem- penho da avicultura e o abastecimento normal dos grãos, que por sua vez é influenciado pela política agrícola do País. A elevação de custos verificada em 1996 poderia ter sido ainda mais dramática, não fosse a redução da oferta de ovo ocorrida a partir do início do ano, resultante da situação deficitária da atividade nos meses anteriores, que permitiu a recuperação dos preços do ovo um pouco antes da disparada dos preços dos cereais. Note-se que a recuperação de preços, via redução de oferta, tem aspectos perversos, pois significa a exclusão de produtores e consumidores do mer- cado. Em 1996 e 1997 houve redução no plantel de poedeiras, na produção e na disponibi- lidade per capita de ovo no Brasil (Tabela 8). Em 1998 os dados obtidos até setembro indicavam crescimento do plantel e da produção, insufi- ciente, porém, para recuperar a disponibilidade per capita obtida em 1995 ou mesmo 1996. 12 - CONSIDERAÇÕES FINAIS O mercado de ovo apresenta duas características básicas que devem ser levadas em conta quando se analisam suas perspectivas. A primeira decorre do fato de a produ- ção do ovo ocorrer em fluxo contínuo e do produ- to ser perecível, de modo que o ajuste entre ofer- ta e demanda se faz, a cada dia, pela variação do preço. Como a perecibilidade do ovo é pequena em relação à das carnes e dos laticínios, não se montou, como ocorreu para esses produtos, uma estrutura de distribuição a frio, que foi condição necessária ao desenvolvimento desses merca- dos. Assim, pode-se dizer que o ovo tornou-se mais perecível que a carne e o leite. A industriali- zação do ovo, que ainda absorve pequeno volu- me da produção, não tem, pelo menos até o momento, maior influência estabilizadora dos preços. Devido a essa produção em fluxo contí- nuo e à perecibilidade do ovo, seus preços flutu- am demais, o que torna a avicultura de postura uma atividade de risco relativamente elevado. Outra característica é a estagnação do consumo, ou mesmo redução nos últimos anos, já comentada anteriormente, muito embora o consumo per capita nacional seja bem inferior ao verificado em outros países, como Japão, EUA, Alemanha, França, etc. Devido a essa estagna- ção do consumo, a competição entre os produ- tores de ovos é acirrada, pois cada produtor só

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TABELA 7- Preços Recebidos pelos Produtores de Ovo Branco Tipo Grande, Estado de São Paulo 1994-98^1 (em R$/dz.) Ano Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez Média 1994 0,71 0,78 0,84 0,88 0,83 0,85 0,99 0,95 0,79 0,66 0,71 0,83 0, 1995 0,61 0,59 0,52 0,45 0,40 0,44 0,41 0,47 0,39 0,39 0,44 0,49 0, 1996 0,45 0,60 0,65 0,75 0,75 0,83 0,84 0,83 0,64 0,55 0,43 0,55 0, 1997 0,58 0,69 0,78 0,70 0,65 0,71 0,72 0,64 0,61 0,53 0,40 0,47 0, 1998 0,46 0,50 0,61 0,63 0,70 0,65 0,68 0,58 0,54 0,56 0,56 0,51 0, (^1) Preços deflacionados pelo IGP-DI. Base: jun./98 = 100. Fonte: Instituto de Economia Agrícola. TABELA 8 - Plantel de Poedeiras, Oferta e Demanda de Ovos no Brasil, 1998- Item 1995 1996 1997 19981 19992 Plantel de poedeiras (mil u.) 58.250 56.002 52.074 55.751 - Produção de ovos (milhão u.) 16.065,7 15.931,8 12.596,0 13.488,0 14.000, Exportação (milhão u. equivalentes) 35,2 49,8 77,9 166,0 174, Disponibilidade interna (milhão u.) 16.030,5 15.882,0 12.518,1 13.322,0 13.826, População (milhão hab.) 155,82 157,75 159,71 161,68 163, Disponibilidade per capita (u./hab./ano) 103 101 78 82 84 (^1) Estimativa. (^2) Projeção. Fonte:CONAB/DIDEM/GEAME-05/10/98. pode crescer às custas da fatia de mercado de outros produtores, sob o risco de provocar gran- des quedas de preço. Assim sendo, a solução dos problemas da cadeia do ovo depende do aumento do con- sumo do ovo fresco e do industrializado, o que pode ser conseguido, até certo ponto, através de campanhas publicitárias, mas exige também uma melhor distribuição da renda nacional, uma vez que o maior potencial de ampliação de consumo está na população mais pobre, cujo consumo atual está abaixo do consumo médio. O avanço da industrialização e a mon- tagem de um sistema de distribuição refrigerado, como já ocorre nos EUA e no Japão, trariam maior estabilidade aos preços do ovo. LITERATURA CITADA ARAÚJO, Maria da P. Análise da rentabilidade, sob condições de risco, dos contratos de integração vertical na produção de frango de corte no estado de Minas Gerais. Piracicaba: USP/ESALQ,

  1. Tese de Mestrado. CYRILLO, Denise C. O papel dos supermercados no varejo de alimentos. São Paulo: USP/IPE,
  2. 198p. (Ensaios Econômicos, 68). GUIA Aves & Ovos. Aves & Ovos , São Paulo, v.11, n.4, p.34, fev. 1995. MARTINS, Sônia S. Cadeias produtivas do frango e do ovo : avanços tecnológicos e sua apropriação. São Paulo: FGV/EAESP, 1996. Tese de Doutorado. 116p.

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CADEIA PRODUTIVA DO OVO NO ESTADO DE SÃO PAULO

Anexo 1 Apresentação dos Debatedores Convidados para o Workshop Cadeia Produtiva do Ovo^1 1 - Sr. Rui Katayama, representante do setor atacadista Falar do segmento do atacado de ovos é muito gratificante uma vez que, dentro da cadeia, é nos segmentos comerciais que se perde mais ou se ganha o máximo que o mercado permite. -O setor atacadista, não só de ovos, mas em geral, com a estabilidade monetária sofre mudan- ças drásticas às quais as empresas devem se submeter. Assim como ocorreu no Chile e Argentina, o número de atacadistas ficou reduzido a um terço ou um quarto do que era, dependendo do setor. A ver- dade é que todos tiveram que enxugar seus custos, tornaram-se mais ágeis e mais próximos dos varejis- tas e consumidores. Em termos de ovos, num primeiro momento as grandes cadeias de supermercados começaram a procurar as commodities diretamente na fonte, ou seja, nas granjas. Fazem acordos, eliminando inter- mediários. Porém, compram somente o que interessa, ou seja, os tipos de maior giro. As sobras, as pontas, começam a se tornar problema para os produtores, principalmente os pequenos e médios gran- jeiros. Volta a figura do atacadista, só que, desta vez, muito mais enxuto, com as logísticas corrigidas, aplicando o custo ABC, cortando despesas, não fazendo contas de rateio, etc. Começa a se formar o tripé ganha-ganha: produtor, distribuidor, varejista. Todos passam a analisar o problema mais seriamen- te. Numa Câmara Setorial ativa tudo pode ser resolvido mais rapidamente: problemas de MERCO- SUL, exportações, custo Brasil, etc. O comércio de ovos enfrenta hoje o problema das sobras de ovos férteis, que são despejados no mercado de ovos a qualquer preço. Num universo de 200 milhões de pintos para corte por mês, uma oscilação de 10% daria 20 milhões de ovos, o que corresponde a 55 mil caixas de trinta dúzias, sem falar da oscilação do aproveitamento para encubação dos ovos férteis de matrizes de ovos brancos. Hoje, por exemplo, estamos vivendo uma situação atípica devido à ausência de ovos férteis, os incubadores de frango estão em produção total, ao mesmo tempo em que os tradicionais produtores de ovos fizeram o seu descarte antecipado e mudas forçadas, Tal situação provocou uma queda na oferta de ovo em torno de 15% a 20%, que poderá se recuperar rapidamente. A Câmara, além de agilizar as soluções dos problemas existentes, poderia criar e desenvolver novas metas, tais como: a busca de qualidade uniforme para o ovo, visando assim manter um padrão constante de cor de gemas, espessura da casca, etc., viabilizando a criação de um selo de qualidade. Tirando o ovo do anonimato, estaremos valorizando o produto, saindo um pouco das commodities , ge- rando uma espécie de “leite B”. Diferenciado, valorizado e remunerado, com aval da Câmara Setorial e dos parceiros do Governo, seria sem dúvida um sucesso. Na atual conjuntura, o setor de atacado passa por um período de transição. Está descapitalizado e as mudanças trazem dívidas. Por tais motivos, torna-se imprescindível a fixação de parceiros estratégi- cos, a redução dos custos e a participação numa meta como a de hoje: unidos com objetividade. Está de parabéns o Sr. Secretário, estão de parabéns os organizadores deste workshop. Tenho a certeza de que teremos as lideranças para nos guiar nas mudanças futuras. Muito obrigado. 2 - Sr. Wagner Shinoda, Diretor Presidente da Granjas Shinoda Com o intuito de não ser um mero participante deste evento, mas sim um colaborador, apre- (^1) São apresentados aqui os textos que os debatedores forneceram à Comissão Organizadora.

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sento abaixo, de forma sucinta, aquilo que considero ser as principais necessidades dos avicultores de postura do Estado de São Paulo: a) Insumos para ração: O assunto merece carinho especial por esta Secretaria de Estado, pois o Esta- do de São Paulo virou um grande canavial, sumindo quase que totalmente as regiões de plantio de cereais. Como qualquer outra atividade, necessitamos estar próximos dos centros produtores de in- sumos básicos. Hoje, grande parte do milho e soja utilizados pelos avicultores paulistas são importa- dos de outros estados e conseqüentemente estão onerados com ICMS, gerando aumento dos cus- tos de produção. Esta situação está incentivando os nossos avicultores a realizarem seus novos in- vestimentos em outros estados. Registro como sugestão: 1 - A obrigatoriedade de que pelo menos 15% da área a ser usada no plantio da cana seja usada no plantio de cereais. 2 - Que as áreas cedi- das para reforma agrária sejam, pelo menos nos dez primeiros anos, usadas 100% para o plantio de cereais. b) Meios de comunicação e transporte: A evolução dos meios de comunicação no âmbito mundial, nos últimos anos ocorreu de forma muito rápida e eficiente, o que não é uma realidade para o setor rural de nosso Estado. Muito podemos sugerir, mas vemos como pontos vitais: 1 - Viabilizar o uso da hi- drovia como canal de escoamento da produção agropecuária, principalmente na distribuição da pro- dução de cereais, deste e de outros estados. 2 - Desenvolver a melhoria das estradas vicinais, facili- tando o escoamento da produção. 3 - Sem o uso do telefone é impossível ao produtor rural cuidar da sua produção e manter-se atualizado quanto à evolução diária do mercado. Assim sendo, é neces- sário tornar acessível a todos os produtores o uso da telefonia Rural Cell, aumentando a oferta de li- nhas de acordo com a necessidade de cada região. Com o aumento da oferta gerar a diminuição dos custos e conseqüente baixa dos preços para o produtor rural. Criação de linhas de crédito espe- ciais para financiar o adquirente da Rural Cell. c) Fiscalização: Não adianta alimentarmos ilusões ou a falsa idéia de que podemos estar levando al- guma vantagem, a competição com produtores regionais é coisa do passado, hoje nossos concor- rentes são produtores do mundo inteiro. Se não produzirmos com baixo custo e qualidade, fatalmen- te seremos eliminados do mercado. Da mesma forma entendo que se deva, de agora em diante, a fiscalização ser levada de forma séria e sem corrupção, pois do contrário pagaremos caro por esta nossa incompetência. Utilizando mecanismos sérios e eficientes, sugiro que deva ser promovida constante fiscalização no sentido de : 1 - Manter 24 horas por dia eficiente fiscalização do SIF nas barreiras estaduais, não permitindo a entrada ou saída de produtos que não possuam registro do SIF, promovendo ainda rigoroso controle de qualidade dos mesmos. 2 - Realizar rigorosa fiscaliza- ção (centros de distribuição, atacadistas, estradas, granjas, etc.), no sentido de que seja determinan- temente proibido o reaproveitamento de embalagens (caixas e bandejas). 3 - Exercer rígida e cons- tante fiscalização nos Supermercados, punindo os que estiverem comercializando ovos que não possuam registro no SIF. Existe hoje no mercado muita embalagem com registro falso no SIF, de- vendo nessa situação ser penalizado também o fabricante da embalagem. 4 - Penalisar o Produtor Rural ou Distribuidor e o Supermercado que estiver usando etiqueta adesiva com a data de classifi- cação dos ovos, pois a data tem que ser impressa na embalagem. 5 - Promover estudo e viabilizar a obrigatoriedade da frigorificação dos ovos nos locais de produção, transporte e comercialização. 6 - Promover fiscalização constante em feiras e varejões, penalizando aqueles que continuam co- mercializando ovos trincados. 7 - Rever, melhorar e reeditar normas que definam a classificação dos ovos, bem como as normas a serem usadas para determinar a qualidade e validade do ovo para uso em estado natural. Promover a divulgação dessas normas para os consumidores. 8 - Criar o DISK DENÚNCIA com endereço na INTERNET para apresentação de denúncias e sugestões. d) Tributário: A forma simples e funcional com que os meios governamentais tratam o setor rural, con- tribui para que se desenvolva a eficiência produtiva sem entraves burocráticos. Assim sendo peque- nas alterações podem tornar ainda mais eficiente a participação do Produtor Rural - Pessoa Física na comercialização de sua produção. Registro: 1 - Seja proposta à Secretaria da Fazenda uma mai- or valorização da Nota Fiscal do Produtor, principalmente para os produtores rurais pessoa física que possuem organização administrativa. Hoje o grande entrave na comercialização direta do Produtor rural pessoa física é a obrigatoriedade do comprador emitir Nota Fiscal de Entrada quando da aqui- sição de sua produção. O ideal é que a nota fiscal do produtor tenha a mesma função e validade que a nota fiscal emitida por um produtor pessoa jurídica. 2 - Propor ao INSS a liberdade para que o pro-